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Sistema

Linfático e
Imunidade

C A P Í T U L O

Um macrófago (célula de maiores dimensões) a


preparar-se para fagocitar uma bactéria (E. coli). 22 Um dos aspectos fundamentais da
vida é que muitos organismos con-
somem ou utilizam outros organis-
mos para sobreviver. Por exemplo, as
térmitas alimentam-se da madeira, os
veados de erva, as aranhas comem as
térmitas e os lobos alimentam-se de vea-
dos. Os parasitas vivem alojados noutros or-
ganismos (no seu exterior ou mesmo no interior),
os hospedeiros. O hospedeiro fornece ao parasita as condições e os alimentos
necessários à sua sobrevivência. Os ancilostomas podem viver no ambiente
protegido do intestino do homem, onde se alimentam de sangue. O homem é
hospedeiro de múltiplos tipos de organismos incluindo microrganismos como

Parte 4 Regulação e Manutenção


bactérias, vírus, fungos e protozoários, insectos e vermes. Muitas vezes os pa-
rasitas prejudicam o homem podendo causar doenças ou mesmo a morte. Con-
tudo, o nosso corpo possui formas de resistir ou de destruir os microrganismos
patogénicos. Este capítulo aborda o sistema linfático (784), a imunidade (792),
a imunidade inata (793), a imunidade adaptativa (798), as interacções
imunitárias (812), a imunoterapia (812), a imunidade adquirida (816) e os efei-
tos do envelhecimento no sistema imunitário e na imunidade (820).
784 Parte 4 Regulação e Manutenção

Sistema Linfático 2. Absorção de gorduras. O sistema linfático absorve gordu-


ras e outras substâncias do tubo digestivo (ver capítulo
Objectivos 24). No revestimento do intestino delgado existem vasos
■ Descrever as funções do sistema linfático. linfáticos especiais, os quilíferos, para onde as gorduras
■ Referir a anatomia e a localização dos vasos linfáticos entram e, através dos vasos linfáticos, são conduzidas
■ Descrever a estrutura e as funções do tecido linfático difuso, para o sistema venoso. A linfa destes vasos tem um
dos nódulos e dos gânglios linfáticos, das amígdalas, do aspecto leitoso devido ao seu conteúdo em gorduras e
baço e do timo. denomina-se quilo.
3. Defesa. Os microrganismos e outros corpos estranhos são
O sistema linfático é composto pela linfa, vasos linfáticos,
filtrados da linfa pelos gânglios linfáticos e do sangue
tecido linfático, nódulos linfáticos, gânglios linfáticos, amígda-
pelo baço. Para além destes, os linfócitos e outras células
las, baço e timo (figura 22.1).
têm a capacidade de destruir microrganismos e outras
substâncias estranhas.
Funções do Sistema Linfático
O sistema linfático ajuda a manter o equilíbrio hídrico nos teci- Vasos Linfáticos
dos e absorve gorduras do tubo digestivo. Também faz parte do Os vasos linfáticos são essenciais à manutenção do equilíbrio
sistema de defesa do organismo contra os microrganismos e hídrico. Iniciam-se em pequenas estruturas tubulares em fundo
outras substâncias nocivas. de saco, os capilares linfáticos (figura 22a). Os líquidos tendem
1. Equilíbrio hídrico. Por dia, passam cerca de 30 l de a movimentar-se dos capilares sanguíneos para os espaços
líquidos dos capilares sanguíneos para o espaço tecidulares (ver “Trocas capilares e regulação do volume de lí-
intersticial; contudo, só retornam aos capilares cerca de quido intersticial” no capítulo 21). Os líquidos em excesso pas-
27 l. Se os três litros de diferença permanecessem no sam pelos espaços dos tecidos e entram nos capilares linfáticos,
espaço intersticial, estabelecer-se-ia o edema que lesaria onde formam a linfa. Existem capilares linfáticos em quase to-
os tecidos e que, eventualmente, conduziria à morte. Em dos os tecidos do corpo humano; são excepção o sistema nervo-
vez disso, aqueles 3 l de líquido entram nos capilares so central, a medula óssea e os tecidos sem vascularização como
linfáticos, onde o fluido se chama linfa (água cristalina), a cartilagem, a epiderme e a córnea. Existe um grupo superficial
e é conduzido pelos vasos linfáticos de volta ao sangue de capilares linfáticos na derme e na hipoderme. A drenagem
(ver capítulo 21). Para além de água, a linfa tem dissolvi- linfática dos músculos, articulações, vísceras e outras estruturas
dos solutos de duas proveniências: (1) do plasma, como mais profundas é realizada por um grupo de capilares mais pro-
iões, nutrientes, gases e algumas proteínas que passam fundo.
dos capilares sanguíneos para o espaço intersticial, Os capilares linfáticos são diferentes dos capilares sanguí-
passando depois a fazer parte da linfa; e (2) das células, neos pois não têm membrana basal e as células de epitélio
como as hormonas, enzimas e também produtos de pavimentoso simples estão ligeiramente sobrepostas e fracamente
degradação. ligadas umas às outras (figura 22.b). Esta estrutura vai determi-
nar dois tipos de ocorrências: primeiro, os capilares linfáticos
são mais permeáveis do que os capilares sanguíneos e têm acesso
a todo o conteúdo do líquido intersticial; em segundo lugar, o
epitélio dos capilares linfáticos funciona como uma série de vál-
Amígdalas vulas unidireccionais que permite a entrada de líquido para os
vasos mas que impede o seu retorno ao espaço intersticial.
Gânglio
linfático Os capilares linfáticos unem-se para dar origem a vasos
Timo cervical linfáticos de maior calibre, semelhantes a pequenas veias. O re-
vestimento interno do vaso linfático é constituído por endotélio
Gânglio Plexo circundado por uma membrana elástica, a camada intermédia é
linfático mamário constituída por células de músculo liso e fibras elásticas; e, a ca-
axilar mada mais externa é constituída por uma fina membrana de te-
Canal
torácico cido conjuntivo fibroso.
Vaso Baço Os vasos linfáticos de pequeno calibre assemelham-se a
linfático contas ou pérolas devido à existência de válvulas unidireccionais
Gânglio
linfático inguinal semelhantes às das veias (ver figura 22.2b). Quando um destes
vasos é submetido a uma força de compressão, estas válvulas
impedem a inversão do sentido do fluxo da linfa, assegurando a
sua progressão ao longo do referido vaso. A compressão dos va-
sos linfáticos é devida a três factores: (1) à contracção dos mús-
culos esqueléticos vizinhos, durante a actividade, (2) à contrac-
Figura 22.1 Sistema Linfático ção dos músculos lisos das paredes dos vasos linfáticos e a (3)
Principais órgãos e vasos linfáticos. modificações da pressão intra-torácica durante a respiração.
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 785

