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UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

UNIVERSIDADE
EDUARDO MONDLANE

Módulo de
Metodologia de Investigação Educacional
Índice
Visão geral
Bem vindo ao módulo de Metodologia de Investigação Educacional ............................. 5
Objectivos do módulo ...................................................................................................... 5
Recomendações para o estudo .......................................................................................... 6

Unidade nº 1 7
Questões Gerais sobre a Investigação em Educação ........................................................ 7
Introdução ................................................................................................................ 7
Objectivos..………………………………………………………………………………7
Questões Gerais sobre a Investigação em Educação ……………………………………8
O conhecimento científico ………………………………………………………………8
Actividades ..................................................................................................................... 12
Auto- avaliação ............................................................................................................... 12
Chave de correcção ......................................................................................................... 13
Bibliografia da Unidade .................................................................................................. 14

Unidade nº 2 15
Dimensões epistemológica, teórica, e técnica da investigação ....................................... 15
Introdução .............................................................................................................. 15
Objectivo……………………………………………………………………………….15
Dimensões epistemológica, teórica, e técnica da investigação…………………………16
Os paradigmas na investigação…………………………………………………………16
O paradigma qualitativo e quantitativo ..………………………………………………17
Actividades ..................................................................................................................... 19
Auto- avaliação ............................................................................................................... 19
Chave de correcção ......................................................................................................... 20
Bibliografia da Unidade .................................................................................................. 21

Unidade nº 3 22
Pressupostos teóricos e metodológicos da investigação educacional ............................. 22
Introdução .............................................................................................................. 22
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Objectivo……………………………………………………………………………….22
Pressupostos teóricos e metodológicos da investigação educacional…………………..23
Fundamentação teórica…………………………………………………………………23
Metodologia……………………………………………………………………………26
Posições dos paradigmas quanto a algumas questões chave…………………………...26
Actividades ..................................................................................................................... 28
Auto- avaliação ............................................................................................................... 28
Chave de correcção ......................................................................................................... 29
Bibliografia da Unidade .................................................................................................. 29

Unidade nº 4 30
Pesquisa qualitativa e quantitativa .................................................................................. 30
Introdução .............................................................................................................. 30
Objectivos………………………………………………………………………………30
Pesquisa qualitativa e quantitativa ……………………………………………………..31
A pesquisa qualitativa…………………………………………………………………..31
Princípios de recolha de dados qualitativos…………………………………………….35
A pesquisa quantitativa…………………………………………………………………36
Amostra: Características e modos de selecção…………………………………………38
Amostras probabilísticas………………………………………………………………..40
Amostras não probabilísticas...…………………………………………………………42
Técnicas e instrumentos de recolha de dados.…………………………………………42
Ética na investigação: Responsabilidade social e ética do investigador.………………51
Estrutura do relatório de pesquisa.……………………………………………………..54
Actividades ..................................................................................................................... 57
Auto- avaliação ............................................................................................................... 58
Chave de correcção ......................................................................................................... 58
Bibliografia da Unidade .................................................................................................. 59
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Introdução
Bem vindo ao módulo de
Metodologia de Investigação
Educacional

Metodologia de Educação Educacional é um módulo que se ocupa das


variadas formas de investigação aplicadas aos fenómenos e realidades
educacionais. Os métodos e técnicas de investigação na área da educação
são aplicados com o intuito de conhecer a realidade educacional.
Seleccionados e manejados adequadamente, estes métodos e técnicas
possibilitam o esclarecimento rigoroso e cauteloso do objecto em estudo,
oferecendo uma compreensão global e uma interpretação apurada de
situação educacionais. O módulo é composto por 4 unidades didácticas.
Assim,
Na primeira unidade vamos discutir as questões gerais sobre a
investigação em educação.
Na segunda unidade vamos apresentar a dimensão epistemológica, teórica
e técnica da investigação.
Na terceira unidade falaremos dos pressupostos teórico e metodológicos
da investigação educacional.
Na quarta unidade abordaremos a natureza da pesquisa qualitativa e
quantitativa e seus procedimentos.
É importante que saiba que este módulo está integrado no curso de
licenciatura em Organização e Gestão da Educação ministrado na
Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane.

Objectivos do módulo
Caro estudante, quando terminar o estudo do módulo de Metodologia de
Investigação Educacional deverá ser capaz de:

 Identificar, aplicar e discutir alguns métodos e técnicas comummente


usadas na investigação social, em particular no âmbito da realidade
educacional;
 Planificar, conceber e implementar um projecto de investigação na
área da educação à sua escolha.
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Recomendações para o estudo


Para alcançar com sucesso os objectivos de aprendizagem do
módulo, recomendamos que você faça o planeamento minucioso do
seu tempo de estudo. O ensino deste módulo na modalidade à
distância não exige a sua presença física num espaço físico em que
terá que interagir face-à-face com o professor e outros estudantes
que estão inscritos no módulo à semelhança do que preconiza o
ensino presencial, no entanto disponibilizamos um rol de tarefas
por concretizar. É importante que perceba que estas tarefas estão
programadas e calendarizadas de modo a materializarmos as metas
de aprendizagem dos conteúdos nos diferentes momentos. Por se
tratar de um módulo à distância, apelamos que faça do computador
seu braço direito e seu melhor amigo, uma vez que será
fundamentalmente à sua ferramenta de trabalho e o meio através do
qual dialogará com o professor e os seus colegas de turma. Por via
do computador terá também acesso aos conteúdos dos módulos e
aos mais variados recursos de aprendizagem. Durante a leitura dos
materiais recomendados e complementares é imprescindível que
você tome notas ou que elabore fichas de leitura de modo a reter as
ideias chaves apresentadas e discutidas pelos autores.
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Unidade Didáctica nº1


Questões Gerais sobre a Investigação em Educação
Introdução
Na primeira unidade, num primeiro momento, vamos introduzi-lo
às características do conhecimento científico, de seguida vamos
falar brevemente sobre os componentes do processo de
investigação e por fim falaremos sobre a estrutura de um artigo
científico. O estudo desta unidade é importante porque permite que
o estudante aprenda a distinguir o conhecimento científico de
qualquer outro tipo de conhecimento a partir das suas
características. É também importante porque o estudante aprende
os passos da investigação e como pode apresentar os resultados de
uma investigação.

Objectivos
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Identificar os principais traços que caracterizam o


conhecimento científico;
 Descrever na essência cada uma das características do
conhecimento científico;
 Descrever as características da investigação e os procedimentos
e/ou componentes de um processo de investigação;

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Para você se familiarizar com as questões gerais da investigação


educacional importa em primeiro lugar conhecer as características
do conhecimento científico. A seguir apresentamos três quadros
resumo sobre as características da investigação; o processo de
investigação e a estrutura do artigo científico.

Assim, recomendamos que leia o texto de BUNGE, M. (s.d). La


Fontes de Informação
e Recursos de ciência, seu método. In Um outro olhar sobre o mundo, Pp. 215-
Aprendizagem
217 e Gomes, A. A. (2001). Considerações sobre a pesquisa
científica: Em busca de caminhos para a pesquisa científica.
Revista da Toledo, Vol. 5, Pp. 61-81.

QUESTÕES GERAIS SOBRE A INVESTIGAÇÃO


EDUCACIONAL

I. O Conhecimento Científico

A ciência é explicativa: tenta explicar os factos em termos de leis e


as leis em termos de princípios. Os cientistas não se conformam
com descrições pormenorizadas; além de inquirir como são as
coisas, procuram responder ao porquê: porque é que ocorrem os
factos tal como ocorrem e não de outra maneira. A ciência deduz as
proposições relativas aos factos singulares a partir de leis gerais, e
deduz as leis a partir de princípios ainda mais gerais.

A ciência é aberta: não reconhece barreiras a prior, que limitem o


conhecimento: Se o conhecimento fáctico não é refutável em
princípio, então não pertence à ciência, mas a algum outro campo.
As noções acerca do nosso meio natural ou social, ou acerca do
nosso eu, não são finais; estão todas em movimento e são falíveis.
Sempre é possível que possa surgir uma nova situação (novas
informações ou novos trabalhos teóricos) em que as nossas ideias,
por firmemente estabelecidas que pareçam, se revelem inadequadas
em algum sentido.

A ciência carece de axiomas evidentes; inclusive, os princípios


mais gerais e seguros são postulados que podem ser corrigidos ou
substituídos. Portanto, a ciência é aberta como sistema - porque é
falível – e por conseguinte é capaz de progredir.
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A investigação científica é especializada: uma consequência da


focagem científica dos problemas é a especialização. Não obstante
a unidade do método científico, a sua aplicação depende, em
grande medida, do assunto; isto explica a multiplicidade de técnicas
e a relativa independência dos diversos sectores da ciência (...).
Porém, a especialização não impede a formação de campos
interdisciplinares como a biofísica, a bioquímica, a psicofisiologia,
a psicologia social, a teoria da informação, a cibernética ou a
investigação operacional. Contudo, a especialização tende a
estreitar a visão do cientista individual (...).

A investigação científica é metódica: não acontece casualmente, é


planeada. Os investigadores não tateiam na obscuridade; sabem o
que buscam e como o encontrar. A planificação da investigação não
exclui o azar, pois, ao deixar lugar para acontecimentos
imprevistos, é possível aproveitar a interferência do azar e a
novidade inesperada (...).

Todo o trabalho de investigação se baseia no conhecimento anterior e, em


particular, nas conjecturas melhor confirmadas. Mais ainda, a
investigação procede de acordo com regras e técnicas que se revelaram
eficazes no passado, mas que são aperfeiçoadas continuamente, não só à
luz de novas experiências, mas também de resultados do exame
matemático e filosófico.

O conhecimento científico é fáctico: Parte dos factos, respeita-os


até certo ponto e sempre retorna a eles. A ciência procura descobrir
os factos tais como são, independentemente do seu valor emocional
ou comercial: a ciência não poetiza os factos. Em todos os campos,
a ciência começa por estabelecer os factos: isto requer curiosidade
impessoal, desconfiança pela opinião prevalecente e sensibilidade à
novidade (...).

O conhecimento científico é claro, preciso e comunicável: os


seus problemas são distintos, os seus resultados são claros. A
ciência torna preciso o que o senso comum conhece de maneira
nebulosa. O conhecimento científico é comunicável porque não é
inefável, mas expressável; não é privado, mas público. O que é
inefável pode ser próprio da poesia ou da música, não da ciência,
cuja linguagem é informativa e não expressiva ou imperativa. (...).
Portanto, a linguagem mas científica comunica informações a quem
quer que tenha sido preparado para as entender (...).

