O documento discute a história da investigação científica sobre a homossexualidade e o comportamento sexual, que enfrentou muitos obstáculos culturais. Os primeiros estudiosos como Freud e Havelock Ellis foram criticados, e os estudos sobre sexualidade eram vistos como perigosos. O documento também descreve o trabalho pioneiro do Instituto de Sexologia de Magnus Hirschfeld na Alemanha no início do século XX e sua destruição pelos nazistas.
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1 - Apontamentos sobre estudos e práticas do homossexualismo
O documento discute a história da investigação científica sobre a homossexualidade e o comportamento sexual, que enfrentou muitos obstáculos culturais. Os primeiros estudiosos como Freud e Havelock Ellis foram criticados, e os estudos sobre sexualidade eram vistos como perigosos. O documento também descreve o trabalho pioneiro do Instituto de Sexologia de Magnus Hirschfeld na Alemanha no início do século XX e sua destruição pelos nazistas.
O documento discute a história da investigação científica sobre a homossexualidade e o comportamento sexual, que enfrentou muitos obstáculos culturais. Os primeiros estudiosos como Freud e Havelock Ellis foram criticados, e os estudos sobre sexualidade eram vistos como perigosos. O documento também descreve o trabalho pioneiro do Instituto de Sexologia de Magnus Hirschfeld na Alemanha no início do século XX e sua destruição pelos nazistas.
Apontamentos sobre estudos e práticas do homossexualismo
Para se compreender melhor as analises que refutam sobre a atuação de
homens e mulheres em caráter de “travesti”, convém situa-la no contexto historiográfico sobre a sexualidade humana, em especial até a segunda metade do século XX. Eis porque parece necessário apresentar, à guisa de introdução, discussões importares da história da investigação cientifica sobre a vida e o comportamento sexual do sujeito homossexual que se consolidou em meio a um terreno fértil de obstáculos impostos, muitas vezes intransponíveis, por “barreiras culturais”. O mito sobre a sexualidade, e o silenciamento do tema em questão, desenvolveu no imaginário social uma série de tabus e tradições que envolviam a sexualidade humana, delineando comportamentos socialmente aceitáveis, dos comportamentos considerados “distúrbios sexuais”. Os pioneiros no campo da medicina e da psiquiatria foram alvo de críticas destrutivas por parte dos setores mais conservadoras da sociedade, e mesmo em certos casos, do próprio meio científico. Teóricos e estudiosos como Freud e Havelock Ellis, por exemplo, foram severamente censurados pela sociedade em que viviam. As obras de Ellis, Sexual Inversion, chegou a receber na Inglaterra, a rubrica de obsceno. Anos depois, quando Kinsey publicou seus estudos, foi repudiado por grupos contrários de médicos e colegas que o ameaçavam com processos criminais. Para o sociólogo americano, Ira Reiss, os cientistas não consideravam os estudos sobre a sexualidade como um demônio “seguro”, pois tanto a ciência quanto os cientistas temiam o medo da reação que a opinião pública poderia resultar, contraindo reagentes como o medo da pressão política e do espírito preconceituoso marcante da época. Os primeiros estudos científicos responsáveis por teorizar e discutir a psicologia da sexualidade aconteceu sobretudo nos países germânicos e anglo-saxões na Europa, entre o limiar do século XIX para o XX. Dentre as figuras mais marcantes desta fase inicial, limitamo-nos a citar autores como Krafft-Ebing, autor de Psychopathia Sexualis, Haverlock Ellis, Magnus Hirschfeld, autor e fundador do primeiro Instituto de Sexologia de Berlim, pela primeira vez, e também Freud, que se destacava pelas suas contribuições no campo dos estudos sexuais. Outros ensaios marcaram também os trabalhos dos etnológicos, como os de Malinowski, sobre a vida sexual nas sociedades ditas primitivas, além das importantes contribuições de W. Reich, que colou em evidencia as dimensões políticas e ideológicas da vida sexual. As mudanças ocorridas na União Soviética, no plano dos costumes, e ligadas à promulgação de uma legislação sexual revolucionária, que favoreceu o investimento e o fortalecimento de pesquisas cientifica no domínio dos estudos sexuais, foram bruscamente interrompidos após a instalação do “stalinismo”. Desde então uma moral rígida passou a integrar os hábitos e comportamentos da vida sexual dos soviéticos. O advento do nazismo pôs fim ao desenvolvimento que as pesquisas na Alemanha tiveram nos primórdios do século XX. O Instituto de Sexologia, dirigido por Hirschfeld, foi um dos pioneiros no mundo a atender e tratar de homens e mulheres que se identificam com o sexo oposto, e que usavam o “travesti” para escapar do julgamento moral e social da sociedade e foi atingindo pela ocupação nazista em