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Linfático e
Imunidade
C A P Í T U L O
Arteríola
(do coração) Linfa
Capilar Válvula fechada
sanguíneo (evita o refluxo
Vénula da linfa)
(para o coração)
Líquido
a entrar no
capilar linfático
Válvula aberta
(a linfa flui na
direcção indicada
pela seta)
Direcção do fluxo
da linfa no capilar Células
epiteliais
sobrepostas
Líquido
a entrar no
capilar linfático Células dos tecidos
Capilar
linfático Para o sistema venoso
Os gânglios linfáticos são estruturas redondas, ovais ou em veia linfática (não esquematizado na figura 22.3b), que desem-
forma de feijão que se distribuem ao longo dos diversos vasos lin- boca numa veia torácica (ver figura 22.3b). Estes troncos dre-
fáticos (ver “Gânglios linfáticos” mais à frente, neste capítulo). Es- nam o lado direito da cabeça, o membro superior direito e o
tas estruturas têm a função de filtrar a linfa que os atravessa, ao hemitórax direito (figura 22.3c).
longo dos vasos linfáticos. Os gânglios linfáticos estão ligados entre A metade direita do corpo infra-torácica e todo o hemicorpo
si em grupos, para que a linfa que sai de um gânglio seja conduzida esquerdo (ver figura 22.3c) drenam principalmente para o canal
para o seguinte, onde entra e assim sucessivamente. Após passarem torácico (ver figura 22.3b). O canal torácico é o vaso linfático de
através dos gânglios linfáticos, os vasos linfáticos convergem para maior calibre. Tem cerca de 38-45 cm de comprimento, estenden-
formarem outros de maior calibre, os troncos linfáticos. Cada um do-se desde a 12ª vértebra torácica até à base do pescoço (ver figura
dos troncos linfáticos drena uma grande porção do corpo (figura 22.3c). Os troncos jugular e subclavicular desembocam no canal
22.3a e b). Os troncos jugulares drenam a cabeça e o pescoço; os torácico. Por vezes, o tronco broncomediastínico une-se ao canal
troncos infraclaviculares drenam os membros superiores, a por- torácico, mas habitualmente desemboca numa veia. Os troncos in-
ção mais superficial da parede torácica e as glândulas mamárias; os testinal e lombar que drenam a linfa proveniente dos níveis inferi-
troncos broncomediastínicos drenam a linfa dos órgãos torácicos ores ao diafragma, suprem a terminação inferior do canal torácico.
e da porção mais profunda da parede torácica; os troncos intesti- Podem desembocar directamente no canal torácico ou combina-
nais drenam os órgãos abdominais, como sejam os intestinos, o rem-se, formando uma rede que se liga ao canal torácico. Numa
estômago, o pâncreas, o baço e o fígado; e, os troncos lombares proporção diminuta de casos, os troncos linfáticos formam um saco,
drenam os membros inferiores, as paredes pélvica e abdominal, os a cisterna quilosa ou de Pequet.
órgãos pélvicos, os ovários ou testículos, os rins e as glândulas
1. Enumere as partes constituintes do sistema linfático e
suprarrenais.
descreva as três principais funções do sistema linfático.
Os troncos linfáticos unem-se às grandes veias torácicas ou 2. Como se forma a linfa?
a vasos linfáticos de ainda maior calibre, os canais linfáticos, 3. Descreva a estrutura de um capilar linfático. Por que razão é
que se vão juntar a veias de grande calibre. As uniões dos troncos que os líquidos e outras substâncias entram com facilidade
e dos canais linfáticos às veias variam muito. Muitos unem-se a no capilar linfático?
nível da junção entre as veias subclávia e jugular interna; contu- 4. Qual é a função das válvulas dos capilares linfáticos? Refira
do, existem junções de linfáticos às veias subclávias, jugulares e três factores que determinem o movimento da linfa nos
mesmo à braquiocefálica. vasos linfáticos.
Habitualmente, do lado direito, os troncos jugular, subcla- 5. O que são troncos e canais linfáticos? Nomeie o maior vaso
vicular e o broncomediastínico unem-se a uma veia torácica, linfático. O que é a cisterna quilosa ou de Pequet?
individualmente (ver figura 22.3 b). Em cerca de 20% dos casos 6. Que áreas do corpo são drenadas pelos troncos linfáticos
os três troncos unem-se entre si, para formar um pequeno canal direitos, pelos troncos linfáticos esquerdos e pelo canal
de 1 cm de comprimento, o canal linfático direito ou grande torácico?
786 Parte 4 Regulação e Manutenção
Veias braquiocefálicas
Canal torácico
T12
Cisterna quilosa
Diafragma
Tronco lombar esquerdo
Tronco lombar direito Tronco intestinal
Veia cava inferior
(a)
Canal torácico
Tronco bronco-
Tronco broncome-
mediastínico direito
diastínico esquerdo
(b)
(c)
Amígdala faríngea
Tecido
Nódulo linfático Amígdala palatina
linfático difuso
Amígdala lingual
LM 25x
Figura 22.4 Tecido Linfático Difuso e Nódulo Linfático Figura 22.5 Localização das Amígdalas
Tecido linfático difuso envolvendo um nódulo linfático do intestino delgado Vista anterior da cavidade oral mostrando as amígdalas. Foi removida parte
(placa de Peyer). do palato (linha tracejada) para visualizar a amígdala faríngea.
788 Parte 4 Regulação e Manutenção
Cápsula
Trabécula
(a)
Centro Cápsula
germinativo Seio sub-
-capsular
Nódulo
linfático
Tecido
linfático Córtex
difuso
Trabécula
Cordões
medulares
Medula
LM 10x
(b)
Hérnia Inguinal os gânglios axilares (cerca de 30) filtram a linfa proveniente dos
A linfa proveniente dos membros inferiores drena para os gânglios membros superiores e da superfície torácica; os gânglios torácicos
linfáticos inguinais. O canal inguinal é o trajecto através do qual os (cerca de 100) filtram a linfa proveniente da parede torácica e
vasos linfáticos, provenientes dos gânglios inguinais, entram na dos órgãos torácicos; os gânglios abdomino-pélvicos (cerca de
cavidade abdominal. Forma-se uma hérnia inguinal, quando uma ansa 230) filtram a linfa do abdómen e da pélvis; e os gânglios inguinais
intestinal penetra ou preenche completamente o canal inguinal. e popliteus (cerca de 20), filtram a linfa dos membros inferiores
e da pélvis superficial.
Os gânglios linfáticos estão revestidos por tecido conjunti-
Os gânglios linfáticos são classificados como superficiais e vo denso, a cápsula. As extensões da cápsula, as trabéculas, for-
profundos. Os gânglios linfáticos superficiais localizam-se na mam, dentro do gânglio, um fino esqueleto interno. As fibras
hipoderme, abaixo da pele; os gânglios linfáticos profundos reticulares prolongam-se da cápsula e das trabéculas para for-
estão dispersos ao longo de todo o corpo. Habitualmente, am- mar uma rede fibrosa em todo o gânglio. Em algumas áreas do
bos os tipos de gânglios estão localizados no tecido adiposo, ad- gânglio, existem linfócitos e macrófagos agrupados à volta das
jacentes aos vasos sanguíneos. No corpo, existem cerca de 450 fibras reticulares, de modo a formar tecido linfático; noutras, as
gânglios linfáticos. Os gânglios linfáticos cervicais e da cabeça fibras reticulares estendem-se através dos espaços existentes for-
(cerca de 70) filtram a linfa proveniente da cabeça e do pescoço; mando os seios linfáticos. O tecido linfático e os seios do gânglio
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 789
distribuem-se em duas camadas não muito bem definidas, o terligados. As artérias, as veias e os vasos linfáticos estendem-se
córtex e a medula. O córtex é constituído por um seio subcap- ao longo das trabéculas para suprir os compartimentos que es-
sular, abaixo da cápsula, e por seios corticais separados por teci- tão preenchidos com polpa branca e polpa vermelha. A polpa
do linfático difuso, trabéculas e nódulos linfáticos. A medula, branca está relacionada com a irrigação sanguínea arterial do
interior, é constituída por uma estrutura irregular ramificada de baço e a polpa vermelha com a venosa. Cerca de ¼ do volume
tecido linfático difuso, os cordões medulares, separados por seios do baço é constituído por polpa branca e os restantes ¾ são de
medulares. polpa vermelha.
Os gânglios linfáticos são as únicas estruturas que filtram a Os ramos da artéria esplénica, penetram no baço pelo hilo
linfa. Têm vasos linfáticos aferentes que conduzem a linfa aos e, seguem as diversas trabéculas em direcção ao interior do baço
gânglios, onde é filtrada e vasos linfáticos eferentes que a trans- (ver figura 22.7a e b). A partir da trabécula, os ramos arteriais
portam a partir daqueles. A linfa conduzida pelos vasos aferentes estendem-se pela polpa branca que é constituída pela bainha peri-
entra nos seios subcapsulares do gânglio e é filtrada do córtex à arterial linfática e por folículos linfáticos(ver figura 22.7c). A bai-
medula, passando pelos seios corticais e pelo tecido linfático do nha peri-arterial é constituída por tecido linfático difuso, que
córtex. Depois, passa pelos seios e pelo tecido linfático da medu- envolve as artérias e as arteríolas que se estendem até aos nódu-
la, deixando o gânglio linfático pelos vasos linfáticos eferentes. los linfáticos. Estas arteríolas entram nos nódulos linfáticos e
Os vasos linfáticos de um gânglio podem-se constituir como vasos originam capilares que irrigam a polpa vermelha, constituída
aferentes de um outro, ou podem convergir para formar troncos pelos cordões esplénicos e pelos seios venosos. Os cordões es-
linfáticos, que conduzem a linfa até à corrente sanguínea, a nível plénicos são compostos por uma rede de células reticulares que
dos vasos torácicos. produzem fibras reticulares (ver capítulo 4). Os espaços entre as
Os seios estão revestidos por macrófagos que removem as células reticulares estão preenchidos por macrófagos esplénicos
bactérias e outras substâncias da linfa, à medida que passam pe- e células sanguíneas provenientes dos capilares; e, os seios veno-
los gânglios. Os seios linfáticos são revestidos por macrófagos sos são constituídos por capilares dilatados que separam os cor-
que removem da linfa as bactérias e outras substâncias estranhas dões esplénicos. Normalmente, os seios venosos unem-se às veias
ao organismo, à medida que esta vai sendo lentamente filtrada trabeculares que se fundem para formar vasos que deixam o baço
quando passa pelos seios. Os microrganismos, ou outras subs- formando a veia esplénica.
tâncias estranhas na linfa, podem estimular os linfócitos do O fluxo sanguíneo no baço ocorre a três velocidades dife-
gânglio a dividir-se, com proliferação mais evidente nos folículos rentes. O fluxo mais rápido realiza-se em poucos segundos, o
linfáticos do córtex. Estas áreas de rápida divisão dos linfócitos intermédio nalguns minutos e o fluxo lento numa hora ou mais.
são os centros germinativos. Os linfócitos recém-formados são A maioria do sangue passa rapidamente pelo baço, cerca de 10%
libertados na linfa e podem entrar na corrente sanguínea onde move-se a uma velocidade intermédia e 2% passa lentamente.
circularão. De seguida, os linfócitos podem deixar o sangue e O fluxo mais rápido é o fluxo habitual nos órgãos com um
entrar noutros tecidos linfáticos. circuito fechado, no qual existe uma ligação capilar directa en-
tre os vasos venosos e os arteriais (ver figura 22.7c). Contudo, no
baço só raramente existem estas ligações directas; a maior parte
Os Gânglios Linfáticos Retêm Células Neoplásicas da circulação sanguínea ocorre em circuito aberto, no qual não
As células neoplásicas podem disseminar-se a partir de um tumor para
existe uma ligação directa entre os vasos venosos e os arteriais.
o sistema linfático, onde são sequestradas nos gânglios linfáticos e
onde podem proliferar. Se as células neoplásicas conseguirem sair dos
Então, o sangue flui para a fronteira entre as polpas branca e
gânglios, podem passar, através dos vasos linfáticos para o sangue e vermelha ou para os cordões linfáticos. Na maioria dos casos, o
virem a fixar-se noutros locais do organismo. Durante a cirurgia sangue entra rapidamente nas extremidades abertas dos seios
oncológica os gânglios linfáticos malignos (neoplásicos) são, muitas venosos que têm origem junto da fronteira. Por outro lado, o
vezes ressecados e os seus vasos laqueados, para evitar a dissemina- sangue percorre os cordões esplénicos e passa através das pare-
ção da neoplasia. des dos seios venosos, que têm espaços intercelulares. O fluxo
mais rápido é determinado pela movimentação do sangue no
circuito fechado ou, para as extremidades abertas dos seios ve-
Baço nosos no circuito aberto. O fluxo intermédio é a passagem do
O baço tem aproximadamente o tamanho de um punho fecha- sangue através dos cordões esplénicos e através das paredes dos
do, localizado na região superior externa do hipocôndrio esquer- seios venosos. O fluxo lento segue o mesmo percurso do inter-
do, dentro da cavidade abdominal (figura 22.7). O peso médio médio, mas é mais demorado devido à adesão temporária dos
do baço de um adulto é de 180 g nos homens e de 140 g nas elementos figurados do sangue às células dos cordões esplénicos.
mulheres. Nos idosos o baço tende a diminuir de tamanho e de O baço destrói os eritrócitos defeituosos, detecta e reage às
peso mas, em certos tipos de doenças o baço pode atingir 2000 g substâncias estranhas existentes no sangue e funciona como re-
ou mais. servatório de sangue. À medida que os eritrócitos envelhecem
O baço é revestido por uma cápsula de tecido conjuntivo vão perdendo a capacidade para se deformarem. Assim, as célu-
de densidade irregular e uma pequena quantidade de músculo las podem romper-se quando passam através da rede de cordões
liso. As fibras conjuntivas da cápsula formam prolongamentos, esplénicos ou dos espaços intercelulares das paredes dos seios
as trabéculas, que se estendem da cápsula para o interior do venosos, sendo estas depois fagocitadas pelos macrófagos esplé-
baço, subdividindo o órgão em pequenos compartimentos in- nicos.
790 Parte 4 Regulação e Manutenção
Artéria
trabecular
Ramo da
artéria
Hilo
trabecular
Face gástrica
Veia
Face renal trabecular
(a)
Trabécula
Cápsula
(b)
Trabéculas
Cápsula
Polpa vermelha
Ao passarem pelo baço, as substâncias estranhas existentes à contracção do músculo liso da cápsula, à contracção do mús-
no sangue podem estimular uma resposta imunitária, devido à culo liso (miofibroblastos) das trabéculas, ou à redução do aporte
presença de linfócitos especializados (descritos mais à frente, neste sanguíneo ao baço gerada pela vasoconstrição.
capítulo). Na bainha peri-arterial existem muitas células T e nos
nódulos linfáticos existem muitas células B.