O conhecimento científico é verificável: deve passar pelo exame


da experiência. Para explicar um conjunto de fenómenos, o
cientista inventa conjecturas fundadas de algum modo no saber
adquirido. As suas suposições podem ser cautelosas ou ousadas,
simples ou complexas; em todo o caso, devem pôr-se à prova. O
10

teste das hipóteses fáticas é empírico, isto é, observável ou


experimental (...). No entanto, nem todas as ciências podem
experimentar e em certas áreas da astronomia e da economia,
alcança-se uma grande exatidão sem ajuda da experimentação (...).

Nem sempre é possível, tão pouco desejável, respeitar inteiramente


os factos quando se analisam e não há ciência sem análise, mesmo
quando a análise é apenas um meio para a reconstrução final do
todo. Por ex. o físico perturba o átomo que deseja espiar; o biólogo
modifica e pode inclusive matar o ser vivo que analisa; o
antropólogo, empenhado no seu estudo de campo de uma
comunidade, provoca nele certas modificações. Nenhum deles
apreende o seu objecto tal como é, mas tal como fica modificado
pelas suas próprias operações. (...). O conhecimento científico
transcende os factos: põe de lado os factos, produz factos novos e
explica-os.

O conhecimento científico é sistemático: uma ciência não é um


agregado de informações desconexas, mas um sistema de ideias
ligadas logicamente entre si. Todo o sistema de ideias,
caracterizado por um certo conjunto básico (mas refutável) de
hipóteses peculiares, e que procura adequar-se a uma classe de
factos, é uma teoria. (...). O carácter matemático do conhecimento
científico - isto é, o facto de ser fundado, ordenado e coerente - é
que o torna racional. A racionalidade permite que o progresso
científico se efectue não só pela acumulação gradual de resultados,
mas também por revoluções (...).

O conhecimento científico é geral: situa os factos singulares em


hipóteses gerais, os enunciados particulares em esquemas amplos.
O cientista ocupa-se do facto singular na medida em que este é
membro de uma classe, ou caso de uma lei; mais ainda, pressupõe
que todo o facto é classificável, o que ignora o facto isolado. Por
isso, a ciência não se serve dos dados empíricos - que sempre são
singulares - como tais; estes são mudos enquanto não se manipulam
e convertem em peças de estrutura teóricas (...).

O conhecimento científico é legislador: busca leis (da natureza e


da cultura) e aplica-as. O conhecimento científico insere os factos
singulares em regras gerais chamadas "leis naturais" ou "leis
sociais". Por detrás da fluência ou da desordem das aparências, a
ciência factual descobre os elementos regulares da estrutura e do
processo do ser e do devir (...).
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O conhecimento científico é preditivo: transcende a massa dos


factos de experiência, imaginando como pode ter sido o passado e
como poderá ser o futuro. A previsão é, em primeiro lugar, uma
maneira eficaz de pôr à prova as hipóteses; mas também é a chave
do controlo ou ainda da modificação do curso dos acontecimentos.
A previsão científica, em contraste com a profecia, funda-se em leis
e em informações específicas fidedignas, relativas ao estado de
coisas actual ou passado.
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Tarefas

Depois de ter lido os conteúdos apresentados na secção anterior,


sugerimos a seguinte tarefa:
 Procure na internet (Google académico) ou numa revista
científica um artigo sobre educação e descreva-o na íntegra
tendo em conta os elementos que estruturam um artigo
científico.

Auto- avaliação

Gostaríamos agora que respondesses as seguintes questões:


1. Uma das características da ciência é o facto de ela ser aberta.
Diga qual é a implicação para nós, do facto de a ciência ser
aberta.
2. Diga qual é o elemento catalisador de qualquer pesquisa
Auto-avaliação científica?
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Chave de correcção

Para responder corretamente a primeira questão apresentada na secção


anterior, deve considerar a explicação prévia decorrente desta
característica da ciência e comentar sobre a validade do conhecimento
produzido pelo cientista.

Chave de correcção Em relação à segunda questão colocada, poderia pensar o que é que faz
com que uma pessoa se decida a levar a cabo uma pesquisa científica.
A seguir apresentam-se as respostas às perguntas colocadas acima.
1. Uma grande implicação do facto da ciência ser aberta é o facto é
o facto de o conhecimento produzido sobre um determinado
fenómeno ser válido apenas enquanto não surgirem novos
conhecimentos que melhor dão conta/explicam a ocorrência ou
manifestação do fenómeno.

2. O elemento catalizador de qualquer pesquisa científica é a


identificação ou descoberta de um problema que nos impele a
buscar a sua solução.
14

Bibliografia Complementar

Para consolidar o que aprendeu sobre as características da ciência poderá


consultar a seguinte obra:
1. Lakatos, E. M. & Marconi, M. A. (1988). Metodologia científica, São
Paulo, Editora Atlas S.A.. Pp. 17-24.
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Unidade Didáctica nº2


Dimensões epistemológica, teórica e técnica da
investigação
Introdução
Nesta unidade pretendemos falar sobre os paradigmas da
investigação. Referimo-nos especificamente ao paradigma
quantitativo e ao paradigma qualitativo de investigação. O estudo
desta unidade é importante porque ajuda o investigador a ter noção
de como este se deve posicionar e qual deve ser a sua relação com
o seu objecto de estudo.

Objectivos
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Caracterizar os pressupostos ontológico, epistemológico,


axiológico, retórico e metodológico dos paradigmas qualitativo
e quantitativo;
 Identificar os critérios para a selecção de um ou outro
paradigma de investigação.
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Nesta unidade vamos falar sobre as dimensões epistemológica,


teórica e técnica da investigação. Inicialmente concentraremos a
nossa discussão à volta dos paradigmas qualitativo e quantitativo da
investigação.
Para conheceres os pressupostos dos paradigmas qualitativo e
quantitativo, assim como as razões que nos levam a optar por um ou
por outra leia a obra de Creswell. J. W. (1994). Research Design:
Qualitative and quantitative approaches. California, Sage
Fontes de Publication, Pp. 1-16 e Gomes, A. A. (2001). Considerações sobre a
Informação e pesquisa científica: Em busca de caminhos para a pesquisa científica.
Recursos de Revista da Toledo, Vol. 5, Pp. 61-81.
Aprendizagem

DIMENSÕES EPISTEMOLÓGICA, TEÓRICA E TÉCNICA


DA INVESTIGAÇÃO

I. Os Paradigmas na Investigação
O trabalho do pesquisador reflecte invariavelmente a sua visão de
mundo, isto é, a sua experiência de vida, bem como os pressupostos
teóricos e metodológicos que o orientam. Deste modo, diferentes
pesquisadores possuem diferentes visões de mundo, isto é, diferentes
paradigmas epistemológicos (Gomes, 2001).

O desenho de um estudo começa com a selecção do tópico e do


paradigma. Os paradigmas nas Ciências Humanas e Sociais ajudam-
nos a compreender um fenómeno. Eles fornecem suposições sobre o
mundo social; como a ciência pode ser conduzida; e quais constituem
os problemas, soluções, e critérios legítimos de “prova” (Fiestone,
1978; Gioia & Pitre, 1990; Kuhn, 1970 citados por Creswell, 1994:
1). Tais paradigmas são constituídos por teorias e métodos.

O estudo qualitativo é desenhado para ser consistente com os


pressupostos do paradigma qualitativo. Este estudo é definido como
um processo de pesquisa de compreensão dos problemas sociais ou
humanos, baseados na construção de uma imagem complexa,
holística, formada com discursos, relato detalhado dos pontos de
vista dos informantes, e conduzido num ambiente/contexto natural.

Contrariamente, um estudo quantitativo, consistente com o


paradigma quantitativo, é uma investigação sobre um problema
social ou humano, baseado no teste de uma teoria composta por
variáveis, medida por números, e analisada com procedimentos
estatísticos, de modo a determinar se a generalização preditiva de
uma teoria contém verdade.
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II. O Paradigma Qualitativo e Quantitativo

Tabela 1: Pressupostos do Paradigma Quantitativo e Qualitativo

Pressuposto Questão Quantitativo Qualitativo


Ontológico Qual é a A realidade é objectiva e A realidade é subjectiva e
natureza da singular, separada do múltipla como vista pelos
(Natureza e realidade? pesquisador participantes no estudo
essência dos
fenómenos
investigados)
Epistemológic Qual é a O investigador é O investigador interage com o
o relação do independente do que está a objecto de pesquisa
pesquisado ser investigado
(Natureza e r com o
formas de objecto de
conhecimento, pesquisa?
sua construção
e
comunicação)
Axiológico Qual é o Livre de valores e imparcial Carregado de valores e parcial
papel dos (sem preconceitos) (preconceituoso)
(Natureza dos valores
valores e (morais)
juízos
valorativos)
 Formal;  Informal;
Retórico Qual é a
 Baseada em  Elaboração de
língua do
(Natureza da definições; decisões;
investigad
comunicação)  Voz impessoal;  Voz pessoal;
or
 Uso de  Vocabulário/termos
vocabulário/termo qualitativos
s quantitativos reconhecidos;
reconhecidos
 Processo  Processo indutivo;
Metodológico Qual é o dedutivo;  Formação de factores;
processo
 Causa e efeito;  Modelo Criado -
da
 Modelo estático- Categorias
pesquisa
Categorias identificadas durante o
isoladas antes do processo de pesquisa
estudo;  Limitado ao contexto;
 Livre de contexto  Modelos, teorias
 Generalizações desenvolvidas por
influenciadas por compreensão;
predições,
explicações, e  Preciso e certo através
compreensões; da verificação
 Preciso e certo
através da
validade e
segurança.

Fonte: Creswell (1994: 5)


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Tabela 2: Critérios de selecção de um Paradigma

Critério Paradigma Quantitativo Paradigma Qualitativo


Visão de Conforto do investigador Conforto do investigador
mundo do com os pressupostos do com os pressupostos do
investigador paradigma quantitativo: paradigma qualitativo:
ontológico, epistemológico, ontológico, epistemológico,
axiológico, retórico, e axiológico, retórico, e
metodológico metodológico

Formação e Habilidades técnicas de Habilidades de escrita


experiência do escrita, estatística por literária, análise de texto por
investigador computador, biblioteca computador, biblioteca

Atributos Conforto com as regras e Conforto com a falta de


psicológicos do princípios para conduzir a regras específicas e
investigador pesquisa, baixa tolerância procedimentos para
para ambiguidade, tempo conduzir a pesquisa; alta
para estudos de curta tolerância para
duração ambiguidade; tempo para
estudos longos

Natureza do Previamente estudado por Pesquisa exploratória,


problema outros investigadores, pelo variáveis desconhecidas,
que existe um corpo de contexto importante, pode
literatura; variáveis carecer de uma base teórica
conhecidas, e teorias para o estudo
existentes

Audiência do Indivíduos Indivíduos


estudo (ex. acostumados/apoiantes de acostumados/apoiantes de
Editor de estudos quantitativos estudos qualitativos
jornal e
leitores,
comunidade
académica)
Fonte: Creswell (1994: 9)
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Tarefas

Agora convidamos-te a pensar cuidadosamente no tópico da tua


investigação. Registe numa folha de papel e de seguida procure
enquadrá-lo num dos paradigmas qualitativo ou quantitativo
apresentados na secção prévia.

