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BAPTISTA:

Três comportamentos fílmicos de Tarantino: cenas do quotidiano, momentos


exploitation e o jogo.
Relação: história e cinema como narrativos. História, segundo Rüsen, dimensão
comunicacional (interpretação e temporal).
ALBUQUERQUE:
Operação conceitual forte de Tarantino ser pós-moderno (sentimento pós-
moderno). Estética camp (Susan Sontag).
Relação: concepção narrativa que vai da pessoalidade (Pulp fiction) a interesses
específicos na historiografia (limite entre ficção e historiografia).
Waligorska-Olejnczak:
Tarantino como meio para discutir assuntos da contemporaneidade.
Relação: ?
FEHRLE:
Implicações políticas da representatividade em (de) Tarantino (decolonialidade).
Relação: ?
BORGES:
Através também de Tarantino se pode articular uma perspectiva de história
cultural (Chartier) – uso do cinema como fonte documental e de análise histórica.
Relação: ?
CONCEITO DE FUNÇÃO PEDAGÓGICA
p. 28 – função pedagógica
O termo deriva dos estudos da semiótica cinematográfica de Gilles Deleuze,
operacionalizado por Maciel Júnior e Assis (2014) – publicado em um artigo da revista
Estudos Língua(gem). O termo liga-se mais à dinâmica de potencialidade do que
comporta uma imagem. Para tanto, assume-se a forte relação entre pensamento e
imagem, que acaba por legitimar uma compreensão do termo “função pedagógica”
como uma espécie de força capaz de liberar a vida do controle social.

p. 6
Em alguns outros momentos, já se procurou, e muito, discutir a relação entre
história e literatura. Antes de avançar e, de fato, anunciar os objetivos fundamentais
deste texto, porém, deve-se perguntar: como, afinal, ocorre essa inclinação da história
em se abrir para discussão, especificamente sobre o seu estatuto epistemológico,
com outras formas e áreas de produção de sentido? Ou seja, por que essa
necessidade de sempre aproximar as recomendações teóricas da história com outros
campos do saber e/ou com outras formas de narratividade?
Não é apenas a interpretação que coloca a história em um lugar específico de
legitimidade científica. Existe, ainda, um outro aspecto que se apresenta como peça
fundamental na construção do sentido histórico e essa peça-chave é o meio
responsável por entregar o conjunto condensado de sentido elaborado na
interpretação de forma coesa e minimamente apreensível; trata-se da natureza
narrativa, um outro aspecto da subjetividade que interfere diretamente no
firmamento da história. Interpretar é criar e construir sentidos sobre sentidos que estão
aparentemente soltos.
p. 9
A centralidade do percurso que aqui se busca é o caminho do cinema para a
história no sentido da construção de uma crítica especializada sobre a relação entre
cinema e história. A expressão crítica especializada pode ser entendida como,
basicamente, algum procedimento intelectual que busque retirar da simples
apreensão as potencialidades imagéticas das obras fílmicas de Quentin Tarantino e
a especialização se justifica precisamente nestes termos: legitimar o que o cineasta
estadunidense produz como algo portador de uma “função pedagógica” (MACIEL
JÚNIOR; ASSIS, 2014) para o agir humano intencional, isto é questionar
perspectivas que julgam algum esvaziamento intelectual nas imagens em
movimento de Quentin Tarantino.
p. 9 e 10
JUSTIFICATIVA PARA CAPÍTULO I:
Para tanto, expressou-se, primeiramente, as razões que levaram à escolha da
obra de Tarantino. Nessa movimentação, foram destacadas algumas características do
diretor que fazem com que suas obras se diferenciem no quadro atual cinematográfico
pós-moderno: o enciclopedismo, a cinefilia e a consequente autoconsciência (os
quais justificam a metacinematografia).
JUSTIFICATIVA PARA CAPÍTULO II:
A partir da necessidade de perspectivar algumas leituras acadêmicas
específicas produzidas ao redor do mundo – como Mauro Batista, Karla Costa
Albuquerque e Rafael Borges no Brasil; Beata Wligorska-Olejnczak na Polônia e
Johannes Feherle na Alemanha, é que se verifica a construção de uma crítica
especializada de Tarantino. É somente a partir desse viés que se torna possível
pensar a respeito da viabilidade de sua obra como meio legítimo e profícuo em
uma aproximação com a história.
P.29 - baptista
Algumas dessas proposituras feitas pelo pesquisador precisam ser bem
destacadas e delineadas para que se possa melhor compreender as suas intenções críticas
e analíticas. A primeira delas, certamente, é a questão da pós-modernidade; isto é, o
esforço primário de Baptista (2010) é classificar a obra de Tarantino como
“cinema pós-moderno”, a partir do levantamento de três modos de representação:
cenas do quotidiano, momentos exploitation e o jogo.
P. 30 e 31 narrativa e história em baptista
Antes de fazer avançar a reflexão para outros expoentes do movimento em
continuar Tarantino em perspectiva, vale destacar algumas rápidas e breves relações das
possibilidades que as reflexões de Baptista viabilizam com a teoria narrativista da
história. E a principal característica deste empreendimento é a compreensão do
cinema de Tarantino enquanto procedimento que se organiza narrativamente,
quando nas suas constituições. Neste sentido, se se o cinema se faz como narrativo (e
a história também), e tendo esse trabalho pretensões aproximativas da narrativa
cinematográfica com a narrativa histórica, o critério básico e elementar que legitimam a
aproximação entre os dois procedimentos se faz viável. Para tanto, admite-se narrativa
como organização temporal e interpretativa de elementos 1. O procedimento de
organização de sentido em Tarantino se faz como narrativo, objetivamente falando, por
operar interpretativamente dentro de um recorte temporal (passado) – referências
1
Referência articulada a partir dos escritos e pensamentos de Jörn Rüsen (2001), que assume
“Narrar é uma prática cultural de interpretação do tempo, antropologicamente universal (RÜSEN, 2001,
p. 149). Em um capítulo dedicado à versão brasileira do primeiro volume de sua trilogia (Razão histórica.
Teoria da história: fundamentos da ciência histórica) o teórico alemão dispõe um capítulo que procura
tratar a respeito da narratividade da história. É uma parte de sua obra extremamente valiosa e poderosa,
visto que por lá o autor procura detalhar os contornos da narrativa dentro do processo de regulação
metódica da ciência histórica. Seu esforço e originalidade residem no fato dele propor (e conseguir)
articular toda a regulamentação de uma parte da história que até então se configurava como distante e
problemática das pretensões de cientificidade: a subjetividade da interpretação. Ao colocar a
interpretação, a organização temporal e dimensão comunicacional como elementos vinculados à narrativa
na história, Rüsen consegue trazer e regulamentar (metodologicamente) para o campo da ciência da
história o que até então poderia ser compreendido como elementos que afastavam a cientificidade da
história. Neste sentido, compreender o caráter narrativo como elemento (desde as origens do historicismo,
até) essencialmente pertencente à prática histórica (por conta da interpretação, temporalidade e
comunicação) é algo fundamental para todo o processo de assunção do narrativismo para a constituição
histórica de sentido (racionalmente regulamentada) (Idem. p. 150). Mas vale destacar que toda a empresa
sobre a relevância da narrativa para a constituição e fundamentação do conhecimento histórico se
desenvolve ao longo de toda a sua trilogia. Especificamente no terceiro volume, “História Viva. Teoria da
história: formas e funções do conhecimento histórico” (RÜSEN, 2007).
fílmicas, com pretensões a “servir” temporalmente (futuro) – concepção de uma visão
cinematográfica pessoal. É neste tipo de acepção e compreensão que se valida a
aproximação entre os dois procedimentos. Mas a questão que se coloca é: como isso
ocorre em Tarantino, a partir das perspectivas de Baptista?; ou seja, como a
aproximação entre as narrativas pode ser delineada, a partir dos elementos reflexivos de
Baptista?
p. 32 Albuquerque
As reflexões de Albuquerque (2018) são densas e muito bem sustentadas
conceitualmente, pois, ao contrário do que propõe Baptista (2010), a autora, munida de
uma carga conceitual vasta e dinâmica, objetiva entrelaçar a pós-modernidade que
permeia a obra de Tarantino com o problema da crise da representação e da
subjetividade. Vale reforçar essas diferenças entre o trabalho de Albuquerque (2018) e o
de Baptista (2013), pois, apesar de serem vertentes distintas, buscam trabalhar a obra de
Tarantino dentro da contextualidade pós-moderna. Enquanto Baptista (2013) delineia e
significa os traços e os contornos cinematográficos do cinema de Tarantino,
Albuquerque (2018) procura a confirmação de uma estética (precisamente
sentimento) pós-moderna.