decorrência dos países que aderiram a ideologia fascista. Com a ascensão do regime nazista e em contrapartida a repercussão que os estudos de Magnus alcançaram durante o período o homossexualismo acabou se tornando um crime ainda mais intolerável, resultando em um atentado que incendiou e destruiu centenas de pesquisas organizadas por Hirschfeld. O Instituto serviu mais do que um centro de pesquisa teórica, foi também uma das primeiras clínicas a realizar a primeira cirurgia moderna de confirmação de gênero e atendeu, durante as décadas de 1910 e 1920, muitos pacientes transgêneros e pesquisadores. Apesar do apoio até mesmo de figuras como Albert Einstein, o Instituo sediado em Berlim, foi fechado em 1933, no mesmo ano em que se iniciou uma série de leis revisando a formação base legal que permitia a perseguição aos homossexuais e tudo que envolvesse os significados atrelados a estudos homossexuais. Mas, devido a essa perseguição política, houve uma política favorável à acumulação de conhecimentos científicos que aos poucos, foi dando conta de explicar, em grande parte, os anseios sobre a sexualidade humana e o domínio das relações “inversas”. Os diferentes grupos, que constituíram a ruptura das tradições sexuais, demarcados por experiências “alternativas” de homens e mulheres representavam um enorme potencial de mudança no campo dos estudos científicos. Dessa forma, na medida em que os pesquisadores forneciam novas referencias para melhor situa e compreender os diferentes comportamentos sexuais, eles serviram também para combater certos pontos de vista tradicionais sobre tais comportamentos e contribuíram para abrir novos caminhos para futuras pesquisas. Ao cunhar os conceitos de “transexualismus” e “travesti” pela primeira em, ainda na década de 1910, Hirschfeld derrubou preconceitos ao afirmar que “a sexualidade não se reduzia a estereotípicos e classificações”. O médico afirmava ainda que “todos nós temos uma mescla de elementos masculinos e femininos”, e que essas características não deveriam ser usadas como defesa da honra e da virilidade dos sujeitos homens, que encaravam o homossexualismo como uma prática pecaminosa, ou como um “distúrbio sexual”. De acordo com o Oxford English Dictionary, o conceito mais antigo associado ao campo linguístico dos conceitos sobre a sexualidade, o termo “andrógeno” havia sido registrado desde o século XVI, e se referia ao fato de que homens e mulheres poderiam apresentar características físicas semelhantes ao sexo oposto. Em 1938, o artista Micky, famoso pelo seu hábito de viver em travesti, contou em uma reportagem sobre algumas das primeiras cirurgias, ainda experimental, da mudança de sexo entre homens e mulheres. Ao assistir duas operações, Micky afirmava que em meio aos cortes, golpes de faca e costuras, o perigo parecia inevitável. Era uma experiencia perigosa tanto no sentido físico quanto emocional, pois o choque operatório, a mudança de vida levava o paciente a um estado de tal ordem que ele próprio não podia suportar. O número de operações realizadas pelo médico passava de sessenta sujeitos, e eram considerados “doentes” pois não conseguiam suportar a condição de vida na qual estiveram inseridas. Entre os pacientes mais fortes, que se adaptavam da cirurgia de mudança de sexo, estava dois austríacos e um sueco, que “não foram transformados em belas mulheres, mas ficaram mulheres”. O próprio doutor na época afirmava que esses sujeitos não passariam dos 50 anos. Considerados “distúrbios sexuais”. Diferente dos homossexuais, que são forçados a definir-se mais cedo, o sujeito travesti só descobre suas afinidades físicas com o sexo feminino mais tarde. No campo da psicanalise, tanto o sujeito homossexual, seja homem ou mulher, consegue se identificar com sua forma física, diferente do que ocorre com o sujeito que se traveste do sexo oposto. Ele tem um conflito entre o corpo e a alma e há uma relação subjetiva intrínseca que o submete ao sentimento de pertencimento de ambos os sexos. Já no século XX, Freud apontava que o homossexualismo não era uma doença, pois o mesmo desenvolvia, em alguns casos, no momento em que a criança está estruturando sua personalidade, momento em que ocorre alguma vertigem que faz com que ao invés de se identificar com o pai e desejar a mãe, a criança se dá o contrário. além dos homossexuais, outros 'estranhos' sexuais, como travestis, transexuais e bissexuais, foram culturalmente definidos como doentes mentais e patologizados como uma séria ameaça à segurança de outras pessoas, incluindo crianças. O poder do discurso não fala apenas das teorias de conhecimento (particularmente médicas) e de poder de Michel Foucault, mas também de como os comportamentos e a estética atribuídos à masculinidade, de forma mais restrita, são moldados e definidos, segundo Elise Chenier.
