Você está na página 1de 19

ENG07064 - Bioengenharia - B

Cultivo Sólido

Daniel Sfreddo Trindade


Henrique Ruschel Bandeira
Leonardo Ignácio Silva Thurow
Marcelo Sanches Gomes
Nicholas Chies

Porto Alegre, 29 de Abril de 2022.


1. Introdução

Atualmente tem-se buscado diversas alternativas em relação aos processos


produtivos tradicionais, e uma dessas alternativas são os bioprocessos, que são
mais ecológicos e utilizam recursos naturais. O cultivo no estado sólido envolve
substratos insolúveis e utiliza, comumente, resíduos agroindustriais. Sendo assim, o
Brasil é um grande produtor desse tipo de resíduo, que geralmente é muito pouco
aproveitado. Além disso, este tipo de cultivo utiliza baixa quantidade de água e é
aplicado na obtenção de diversos produtos nas indústrias química, alimentícia e
farmacêutica. 
O cultivo em estado sólido caracteriza-se pelo cultivo de microrganismos
sobre uma matriz úmida sólida obtida a partir de substratos naturais como fonte de
energia, ou também pode ser utilizada uma solução nutriente insolúvel. Além disso,
não pode haver água livre, ou seja, há apenas a umidade suficiente para permitir o
crescimento do microrganismo.
Existem vários fatores que afetam o cultivo em estado sólido, um deles é o
teor de água, que possui um efeito significativo sobre a atividade fisiológica dos
microrganismos. A baixa umidade afeta a germinação, esporulação  e a formação
de metabólitos, enquanto que o excesso de água aumenta a resistência de massa e
de oxigênio. Já a temperatura afeta o crescimento e a produção das enzimas; a
temperatura ótima para o crescimento dos microrganismos é diferente daquela para
a formação de produto, então deve-se ter cuidado em relação à escolha da
temperatura. Também, pode-se ter calor liberado durante esse processo para não
formar gradiente de temperatura. A agitação possui a função de manter uma
homogeneidade do leito, entretanto, a agitação em excesso acarreta na destruição
dos microrganismos e dificulta a esporulação. A injeção de ar nesse tipo de
processo é feita, em geral, utilizando ar esterilizado e contribui para o fornecimento
de oxigênio ao microrganismo, além de remover o calor e os gases oriundos do
metabolismo celular. Os substratos servem como fonte de carbono e nutrientes,
além de fornecer suporte aos microrganismos. O tamanho, o formato e a densidade
das partículas definirão como os microrganismos irão se fixar. Outros fatores que
também afetam o cultivo sólido são o tipo de microrganismo utilizado, o pH do meio
e o tipo de inóculo.
Esse tipo de processo tem vantagens tanto econômicas como de engenharia,
pois os meios de cultura utilizados são mais simples e demandam baixa quantidade
de água e energia. Portanto, os equipamentos são menos complexos e os
biorreatores podem ser mais compactos, de baixo custo operacional e baixa
probabilidade de contaminação e obtenção de preparações enzimáticas mais
concentradas. 
Como desvantagem, a transferência de massa e energia é menos efetiva,
formando então gradientes de temperatura, umidade, oxigênio e nutrientes que
limitam o crescimento das células. Outra limitação é a utilização de microrganismos
que se desenvolvem em apenas baixos níveis de umidade. Outras dificuldades são
o controle de monitoramento dos parâmetros de cultivo, a necessidade de elevadas
concentrações de inóculo e de haver um pré-tratamento do substrato. Há também
dificuldades no escalonamento do processo e o tempo de cultivo é mais longo.