O baço humano é um reservatório limitado de sangue. Por Esplenectomia por Traumatismo
exemplo, durante o exercício o volume do baço pode ser reduzi- Embora o baço esteja protegido pelas costelas, pode ser lacerado num
do em cerca de 40 a 50%. A pequena elevação do número de traumatismo abdominal. O traumatismo do baço pode determinar uma
eritrócitos em circulação pode promover um maior aporte de hemorragia grave, choque e mesmo a morte. Para parar a hemorragia é
oxigénio aos músculos, durante o exercício ou em situações de muitas vezes realizada uma esplenectomia, a remoção cirúrgica do
baço. O fígado e os restantes tecidos linfáticos compensam as funções
emergência. Actualmente, ainda não é bem conhecido o meca-
que antes eram desempenhadas pelo baço.
nismo que determina esta diminuição de volume, se ela é devida
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 791
Traqueia Cápsula
Gânglios
linfáticos Trabécula
Timo
Córtex
Lóbulo
Medula
Gordura
(a) (b)
Trabécula
Córtex
Lóbulo
Medula
Corpúsculo
tímico
LM 10x
(c)
Não surpreende o facto de muitas das doen- pestis) que é transferida para o homem a par- me do membro afectado, que fica com uma
ças infecciosas produzirem sintomas asso- tir dos ratos, pela mordedura da pulga dos ra- configuração semelhante à da perna de um
ciados ao sistema linfático, uma vez que ele tos ( Xenopsylla ). A bactéria aloja-se nos elefante, o que determinou o nome da do-
está envolvido na produção de linfócitos gânglios linfáticos provocando o seu aumento ença. As microfilárias, produzidas pelo pa-
que combatem as doenças infecciosas e fil- de tamanho. O termo bubónico deriva de uma rasita feminino, passam do sistema linfáti-
tra o sangue e a linfa, para remover micror- palavra grega que significa virilha pois, mui- co para o sangue, a partir do qual podem
ganismos. A linfadenite é uma inflamação tas vezes, a doença causa o ingurgitamento ser transferidos para outros seres humanos,
dos gânglios linfáticos que provoca o seu dos gânglios da cadeia inguinal (da virilha). pelos mosquitos.
aumento de tamanho e os torna dolorosos Sem tratamento, a bactéria entra na corrente Um linfoma é uma neoplasia (tumor ma-
à palpação. Esta situação é indicadora de sanguínea, multiplica-se e dissemina-se, rapi- ligno) do tecido linfático. Normalmente, os
que os microrganismos estão a ser seques- damente, pelos tecidos do corpo, infectando- linfomas dividem-se em dois grupos: (1) do-
trados e destruídos dentro dos gânglios lin- os e provocando a morte em 70 a 90% dos ença de Hodgkin; e (2) todos os outros, que
fáticos. Por vezes, os vasos linfáticos infla- casos. Nos séculos VI, XIV e XIX a peste bubó- são linfomas não-Hodgkin. É comum a do-
mam, originando uma linfangite que se ma- nica foi responsável por muitas mortes na Eu- ença ter início com o aparecimento de mas-
nifesta por zonas de eritema linear, visíveis ropa. Hoje surgem poucos casos, devido à sas constituídas por adenopatias dolorosas.
a partir do local da infecção e que alastram melhoria das condições sanitárias e à desco- O sistema imunitário está deprimido e o do-
em seu redor. Se os microrganismos passa- berta dos antibióticos. A elefantíase é provocada ente tem maior susceptibilidade às infec-
rem dos vasos e dos gânglios linfáticos para por vermes parasitas filiformes (Wuchereria ções. O aumento de volume dos gânglios lin-
o sangue, podem conduzir ao estabeleci- bancrofti). Os vermes adultos alojam-se nos fáticos pode comprimir as estruturas vizi-
mento de uma septicemia (ver capítulo 19). vasos linfáticos, obstruindo o fluxo linfático. A nhas e determinar o aparecimento de outros
A peste bubónica e a elefantíase são acumulação de líquido no espaço intersticial sinais ou sintomas. Felizmente, o tratamen-
doenças do sistema linfático. A peste bu- e nos vasos linfáticos, daí resultante, pode pro- to combinado de fármacos com radiações é
bónica é causada por uma bactéria (Yersinia vocar edema permanente e aumento de volu- eficaz em muitos doentes com linfoma.
12. Quais são as funções dos gânglios linfáticos? Como são A especificidade e a memória são características da imuni-
desempenhadas? Defina centro germinativo. dade adaptativa, mas não da imunidade inata. A especificidade
13. Onde se localiza o baço? Enumere os dois componentes da é a capacidade que o sistema imunitário tem de reconhecer uma
polpa branca e da polpa vermelha. determinada substância. Por exemplo, enquanto que a imunida-
14. Explique os fluxos de sangue rápido, intermédio e lento no de inata pode actuar contra a generalidade das bactérias, a imu-
baço. nidade adaptativa distingue diferentes tipos de bactérias. A me-
15. Quais são as três funções do baço? mória é a capacidade que o sistema imunitário tem de recordar
16. Qual é a localização do timo? Descreva a sua estrutura. Em contactos prévios com determinada substância e, assim, de rea-
que consiste a barreira hemato-tímica? Qual a sua relação gir mais rapidamente.
com as funções do timo? Na imunidade inata, de cada vez que o organismo é expos-
to a uma substância a resposta é a mesma, uma vez que não exis-
te memória relativamente a exposições anteriores. Por exemplo,
Imunidade sempre que uma bactéria entra no corpo, ela é fagocitada com a
mesma velocidade e eficácia. Na imunidade adaptativa, a res-
Objectivo posta durante a segunda exposição é mais rápida e mais forte do
■ Descrever os dois principais tipos de imunidade. que durante a primeira, pois o sistema imunitário relembra a
primeira exposição à bactéria. Por exemplo, a seguir à primeira
A imunidade é a capacidade de resistir às agressões de subs-
exposição à bactéria, o organismo pode levar vários dias a de-
tâncias estranhas, como microrganismos e substâncias químicas
gradá-la. Durante este período a bactéria lesa os tecidos, com o
nocivas. A imunidade divide-se em: imunidade inata, também
consequente aparecimento dos sintomas de doença. Contudo,
chamada resistência não-específica; e em imunidade adaptativa,
após a segunda exposição à mesma bactéria, a resposta é mais
também chamada imunidade específica. Na imunidade inata, o
rápida e eficaz. As bactérias são destruídas antes do aparecimen-
organismo reconhece e destrói algumas substâncias estranhas,
to dos sintomas e diz-se que a pessoa está imune ou imunizada.
mas a resposta é sempre a mesma em cada exposição. Na imuni-
dade adaptativa, o organismo reconhece e destrói as substâncias 17. Defina os conceitos de imunidade, especificidade e
estranhas mas, a resposta aumenta cada vez que se dá uma expo- memória.
sição ao agente agressor. 18. Quais as diferenças entre a imunidade inata e adaptativa?
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 793
(*) Letras da sigla em língua inglesa para Membrane Attack Complex (N.T.).
794 Parte 4 Regulação e Manutenção
Via clássica
Complexo
antigénio-anticorpo
C4 C4 activada
Via alternativa
Substâncias estranhas
e factores B, D e P
C2 C2 activada
Estabilização
de C3 activada
As proteínas C3 a C7 C3 C3 activada
do complemento
promovem a
fagocitose, a
inflamação e a
quimiotaxia (atraem C5 activada C5
células imunitárias).
Podem ser activadas
pela via clássica ou
pela alternativa.
C6 activada C6
C7 activada C7
C8 activada C8
C9 activada C9
Membrana As proteínas
celular do complemento
formam um
complexo de
ataque à membrana
As proteínas C5 a C9 (amarelo)
combinam-se para formar um orifício
na membrana da células alvo,
provocando a sua lise.
óssea vermelha e no tecido linfático, depois são libertados no fígado os vasos sanguíneos, alargam e formam espaços – os seios
sangue e transportados a todo o organismo. Para serem eficazes, – semelhantes aos dos gânglios linfáticos. Nos seios, as células
os leucócitos têm de ser conduzidos até aos tecidos onde são reticulares produzem uma rede fina de fibras reticulares que
necessários. Os factores quimiotácticos são componentes de relenta os fluxos, sanguíneo ou linfático, e forma uma grande
microrganismos ou produtos químicos, libertados pelas células superfície para os macrófagos se fixarem, para além de que estes
dos tecidos, que actuam como sinais químicos para atrair leucó- também existem no seu revestimento endotelial.
citos. São factores quimiotácticos importantes que se difundem Como os macrófagos das fibras reticulares e do revestimen-
a partir do local onde são libertados: o complemento, os leuco- to endotelial dos seios, fazem parte dos primeiros macrófagos
trienos, as cininas e a histamina. Os leucócitos podem detectar estudados, estas células eram referidas como o sistema retículo-
pequenas diferenças na concentração dos factores quimiotácticos, endotelial. Hoje, sabe-se que os macrófagos têm origem nos
deslocando-se daqueles onde a sua concentração é menor, para monócitos e que existem em diversos locais, para além dos seios.
aqueles onde ela é maior. Assim, deslocam-se para a fonte dos Como os monócitos e os macrófagos têm um só núcleo, não-
mediadores, uma capacidade chamada quimiotaxia. Os leucó- lobado, são hoje denominados sistema fagocitário mononu-
citos podem-se deslocar, por movimento amebóide, pela super- clear. Por vezes, são dados nomes específicos aos macrófagos,
fície das células, podem passar entre as células e, por vezes, pas- como: macrófagos alveolares (dust cells), nos pulmões; células
sam directamente através de outras células. de Kupffer, no fígado; e, microglia, no sistema nervoso central.
A fagocitose é a endocitose e a destruição de partículas
pelos fagócitos (ver figura 3.21). Essas partículas podem ser mi- Basófilos, Mastócitos e Eosinófilos
crorganismos, parte destes, substâncias estranhas ou células Os basófilos têm origem na medula óssea vermelha e são glóbulos
mortas do organismo. As células fagocitárias mais importantes brancos móveis que podem deixar o sangue e penetrar nos tecidos
são os neutrófilos e os macrófagos. infectados. Os mastócitos, que têm a mesma origem, são células
imóveis que residem no tecido conjuntivo, principalmente perto
Neutrófilos dos capilares. Tal como os macrófagos, os mastócitos localizam-se
Os neutrófilos são pequenas células fagocitárias que a medula nos locais de potencial entrada de microrganismos no corpo: a pele,
óssea vermelha produz, em grande quantidade, e liberta para o os pulmões, o tubo digestivo e nas vias genito-urinárias.
sangue onde circulam durante poucas horas. Por dia, passam do Os basófilos e os mastócitos podem ser activados pela imu-
sangue através das paredes do tubo digestivo que protegem, por nidade inata (por exemplo, pelo complemento), ou pela imuni-
fagocitose, cerca de 126 biliões de neutrófilos que depois são eli- dade adaptativa (ver parte relativa aos anticorpos). Quando ac-
minados como parte do bolo fecal. Normalmente, são as pri- tivados libertam substâncias químicas, como a histamina e os
meiras células a entrar nos tecidos infectados e, muitas vezes, leucotrienos, que induzem uma reacção inflamatória ou que ac-
morrem após um único episódio de fagocitose. tivam outros mecanismos, como por exemplo, contracção do
Os neutrófilos também libertam enzimas lisosómicas, que músculo liso brônquico.
matam microrganismos e que também lesam e inflamam os te- Os eosinófilos são produzidos na medula óssea vermelha,
cidos. O pus é uma acumulação de neutrófilos, microrganismos entram no sangue e, em poucos minutos, penetram nos tecidos.
mortos, resíduos dos tecidos necrosados e líquido. As enzimas que eles libertam desdobram as substâncias quími-
cas libertadas pelos basófilos e pelos mastócitos. Então, em si-
Macrófagos multâneo com o início da inflamação, são activados mecanis-
Os macrófagos são monócitos que deixam o sangue e entram mos que travam e reduzem a reacção inflamatória. Este processo
nos tecidos onde aumentam cerca de cinco vezes o seu tamanho, é semelhante ao da coagulação sanguínea, no qual os mecanis-
assim como o número de lisosomas e de mitocôndrias. São gran- mos que evitam a formação de coágulos e favorecem a sua des-
des células fagocitárias que têm uma vida mais longa que os truição, são activados à medida que se forma o coágulo (ver
neutrófilos e podem fagocitar partículas maiores e em maior capítulo 19). Nos doentes com infecções parasitárias, ou com
quantidade do que aqueles. Normalmente, os macrófagos che- reacções alérgicas com um grande componente inflamatório, o
gam aos tecidos a seguir aos neutrófilos e são responsáveis pela número de eosinófilos está muito elevado. Os eosinófilos tam-
maioria da fagocitose nos estádios mais avançados de infecção e bém segregam enzimas que matam alguns parasitas.
pela remoção de neutrófilos mortos e de outros resíduos celula-
res. Para além desta função os macrófagos produzem diversas Células Natural Killer
substâncias, como interferãos, prostaglandinas e complemento, As células natural killer (NK), um tipo de linfócitos produzido
que reforçam a resposta imunitária. na medula óssea vermelha, correspondem a 15% dos linfócitos.
Os macrófagos localizam-se abaixo das superfícies livres As células NK reconhecem tipos de células, como células neo-
do organismo, como a pele (derme), a hipoderme, as mucosas e plásicas ou células infectadas por vírus em geral, em vez de reco-
as serosas e circundam os vasos sanguíneos e linfáticos. Nestes nhecerem células neoplásicas específicas ou células infectadas por
locais, os macrófagos protegem, sequestrando e destruindo os um determinado vírus. Por este motivo e porque não têm me-
microrganismos que tentam entrar nos tecidos. mória, as células NK são classificadas como fazendo parte da
Se os microrganismos conseguem entrar no sangue ou no imunidade inata. As células NK matam as células alvo de diver-
sistema linfático, os macrófagos aguardam-nos em locais espa- sas formas, incluindo a libertação de substâncias que danificam
çosos, os seios, para os fagocitar. No baço, na medula óssea e no a membrana celular, provocando a lise da célula.
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 797
Quadro 22.3 Comparação entre a Imunidade Inata, Imunidade Mediada por Anticorpos e Imunidade
Mediada por Células
Imunidade Mediada
Características Imunidade Inata por Anticorpos Imunidade Mediada por Células
Células principais Neutrófilos, eosinófilos, basófilos, mastócitos, Células B Células T
monócitos e macrófagos
Origem das células Medula óssea vermelha Medula óssea vermelha Medula óssea vermelha
Local de maturação Medula óssea vermelha (neutrófilos, Medula óssea vermelha Timo
eosinófilos, basófilos e monócitos) e
tecidos (mastócitos e macrófagos)
Localização das Sangue, tecido conjuntivo e tecido linfático Sangue e tecido linfático Sangue e tecido linfático
células maduras
Principais acções Resposta inflamatória e fagocitose Protecção contra antigénios Protecção contra antigénios intracelulares
extracelulares (bactérias, (vírus, bactérias e fungos intracelulares)
toxinas, parasitas e vírus e tumores: regulam a imunidade
exteriores às células) mediada por anticorpos e as respostas
imunitárias mediadas por células
(células T helper e células T
supressoras)
células pré-T que migram pelo sangue até ao timo, onde se divi-
dem e maturam, dando origem a células T. O timo produz
Célula estaminal hormonas, como a timosina, que estimula a maturação das cé-
Medula óssea vermelha
Célula pré-B lulas T. Outras células estaminais também produzem células pré-
B, que são transformadas na medula óssea vermelha em células
Célula pré-T
Célula B B (figura 22.11). Ocorre um processo de selecção positiva que
tem como consequência a sobrevivência das células pré-B e pré-
Circulação T que têm competência para a resposta imunitária. As que não
são competentes não sobrevivem.
