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É sempre oportuno associar fatos da realidade com tópicos que

estudamos, até para facilitar o entendimento e a absorção de


conhecimento, compreendendo melhor os instrumentos do Direito
Constitucional e perceber que eles não estão aí só para enfeite.
Desse modo, a Teoria dos Status dos direitos fundamentais
formulada pelo alemão Georg Jellinek em fins do século XIX,
remanesce atual e relevante para análise da posição do indivíduo
frente ao Estado e do processo de efetivação desses direitos. Além
de aparecer bastante na sua prova... Os denominados 4 status são
o status passivo (ou status subjectionis), status negativo (ou
status libertatis), status positivo (ou status civitatis) e status
ativo (ou de cidadania ativa).

No status passivo (status subjectionis), o indivíduo se encontra


em posição de obediência e subordinação aos poderes públicos,
como por exemplo, na obrigação de pagar tributos, de alistamento
eleitoral e alistamento militar, em certos casos, de sujeição às
normas de trânsito, e outras. Em crises como a do Corona Vírus,
na posição de obediência às regras sanitárias impostas e às
limitações de direitos estabelecidas pelo Poder Público. Na
Constituição Federal e na legislação, encontramos os principais
instrumentos de coerção que poderão ser utilizados pelo Chefe do
Poder Executivo, como medidas de exceção. A Lei Complementar
101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) prevê o reconhecimento
do estado de calamidade pública em nível nacional, com
autorização do Congresso Nacional, a fim de eximir
temporariamente o Governo Federal de cumprir os limites fiscais
contidos na LRF:
Art. 65. Na ocorrência de calamidade pública reconhecida pelo
Congresso Nacional, no caso da União, ou pelas Assembleias
Legislativas, na hipótese dos Estados e Municípios, enquanto
perdurar a situação:
I - serão suspensas a contagem dos prazos e as disposições
estabelecidas nos arts. 23 , 31 e 70;
II - serão dispensados o atingimento dos resultados fiscais e a
limitação de empenho prevista no art. 9o. Parágrafo único. Aplica-se
o disposto no caput no caso de estado de defesa ou de sítio,
decretado na forma da Constituição.
Num estágio mais avançado, a Constituição Federal prevê
o estado de defesa e o estado de sítio. O estado de defesa pode
ser decretado para para preservar ou prontamente restabelecer, em
locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social
ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou
atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza (art.
137, CF).
Durante o estado de defesa, podem ser impostas as seguintes
medidas coercitivas (art. 137, § 1º, CF):
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na
hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos
danos e custos decorrentes.

Ainda no status passivo de Jellinek, temos as medidas que


poderão ser tomadas durante o estado de sítio (art. 139, CF), que
pode ser decretado, com autorização do Congresso Nacional, no
caso de fatos que comprovem a ineficácia do estado de defesa,
além de outras hipóteses:
I - obrigação de permanência em localidade determinada; II -
detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por
crimes comuns; III - restrições relativas à inviolabilidade da
correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de
informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na
forma da lei; IV - suspensão da liberdade de reunião; V - busca e
apreensão em domicílio; VI - intervenção nas empresas de serviços
públicos; VII - requisição de bens.

No status negativo (status libertatis), o indivíduo goza de uma


série de garantias de liberdade e de não-intervenção (lembra muito
os direitos de liberdade de primeira geração), o poder lícito de
resistir a imposições ou restrições indevidas do Estado na esfera de
direitos do indivíduos. Por exemplo, o Estado pode me proibir de
sair à rua em determinados horários ou de frequentar espaços
públicos por questões sanitárias, mas não pode adentrar em meu
domicílio imotivadamente, me impedir de adquirir alimentos, ou
encarcerar cidadãos fora das hipóteses previstas na lei e nas
medidas de exceção. Por esse motivo, o art. 141 da CF prevê a
responsabilização dos agentes que exorbitarem de suas funções:
Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio,
cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade
pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes.

O status positivo (status civitatis) diz respeito às obrigações do


Estado com os indivíduos e ao direito de exigir os poderes públicos
prestações positivas a seu favor. Podemos aqui identificar os
direitos de segunda dimensão, de caráter social, direitos de
igualdade material. Aqui, ocorrem os embates sobre quais os limites
dessa prestação (teoria do financeiramente possível) ou quais as
garantias mínimas que podem ser exigidas (mínimo existencial,
teoria do limite dos limites etc). Englobam inclusive o direito à
saúde pública, notadamente de medidas voltadas à proteção dos
indivíduos face à epidemias e pandemias, medidas sanitárias, e
medidas de proteção econômica para evitar falências em massa e a
bancarrota dos negócios.

Por fim, no status ativo (cidadania ativa) o indivíduo reveste-se de


prerrogativas para influenciar na formação da agenda política e da
vontade estatal, seja por meio do voto direto, por plebiscito,
referendo,iniciativa popular de projeto de lei e outros instrumentos
de participação política.
Podemos, assim, resumir os quatro status de Jellinek, na matriz a
seguir:

Passivo O indivíduo está subordinado aos


poderes públicos, sujeitando-se a
deveres e proibições (ex:
pagamento de impostos, medidas
sanitárias, estado de sítio);
Negativo Espaço de liberdade individual
frente ao abuso do poder estatal.
Inclui o direito de não-
interferência na esfera privada
(ex: ninguém é obrigado a fazer
ou deixar de fazer senão em face
da lei, proteção contra abuso de
poder)
Positivo Direito do indivíduo de exigir
prestações positivas do Estado
(segurança, saúde, educação,
saneamento)
Ativo Direitos de participação política;
capacidade de interferir na
agenda e na formação da vontade
estatal

QUESTOES:
(QUADRIX/AGENTE FISCALIZAÇÃO/CONRERP 2/2019) Na concepção
tradicional da teoria dos quatro status de Georg Jellinek, os direitos
fundamentais não podem ser considerados como direitos de defesa.
Errado. A Teoria dos Status formulada pelo alemão Georg Jellinek prevê
o status negativo ou direito de defesa, que resguardam a autonomia
individual face à atuação abusiva do Estado. Esse termo foi também
colhido por Robert Alexy, que divide os direitos fundamentais em 2
grupos: direitos de defesa, que são aqueles que resguardam a
autonomia individual face à atuação abusiva do Estado - liberdade,
segurança individual, propriedade, proteção contra o abuso de
poder. direitos a prestações, que correspondem aos
status positivo e ativo de Jellinek, respectivamente: i) no direito à
prestações sociais como saúde, educação, moradia, e ii) nos direitos à
participação política, no acesso à justiça, de participação nas
deliberações públicas. (CESPE/PROCURADOR DO ESTADO/PGE
PE/2009) De acordo com a teoria dos quatro status de Jellinek,
o status negativo consiste na posição de subordinação do indivíduo
aos poderes públicos, como detentor de deveres para com o Estado.
Assim, o Estado tem competência para vincular o indivíduo, por meio
de mandamentos e proibições. Errado. Esse conceito descrito na
questão reflete exatamente o status passivo ou
subjetivo (subjectionis). O status negativo diz respeito ao espaço de
liberdade do indivíduo diante das ingerências dos poderes públicos,
direito de não-interferência no espaço privado e garantias contra abuso
do poder. É isso pessoal... vamos estudar porque vírus não dá em prova!
Leia mais em nosso material teórico e nas milhares de questões
comentadas.  

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