2. Diferenças entre Cultivo Sólido e Cultivo Submerso

2.1. Cultivo Sólido e suas características

O método do Cultivo Sólido (em inglês “Solid-State Cultivation”, ou SSC) -


também chamado de Fermentação em Estado Sólido - envolve o cultivo de
microorganismos em partículas sólidas umidificadas, envoltas em uma fase gasosa
contínua - contendo, portanto, as fases sólida, líquida e gasosa.
Uma vantagem do cultivo sólido é o baixo custo do substrato sólido, sendo
muito utilizados os subprodutos de processos de silvicultura, alimentos e agricultura
no geral. Uma característica importante do cultivo sólido se dá por sua baixa
utilização de água. As partículas sólidas devem ter um conteúdo de umidade abaixo
de sua capacidade de absorção, não devendo haver água livre em sua mistura (ou
meio líquido). Isso caracteriza uma vantagem, mas também uma limitação do
processo. Outra característica do cultivo sólido é a sua baixa velocidade de
consumo do substrato, que pode ser reutilizado durante longos períodos de tempo
de forma contínua, caracterizando um método que suporta um controle de liberação
de nutrientes.
O método do cultivo sólido é indicado para fungos e microrganismos
dependentes de conteúdo de umidade limitada, não podendo ser utilizado para
processos envolvendo organismos que requerem alta atividade de água, como
bactérias. Esse método de cultivo pode ser feito através de um reator de cultivo
sólido, conforme a Figura 1.
Historicamente, o Cultivo Sólido foi muito utilizado para a produção de
alimentos fermentados, como pães e queijos. Nos dias de hoje, ele perdeu espaço
para outros tipos de cultivo, como o Cultivo Submerso, mas ainda é muito utilizado
nas seguintes situações:

● Quando o produto consiste de biomassa microbiana e substrato de


resíduo sólido, como em alguns alimentos fermentados;

● Quando há vantagem clara na utilização desse método sobre os


outros ou quando não há outro método capaz de produzir o que se deseja.
Um exemplo disso é a produção de fungos Conídio, utilizados como
pesticidas. Em alguns casos, esses fungos podem ser produzidos
exclusivamente através do cultivo sólido e, em outros casos, a utilização do
cultivo sólido leva a um crescimento mais robusto desse fungo, o que leva a
uma maior resistência do produto.

● Quando há interesse em se utilizar uma grande quantidade de


resíduos sólidos, porém a utilização de grandes volumes de água não é
desejada. Um exemplo disso seria em biorrefinarias, onde é feito o
aproveitamento de resíduos de processos de alimentos, por exemplo. Nesse
caso, o cultivo sólido utilizaria uma quantidade muito menor de água quando
comparado ao método de cultivo submerso, levando a uma menor geração
de efluente líquido - sendo ambientalmente mais favorável.
Figura 1 - Exemplo das fases presentes em um biorreator do tipo Cultivo
Sólido e a distribuição de biomassa dentro do sistema.

Descrição da figura:
a) Uma visualização em macroescala.
b) Visualização em microescala. Da esquerda para a direita os diagramas
representam o substrato não inoculado, o crescimento de um fungo filamentoso e o
crescimento de um organismo unicelular, como uma levedura ou bactéria.
c) Maior detalhe da microescala, mostrando um corte transversal através das
partículas.

2.2. Cultivo Submerso e suas Características

Cultivo Submerso, também conhecido como Fermentação Submersa (do


inglês Submergerd Fermentation, ou “SmF”), é um método de cultivo de
microrganismos em meio líquido-nutriente. Nesse método de cultivo, estão
presentes a fase líquida e gasosa.
Em produção industrial, são utilizados biorreatores que contêm uma matriz
líquida para o crescimento microbiano. O cultivo sólido foi utilizado durante séculos
para a produção de alimentos fermentados tradicionais, porém, nos dias de hoje, a
maioria dos produtos biotecnológicos são produzidos pelo Cultivo Submerso, assim
como alguns produtos fermentados tradicionais, como bebidas alcoólicas, por
exemplo. Um exemplo do domínio desse método se dá na produção das Xilanases
comerciais - enzimas responsáveis pela clivagem de ligações glicosídicas - sendo
90% de sua produção feita através do cultivo submerso. Nesse método de cultivo,
são empregados quatro tipos de processos: cultivo em batelada, cultivo em batelada
alimentada, cultivo contínuo e cultivo de perfusão em batelada.
Uma característica importante do cultivo submerso é sua necessidade de
grandes quantidades de água livre (meio líquido). Em função disso, o cultivo
submerso é capaz de utilizar substratos líquidos como caldos e melaço. Outra
característica desse método é o seu alto consumo de substrato, que precisa ser
reposto de forma constante com nutrientes. Esse método é muito utilizado com
microrganismos, como bactérias, que precisam de um alto conteúdo de umidade.
Uma das vantagens desse método é sua facilidade de purificação e refino dos
produtos, além de sua facilidade de homogeneização e, consequentemente, de
controle de parâmetros como a temperatura.
2.3. Comparação entre os cultivos

Tanto na utilização de água quanto na velocidade de consumo de substrato, o


cultivo sólido e o cultivo submerso se mostram exatos opostos. Seguindo essa
tendência, existem muitos tópicos nos quais esses dois métodos se diferem, sendo:

● Substrato: Enquanto que no cultivo submerso é utilizado um substrato


solúvel (como açúcares), no cultivo sólido são utilizados substratos
insolúveis, como Amido, Celulose, Pectinas e Lignina.