Circulação
As células B e T que podem responder a antigénios, são com-
postas por pequenos grupos de linfócitos semelhantes e consti-
tuem os clones. Embora cada um dos clones só possa responder
Célula pré-T Célula B a um determinado antigénio, o número de clones existente é de
tal modo elevado que o sistema imunitário pode reagir à maio-
Célula T
Célula T ria das moléculas existentes. Alguns dos clones também podem
Circulação reagir a auto-antigénios. Alguns destes clones são eliminados ou
Gânglio inactivados por um processo de selecção negativa, dado que esta
Timo infático
resposta poderia destruir as células do próprio organismo. Ape-
Figura 22.11 Origem e Maturação das Células B e T sar de a maioria deste processo ter lugar durante o desenvolvi-
Tanto as células B como as T têm origem na medula óssea vermelha. As mento pré-natal, continua-se ao longo da vida (ver “Inibição dos
células B amadurecem na medula vermelha e as células T no timo. Os dois linfócitos”).
tipos de células deslocam-se para outros locais do tecido linfático onde se As células B são libertadas a partir da medula óssea verme-
podem dividir e aumentar em número, em resposta aos antigénios.
lha, as células T são libertadas a partir do timo e, ambos os tipos
de células, são transportados pelo sangue até ao sistema linfáti-
sanguíneas transferidas de um animal imunizado poderiam ser co. Normalmente, existem cerca de cinco células T por cada cé-
responsáveis pela imunização de outro, este processo foi deno- lula B no sangue. Esses linfócitos têm um período de vida que
minado de imunidade mediada por células ou celular. varia, desde poucos meses até vários anos, e circulam, continua-
Hoje, sabe-se que a imunidade resulta da actividade de cer- mente, entre o sangue e os tecidos linfáticos. Os antigénios podem
tos linfócitos, as células B e T (ver quadro 22.2). As células B entrar em contacto com os linfócitos e activá-los, determinando
estimulam as células que produzem proteínas específicas, os a divisão celular, aumentando o número de linfócitos que podem
anticorpos, que circulam no plasma. Como os anticorpos são reconhecer o antigénio. Estes linfócitos podem circular no san-
os responsáveis, a imunidade humoral hoje denomina-se imu- gue e na linfa para irem ao encontro de antigénios nos tecidos de
nidade mediada por anticorpos. todo o corpo.
As células T são responsáveis pela imunidade mediada por Os órgãos linfáticos primários, a medula óssea vermelha
células. Existem diversas sub-populações de células T e cada uma e o timo, são os locais onde os linfócitos amadurecem, transfor-
delas é responsável por um aspecto específico da imunidade me- mando-se em células funcionantes. Os órgãos e tecidos linfáti-
diada por células. Por exemplo, as células T efectoras, como as cos secundários são os locais onde os linfócitos interagem entre
células T citotóxicas e as células T de hipersensibilidade retar- si, com as células apresentadoras de antigénios e com os anti-
dada, são responsáveis pelos efeitos da imunidade mediada por génios para produzir uma resposta imunitária. O grupo dos ór-
células; enquanto que as células T reguladoras, como as células T gãos e tecidos linfáticos secundários é composto pelo tecido lin-
helper e as células T supressoras, podem regular a actividade da fático difuso, pelos nódulos linfáticos, pelas amígdalas, pelos
imunidade mediada por anticorpos e da imunidade mediada por gânglios linfáticos e pelo baço.
células. 31. Descreva a origem e o desenvolvimento das células B e T.
O quadro 22.3 resume e compara os principais aspectos da 32. O que são clones de linfócitos? Diferencie os processos de
imunidade inata, da imunidade mediada por anticorpos e da selecção positiva e negativa.
imunidade mediada por células. 33. Quais são os principais órgãos e tecidos linfáticos? E os
29. Defina antigénio e hapteno. Distinga um antigénio secundários?
estranho de um auto-antigénio.
30. O que são reacções alérgicas? E doenças auto-imunes? Activação dos Linfócitos
Os linfócitos podem ser activados pelos antigénios, de diferentes
Origem e Maturação dos Linfócitos formas, dependendo dos tipos de linfócito e de antigénio envol-
Todas as células sanguíneas, incluindo os linfócitos, derivam das vidos. Contudo, apesar destas diferenças, existem dois princípi-
células indiferenciadas (stem cells, progenitoras ou estaminais) os gerais da activação linfocitária: (1) os linfócitos têm de ser
da medula óssea vermelha (ver capítulo 19). Este processo ini- capazes de reconhecer o antigénio; e, (2) após o reconhecimen-
cia-se durante o desenvolvimento embrionário e continua ao to, o número de linfócitos tem de aumentar para fazer uma des-
longo da vida. Algumas das células progenitoras dão origem a truição eficaz do antigénio.
800 Parte 4 Regulação e Manutenção
Determinantes e Receptores Antigénicos tamente a um antigénio dentro de uma célula. Por exemplo, os
Para que se dê uma reacção imunitária adaptativa, os linfócitos vírus replicam-se dentro das células, dando origem a proteínas
têm de reconhecer um antigénio. Contudo, os linfócitos não virais que são antigénios estranhos. Algumas destas proteínas
interagem com todo o antigénio, mas com regiões específicas de virais desdobram-se no citoplasma. Os fragmentos proteicos
um antigénio reconhecido pelo linfócito, os determinantes an- entram no retículo endoplasmático rugoso e combinam-se com
tigénicos ou epitopos. Cada antigénio tem muitos determinantes antigénios de histocompatibilidade major de classe I (MHC I),
antigénicos diferentes (figura 22.12). Todos os linfócitos de um clo- para formar complexos que vão para o aparelho de Golgi e pos-
ne, têm à superfície proteínas idênticas, os receptores antigé- teriormente, serem distribuídos na superfície da célula (ver
nicos, que se combinam com um determinante antigénico espe- capítulo 3).
cífico. A resposta do sistema imunitário a um antigénio com um Na superfície da célula, o complexo antigénio-antigénio do
determinado determinante antigénico, é semelhante ao modelo complexo de histocompatibilidade major classe I (complexo
chave-fechadura para as enzimas (ver capítulo 2) e, qualquer antigénio-MHC I) pode-se ligar a um receptor da célula T, acti-
determinante antigénico só se pode combinar com um receptor vando a célula T. Tal como se verá, à frente neste capítulo, esta
antigénico específico no linfócito. Por exemplo, os receptores activação pode conduzir à destruição da célula, o que determina
das células T são compostos por duas cadeias polipeptídicas que o fim da replicação viral. Então o complexo antigénio-MHC I
se subdividem, numa região constante e numa região variável funciona como um sinal ou “bandeira vermelha” que induz o
(figura 22.13). A região variável pode-se ligar a um antigénio e, sistema imunitário à destruição da célula em causa. Basicamente,
receptores de células T diferentes reagem a antigénios diferentes a célula emite um sinal que diz “mata-me!”. Diz-se que este é um
porque as suas regiões variáveis também diferem. Os receptores processo MHC limitado, uma vez que é necessária a interven-
das células B são compostos por quatro cadeias polipeptídicas, ção de um antigénio e do antigénio MHC próprio do organis-
com duas regiões variáveis iguais. São um tipo de anticorpo que mo.
vai ser detalhadamente descrito, mais à frente, neste capítulo. E X E R C Í C I O
No rato A, as células T podem reagir ao vírus X. Se essas células T
Antigénios do Complexo Major de forem transferidas para um rato B que está infectado pelo referido
Histocompatibilidade vírus, será que as células T vão reagir ao vírus? Explique.
Embora alguns antigénios se liguem aos seus receptores e acti-
O mesmo processo que conduz os fragmentos das proteí-
vem, directamente, as células B e algumas das células T, a maio-
nas estranhas à superfície das células, pode transportar fragmen-
ria da activação dos linfócitos tem a intervenção de glicoproteínas
tos de auto-proteínas, inadvertidamente (ver figura 22.14a).
da superfície das células, os antigénios do complexo major de
Como acontece no metabolismo normal das proteínas, as célu-
histocompatibilidade (MHC)(*). Estes antigénios fixam-se na
las desdobram as proteínas velhas e sintetizam outras novas. Al-
membrana celular e têm uma região variável que se pode ligar a
guns dos fragmentos de auto-proteínas, resultantes daquele pro-
auto-antigénios e a antigénios estranhos.
Os antigénios do complexo major de histocompati-
bilidade de classe I (MHC I), encontram-se nas células nucleadas Local de ligação
do antigénio
e têm como função, expressar os antigénios produzidos dentro
da célula, na superfície celular (figura 22.14a). Esta etapa é ne-
cessária porque o sistema imunitário não pode responder direc- Região variável
Antigénio
Membrana celular
Interior
da célula
(*) Letras da sigla em língua inglesa para Major Histocompatibility Complex (N.T.).
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 801
cesso, podem combinar-se com antigénios MHC classe I e ser As células apresentadoras de antigénios, estão especializadas
expressos na superfície da célula tornando-se auto-antigénios. em captar antigénios estranhos, em processar antigénios e em levar
Normalmente, o sistema imunitário não reage aos auto-an- os antigénios MHC classe II a apresentar os antigénios estranhos a
tigénios combinados com os antigénios MHC, porque os lin- outras células do sistema imunitário (figura 22.14b). Por exemplo,
fócitos que poderiam responder, foram inactivados ou elimina- o complexo antigénio-MHC II pode-se ligar ao receptor das célu-
dos (ver inibição dos linfócitos). las T. Como neste processo é necessária a intervenção do antigénio
Os antigénios MHC classe II (MHC II) encontram-se nas e do antigénio MHC classe II do indivíduo, ele é MHC limitado. Ao
células apresentadoras de antigénios, onde se incluem as célu- contrário dos antigénios MHC classe I, este tipo de expressão não
las B, os macrófagos, os monócitos e as células dendríticas. As leva à destruição da célula apresentadora do antigénio; em vez dis-
células dendríticas são grandes células móveis, com grandes pro- so, o complexo antigénio-MHC II é um sinal que estimula outras
longamentos citoplasmáticos. Estão dispersas pela maioria dos células do sistema imunitário a reagir contra o antigénio. Este tipo
tecidos (excepto no cérebro), tendo a sua maior concentração de expressão celular, é como Paul Revere que deu o alarme para a
nos tecidos linfáticos e na pele. As células dendríticas da pele são milícia se armar e organizar. A milícia saiu e matou o inimigo. Por
muitas vezes chamadas células de Langerhans. exemplo, quando os linfócitos do clone da célula B, que podem
1. As proteínas estranhas ou
autoproteínas são
processadas no citoplasma
Fragmentos
em fragmentos que são
proteicos
antigénios. 3
(antigénios) 2
2. Os antigénios são Antigénio MHC
transportados até ao retículo classe I
endoplasmático rugoso.
3. Os antigénios combinam-se 1
com antigénios MHC classe I.
4. O complexo antigénio-MHC
classe I é transportado para o
aparelho de Golgi, colocado 4
dentro de uma vesícula e Membrana Lúmen Antigénio estranho
transportado para a Proteína 5
membrana celular.
5. Os antigénios estranhos Retículo
combinados com antigénios endoplasmático
MHC classe I estimulam a rugoso Auto-antigénio
destruição celular. Aparelho
6. Os auto-antigénios de Golgi 6
combinados com antigénios
MHC classe I não estimulam a
destruição celular.
(a)
1. O antigénio extracelular
não-processado é ingerido
por endocitose e fica dentro Vesícula
de uma vesícula. com antigénios
2. O antigénio é desdobrado MHC classe II
em fragmentos para formar
antigénios processados.
3. As vesículas que contêm
os antigénios processados 2
fundem-se com as vesículas
produzidas pelo aparelho 3
1
de Golgi que contêm antigénios
MHC classe II. O antigénio Vesícula
processado e o antigénio MHC com
classe II combinam-se. antigénio
4. O complexo antigénio-MHC processado
Antigénio
classe II é transportado para 4
não processado
a membrana celular. Antigénio
5. O complexo antigénio-MHC MHC classe II
classe II expresso pode
estimular as células imunitárias.
Antigénio
processado
5
(b)
reconhecer o antigénio, entram em contacto com o complexo an- e em outros processos. O quadro 22.4 enumera algumas citocinas
tigénio-MHC II, eles são estimulados a dividirem-se. As funções importantes, bem como as suas funções.
destes linfócitos, tal como a produção de anticorpos, conduzem à Há certos pares de moléculas de superfície (marcadores de
destruição do antigénio. superfície) que também podem estar implicados na co-estimulação
(figura 22.15b). Quando a molécula de superfície de uma célula se
34. Defina determinante antigénico e receptor do antigénio.
combina com uma molécula de superfície de outra, a combinação
Como é que estes se relacionam?
pode funcionar como um sinal que estimula a resposta por parte
35. Que tipo de antigénios são expressos pelos antigénios
de uma dessas células; ou, a combinação pode manter as células
MHC classe I e classe II?
juntas. Normalmente, são necessários vários tipos diferentes de
36. Que tipo de células expressam complexos antigénio-MHC I
moléculas de superfície para induzir uma reacção. Por exemplo,
e antigénio-MHC II e quais as consequências?
uma molécula chamada B7 nos macrófagos, tem de se ligar a uma
37. Defina o processo MHC limitado.
outra, à CD28 das células T helper, antes que estas possam reagir
E X E R C Í C I O com o antigénio levado pelo macrófago. Para além disso, as células
Como é que a eliminação do antigénio pára a produção de anticorpos? T helper têm uma glicoproteína, a CD4, que ajuda as células T helper
a ligarem-se ao macrófago, através da ligação aos antigénios MHC
Co-estimulação classe II. É por esta razão que as células T helper são, por vezes,
A combinação de um complexo antigénio-MHC II com um recep- denominadas células CD4 ou células T4. Pela mesma ordem de
tor de antigénio é, normalmente, o primeiro sinal necessário para razões, as células T citotóxicas, também se podem chamar células
induzir a resposta de uma célula B ou T. Em muitos casos, também CD8 ou células T8, dado terem uma glicoproteína chamada CD8,
é necessária a co-estimulação por outros sinais. A co-estimulação que ajuda a ligar as células T citotóxicas às células do organismo
pode ser feita por moléculas libertadas pelas células e por molécu- que têm antigénios MHC classe I. A designação CD, significa “cluster
las ligadas à superfície das células. As citocinas são proteínas ou differenciation” (diferenciação por grupos), que é um sistema utili-
péptidos segregadas por uma célula, como um regulador das célu- zado para classificar muitas moléculas de superfície.
las vizinhas, que promovem a co-estimulação (figura 22.15a). As
citocinas produzidas pelos linfócitos, são muitas vezes chamadas Proliferação de Linfócitos
linfocinas. As citocinas estão implicadas na regulação da imunida- Antes da exposição a um antigénio, o número de linfócitos num
de, da inflamação, da reparação dos tecidos, no crescimento celular clone é demasiadamente pequeno para produzir uma reacção
Receptor
da citocina
Antigénio
MHC
classe II Macrófago Célula
T helper
CD4
B7 CD28
Beta-interferão (βIFN) Evita a replicação viral, inibe o crescimento celular e diminui a actividade do antigénio MHC das classes I e II. É
segregado pelos fibroblastos infectados por vírus.
Gama-interferão (γIFN) Cerca de 20 proteínas diferentes que activam os macrófagos e as células natural killer (NK); estimulam a imunida-
de adaptativa, aumentando a actividade dos antigénios MHC classe I e II e evita a replicação viral. É segregado
pelas células T helper, citotóxicas T e natural killer.