Arteríola
(do coração) Linfa
Capilar Válvula fechada
sanguíneo (evita o refluxo
Vénula da linfa)
(para o coração)

Líquido
a entrar no
capilar linfático
Válvula aberta
(a linfa flui na
direcção indicada
pela seta)
Direcção do fluxo
da linfa no capilar Células
epiteliais
sobrepostas

Líquido
a entrar no
capilar linfático Células dos tecidos
Capilar
linfático Para o sistema venoso

Figura 22.2 Formação e Drenagem da Linfa


(a) Movimento de líquido dos vasos capilares para os tecidos e destes para os vasos linfáticos, formação da linfa. (b) A sobreposição das células epiteliais dos
capilares linfáticos facilita a entrada de líquido mas evita o seu retorno aos tecidos. As válvulas existentes ao longo dos vasos linfáticos também asseguram o fluxo
unidireccional da linfa.

Os gânglios linfáticos são estruturas redondas, ovais ou em veia linfática (não esquematizado na figura 22.3b), que desem-
forma de feijão que se distribuem ao longo dos diversos vasos lin- boca numa veia torácica (ver figura 22.3b). Estes troncos dre-
fáticos (ver “Gânglios linfáticos” mais à frente, neste capítulo). Es- nam o lado direito da cabeça, o membro superior direito e o
tas estruturas têm a função de filtrar a linfa que os atravessa, ao hemitórax direito (figura 22.3c).
longo dos vasos linfáticos. Os gânglios linfáticos estão ligados entre A metade direita do corpo infra-torácica e todo o hemicorpo
si em grupos, para que a linfa que sai de um gânglio seja conduzida esquerdo (ver figura 22.3c) drenam principalmente para o canal
para o seguinte, onde entra e assim sucessivamente. Após passarem torácico (ver figura 22.3b). O canal torácico é o vaso linfático de
através dos gânglios linfáticos, os vasos linfáticos convergem para maior calibre. Tem cerca de 38-45 cm de comprimento, estenden-
formarem outros de maior calibre, os troncos linfáticos. Cada um do-se desde a 12ª vértebra torácica até à base do pescoço (ver figura
dos troncos linfáticos drena uma grande porção do corpo (figura 22.3c). Os troncos jugular e subclavicular desembocam no canal
22.3a e b). Os troncos jugulares drenam a cabeça e o pescoço; os torácico. Por vezes, o tronco broncomediastínico une-se ao canal
troncos infraclaviculares drenam os membros superiores, a por- torácico, mas habitualmente desemboca numa veia. Os troncos in-
ção mais superficial da parede torácica e as glândulas mamárias; os testinal e lombar que drenam a linfa proveniente dos níveis inferi-
troncos broncomediastínicos drenam a linfa dos órgãos torácicos ores ao diafragma, suprem a terminação inferior do canal torácico.
e da porção mais profunda da parede torácica; os troncos intesti- Podem desembocar directamente no canal torácico ou combina-
nais drenam os órgãos abdominais, como sejam os intestinos, o rem-se, formando uma rede que se liga ao canal torácico. Numa
estômago, o pâncreas, o baço e o fígado; e, os troncos lombares proporção diminuta de casos, os troncos linfáticos formam um saco,
drenam os membros inferiores, as paredes pélvica e abdominal, os a cisterna quilosa ou de Pequet.
órgãos pélvicos, os ovários ou testículos, os rins e as glândulas
1. Enumere as partes constituintes do sistema linfático e
suprarrenais.
descreva as três principais funções do sistema linfático.
Os troncos linfáticos unem-se às grandes veias torácicas ou 2. Como se forma a linfa?
a vasos linfáticos de ainda maior calibre, os canais linfáticos, 3. Descreva a estrutura de um capilar linfático. Por que razão é
que se vão juntar a veias de grande calibre. As uniões dos troncos que os líquidos e outras substâncias entram com facilidade
e dos canais linfáticos às veias variam muito. Muitos unem-se a no capilar linfático?
nível da junção entre as veias subclávia e jugular interna; contu- 4. Qual é a função das válvulas dos capilares linfáticos? Refira
do, existem junções de linfáticos às veias subclávias, jugulares e três factores que determinem o movimento da linfa nos
mesmo à braquiocefálica. vasos linfáticos.
Habitualmente, do lado direito, os troncos jugular, subcla- 5. O que são troncos e canais linfáticos? Nomeie o maior vaso
vicular e o broncomediastínico unem-se a uma veia torácica, linfático. O que é a cisterna quilosa ou de Pequet?
individualmente (ver figura 22.3 b). Em cerca de 20% dos casos 6. Que áreas do corpo são drenadas pelos troncos linfáticos
os três troncos unem-se entre si, para formar um pequeno canal direitos, pelos troncos linfáticos esquerdos e pelo canal
de 1 cm de comprimento, o canal linfático direito ou grande torácico?
786 Parte 4 Regulação e Manutenção

