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Fiona aborda a peregrinação como um tópico antropológico uma vez que nunca fora analisado
inteiramente neste campo, mas tendo sempre em conta uma combinação de abordagens: a
história de um santuário, as experiências espirituais e psicológicas do indivíduo, fatores
económicos, políticos e culturais, assim como a lógica teológica de um local e os significados
religiosos que este tem para os seus crentes e as interações existentes entre o seu lar, jornada
e a vida.
Todas as religiões resistem às influências estrangeiras, mas afetam-se umas pelas outras,
podendo ser recetivas a novas ideias, mas mantendo a tradição e continuando ligeiramente
estáveis enquanto absorvem novos elementos. Assim sendo, apesar de a peregrinação não ser
um evento moderno, atrai um grande número de pessoas de toda a parte que transformam
economias e divulgam mensagens tanto políticas como religiosas.
A pesar dos riscos presentes nestas viagens, todos os anos verifica-se um aumento do prestígio
de um determinado santuário que continua a atrair peregrinos apesar dos perigos e
desconforto desta jornada. Muitos destes locais registam um maior potencial de tragédias à
medida que as peregrinações aumentam, como é o caso da peregrinação islâmica a Meca (Hajj)
cujos riscos mais recorrentes são: incêndios, agitação civil e sufocamento por pânico nas
multidões. No entanto, apesar de tudo isto, não é o suficiente para desencorajar os que
procuram fazer estas viagens e ainda podem aumentar a notoriedade e o mérito da visita a um
santuário.
Para além disto, tal como Durkheim e Turner referiram, a peregrinação une os indivíduos a um
propósito comum, retirando-os da sua sociedade normal e juntando-os numa entidade mais
coletiva, onde o rótulo individual de cada um desaparece e a igualdade social aparece, em que
apesar do seu estatuto ou outros, todos desempenham a mesma função- todos são mais um
indivíduo dedicado à religião, são apenas meros peregrinos.
Turner trata a peregrinação como um processo social através de uma abordagem funcionalista.
Diz que esta é um rito de passagem, é anti-estrutural e com laços de communitas(noção de
comunidade) na medida em que os peregrinos são iguais uma vez que compartilhavam o
mesmo objetivo.
Para além disto, estas abordagens funcionalistas apenas mostram um lado da moeda- a união e
processo de autoconhecimento e entreajuda, deixando de parte o facto de que a peregrinação,
tal como Bowie relata, pode revelar tensões étnicas e religiosas entre eles.
Contudo estas abordagens dependem de acordo com os interesses do autor: experiência dos
crentes, nas dimensões sociológicas e históricas ou no local em si. Os centros sagrados
funcionam como um magnetismo espiritual, que guardam relíquias e divindades, o santuário
incorpora o que traduz. Muitos dos que visitam podem ser considerados peregrinos, viajantes
ou “turistas espirituais”, dependendo da sua postura num determinado local, uns podem vir
por hábito, por curiosidade ou mesmo por crença ou pela sua disposição interior.
Muitos traçam uma meta, outros partem sem um destino firme e outros guiados por Deus ou
aleatoriamente. É uma jornada realizada por uma pessoa “em busca de um estado que ela
acredita incorporar um ideal valorizado” e o seu fim corresponde a um ponto geográfico fixo ou
no caso da busca desconhecida, um lugar não situado geograficamente.
Para concluir:
Não se pode assumir que a experiência seja igual entre todos, mas podemos aferir que as
peregrinações fazem parte de um continuum da prática de visitar estes locais sagrados
sobrepondo-se ao turismo, ou seja, é como um rito de passagem e segundo Bowie, é uma
viagem física, metafórica, espiritual e interna. Desta forma, diz-se que as experiências são
únicas e pessoais.