Interleucina-1 (IL-1) Co-estimulação das células B e T; estimulam a inflamação, através da produção de prostaglandinas, e induzem a
febre actuando no hipotálamo (pirogénios). É segregada pelos macrófagos, pelas células B e pelos fibroblastos.
Interleucina-2 (IL-2) Co-estimulação das células B e T, activação dos macrófagos e das células NK. É segregada pelas Células T helper.
Interleucina-4 (IL-4) Tem papel nas reacções alérgicas, pela activação das células B, conduzindo à produção de IgE. É segregada pelas
células T helper.
Interleucina-5 (IL-5) Parte da reacção contra parasitas, através da estimulação da produção de eosinófilos. É segregada pelas células T
helper.
Interleucina-8 (IL-8) Factor quimiotáctico que estimula a inflamação, atraindo neutrófilos e basófilos. É segregada pelos macrófagos.
Interleucina-10 (IL-10) Inibe a secreção de γ-interferão e de interleucinas. É segregada pelas células T supressoras.
Perforina Forma um orifício nas células alvo, determinando a sua lise. É segregada pelas T citotóxicas.
Factor de necrose tumoral (TNF)** Activa os macrófagos e conduz ao aparecimento de febre (pirogénios). É segregado pelos macrófagos.
* Algumas citocinas foram denominadas de acordo com o teste laboratorial que foi inicialmente utilizado para as identificar. Hoje, esses nomes raramente descrevem bem as
actuais funções da citocina.
** Sigla da nomenclatura em língua inglesa para Tumor necrosis factor (N. T.).
eficaz contra o antigénio. A exposição a um antigénio vai deter- receptores da célula B que se podem ligar a esse antigénio.
minar um aumento do número de linfócitos. Primeiro, dá-se a As células B utilizam complexos antigénio-MHC classe II
elevação do número de células T helper. Este é um acontecimen- para apresentar os antigénios às células T helper produzi-
to importante, uma vez que o grande número de células T helper das durante o processo referido no ponto 1. Essas células
a responder ao antigénio, pode encontrar e estimular células B estimulam as células B a dividirem-se e a produzir
ou T efectoras. Em seguida, aumenta o número de células B ou T anticorpos. O aumento do número de células que produ-
efectoras. Este é também um facto importante, uma vez que es- zem anticorpos pode determinar uma resposta
tas células são as responsáveis pela resposta imunitária que des- imunitária que destrua os antigénios (ver “Efeitos dos
trói o antigénio. anticorpos”, mais à frente neste capítulo.)
38. Defina co-estimulação. Refira duas situações nas quais ela
1. Proliferação das células T helper (figura 22.16). As células
possa ocorrer.
apresentadoras de antigénios utilizam antigénios MHC
39. Porque é que as células T helper são, por vezes, denomina-
de classe II para apresentar os antigénios processados às
das CD4 ou células T4? Porque é que as células T citotóxicas
células T helper. Só as células T helper com os receptores
são, por vezes, denominadas CD8 ou células T8?
da célula T que se podem ligar ao antigénio respondem.
40. Descreva como é que as células apresentadoras de
Estas células T helper respondem aos complexos
antigénios estimulam o aumento do número de células T
antigénio-MHC classe II e à co-estimulação dividindo-se.
helper. Porque é que este é um facto importante?
Assim, o número de células T helper que reconhecem o
41. Descreva como é que as células T helper estimulam um
antigénio aumenta.
aumento do número de células B ou T. Porque é que este é
2. Proliferação e activação das células B ou das células T
um facto importante?
efectoras. Normalmente, o processo de proliferação e a
activação das células B ou das células T efectoras envolve
as células T helper. Este processo está esquematizado na Inibição dos Linfócitos
figura 22.17 para as células B, mas para as células T A tolerância é um estado no qual os linfócitos não respondem
efectoras o processo é semelhante. O clone das células B (estado de não-reacção) a um antigénio específico. Embora os
que pode reconhecer um determinado antigénio possui antigénios estranhos possam induzir tolerância, a função mais
804 Parte 4 Regulação e Manutenção
Antigénio
Macrófago
1
1. As células apresentadoras de
antigénios, como os Antigénio
macrófagos, captam, processado
processam e expressam
antigénios na superfície das
células.
4. A interleucina-1 estimula a
célula T helper, para segregar
a interleucina-2 e para Interleucina-2
produzir os respectivos
receptores. Célula T helper 4
7. Aumento do número de 6 7
células T helper pode facilitar
a activação das células B ou
das células T efectoras.
importante da tolerância é evitar que o sistema imunitário reaja imaturos são expostos aos auto-antigénios, este processo
contra os auto-antigénios. É evidente a necessidade de manter a elimina os linfócitos auto-reactivos. Para além disso, os
tolerância para evitar o desenvolvimento de uma doença auto- linfócitos imaturos que não são eliminados durante o
imune. A tolerância pode ser induzida de diversas formas. processo de maturação e se tornam maduros, se são auto-
reactivos, podem ainda ser eliminados de formas ainda
1. Eliminação dos linfócitos auto-reactivos. Durante o não muito bem conhecidas.
desenvolvimento pré-natal e após o nascimento, as 2. Prevenção da activação dos linfócitos. Normalmente, para
células estaminais da medula óssea vermelha e do timo, que os linfócitos sejam activados são necessários dois
dão origem a linfócitos imaturos que maturam, ficando estímulos: (1) ligação do complexo antigénio-MHC com
capazes de desenvolver uma resposta imunitária. Quando um receptor de antigénio e (2) co-estimulação. Se um
os linfócitos imaturos são expostos aos antigénios, destes estímulos não ocorrer cessa a activação dos
morrem, em vez de responderem de uma forma que linfócitos. Por exemplo, bloquear, modificar ou eliminar
conduza à eliminação do antigénio. Como os linfócitos um receptor de antigénio, evita a activação. A anergia,
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 805
2
1. Antes de uma célula B poder
ser activada por uma T helper, Receptor Antigénio Antigénio Receptor
a célula B tem de processar o da célula B MHC processado da célula T
mesmo antigénio que activou classe II
a T helper. O antigénio liga-se
a um receptor da célula B e
ambos são introduzidos na
célula por endocitose. 1
Célula B Célula T helper
2. A célula B utiliza um antigénio
MHC classe II, para apresentar
o antigénio processado à
célula T helper. Antigénio
não processado CD4
4. As células B activadas
dividem-se, as células 4
descendentes também, e
assim sucessivamente, Célula B Célula B
produzindo eventualmente um "filha" "filha"
elevado número (a figura só
mostra duas células).
5. O número aumentado de
células B produz anticorpos,
que fazem parte da resposta 5
imunitária mediada por
As células "filhas"
anticorpos que elimina
continuam a
antigénios.
dividir-se e a
produzir
anticorpos
que significa “sem trabalhar”, é uma situação de inactivi- 3. Activação das células T supressoras. As células T
dade, na qual uma célula B ou T não responde a um supressoras, são um grupo de células mal conhecido que
antigénio. A anergia desenvolve-se quando um complexo são definidas pela sua capacidade para suprimirem as
antigénio-MHC se liga a um receptor de antigénio e não respostas imunitárias. É possível que as células T
existe co-estimulação. Por exemplo, se uma célula T se supressoras sejam sub-populações das células T helper e
encontra com um auto-antigénio, numa célula que não das células T citotóxicas. As células T helper (supressoras)
possa proporcionar co-estimulação, ela é desactivada. É libertam citocinas supressoras ou as células T
como se só as células “apresentadoras” de antigénios (citotóxicas) matam as células apresentadoras de
pudessem proporcionar co-estimulação. antigénios.
42. Defina tolerância. Enuncie três formas pelas quais ela se
Inibição e Estimulação da Imunidade estabelece.
A diminuição da produção ou da actividade das citocinas, pode
deprimir o sistema imunitário. Por exemplo, a ciclosporina, um fármaco
utilizado para prevenir a rejeição de órgãos transplantados, inibe a Imunidade Mediada por Anticorpos
produção de interleucina-2. Pelo contrário, podem ser utilizadas A exposição do organismo a um antigénio, pode conduzir à acti-
interleucinas obtidas por engenharia genética para estimular o sistema vação das células B e à produção de anticorpos responsáveis pela
imunitário. A administração de interleucina-2 já promoveu a destruição
destruição dos antigénios. Dado que os anticorpos se localizam
de células neoplásicas, nalguns casos, aumentando a actividade das
nos fluidos corporais, a imunidade mediada por anticorpos é
células T efectoras.
eficaz contra os antigénios extracelulares, como bactérias e ví-
806 Parte 4 Regulação e Manutenção
Locais de ligação
aos antigénios
antigénios.
Cadeia pesada
Reacções de Hipersensibilidade mentos (por exemplo penicilina) e as picadas longadas e as proteínas utilizadas para in-
As reacções imunitárias e as de hipersen- de insectos, são a causa mais frequente. Os duzir imunidade artificial passiva. Surgem
sibilidade (alergia) processam-se de forma mediadores químicos libertados pelos mas- sintomas como febre, adenopatias, espleno-
idêntica, não se conseguindo diferenciar os tócitos e pelos basófilos, provocam uma megália e artrite. Os sintomas de anafilaxia
mecanismos envolvidos numas e noutras. vasodilatação sistémica, hipotensão e insufi- como a urticária também podem ocorrer,
Ambas requerem a exposição ao antigénio ciência cardíaca. Também podem ocorrer sin- porque o envolvimento da IgE faz parte da
e a subsequente estimulação da imunida- tomas da febre dos fenos, urticária e da asma. doença do soro. Se forem removidos do or-
de mediada por anticorpos e/ou mediada Nas reacções citotóxicas, a IgG ou a IgM ganismo, pelo rim, muitos complexos
por células. Se a imunidade ao antigénio se combinam-se com o antigénio na superfície de anticorpo-antigénio circulantes, pode surgir
estabelece, uma exposição ulterior ao mes- uma célula, conduzindo à activação do com- uma glomerulonefrite mediada por imuno-
mo antigénio, determina uma resposta plemento e à subsequente lise da célula. Uma complexos, na qual os vasos sanguíneos re-
imunitária que elimina o antigénio, não reacção citotóxica contra uma bactéria pode nais são destruídos, surgindo insuficiência
ocorrendo o aparecimento de sintomas. Nas ser protectora mas, contra uma célula huma- renal.
reacções de hipersensibilidade, o antigénio na pode ser prejudicial. São exemplos, as reac-
é chamado alergénio e, as exposições ulte- ções transfusionais, provocadas por incompa- Hipersensibilidade Retardada
riores ao mesmo alergénio, estimulam sen- tibilidade de grupos sanguíneos, a doença A hipersensibilidade retardada é mediada
sivelmente o mesmo processo que ocorre hemolítica do recém-nascido (ver capítulo 19) pelas células T e os sintomas levam algumas
durante a resposta imunitária normal. Con- e alguns tipos de doenças auto-imunes. horas ou dias a aparecer. Tal como na hiper-
tudo, o processo que elimina o alergénio As doenças do imunocomplexo surgem sensibilidade imediata, a hipersensibilidade
também produz efeitos colaterais indesejá- quando se formam muitos imunocomplexos. retardada consiste numa exacerbação agu-
veis, como uma reacção inflamatória muito Os imunocomplexos são combinações de da da reacção normal do sistema imunitário.
exacerbada. Esta resposta imunitária pode antigénios solúveis com IgG ou IgM. Quando A exposição ao alergénio provoca a activa-
ser mais prejudicial do que benéfica e pode existem muitos imunocomplexos é activado ção das células T e a produção de citocinas.
induzir sintomas muito incomodativos. As muito complemento, o que determina o desen- As citocinas atraem os basófilos e os monó-
reacções de hipersensibilidade são classi- volvimento de uma reacção inflamatória agu- citos, que se diferenciam em macrófagos. A
ficadas em imediatas ou retardadas. da. O complemento atrai neutrófilos para a actividade destas células determina a des-
área de inflamação e estimula a libertação das truição progressiva dos tecidos, perda de
Hipersensibilidade Imediata enzimas lisosómicas. Esta libertação causa função e cicatrização.
As reacções de hipersensibilidade imedia- lesão tecidular, particularmente nos vasos san- A hipersensibilidade retardada pode-se
ta, são provocadas pela interacção dos guíneos de pequeno calibre, onde os imuno- desenvolver como uma alergia da infecção
anticorpos com os alergénios e os sintomas complexos tendem a alojar-se e a diminuição e hipersensibilidade de contacto. A alergia
aparecem poucos minutos após a exposi- de aporte sanguíneo conduz à necrose dos te- da infecção é um efeito colateral, dos esfor-
ção ao alergénio. As reacções de hipersen- cidos. A reacção de Arthus, a doença do soro, ços mediados por células para eliminar os
sibilidade imediata incluem a atopia, a algumas doenças auto-imunes e a rejeição cró- microrganismos intracelulares e a quantida-
anafilaxia, as reacções citotóxicas e as nica de enxertos, são exemplos de doenças do de de tecido destruído é determinada pela
doenças do imunocomplexo. imunocomplexo. persistência e distribuição do antigénio. O
A atopia é uma reacção de hipersen- Uma reacção de Arthus é uma reacção lo- eritema do sarampo é devido à lesão dos te-
sibilidade localizada, mediada por IgE. Por calizada do imunocomplexo. Por exemplo, se cidos, à medida que a imunidade mediada
exemplo, o pólen das plantas pode ser um um indivíduo foi sensibilizado para os anti- por células destrói as células infectadas por
alergénio que causa a febre dos fenos (hay génios do toxóide da vacina do tétano, devido vírus.
fever), quando inalado e absorvido pela a vacinações sucessivas, e se esse indivíduo Nos doentes com infecções crónicas
mucosa respiratória. A reacção inflamató- for revacinado, no local da administração vai com estimulação antigénica prolongada, a
ria localizada resultante, produz edema e existir uma grande quantidade de antigénio resposta da alergia da infecção pode causar
hiperprodução de muco. Nos doentes as- com o qual os antigénios podem formar com- uma lesão extensa dos tecidos. A destruição
máticos, os alergénios podem estimular a plexos, provocando uma resposta inflamató- do parênquima pulmonar na tuberculose é
libertação de leucotrienos e histamina nos ria localizada, infiltração de neutrófilos e um dos exemplos.
bronquíolos pulmonares, conduzindo à necrose dos tecidos. A hipersensibilidade de contacto é uma
broncoconstrição, por contracção do mús- A doença do soro é uma reacção de Arthus reacção de hipersensibilidade retardada a
culo liso dos bronquíolos e, dificuldade res- sistémica, na qual os complexos anticorpo- alergénios que entram em contacto com a
piratória. A urticária, é uma reacção alérgi- antigénio circulam, alojando-se em muitos te- pele ou com as mucosas. Normalmente,
ca que provoca eritema cutâneo ou edema cidos diferentes. A doença do soro pode sur- após uma exposição prolongada, o toxiden-
localizado e é normalmente provocada pela gir por exposição prolongada a um antigénio, dero, a sumagreira, sabonetes, cosméticos,
ingestão de um alergénio. durante tempo suficiente para uma resposta medicamentos e uma grande variedade de
A anafilaxia é uma reacção sistémica dos anticorpos e consequente formação de produtos químicos, podem induzir hipersen-
IgE-mediada e pode implicar risco de vida. muitos imunocomplexos. São exemplos de sibilidade de contacto. O alergénio é absor-
A introdução de alergénios, como medica- antigénios, terapêuticas medicamentosas pro- vido pelas células epiteliais e as células T
Continua
808 Parte 4 Regulação e Manutenção
(Continuação)
invadem a área afectada, provocando infla- mas incapazes de desempenhar as suas fun- raro dois indivíduos (excepto para os gé-
mação e destruição dos tecidos. Embora o ções. Finalmente, o sistema imunitário pode meos idênticos) terem o mesmo conjunto de
prurido possa ser intenso, coçar é prejudi- ser voluntariamente deprimido por medica- genes HLA. Como eles são geneticamente
cial porque lesa os tecidos e provoca mais mentos, para evitar a rejeição de enxertos. determinados, quanto mais próxima for a re-
inflamação. As imunodeficiências congénitas (presen- lação familiar entre dois indivíduos, maior
tes desde o nascimento) podem envolver a for- será a probabilidade de partilharem os mes-
Doenças Auto-imunes mação inadequada de células B e/ou de célu- mos genes HLA.