Veias braquiocefálicas

Veia jugular interna direita Veia jugular interna esquerda


Canal torácico
Tronco jugular direito
Tronco jugular esquerdo

Tronco subclavicular esquerdo


Tronco subclavicular
direito
Tronco broncomediastínico
Veia subclávia direita esquerdo

Veia subclávia esquerda


Tronco broncomediastínico direito
Primeira costela (corte)

Veia cava superior Pleura parietal (corte)


Costela (corte)
Gânglios linfáticos torácicos
Músculo intercostal
Veia hemiázigos
Veia ázigos

Canal torácico

T12
Cisterna quilosa
Diafragma
Tronco lombar esquerdo
Tronco lombar direito Tronco intestinal
Veia cava inferior
(a)

Canal torácico

Tronco jugular direito Tronco jugular Região drenada


esquerdo Região drenada
pelos troncos pelos troncos
Tronco subclavicular linfáticos direitos linfáticos esquerdos
Tronco subclavicular esquerdo e pelo canal torácico
direito

Tronco bronco-
Tronco broncome-
mediastínico direito
diastínico esquerdo

(b)

(c)

Figura 22.3 Drenagem Linfática para as Veias


(a) Vista anterior dos principais vasos linfáticos do tórax e do abdómen. (b) Visão ampliada dos vasos linfáticos a partir dos quais a linfa entra na corrente sanguí-
nea. (c) regiões do corpo drenadas pelos vasos linfáticos esquerdos e direitos.

E X E R C Í C I O dendríticas, células reticulares e outros tipos de células. Os


Na cirurgia radical das neoplasias, os gânglios linfáticos malignos linfócitos são um dos tipos de leucócitos (ver capítulo 19); são
são muitas vezes removidos e os linfáticos aferentes são laqueados formados na medula óssea vermelha e transportados aos órgãos
para evitar a metastização, ou disseminação da neoplasia. Refira as linfáticos e aos restantes tecidos pelo sangue. Quando o organis-
consequências da laqueação dos vasos linfáticos. mo é exposto a microrganismos ou substâncias estranhas, os
linfócitos dividem-se, aumentando em número, e fazem parte
Órgãos e Tecidos Linfáticos da resposta do sistema imunitário, que destrói microrganismos
Os órgãos linfáticos contêm tecido linfático, principalmente e substâncias estranhas. No tecido linfático também existem fi-
constituído por linfócitos; também contêm macrófagos, células bras muito finas de colagénio, as fibras reticulares, que são pro-
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 787

