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INSTITUTO DE FILOSOFIA SANTO TOMÁS DE AQUINO – INFISTA

RESENHA DO FILME “O ENIGMA DE KASPAR HOUSER” DIALOGADO COM A


IMPORTANCIA DA LINGUAGEM PARA A EVOLUÇÃO E CULTURA DA ESPÉCIE
HUMANA

Kaiky Penedo Chisti

SÃO CARLOS
2023
Kaiky Penedo Chisti

RESENHA DO FILME “O ENIGMA DE KASPAR HOUSER” DIALOGADO COM A IMPORTANCIA DA


LINGUAGEM PARA A EVOLUÇÃO E CULTURA DA ESPÉCIE HUMANA

Trabalho apresentado na disciplina de


Dissertação Filosófica, do Curso de
Bacharelado em Filosofia, Do Instituto De
Filosofia Santo Tomás De Aquino - INFISTA

Professor: Michele Toso Cappellini

SÃO CARLOS
2023
O Enigma de Kaspar Hauser é um clássico da literatura. O filme, dirigido pelo alemão
Werner Herzog, conta a história de um menino que até os quinze ou dezesseis anos não havia
tido contado verbal com nenhum ser humano. Kaspar vivia em cativeiro - uma cela ou
masmorra. Por conta dessa privação do acesso à linguagem, o garoto era incapaz de elaborar
pensamentos e, com isso, era também impossível a compreensão de tudo que acontecia à sua
volta. Logo, Hauser era privado do uso do intelecto; da razão.

O filme permite uma gama enorme de reflexões. Numa abordagem filosófica podemos
questionar o que é a linguagem e como ela se forma. Este fenômeno se dá apenas a partir das interações
sociais? O interesse pelo estudo do cérebro de Kaspar nos remete a uma questão mais biológica. Ele
seria do tamanho normal? Qual a função das sinapses? No Kaspar elas foram comprometidas por causa
do isolamento social? Tais questionamentos trazem explicações sobre o “enigma” disposto no nome do
filme.

Para entender, de fato, a mensagem que o filme nos quer passar, recorramos a alguns
estudos antropológicos sobre a necessidade do “comunicar-se” na vida humana, dado que o ser
humano é um ser social, que necessita do contato com outro ser humano. A troca de afeto e
conhecimento é de suma importância durante o desenvolvimento da pessoa. O fato fica
comprovado ao analisarmos as atitudes de Kaspar Houser que, até a sua adolescência, não tivera
nenhum, ou pouquíssimo, contato verbal com outra pessoa, levando-o a um estado “vegetativo”.
Até então, sua única atividade era movimentar um cavalinho de brinquedo; sua única palavra
pronunciada era “horse1”.

M. Buber (1976), em Que é o homem? Descreve um dos fenômenos mais importantes


do homem; a relação com o outro, que ele chama intersubjetividade. Esse fenômeno sempre é
destacado pelos pensadores da filosofia personalista e fenomenológica. A intersubjetividade é
uma experiência comum a todos os homens, e Nunzio Galantino (2003), na obra Dizer o homem
hoje, a denomina experiência originária. A reciprocidade está relacionada com a dimensão
transcendente, é uma orientação ética para o tu. O “eu” não existe em si mesmo, como
pretendiam na modernidade, o “eu” sempre está em relação com um “tu” e, também, com o
"ele" (as coisas do mundo). O que provoca a alteridade é a presença do espírito que é originária
do homem, cada um existe no mundo em relação ao “tu”, o “eu” está aberto ao tu.

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A palavra horse em português quer dizer cavalo. O filme, originalmente dublado em inglês, remonta à ideia de
que Kasper era falante dessa língua; por isso a pronúncia ‘horse’ ao invés de ‘cavalo’.
A história conta que, em 26 de maio de 1828, Kaspar foi encontrado no centro da cidade,
com uma carta em suas mãos. A mensagem na carta explicava um pouco da sua vida. Entretanto,
permanece desconhecido o motivo pelo qual ele havia sido aprisionado quando criança. Como
também o porquê de ter sido solto quando jovem. Porém, sabemos que ele conseguiu falar e
escrever. Também começou a agir de forma social. Tudo isso só foi possível porque ele passou
a receber estímulos adequados.

Mas, a partir dessas informações, surge-nos um questionamento: qual seria a


compreensão de mundo de uma pessoa privada do acesso à linguagem? O garoto não possuía
reação alguma frente a diversas situações. Sequer entendia onde estava e o que fazia.

Aqui usamos a experiência de uma criança surda como uma analogia com a vida de
Kaspar. Isso porque, para manter as devidas proporções, ambos são privados do convívio
social. Isso ocorre devido a uma incapacidade de usar a linguagem. Sabemos que é o
conhecimento gerado pela interação social que, diante de novas experiências, produz novos
saberes. Os estudiosos de Kaspar Hauser tiram prontamente essas conclusões. O cérebro
humano armazena conhecimento e o utiliza na vida prática. Prova disto é o questionamento
feito por Kaspar ao indagar ser o seu “quarto” maior que uma certa torre (muito alta) pois, em
sua concepção, ao olhar para todos os lados, ainda enxergava o quarto, enquanto ao olhar para
o lado oposto a torre desaparecia.

A sua história começa a mudar quando encontra uma “família” e começa a ter acesso às
mais diversas coisas da vida e, de fato, conhecer o mundo. Houser aprende a falar e também a
raciocinar, comprovando que, de fato, a linguagem influencia, e muito, no comportamento e
concepção de mundo da pessoa humana.

Em dezembro de 1833, Kaspar Houser foi morto com uma facada no peito. Existe a
teoria de que sua morte fora encomendada por uma universidade, afim de estudar o cérebro de
Houser. Além disso, ainda entender o funcionamento e necessidade da linguagem para o cérebro
humano. Outrossim, desejavam ainda estudar a capacidade de aprendizado de um homem que,
até então, não gozava do o uso da razão.
Bibliografia:

https://blog.signumweb.com.br/resenhas/filme-o-enigma-de-kaspar-hauser/

(Acesso em 14/04)

O ENIGMA DE KASPAR HOUSER. Direção: Werner Herzog. 1974. Youtube

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