Auto- avaliação

Agora responda as seguintes questões:


1. Qual o papel dos paradigmas na investigação em ciências sociais
e humanas?
2. Em que medida o estudo qualitativo se distingue do estudo
quantitativo?
Auto-avaliação 3. Que aspectos o investigador normalmente tem em consideração
na escolha de um e de outro paradigma?
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Chave de correcção
Para responder a primeira pergunta pense na utilidade da seleção de um
paradigma para o pesquisador.

A segunda questão pode ser facilmente respondida ao se ter em conta o


tipo de dados ou informação e a forma como o pesquisador é convidado a
Chave de correcção apresentar o resultado da sua análise, ou seja, através de números ou
texto.

A questão três pode ser corretamente respondida ao se olhar para os


critérios que dizem respeito ao próprio investigador, ao problema a ser
investigado e a audiência do próprio estudo.
A seguir são apresentadas as respostas às questões colocadas acima.
1. O papel dos paradigmas na investigação em ciências sociais e
humanas é o de facilitar a compreensão dos fenómenos. Os
paradigmas na investigação fornecem suposições sobre o
mundo social; como a ciência pode ser conduzida; e quais
podem ser os problemas, soluções, e critérios legítimos de
“prova”.
2. O estudo qualitativo se distingue do estudo quantitativo na
medida em que o primeiro busca a compreensão dos
problemas sociais ou humanos, baseando-se na construção
de uma imagem complexa e holística formada com
discursos, relato dos pontos de vista individuais e é
conduzido num ambiente/contexto natural, enquanto que o
segundo é uma investigação sobre um problema social ou
humano com base no teste de uma teoria composta por
variáveis, medida por números, e analisada com
procedimentos estatísticos, de modo a determinar se a
generalização preditiva de uma teoria contém verdade.
3. Para escolher o paradigma quantitativo ou qualitativo o
investigador deve ter em conta a sua visão de mundo, a sua
formação e experiência, os seus atributos psicológicos, a
natureza do problema de investigação e a audiência do seu
estudo (ex. editor de jornal e leitores, comunidade
académica).
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Bibliografia Complementar

Para complementar e consolidar os conteúdos sobre os paradigmas


qualitativo e quantitativo de investigação sugerimos as seguintes
obras:
1. Neuman, W. L. (2006). Social research methods: Qualitative and
quantitative approaches. 6th Ed. Boston, Pearson A and B. Pp. 151-
178.
22

Unidade Didáctica nº3


Pressupostos teóricos e metodológicos da
investigação educacional
Introdução
Nesta unidade pretende-se abordar os pressupostos que dão suporte
as diferentes abordagens da pesquisa. O estudo desta unidade é de
crucial importância porque nenhuma pesquisa que clame ser
científica poder sê-lo se não for fundamentada teórica e
metodologicamente. Assim, o estudante é munido de habilidades
que o irão orientar durante processo de investigação e na seleção de
conceitos, hipóteses, técnicas de recolha e tratamento de dados

Objectivos
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Descrever a importância do Quadro Teórico da Pesquisa;


 Distinguir as dimensões “subjectiva” e “objectiva” da concepção da
realidade,
 Identificar os paradigmas mais usados na investigação científica.
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Aqui nesta unidade vamos falar sobre os pressupostos teóricos e


metodológicos da investigação educacional, partindo da fundamentação
teórica, seguido da metodologia, terminando no posicionamento dos
paradigmas relativamente à algumas questões chaves (natureza e
essência dos fenómenos; natureza e formas de conhecimento).
Para que entendas os conteúdos discutidos nesta unidade é
imprescindível que leias Gomes, A. A. (2001). Considerações sobre a
Fontes de pesquisa científica: Em busca de caminhos para a pesquisa científica.
Informação e Revista da Toledo, Vol. 5. Pp. 61-81 e, Mutumucuio, I. V. (2008).
Recursos de Módulo: Métodos de Investigação. Maputo, CDA-UEM/Cooperação
Aprendizagem Italiana. Pp. 23-25.

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA


INVESTIGAÇÃO EDUCACIONAL

I. Fundamentação Teórica
Toda a pesquisa é fundamentada sob uma base teórica. A partir dela,
elaboram-se os pressupostos que darão suporte à abordagem da pesquisa;
e destacam-se os itens a serem desenvolvidos, como por exemplo, a
contextualização do problema por meio de pesquisa bibliográfica.
Questões relativas ao tipo de realidade a ser pesquisada e o quadro
teórico da pesquisa são importantes.

A teoria científica é constituída por leis, hipóteses, e conceitos. As


teorias têm um caráter explicativo ainda mais geral que as leis, e também
um carácter conjuntural, sendo passível de correção e aperfeiçoamento,
podendo ser substituída por outra que explique melhor os fatos. Uma
teoria científica refere-se a objetos e mecanismos ocultos e
desconhecidos (Gomes, 2001).

Na tabela a seguir são apresentadas as dimensões subjectiva e objectiva


da concepção da realidade.

Tabela 1: Análise das dimensões “Subjectiva” e “Objectiva” da


concepção da Realidade (Mutumucuio, 2008)
24

Abordagem Subjectiva Abordagem Objectiva


(pró-ciências sociais) (pró-ciências naturais)

- Realidade é Nominalis ← Ontologia → Realismo - Realidade


resultado da mo externa ao
(natureza e
cognição indivíduo.
essência de
individual.
fenómenos - Mundo de
Portanto é
investigados) fenómenos
subjectiva.
naturais é real
- Criação da e externo ao
mente: a indivíduo.
realidade
- Existência
social é algo
independnte
que é
da
construído e
consciência
interpretado
do
por pessoas e
conhecedor
reforçada
durante a
interacção
interpessoal.
- Objectos
do
pensamento
são palavras
e seus
significados.

- Anti- ← Epistemologi → Positivis -


Conheciment positivismo a mo Conheciment
o é o é adquirido
(natureza e
subjectivo. através de
formas de
métodos
- conhecimento
adequados.
Conheciment ,
o baseado sua construç - Todo o
essencialmen ão e conhecimento
te numa comunicação) genuíno está
experiência baseado na
pessoal. experiência
sensorial e
-
pode somente
Investigador
ser obtido por
envolve-se
meio de
com os
observação e
sujeitos
experimentaç
investigados
ão.
Investigador é
observador
das
regularidades
da natureza
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Abordagem Subjectiva (pró- Abordagem Objectiva


ciências sociais) (pró-ciências naturais)

- Sujeito é Voluntaris ← Relação → Determinis -Eventos têm


objecto do seu mo Homem- mo causas. Eles
estudo. Ambient são
e determinados
- Criador e
por outras
controlador do (modelo
circunstância
seu ambiente do
s.
investigad
- Iniciador de
or) - A ciência
suas acções
progride na
crença de
que as
ligações
causais
poderão ser
descobertas e
compreendid
as.
- Eventos
tanto são
explicáveis
em termos
dos seus
antecedentes,
como
também
existe
regularidade
sobre o modo
como são
determinados

-Observação Ideográfico ← Metodolo → Nomotétic -


participativa gia o Experiências
(métodos
- Entrevistas desenhados (métodos - Censos
para desenhado
-Análise e - Análise de
compreende s para
compreensão do relações e
r descobrir
modo como o regularidades
comportam leis gerais)
homem cria, entre
ento
modifica e variáveis/fact
individual)
interpreta o ores
mundo à sua
-Investigação
volta
quantitativa
- Compreender e
-Descobrir
explicar o o que
modos de
é único ou
expressar
particular ao
relações e
indivíduo/comun
regularidades
idade
- Procura de
leis
universais
que explicam
e governam a
realidade em
estudo
26

II. A metodologia
Gomes (2001: 4) define metodologia como sendo “o estudo analítico e crítico
dos métodos de investigação e de prova”. A metodologia é um instrumento que
nos permite selecionar opções teóricas mais claras e seguras. Tem como tarefa
fundamental, avaliar os recursos metodológicos, assinalar suas limitações e,
explicitar seus pressupostos e as consequências de seu emprego.
O conhecimento só poderá ultrapassar a fronteira do senso comum, desde que
seja sistematizado através de uma metodologia científica. A metodologia deve
apoiar-se na Epistemologia.

A metodologia científica é entendida como sendo uma disciplina relacionada à


filosofia da ciência, com o objectivo de analisar os métodos científicos, avaliar
suas capacidades, potencialidades, limitações ou distorções e criticar os
pressupostos ou as implicações de sua utilização, permitindo deste modo a
superação do conhecimento acrítico e imediatista (senso comum) e a ideologia,
e a obtenção de um conhecimento sistematizado, coerente e crítico.

No que se refere à sua aplicação, a metodologia lida com a avaliação de


técnicas de pesquisa e com a geração ou a experimentação de novos métodos
que permitam captar e processar informações e resolver diversas categorias de
problemas teóricos e práticas de pesquisa.

Além de estudar os métodos, a metodologia é também uma forma de fazer


pesquisa, ou seja, como conhecimento geral e habilidade que orientam o
pesquisador no processo de investigação, tomada de decisões oportunas,
seleção de conceitos, hipóteses, técnicas e dados adequados.

III. Posições dos paradigmas quanto a algumas questões chave

Cada paradigma assume uma posição ou postura diferente quanto às questões


sobre o objectivo investigativo, a natureza do conhecimento, o acúmulo de
conhecimento, os critérios de qualidade, os valores, a ética, a voz (postura do
investigador).

A tabela que se segue apresenta as crenças básicas dos paradigmas mais usados
na investigação.

Tabela 2: Crenças básicas de alguns paradigmas mais usados na investigação


(Mutumucuio, 2008)
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Questões Positivismo Teoria Construtivismo Participativo


Crítica (Pós-positiva,
Pós-
criticalista)

Ontologia Realismo: Realismo Relactivismo: local e Realidade


realidade ‘real’ e histórico: realidades construídas participativa:
(natureza e
objectiva, mas realidade pela mente humana a realidade é
essência de
inteligível virtual subjectiva-
fenómenos
influenciada objectiva, co-
investigados)
por valores criada pela
sociais, mente e por
políticos, dado cosmos
económicos,
étnicos, de
género
cristalizados
ao longo do
tempo.