duzidas pelas células reticulares. Os linfócitos e outras células Amígdalas


aderem a estas fibras. A rede entrelaçada de fibras retém os lin- As amígdalas são agregados, invulgarmente grandes, de nódu-
fócitos e as outras células, fixando-os num determinado local. los linfáticos e de tecido linfático difuso, localizadas em profun-
Quando a linfa ou o sangue são filtrados pelos órgãos linfáticos, didade sob a mucosa da faringe (figura 22.5). Constituem uma
a rede de fibras também captura microrganismos e outras partí- barreira protectora contra as bactérias e outros potenciais agres-
culas neles existentes. sores que atinjam a faringe, provenientes do nariz e da boca. Nos
O tecido linfático pode ser classificado como encapsulado, adultos, as amígdalas diminuem de tamanho, podendo mesmo,
quando está envolvido por uma cápsula de tecido conjuntivo, e em alguns casos, chegar a desaparecer.
como não-encapsulado, quando aquela não existe. Os gânglios Existem três grupos de amígdalas, mas as palatinas são as
linfáticos, o baço e o timo fazem parte do grupo dos órgãos lin- vulgarmente consideradas como “as amígdalas.” São massas
fáticos encapsulados. Os agregados de tecido linfático não- linfóides ovais, relativamente grandes, localizadas, bilateralmente,
encapsulado que se encontram nas, e entre, as mucosas de reves- na junção entre a cavidade oral e a faringe. A amígdala faríngea
timento do tubo digestivo e dos aparelhos respiratório, urinário ou adenóide é uma colecção, fortemente agregada, de nódulos
e reprodutor, constituem o tecido linfóide associado à mucosa. linfáticos, localizada perto do local de união da cavidade nasal
Nestes locais o tecido linfático está distribuído de uma forma com a faringe. Uma amígdala faríngea aumentada pode interfe-
que lhe permite interceptar os microrganismos, à medida que rir com a respiração normal. A amígdala lingual é uma colec-
estes entram no corpo. São exemplo deste tipo de tecido o tecido ção de nódulos linfáticos, fracamente agregados, localizada na
linfático difuso, os nódulos linfáticos e as amígdalas. porção mais posterior da língua.
Por vezes, as amígdalas ou os adenóides, permanecem cro-
Tecido Linfático Difuso e Nódulos Linfáticos nicamente infectados e é necessária a sua remoção cirúrgica. A
O tecido linfático difuso tem linfócitos, macrófagos e outras amígdala lingual infecta-se menos vezes do que as outras e a sua
células dispersas; não tem uma forma bem definida, não é bem remoção é mais difícil.
delimitado e liga-se aos tecidos circundantes (figura 22.4). Tem
7. No tecido linfático, quais são as funções dos linfócitos e
uma localização profunda em relação à mucosa, em redor dos
das fibras reticulares?
nódulos linfáticos e dentro do baço.
8. Defina tecido linfático associado à mucosa. De que forma é
Os nódulos linfáticos são constituídos por um arranjo
que a sua localização beneficia o organismo?
compacto de tecido linfóide, mais ou menos esférico, com di-
9. Defina tecido linfático difuso, nódulo linfático, placas de
mensões que variam desde poucas centenas de micra até alguns
Peyer e folículo linfático.
milímetros, ou mais, de diâmetro (ver figura 22.4). Os nódulos
10. Descreva a estrutura, a função e a localização das amígdalas.
linfáticos são numerosos no tecido conjuntivo laxo dos apare-
lhos digestivo, respiratório e urinário. As placas de Peyer são
conjuntos de nódulos linfáticos que existem na metade inferior Gânglios Linfáticos
do intestino delgado e no apêndice. Para além do tecido linfóide Os gânglios linfáticos são pequenas estruturas, redondas ou em
associado à mucosa, também existem nódulos linfáticos nos forma de feijão, com dimensão variável, de 1 a 25 mm de com-
gânglios linfáticos e no baço, onde são denominados folículos primento, que se distribuem ao longo do trajecto dos vasos lin-
linfáticos. fáticos (ver figuras 22.1 e figura 22.6). Filtram a linfa removendo
as bactérias e outras substâncias. É nos gânglios linfáticos que os
linfócitos se aglomeram, exercem as suas funções e proliferam.

Amígdala faríngea

Tecido
Nódulo linfático Amígdala palatina
linfático difuso

Amígdala lingual

LM 25x

Figura 22.4 Tecido Linfático Difuso e Nódulo Linfático Figura 22.5 Localização das Amígdalas
Tecido linfático difuso envolvendo um nódulo linfático do intestino delgado Vista anterior da cavidade oral mostrando as amígdalas. Foi removida parte
(placa de Peyer). do palato (linha tracejada) para visualizar a amígdala faríngea.
788 Parte 4 Regulação e Manutenção

Cápsula
Trabécula

Seio sub-capsular Cordão medular


Tecido linfático difuso Medula
Seio medular
Córtex Seio cortical
Nódulo linfático
Centro germinativo
Vaso linfático eferente
drenando a linfa do
gânglio linfático
Vaso linfático aferente
drenando a linfa para Artéria
o gânglio linfático Veia

(a)

Centro Cápsula
germinativo Seio sub-
-capsular
Nódulo
linfático
Tecido
linfático Córtex
difuso

Trabécula

Cordões
medulares

Medula

LM 10x
(b)

Figura 22.6 Gânglio Linfático


(a) As setas indicam a direcção do fluxo da linfa. À medida que a linfa percorre os seios as células fagocitárias removem as substâncias estranhas. Os centros
germinativos são locais de produção de linfócitos. (b) Histologia de um gânglio linfático.

Hérnia Inguinal os gânglios axilares (cerca de 30) filtram a linfa proveniente dos
A linfa proveniente dos membros inferiores drena para os gânglios membros superiores e da superfície torácica; os gânglios torácicos
linfáticos inguinais. O canal inguinal é o trajecto através do qual os (cerca de 100) filtram a linfa proveniente da parede torácica e
vasos linfáticos, provenientes dos gânglios inguinais, entram na dos órgãos torácicos; os gânglios abdomino-pélvicos (cerca de
cavidade abdominal. Forma-se uma hérnia inguinal, quando uma ansa 230) filtram a linfa do abdómen e da pélvis; e os gânglios inguinais
intestinal penetra ou preenche completamente o canal inguinal. e popliteus (cerca de 20), filtram a linfa dos membros inferiores
e da pélvis superficial.
Os gânglios linfáticos estão revestidos por tecido conjunti-
Os gânglios linfáticos são classificados como superficiais e vo denso, a cápsula. As extensões da cápsula, as trabéculas, for-
profundos. Os gânglios linfáticos superficiais localizam-se na mam, dentro do gânglio, um fino esqueleto interno. As fibras
hipoderme, abaixo da pele; os gânglios linfáticos profundos reticulares prolongam-se da cápsula e das trabéculas para for-
estão dispersos ao longo de todo o corpo. Habitualmente, am- mar uma rede fibrosa em todo o gânglio. Em algumas áreas do
bos os tipos de gânglios estão localizados no tecido adiposo, ad- gânglio, existem linfócitos e macrófagos agrupados à volta das
jacentes aos vasos sanguíneos. No corpo, existem cerca de 450 fibras reticulares, de modo a formar tecido linfático; noutras, as
gânglios linfáticos. Os gânglios linfáticos cervicais e da cabeça fibras reticulares estendem-se através dos espaços existentes for-
(cerca de 70) filtram a linfa proveniente da cabeça e do pescoço; mando os seios linfáticos. O tecido linfático e os seios do gânglio
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 789

