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CASO 1

A encefalopatia espongiforme bovina (EEB), vulgarmente conhecida como doença da vaca


louca ou BSE (do acrônimo inglês bovine spongiform encephalopathy), é uma doença
neurodegenerativa que afeta o gado doméstico bovino. A doença surgiu em meados dos anos 80
na Inglaterra e tem como característica o fato de ter como agente patogénico uma forma especial
de proteína, chamada prião (Portugal) ou príon1,2.
As PrPSC são o agente infeccioso por trás de doenças priônica. A proteína PrPSC foi o primeiro
príon - isto é, a proteína infecciosa - a ser descoberto e continua a ser o príon por excelência, não
apenas por causa de sua preeminência histórica, mas também por causa de sua associação com
uma classe única de doenças fatais. A PrPSC é o único príon conhecido até agora por causar
epidemias epidêmicas locais e explosões epizoóticas3. Essa proteína é uma variante
alternativamente dobrada da proteína priônica celular, PrPC (Figura 1), que é uma proteína regular
ancorada à GPI e que está presente na superfície celular de neurônios e outros tipos de células4.

Figura 1. Representação das conformações proteicas de PrPC e PrPSC.

Nas células, a PrPSC é depositada em vesículas do citosol ao invés de ficar ancorada à


superfície da membrana celular como a PrPC. As duas estão sujeitas a uma eventual degradação
na célula. Entretanto, embora a PrPC seja completamente degradada, a PrPSC perde somente um
segmento N-terminal de 67 resíduos de aminoácidos, formando um núcleo de 27 a 30 kDa
resistente à proteólise, conhecido como PrP 27-30, que ainda exibe um alto conteúdo de folhas β.
A PrP 27-30 se agrega então para formar as placas amiloides, que parecem ser diretamente
responsáveis pela degeneração neuronal característica das doenças causadas por príons 5.

1 Laurindo, Ellen Elizabeth; Barros Filho, Ivan Roque de (2017). «Encefalopatia espongiforme bovina atípica: uma
revisão». Arquivos do Instituto Biológico. 84: 1-10. ISSN 1808-1657. doi:10.1590/1808-1657000392015
2 «Bovine Spongiform Encephalopathy (BSE) | Prions Diseases». Centers for Disease Control and Prevention, CDC. 1

de fevereiro de 2019. Acessado em: 03 jun. 2019


3 Requena, Jesús R.; Kristensson, Krister; Korth, Carsten; Zurzolo, Chiara; Simmons, Marion; Aguilar-Calvo, Patricia;

Aguzzi, Adriano; Andreoletti, Olivier; Benestad, Sylvie L. (3 de maio de 2016). «The Priority position paper: Protecting
Europe's food chain from prions». Prion. 10 (3): 165–181. ISSN 1933-690X
4 Wille, Holger; Requena, Jesús R. (7 de fevereiro de 2018). «The Structure of PrPSc Prions». Pathogens (Basel,

Switzerland). 7 (1). ISSN 2076-0817


5 Voet, Donald (2013). Bioquimica. [S.l.]: Artmed.
Figura 2. Representação esquemática do mecanismo potencial de neuro-invasão em
encefalopatias espongiformes transmissíveis (EET). (A) A captação inicial do agente da EET a partir
do lúmen intestinal tem sido proposta através de uma série de mecanismos alternativos, incluindo
transcitose de células M (i), transcitose dependente de ferritina através de células epiteliais
intestinais (ii), ou via captura direta por células dendríticas (iii). Enquanto as células fagocíticas,
como os macrófagos, parecem degradar a PrPSC (iv), as células dendríticas podem administrar o
agente da EET às células dendríticas foliculares (FDCs), onde ocorre o acúmulo precoce de PrP SC
(v). (B) Após a amplificação do agente da EET no tecido linfoide, como o GALT e o baço, acredita-
se que a invasão do sistema nervoso ocorra através dos nervos periféricos. Acredita-se que o
transporte retrógrado do agente da EET ocorra ao longo de duas vias distintas, seguindo as fibras
eferentes dos nervos simpáticos e parassimpáticos para o SNC. (C) O transporte retrógrado e a
propagação de PrPSC ao longo de processos neuronais podem ocorrer por interações passo a
passo ao longo da superfície celular (ia, ib), via depósitos extracelulares (ii) ou por mecanismos
mediados por vesículas (iiia, iiib)6.

Considerando seus conhecimentos sobre biologia celular, discorra sobre as questões


apresentadas abaixo:
a) Como a presença da proteína priônica está interferindo nos processos celulares de
membrana e citoplasmáticos, especialmente considerando as células nervosas e sua capacidade
de plasticidade?
b) Esta doença poderia ser considerada como de ordem genética, ou seja, poderia ser
passada para os descendentes diretos de um bovino contaminado? Por quê?
c) Ainda, esta doença afetaria o desempenho reprodutivo, principalmente considerando-se a
eficiência espermática, do bovino contaminado?
d) Como as características acima poderiam ser testadas a fim de confirmar suas respostas?

6 Cobb, Nathan J, and Witold K Surewicz. “Prion diseases and their biochemical mechanisms.” Biochemistry vol. 48,12
(2009): 2574-85. doi:10.1021/bi900108v
CASO 2
Com aparência e textura de uma cera macia, o colesterol é um composto químico da família
do álcool, essencial à vida. Sintetizado pelo fígado no que se refere à maior parte que o organismo
necessita, seu restante é adquirido através dos alimentos ingeridos. Por ser solúvel apenas em
gorduras, o colesterol tem de ser transportado pelo sangue através das seguintes lipoproteínas:
VLDL (também conhecidas como triglicérides), LDL (lipídios de baixa densidade) e HDL (lipídios de
alta densidade). O fígado acondiciona os triglicérides na forma de VLDL e os despacha, pela
corrente sanguínea para as células, juntamente com menores quantidades de colesterol e
proteínas. É então que as células armazenam e utilizam essa quantidade de gorduras como
"combustível". Assim, o VLDL, sem as gorduras, passa a ser denominado como LDL, já que é
composto basicamente de colesterol e proteínas. Seu excesso no organismo, acaba fixando-se nas
paredes das artérias, entupindo-as e propiciando os ataques cardíacos ou infartos. Por sua vez, o
HDL faz o papel contrário, extraindo o colesterol das paredes das artérias, devolvendo-o ao fígado
para ser excretado7.
O colesterol é considerado, por muitos, um dos grandes vilões da saúde humana e animal.
Considerando seus conhecimentos sobre biologia celular, discorra sobre as questões apresentadas
abaixo:
a) Você concorda com esta denominação de VILÃO para o colesterol? Por quê?
(Descreva a resposta detalhadamente, incluindo processos e funções bioquímicas, celulares e
embriológicas)
b) Onde está distribuído o colesterol encontrado em nosso corpo? (Lembre-se que estamos
falando de um nível celular)
c) Quais podem ser os efeitos da redução ou aumento drásticos de colesterol?
d) Como as características acima poderiam ser testadas a fim de confirmar suas respostas?

7 «Colesterol». Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, SBEM. 28 de maio de 2007. Acessado em: 03
jun. 2019

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