Epistemologia Objectivista: Subjectiva Subjectivista, Subjectividade


descobertas descobertas criadas crítica na
(natureza e
verdadeiras, por mentes transacção
formas de
saber verdadeiras participativa
conhecimento,
experimental com o cosmos
sua construção
e
comunicação)

Metodologia Experimental, Hipóteses, Hipóteses, perguntas Participação


manipuladora, perguntas de pesquisa, métodos política na
quantitativa: de pesquisa, baseados no contexto: verificação
métodos das hipóteses,
- Experiências - Observação
baseados no métodos
participativa
- Censos contexto qualitativos.
- Entrevistas
- Análise de
relações e -Análise e
regularidades compreensão do
entre modo como o homem
variáveis/factores cria, modifica e
interpreta o mundo à
- Investigação
sua volta
quantitativa
Compreender e
-Descobrir
explicar o que é único
modos de
ou particular ao
expressar
indivíduo/comunidade
relações e
regularidades
- Procura de leis
universais que
explicam e
governam a
realidade
28

Tarefas

Reveja atentamente a tabela 1, e procure ver em qual das dimensões de


concepção da realidade você se encaixa como investigador e argumente a
sua escolha.

Auto- avaliação

Gostaríamos agora que respondesse as seguintes questões:

1. Para que serve a teoria ou quadro teórico?


2. Que elementos fazem parte de uma teoria que seja
Auto-avaliação científica?
3. Em qual das dimensões (subjectiva ou objectiva) podemos
encaixar a realidade educacional?
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Chave de correcção

A resposta à primeira questão pode ser encontrada se pensar naquela que


é a função principal da teoria na investigação.
Para responder a segunda questão reflicta em possíveis fenómenos
educacionais, sua origem e a forma como se pode gerar conhecimento
sobre esses fenómenos.
Chave de correcção A seguir são apresentadas as respostas as questões formuladas acima.
1. A teoria ou o quadro teórico são úteis pois ajudam-nos a
elaborar os pressupostos (teses e/ou argumentos) que darão
suporte à abordagem da nossa pesquisa e na contextualização
do problema de pesquisa por via da pesquisa bibliográfica.

2. Uma teoria que seja científica deve conter os seguintes


elementos, nomeadamente, as leis, as hipóteses e os conceitos.

Bibliografia Complementar

Sugerimos alguma bibliografia adicional para complementares a


aprendizagem sobre os pressupostos teóricos da investigação
educacional.
1. Neuman, W. L. (2006). Social research methods: Qualitative and
quantitative approaches. Boston, Pearson A and B. Pp. 49-78.
30

Unidade Didáctica nº4


Pesquisa Qualitativa e Quantitativa
Introdução
Nesta unidade vamos falar sobre a natureza da pesquisa qualitativa
e quantitativa e procedimentos para levar a cabo tanto um como
outro tipo de pesquisa. O estudo desta unidade é importante porque
possibilitará que desenvolva habilidades de pesquisa que o tornarão
um bom investigador.

Objectivos
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Identificar os aspectos que caracterizam a pesquisa qualitativa


e a pesquisa quantitativa;
 Elaborar um problema de investigação;
 Desenhar e seleccionar a amostra de um estudo;
 Identificar as ttécnicas e instrumentos de recolha de dados;
 Identificar a rresponsabilidade social e ética do investigador;
 Analisar os dados colectados durante a investigação e
apresentar os resultados do estudo;
 Escrever devidamente as referências bibliográficas citadas ao
longo do estudo;
 Redigir um Relatório de Pesquisa.
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Nesta unidade iremos falar da natureza das pesquisas qualitativa e


quantitativa de modo a prepará-lo para adoptar qualquer um dos modelos
na sua investigação ou combiná-los. Para tal leia as obras de Punch, K. F.
(2005). Introduction to social research. Quantitative and qualitative
approaches. London, SAGE Publications. Pp. 276-279; Maree, K. (Ed.)
(2007). First steps in research. Pretoria, Van Schaik Publishers. Pp. 172-
181; Cohen, L., Manio, L. & Morrison, K (2000). Research methods in
education. 5th Ed. London, Routledge Falmer. Pp. 245-292, 306-316; e
Mutumucuio, I. V. (2008). Módulo: Métodos de Investigação. Maputo,
Fontes de Informação
CDA-UEM/Cooperação Italiana. Pp. 76-77.
e Recursos de
Aprendizagem
PESQUISA QUALITATIVA E QUANTITATIVA

I. A Pesquisa Qualitativa

Modelos de Pesquisa Qualitativa


Na abordagem qualitativa, os investigadores procuram entender com
profundidade as características da pesquisa que desenvolvem de modo a
obter uma compreensão profunda sobre como as coisas são, porque é que
são desta forma, e como é que os participantes no contexto as percebem.

A escolha do modelo de pesquisa é baseada na pretensão do investigador,


nas suas habilidades para investigação, nas práticas de pesquisa que
influencia a forma como este irá recolher os dados. Existe uma variedade
de modelos de pesquisa que um investigador pode selecionar para gerar o
tipo de dados requeridos para responder as perguntas de pesquisa
previamente colocadas.

São seis os modelos de pesquisa qualitativa discutidos na literatura sobre


investigação, nomeadamente,
 estudos conceituais;
 investigação histórica;
 investigação acção;
 estudo de caso;
 etnografia; e
 teorização.

Na tabela a seguir apresentamos detalhadamente os modelos de pesquisa


qualitativa referidos anteriormente.

Tabela 1: Modelos de Pesquisa Qualitativa


32

Modelo de Descrição
Pesquisa

Estudos O estudo conceptual tem como finalidade gerar conhecimento


Conceituais a partir da análise crítica de conceitos e sua compreensão. Os
conceitos são centrais para a busca de conhecimento, na
medida em que constituem a base sobre a qual as teorias são
construídas.

Exemplo:
Contribuição ao estudo de um modelo conceitual de sistema
de informação de Gestão Estratégica.
O investigador pretende propor um modelo conceitual de
sistema de informação específico para dar suporte ao processo
de gestão estratégica das organizações. Para tal apresentará
discussões sobre o conceito a partir da literatura, revisões
bibliográficas. O modelo conceitual basear-se-á na percepção
e experiências do investigador.

Investigação É usada pelos investigadores para procurar soluções para os


Acção seus próprios problemas. O objetivo é ajudar o investigador a
mudar ou a melhorar as suas práticas ou a compreender os
seus próprios problemas.

Exemplo:
Como é que eu lido com linguagem inapropriada (rude)
usada pelos meus alunos da 8ªclasse?
O problema é a linguagem rude; o professor pode procurar
identificar as razões por detrás do comportamento dos alunos
e delinear estratégias para remediar o problema e ajudá-los a
melhorar.

Investigação A investigação histórica envolve o estudo, a compreensão e a


Histórica interpretação de eventos passados. O foco principal são
pessoas singulares influentes (representantes da memória
coletiva, institucional ou da comunidade), assuntos sociais
importantes (ex. a degradação de valores morais), e ligações
entre o novo e o velho (ex. comparação de métodos
tradicionais e contemporâneos de ensino: aulas expositivas;
aulas seminariais).

Exemplo:
Tendências do ensino de leitura na escola primária entre
1980 e 2000.
O foco temporal é o período 1980-2000, e o do conteúdo é a
leitura na escola primária. Aqui se podem examinar os livros
de leitura, os movimentos educacionais, e os resultados do
desempenho dos alunos.
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Modelo de Descrição
Pesquisa

Estudo de O estudo de caso é uma investigação sistemática sobre um


Caso evento ou um conjunto de eventos relacionados, com o
objectivo de descrever e explicar o fenómeno de interesse.
O estudo de caso oferece múltiplas perspectivas de análise,
a dos participantes na situação, mas também a visão de
outros grupos de actores relevantes, permitindo assim
chegar a uma compreensão profunda das dinâmicas da
situação. O caso pode ser um indivíduo, ou um pequeno
grupo, ou uma organização, ou uma comunidade, ou uma
nação. As unidades de análise podem ser: atributos dos
indivíduos, acções e interacções, resíduos e artefactos de
comportamentos, locais, incidentes e eventos.
Exemplo:
Exame das condições de vida de um aluno repetente da
2ª classe.
O investigador procura compreender o ambiente positivo
ou negativo que circunda o aluno e que de algum modo
possam influenciar o seu desempenho. Por exemplo, o nível
sócio-económico, escolaridade dos pais, profissão dos pais,
visão dos pais sobre a educação, etc.

Avaliação da estrutura de funcionamento das


instituições de ensino superior em Maputo.
O estudo começa com uma pergunta e o investigador
deverá definir as unidades de análise a prior. Aqui se
podem comparar as similaridades e diferenças na estrutura
de funcionamento (administração, gestão, RH, serviços,
etc.) de duas ou mais instituições de ensino superior que se
encontra em Maputo.

Etnografia É o estudo do sistema social e cultural de uma comunidade


ou grupo no seu ambiente natural. Normalmente, o
etnógrafo passa muito tempo no local de pesquisa, pois só
assim pode estudar a vida das pessoas a partir do seu
ambiente natural. O objectivo é descrever a cultura ou
modo de vida dos participantes a partir da perspectiva dos
sujeitos investigados dando sentido aos seus gestos,
símbolos, músicas, relatos e tudo o que possui algum
significado implícito ou tácito nessa cultura.
Exemplo:
O estudo da cultura de estudantes hispânicos num colégio
comunitário urbano.
O estudo começa com uma pergunta geral, e o local da
pesquisa num colégio comunitário com estudantes
hispânicos. O investigador deverá ter acesso ao colégio
escolhido e estabelecer empatia com os participantes do
estudo. O investigador deverá simultaneamente recolher e
interpretar os dados recolhidos de forma a estar sempre em
concordância com a pergunta enunciada. Normalmente
usam-se observações e entrevistas.
34

Modelo de Descrição
Pesquisa

Teorização É um método, uma perspectiva, uma estratégia de pesquisa


cujo propósito é gerar uma teoria a partir da imersão nos
dados, isto é, a partir da análise de vários estágios de
recolha e interpretação de dados. O objectivo do
investigador é identificar temas, padrões, e categorias a
partir de dados ou tópicos qualitativos. O investigador
começa com um tópico geral e recolhe informação a esse
respeito e sobre os participantes.