distribuem-se em duas camadas não muito bem definidas, o terligados. As artérias, as veias e os vasos linfáticos estendem-se
córtex e a medula. O córtex é constituído por um seio subcap- ao longo das trabéculas para suprir os compartimentos que es-
sular, abaixo da cápsula, e por seios corticais separados por teci- tão preenchidos com polpa branca e polpa vermelha. A polpa
do linfático difuso, trabéculas e nódulos linfáticos. A medula, branca está relacionada com a irrigação sanguínea arterial do
interior, é constituída por uma estrutura irregular ramificada de baço e a polpa vermelha com a venosa. Cerca de ¼ do volume
tecido linfático difuso, os cordões medulares, separados por seios do baço é constituído por polpa branca e os restantes ¾ são de
medulares. polpa vermelha.
Os gânglios linfáticos são as únicas estruturas que filtram a Os ramos da artéria esplénica, penetram no baço pelo hilo
linfa. Têm vasos linfáticos aferentes que conduzem a linfa aos e, seguem as diversas trabéculas em direcção ao interior do baço
gânglios, onde é filtrada e vasos linfáticos eferentes que a trans- (ver figura 22.7a e b). A partir da trabécula, os ramos arteriais
portam a partir daqueles. A linfa conduzida pelos vasos aferentes estendem-se pela polpa branca que é constituída pela bainha peri-
entra nos seios subcapsulares do gânglio e é filtrada do córtex à arterial linfática e por folículos linfáticos(ver figura 22.7c). A bai-
medula, passando pelos seios corticais e pelo tecido linfático do nha peri-arterial é constituída por tecido linfático difuso, que
córtex. Depois, passa pelos seios e pelo tecido linfático da medu- envolve as artérias e as arteríolas que se estendem até aos nódu-
la, deixando o gânglio linfático pelos vasos linfáticos eferentes. los linfáticos. Estas arteríolas entram nos nódulos linfáticos e
Os vasos linfáticos de um gânglio podem-se constituir como vasos originam capilares que irrigam a polpa vermelha, constituída
aferentes de um outro, ou podem convergir para formar troncos pelos cordões esplénicos e pelos seios venosos. Os cordões es-
linfáticos, que conduzem a linfa até à corrente sanguínea, a nível plénicos são compostos por uma rede de células reticulares que
dos vasos torácicos. produzem fibras reticulares (ver capítulo 4). Os espaços entre as
Os seios estão revestidos por macrófagos que removem as células reticulares estão preenchidos por macrófagos esplénicos
bactérias e outras substâncias da linfa, à medida que passam pe- e células sanguíneas provenientes dos capilares; e, os seios veno-
los gânglios. Os seios linfáticos são revestidos por macrófagos sos são constituídos por capilares dilatados que separam os cor-
que removem da linfa as bactérias e outras substâncias estranhas dões esplénicos. Normalmente, os seios venosos unem-se às veias
ao organismo, à medida que esta vai sendo lentamente filtrada trabeculares que se fundem para formar vasos que deixam o baço
quando passa pelos seios. Os microrganismos, ou outras subs- formando a veia esplénica.
tâncias estranhas na linfa, podem estimular os linfócitos do O fluxo sanguíneo no baço ocorre a três velocidades dife-
gânglio a dividir-se, com proliferação mais evidente nos folículos rentes. O fluxo mais rápido realiza-se em poucos segundos, o
linfáticos do córtex. Estas áreas de rápida divisão dos linfócitos intermédio nalguns minutos e o fluxo lento numa hora ou mais.
são os centros germinativos. Os linfócitos recém-formados são A maioria do sangue passa rapidamente pelo baço, cerca de 10%
libertados na linfa e podem entrar na corrente sanguínea onde move-se a uma velocidade intermédia e 2% passa lentamente.
circularão. De seguida, os linfócitos podem deixar o sangue e O fluxo mais rápido é o fluxo habitual nos órgãos com um
entrar noutros tecidos linfáticos. circuito fechado, no qual existe uma ligação capilar directa en-
tre os vasos venosos e os arteriais (ver figura 22.7c). Contudo, no
baço só raramente existem estas ligações directas; a maior parte
Os Gânglios Linfáticos Retêm Células Neoplásicas da circulação sanguínea ocorre em circuito aberto, no qual não
As células neoplásicas podem disseminar-se a partir de um tumor para
existe uma ligação directa entre os vasos venosos e os arteriais.
o sistema linfático, onde são sequestradas nos gânglios linfáticos e
onde podem proliferar. Se as células neoplásicas conseguirem sair dos
Então, o sangue flui para a fronteira entre as polpas branca e
gânglios, podem passar, através dos vasos linfáticos para o sangue e vermelha ou para os cordões linfáticos. Na maioria dos casos, o
virem a fixar-se noutros locais do organismo. Durante a cirurgia sangue entra rapidamente nas extremidades abertas dos seios
oncológica os gânglios linfáticos malignos (neoplásicos) são, muitas venosos que têm origem junto da fronteira. Por outro lado, o
vezes ressecados e os seus vasos laqueados, para evitar a dissemina- sangue percorre os cordões esplénicos e passa através das pare-
ção da neoplasia. des dos seios venosos, que têm espaços intercelulares. O fluxo
mais rápido é determinado pela movimentação do sangue no
circuito fechado ou, para as extremidades abertas dos seios ve-
Baço nosos no circuito aberto. O fluxo intermédio é a passagem do
O baço tem aproximadamente o tamanho de um punho fecha- sangue através dos cordões esplénicos e através das paredes dos
do, localizado na região superior externa do hipocôndrio esquer- seios venosos. O fluxo lento segue o mesmo percurso do inter-
do, dentro da cavidade abdominal (figura 22.7). O peso médio médio, mas é mais demorado devido à adesão temporária dos
do baço de um adulto é de 180 g nos homens e de 140 g nas elementos figurados do sangue às células dos cordões esplénicos.
mulheres. Nos idosos o baço tende a diminuir de tamanho e de O baço destrói os eritrócitos defeituosos, detecta e reage às
peso mas, em certos tipos de doenças o baço pode atingir 2000 g substâncias estranhas existentes no sangue e funciona como re-
ou mais. servatório de sangue. À medida que os eritrócitos envelhecem
O baço é revestido por uma cápsula de tecido conjuntivo vão perdendo a capacidade para se deformarem. Assim, as célu-
de densidade irregular e uma pequena quantidade de músculo las podem romper-se quando passam através da rede de cordões
liso. As fibras conjuntivas da cápsula formam prolongamentos, esplénicos ou dos espaços intercelulares das paredes dos seios
as trabéculas, que se estendem da cápsula para o interior do venosos, sendo estas depois fagocitadas pelos macrófagos esplé-
baço, subdividindo o órgão em pequenos compartimentos in- nicos.
790 Parte 4 Regulação e Manutenção