● Condições Assépticas: O cultivo submerso necessita de esterilização


por calor e controle asséptico; o cultivo sólido pode necessitar de um
tratamento de vapor ou mesmo se encontrar em condições não estéreis.

● Água: O cultivo submerso necessita de grandes volumes de água e,


consequentemente, gera uma grande quantidade de efluente líquido; o cultivo
sólido necessita de baixas quantidades de água e não gera efluentes.

● Calor (ou Aquecimento) Metabólico: O cultivo submerso detém um


fácil controle de temperatura; o cultivo sólido detém uma baixa capacidade de
transferência de calor, o que pode provocar gradientes de temperatura (mais
difícil de controlar).

● Aeração: O cultivo submerso necessita de uma grande quantidade de


ar, e é limitado pela solubilidade do oxigênio no meio líquido; o cultivo sólido
detém fácil aeração e boa relação de superfície e área de troca ar/substrato.

● Controle de pH: O cultivo submerso detém um controle de pH


facilitado; o cultivo sólido necessita de substratos sólidos tamponados
(controle dificultado).

● Agitação mecânica: Cultivo submerso detém boa homogeneização;


no cultivo sólido, é preferível uma condição estática, visto que a agitação do
substrato sólido pode levar a uma tensão de cisalhamento, podendo danificar
o meio de cultura.

● Escalonagem: Para o cultivo submerso, existem equipamentos


industriais já disponíveis; o cultivo sólido necessita de maiores estudos de
engenharia e novos design de equipamentos (podendo ser um campo rico
para pesquisas).

● Inoculação: No cultivo submerso, a inoculação é fácil e se dá por um


processo contínuo; no cultivo sólido a inoculação se dá por esporulação e por
batelada.

● Contaminação: No cultivo submerso, há o risco de contaminação por


bactérica de cepa única; no cultivo sólido, há o risco de contaminação por
fungos com crescimento lento.

● Consumo de Energia: No cultivo submerso, há um alto consumo de


energia, ao contrário do cultivo sólido.

● Volume e Custo de Equipamentos: No cultivo submerso, é


necessário um grande volume e, consequentemente, há um grande custo de
equipamentos; no cultivo sólido, o volume é baixo, assim como o custo dos
equipamentos.

● Impacto Ambiental: No cultivo submerso, há um grande volume de


efluentes poluentes; no cultivo sólido, não há efluentes e há menos poluição,
pois muitas vezes são utilizados substratos “reciclados” e reaproveitados,
como subprodutos e resíduos de processos.

● Concentração de Substratos e Produtos: No cultivo submerso, a


concentração dos produtos pode variar entre 30 e 80 g/L; no cultivo sólido, a
concentração dos produtos pode variar entre 100 e 300 g/L.
3. Fatores Importantes para Cultivo Sólido

Diversos fatores influenciam a fermentação em estado sólido que afetam


significativamente o crescimento celular e o processo de fermentação. Entre
os mais importantes: temperatura, pH, disponibilidade de água, substrato,
tamanho de partícula e aeração.

● Disponibilidade de água: O teor de umidade tem efeito sobre a


atividade fisiológica dos microrganismos na fermentação em estado
sólido. Possui como função o transporte e disponibilização de
nutrientes e de metabólitos em sua forma dissolvida, bem como a
manutenção do volume celular, devido ao fato da água ligar-se a
moléculas como polióis, açúcares ou enzimas. Na fermentação de
estado sólido, a água apresenta um papel fundamental, pois é
responsável pela difusão de solutos, gases e metabólitos inibitórios.
Para cada espécie de microrganismo existe um valor ótimo de
umidade do substrato para que ocorra o crescimento celular. A
escassez de água pode intervir na germinação, esporulação e
formação de metabólitos. Contudo, o excesso de água reduz o volume
da fase gasosa no interior do substrato, o que resulta na redução da
transferência de oxigênio e gás carbônico e aumenta a contaminação.
O teor de água utilizado, no geral, nos processos de cultivo sólido
varia entre 50% e 80%.