Nas doenças auto-imunes, o organismo não las T. A doença da imunodeficiência combina- A rejeição aguda de um enxerto dá-se
consegue distinguir os auto-antigénios dos da grave (SCID)(*), na qual tanto as células B algumas semanas após o transplante e é
antigénios estranhos. Assim, produz-se como as T não se diferenciam, é provavelmen- consequência de uma reacção de hipersen-
uma reacção imunitária que conduz à des- te a mais conhecida. A menos que a pessoa sibilidade retardada e da lise celular. Os lin-
truição dos tecidos. Provavelmente, em que sofre desta doença seja mantida num fócitos e os macrófagos infiltram a área, sur-
muitos casos, a auto-imunidade resulta da ambiente estéril, ou que seja submetida a um ge uma resposta inflamatória acentuada e
diminuição da tolerância, presente nas res- transplante de medula, morrerá por infecção. o tecido estranho é destruído. Se não existir
postas auto-imunes. Numa situação de mí- rejeição aguda, pode ocorrer uma rejeição
mica molecular, um antigénio estranho sen- Controlo dos Tumores crónica, mais tarde. Na rejeição crónica, for-
do muito semelhante a um auto-antigénio, As células tumorais têm antigénios do tumor mam-se imunocomplexos nas artérias que
estimula a resposta imunitária. Depois da que as distinguem das células normais. De irrigam o enxerto, comprometendo o aporte
eliminação do antigénio estranho, o siste- acordo com o conceito de vigilância imunitária, sanguíneo e o enxerto é rejeitado.
ma imunitário continua a reagir contra o o sistema imunitário detecta as células tumo- Na rejeição hospedeiro vs. enxerto, o
auto-antigénio semelhante. Põe-se a hipó- rais e destrói-as, antes de o tumor se poder sistema imunitário do receptor reconhece o
tese de a diabetes tipo I (ver capítulo 18) formar. As células T, as células natural killer e tecido do dador como estranho e rejeita-o.
ser desencadeada desta forma. Nas pesso- os macrófagos estão implicados na destruição Na rejeição enxerto vs. hospedeiro o tecido
as susceptíveis, um antigénio estranho das células tumorais. A vigilância imunitária do dador reconhece o tecido do receptor
pode estimular a imunidade adaptativa, es- pode existir para algumas formas de neoplasia como estranho rejeita-o, causando a destrui-
pecialmente a imunidade mediada por cé- causada por vírus. Contudo, a resposta imuni- ção dos tecidos do receptor e à morte.
lulas, destruindo as células β do pâncreas tária parece ser mais dirigida contra os vírus Para reduzir a rejeição de enxertos, é
produtoras da insulina e conduzir a diabe- do que para os tumores. No homem, só é co- realizada uma prova de compatibilidade de
tes. Outras das doenças auto-imunes que nhecida a etiologia viral em algumas das neo- tecidos. Só os tecidos com HLAs semelhan-
envolvem anticorpos são a artrite reuma- plasias. Para a maioria dos tumores a respos- tes aos do receptor é que têm hipótese de
tóide, a febre reumática, a doença de Gra- ta do sistema imunitário pode ser ineficaz e serem viáveis. Mesmo quando a compatibi-
ves, o lúpus eritematoso disseminado e a muito tardia. lidade é grande, é necessária a administra-
miastenia gravis. ção de medicamentos imunossupressores,
Transplante ao longo da vida do doente, para evitar a re-
Imunodeficiências Os genes que codificam para a produção de jeição. Infelizmente, a pessoa fica com uma
A imunodeficiência é a insuficiência de uma antigénios MHC são, geralmente, chamados imunodeficiência induzida pelos medica-
parte do sistema imunitário para funcionar genes do complexo de histocompatibilidade mentos e mais susceptível ao desenvolvi-
correctamente. Uma vez que pode ter diver- major. O termo histocompatibilidade refere-se mento de infecções. Só existe compatibili-
sas causas, não é rara a existência de um à capacidade dos tecidos (Gr. Histo) coexisti- dade total para auto-enxertos ou para enxer-
sistema imunitário deficiente. A ingestão rem (compatibilidade), quando são transplan- tos entre gémeos idênticos.
inadequada de proteínas inibe a síntese tados de um indivíduo para outro. No homem, Para além de serem tão importantes
proteica e, consequentemente, os níveis de os genes do complexo de histocompatibilidade para aumentar o sucesso dos transplantes,
anticorpos vão diminuir. O stresse pode major, são muitas vezes referidos como genes a determinação dos HLAs tem muitas apli-
deprimir o sistema imunitário e a luta con- do antigénio leucocitário humano (HLA)(**), por- cações. Como são geneticamente determi-
tra a infecção pode causar uma diminuição que foram os primeiros a ser identificados nos nados, os HLAs ajudam na resolução dos
significativa de linfócitos e de granulócitos leucócitos. O sistema imunitário consegue dis- processos de identificação da paternidade.
disponíveis em reserva, tornando o indiví- tinguir as células próprias das estranhas dado Na medicina forense, os HLAs do sangue, do
duo mais susceptível a infecções subse- que ambas estão marcadas com HLAs. A rejei- esperma e dos outros tecidos, ajudam a
quentes. As doenças que provocam proli- ção de um tecido transplantado é devida à res- identificar a pessoa de quem o tecido pro-
feração linfocitária, como a mononucleose, posta normal do sistema imunitário aos HLAs vém.
as leucemias e os mielomas, podem con- estranhos. Existem milhões de combinações
duzir ao aparecimento de muitos linfócitos, diferentes possíveis dos genes HLA e é muito
(*) Sigla da nomenclatura em língua inglesa Severe combined immunodeficiency disease (N.T.).
(**) Sigla da nomenclatura em língua inglesa Human leukocyte antigen (N.T.).
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 809
a cascata do complemento, através da via clássica (figura 22.9c). habitualmente, o indivíduo desenvolve os sintomas da doença,
Quando o complemento é activado estimula a inflamação; atrai dado que o antigénio teve tempo para lesar os tecidos.
neutrófilos, monócitos, macrófagos e eosinófilos aos locais da A resposta secundária ou de memória, ocorre quando o
infecção e mata a bactérias, fazendo a sua lise. sistema imunitário é exposto a um antigénio contra o qual ele já
Os anticorpos (IgE) podem iniciar uma resposta inflama- tinha produzido uma resposta primária. A resposta secundária
tória (figura 22.9d). Os anticorpos ligam-se, através da região resulta da acção das células B de memória que, quando expostas
constante, aos mastócitos, ou aos basófilos. Quando os antigénios ao antigénio, rapidamente se dividem, para produzir células
se combinam com a região variável dos anticorpos, os mastócitos, plasmáticas e uma grande quantidade de anticorpos. A resposta
ou os basófilos, libertam substâncias químicas (mediadores), por secundária fornece melhor protecção do que a resposta primá-
exocitose, e surge a inflamação. ria, por duas razões. Primeiro, o tempo necessário para começar
As opsoninas são substâncias que tornam o antigénio mais a produzir anticorpos é menor (de horas a poucos dias); e, se-
susceptível à fagocitose. Os anticorpos (IgG) actuam como gundo, a quantidade de anticorpos produzida é muito maior.
opsoninas, ligando-se pela região variável ao antigénio e, pela Assim, o antigénio é destruído mais rapidamente, não se desen-
região constante ao macrófago. Depois, o macrófago fagocita o volvem sintomas da doença e a pessoa está imune.
antigénio e o anticorpo (figura 22.9e). A resposta de memória também inclui a formação de no-
vas células B de memória que protegem contra posteriores ex-
posições ao antigénio. As células B de memória são a base do
Produção de Anticorpos
sistema de imunidade adaptativa. Após a destruição do antigénio,
A produção de anticorpos, após a primeira exposição a um
as células plasmáticas morrem, os anticorpos que elas liberta-
antigénio, é diferente daquela que ocorre durante a segunda ou
ram são degradados e os níveis de anticorpos diminuem até um
as subsequentes. A resposta primária surge na primeira exposi-
ponto a partir do qual já não podem proteger de forma adequa-
ção de uma célula B específica para um determinado antigénio,
da. As células B de memória podem perdurar durante muitos
inclui múltiplas divisões celulares, diferenciação celular e pro-
anos e em alguns casos, provavelmente, toda a vida. Contudo, se
dução de anticorpos. Os receptores de superfície das células B
a produção das células de memória não é estimulada, ou se as
são anticorpos, normalmente IgM e IgD. Os receptores têm a
produzidas vivem durante pouco tempo, podem ocorrer episó-
mesma região variável que os anticorpos que venham a ser, even-
dios de repetição da mesma doença. Por exemplo, o mesmo ví-
tualmente, produzidos pelas células B. Antes da estimulação por
rus da gripe pode provocar a constipação vulgar, mais do que
um antigénio as células B são pequenos linfócitos. Após a activa-
uma vez, no mesmo indivíduo.
ção, as células B sofrem muitas divisões para dar origem a gran-
des linfócitos. Algumas destas grandes células tornam-se células 43. Qual é o tipo de linfócitos responsável pela imunidade
plasmáticas que produzem anticorpos, outras voltam a trans- mediada por anticorpos? Quais as funções da imunidade
formar-se em pequenos linfócitos e tornam-se células B de me- mediada por anticorpos?
mória (figura 22.20). Normalmente, a IgM é o primeiro anti- 44. Quais as funções das regiões variável e constante de um
corpo produzido como resposta a um antigénio, mas mais tarde anticorpo? Enumere os cinco tipos de anticorpos, referindo
são produzidos outros tipos de anticorpos. Normalmente, a res- as suas funções.
posta primária demora entre 3 a 14 dias para produzir anticorpos 45. Descreva as diferentes formas pelas quais os anticorpos
suficientes para serem eficazes contra o antigénio. Entretanto, participam na destruição dos antigénios.
810 Parte 4 Regulação e Manutenção
Antigénio
Anticorpo
Mastócito ou basófilo
Macrófago
46. Defina células plasmáticas e de memória, referindo as sibilidade retardada e no controlo de tumores (ver “Foco na clínica:
suas funções. Problemas do sistema imunitário com relevância clínica”).
47. Em que consistem as respostas primária e secundária dos A activação das células T contra os antigénios é regulada
anticorpos? Porque é que a resposta primária não evita a pelas células apresentadoras de antigénios e pelas células T helper.
doença e a segunda o faz? Uma vez activadas, as células T dividem-se diversas vezes, dando
origem a células T efectoras e células T de memória (figura 22.21).
E X E R C Í C I O
As células T efectoras, como as células T citotóxicas, são respon-
Uma teoria para a imunidade de longa duração, assume que os
sáveis pelas reacções imunitárias mediadas por células. As célu-
seres humanos estão, permanentemente, expostos aos agentes
las T de memória podem fornecer uma resposta secundária e
patogénicos. Explique como é que esta exposição pode produzir
imunidade de longa duração, de forma idêntica à das células B
imunidade para toda a vida.
de memória.
Células B Mais
de memória células B
de memória
Célula B Menos
1 plasmócitos
Células B
de memória Mais
2 plasmócitos
Mais
anticorpos
Menos
anticorpos
Resposta
secundária
da resposta
Amplitude
Primeira Segunda
exposição exposição
Resposta
primária
Início Início
lento de rápido de
resposta resposta
1. Resposta primária. A resposta primária ocorre 2. Resposta secundária. A resposta secundária ocorre
quando uma célula B é primeiro activada por um quando se dá uma posterior exposição ao mesmo
antigénio (contacto primário). A célula B prolifera antigénio que faz com que as células de memória
para formar plasmócitos e células de memória. Os produzam plasmócitos e mais células de memória. A
plasmócitos produzem anticorpos. resposta secundária é mais rápida e produz mais
anticorpos que a resposta primária.
tumorais e os tecidos transplantados têm, à superfície, antigénios 49. Refira as duas principais respostas das células T
estranhos que podem estimular a actividade das células T citotóxicas.
citotóxicas. A célula T citotóxica liga-se à célula alvo e liberta 50. Qual o tipo de resposta imunitária produzido pelas células
mediadores químicos que conduzem à destruição desta. A prin- T de hipersensibilidade retardada?
cipal forma de lise envolve uma proteína, a perforina, que faz 51. Como é atingida a imunidade de longa duração na
um orifício na membrana da célula alvo. A célula T citotóxica imunidade mediada por células?
liberta-se da célula alvo e liga-se a outras induzindo este proces-
so de destruição.
Para além da lise das células, as células T citotóxicas tam-
Interacções Imunitárias
bém libertam citocinas que activam outros componentes do sis- Objectivo
tema imunitário. Por exemplo, uma das funções importantes das ■ Descrever as interacções imunitárias.
citocinas é o recrutamento de macrófagos que depois ficam res-
Embora o sistema imunitário possa ser descrito a partir
ponsáveis pela fagocitose e pela inflamação.
dos diferentes tipos de imunidade, inata, mediada por anticorpos
E X E R C Í C I O e mediada por células, ele é um só. Estas categorias são divisões
Nos doentes com sindroma de imunodeficiência adquirida (SIDA), artificiais que são utilizadas para realçar aspectos particulares da
as células T helper são destruídas por uma infecção viral. Estes imunidade. Actualmente, as respostas imunitárias envolvem,
doentes podem morrer por uma pneumonia causada por um fungo muitas vezes, componentes de mais de um tipo de imunidade
intracelular (Pneumocystis carinii), ou por sarcoma de Kaposi, que (figura 22.22). Por exemplo, embora a imunidade adaptativa
consiste no desenvolvimento de tumores na pele e gânglios possa reconhecer e relembrar antigénios específicos, após o seu
linfáticos. Explique este mecanismo. reconhecimento, muitos dos acontecimentos que levam à des-
truição do antigénio são da competência da imunidade inata,
como sejam a inflamação e a fagocitose.
Células T de Hipersensibilidade Retardada
As células T de hipersensibilidade retardada reagem aos an- 52. Descreva como é que através da interacção entre as
tigénios através da libertação de citocinas. Assim, favorecem a imunidades inata, mediada por anticorpos e mediada por
fagocitose e a inflamação, especialmente nas reacções alérgicas células pode resultar a eliminação de um antigénio.
(ver “Foco na clínica: Problemas do sistema imunitário com re-
levância clínica”). Por exemplo, as células de Langerhans da pele
podem interagir com os antigénios do toxidendro e apresentá-
Imunoterapia
los às células T de hipersensibilidade retardada, resultando uma Objectivo
reacção inflamatória intensa. ■ Definir e dar exemplos de imunoterapia.