Artéria
trabecular
Ramo da
artéria
Hilo
trabecular
Face gástrica
Veia
Face renal trabecular

Artéria esplénica Polpa branca


Veia esplénica
Polpa
vermelha

(a)
Trabécula

Cápsula
(b)

1. Os ramos das artérias trabeculares estão Ramo da artéria


envolvidos por bainhas linfáticas peri-arteriais. trabecular
1
2. A arteríola penetra no nódulo linfático e
divide-se. Bainha
peri-arterial Seio
Polpa Polpa
3. Alguns (poucos) capilares ligam-se 3 venoso
branca Nódulo vermelha
directamente a um seio venoso (fechado, Cordão
circulação rápida). linfático
2 esplénico
4
4. Na maioria dos capilares, entre a sua Arteríola
terminação e o início dos seios venosos, existe
um pequeno espaço (aberto, circulação rápida). Capilares 5
5. Alguns dos capilares drenam para os cordões
hepáticos (aberto, circulação intermédia e Trabécula
lenta). O sangue flui pelos cordões esplénicos e Célula reticular Veia trabecular
6
passa através das paredes dos seios
esplénicos. Espaço
(c)
6. Os seios venosos ligam-se à veia trabecular.

Trabéculas

Cápsula

Polpa vermelha

Figura 22.7 Baço Polpa branca


(a) Vista inferior do baço. (b) Secção que mostra a distribuição das Artéria
artérias, veias, polpa branca e polpa vermelha. A polpa branca está
associada às artérias e a polpa vermelha às veias. (c) Fluxo sanguíneo
LM 10x
na polpa branca e na polpa vermelha. (d) Histologia do baço. (d)

Ao passarem pelo baço, as substâncias estranhas existentes à contracção do músculo liso da cápsula, à contracção do mús-
no sangue podem estimular uma resposta imunitária, devido à culo liso (miofibroblastos) das trabéculas, ou à redução do aporte
presença de linfócitos especializados (descritos mais à frente, neste sanguíneo ao baço gerada pela vasoconstrição.
capítulo). Na bainha peri-arterial existem muitas células T e nos
nódulos linfáticos existem muitas células B.
O baço humano é um reservatório limitado de sangue. Por Esplenectomia por Traumatismo
exemplo, durante o exercício o volume do baço pode ser reduzi- Embora o baço esteja protegido pelas costelas, pode ser lacerado num
do em cerca de 40 a 50%. A pequena elevação do número de traumatismo abdominal. O traumatismo do baço pode determinar uma
eritrócitos em circulação pode promover um maior aporte de hemorragia grave, choque e mesmo a morte. Para parar a hemorragia é
oxigénio aos músculos, durante o exercício ou em situações de muitas vezes realizada uma esplenectomia, a remoção cirúrgica do
baço. O fígado e os restantes tecidos linfáticos compensam as funções
emergência. Actualmente, ainda não é bem conhecido o meca-
que antes eram desempenhadas pelo baço.
nismo que determina esta diminuição de volume, se ela é devida
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 791

Traqueia Cápsula

Gânglios
linfáticos Trabécula
Timo

Córtex
Lóbulo
Medula

Gordura

Coração Corpúsculo Vasos


tímico sanguíneos

(a) (b)

Trabécula

Córtex
Lóbulo
Medula

Corpúsculo
tímico
LM 10x
(c)

Figura 22.8 Timo


(a) Localização e forma do timo.
(b) Secção que mostra um lóbulo tímico.
(c) Histologia do timo mostrando o córtex externo e a medula interna.