● Temperatura: A temperatura pode ser tratada como um dos fatores


mais relevantes para o cultivo de microorganismos. O crescimento
microbiano no cultivo de estado sólido gera uma quantidade
significativa de calor metabólico o que pode ocasionar, devido à
remoção ineficiente de calor no substrato, no estabelecimento de
gradientes de temperatura e superaquecimento localizado no
substrato. O problema de transferência de calor no cultivo de estado
sólido inclui gradientes de temperatura que podem causar atividade
microbiana tardia, desidratação do meio e desvios metabólicos
indesejáveis. Materiais heterogêneos dificultam a remoção de calor
devido ao baixo coeficiente de transferência e baixa condutividade
térmica. A temperatura pode subir rapidamente, porque há pouca água
para absorver o calor ou, em outras palavras, significa que a
capacidade calorífica específica da massa em fermentação é muito
menor que a da água. Portanto, o calor gerado deve ser dissipado
imediatamente, pois a maioria dos microrganismos usados ​no cultivo
de estado sólido são mesófilos, tendo temperatura ótima para o
crescimento entre 20˚C e 40˚C e crescimento máximo abaixo de 50˚C.

● Substratos: A seleção de substratos e a otimização de sua


concentração desempenham um papel importante na obtenção de
maiores taxas de crescimento de micróbios. O formato e o tamanho
estrutural do substrato podem influenciar no ataque microbiano e na
liberação de exo-enzimas. O substrato utilizado deve ter quantidade de
água suficiente, através da umidade da matriz, necessária ao
desenvolvimento microbiano. Os substratos para a fermentação de
estado sólido, em geral, resíduos ou subprodutos da agroindústria, são
recursos naturais renováveis e produzidos em grande escala que os
tornam um problema ambiental. A estrutura desses materiais tem a
presença de celulose, hemicelulose, amido, pectina e proteínas que
servem tanto como fonte de carbono e energia quanto de suporte para
o crescimento microbiano.

● Tamanho de partícula: A difusão de nutrientes e oxigênio depende do


tamanho e forma das partículas do substrato. Substratos com
partículas grandes favorecem a aeração do meio, contudo, limitando a
ação microbiana. Enquanto que, por outro lado, partículas menores
oferecem área superficial maior para o ataque microbiano e promovem
uma maior transferência de nutrientes, porém uma partícula muito
pequena pode resultar no empacotamento do meio que pode
prejudicar na respiração microbiana. Logo, o tamanho mais adequado
de partícula, geralmente entre 0,6 e 2 mm, deve favorecer o acesso
aos nutrientes e ao oxigênio para facilitar o processo de fermentação.
● Aeração: A aeração possui funções básicas no cultivo sólido como,
por exemplo, eliminar o dióxido de carbono formado; regular o nível de
umidade; regular a temperatura do substrato. O nível de oxigênio deve
ser mantido de uma maneira que não comprometa a respiração dos
microorganismos, contudo, a demanda de oxigênio pode variar de
acordo com a espécie e com as condições utilizadas no processo.

● pH: O valor de pH tende a variar em resposta às atividades


metabólicas dos microrganismos. Esta variação ocorre devido à
secreção de ácidos orgânicos, o que pode promover redução do pH.
Contudo, a assimilação de ácidos orgânicos, além da hidrólise de ureia
(fonte de nitrogênio), pode resultar no aumento do pH. É desejável
usar microrganismos que possam crescer em uma ampla faixa de pH
e que tenham um pH ótimo amplo devido à dificuldade de medir o pH
na fermentação em estado sólido.

4. Tipos de Biorreatores

Há diversos tipos de biorreatores que são utilizados para o cultivo sólido, que
são classificados pela sua construção e operação de acordo com as características
de agitação e de aeração, uma vez que esses dois são atributos cruciais na
determinação da performance do biorreator.
Com relação à agitação, os dois extremos são um leito completamente
estático e um leito continuamente agitado. Leitos pouco agitados funcionam como
leitos estáticos na maior parte do tempo. Se a agitação for intermitente, mas
frequente, então o leito terá um desempenho semelhante a um leito continuamente
agitado.
Por outro lado, alguns biorreatores podem ter aeração forçada, mas o ar
pode não conseguir fluir uniformemente por todo o leito, de tal forma que algumas
regiões do leito são melhor arejadas do que outras, via de regra.

