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130 Idéias p a fUosofia fenomenológica

mais pormenorizados e de preenchimento das lacunas deixadas abertas nãn


é apenas.sensível,mas é preciso que o seja. As exposições que seguem trarão
contribuições consideráveispara a conâguração mais concreta dos delutea
mentes precedentes. Deve-senotar, porém, que nossameta aqui não é come.
cer uma teoria pormenorizada dessaconstituição transcendentale, com isso
esboçar uma nova "teoria do conhecimento" para as esperas da realidade.
mas apenas trazer à evidência pensamentos gerais que possam ser de ajuda na
obtenção da idéia da consciência transcendental pura. O essencialpara nós
é a evidência de que a redução fenomenológica é possível como exclusão de
Capítulo IV
circuito da orientação natural, ou seja,de suatesegeral, e de que, depois de
eÉetuada,a consciência absoluta ou transcendental pura ainda resta como um
As reduções fenomenológicas
resíduo, ao qual é contra-senso atribuir ainda realidade.

S 5ó A questãoda amplitude da reduçãofenomenológica.


Ciências naturais e ciências do espírito

Colocara naturezafora de circuito foi paranós o meio metódico


de possibilitar que o olhar se voltasse para a consciência transcendental
pura. Agora que a temos sob o olhar intuitivo, é sempre útil ponderar, na
direção inversa, o que tem de permanecer fora de circuito para os âns da
investigação pura da consciência, e se tal exclusão do circuito diz respeito
apenasà esferada natureza. Da parte da ciência fenomenológica por fiin-
dar, isso significa também perguntar g ê cié r/ai ela pode Zlcrcomova fêi
sem ferir seu sentido puro, quais ela pode e quais não pode empregar
como pre?iamr Zledadas, quais, por conseguinte, precisam ser "postas
entre parênteses".É da essênciapeculiar da fenomenologia, enquanto
ciência das "origens", que questões metódicas deste tipo, que nem de
longe se põem para uma ciência ingênua ("dogmática"), tenham de ser
cuidadosamente refletidas por ela.
É óbvio, em primeiro lugar, que, com o mundo natural, tanto físico
como psicofísico, posto fora de circuito, também estão excluídas todas as
objetividades individuais que se constituem mediante filnções valorativase
áticas da consciência, todas asespéciesde realizações da civiHzação, obras
das artes técnicas e das belas-artes, das ciências (consideradas não enquan-
to unidades de validação, mas justamente enquanto fatos de civilização), e
toda forma de valores estéticos e práticos. E naturalmente também e6eti-
vidades tais como Estado, costumes, direito e religião. Assim, a exclusão
de circuito atinge todas as ciências naturais e do espírito, com toda a sua
provisão de conhecimentos, justamente porque são ciências que requerem
a orientação natural.
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enológica
Seguwd !fuwdnmental \33
S 57. Questão: o cu puro pode scr posto fora de circuito?
exclusãodo circuito, embora para muitas investigações asquestões acercado
eu puro possam ficar i# iz/íPr#io. Pretendemos considerar o eu puro como
da/wm fenomenológico somente até onde vá sua peculiaridade eidética cons-
tatávelem evidênciaimediata e sua condição de dado concomitante com a
consciênciapura, ao passoque todas asteorias sobre ele que extrapolem esse
âmbito devem ser postas cora de circuito. De resto, teremos oportunidade
de dedicar um capítulo próprio, no segundo livro deste escrito, às difíceis 4
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questõesacercado eu puro e também, além disso, à consolidação da posição
provisoriamente tomada por nós aqui.37