Como na sociedade ocidental, o corpo foi visto como um dos objetos
privilegiados para o exercício da dominação. Estudos sobre o processo de trabalho, das escolas, prisões e do direito penal, auxiliados pela medicina, psiquiatria e pela psicanalise, deixam patente a presença de ideologia e de práticas sociais destinadas a confinar o corpo à região das coisas controláveis e manipuláveis. Uma cultura que fez do espirito o único sujeito, que depositou nas operações da consciência toda fonte de conhecimento e de saber, é uma cultura na qual o corpo terá, necessariamente, o mero estatuto de “objeto”. O peso dessa hegemonia “espiritual” ou da consciência pode ser avaliado quando examinados estudos em torno da sexualidade. Como lembra (FOUCAULT, a sociedade ocidental foi a única a elaborar uma “scentia sexualis” em lugar de uma “ars erótica”, mas pelo modo mesmo como a sexualidade é retalhada, dividida, controlada, submetida a procedimentos que visam a controlar e a corrigir os corpos pela produção de um novo objeto, o corpo prazeroso. Nesse sentido, o corpo foi, e ainda permanece sendo submetido a procedimentos com a intenção de “corrigi-los”, colocando em pauta o corpo como um objeto de prazer, bem como também de dominação, reduzido a um conjunto sapiente e consciente de técnicas de manipulação e controle social. Conhecer o corpo, tornou-se algo que o próprio sujeito poderia encarar como um objeto, recebendo o conhecimento produzido fora de si por uma consciência cientifica ou técnica. No decorrer do século XIX, os exemplos dessa “consciência cientificam”, pode ser analisada em diversos campos teóricos. Na medicina os estudos médicos e higienistas buscavam concentrar uma certa normatividade sobre as “classes subalternas”, onde as manifestações de inferioridade poderiam se expressar na natureza, isto é, da forma como a sociedade considerava os sujeitos “normais e anormais”, como é o caso dos estudos médicos sobre os corpos de mulheres meretrizes, como os de Parent Duchalet, Césare Lombroso e Pauline. Outro exemplo dessa tentativa de controlar os corpos, é o próprio fio condutor que tece a homossexualidade nos estudos que antecedem a segunda metade do século XX. A homossexualidade, embora pouco discutida nas fontes periódicas e até mesmo judiciais, era visto como um “tipo social”. Analisando o discurso das fontes sobre sujeitos “alternativos”, o sujeito homossexual não era compreendido como aquele/a que fez uma escolha, mas sim como um “tipo” de sujeito, cujo corpo obedecia a “determinismos perversos”, que podia ser explicado em decorrência da “perversidade psíquica” ou de anomalias glandulares e hormonais. Ou seja, diferente das teorias do criminoso nato, por Lombroso, ou da inferioridade feminina, o sujeito homossexual não permanecia preso a natureza, mas sim era compreendido como o próprio animal que redigia a “monstruosidade” na esfera social. No caso das mulheres, sintomaticamente percebidas e pensadas como “fêmeas” e machos. Em meio a este “panorama cientifico”, a sexologia cientifica era dívida em duas correntes, ou duas interpretações distinta sobre o homossexualismo. A primeira delas, vislumbrada e estudada por Charcot, depois completada por Freud e outros, que atribuem a inversão sexual a fatores variados da ordem psicogenética, ao passo que, opondo-se a esta interpretação, surgem outros teóricos como Steinach, Lipschutz e Maranon, com a teoria da razão endócrina, como determinante da “deformação genética sexual do homem”. Freud, que formou com as ideias bases de Charcot, foi, aliás, um dos mais citados nessa corrente científica que apontava os casos de “anormalidade sexual”, como o homossexualismo, a pederastia, safismo ou lesbianismo. Esse conjunto de “anomalias” era resultado de uma natureza psíquica adjacentes do ocidente. Segundo ainda essa interpretação do século XIX, o homossexual, visto como um “doente sexual”, era definido como um sujeito invertido ou extrovertido, mas acentuadamente o primeiro que designava a fuga do complexo de Édipo, o que equivalia a renúncia do próprio sexo.