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p. 6
Em alguns outros momentos, já se procurou, e muito, discutir a relação entre
história e literatura. Antes de avançar e, de fato, anunciar os objetivos fundamentais
deste texto, porém, deve-se perguntar: como, afinal, ocorre essa inclinação da história
em se abrir para discussão, especificamente sobre o seu estatuto epistemológico,
com outras formas e áreas de produção de sentido? Ou seja, por que essa
necessidade de sempre aproximar as recomendações teóricas da história com outros
campos do saber e/ou com outras formas de narratividade?
Não é apenas a interpretação que coloca a história em um lugar específico de
legitimidade científica. Existe, ainda, um outro aspecto que se apresenta como peça
fundamental na construção do sentido histórico e essa peça-chave é o meio
responsável por entregar o conjunto condensado de sentido elaborado na
interpretação de forma coesa e minimamente apreensível; trata-se da natureza
narrativa, um outro aspecto da subjetividade que interfere diretamente no
firmamento da história. Interpretar é criar e construir sentidos sobre sentidos que estão
aparentemente soltos.
p. 9
A centralidade do percurso que aqui se busca é o caminho do cinema para a
história no sentido da construção de uma crítica especializada sobre a relação entre
cinema e história. A expressão crítica especializada pode ser entendida como,
basicamente, algum procedimento intelectual que busque retirar da simples
apreensão as potencialidades imagéticas das obras fílmicas de Quentin Tarantino e
a especialização se justifica precisamente nestes termos: legitimar o que o cineasta
estadunidense produz como algo portador de uma “função pedagógica” (MACIEL
JÚNIOR; ASSIS, 2014) para o agir humano intencional, isto é questionar
perspectivas que julgam algum esvaziamento intelectual nas imagens em
movimento de Quentin Tarantino.
p. 9 e 10
JUSTIFICATIVA PARA CAPÍTULO I:
Para tanto, expressou-se, primeiramente, as razões que levaram à escolha da
obra de Tarantino. Nessa movimentação, foram destacadas algumas características do
diretor que fazem com que suas obras se diferenciem no quadro atual cinematográfico
pós-moderno: o enciclopedismo, a cinefilia e a consequente autoconsciência (os
quais justificam a metacinematografia).
JUSTIFICATIVA PARA CAPÍTULO II:
A partir da necessidade de perspectivar algumas leituras acadêmicas
específicas produzidas ao redor do mundo – como Mauro Batista, Karla Costa
Albuquerque e Rafael Borges no Brasil; Beata Wligorska-Olejnczak na Polônia e
Johannes Feherle na Alemanha, é que se verifica a construção de uma crítica
especializada de Tarantino. É somente a partir desse viés que se torna possível
pensar a respeito da viabilidade de sua obra como meio legítimo e profícuo em
uma aproximação com a história.
P.29 - baptista
Algumas dessas proposituras feitas pelo pesquisador precisam ser bem
destacadas e delineadas para que se possa melhor compreender as suas intenções críticas
e analíticas. A primeira delas, certamente, é a questão da pós-modernidade; isto é, o
esforço primário de Baptista (2010) é classificar a obra de Tarantino como
“cinema pós-moderno”, a partir do levantamento de três modos de representação:
cenas do quotidiano, momentos exploitation e o jogo.
P. 30 e 31 narrativa e história em baptista
Antes de fazer avançar a reflexão para outros expoentes do movimento em
continuar Tarantino em perspectiva, vale destacar algumas rápidas e breves relações das
possibilidades que as reflexões de Baptista viabilizam com a teoria narrativista da
história. E a principal característica deste empreendimento é a compreensão do
cinema de Tarantino enquanto procedimento que se organiza narrativamente,
quando nas suas constituições. Neste sentido, se se o cinema se faz como narrativo (e
a história também), e tendo esse trabalho pretensões aproximativas da narrativa
cinematográfica com a narrativa histórica, o critério básico e elementar que legitimam a
aproximação entre os dois procedimentos se faz viável. Para tanto, admite-se narrativa
como organização temporal e interpretativa de elementos 1. O procedimento de
organização de sentido em Tarantino se faz como narrativo, objetivamente falando, por
operar interpretativamente dentro de um recorte temporal (passado) – referências
1
Referência articulada a partir dos escritos e pensamentos de Jörn Rüsen (2001), que assume
“Narrar é uma prática cultural de interpretação do tempo, antropologicamente universal (RÜSEN, 2001,
p. 149). Em um capítulo dedicado à versão brasileira do primeiro volume de sua trilogia (Razão histórica.
Teoria da história: fundamentos da ciência histórica) o teórico alemão dispõe um capítulo que procura
tratar a respeito da narratividade da história. É uma parte de sua obra extremamente valiosa e poderosa,
visto que por lá o autor procura detalhar os contornos da narrativa dentro do processo de regulação
metódica da ciência histórica. Seu esforço e originalidade residem no fato dele propor (e conseguir)
articular toda a regulamentação de uma parte da história que até então se configurava como distante e
problemática das pretensões de cientificidade: a subjetividade da interpretação. Ao colocar a
interpretação, a organização temporal e dimensão comunicacional como elementos vinculados à narrativa
na história, Rüsen consegue trazer e regulamentar (metodologicamente) para o campo da ciência da
história o que até então poderia ser compreendido como elementos que afastavam a cientificidade da
história. Neste sentido, compreender o caráter narrativo como elemento (desde as origens do historicismo,
até) essencialmente pertencente à prática histórica (por conta da interpretação, temporalidade e
comunicação) é algo fundamental para todo o processo de assunção do narrativismo para a constituição
histórica de sentido (racionalmente regulamentada) (Idem. p. 150). Mas vale destacar que toda a empresa
sobre a relevância da narrativa para a constituição e fundamentação do conhecimento histórico se
desenvolve ao longo de toda a sua trilogia. Especificamente no terceiro volume, “História Viva. Teoria da
história: formas e funções do conhecimento histórico” (RÜSEN, 2007).
fílmicas, com pretensões a “servir” temporalmente (futuro) – concepção de uma visão
cinematográfica pessoal. É neste tipo de acepção e compreensão que se valida a
aproximação entre os dois procedimentos. Mas a questão que se coloca é: como isso
ocorre em Tarantino, a partir das perspectivas de Baptista?; ou seja, como a
aproximação entre as narrativas pode ser delineada, a partir dos elementos reflexivos de
Baptista?
p. 32 Albuquerque
As reflexões de Albuquerque (2018) são densas e muito bem sustentadas
conceitualmente, pois, ao contrário do que propõe Baptista (2010), a autora, munida de
uma carga conceitual vasta e dinâmica, objetiva entrelaçar a pós-modernidade que
permeia a obra de Tarantino com o problema da crise da representação e da
subjetividade. Vale reforçar essas diferenças entre o trabalho de Albuquerque (2018) e o
de Baptista (2013), pois, apesar de serem vertentes distintas, buscam trabalhar a obra de
Tarantino dentro da contextualidade pós-moderna. Enquanto Baptista (2013) delineia e
significa os traços e os contornos cinematográficos do cinema de Tarantino,
Albuquerque (2018) procura a confirmação de uma estética (precisamente
sentimento) pós-moderna.