$ 58. A üanscendência de Deus colocada fora de circuito


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Depois de abrir mão do mundo natural, deparamosainda com outra


transcendência,que, diferentemente do eu puro, não é dada em união ime
diata com a consciência reduzida, mas só chega ao conhecimento de maneira
bastantemediada,como que no pólo oposto da transcendênciado mundo.
Estamosfalando da transcendênciade Deus. A redução do mundo natural ao
absoluto da consciência produz certas espéciesde nexos$af/coi entre vividos
de consciência,com marcadasregras de ordenação, nas quais se constitui.
como correlato intencional, um mundo mo :Ho/og/rama Zleo df#ado na espera
daintuição empírica,isto é, um mundo para o qual pode haver ciênciasclas-
siâcadoras e descritivas. No que concerne ao seu nível material inferior. esse
mundo pode serdeterminado no pensamentoteórico das ciênciasmatemáti
casda natureza como "aparição" de uma naturezajZíifa que se encontra sob
leis naturais exatas.Em tudo isso está contido uma admirável zle/faZogia, já
que a rac/o aZidadr realizada pelo Eito não é aquela requerida pela essência.
Não apenasisso: a investigação sistemática de todas as teleologias encon
tráveis no próprio mundo empírico, por exemplo, o desenvolvimento fático
da série dos organismosaté o ser humano e, no desenvolvimentohumano, o
surgimento da civilização,com todos os seustesouros espirituais etc., ainda
resta por fazer, a despeito das explicações que a ciência natural propõe para
todas essasrealizações a partir de circunstâncias fáticas dadas e em con6or-

a7Nas Jipe gafõei liÜírar defendi uma posição cética na questão do eu p=o, que não pude
manter no progresso de meus estudos. A crítica que enderecei à fecunda Inn'adwfãa à pdco-
/agia de Natorp(ll,.pp= 340 e segs.da primeira edição) não é, portanto, consistenteqtÍanto
ao ponto principal. (Infelizmente não pude ler e considerar as ailerações da reedição recente
mente publicada da obra de Natorp.)
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fenomenológica Segunda seçã,ol

possibilidadede colocar irrestritamente o eidético 6om de circuito.


' Impõe-se então a nõs a seguinte série de pensamentos. A todo domínio
do ser, nós temos de ajuntar, para fins da ciência, certas esferaseidéticas, não
exatamentecomo domínios de investigação, mas como pontos de conhe-
cimentoseidéticos em que o investigador do domínio em questão sempre

ricos ligados à peculiaridade de essênciadaquele domínio. Mas é sobretudo


à lógica formal (ou ontologia formal) que todo investigador tem de poder
recorrer livremente. Pois tanto Cazo que ele investiga, são sempre objetos
que ele investiga, e aquilo que vale jo ma/ile7"para,objetos em geral(para
propriedades, estados-de-coisa em geral etc.), também é de seu domínio. E
não importa como concebe conceitos e proposições?.como faz inferências
etc., aquilo que a lógica formal estabeleceem generalidadeformal sobre tais
signi6caçõese gêneros de significaçõestambém diz respeito não somente
a ele, mas igualmente a todo investigador de um domínio especíâco. E o
mesmovaletambém parao 6enomenólogo.Todo vivido puro também está
subordinado ao sentido lógico mais amplo de objeto. Não podemos pois
S 59. A transcendência do eidético. Exclusão da lógica -- assimparece a lógica e a ontologta formal fora de circuito. E
pura enquanto maz#ern ipezxa/ã
cuco, por razões manifestamenteiguais, a noética geral, que exprime
conhecimentosde essênciasobre a racionalidade ou irracionalidade do pen-
samentojudicativo em geral, cujo conteúdo de significação é determinado
apenas em generalidade formal.
Se. no entanto, fizermos uma reflexão mais detida, âcará patente que,
sob certos pressupostos,existe uma possibilidade de pâr entre "parênteses"
a lógica formal e, junto com ela, todas as disciplinas da mazl&iií formal (ál-
gebra, teoria dos números, teoria dos múltiplos etc.)- Isto.é, tal possibilidade
enste caso se pressuponha que a investigação da consciência pura pela fe-
nomenologia não se coloca, nem tem de se colocar, outra tarefa senãoa da
análisedescritiva,que ela tem de solucionar em intuição pura: neste caso,as
formas de teorias das disciplinas matemáticas e todos os seus teoremas me
diatos não podem ter nenhuma serventia para ela. Onde a formação de con-
ceito e de juízo não procede de maneira construtiva, onde não se constroem
sistemasde dedução mediata, a teoria das formas dos sistemasdedutivos em
geral, tal como se apresenta na matemática, não pode operar como instru-
mento de investigação material.
soba fenomenológica Segunda, seção: A cowsiderücão $!gW!!!!!Êgi!!:j=i&ndümentül \37

objetividades individuais também ocorre entre as essênciascorrespondentes.