Exemplo:
Em que medida é que os directores de faculdade
valorizam as pesquisas levadas à cabo pelas faculdades?
Entrevistando os chefes de departamento é possível
desenvolver-se uma teoria relacionando categorias sobre
influência da direcção no desempenho da faculdade na área
de investigação.
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I.I Princípios da Recolha de Dados Qualitativos

1. A pesquisa qualitativa é naturalistica


A pesquisa qualitativa é baseada numa perspectiva naturalística que
procura compreender o fenómeno no contexto da sua
ocorrência/manifestação e o investigador não manipula o fenómeno. Por
outras palavras, a pesquisa é levada à cabo em situações da vida real e
não em situações experimentais. Consequentemente, técnicas como
observação e entrevistas são dominantes no paradigma naturalístico
(interpretativo).

2. O papel do investigador
A pesquisa qualitativa aceita a subjetividade do investigador como algo
que não pode ser eliminado e vê o investigador como um “instrumento de
pesquisa” no processo de recolha de dados.

3. Amostragem
A pesquisa qualitativa é geralmente baseada na amostragem por
conveniência e não-probabilística, o que significa que os participantes são
selecionados porque possuem alguma característica que os faz detentores
dos dados requeridos para o estudo. A decisão sobre a amostragem por
conveniência não se restringe à selecção dos participantes, mas também
envolve os locais, eventos e actividades, e incidentes a serem incluídos na
recolha de dados.

4. Validade e Fidelidade
Na pesquisa qualitativa o investigador é o instrumento de recolha de
dados. Deste modo, quando o investigador fala sobre validade e
fiabilidade da pesquisa, ele está se referindo à uma pesquisa que é
credível e fiável. O uso de múltiplos métodos de recolha de dados, tais
como observação, entrevistas e análise documental, e o envolvimento de
vários investigadores na interpretação dos dados vai de encontro a estes 2
conceitos.

5. Cristalização
A realidade que emerge resulta das várias técnicas de recolha e análise de
dados e representa a nossa compreensão reinterpretada dos fenómenos.
Analisar os fenómenos profundamente e vê-los numa variedade de
formas, dimensões e ângulos permite a cristalização da nossa
compreensão profunda dos mesmos.
36

II. A Pesquisa Quantitativa

Definição: Pesquisa quantitativa é um processo que é sistemático e


objectivo na sua forma de usar dados numéricos a partir apenas de um
subgrupo selecionado do universo (população) para generalizar os
resultados para esse universo considerado.
Conceitos fundamentais:
 População
 Amostra
 Variáveis (ex. medições ou observações feitas numa unidade da
amostra)
 Validade (mede o que é suposto medir)
 Fiabilidade (tem a ver com a consistência de uma medição ao longo
do tempo)

Tipo de dados:
Dados normalmente vêm de 4 escalas de medição (à escala de aumento
quantitativo de informação):
 Nominal – ex. o género de um indivíduo (M ou F), a cor de um carro
(branco, azul,…)
 Ordinal – ex. o tamanho de uma peça de vestuário (S, L, XL), a
classe de uma pessoa (10ª)
 Intervalar – ex. a temperatura: a diferença entre10ºC e 20ºC
 Rácio – ex. o tempo, a altura, o volume, o peso, têm ponto zero de
onde começam a contar.

Os modelos de pesquisa quantitativa comumente apresentada na literatura


são:
 Pesquisa Experimental
 Pesquisa Quasi-Experimental
 Pesquisa Não-Experimental (Correlacional ou Ex-Post-Fact)
 Pesquisa de Opinião (Senso)
 Pesquisa Não-Reactiva
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Tabela: Modelos de Pesquisa Quantitativa

Modelo de Pesquisa Descrição

Pesquisa Experimental É a forma mais pura de pesquisa


quantitativa, usada nas Ciências
Naturais (Química e Física) e nas
Ex: Medir o nível de ciências aplicadas (Agricultura,
conhecimento dos alunos Engenharia, e Medicina).
relativamente as operações
A lógica que guia o experimento
matemáticas..
sobre o crescimento das plantas
em Biologia ou o teste do metal
em Engenharia, em laboratório
sob condições controladas, é
aplicada em experimentos sobre o
comportamento social humano.
Embora seja largamente usado em
Psicologia, os experimentos são
feitos em Educação, Justiça
Criminal, Jornalismo, Marketing,
Enfermagem, Ciências Políticas,
Trabalho Social e Sociologia.
Na pesquisa experimental o
pesquisador começa com uma
hipótese, de seguida modifica
algo na situação, e por ultimo
comprara o resultado com e sem a
modificação.
A pesquisa experimental é robusta
para testar relações causais
porque as três condições para
causalidade (ordem temporal,
associação, e ausência de uma
explicação alternativa) são
verificadas no experimento.

Pesquisa Quasi-Experimental É uma variação do modelo


experimental clássico. Ajuda o
pesquisador a testar relações
causais numa variedade de
situações em que o experimento
clássico e difícil ou inapropriado.
38

Pesquisa Não- Equivalente a pesquisa correlacional


Experimental onde o pesquisador tem pouco controle
sobre o tempo de medição da variável
dependente em relação a exposição a
variável independente. A variação da
variável independente ocorre
naturalmente.

Pesquisa de Opinião É a técnica de colecta de dados mais


(Senso) usada nas Ciências Sociais e noutras
ciências aplicadas.
Os inquéritos produzem informação de
natureza estatística. Pergunta-se a
muitas pessoas (respondentes) sobre as
suas crenças, opiniões, características, e
comportamentos passados ou presentes.
Os pesquisadores perguntam sobre
muitas coisas de uma só vez, medem
várias variáveis com múltiplos
indicadores, e testam muitas hipóteses
num mesmo inquérito.
O censo inclui informação sobre as
características de uma população inteira
num território. Baseia-se no que as
pessoas dizem aos pesquisadores ou no
que os pesquisadores observam.

Pesquisa Não-Reactiva As pessoas que fazem parte da pesquisa


não estão cientes de que estão sendo
estudadas e, entretanto, naturalmente
Ex: Comportamento dos mostram evidências dos seus
automobilistas perante os comportamentos sociais ou acções.
sinais de transito. Começa quando o pesquisador nota algo
que indica uma variável de interesse. O
pesquisador observador faz inferências a
partir das evidências do comportamento
ou atitudes sem importunar os que estão
sendo estudados.

III. Amostra: Características e modos de selecção

Quatro decisões a tomar acerca de factores-chave na amostragem:


1. O tamanho da amostra
2. A representatividade e os parâmetros da amostra
3. O acesso à amostra
4. A estratégia da amostragem a ser usada

1. O tamanho da amostra
Para amostragem aleatória o tamanho da amostra depende:
- do tamanho da população e do grau de heterogeneidade desta população
- do tipo de pesquisa (inquérito, etnografia).
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

2. A representatividade
Ex. Uma afirmação do tipo: “Uma em cada duas pessoas sofre de dores
de coluna” revela quão uma amostragem pode ser pobre, não
representativa e irrelevante para um investigador.

Ex. Uma Neste exemplo algumas variáveis ou parâmetros de representatividade


de devem ser tomados em conta, nomeadamente:

-o clima (a pesquisa pode ter ocorrido numa zona húmida ou enevoada,


propensa de ter índices altos da doença)
-a idade dos sujeitos (numa zona de população maioritariamente velha)
-a sua ocupação (numa zona industrial em que muitas pessoas trabalham
tanto)
-o facto reportado (os dados referem-se a uma pesquisa efectuada com
apenas 2 médicos)

3. O acesso à amostra
Exemplos de amostra impraticáveis e/ou inacessíveis:

-“Investigação das causas de existência de muitos vagabundos/vadios e


faltosos numa escola!”
-“Acesso a áreas sensíveis ou problemáticas em termos legais como
vítimas de abuso sexual de menores, violadores de menores, fumadores
de drogas, activistas de aconselhamento de HIV/SIDA, etc”
-“Médicos e professores em serviço”
-“Pessoas que tenham feito uma descoberta mas que pretendem proteger
o seu produto”
-“Propriedades intelectuais”
- Etc.

Considere todos estes casos na planificação da sua pesquisa porque o


acesso lhe pode ser negado! Mais: nem sempre o acesso às fontes é
suficiente; precisa ter o acesso à informação!

4. A estratégia ou modo de selecção


Duas estratégicas básicas:
Probabilística (também conhecida como aleatória) – onde as chances dos
membros da população de serem escolhidos para a amostra são
conhecidas; todos os membros têm mesmas possibilidades de serem
inclusas na amostra. Ser ou não incluso é apenas uma questão de chance.
Não-probabilística (objectiva, deliberada) – onde as chances não são
conhecidas. Alguns membros da população terão, definitivamente, de ser
excluídos e outros terão que ser inclusos na amostra.
40

III.I Amostras Probabilísticas

1. Amostragem aleatória simples


Cada unidade de população tem a mesma chance de ser seleccionada para
a amostra. Não se selecciona a amostra com base no nosso juízo; cada
unidade da população tem a mesma probabilidade de ser seleccionada.

Existem 2 métodos de selecção aleatória simples:


a) O método da lotaria: a cada unidade da população N atribui-se
um número, por ex. de 1 a N. Cada número escreve-se num
pedaço de papel. Todos os pedaços de papel são idênticos em
tamanho, cor, forma, etc. A seguir retira-se a amostra n.
Ex. Seja dada uma escola com 70 professores. Retire dela uma
amostra de 13 professores para o seu estudo.

b) O método de números aleatórios: Suponha que você esteja para


iniciar uma investigação numa escola com 3500 alunos. Neste
caso, usa-se uma tabela (a tabela MINITAB) para seleccionar
uma amostra de 250 alunos.
Faça o exercício; nesta tarefa é suficiente escolher apenas 25
alunos.

2. Amostragem aleatória sistemática


Ex. Suponha que na região entro de Moçambique existem 5000
escolas do ensino primário. Como seleccionar 500 escolas para o seu
estudo?

Usando a tabela MINITAB (Appendix 2: Table of random digits):


a) Determine primeiro o intervalo de amostragem: k = 5000/500 =
10.
b) Entre na tabela MINITAB (de números aleatórios) numa página e
coluna escolhidos ao acaso. Nessa coluna, escolha qualquer
posição (número numa posição) entre 1 e k = 10. Seja esta
posição 4, isto é, 4587, pois fica na quarta posição da segunda
coluna da tabela MINITAB. Este é o primeiro número da sua
amostra.
c) Escolha sucessivamente os outros números até 500 do seguinte
modo:
Posição r + k, posição r + 2k, posição r + 3k, posição r + 4k, etc.