Timo formam as áreas de coloração escura dos lóbulos, o córtex. Na


O timo é uma glândula bilobada (figura 22.8), localizada na por- porção central dos lóbulos, existe uma zona com uma coloração
ção superior do mediastino, dividindo a cavidade torácica nas me- mais clara, a medula, que tem menos linfócitos. A medula tam-
tades esquerda e direita. Antigamente, pensava-se que o timo ia bém contém umas estruturas epiteliais redondas, os corpúscu-
aumentando de tamanho até à puberdade, após o que diminuía los tímicos (corpúsculos de Hassal) dos quais ainda não se co-
muito de tamanho. Hoje, acredita-se que o timo aumenta de tama- nhece a função.
nho durante primeiro ano de vida, mantendo-o depois, apesar do O timo é o local onde certos tipos de linfócitos maturam, as
crescimento do indivíduo. Após os 60 anos, diminui de tamanho e, células T. O timo produz muitos linfócitos, mas a maioria degene-
nos idosos pode ser tão pequeno que é difícil de identificar mesmo ra. Aqueles que completam o processo de maturação têm capaci-
durante cirurgia. Embora, ao longo da vida, o tamanho do timo dade para reagir às substâncias estranhas ao organismo, mas, nor-
seja relativamente constante, aos 40 anos a maior parte do tecido malmente, não reagem e não destroem as células normais do corpo
linfático desta glândula foi substituído por tecido adiposo. (ver ”Origem e desenvolvimento dos linfócitos” mais à frente, neste
Cada lobo do timo está envolvido por uma cápsula fina de capítulo). Estes linfócitos tímicos que completaram o processo de
tecido conjuntivo. As trabéculas prolongam-se da cápsula para maturação, migram para a medula óssea, entram em circulação e
o interior da glândula, dividindo-a em lóbulos. Enquanto que o dirigem-se a outros tecidos linfáticos.
restante tecido linfático possui uma rede fibrosa de fibras reti- 11. Qual é a localização dos gânglios linfáticos? Descreva as
culares, a rede tímica é composta por células epiteliais. Os gru- partes constituintes de um gânglio linfático e explique o
pos de células epiteliais estão unidos por desmosomas e formam fluxo da linfa através dele.
pequenos compartimentos irregulares preenchidos por linfócitos.
Perto da cápsula e das trabéculas, existem muitos linfócitos que
792 Parte 4 Regulação e Manutenção

Perspectiva Clínica Patologia do Sistema Linfático

Não surpreende o facto de muitas das doen- pestis) que é transferida para o homem a par- me do membro afectado, que fica com uma
ças infecciosas produzirem sintomas asso- tir dos ratos, pela mordedura da pulga dos ra- configuração semelhante à da perna de um
ciados ao sistema linfático, uma vez que ele tos ( Xenopsylla ). A bactéria aloja-se nos elefante, o que determinou o nome da do-
está envolvido na produção de linfócitos gânglios linfáticos provocando o seu aumento ença. As microfilárias, produzidas pelo pa-
que combatem as doenças infecciosas e fil- de tamanho. O termo bubónico deriva de uma rasita feminino, passam do sistema linfáti-
tra o sangue e a linfa, para remover micror- palavra grega que significa virilha pois, mui- co para o sangue, a partir do qual podem
ganismos. A linfadenite é uma inflamação tas vezes, a doença causa o ingurgitamento ser transferidos para outros seres humanos,
dos gânglios linfáticos que provoca o seu dos gânglios da cadeia inguinal (da virilha). pelos mosquitos.
aumento de tamanho e os torna dolorosos Sem tratamento, a bactéria entra na corrente Um linfoma é uma neoplasia (tumor ma-
à palpação. Esta situação é indicadora de sanguínea, multiplica-se e dissemina-se, rapi- ligno) do tecido linfático. Normalmente, os
que os microrganismos estão a ser seques- damente, pelos tecidos do corpo, infectando- linfomas dividem-se em dois grupos: (1) do-
trados e destruídos dentro dos gânglios lin- os e provocando a morte em 70 a 90% dos ença de Hodgkin; e (2) todos os outros, que
fáticos. Por vezes, os vasos linfáticos infla- casos. Nos séculos VI, XIV e XIX a peste bubó- são linfomas não-Hodgkin. É comum a do-
mam, originando uma linfangite que se ma- nica foi responsável por muitas mortes na Eu- ença ter início com o aparecimento de mas-
nifesta por zonas de eritema linear, visíveis ropa. Hoje surgem poucos casos, devido à sas constituídas por adenopatias dolorosas.
a partir do local da infecção e que alastram melhoria das condições sanitárias e à desco- O sistema imunitário está deprimido e o do-
em seu redor. Se os microrganismos passa- berta dos antibióticos. A elefantíase é provocada ente tem maior susceptibilidade às infec-
rem dos vasos e dos gânglios linfáticos para por vermes parasitas filiformes (Wuchereria ções. O aumento de volume dos gânglios lin-
o sangue, podem conduzir ao estabeleci- bancrofti). Os vermes adultos alojam-se nos fáticos pode comprimir as estruturas vizi-
mento de uma septicemia (ver capítulo 19). vasos linfáticos, obstruindo o fluxo linfático. A nhas e determinar o aparecimento de outros
A peste bubónica e a elefantíase são acumulação de líquido no espaço intersticial sinais ou sintomas. Felizmente, o tratamen-
doenças do sistema linfático. A peste bu- e nos vasos linfáticos, daí resultante, pode pro- to combinado de fármacos com radiações é
bónica é causada por uma bactéria (Yersinia vocar edema permanente e aumento de volu- eficaz em muitos doentes com linfoma.