48. Que tipo de linfócito é responsável pela imunidade O conhecimento das formas básicas de funcionamento do
mediada por células? Quais as funções da imunidade sistema imunitário conduziu a dois aspectos fundamentais: (1) uma
mediada por células? compreensão acerca da causa e da evolução de muitas doenças, e
Inflamação
Células T Libertação Fagocitose
citotóxicas de citocinas Activa as células
Morte por
contacto
Activação da Célula T citotóxica
célula T por um
antigénio na
superfície de uma célula Célula alvo
Célula T
Células T de memória
Lise da
célula alvo
Antigénio
Imunidade inata
Resposta genérica que Mecanismos Neutrófilos, macrófagos, Mediadores Interferãos evitam as
não aumenta com as mecânicos basófilos e eosinófilos químicos infecções virais
exposições subsequentes
A inflamação e a fagocitose
destroem o antigénio
Imunidade adaptativa
Resposta específica que
aumenta com as exposi-
Macrófago
ções subsequentes
Inicia-se com a
apresentação de um
antigénio a uma célula T O macrófago apresenta
helper por um macrófago o antigénio processado
Célula T helper à célula T helper
A célula T helper
A célula pode activar
T helper pode uma célula T
Célula B Célula T
activar uma
célula B
Figura 22.22 Principais Interacções e Respostas da Imunidade Inata e da Imunidade Adaptativa a um Antigénio
814 Parte 4 Regulação e Manutenção
O sindroma da imunodeficiência adquirida alguns casos, poucos, em profissionais de saú- replicação. Os organelos da célula infecta-
(SIDA) é uma doença grave que implica ris- de que se contaminaram com sangue ou líqui- da começam a produzir cópias do vírus que
co de vida e é provocada pelo vírus da imu- dos orgânicos infectados com VIH. Existem vão, mais tarde, abandonar a célula e infec-
nodeficiência humana (VIH). Foram identi- também relatos de um número diminuto de tar outras.
ficadas duas estirpes de VIH: o VIH-1 que é casos em que os profissionais de saúde con- A seguir à infecção pelo VIH, dentro de
responsável pela maioria dos casos de SIDA taminaram utentes. Nos Estados Unidos, o gru- um período que varia de 3 semanas a 3 me-
e o VIH-2 que continua a ser cada vez mais po de doentes com SIDA que está a aumentar ses, muitos doentes desenvolvem um
encontrado no ocidente africano. A SIDA foi mais rapidamente é o dos homens ou mulhe- sindroma agudo e súbito semelhante à
relatada pela primeira vez em 1981 nos Es- res heterossexuais que tiveram contactos se- mononucleose com sintomas como: febre,
tados Unidos e, desde então, já foram noti- xuais com indivíduos infectados. Noutros paí- sudorese, fadiga, dores musculares e arti-
ficados aos Centers for Disease Control and ses, o padrão dos casos de SIDA é diferente culares, cefaleias, dores de garganta, diar-
Prevention (CDC) mais de 800000 casos. O do dos Estados Unidos. A UNAIDS estima que, reia, eritema e adenopatias (gânglios linfá-
Programa das Nações Unidas para a SIDA globalmente, 90% de todas as infecções por ticos aumentados). Estes sintomas são de-
(UNAIDS*) estima que existam cerca de 60 VIH sejam transmitidas em contactos heteros- belados dentro de 1 a 3 semanas, quando o
milhões de pessoas infectadas em todo o sexuais. sistema imunitário responde ao vírus, pro-
mundo e que 18 milhões já morreram devi- Presentemente, a única forma de preve- duzindo anticorpos que activam as células
do a esta doença. O curso da infecção pelo nir a SIDA é a prevenção da transmissão. O ris- T citotóxicas que matam as células infec-
VIH é variável. Algumas pessoas morrem um co de transmissão pode ser reduzido através tadas pelo VIH. O sistema imunitário não tem
ano após a contaminação; contudo, a mai- da educação do público sobre as práticas se- capacidade para eliminar o VIH; contudo, em
oria sobrevive durante 10 ou 11 anos, ha- xuais seguras, como a redução do número de cerca de seis meses, atinge-se uma fase
vendo algumas com sobrevidas de cerca de parceiros sexuais, evitar o coito anal e a utili- durante a qual o vírus se continua a replicar
20 anos. zação de preservativo. A educação do público a uma velocidade menor e estabiliza. Este
O VIH é transmitido de um indivíduo in- também inclui o aviso aos toxicodependentes estádio crónico de infecção pode durar, em
fectado a um não-infectado, através do con- sobre os perigos da utilização de agulhas con- média, 8 a 10 anos, durante os quais a pes-
tacto com os líquidos orgânicos, como san- taminadas (partilha de seringas). Assegurar a soa infectada se sente bem, com pouco ou
gue, esperma ou secreções vaginais. As segurança do sangue transfundido também mesmo nenhuns sintomas da doença.
principais vias de transmissão são os con- constitui outra medida de prevenção muito Embora as células T helper sejam infec-
tactos sexuais não protegidos, agulhas con- importante. Em Abril de 1985 foi disponi- tadas e destruídas durante o período de
taminadas utilizadas por toxicodepen- bilizado um teste para detectar a presença de cronicidade da infecção pelo VIH, o organis-
dentes, produtos derivados do sangue e da anticorpos VIH. O tratamento dos factores de mo responde aumentando a sua produção.
mulher grávida infectada para o feto. Os coagulação, pelo calor, também foi eficaz na Apesar disso, com o passar dos anos, o nú-
dados actuais indicam que os contactos prevenção da transmissão do VIH aos mero de VIH vai aumentando gradualmen-
domésticos, escolares ou profissionais, não hemofílicos. te, enquanto que o número de células T
conduzem à transmissão. A infecção por VIH começa quando uma helper vai diminuindo. Normalmente, exis-
Nos Estados Unidos, durante os anos proteína viral, a gp 120, se liga a uma molécu- tem cerca de 1200 células T helper/mm3 de
80, a maioria dos casos de SIDA ocorria nos la de superfície das células, a molécula CD4. sangue. Considera-se que uma pessoa infec-
homossexuais, ou homens bissexuais, e Esta molécula existe, principalmente, nas cé- tada pelo VIH tem SIDA quando, um ou mais
nos toxicodependentes por via intravenosa. lulas T helper e normalmente incapacita-as dos seguintes factos está presente: o núme-
Também ocorreu uma pequena percenta- para aderir a outros linfócitos, por exemplo ro de células T helper é inferior a 200/mm3,
gem de casos provocados por transfusões durante o processo de apresentação dos eclode uma infecção oportunista ou desen-
de sangue ou factores de coagulação con- antigénios. Alguns monócitos, macrófagos, volve-se um sarcoma de Kaposi.
taminados, utilizados por hemofílicos. As neurónios e células gliais também têm molé- As infecções oportunistas são origina-
crianças podem ser infectadas antes do culas CD4. Quando o vírus se liga às molécu- das por organismos que, normalmente, não
nascimento, durante o parto ou durante o las CD4, injecta o seu material genético (ARN) provocam doença, mas podem-no fazer
aleitamento materno. Também ocorreram e as enzimas na célula, dando início à sua quando existe imunodepressão. Quando
(*) Letras da sigla em língua inglesa para United Nations Program on AIDS (N.T.).
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 815
não existem células T helper, a activação das criptase reversa que evita que o ARN do VIH um bom indicador de predição do tempo que
células T citotóxicas e das células B está com- produza ADN viral. O AZT pode atrasar o início medeia para a eclosão da SIDA. Se a carga
prometida e a resistência adaptativa é supri- da SIDA, mas não parece que aumente o tem- viral é alta a eclosão da SIDA será mais cedo
mida. São exemplos de infecções oportunis- po de sobrevivência dos doentes com SIDA. do que ela estiver baixa. Através de uma ele-
tas: a pneumonia a Pneumocystis carinii Contudo, o número de bebés que contraem vação da carga viral também é possível de-
(provocada por um protozoário intracelular), a SIDA através das mães infectadas pode ser tectar o desenvolvimento de resistência viral.
tuberculose (provocada por uma bactéria intra- muito reduzido pela administração de AZT às Assim, uma modificação na dosagem do me-
celular, o Mycobacterium tuberculosis), a sífi- mães durante a gravidez e aos bebés após o dicamento ou do seu tipo, pode retardar a
lis (causada por uma bactéria transmitida se- nascimento. O AZT pode ter efeitos secundári- replicação viral. Actualmente, as orientações
xualmente, o Treponema pallidum); a candi- os graves, como sejam a anemia ou mesmo a para o tratamento são de que a carga viral
díase (uma infecção a fungos da boca ou da insuficiência total da medula óssea. deve ser mantida abaixo das 500 moléculas
vagina causada pela Candida albicans); e Muitas vezes, após 6 a 18 meses de trata- de ARN/mm de sangue.
protozoários que determinam o aparecimento mento com AZT, o VIH sofre mutações virais que Um tratamento eficaz para a SIDA não é
de grandes diarreias persistentes. O sarcoma o tornam resistente ao AZT. Têm sido desen- uma cura. Mesmo que a carga viral diminua
de Kaposi é um tipo de neoplasia que produz volvidos outros medicamentos que inibem a para valores em que o vírus não é detectado
lesões na pele, gânglios linfáticos e vísceras. replicação dos ácidos nucleicos virais como a no sangue, ele permanece nas células de todo
Também estão associados à SIDA sintomas dideoxinosina (DDI), que têm sido utilizados o corpo. É possível que o vírus sofra mutações,
resultantes dos efeitos do vírus no sistema em doentes resistentes ou que não respondem sobrevivendo à acção dos medicamentos.
nervoso, como o relentamento motor, altera- ao AZT. Para além deste aspecto, os efeitos da utili-
ções do comportamento, demência progressi- Os inibidores das proteases são medica- zação destes medicamentos em tratamentos
va e, possivelmente, psicoses. mentos que interferem com as proteases virais. prolongados são desconhecidos.
Presentemente, não existe cura para a São exemplos de inibidores das proteases o O objectivo de longo prazo para a SIDA
SIDA. O tratamento destes doentes pode ser ritonavir e o indinavir. Actualmente, o trata- é o desenvolvimento de uma vacina que evi-
dividido em duas categorias: (1) tratamento mento para a supressão da replicação do VIH te a infecção pelo VIH. As vacinas em desen-
das infecções secundárias ou neoplasias as- baseia-se na combinação dos três medicamen- volvimento estimulam a produção de
sociadas à SIDA; e (2) tratamento da infecção tos: dois inibidores da transcriptase reversa e anticorpos anti-VIH, estimulam a resposta
por VIH, em si mesma. Na replicação do VIH é um inibidor das proteases. A probabilidade de imunitária mediada por células contra as
utilizado o ARN viral para fazer ADN viral que é o VIH desenvolver resistência aos três medica- células infectadas pelo VIH, ou através des-
inserido no ADN da célula do hospedeiro. Este mentos é menor. Esta estratégia tem dado pro- tes dois mecanismos. Em Junho de 1998,
ADN viral introduzido na célula comanda a pro- vas de ser muito eficaz na diminuição da taxa iniciou-se o primeiro ensaio em larga escala
dução de mais ARN viral e de proteínas que se de mortalidade dos doentes com SIDA e no para testar uma vacina que estimula a pro-
reúnem para formar novos VIH. Para os passos restabelecimento parcial do estado de saúde dução contra a proteína gp120 do VIH nos
chave da replicação do VIH são necessárias de alguns doentes. EUA, Canadá e Tailândia.
enzimas virais. A transcriptase reversa promo- Estão ainda em fase de investigação os Devido aos avanços obtidos, as pesso-
ve a formação de ADN viral a partir do ARN viral inibidores da integrase que impedem a inocu- as com VIH/SIDA vivem durante um maior
e a integrase que insere o ADN viral no ADN lação do ADN viral na célula do hospedeiro. No número de anos. Esta doença está a ser,
das células do hospedeiro. Uma protease viral futuro, talvez os inibidores da integrase façam cada vez mais, considerada como uma do-
quebra as grandes cadeias de proteínas virais, parte da combinação de medicamentos utili- ença crónica e não como uma sentença de
noutras de menores dimensões que são incor- zada na SIDA. morte. Para ajudar a que as pessoas com
poradas no novo VIH. Um outro avanço no tratamento da SIDA é VIH/SIDA tenham uma melhor qualidade de
O bloqueio da actividade das enzimas do a avaliação da carga viral que determina o vida devem trabalhar em conjunto, numa
VIH pode inibir a replicação do vírus. O primei- número de moléculas de ARN viral por mililitro equipa multidisciplinar: terapeutas ocupa-
ro tratamento eficaz da SIDA foi efectuado com de sangue. O número de VIH é de metade do cionais, fisioterapeutas, nutricionistas/die-
a azotimidina (AZT), também conhecido por número de moléculas de ARN obtido, uma vez tistas, psicólogos, médicos infecciologistas
zidovudina. O AZT é um inibidor da trans- que cada VIH tem duas cadeias. A carga viral é de entre outros.
816 Parte 4 Regulação e Manutenção
(2) o desenvolvimento ou a tentativa de desenvolvimento de mé- Estão a ser investigadas muitas outras abordagens para a
todos para prevenir, parar, ou mesmo reverter doenças. Por exem- utilização da imunoterapia e prevê-se que no futuro tenha gran-
plo, a vacinação pode evitar muitas doenças. de desenvolvimento. O conhecimento do sistema imunitário vai
A imunoterapia trata a doença pela estimulação ou inibi- permitir a compreensão e avaliação destes tratamentos.
ção do sistema imunitário ou atacando directamente as células
53. Defina imunoterapia. Exemplifique.
prejudiciais. Algumas abordagens terapêuticas procuram refor-
çar a actividade do sistema imunitário de uma forma global. Por
exemplo, a administração de citocinas ou de outras substâncias Regulação Neuro-endócrina da Imunidade
pode estimular a resposta inflamatória e a activação de células Uma possibilidade intrigante para a redução da gravidade das doenças,
imunitárias, o que pode ser útil na destruição de células tumo- ou mesmo de as curar, é a utilização da regulação neuro-endócrina do
rais. Por outro lado, por vezes pode ser útil inibir a resposta do sistema imunitário. O sistema nervoso regula a secreção de hormonas
sistema imunitário. Por exemplo, a esclerose múltipla é uma como o cortisol, adrenalina, endorfinas e encefalinas, para as quais os
doença auto-imune na qual o sistema imunitário considera os linfócitos têm receptores. Por exemplo, o cortisol libertado durante
auto-antigénios como antigénios estranhos, destruindo a mielina períodos de stresse, inibe o sistema imunitário. Para além disso, a
que envolve os axónios. O β-interferão (IFNβ) bloqueia a acção maioria dos tecidos linfáticos, incluindo alguns linfócitos individuais,
dos antigénios MHC que exibem auto-antigénios e está a ser uti- têm enervação simpática. Existe uma nítida ligação neuro-endócrina ao
lizado para tratar a esclerose múltipla. sistema imunitário. Mas a questão persiste: Podemos utilizar esta
ligação para controlar a imunoterapia?