N.B. Para este exercício 10 números são suficientes. Salte, ou seja, não
conte os números superiores a 5000, pois não pertencem à sua
população.
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

3. Amostragem estratificada
É utilizada quando a população é constituída por vários subgrupos como,
por ex., homens, mulheres, idades, grupos étnicos, grupos de interesse,
camadas sociais, etc. Cada subgrupo chama-se estrato.
Considere a tabela seguinte da população de Taiwan em 2003.

Idade Total Homens Mulheres

0-4 1 602 000 830 000 772 000

5-9 1 950 000 1 005 000 945 000

10-14 1 975 000 1 016 000 958 000

15-19 1 814 000 929 000 885 000

20-24 1 916 000 982 000 934 000

25-29 1 972 000 1 001 000 961 000

30-34 1 843 000 941 000 902 000

35-39 1 604 000 818 000 785 000

40-44 1 020 000 521 000 499 000

45-49 913 000 464 000 449 000

50-54 825 000 415 000 410 000

55-59 769 000 416 000 353 000

60-64 708 000 415 000 293 000

+ de 64 1 197 000 636 000 562 000

Total 20 107 000 10 399 000 9 709 000

Existem 14 grupos etários em cada um dos sexos perfazendo um total de


28 estratos.
a) Suponha que queremos uma amostra total de 5000 pessoas entre as
idades dos 0 aos 4 anos. Quantas pessoas do género masculino e quantas
do género feminino devem entrar na amostra?
Aloca-se proporcionalmente:
 830 000/ 20 107 000 = 0.0413. Significa que temos 4,13% de homens
 772 000/ 20 107 000 = 0.0384. Temos 3,84% de mulheres
A seguir, usando a amostragem aleatória simples, escolhe-se (determina-
se) 4,13% de 5000 (homens) e 3,84% de 5000 (mulheres).

b) suponha agora que queremos uma amostra de 5000 pessoas entre as


idades de 40 a 44 anos. Quantas pessoas de ambos os sexos devem entrar
na amostra?
42

III.II Amostras Não-Probabilísticas

Aqui, as chances de os sujeitos pertencerem à amostra não são


conhecidas; alguns membros da população terão, definitivamente, de ser
excluídos e outros terão que ser inclusos na amostra.

1. Amostragem por quota


Esta amostragem é semelhante à estratificada. A diferença reside no facto
de que aqui, o investigador não escolhe uma amostra aleatória simples
mas aceita quaisquer sujeitos/elementos/unidades acessíveis até à
satisfação da amostra (quota) do subgrupo. Já não se usa o termo estrato,
mas sim subgrupo.
Ex. Pretende-se uma amostra de 5000 pessoas entre as idades de 35 a 39
anos. Quantas pessoas do género feminino e quantas do género masculino
entrariam na amostra?

2. Amostragem por conveniência


É um tipo de amostra em que os sujeitos são escolhidos pela sua
particularidade de reunirem as características essenciais e únicas para
pertencerem à amostra.

3. Amostragem por clusters


Cada cluster (grupo) contém todas as características da população
(homens e mulheres de todas as idades, camadas sociais, níveis de
escolaridade, etc.). Usa-se mais quando a população está dividida em
regiões, localidades, estradas, etc. Depois de optar pelos clusters, aplica-
se uma amostragem aleatória simples.

IV. Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados

Os instrumentos comumente utilizados na pesquisa social e educacional


são o questionário, a entrevista e a observação.
O investigador deve destacar que tipos de dados irá utilizar em sua
pesquisa (dados primários e dados secundários).
Dados primários são aqueles que o investigador recolhe em primeira
mão, ou seja, aqueles que não foram antes recolhidos.
Dados secundários são aqueles que já foram recolhidos por outros, já
foram ordenados, processados, tabulados e às vezes até analisados, com
outros propósitos (dados do censo).
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

1. O Questionário

É um conjunto de perguntas, feito para gerar dados necessários para se


verificar se os objectivos de um projecto foram atingidos. A construção
de um questionário é considerada uma “arte imperfeita”, pois não existem
procedimentos exactos que garantam que os seus objectivos de medição
sejam alcançados com boa qualidade (Aaker et al., 2001). No entanto,
existe uma sequência de etapas lógicas que o pesquisador deve seguir
para construir um questionário:
1. Planificar o que vai ser mensurado;
2. Formular perguntas para obter as informações necessárias;
3. Definir o texto e a ordem das perguntas;
4. Definir o aspecto visual do questionário;
5. Testar em fase piloto o questionário, usando uma pequena
amostra;
6. Corrigir os problemas decorrentes da testagem piloto, se houver
algum.
Tabela 1: Alguns passos para a construção de um questionário

Etapa Passos

Planificar o que vai ser mensurado Evidenciar os objectivos da pesquisa

Definir o assunto da pesquisa no seu questionário

Obter informações adicionais sobre o assunto da


pesquisa a partir de fontes de dados secundárias e
pesquisa exploratória

Determinar o que vai ser perguntado sobre o assunto da


pesquisa

Formular as perguntas Para cada assunto, determinar o conteúdo de cada


pergunta

Decidir sobre o formato de cada pergunta

Definir o texto na formulação das Determinar como as perguntas serão redigidas


perguntas
Avaliar cada uma das perguntas em termos de sua
facilidade de compreensão, conhecimentos e
habilidades exigidos, e disposição dos respondentes.

Decisões sobre sequência e aparência Dispor as perguntas numa ordem adequada

Agrupar todas as perguntas de cada sub-tópico em


sequência lógica para obter um único questionário

Fazer uma apresentação de qualidade e atractiva das


perguntas para elevar o índice de respostas

Testagem Piloto e Correção de erros Ler o questionário inteiro para verificar se faz sentido, e
se consegue mensurar, o que está previsto ser
mensurado.

Verificar possíveis erros no questionário

Fazer testagem piloto do questionário

Corrigir os problemas detectados


44

1.1. Formulação das perguntas


O investigador deve conhecer bem o assunto que vai pesquisar para poder
traduzi-lo em conceitos, ou seja, para poder elaborar uma lista de
conceitos que se relacionam com o assunto, e para cada um deles extrair
duas a três perguntas. Estes conceitos devem estar alinhados com os
objectivos, perguntas de pesquisa ou hipóteses.

Com relação ao conteúdo das perguntas, pode-se tentar verificar factos,


crenças, sentimentos, opiniões, padrões de acção e de comportamento.

O investigador poderá reflectir sobre se:


 A pergunta é realmente necessária?
 Qual a sua utilidade?
 A pergunta é suficientemente clara e específica?
 Várias perguntas são necessárias para explorar o assunto desta
pergunta ou uma é o suficiente?
 Todos os aspectos importantes sobre o assunto serão obtidos da
forma como foi elaborada a pergunta?
 As pessoas têm informação necessária para responder a pergunta?
 Os respondentes estarão dispostos a dar informação?
 Que objecções alguém poderia ter para responder esta pergunta?
 O tema abordado é muito íntimo, perturbador ou expõe
socialmente as pessoas, de forma a causar resistências e respostas
falsas?
 O tema é embaraçoso para o respondente por colocar em perigo o
seu prestígio, caso seja contrário a ideias socialmente aceites?
 A pergunta é neutra?
 Pessoas com opiniões contrárias sobre o assunto não a
considerarão tendenciosa?
 A pergunta contém opiniões ou julgamentos relacionados com o
assunto?

1.2. O formato das perguntas/respostas


As perguntas podem ser:

 Abertas – onde os respondentes ficam livres para responderem


com suas próprias palavras, sem se limitarem à escolha entre um
rol de alternativas.
 Múltipla Escolha – onde os respondentes optarão por uma das
alternativas, ou por determinado número permitido de opções.
 Dicotómicas – onde os respondentes têm apenas duas opções de
respostas, de carácter bipolar, do tipo sim/não; concordo/não
concordo; gosto/não gosto. Por vezes uma terceira alternativa é
oferecida, indicando desconhecimento ou falta de opinião sobre o
assunto.
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Tabela 2: Algumas vantagens de cada formato de respostas

Tipo de Vantagens
Perguntas
 São úteis para a exploração de um determinado tema pois
Abertas
deixam o respondente mais livre e à vontade para
responder usando uma linguagem própria;
 Têm menor poder de influência nos respondentes do que as
perguntas com alternativas previamente estabelecidas;
 Exigem menor tempo de elaboração;
 Proporcionam comentários, explicações e esclarecimentos
significativos para se interpretar e analisar o assunto em
estudo.
 Facilidade de aplicação, processamento e análise;
Múltipla
 Facilidade e rapidez no acto de responder;
Escolha
 Apresentam pouca possibilidade de erros de interpretação
de respostas;
 Diferentemente das dicotómicas, trabalham com diversas
alternativas;
 Resultados facilmente compilados.
 Rapidez e facilidade de aplicação, processamento e análise;
Dicotómicas
 Facilidade e rapidez no acto de responder;
 Apresentam pouca possibilidade de erros;
 São altamente objectivas.

1.3. Alguns Exemplos

1.3.1. Perguntas Abertas


i) Qual é a sua opinião quanto aos factores que influenciam o
desempenho do aluno?
ii) Na sua opinião, quais são as principais causas do insucesso escolar em
Moçambique?

1.3.2. Perguntas de Escolha Múltipla


Algumas dicas:
 Incluir em cada pergunta apenas uma ideia chave de modo claro,
retirando o excesso de palavras nas opções;
 Construir opções distraidoras comparáveis à resposta certa em
termos de comprimento, complexidade cognitiva e forma
gramatical;
 Procurar não exceder quatro opções bem construídas em cada
pergunta;
 Incluir a opção “outra” no conjunto de respostas alternativas,
caso tenha poucas opções;
 Evitar a inclusão de frases ou introduções não funcionais (frases
supérfluas).
46

i) Numa avaliação objectiva, o termo “objectiva” refere-se ao método de:


A. Identificação dos resultados da aprendizagem;
B. Selecção do conteúdo do teste;
C. Apresentação dos problemas;
D. Correcção das respostas.

ii) Que cor faz parte da bandeira de Moçambique?


A. Azul
B. Laranja
C. Amarelo
D. Cinzento

iii) O calor é:
A. a energia contida num corpo a qualquer temperatura
B. a energia em transferência entre dois corpos a temperaturas
diferentes
C. a temperatura de um corpo a qualquer energia
D. Outra. Qual?_____

1.3.3. Perguntas Dicotómicas


i) Você é favorável ou contrário à prática da magia negra?
A. Favorável _____
B. Contrário_____

ii) A presidência da associação de estudantes deve ou não recandidatar-se


anualmente?
A. Sim____
B. Não____

iii) Você é favorável ou contrário à prática da magia negra?


