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WALLON E OS ESTUDOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO:

IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS

Rafaela Alice Sorrechio*; Programa de Iniciação Científica; Discente do Curso de Pedagogia da


Universidade Estadual de Maringá; Maringá-PR, Brasil. Lucinéia Maria Lazaretti; Programa de Iniciação
Científica; Docente na Universidade Estadual do Paraná; Paranavaí-PR, Brasil. Luciana Figuereido
Lacanallo Arrais; Programa de Iniciação Científica; Docente no Departamento de Teoria e Prática da
Educação; Universidade Estadual de Maringá; Maringá-PR, Brasil.

contato: rafasorrechio@gmail.com; lucylazaretti@gmail.com; llacanallo@hotmail.com.

Palavras-chave: Henri Wallon. Desenvolvimento humano. Educação Escolar.

A presente pesquisa, em andamento, busca compreender o pensamento de Henri Wallon


(1879-1962) sobre o desenvolvimento humano e suas implicações educacionais. Para isso, a
metodologia, de caráter teórico-bibliográfica, com seleção de referenciais que tratam sobre o
tema, referente à trajetória da vida e da obra de Henri Wallon, articulando com conceitos e
estudos pertinentes ao campo educacional. Toda a obra de Wallon envolve um complexo estudo
da psicogênese da pessoa completa, fundamentada no método de análise do materialismo
dialético e o estudo contextualizado da criança, propondo cinco estágios sobre o
desenvolvimento infantil, enfatizando os campos funcionais.
Wallon nasceu em Paris, na França, em 1879, formou-se em licenciatura no curso de
Filosofia no ano de 1902, e iniciou o curso de Medicina para posteriormente seguir o ramo da
Psicologia, área na qual demonstrava grande interesse, e durante determinado tempo trabalhou
no ramo da psiquiatria. Dedicou-se ao estudo do psiquismo humano “situando-o numa
perspectiva genética” (Galvão, 1998, p.33). Uma das principais partes de seu estudo é a
Psicologia da criança, pois na infância que se encontra maior parte da gênese dos processos
psíquicos. “O Projeto de sua psicogenética é o estudo da pessoa completa, considerada em suas
relações com o meio (contextuada) e em seus diversos domínios (integrada)”. (Galvão, 1998,
p.33). Fundamentou-se no método de análise do materialismo dialético e o estudo
contextualizado da criança, e teve grande interesse pelo desenvolvimento psicológico e pelas
suas investigações no campo da educação infantil.
Pouco discutido em nosso meio educacional brasileiro foi a articulação de Wallon com o
a reforma do ensino e que apresentava implicações para a educação escolar. No ano de 1936
Wallon participou da implementação das “Classes Novas”, que seria classes de sexta série, onde
começou a se praticar os métodos ativos e observação dos estudantes, mas somente em 1945 que
essas experiências foram retomadas, pois havia sido interrompida com a Segunda Guerra. Em
1946 Henri Wallon e Paul Langevin assinaram o “Projeto de Reforma do Ensino”, que nunca foi
discutido pelos parlamentares da Assembléia Nacional. Segundo Gratiot “este projeto de 1946
era o resultado de um longo trabalho de consensos e de reflexão sobre o que deveria ser a
reforma do sistema de ensino francês.” (2010, p.15). O referido projeto tinha algumas
orientações educacionais diretas, como, por exemplo, indicava um limite no número de alunos
em cada sala de aula, não podendo ultrapassar o total de 25 indivíduos por turma, devendo-se
trabalhar a cultura, pois a escola é o centro de difusão sobre ela. Nesta direção, Gratiot (2010)
ressalta que “resta precisar a estrutura e a organização do ensino em seus diferentes níveis,
segundos os diferentes ciclos onde as crianças deverão ser separadas de acordo com sua idade”.
(Gratiot, 2010, p.16). O maternal deveria acolher crianças entre 3 a 7 anos, posteriormente dava-se
inicio ao ensino de primeiro grau, tendo como obrigatoriedade dos 7 aos 18 anos, ficando
dividido em 3 ciclos de estudos. O primeiro ciclo seria de 7 anos 11 anos, o segundo de 11 a 15
anos e por ultimo dos 15 aos 18 anos de idade.
O ensino médio incluiria um primeiro nível de ensino pré-universitário, que era destinado
a dar aos estudantes uma preparação geral e técnica, já o nível superior tinha-se como propósito
reunir os ensinos teóricos e técnicos dentro das universidades. Segundo Gratiot (2010):

