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Filme O enigma de Kaspar Hauser.

Discutir e colocar no papel por escrito os temas/conceitos/definições que se recordam da


disciplina de Filosofia.
Data de entrega: 22/2/2023
Equipe:
112841 Aurea de Carvalho Costa

Trata-se da história de uma pessoa de origem misteriosa, que foi criada num calabouço
por sete anos, permanecendo preso, sem ver a luz do dia ou contato com a sociedade por
cerca de 17 anos. Quando adulto é abandonado numa aldeia alemã.
O calabouço remeteu-nos à ideia do mito da caverna. Vivendo quase na
escuridão, o único contato que tinha com a civilização se dava sob a mediação do
homem que o alimentava e ensinava a escrever. Assim como as sombras na alegoria da
caverna, de Sócrates, o homem oferecia a ele uma visão de mundo. Porém,
diversamente dos personagens da caverna, Kaspar Hauser permanecia indiferente tanto
à alimentação, toque e alfabetização, quanto às agressões físicas. Uma vez em contato
com a sociedade, cercado de cuidados e estímulos, kaspar pode experimentar a vida, o
aprendizado, adquirindo conhecimentos por meio da indagação, remetendo-nos ao
método de ensino de Sócrates, que privilegiava a indagação como forma de levar os
discípulos à verdade. No caso de Kaspar Hauser é a sua realidade que lhe coloca frente
a frente com suas indagações. Na medida que ela consegue enunciá-las para os demais
membros da comunidade onde vive e ouvir as respostas, ele aprende.
O filme oferece elementos para a discussão do positivismo e o empirismo como
métodos para se chegar à verdade. Nas cenas iniciais do filme a política procede a um
inventário objetivo, levando em consideração a observação de kaspar Hauser como um
objeto de pesquisa, com um certo distanciamento do fato de ele ser um ser humano,
assim como seus observadores. A preocupação está em extrair os elementos para sua
identificação, como folhas de ouro que ele portava, o livro de pensamentos, as orações,
a carta, qualquer indício que possa levar a inferências sobre ele.
É interessante que a primeira vez no filme em que Kaspar é situado como sujeito
e não objeto identifica-se no caminho do calabouço até a aldeia, em que o filme
focaliza nas imagens que Kaspar registrava em sua retina, de forma fragmentada, como
quem vê o mundo pela primeira vez; a natureza, a paisagem, as montanhas, as casas.
Depois, por diversas vezes, Kaspar Hauser é situado pelos outros como objeto:
seja objeto da ciência, em diversos momentos; objeto de exibição no circo, como algo
bizzarro; e, ainda, objeto de exibição como prova do caráter caridoso de seu provedor,
no sarau em que ele é apresentado à alta sociedade.
O filme possibilita a discussão da diferença entre o mito e a ciência,
especialmente nos momentos em que o protagonista questiona a crença de que “Deus
criaria tudo do nada”, explicação que lhe pareceu ilógica e quando foge da igreja, não
suportando os rituais, que lhe pareceram sem sentido.
O filme Kaspar Hauser oportuniza, também, o questionamento da ciência e a
autoridade científica – e o próprio positivismo – especialmente se nos detivermos em
cenas como aquela em que Kaspar contesta o professor na lição de lógica, apresentando
uma solução para o problema diferente daquela imposta pelo professor.
Para pensarmos a fenomenologia e o existencialismo o filme é interessante, na
medida em que nos convida a pensar no que é o ser e quando começamos a existir. O ser
é ser com o outro, na relação. Tal relação é essencial para constituir cada ser de forma
única, como ele é. Há uma discussão na filosofia que ser refere à realidade, sobre se ela
existe à priori dos seres ou só existe quando os seres estão no mundo para constatar sua
existência. Essa discussão é o cerne para a compreensão do conceito de fenômeno. Para
Kaspar Hauser, a realidade era restrita ao pequeno universo que lhe fora permitido
conhecer no calabouço, inicialmente. Essa realidade foi se ampliando, na medida em
que ele ampliava sua visão, por meio de suas experiencias. Destacamos a cena em que
kaspar Hauser observa uma torre grande e deduz que um grande homem deve tê-la
construído, isso é questionado pelo seu mentor, produzindo nele uma nova possibilidade
de interpretar o que apreende por meio dos sentidos. Então, o ser não é nunca acabado,
sua biografia, sua constituição só se encerram na morte. Enquanto estivermos vivos,
ainda poderemos ver, interpretar, apreender a realidade de maneiras diferentes. Esse é o
caminho do psicólogo fundamentado na fenomenologia, ao acompanhar a reescrita da
biografia de cada pessoa que o procura para enfrentar seus sofrimentos.

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