Assim, "coisa", "forma espacial", "movimento", "cor de coisa" etc., mas
também "homem", "sensação humana", "alma" e "vivido anímico" (vivido
no sentido psicológico), "pessoa", "qualidade de caráter" etc. são,portanto,
essênciastranscendentes.Se queremosconstituir uma fenomenologia como
doutrina eidéticü pwrn,mente íiescritivü düs con$ãurüções imanentes dü cows-
rié#c/a, dos eventosapreensíveis
no fluxo de vividos, dentro do âmbito da
exclusãofenomenológica, então não entra nesseâmbito nenhum individual
transcendente, e, por conseguinte, também ê # ma daí '%né#ciai fra#sre#'
df#zleP',cujo lugar lógico seriaantesa doutrina da essênciadas objetividades
transcendentes correspondentes.
Em sua imanência,portanto, ela não tem de fumar #e # ma .poi/fãade
exi é cia de z:aZresséwc/as,
não tem de fazer enunciado algum sobre a paZida-
dr ou /#l2ü//dãdêdelas,ou sobre a possibilidade ideal das objetividades a elas
correspondentes, nem de estabelecer ZeZs dr esié cZa a elas referentes.
Regiões e disciplinas eidéticas transcendentes não podem, por princípio,
conuibuir com nenhuma de suaspremissaspara uma fenomenologia que
pretenda efetivamente se ater à região de vividos puros Ora, visto que nossa
$ 60. Exclusão das disciplinas eidéticas materiais meta é fundar a fenomenologia precisamente nessa pureza (conforme a nor-
ma já antes expressa), e visto que os mais altos interesses âlosóficos também
dependem de que a consecução plenamente consciente dessameta se dê em
tal pureza, e6etuamosrxP essamf ff ma amp//afãs da ed fão orla/#a/a to-
dos os domínios eidéticos transcendentese às ontologias que comportam.
Portanto: assim como colocamos a natureza física real e as ciências na-
turais empíricas fora de circuito, assim também procedemos com as ciências
eidéticas,isto é, com as ciênciasque investigamaquilo que Eazparte por
essênciada objetividade da natureza física como tal. Geometria, 6oronomia,
física "pura" da matéria ganham os seusparênteses.Da mesma maneira, as-
sim como colocamos fora de circuito todas asciências empíricas dasessências
da natureza animal e todas as ciênciasempíricas do espírito que tratam das
pessoas em suas associações, dos seres humanos como sujeitos da história,
co'mo esteiosda civMzação, mas também das próprias formas assumidaspela
civilização etc., assimtambém colocamos agora fora de circuito asciênciasel-
déticas correspondentes a essasobjetividades. Fazemos Isso por antecipação e

(por exemplo, a psicologia racional, a sociologia) não chegaram a uma fim-


dação, ou a uma fundação pura e irretocável.
Com respeito às funções Hosóficas que a fenomenologia é chamada a
assumir, também é bom mencionar de novo que, nas exposições precedentes,
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ma Mosofia fenomenológica Sqwwdü seção:A

se estabeleceu a aóFO/#za i#depr dé»cla cair o e a/Qg/a não só em relação


a todas as outras ciências,mas também fm zrZafãaàí r/ê czarf/dér/ro-made.
rtats.