p. 37 – diferenciação entre narrativa e representação, a partir de Rüsen


Ao surgir a necessidade de compor uma determinada forma de representação é
preciso narrar elementos e experiências que a sustentem – neste momento aqui se faz
fundamental a diferenciação entre representação e narrativa, pois, tratam de coisas e
procedimentos distintos2.
2
Na teoria da história tem-se a diferenciação ao menos espacial entre estes dois conceitos, dentro
do proceder estético e retórico da, respectivamente, produção e publicação do conhecimento histórico.
Em Arthur Assis, mais uma vez se observa o detalhamento de tal questão, a partir do entendimento da
teoria histórica de Jörn Rüsen: “Rüsen sustenta que o processo de produção do conhecimento histórico-
científico apenas se conclui quando os resultados da pesquisa são apresentados em uma narrativa histórica
passível de ser lida, seguida e compreendida pelo público. Paralelamente, também enfatiza que as
narrativas escritas pelos historiadores profissionais consistem em muito mais do que uma mera
justaposição de enunciados particulares deriváveis da crítica das fontes (Ankersmit, 1989; Topolski,
1999). Ele admite que, por um lado, a representação historiográfica é autônoma em relação à pesquisa
histórica. Por outro lado, porém, insiste que os historiadores profissionais perderiam credibilidade caso
decidissem simplesmente deixar de relacionar seus textos com resultados de pesquisa. As formas de
apresentação histórica, na concepção de Rüsen, mantêm-se, por conseguinte, em uma situação de
autonomia perante a pesquisa, não podendo, ao mesmo tempo, prescindir desta” (ASSIS, 2010, p. 52). E
mais a frente, Assis ainda complementa: “Rüsen diferencial dois planos inventivos, nos quais ocorre essa
metamorfose da pesquisa em texto histórico: os planos estético e retórico. O plano estético da
historiografia abriga elementos pré e extracognitivos que estão diretamente relacionados com a recepção
do conhecimento histórico. Os conteúdos cognitivos extraídos da pesquisa histórica precisam ser
elaborados esteticamente para que possam incidir sobre a disposição de conhecer e de agir dos
destinatários das histórias (HV, p. 31).” (Idem. p. 54 e 55).

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