A. Favorável _____
B. Contrário_____
C. Não sei____

1.3.4. Escalas
A escala é usada quando se aplica um questionário fechado (múltipla
escolha ou dicotómicas) para medir aspectos como, por exemplo, atitudes
ou opiniões do público-alvo. A escala comumente usada é a escala de
Likert.
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

A escala de Likert apresenta uma séries de proposições, geralmente em


número ímpar, das quais o respondente deve selecionar uma. Para tal, o
investigador deverá:
 Decidir se pretende usar opções pares ou ímpares (pretende forçar
o respondente a tomar uma posição ou aceitar a sua
indiferença/neutralidade?);
 Dar a cada opção um significado claro e distinto do das restantes
opções;
 Evitar proposições/frases com formulação negativa.

Exemplos:

i) Os serviços do Banco Barclays são bons:


A. Concordo muito
B. Concordo
C. Discordo
D. Discordo muito

ii) A Matemática é muito difícil:


A. Concordo muito
B. Concordo
C. Não concordo e nem discordo
D. Discordo
E. Discordo muito

iii)

Avalie o seu grau de satisfação como profissional da educação no


desempenho de algumas tarefas. Escolha um valor na escala de 1 (Muito
satisfeito) a 5 (Muito insatisfeito).

1 2 3 4 5
(Muito (Muito
satisfeito) insatisfeito)

a. Leccionação

b. Avaliação dos
Estudantes

c. Tarefas
administrativas
48

1.4. O texto na formulação das perguntas


Na formulação das perguntas deve-se cuidar para que as mesmas tenham
o mesmo significado tanto para o pesquisador como para o respondente,
uma vez que a sua formulação tem efeito sobre as respostas.
Portanto:
 Use comunicação simples e palavras conhecidas;
 Não utilizar palavras ambíguas;
 Incluir somente uma ideia em cada pergunta;
 Garantir que cada pergunta possa ser respondida por uma única
opção.

1.5. A sequência das perguntas


A ordem na qual as perguntas são apresentadas pode ser crucial para o
sucesso da pesquisa, pelo que Mattar (1994)1 recomenda:
 Iniciar o questionário com uma pergunta aberta e interessante
para deixar o respondente mais à vontade e assim ser mais
espontâneo e sincero ao responder as restantes perguntas;
 Usar temas e perguntas gerais no início do questionário, deixando
as perguntas específicas para depois;
 As perguntas mais pessoais, sensíveis ou que possam ser
embaraçosas devem ser feitas somente no final do questionário e
alternadas com perguntas simples;
 Adoptar uma ordem lógica de perguntas.

1.6. Apresentação e Lay-out do questionário (características físicas)


O investigador deverá decidir sobre:
 O número de páginas;
 Qualidade do papel e da impressão;
 Tipos e tamanhos de letras;
 Posicionamento e tamanho dos espaços entre perguntas;
 Cores da tinta e do papel para as respostas;
 Espaço para resposta de cada pergunta;
 Impressão em frente e verso ou face única.

1.7. Testagem piloto do questionário


Depois de se conceber o questionário é importante fazer o teste piloto do
questionário porque é provável que não se consiga prever todos os
problemas e/ou dúvidas que possam surgir durante a aplicação do
questionário. Só deste modo é que será possível conhecer as limitações
dos instrumentos e proceder-se a sua revisão/alteração.
O teste piloto do questionário pode ser feito administrando-o a um
pequeno grupo de respondentes com as mesmas características da
amostra.
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

A análise do teste piloto deverá incidir sobre os seguintes erros:


 Complexidade das questões;
 Ambiguidade ou linguagem inacessível aos respondentes;
 Perguntas supérfluas;
 Perguntas que causem embaraço aos respondentes;
 Excesso de perguntas sobre um assunto;
 Etc.

NB: O teste piloto serve para analisar se o questionário possui:


i) Validade, isto é, se os dados recolhidos respondem às
perguntas de pesquisa/hipóteses da pesquisa;
ii) Fidedignidade/Consistência, isto é, se qualquer pessoa que o
administre a outra amostra com as mesmas características
obterá as mesmas respostas;
iii) Operactividade, isto é, se o vocabulário é claro e acessível
aos respondentes.

2. A Entrevista

Tenha preâmbulo
 Toda a entrevista deve ter preâmbulo que lembre as pessoas sobre o
acordado, e o objectivo da entrevista. Isto elimina incompreensões.
Ex: “Na minha carta referi que estou interessado no uso pelos
professores de avaliação informal. Por avaliação informal pretendo
dizer que é a avaliação que não é registada ou transmitida para outra
pessoa...”.
 O preâmbulo pode parecer longo no papel, mas fale sobre ele em
breve; não a leie e use contacto visual para se certificar de que o
entrevistado está a lhe ouvir.

Faça perguntas de incitação


 Ajudam as pessoas a falar sobre o que sabem, mas que ainda não o
mencionaram, mas não devem “colocar palavras nas bocas das
pessoas”.
 Elas se devem referir ao que as pessoas já disseram ou pretenderam
dizer, para clarificar, mas não como regra para justificar ou defender
suas posições.
 Atenção: não faça perguntas de confrontação (deixe estas para os
políticos ou entrevistadores de TV) e não coloque questões sobre
vários assuntos na mesma pergunta.
50

A primeira pergunta
 A 1ª pergunta é importante. Deve servir para as pessoas notar em que
ritmo irá falar. Não deve ser muito desafiadora e nem muito mais
importante do que o resto da entrevista.
 Comece por ex. assim: “Como eu disse, estou interessado em
perseguição no seu local de trabalho. É alguma coisa que lhe afecta a
si pessoalmente? Tem consciência dela aqui no seu serviço? É um
problema para esta escola?”.
 Deverá servir para aferir que tipo de entrevistado terá pela frente
(nervoso, falador, opinativo, etc).

Redacção das perguntas


1. Use linguagem apropriada: evite por ex. dizer “curriculum efectivo na
sala de aulas” quando quer dizer “bom ensino e aprendizagem”
2. Use palavras claras: Evite perguntar: Dá TPC regularmente? Porque
‘regularmente’ pode ter vários significados.
3. Evite perguntas sugestivas: Ex. “Você acha que....” , “Você concorda
que....”, etc. Também evite dar poucas oportunidades. Ex. “Você prefere
conduzir de manhã ou de tarde” – muitos lhe dirão que em ambos os
períodos.
4. Distinga factos da ficção: pergunte sobre o que as pessoas sabem antes
de perguntar sobre o que pensam a respeito disso.

Use tácticas verbais e não-verbais


Tácticas verbais: Embora soem mal na gravação, elas são muito úteis para
encorajar o entrevistado a falar. Ex: “Bom” “Certo”, “Exacto”, “Ok”,
“Sim, isso é interessante”, etc.
Tácticas não-verbais:
O contacto visual: não se mantenha alheio ao seu entrevistado
visualmente e nem permaneça constantemente fixo nos seus olhos;
procure um equilíbrio.
A dosagem do tempo: É descortês interromper o entrevistado porque quer
passar para outra pergunta. No entanto, use com ligeireza sinais não
verbais (pegar nos papéis, encostar-se à cadeira, desviar o olhar, etc.) para
mostrar que está preparado para ouvir outro assunto.
O tom da voz e velocidade do discurso: fale em breve para indicar que
“isto é matéria factual para ser tratada em breve” ou mais devagar para
sugerir que “isto precisa de um raciocínio e está preparado para esperar
por uma resposta refletida”.

Esteja preparado para catástrofes


Algumas pessoas irão tentar colocar-lhe à prova pondo em risco o
sucesso da sua entrevista; esteja preparado para enfrentar, com cortesia,
perguntas como:
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

 Realmente não sabia que me ia entrevistar: com isto querem dizer


que estão preocupados com a confidencialidade e anonimato ou
sabem pouco sobre o assunto da entrevista. Procure convencê-los
mostrando a importância dos seus pontos de vista.
 Você concorda com isso? Ou O que você pensa? Diga simplesmente
“não lhe posso responder agora durante a entrevista”. (Entretanto, não
diga nada depois porque pode dizer a outras pessoas que ainda
pretende entrevistar).
 A quem mais entrevistou? Responda: “não posso dizê-lo. Lembre-se
que a entrevista é anónima e nem vou dizer a ninguém que lhe
entrevistei a si”.
 O que é que as pessoas têm estado a dizer? Diga: “Até agora
entrevistei poucas pessoas e ainda não há nenhum padrão claro de
respostas”.

A última pergunta
 No fim da entrevista, faça uma pergunta bastante suave e aberta:
“Haverá alguma coisa que gostaria de acrescentar acerca deste tema
que não lhe tenha perguntado?” - Isto é feito por questões de cortesia,
mas também porque durante a entrevista a discussão pode ter despertado
ao entrevistador um pensamento mais profundo acerca do tema.
 Para terminar pergunte:
o “Há alguma coisa que gostaria de me perguntar?” (As pessoas
poderão lhe perguntar como vai a sua pesquisa, o que tem encontrado,
..etc. Seja comedido porque poderão dizer isto a pessoas que ainda vai
entrevistar.) Naturalmente, por fim: “Muito obrigado pelo seu tempo e
pela sua valiosa contribuição.”

V: Ética na Investigação: Responsabilidade Social e Ética do


Investigador

Toda a pesquisa social envolve aspectos éticos, porque implica recolher


informação das pessoas e sobre pessoas. A proposta de pesquisa deve
antecipar as questões éticas que a pesquisa levanta e deverá mostrar como
estas questões serão tratadas ou contornadas.

Questões éticas podem surgir tanto na pesquisa quantitativa, como na


pesquisa qualitativa, apesar de serem mais propensas a ocorrer no
segundo modelo de pesquisa, uma vez que algumas pesquisas qualitativas
lidam com assuntos muito sensíveis, íntimos e profundos das vidas das
pessoas o que, inevitavelmente, faz com que as questões éticas
acompanhem a recolha desta informação.
52

A. Premissas básicas para uma investigação:


 Uma pesquisa envolvendo pessoas é uma intrusão na vida dos
respondentes, uma vez que estes são solicitados a revelar informação
a um estranho. Por essa razão, a sua participação deverá ser
voluntária;
 Peça sempre permissão (por escrito e/ou gravado) para levar a cabo a
sua investigação;
 A pesquisa nunca deve prejudicar os respondentes que se voluntariem
para participar dela;
 O pesquisador deve proteger a identidade dos respondentes.
Considera-se que um respondente é anónimo quando o investigador
não consegue relacionar uma dada resposta com o nome do seu
informante. O sigilo relaciona-se com a confidencialidade da
informação dada pelos respondentes, particularmente nas entrevistas.
Por essa razão devem-se omitir as identidades/nomes verdadeiros dos
respondentes e substituí-los por números ou pseudónimos;
 Diga sempre o propósito da sua investigação; se for para publicação,
peça permissão aos participantes e negoceie a partilha dos ganhos;
 Forneça uma explicação sobre os procedimentos a serem observados
e seus propósitos;
 Explique aos participantes sobre os eventuais constrangimentos
(riscos) que poderão ocorrer ao longo da pesquisa;
 Identifique e compartilhe com os participantes os benefícios que se
esperam da pesquisa;
 Refira-se à predisposição para responder a qualquer pergunta. Por
exemplo, indique que a pessoa é livre de desistir, sem prejuízo, de
participar na pesquisa se assim o entender;
 Em caso de entrevista, o entrevistado deverá ter a oportunidade de
verificar as suas afirmações;
 Sempre que possível, os participantes devem receber uma cópia do
relatório final.