Se preservarão as três funções do ensino superior: O ensino para o propósito


profissional, dado dentro das universidades e depois completado dentro dos
institutos técnicos; a pesquisa que permitirá aos futuros pesquisadores
prosseguirem sua formação dentro dos centros de estudos e dos institutos
universitários onde encontrarão os meios necessários para a educação cientifica
através da colaboração de professores e de pesquisadores, a educação cultural
que enfim não será mais uma educação de simples vulgarização e que não irá
intervir na formação profissional prestada pelas universidades. (GRATIOT,
2010, p.18)
Toda essa diversificação do ensino exige certa importância na formação de professores.
“Essa formação incluirá um ensino obrigatório até os 18 anos, procedendo-se a distinção entre
professores de disciplinas comuns e professores de disciplinas especializadas.” (Gratiot, 2010,
p.18). Após obter o título correspondente para exercer a função de professor, o projeto
compreendia que seria necessário estudar nas Escolas Normais Superiores (ENS), que são
estabelecimentos de alta cultura. A duração dos estudos no ENS iria variar de acordo com
determinada especialidade. “Finalmente, no ensino superior, o recrutamento de professores de
letras e de ciências, de medicina e de direito ocorrerá de maneira diferenciada segundo cada
disciplina.” E “os órgãos de controle e aperfeiçoamento devem ser pedagógicos sobre os
professores e psicológicos sobre os estudantes.” (Gratiot, 2010, p.19). O “Inspetor” deveria
permitir que os professores conhecessem o progresso que a Pedagogia pode realizar e tornar um
conselheiro de seus alunos, em alguns casos também era preciso inspetores especializados.
Segundo Gratiot (2010) “O controle pedagógico deve ser acompanhado por um controle
psicológico sobre as crianças, confiado à especialista dos métodos psicológicos, ele permitirá a
orientação escolar dos estudantes. (Gratiot, p.20).
Os profissionais da educação deveriam ter uma qualificação pedagógica eficaz, uma
formação teórica e prática da psicologia, com certificado reconhecido pelo estado e pelas
universidades. Segundo Gratiot (2010), Wallon esperava que:

Cada professor fosse formado para a prática pedagógica e beneficiado por uma
especialização em psicologia infantil. Não deveria existir motivo de confusão
entre psicólogos escolares com os conselheiros de orientação que oferecem
assessoria para todos, sem substitutos, nem com especialista da reeducação da
linguagem ou da psicomotricidade, e ainda menos com os psicoterapeutas.
(p.22).

Wallon discute sobre o papel e as funções do psicólogo escolar, como alguém que deve
ajudar a criança a se revelar. O psicólogo escolar deve ter primeiramente como objetivo o
desenvolvimento máximo dos potenciais culturais e educativos de cada um. Apesar de toda
dedicação a esse projeto grandioso, de uma escola absolutamente democrática, ele nunca chegou
a ser implementado.
Outra participação de Wallon no cenário educacional foi a criação de uma revista de
psicologia infantil Enfance, participando ativamente foi durante quatorze anos como diretor da
revista. Sua primeira edição ocorreu em janeiro de 1948, a revista abordava diversos temas,
fazendo sempre referência com a educação.
A última obra que Wallon escreveu foi “Introdução á Emile” de Jean Jacques Rousseau,
dedicou-se a análise da obra em relação ás “ambigüidades que confundem em meio as
observações profundas e as verdades profundas”. (Gratiot, 2010, p.26). Wallon aproxima o
pensamento de Rousseau ao de Decroly e dos defensores dos “métodos ativos” no século XX.
Segundo Gratiot “Wallon é particularmente sensível á oposição constante que Rousseau estabelece entre
natureza e sociedade e em diferentes ocasiões, ele demonstra que a noção de “natureza” é ambígua em
Rousseau. (Gratiot, 2010, p.27).
A formulação psicológica sobre o desenvolvimento humano, conhecida como
psicogenética de Wallon apresenta singular importância à educação por discutir os estágios esse
desenvolvimento articulado aos processos educacionais. Aponta cinco estágios, sendo eles:
Estágio impulsivo-emocional, que acontece no primeiro ano de vida da criança. Nessa fase o
bebê se comunica através das emoções, instrumento privilegiado dela com seu meio; Estágio
sensório motor e projetivo que abrange o primeiro ao terceiro ano de vida tendo como marco
fundamental o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem; Estágio do personalismo
acontece por volta dos três aos seis anos, onde acontece o processo de formação da
personalidade; Estágio categorial inicia-se á partir dos 6 anos, o mesmo trás importantes avanços
no plano da inteligência, onde a criança deixa de ter um pensamento sincrético e passa a pensar
por categorias. E por ultimo o Estágio da adolescência, no qual impõe a necessidade de definição
da personalidade, trazendo a tona questões pessoais, morais e existenciais. Explica esse
desenvolvimento por meio de Campos funcionais na qual se distribui na atividade infantil, sendo
a afetividade, o ato motor e inteligência, os quais aparecem pouco diferenciado no início do
desenvolvimento e vão adquirindo aos poucos a dependência um do outro. Ainda existe outro
campo, que é o que ele denomina de “pessoa” que integra todos os outros.
Acreditamos que os estudos de Wallon são muito relevantes para a área educacional, pois
segundo Gratiot “Wallon se dirigiu a públicos diversos e qualquer de seus escritos revela uma cultura
excepcionalmente extensa e de uma infatigável curiosidade para a evolução cientifica de seu tempo”.
(Gratiot, 2010, p.28). Foi uma pessoa comprometida politicamente, durante determinado tempo foi
ministro da Educação Nacional de seu país.
No Brasil, a leitura e os estudos no pensamento Walloniano ainda são pouco difundidos
e, na varredura de sua obra encontramos importantes contribuições tanto para o campo da
psicologia como na educação. Esperamos que esse trabalho possa possibilitar uma aproximação
aos estudos desse autor e indicar possibilidades de aprofundamento de sua obra.

REFERÊNCIAS

GALVÃO, I. A complexa dinâmica do desenvolvimento infantil. In:

GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis:


Vozes, 1998.

GRATIOT, A. H. Henri Wallon.Tradução e Organização: Patrícia Junqueira. Recife: Fundação


Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 2010. (Coleção Educadores) (p. 11-30).

WALLON, H. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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