Há três perguntas-chave para se ter uma definição do biorreator:

● Quão rápido o microrganismo cresce?


● Quão sensível é o microrganismo do processo ou o produto final
desejado - é possível danificá-lo por um determinado grau ou
frequência de agitação?
● A partir de uma análise econômica, o valor do produto compensa o
custo do biorreator?

Para um microrganismo de rápido crescimento, provavelmente é necessário


usar aeração forçada. A agitação do leito pode ajudar a promover a remoção do
calor, mas só pode ser usada na medida em que é tolerada pelo microrganismo.
Dependendo do microrganismo, pode-se agitar o leito continuamente ou com uma
determinada frequência.
Em outros casos, o leito só pode ser agitado periodicamente - por exemplo,
uma ou duas vezes por dia. No limite, o leito do substrato deve ser deixado
completamente estático. As características do produto final também podem ser
importantes - caso o microrganismo seja sensível e não resulte no produto desejado
se excessivamente agitado, é importante que o leito permaneça estático durante
todo o processo. Além disso, o valor do produto determina se será economicamente
viável incorporar agitadores e sopradores de leito, ou usar desenhos intrincados
com vários pequenos leitos de substrato.
Alguns exemplos de biorreatores comumente utilizados no mercado estão
dispostos abaixo:
● Sem agitação com aeração não forçada: Por exemplo, biorreatores de
bandeja.
● Sem agitação com aeração forçada: onde o ar é soprado através do leito,
como o biorreator de leito fixo. 
● Agitação contínua e aeração não forçada: Por exemplo, biorreatores de
tambor rotatório e tambor agitado.
● Agitação contínua e aeração forçada: Por exemplo, os biorreatores de leito
fluidizado, de leito agitado e tambor de balanço.
O biorreator de bandejas consiste em uma câmara com grande variedade de
tamanhos onde são colocadas as bandejas contendo substrato inoculado. O
ambiente dentro deste biorreator é controlado através da temperatura e da umidade
do ar, que é soprado para dentro das câmeras. São normalmente empregados na
fabricação de alimentos, como molho de soja e missô. 
Figura do biorreator de bandejas utilizado em laboratório

Os biorreatores de leito fixo são mais simples e, como o seu leito é estático,
eles são ideais para o desenvolvimento de organismos sensíveis às tensões de
cisalhamento decorrentes da agitação, como os fungos. Porém, a aplicabilidade
destes reatores em escala industrial é dificultada devido ao escalonamento, além do
fato de as transferências de massa e energia serem reduzidas.

Figura do biorreator de leito fixo utilizado na indústria de óleo e gás


No biorreator de leito fluidizado, as partículas dos substratos são fluidizadas
pela passagem de ar ou por outro gás, que é soprado verticalmente a uma
velocidade muito alta. Esse modelo consiste basicamente em uma câmara vertical
alargada na sua parte superior para impedir que as partículas sejam carregadas
para fora do reator. Na parte inferior há um misturador com o objetivo de quebrar
eventuais agregados de partículas.

Figura do biorreator de leito fluidizado usado no tratamento de água para remoção de nitratos, selênio,
perclorato e outros contaminantes

Os biorreatores de tambor rotatório consistem em um cilindro horizontal que


gira ao redor do próprio eixo. A entrada de ar costuma ser localizada em uma das
extremidades do cilindro e, a saída, na extremidade oposta. Esse tipo de
equipamento tem despertado bastante interesse, pois proporciona uma agitação
suave no leito, algo de extrema importância quando se trabalha com fungos
filamentosos.

Figura do biorreator de tambor rotatório que será utilizado na biorremediação de um solo poluído
O biorreator de tambor agitado utiliza pás para agitação interna, a fim de
gerar então maior homogeneização dos perfis de temperatura e de concentração
dentro do leito. Esse reator possui grande potencial para aplicação em escala
industrial, porque as bactérias são menos sensíveis às tensões de cisalhamento que
essa agitação por pás oferece. Esse tipo de biorreatores também nos permite a
instalação de bicos aspersores de água e encamisamentos, isso tem o objetivo de
promover o controle da homogeneidade e da temperatura no leito.