Essasampliações da redução âenomenológtca não têm manifestamente


a importância fiindamental daquela simples exclusãoque tira originalmente Ihe é transcendente por princípio Mas isso é, por um .lado, uma corrupção
de circuito o mundo natural e as ciências a ele referentes. Pois é essapnmeua da psicologia, pois já diz respeito à consciência empírica e, por outro(que
reduç:o que torna primeiramente possível em geral a mudança do olhar para nos interessa aqui), uma corrupção da fenomenologia. Para descobrir e6eti-
o campo fenomenológico e para a apreensão de seusdados. As demais redu- vaMente aquela região que se busca é, pois, extremamente importante que se
çoesl.po\ pressuporem.a primeira, são reduções secundárias, mas de forma naturalmente ocorre, no nosso
ganheclarezaquanto a esseaspecto. O que
alguma têm / apor/zÍ rZa mf orpor isso caminho, antesde tudo por uma legitimação geral do eidético e, depois, no
contexto da doutrina da redução fenomenológica, especialmente pela exclu-
são de circuito do eidético. . .
S ói Significação metodológica da sistematização Ora. essaexclusãoteve, semdúvida, de se restringir à eidética dasobje
das reduções fenomenológicas ' tividades transcendentesindividuais, em qualquer sentido da palavra.Entra
em consideração aqui um novo momento fundamental. Sejá nos livrámos da
inclinação à psicologização da essênciae dos estados-de-essência,um novo
grande passo, que de maneira alguma decorre.sem diâculdades do primei-
ro é reconhecere por toda parte observar inflexivelmente a separação,de
grandes consequências, que designamos sumariamente como separação en'
tre essênciasíma ê [eíe Dawscr de fei. De um lado, estão essênciasde con-
figurações da própria consciência; de outro, essênciasde eventos individuais
transcendentes à consciência, ou seja, essências daquilo que apenas se "anun-
cia" nasconfiguraçõesda consciência,aquilo que se constitui, por exemplo,
por aparições sensíveis na consciência.
Para mim, pelo menos, o segundo passo foi bastante difícil, mesmo de
pois de ter dado o primeiro. Isso não passaráagora despercebidoao leitor
atento das in ê Üafõei lay/cai. Nelas, o primeiro passo é eeetuado com toda
a determinação, a legitimidade própria do eidético, contra suapsicologiza-
ção, é minuciosamente fundada -- bem na contracorrente da época, que
con-
reagiu vivamente ao seu "platonismo" e ao seu "logicismo". No que
cerne, porem, ao segundo passo,em algumas teorias, como aquclu sobre as
objetividades lógico-categoriais e sobre a consciência doadora dfZas,o passo
decisivo foi dado, embora a oscilação seja manifesta em outras exposições
do mesmo volume, isso porque o conceito de proposição lógica é referido,
ora à objetividade lógico-categorias, ora à essência correspondente, imanente
ao pensarJudicativo Justamentepara o iniciante na fenomenolo.Fa é di6cil
render a dominar na reflexão asdiferentes orientações da consciência, com
seus diferentes correlatos objetivos. Isso vale, no entanto, para todas asesfe-
ras de essênciaque não pertencem à iminência da consciência. Essaevidência
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e para uma fUosofia fenomenológica SeBwndü s!

S 62. Indicações prévias sobre teoria do conhecimento

Orientação "dogmática" e orientação fenomenológica.

como particularizaçãodela.

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142 Idéias para uma 6en
Terceira seção
pode ser decidida no solo da fenomenologia eidética. Ela é respondida de
uma maneirapela qual se torna compreensível
por que toda tentativade
começaringenuamente por uma ciência fenomenológica de fatos, a#fei de A metodologia e a problemática
levar a cabo a doutrina fenomenológica das essências,seria um wo@se@sr.
Pois da fenomenologia pura
se mostra que, ao fada das ciências de fatos extrafenomenológicas, não pode
haver uma ciência de fatos fenomenológica que esteja em paralelo com elase
no mesmoplano que elas,e issoporque a aferiçãoúltima do valor de todas as
ciênciasde fatos leva a uma vinculação coerente dos nexos fenomenológicos
Capítulo l
fáticos correspondentes a todas elas, e motivados como possibilidades fáticas,
unidade de vínculo esta que nada mais é que o campo da ciência fenomeno- Consideraçõesmetodológicas preliminares
lógica dos fatos de que aqui se ressente a fita. Uma parte capital dessaciên-
cia é, portanto, a "conversão fenomenológica" das ciências fáticas habituais,
possibilitada pela fenomenologia eidética, restando apenasa questão de saber
em que medida sc poderia, a partir daí, fazer algo mais.
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