A imunoterapia pode assumir formas mais específicas. Por
exemplo, a vacinação pode evitar diversas doenças (ver “Imuni-
dade Adquirida” mais à frente, neste capítulo). A capacidade para
produzir anticorpos monoclonais pode conduzir a abordagens
terapêuticas eficazes no tratamento de tumores. Se for descober- Imunidade Adquirida
to um antigénio específico para as células tumorais, poderão ser Objectivo
utilizados anticorpos monoclonais para libertarem isótopos ra- ■ Descrever as formas de aquisição de imunidade adaptativa.
dioactivos, medicamentos, toxinas, enzimas ou citocinas que
possam matar a célula tumoral ou que possam activar o sistema Existem quatro formas de adquirir imunidade adaptativa:
imunitário para o fazer. Infelizmente, esta descoberta ainda não natural activa, artificial activa, natural passiva e artificial passiva
faz parte da realidade, ainda não foram descobertos antigénios (figura 22.23). Os termos natural e artificial dizem respeito ao modo
nas células tumorais nem nas normais. Apesar de tudo, esta abor- de exposição. A exposição natural implica que o contacto com um
dagem pode ser útil, se o dano para as células normais for dimi- antigénio ou anticorpo ocorre no quotidiano, não é deliberada. A
nuto. Por exemplo, as células tumorais podem ter mais antigénios exposição artificial, também chamada imunização, é uma introdu-
de superfície de um determinado tipo, do que as células nor- ção deliberada de um antigénio ou de um anticorpo no organismo.
mais, resultando em maior concentração do tratamento nas cé- Os termos activa e passiva indicam se o sistema imunitário
lulas tumorais. Estas também podem ser mais susceptíveis às do indivíduo está ou não a responder directamente ao antigénio.
agressões ou, as células normais terem uma melhor capacidade Quando um indivíduo está natural ou artificialmente exposto a
de recuperação. um antigénio, pode ocorrer uma resposta do sistema imunitário
Um dos problemas que surgem com os sistemas de liberta- adaptativo que produz anticorpos; é a imunidade activa por-
ção de anticorpos monoclonais é o facto de o sistema imunitário que o sistema imunitário do próprio indivíduo é a causa da imu-
os reconhecer como antigénios estranhos. Após a primeira ex- nidade. A imunidade passiva ocorre quando outra pessoa ou
posição, a resposta de memória destrói-os rapidamente passan- animal forma anticorpos que são transferidos para um indiví-
do o tratamento a ser ineficaz. Através de um processo chamado duo não imunizado; é a imunidade passiva, dado que o indiví-
de humanização, os anticorpos são modificados de modo a tor- duo não-imunizado não produziu anticorpos.
narem-se semelhantes aos anticorpos humanos. Este processo O tempo de imunização difere nestes dois tipos de imuni-
permitiu que os anticorpos monoclonais ultrapassassem a des- dade. A imunidade activa pode perdurar desde poucas semanas
truição pelo sistema imunitário. (constipação vulgar) até uma vida inteira (tosse convulsa e vari-
Os anticorpos monoclonais são usados no tratamento de cela). A imunidade pode ser de longa duração se forem produzi-
tumores apenas no domínio da investigação mas existem já en- das células de memória B ou T em número suficiente e elas per-
saios clínicos com alguns resultados promissores. Por exemplo, a sistirem para reagirem a exposições posteriores ao antigénio. A
utilização de anticorpos monoclonais com iodo radioactivo (131I) imunidade passiva não é duradoura, pois os indivíduos não pro-
produziu a regressão dos linfomas de células B com poucos efei- duzem as suas próprias células de memória. Como a imunidade
tos secundários. A herceptina é um anticorpo monoclonal que activa pode ser mais duradoura do que a passiva, é o método
se liga a um factor de crescimento que está muito elevado em 25 mais utilizado. Contudo, em situações em que é necessária uma
a 30% das neoplasias primárias da mama. Os anticorpos servem protecção imediata, é preferida a imunidade passiva.
para “marcar” as células neoplásicas que vão ser posteriormente
lisadas pelas células natural killer. A herceptina retarda a pro- Imunidade Natural Activa
gressão da doença e aumenta a sobrevida mas, não é a cura para A exposição natural a um antigénio, como um microrganismo
a neoplasia da mama. patogénico, pode levar o sistema imunitário de um determinado
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 817
indivíduo a produzir uma resposta adaptativa contra o antigénio antigénios, natural ou artificialmente, tendo adquirido anticorpos
e gerar um estado de imunidade natural activa. Como o indi- contra muitos deles. Estes anticorpos protegem a mãe e o feto
víduo não está imunizado durante a primeira exposição, nor- em desenvolvimento, contra a doença. Alguns anticorpos (IgG)
malmente desenvolve os sintomas da doença. É interessante no- podem atravessar a placenta e entrar na circulação fetal. Após o
tar que a exposição a um antigénio nem sempre produz sinto- nascimento, os anticorpos protegem a criança durante os pri-
mas. Muitas pessoas, se forem expostas ao vírus da poliomielite meiros meses de vida. Eventualmente, os anticorpos degradam-
durante a infância, desencadeiam uma resposta imunitária e pro- se e a criança tem de contar com o seu próprio sistema imunitário.
duzem anticorpos da poliomielite, embora não desenvolvam Se a mãe amamenta a criança, a IgA do leite materno pode dar
nenhuns sintomas de doença. alguma protecção à criança.
Imunidade adaptativa
adquirida
Fundamentação tecidular. Assim, o LES é uma doença que pode afectar muitos dos sis-
O lúpus eritematoso sistémico (LES) é uma doença de causa desco- temas do corpo. Por exemplo, os anticorpos mais comuns actuam contra
nhecida, na qual as células são agredidas pelo sistema imunitário. O o ADN que é libertado pelas células lesadas. Em situação normal, o fíga-
seu nome descreve algumas das características da doença. Literal- do remove o ADN, mas quando o ADN e os anticorpos formam imuno-
mente, termo lúpus significa lobo e, inicialmente, era utilizado para complexos, estes tendem a depositar-se nos rins e em outros tecidos.
identificar as lesões erosivas da pele (como se fossem produzidas por Cerca de 40-50% das pessoas com LES desenvolvem doença renal. Em
um lobo). O termo eritematoso, refere-se à vermelhidão da pele, pro- alguns casos, os anticorpos podem-se ligar a antigénios nas células,
duzida pela inflamação. Infelizmente, tal como o nome indica, o termo determinando a sua lise. Por exemplo, a ligação de anticorpos aos
sistémico indica que a doença não é confinada à pele e que pode afec- eritrócitos conduz à hemólise e ao aparecimento de anemia.
tar tecidos e células de todo o corpo. Um outro efeito sistémico é a A etiologia do LES é desconhecida. A hipótese mais aceite é a de que
presença de temperatura sub-febril, na maioria das situações de lúpus seja uma infecção viral que corrompa a função das células T supressoras,
activo. levando à perda de tolerância aos auto-antigénios. Contudo, provavel-
O LES é uma doença auto-imune na qual é produzida uma grande mente, a situação é mais complexa pois nem todos os doentes com LES
variedade de anticorpos que reconhecem os auto-antigénios, como os têm diminuição do número de células T supressoras. Para além disso,
ácidos nucleicos, os fosfolípidos, os factores de coagulação, os eritróci- alguns doentes têm diminuição do número de células T helper que normal-
tos e as plaquetas. A combinação dos anticorpos com os auto-antigénios mente estimulam a actividade das células T supressoras.
forma imunocomplexos que circulam ao longo do corpo e se depositam Provavelmente, existem factores genéticos que contribuem para o
em diversos tecidos, nos quais estimulam a inflamação e a destruição aparecimento da doença. A probabilidade de desenvolver LES é muito
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 819
Interacções Sistémicas
Sistema Efeitos do Lúpus Eritematoso Sistémico nos Outros Sistemas
Tegumentar As lesões cutâneas são frequentes e agravam após exposição solar. Existem três formas: (1) um rubor inflamatório que pode
assumir a forma de uma borboleta e se estende do dorso do nariz às regiões malares (eritema em asa de borboleta); (2)
pequenas lesões eritematosas, localizadas e descamativas; (3) áreas de atrofia e despigmentação central, com bordos
hiperpigmentados. Pelo e cabelo progressivamente mais fino e consequente queda.
Esquelético Pode surgir artrite, tendinite e necrose de tecido ósseo.
Muscular Pode surgir destruição do tecido muscular e diminuição da força (fraqueza muscular).
Nervoso Podem surgir perda de memória, deterioração intelectual, desorientação, psicose, depressão reactiva, cefaleias, convulsões,
náuseas e anorexia. Os acidentes vasculares cerebrais (AVC) constituem a principal causa de disfunção e de morte. O
compromisso dos nervos cranianos pode levar a diminuição da força dos músculos faciais, ptose palpebral e diplopia. A
lesão do sistema nervoso central pode levar à paralisia.
Endócrino As hormonas sexuais podem desempenhar um papel importante no LES porque 90% dos casos surgem no sexo feminino e
estas mulheres têm baixos níveis de androgénios.
Cardiovascular Pode surgir uma inflamação do pericárdio (pericardite) com dor torácica. São perturbações comuns as lesões valvulares, a
inflamação do tecido cardíaco, taquicárdia, arritmias, angina de peito e enfarte do miocárdio. Podem também estar
presentes anemia hemolítica e leucopénia (ver capítulo 19). O sindroma dos anticorpos antifosfolípidos, por um mecanis-
mo desconhecido, vai aumentar a coagulação e a formação de trombos, o que vai aumentar o risco de AVC e de ataque
cardíaco.
Respiratório Podem ocorrer: dor torácica por inflamação pleural; febre, dificuldade respiratória e hipoxémia por inflamação pulmonar; e
hemorragia alveolar.
Digestivo Podem surgir úlceras na cavidade oral e na faringe. São comuns a dor abdominal e os vómitos, de causa desconhecida. Podem
também surgir inflamação do pâncreas e hepatomegália com uma pequena alteração nas provas da função hepática.
Urinário As lesões renais e a glomerulonefrite podem conduzir a uma insuficiência renal progressiva. Existe uma proteinúria muito
significativa que conduz a uma hipoproteinémia, a qual pode favorecer o estabelecimento do edema.
maior se existirem outros casos na família. Para além deste aspecto, debelar a inflamação, antimaláricos para tratar o eritema cutâneo e a
os familiares dos doentes com LES, sem a doença, têm uma probabili- artrite, mas o seu mecanismo de acção é desconhecido. Nos doentes
dade muito maior de ter anticorpos anti-ADN do que a população em que não respondem a estes tipos de tratamento, ou em formas graves da
geral. doença, são utilizados corticosteróides. Embora estes medicamentos
Nos EUA, 1 em cada 2000 pessoas tem LES. Os primeiros sintomas sejam eficazes na supressão da inflamação, podem induzir efeitos se-
surgem frequentemente entre os 15 e os 25 anos, sendo o género fe- cundários indesejáveis como a supressão do normal funcionamento das
minino 9 vezes mais afectado do que o masculino. O curso da doença glândulas suprarrenais. Nos doentes com formas de LES que implicam
é imprevisível, com exacerbações e períodos de remissão dos sinto- risco de vida são utilizadas doses muito elevadas de corticosteróides.
mas. Após o diagnóstico, a sobrevivência após 10 anos é superior a
90%. Dentro das principais causas de morte encontram-se a insuficiên- E X E R C Í C I O
cia renal, as disfunções do sistema nervoso central, as infecções e a A lesão avermelhada que a Manuela tinha no braço denomina-se
doença cardiovascular. púrpura e é causada por hemorragia na pele. As lesões vão
O LES não tem cura nem padrão de tratamento, uma vez que o curso alterando a sua cor e desaparecem dentro de 2 a 3 semanas.
da doença é extremamente variável, podendo ser encontradas muitas Explique como é que o LES produz púrpura.
diferenças entre as pessoas afectadas. Habitualmente, inicia-se o trata-
mento de uma forma pouco agressiva, prosseguindo para formas cada
vez mais interventivas, à medida das necessidades. São utilizados medi-
camentos como a aspirina e os anti-inflamatórios não-esteróides para
820 Parte 4 Regulação e Manutenção
Efeitos do Envelhecimento no Sis- nidade. Recomenda-se que as vacinações sejam efectuadas antes
dos 60 anos de idade, uma vez que os aspectos referidos são mais
tema Imunitário e na Imunidade evidentes após esta idade. De qualquer forma, a vacinação pode
ser benéfica em qualquer idade, especialmente se a pessoa tem a
Objectivo resistência às infecções comprometida.
■ Descrever os efeitos do envelhecimento no sistema linfático A capacidade da imunidade mediada por células resistir aos
e na resposta imunitária. agentes patogénicos intracelulares diminui com o envelheci-
O envelhecimento parece ter pouca influência na capaci- mento. Por exemplo, os idosos são mais susceptíveis à gripe e
dade do sistema linfático para manter o equilíbrio hídrico, ab- devem ser vacinados anualmente. Alguns dos agentes patogénicos
sorver as gorduras a partir do aparelho digestivo ou para remo- provocam doença e não são eliminados do organismo. Com o
ver os eritrócitos defeituosos do sangue. passar dos anos, a diminuição da imunidade pode conduzir à
Também parece que o envelhecimento não interfere, di- reactivação do agente patogénico. Por exemplo, o vírus que pro-
rectamente, na capacidade das células B para responder aos voca a varicela nas crianças pode permanecer latente nas células
antigénios e, na maioria das pessoas, o número de células B nervosas, durante muito tempo após o desaparecimento,
circulantes mantém-se estável. Com o avançar dos anos, o teci- aparente, da doença. Mais tarde, o vírus pode abandonar as cé-
do tímico vai sendo substituído por tecido adiposo e a capacida- lulas nervosas e infectar células da pele, determinando lesões
de do timo para produzir células T, novas e maduras, provavel- muito dolorosas, conhecidas como herpes zóster ou zona.
mente desaparece. Contudo, na maioria das pessoas, o número Surgem doenças auto-imunes quando as respostas imu-
de células T mantém-se estável devido à sua replicação (e não nitárias destroem os tecidos saudáveis (ver “Doenças auto-imu-
maturação) nos tecidos linfáticos secundários. Apesar de tudo, nes” atrás, neste capítulo). Nos idosos o início, deste tipo de doen-
em muitas pessoas as células T têm menor capacidade para pro- ças, é muito reduzido. Contudo, as doenças inflamatórias cróni-
liferar em resposta aos antigénios. Assim, a exposição a antigénios cas e as respostas imunitárias com início prévio, determinam
produz um menor número de células T, o que conduz a uma perturbações cumulativas. Assume-se que o aumento da inci-
estimulação menor das células B e T efectoras. Este conjunto de dência de neoplasia nos idosos está relacionado com a diminui-
factores determina que tanto a imunidade mediada por anti- ção da resposta imunitária.
corpos como a mediada por células diminuam. 56. Qual o efeito do envelhecimento nas principais funções do
As respostas primária e secundária dos anticorpos diminuem sistema linfático?
com o envelhecimento. São necessários mais antigénios para pro- 57. Descreva os efeitos do envelhecimento nas células B e T.
duzir uma resposta, a resposta é mais lenta, são produzidos me- Dê exemplos de como o envelhecimento afecta a resposta
nos anticorpos e formam-se menos células de memória. Assim, imunitária mediada por anticorpos e a mediada por
diminui a resistência às infecções e o desenvolvimento da imu- células.
R E S U M O
Sistema Linfático (p. 784) 5. Os troncos e os canais linfáticos drenam para o sangue, ao nível das
O sistema linfático é constituído pela linfa, vasos linfáticos, tecido veias torácicas (na junção das veias jugulares internas e subclávias).
linfático, nódulos linfáticos, gânglios linfáticos, amígdalas, baço e pelo • A linfa proveniente da metade direita do tórax, do membro
timo. superior direito e da metade direita da cabeça e do pescoço entra
nas veias torácicas direitas.