Figura esquemática de biorreator de tambor agitado

5. Aplicações Industriais

As aplicações do cultivo sólido em escala industrial são diversas. Dentre elas,


pode-se citar:
● A produção de molho shoyu, a partir da mistura entre Aspergillus oryzae e
grãos de soja. O processo ocorre normalmente fazendo uso de biorreatores
de bandejas, de tambor rotatório ou de tambor agitado.
● O enriquecimento protéico de alimentos e bebidas, utilizando os
microrganismos Trichoderma reesei e Endomycopsis fibuliger. O primeiro
fungo produz celulases e xilanases; já o segundo, gera amiloglucosidase que
pode ser quebrada em glicose a partir de amido. Ambos os produtos
originados pelos microrganismos citados estão presentes tanto em comida
humana quanto animal. Recomenda-se o uso de biorreatores de tambor
agitado para o processo e que sua agitação seja intermitente.
○ A produção de amiloglucosidase também pode ser sintetizada a partir
de Aspergillus niger, utilizando farelo de trigo como substrato.
○ Além disso, a produção de alfa-amilase - outra enzima que tem
capacidade de quebrar o amido - pode ser feita também utilizando
farelo de trigo, que por sua vez é consumido pela bactéria Bacillus
lincheformis.
● A geração de ácido giberélico, utilizado na agricultura como um regulador
para crescimento de plantas, a partir da Gibberella fujikoroi em farelo de trigo.
Comumente usa-se biorreatores de tambor agitado aerados, com agitação
intermitente.
● A produção de bebidas alcoólicas pela fermentação de bagaço de cana, pela
levedura Saccharomyces cerevisiae. A fermentação da cachaça, por
exemplo, é um processo em que esses fungos microscópicos convertem os
açúcares em álcool e gás carbônico. Exemplos de cachaçarias que fazem
uso desse processo são a Princesa Isabel e a Gouveia Brasil.

6. Artigo de produção de Ácido Succínico utilizando Cultivo Sólido

A maior parte do ácido succínico produzido comercialmente é feita por


síntese química. Recentemente, entretanto, tem-se dado bastante atenção à
produção microbiana desse composto utilizando cultivo em estado sólido por
microrganismos como uma alternativa para a síntese química. O ácido succínico é
um produto químico de alto valor agregado utilizado como uma especialidade
química. Na indústria alimentícia ele é usado como aromatizante, neutralizante (na
produção de bebidas) e também como suplemento nutricional. Já na indústria
farmacêutica, é utilizado na produção de diversos tipos de medicamentos
destinados ao tratamento de úlceras e para o sistema imunológico.
Para a escolha dos artigos, escolhemos dois: um que trata da produção de
ácido succínico a partir de resíduos sólidos de frutas e vegetais (Succinic acid
production from fruit and vegetable wastes hydrolyzed by on-site enzyme mixtures
through solid state fermentation) e outro que envolve a produção de ácido succínico
a partir do cultivo sólido em uma biorrefinaria de trigo (A wheat biorefining strategy
based on solid-state fermentation for fermentative production of succinic acid).
No primeiro artigo, produziu-se ácido succínico a partir de resíduos de frutas
e vegetais, hidrolisados ​por misturas de enzimas brutas por meio da fermentação
em estado sólido por Aspergillus niger e Rhizopus oryzae. Este sólido foi então
adicionado às suspensões dos resíduos e sofreu reação de hidrólise para gerar
açúcares fermentáveis ​e outros nutrientes essenciais para o crescimento bacteriano
e formação de produto. A hidrólise fúngica subsequente produziu 12,00 g/L de
glicose e 13,83 g/L de frutose, usando 10% de razão mássica (p/v) de resíduos.
Actinobacillus succinogenes utilizou o hidrolisado como única matéria-prima e
produziu 27,03 g/L de ácido succínico, com alto rendimento e produtividade de 1,18
g ácido/g açúcar e 1,28 gL−1.h−1, respectivamente. Por fim, o trabalho demonstrou
que os resíduos sólidos de frutas e vegetais podem ser transformados em
bioprodutos de valor agregado que possuem considerável potencial econômico e
significado ambiental.
Já no segundo artigo, uma estratégia de produção de matéria-prima genérica
baseada na fermentação em estado sólido foi desenvolvida e aplicada à produção
fermentativa de ácido succínico. O trigo foi fracionado em farelo, glúten e farinha
sem glúten pelos processos de moagem e extração. O farelo, que normalmente
seria um resíduo da indústria de moagem de trigo, foi usado para produzir enzimas
glucoamilase e protease via fermentação em estado sólido usando Aspergillus
awamori e Aspergillus oryzae, respectivamente. As soluções resultantes foram
utilizadas separadamente para a hidrólise de farinha sem glúten e glúten para gerar
um fluxo rico em glicose de mais de 140 g.L-1 e um fluxo rico em nitrogênio de mais
de 3,5 g.L-1. Uma matéria-prima microbiana composta por esses dois fluxos continha
todos os nutrientes essenciais necessários para fermentações de ácido succínico
usando Actinobacillus succinogenes. Em uma fermentação usando apenas as
correntes de hidrolisado combinadas, foram produzidos cerca de 22 g.L-1 de ácido
succínico. A adição de MgCO3 no meio derivado de trigo melhorou a produção de
ácido succínico para mais de 64 g.L-1. Esses resultados demonstram que a
estratégia baseada em fermentação em estado sólido é uma abordagem
bem-sucedida para a produção de uma matéria-prima de trigo e que essa
matéria-prima pode ser utilizada eficientemente para a produção de ácido succínico.

