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E quem é, afinal, Exu Maioral?

Exu e Pombagira são as duas faces da mesma moeda: os polos masculino e feminino da
espiritualidade, que se casam e se completam trazendo o equilíbrio energético e espiritual sob
a doutrina da Quimbanda. Onde há um, também há o outro - luz e sombras, fogo e água, dia e
noite: opostos complementares que, juntos, tornam-se uma só força! É dessa união que surge
Exu Maioral.

Ele é, portanto, a união dessas energias, a concentração das vibrações de todas as entidades
cultuadas na Quimbanda Tradicional. Ele é a condensação mágica dos polos positivo, negativo
e neutro, a concentração dos cinco elementos da natureza mágica: terra, fogo, água, ar e
espírito.

Como eu explico no meu novo livro, Os Reinos de Quimbanda e os Búzios de Exu, "Exu
Maioral, também chamado Exu Mor, resume o equilíbrio do Universo e, por isso, é comumente
representado pela imagem de Baphomet – criatura simbólica que surge como ídolo pagão
durante os julgamentos da Santa Inquisição. Simultaneamente homem, mulher, ave, réptil e
mamífero, com uma mão apontando para cima e outra para baixo, sin-tetiza em si a vida e a
morte, a continuidade do espírito e a busca incessante do encarnado: o que há em cima, há
também em baixo – assim na Terra como no Céu."

Exu Maioral não é um espírito e, por isso, não está sujeito ao fenômeno da incorporação, o que
significa dizer que Exu Maioral não incorpora em nenhum médium. A própria iconografia de
Exu Maioral nos mostra isso. Enquanto os Exus e Pombagiras são representados em esculturas
e imagens de figuras humanas, mesmo que a imagem de Baphomet seja usada como forma de
representar os significados mágicos e filosóficos de Exu Maioral, ele não tem forma definida: é
tudo e nada ao mesmo tempo. É como se Exu Maioral fosse um grande ponto de força de
onde tudo e todos se originam e pelo que tudo e todos seremos consumidos no fim dos
tempos. Assim, ao observarmos os simbolismos da figura tradicional de Baphomet podemos
compre-ender a associação entre eles.

Ainda no livro Os Reinos de Quimbanda e os Búzios de Exu sua figura é explicada da seguinte
maneira:
“Sobre o globo terrestre, nele se apoia com dois cascos de boi, relacionados ao elemento terra,
à força que viabiliza o trabalho bruto e que gera riquezas, ao mesmo tempo em que diz “eu sou
tudo o que existe”, demonstrando a materialidade da vida e, por que não, seu domínio mágico
mais imediato. Sentado sobre a Terra e, assim, dominando os aspectos materiais da existência,
as escamas sobre a barriga representam o elemento água - ligado à geração da vida, ao
ventre, aos fluidos sexuais – e o protegem como uma armadura. Ao mesmo tempo, suportam o
peso do Caduceu de Hermes, o falo simbólico donde Maioral fecunda a si mesmo e que é
entrelaçado por uma serpente branca e outra negra: o Ouroboros do infinito demonstrando a
complementariedade e a continuidade da vida ao encontrar a morte.

É só quando o Caduceu – potência fecundadora - ultrapassa o arco do universo – um útero


simbólico – que se pode chegar aos seios que nutrem toda a vida. As asas, uma alusão ao
elemento ar, representam a fluidez do movimento e o domínio sobre os aspectos mentais do
ser humano, a possibilidade transpor os espaços e barreiras para transcender às amarras que
nos fazem escravos do mundo real. A cabeça de bode retoma, ainda, a bestialidade e os
instintos animais de todos os seres, ao passo que nos remete ao conceito do pecado, pago em
sangue pelo bode expiatório do Povo de Israel. Curiosamente, é do mesmo pecado que surge o
archote de fogo, a luz da sabedoria que coroa a ascensão da existência. Daí, inclusive, podemos
pensar no gosto de Exu e Pombagira pelos prazeres da vida e inferir que, diferentemente das
tradições cristãs, não é ao extinguir os pecados que se chega à iluminação, mas, ao contrário,
através deles.

Ainda assim, à esquerda, o braço masculino tatuado “Coagula” reforça o caráter material – ou,
melhor dizendo, materialista – da vida na Terra, imersa na escuridão da noite, onde a Lua
crescente timidamente brilha; por sua vez, à direita, o braço feminino tatuado “Solve” aponta
para cima, onde brilha o Sol, estabelecendo o equilíbrio fundamental da existência: não há
crescimento ou desenvolvimento, não se atinge a iluminação nem a sabedoria universal sem
antes estarmos materialmente estabelecidos. No sentido contrário, por sua vez, se nos
rendermos à materialidade sem a dominar, nos tornaremos escravos de nós mesmos e nunca
seremos capazes de alçar voo para alcançar a luz da sabedoria.!

Exu Maioral é, portanto, o Chefe Supremo da Quimbanda, fonte de onde emana a vida e a
morte e a partir do qual se origina a força e o caminho de todas as Entidades que nela
trabalham.

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