Funções do Sistema Linfático • A linfa proveniente dos membros inferiores, da pélvis, do
O sistema linfático mantém o equilíbrio hídrico nos tecidos, absorve abdómen, a metade esquerda do tórax, o membro superior
gorduras, a partir do intestino delgado, e protege contra os microrganis- esquerdo e a metade esquerda da cabeça e do pescoço drena para as
mos e substâncias estranhas. veias torácicas esquerdas.
6. Os troncos jugular, subclavicular e os troncos broncomediastínicos
Vasos Linfáticos podem-se unir para formar o canal torácico direito.
1. Os vasos linfáticos transportam a linfa dos tecidos. 7. O canal torácico direito é o vaso linfático de maior calibre.
2. Os capilares linfáticos não têm membrana basal e têm células 8. Os troncos intestinal e lombar podem convergir na cisterna quilosa,
epiteliais ligeiramente sobrepostas. Os líquidos, bem como outras um saco que se encontra na extremidade inferior do canal torácico.
substâncias, entram facilmente nos capilares linfáticos.
3. Os capilares linfáticos unem-se para formar vasos linfáticos. Tecido Linfático e Órgãos Linfáticos
• Os vasos linfáticos têm válvulas que asseguram um fluxo 1. O tecido linfático é tecido conjuntivo reticular, contém linfócitos e
unidireccional. outras células.
• O fluxo da linfa é assegurado pela contracção dos músculos 2. O tecido linfático pode estar envolvido por uma cápsula (gânglios
esqueléticos, pela contracção do músculo liso dos vasos linfáticos e linfáticos, baço e timo).
pelas alterações da pressão intratorácica. 3. O tecido linfático pode ser não-encapsulado (tecido linfático difuso,
4. Os gânglios linfáticos estão distribuídos ao longo dos vasos linfáti- nódulos linfáticos e amígdalas). O tecido linfóide associado à
cos. Depois de passarem através dos gânglios, os vasos linfáticos mucosa não possui cápsula e localiza-se abaixo da mucosa dos
formam troncos e canais linfáticos. aparelhos digestivo, respiratório, urinário e reprodutor.
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 821
4. O tecido linfático difuso é constituído por linfócitos dispersos e mal 5. Os basófilos e os mastócitos libertam substâncias químicas (media-
delimitado. dores) que promovem a inflamação.
5. Os nódulos linfáticos são pequenos agregados de tecido linfático 6. Os eosinófilos libertam enzimas que reduzem a inflamação.
(por exemplo: placas Peyer no intestino delgado). 7. As células natural killer lisam as células tumorais e as infectadas por
6. Amígdalas vírus.
• As amígdalas são grandes agregados de nódulos linfáticos na
cavidade oral e na nasofaringe. Resposta Inflamatória
• Os três grupos de amígdalas são constituídos por amígdalas 1. A resposta inflamatória pode ser iniciada de diversas formas.
palatinas, faríngeas e linguais. • Os mediadores químicos provocam vasodilatação e aumento da
7. Gânglios linfáticos permeabilidade vascular, permitindo a entrada de outros mediado-
• Nos gânglios, o tecido linfático está dividido em córtex e medula. res químicos.
Os seios linfáticos estendem-se através do tecido linfático. • Os mediadores químicos atraem fagócitos.
• As substâncias estranhas existentes na linfa são removidas por • A quantidade de mediadores químicos e de fagócitos aumenta até
fagocitose e/ou estimulam os linfócitos. que a causa da inflamação seja destruída. Depois inicia-se a
• Os linfócitos deixam o gânglio linfático e circulam em direcção a reparação dos tecidos.
outros tecidos. 2. A inflamação local produz os seguintes sintomas e sinais: calor,
8. Baço dor, rubor, edema e impotência funcional. Na inflamação
• O baço localiza-se no abdómen, na região superior externa do sistémica ocorre também aumento do número de neutrófilos,
hipocôndrio esquerdo. febre e choque.
• As substâncias estranhas estimulam os linfócitos da polpa branca
(bainha linfática peri-arterial e nódulos linfáticos). Imunidade Adaptativa (p. 798)
• As substâncias estranhas e os eritrócitos anómalos são retirados do 1. Os antigénios são grandes moléculas que estimulam uma resposta
sangue pelos fagócitos da polpa vermelha (cordões esplénicos e imunitária adaptativa. Os haptenos são pequenas moléculas que se
seios venosos). combinam com outras maiores para estimular uma resposta
• O baço é um reservatório limitado de sangue. imunitária adaptativa.
• A maior parte do sangue atravessa o baço em poucos segundos. 2. As células B são responsáveis pela imunidade humoral, ou mediada
Cerca de 20% do sangue demora alguns minutos a passar pelo por anticorpos. As células T estão implicadas na imunidade mediada
baço e cerca de 2% leva uma ou mais horas. por células.
9. Timo
• A glândula do timo localiza-se no mediastino superior e divide-se
Origem e Maturação dos Linfócitos
em córtex e medula. 1. As células B e T têm origem na medula óssea vermelha. As células T
• Os linfócitos do córtex estão separados do sangue por células são diferenciadas no timo e as B na medula óssea.
reticulares. 2. Um processo de selecção positiva assegura que os linfócitos que
• Os linfócitos produzidos no córtex migram através da medula, sobrevivem possam reagir contra os antigénios. A selecção negativa
entram no sangue e dirigem-se para outros tecidos linfáticos, onde elimina aqueles que reagem contra os auto-antigénios.
podem proliferar. 3. Um clone é um grupo de linfócitos idênticos que pode responder a
um antigénio específico.
Imunidade (p. 792) 4. As células B e T deslocam-se do local de maturação para o tecido
A imunidade é a capacidade para resistir aos efeitos perniciosos dos linfático. Circulam, permanentemente, entre os diversos tecidos
microrganismos e de outras substâncias estranhas. linfáticos.
5. É nos órgãos linfáticos primários (medula óssea vermelha e timo)
Imunidade Inata (p. 793) que ocorre a maturação dos linfócitos em células funcionais. Nos
Mecanismos Mecânicos órgãos e tecidos linfáticos secundários, os linfócitos produzem uma
Os mecanismos mecânicos evitam a entrada de microrganismos (pele e resposta imunitária.
mucosas) ou removem-nos (lágrimas, saliva e muco). Activação dos Linfócitos
Mediadores Químicos 1. O determinante antigénico é a parte específica do antigénio à qual o
1. Os mediadores químicos promovem a fagocitose e a inflamação. linfócito responde. O receptor antigénico (receptor da célula B ou T)
2. O complemento pode ser activado pelas vias alternativa e clássica. O na superfície dos linfócitos combina-se com o determinante
complemento destrói as células, aumenta a fagocitose, atrai células antigénico.
imunitárias e promove a inflamação. 2. Os antigénios MHC classe I expressam antigénios na superfície das
3. O interferão evita a replicação viral. O interferão é produzido por células nucleadas, resultando na sua destruição.
células infectadas por vírus e desloca-se para outras, que ficam 3. Os antigénios MHC classe II expressam antigénios na superfície das
protegidas. células apresentadoras de antigénio, resultando na activação das
células imunitárias.
Células 4. Para activar os linfócitos, são necessários o complexo antigénio-
1. Os factores quimiotácticos são porções de microrganismos ou MHC e a co-estimulação. A co-estimulação envolve as citocinas e
substâncias químicas que são libertadas pelos tecidos lesados. A certas moléculas de superfície.
quimiotaxia é a capacidade que os leucócitos têm de se deslocar para 5. As células apresentadoras de antigénio estimulam a proliferação de
os tecidos que libertam factores quimiotácticos. células T helper que estimulam a proliferação de células efectoras B
2. A fagocitose é a ingestão e destruição de partículas. ou T.
3. Os neutrófilos são pequenas células fagocitárias. Inibição dos Linfócitos
4. Os macrófagos são grandes células fagocitárias.
• Os macrófagos podem fagocitar mais partículas do que os 1. A tolerância é a supressão da resposta do sistema imunitário a um
neutrófilos. antigénio.
• Os macrófagos do tecido conjuntivo protegem o organismo, nos 2. A tolerância é produzida pela eliminação das células auto-reactivas,
locais onde existe maior probabilidade de os microrganismos evitando a activação dos linfócitos, e pelas células T supressoras.
penetrarem, e depuram o sangue e a linfa.
822 Parte 4 Regulação e Manutenção
R E V I S Ã O D E C O N T E Ú D O S
Respostas no Apêndice F
824 Parte 4 Regulação e Manutenção
Q U E S T Õ E S C O N C E P T U A I S
1. Um doente apresenta edema do membro inferior direito. Explique a bacterianas sucessivas. Felizmente as infecções vão sendo debeladas
porque é que a elevação e a massagem do membro favorecem a através de antibioterapia. Quando a criança tem sarampo ou outras
diminuição do edema (remoção do líquido em excesso). infecções virais, recupera com mais dificuldade do que o normal.
2. Se o timo de um animal de laboratório for removido imediatamente Explique as respostas imunitárias envolvidas nestes tipos de infecção.
após o nascimento, o animal fica com as seguintes características: (a) Qual a razão para esta doença se manifestar tão tardiamente?
fica mais susceptível às infecções; (b) tem um número de linfócitos (Ajuda: IgG.)
muito diminuído no tecido linfático; e, (c) a sua capacidade para 7. Nasceu um bebé com uma imunodeficiência combinada grave
rejeitar enxertos é muito diminuída. Explique estas observações. (SCID). Numa tentativa para o salvar, é submetido a um transplante
3. Se o timo de um animal de laboratório adulto for removido, podem- de medula. Explique a forma como este processo pode ajudar o bebé.
se observar os seguintes factos: (a) não existe efeito imediato; e (b) Infelizmente, surge uma rejeição e o bebé morre. Explique o
após um ano o número de linfócitos no sangue diminui, a capacida- mecanismo ocorrido.
de para rejeitar enxertos diminui e a capacidade para produzir 8. Um doente tinha muitas reacções alérgicas. Do esquema terapêutico
anticorpos diminui. Explique estas ocorrências. fazia parte identificar o alergénio que estimulou a resposta
4. Adjuvantes são substâncias que retardam mas não param a liberta- imunitária. Constituíram-se soluções, contendo cada uma um
ção de um antigénio, a partir do local de injecção no sangue. alergénio que normalmente provoca uma reacção. Foi injectada cada
Suponha que a injecção A de uma determinada quantidade de uma das soluções em locais diferentes do dorso do doente. Obtive-
antigénio é dada sem adjuvante e, a injecção B da mesma quantidade ram-se os seguintes resultados: (a) num dos locais da injecção,
do antigénio é administrada com adjuvante, que prolonga a poucos minutos após, o local ficou vermelho e edemaciado; (b)
libertação de antigénio por um período de 2 ou 3 semanas. Seria a noutro local aqueles sinais só apareceram dois dias depois; e (c) nos
injecção A ou a B que determinaria uma maior quantidade de outros locais não apareceu nenhum daqueles sinais. Explique o que é
produção de anticorpos? Explique. que aconteceu em cada um dos locais, descrevendo qual a parte do
5. O tétano é provocado por uma bactéria que penetra no corpo sistema imunitário envolvida e como surgiu o rubor e o edema.
através de soluções de continuidade na pele. A bactéria produz uma 9. A Rita Rocha desenvolveu um eritema alérgico, após contacto com a
toxina que determina contracções musculares espásticas. Muitas sumagreira, num acampamento. O médico prescreveu-lhe uma
vezes a morte é devida a falência dos músculos respiratórios. Um pomada contendo corticosteróides para aliviar a inflamação.
doente recorre ao serviço de urgência após ter pisado um prego e Algumas semanas depois a Rita fez uma ferida por abrasão no
ferido um pé. Se o doente já foi vacinado contra o tétano, é-lhe cotovelo que ficou inflamado. Como ainda lhe restava alguma
injectado um reforço da vacina, toxina modificada de modo a ser pomada anteriormente prescrita, ela utilizou-a no cotovelo.
menos letal. Se o doente nunca tiver sido vacinado contra o tétano, Explicitar se a utilização da pomada foi uma decisão acertada para a
é-lhe injectada uma dose de anti-soro contra o tétano. Explique a primeira e para a segunda situação referidas.
fundamentação desta decisão e a razão pela qual as injecções são 10. A Susana furou as orelhas para usar brincos. Infelizmente, verificou
administradas em locais diferentes. que quando usava brincos de fantasia, ao final do dia tinha feito uma
6. Uma criança apresenta um desenvolvimento normal até aos nove reacção inflamatória (alérgica) ao metal dos brincos. Esta reacção
meses mas, a partir desta altura começa a fazer diversas infecções era devida aos anticorpos ou às citocinas?
Respostas no Apêndice G
R E S P O S T A S A O S E X E R C Í C I O S
1. A secção e a laqueação dos vasos linfáticos evita o movimento do 5. Com a depressão da actividade das células T helper, a capacidade dos
líquido intersticial a partir do espaço intersticial. A pequena antigénios para activar as células T efectoras é muito diminuída. A
quantidade de líquido que não retorna às extremidades venosas dos depressão da imunidade mediada por células resulta numa incapaci-
capilares após deixar as extremidades capilares arteriais, é normal- dade para resistir aos microrganismos e à neoplasia.
mente conduzida, dos espaços tecidulares à circulação sanguínea, 6. A administração de uma dose de reforço estimula a resposta
pelos vasos linfáticos. Se os vasos linfáticos forem laqueados, o secundária (de memória), levando à formação de grandes quantida-
líquido acumula-se no espaço intersticial e instala-se o edema. des de anticorpos e de células de memória. Assim, existe uma
2. As células T transferidas para o rato B não respondem ao antigénio. imunidade mais eficaz e duradoura.
As células T são MHC limitadas e têm de ter proteínas MHC do rato 7. O lúpus eritematoso sistémico é uma doença auto-imune, na qual os
A, bem como antigénio X, de forma a responder. auto-antigénios activam respostas imunitárias. Muitas vezes, esta
3. Quando o antigénio é eliminado, já não fica disponível para situação conduz à formação de imunocomplexos e ao estabeleci-
processar e para se combinar com os antigénios MHC de classe II. mento da inflamação. Mas, muitas vezes os anticorpos ligam-se a
Assim, não existe sinal para provocar a proliferação de linfócitos e antigénios nas células, lisando-as. A púrpura resulta de hemorragias
para produzir anticorpos. da pele, o que significa que a formação do trombo branco (de
4. A primeira exposição ao agente causador de doença (antigénio) plaquetas), o mecanismo normal de reparação de pequenas lesões
suscita uma resposta imunitária primária. Contudo, os anticorpos nos vasos sanguíneos, não está a funcionar normalmente. Nesta
degradam-se progressivamente e as células de memória morrem. Se, situação de lúpus eritematoso sistémico, os anticorpos estão a
antes de todas as células de memória serem eliminadas, ocorrer uma provocar a destruição das plaquetas e a diminuição do seu número
segunda exposição ao antigénio, ocorrerá uma resposta imunitária vai conduzir a uma menor formação de trombos brancos e a
secundária. As células de memória produzidas poderiam fornecer problemas na coagulação (ver capítulo 19). Esta situação denomina-
imunidade até à próxima exposição ao antigénio. se trombocitopénia.