7. Referências Bibliográficas

DU, C. et al. A wheat biorefining strategy based on solid-state fermentation for


fermentative production of succinic acid. Bioresource Technology, v. 99, n. 17, p.
8310–8315, nov. 2008.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960852408002022

DESSIE, W. et al. Succinic acid production from fruit and vegetable wastes
hydrolyzed by on-site enzyme mixtures through solid state fermentation.
Bioresource Technology, v. 247, p. 1177–1180, 1 jan. 2018.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960852417314852



● Succinic acid production from fruit and vegetable wastes hydrolyzed by
onsite enzyme mixtures through solid state fermentation;
Autores: Wubliker Dessiea, Wenming Zhanga, Fengxue Xina, Weiliang
Donga, Min Zhanga, Jiangfeng Maa, Min Jianga;
Department of Biology, College of Natural and Computational Science,
Mizan-Tepi University, PO Box 121, Tepi, Ethiopia;
Available online 01 September 2017 0960-8524/ © 2017 Published by
Elsevier Ltd.
Link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960852417314852 -
Último acesso em 16/04/2022, 16h18min

● Relationship between lipopeptide biosurfactant and primary metabolite


production by Bacillus strains in solid-state and submerged
fermentation
Autores: Luisa Marcela Valdes-Velasco, Ernesto Favela-Torres, Ariane
Theatre, Anthony Arguelles-Arias, Jesús Gerardo Saucedo-Castaneda,
Philippe Jacques
Department of Biotechnology, Universidad Autonoma Metropolitana,
Unidad Iztapalapa, Avenida San Rafael Atlixco 186, Colonia Vicentina, 09340,
Mexico City, Mexico
Available online 16 December 2021 0960-8524/© 2021 Elsevier Ltd. All
rights reserved.
Link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960852421018988 -
Último acesso em 16/04/2022, 16h 26min
● Solid-State Cultivation Bioreactors
Mitchell, D.A., Krieger, N. (2019). Solid-State Cultivation Bioreactors. In:
Berenjian, A. (eds) Essentials in Fermentation Technology. Learning Materials
in Biosciences. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-030-16230-6_4
Último acesso em 16/04/2022, 19h 14min

● Fruit and Vegetable Processing Waste


R. Sharma, ... G.S. Dhillon, in Agro-Industrial Wastes as Feedstock for
Enzyme Production, 2016
https://www.sciencedirect.com/topics/agricultural-and-biological-sciences/sub
merged-fermentation#:~:text=Submerged%20fermentation%20(SmF)%20is%
20the,Mussatto%20and%20Teixeira%2C%202010).
Último acesso em 17/04/2022, 00h 19min

● Cultivo em Estado Sólido: Modelagem e Quantificação de Biomassa em


Biorreator Cilíndrico Horizontal Agitado
Autor: RUTSATZ, Marcus
Dissertação de mestrado
Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul
Porto Alegre, 2006
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/8928/000591027.pdf?sequ
ence=1
Último acesso em 27/04/2022, 01h 44min

● Essentials in Fermentation Technology..      Aydin Berenjian School of


Engineering The University of Waikato Hamilton, Waikato, New Zealand
Table 1.4 Comparison between liquid and solid substrate fermentations
https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-030-16230-6
Último acesso em 17/04/2022, 00h 23min

Você também pode gostar