Negociação do acesso às fontes de informação:


 Estabeleça canais oficiais através de solicitação de permissão para
levar a cabo a sua investigação, logo que a sua proposta de pesquisa
tenha sido aprovada;
 Sempre que possível, procure falar com as pessoas que serão
solicitadas para cooperar/participar na pesquisa;
 Esteja claro sobre o que quer dizer com “anonimato” e
confidencialidade;
 Descreva brevemente os propósitos da sua pesquisa e seja honesto
acerca do objectivo da pesquisa e das condições em que esta ocorrerá;
 Informe aos participantes sobre o que será feito com a informação
que lhe irão fornecer;
 Decida sobre se os participantes receberão cópia do relatório e/ou
verão os rascunhos das transcrições das entrevistas.
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

B. Questões éticas
As questões éticas que podem emergir numa pesquisa podem ser
resumidas nas seguintes:
 Prejuízo;
 Consentimento;
 Engano;
 Privacidade; e
 Confidencialidade da informação.

As questões éticas impregnam todas as fases do processo de pesquisa. De


um modo geral, são as seguintes as que merecem consideração antes,
durante e depois da pesquisa:

Questões éticas no início da pesquisa:


1. Valor da pesquisa: O estudo valerá a pena? Irá de algum modo
contribuir para o domínio do conhecimento?
2. Competência do pesquisador: O investigador terá competência para
levar a cabo um estudo com boa qualidade? Ou, estará o investigador
preparado para o estudo, para ser supervisionado, formado ou consultado,
de modo a adquirir tais competências? Tal ajuda estará disponível?
3. Consentimento: As pessoas que são alvo do estudo têm toda a
informação sobre o que o estudo irá envolver? O seu consentimento para
participar livremente foi dado? A hierarquia no consentimento afetou tal
decisão?
4. Benefícios, custos, reciprocidade: O que cada uma das partes
participante no estudo irá ganhar? Quanto terá que investir em termos de
tempo, energia e dinheiro?

Questões éticas durante o processo da pesquisa:


5. Prejuízo e risco: De que modo o estudo pode causar danos, prejuízos
ou riscos às pessoas envolvidas? Quão provável tais aspectos poderão
ocorrer?
6. Honestidade e confiança: Qual é a relação do investigador com as
pessoas que está a estudar/investigar? Estará o investigador a dizer a
verdade? Existe confiança entre o investigador e os sujeitos investigados?
7. Privacidade, confidencialidade e anonimato; De que modo o estudo
poderá penetrar/interferir na vida das pessoas mais do que elas gostariam?
Como a informação facultada será protegida? Quão identificáveis estão
os indivíduos e organizações em estudo?
8. Intervenção e advocacia: O que o investigador fará quando presenciar
comportamentos perigosos, ilegais ou ofensivos protagonizados por
outrem durante o estudo? Deverá o investigador falar no interesse dos
outros, que não do seu próprio? Se sim, que interesses deverá defender?
54

Questões éticas no fim ou depois do término da pesquisa:


9. Qualidade e integridade da pesquisa: Terá o estudo sido conduzido
cuidadosa, atenciosa e corretamente de acordo com os padrões éticos
recomendáveis?
10. Propriedade da informação e conclusões: Quem possui e analisará as
notas de campo do investigador – ele próprio, sua organização, seus
financiadores? Uma vez escrito o relatório, quem controlará a sua
divulgação?
11. Uso e abuso (mau uso) dos resultados: Terá o investigador a
obrigação de fazer um uso apropriado dos resultados? E se ele fizer mau
uso o que lhe acontecerá?

Estas questões geralmente envolvem dilemas e conflitos e, portanto, mais


do que a aplicação das regras, são sempre necessárias negociações e um
conhecimento profundo destes problemas éticos como um importante
ponto de partida.

VI. Estrutura do Relatório de Pesquisa

0. Título
Breve, conciso e indica: O que se pretende (acção substantivada)? Com
quem? Aonde? Quando (por vezes)? Não contém vírgula nem ponto final.

1. Introdução
Introduz o tópico da pesquisa, fornece o contexto geral, a questão central
a ser investigada e o plano geral do Relatório. Depois contém as
subsecções seguintes:
· Declaração do problema: Qual é o problema intelectual objecto da
pesquisa e que exige uma resposta e porquê?
· Objectivos e perguntas da pesquisa: Reflectem o conteúdo do título e
são realistas em relação ao tempo e recursos disponíveis. As perguntas de
pesquisa contêm as palavras-chave descritas nos objectivos e são
investigáveis (implicam o desencadeamento de um processo de pesquisa).
· Justificação/importância da pesquisa. Porque é que a pesquisa é
importante? A quem interessa a solução do problema colocado?
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

2. Revisão de literatura:
Contexto local – descreve as características geográfico-socias do local
onde decorrerá a pesquisa: Infraestruturas, água, eletricidade, salas de
computadores, manuais de ensino, numero de alunos, umero de
professores, idades, sexos, qualificações, situação socioeconômica, etc.
Em suma, é a “fotografia” do local da pesquisa no momento do início da
investigação sem nenhum juízo de valor.
Revisão preliminar de literatura – discute os argumentos de vários
autores sobre o tópico da pesquisa. Esta discussão é organizada de acordo
com os temas-chave que compõem o título. No fim apresenta o
posicionamento do investigador perante os argumentos apresentados
(concorda ou discorda, porquê) ou resume as principais lições
apreendidas da discussão.

3. Metodologia
Faz menção dos métodos utilizados (qualitativo, quantitativo, ou ambos;
porquê?) e o tipo de abordagem (descritiva, comparativa, de acção, etc...).
· População e amostra: Qual é a população de onde se retirou a amostra?
Quantos e quem são os elementos da amostra (ex.: idade, sexo, classe,
qualificações, etc.)? Como foram selecionados (por conveniência,
aleatória, estratificada, por quota, etc.) e porquê?
· Dados e instrumentos de recolha de dados: Que tipo de dados se
recolheram? Ex. de dados: respostas às perguntas dos questionários, dos
testes, transcrições de cassetes áudio/vídeo, notas de campo, etc. Quais
são os instrumentos que empregou na recolha de dados? Ex. De
instrumentos: questionários, protocolos de entrevistas, guiões de
observações, testes.
· Validade e fiabilidade: Indica como validou a sua pesquisa
argumentando-se sobre: escolha de um plano de trabalho apropriado,
disponibilidade recursos para se levar a cabo a investigação, escolha de
uma metodologia adequada para responder às perguntas de investigação,
escolha de instrumentos apropriados para recolher o tipo de dados
necessários, etc.
· Análise dos dados: como foram tratados os dados qualitativos e
quantitativos e como foram apresentados.
· Limitações do estudo e resultados esperados: quais foram as limitações
de ordem metodológica, conceptual, material, temporal, etc., que a
pesquisa teve. Como minimizou ou resolveu estas limitações.
· Questões éticas: Aborda aspectos como Permissão (como solicitou
autorização às pessoas ou entidades para participar na pesquisa),
Apresentação (como os participantes na pesquisa foram informados sobre
a natureza, os objectivos), Anonimato e confidencialidade (discute-se os
procedimentos seguidos para garantir que a identidade dos participantes
seja mantida anónima e a informação recolhida confidencial e usada
apenas para efeitos da pesquisa).
56

4. Apresentação e discussão dos resultados


Discute os resultados obtidos procurando dar respostas às perguntas de
pesquisa (ou hipóteses) colocadas.

5. Conclusões e recomendações
Tece conclusões a respeito das perguntas e do tópico da pesquisa.

6. Referências bibliográficas
Todos (e somente) os autores citados no texto devem constar desta lista
seguindo o estilo APA de referenciação. Para APA consulte a brochura
Mendonça, et al., (2006) da Faculdade.
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Tarefas
Reveja os conteúdos referentes a pesquisa qualitativa e quantitativa
e anote os seus pressupostos no concernente aos objectivos, tipo de
dados, amostra e instrumentos de recolha de dados.
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Auto- avaliação

A seguir apresentamos algumas questões para que reflita e responda.

1. Quais são as desvantagens dos:


a) Questionários
Auto-avaliação b) Inquéritos postais
c) Inquéritos telefónicos
d) Inquéritos face-a-face

Chave de correcção

Ao responder a questão que lhe foi feita, tenha em conta as


especificidades, constrangimentos e limitações de cada um destes
instrumentos de recolha de dados.
A seguir apresenta-se para cada instrumento uma de suas desvantagens.
Os questionários contendo perguntas fechadas, por exemplo, não
Chave de correcção permitem que o investigador aprofunde algumas questões que achar que
precisam de esclarecimento para a sua compreensão.
Os inquéritos postais têm a desvantagem de não garantir uma taxa de
retorno alta, uma vez que o respondente, por razões várias, pode não
retornar o questionário, obrigando deste modo a que o investigador envie
novamente um novo questionário.
Os inquéritos telefónicos apesar de serem rápidos de administrar acarreta
custos altos por causa do meio usado (o telefone) que é pago por
minuto/impulso. Se o inquérito for longo e a amostra grande, os custos
seriam astronómicos.
Os inquéritos face-a-face têm a desvantagem de consumir um bocado
mais de tempo na sua administração comparativamente aos outros tipos,
uma vez que o inquiridor é quem coloca as questões e anota as respostas
do respondente.
UNIVERSID ADE EDUARDO MONDLANE

Bibliografia Complementar

Sugerimos alguma bibliografia complementar que poderá consultar de


modo a enriquecer a sua aprendizagem e consolidar a matéria relacionada
com os tipos de pesquisa qualitativa e quantitativa.

1. Neuman, W. L. (2006). Social research methods: Qualitative and


quantitative approaches. 6th Ed. Boston, Pearson A and B.
2. Punch, K. F. (2005). Introduction to social research. Quantitative
and qualitative approaches. London, SAGE Publications. Pp.
262-268.

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