12. Quais são as funções dos gânglios linfáticos? Como são A especificidade e a memória são características da imuni-
desempenhadas? Defina centro germinativo. dade adaptativa, mas não da imunidade inata. A especificidade
13. Onde se localiza o baço? Enumere os dois componentes da é a capacidade que o sistema imunitário tem de reconhecer uma
polpa branca e da polpa vermelha. determinada substância. Por exemplo, enquanto que a imunida-
14. Explique os fluxos de sangue rápido, intermédio e lento no de inata pode actuar contra a generalidade das bactérias, a imu-
baço. nidade adaptativa distingue diferentes tipos de bactérias. A me-
15. Quais são as três funções do baço? mória é a capacidade que o sistema imunitário tem de recordar
16. Qual é a localização do timo? Descreva a sua estrutura. Em contactos prévios com determinada substância e, assim, de rea-
que consiste a barreira hemato-tímica? Qual a sua relação gir mais rapidamente.
com as funções do timo? Na imunidade inata, de cada vez que o organismo é expos-
to a uma substância a resposta é a mesma, uma vez que não exis-
te memória relativamente a exposições anteriores. Por exemplo,
Imunidade sempre que uma bactéria entra no corpo, ela é fagocitada com a
mesma velocidade e eficácia. Na imunidade adaptativa, a res-
Objectivo posta durante a segunda exposição é mais rápida e mais forte do
■ Descrever os dois principais tipos de imunidade. que durante a primeira, pois o sistema imunitário relembra a
primeira exposição à bactéria. Por exemplo, a seguir à primeira
A imunidade é a capacidade de resistir às agressões de subs-
exposição à bactéria, o organismo pode levar vários dias a de-
tâncias estranhas, como microrganismos e substâncias químicas
gradá-la. Durante este período a bactéria lesa os tecidos, com o
nocivas. A imunidade divide-se em: imunidade inata, também
consequente aparecimento dos sintomas de doença. Contudo,
chamada resistência não-específica; e em imunidade adaptativa,
após a segunda exposição à mesma bactéria, a resposta é mais
também chamada imunidade específica. Na imunidade inata, o
rápida e eficaz. As bactérias são destruídas antes do aparecimen-
organismo reconhece e destrói algumas substâncias estranhas,
to dos sintomas e diz-se que a pessoa está imune ou imunizada.
mas a resposta é sempre a mesma em cada exposição. Na imuni-
dade adaptativa, o organismo reconhece e destrói as substâncias 17. Defina os conceitos de imunidade, especificidade e
estranhas mas, a resposta aumenta cada vez que se dá uma expo- memória.
sição ao agente agressor. 18. Quais as diferenças entre a imunidade inata e adaptativa?
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 793

Imunidade Inata evitam a entrada de microrganismos nas células; são exemplos: a


lisozima, o sebo (ou sebum) e o muco. Outros mediadores quími-
Objectivos cos, como a histamina, o complemento, as prostaglandinas e os
■ Descrever as células e as substâncias químicas responsá- leucotrienos, favorecem o estabelecimento da inflamação, induzindo
veis pela imunidade inata. vasodilatação, aumentando a permeabilidade vascular, atraindo leu-
■ Enumerar os passos da resposta inflamatória, explicando o cócitos e estimulando a fagocitose. Para além destes, os interferãos
seu significado. (interferons) protegem as células das infecções virais.
Os principais componentes da imunidade inata são: (1) fac-
tores mecânicos que evitam a entrada de microrganismos no orga- Complemento
nismo ou que os removem da superfície corporal; (2) mediadores O complemento é um grupo de cerca de 20 proteínas que cons-
químicos que actuam directamente contra os microrganismos, ou tituem cerca de 10% das globulinas do plasma. Fazem parte des-
que activam outros mecanismos que conduzem à destruição da- te grupo, proteínas denominadas de C1 a C9 e factores B, D e P
queles; e (3) células envolvidas na fagocitose e a produção de subs- (properdina). Normalmente, as proteínas do complemento cir-
tâncias químicas que participam na resposta imunitária. culam no sangue sob uma forma inactiva, não funcionante. Ac-
tivam-se através da cascata do complemento, uma série de reac-
ções nas quais cada componente da série activa o seguinte (figu-
Factores Mecânicos ra 22.9). A cascata do complemento tanto pode ter início pela
Os factores mecânicos, como a pele e as mucosas, formam bar- via alternativa como pela via clássica. A via alternativa faz parte
reiras protectoras que evitam a entrada de microrganismos e de da imunidade inata e tem início quando a proteína C3 do com-
substâncias químicas nos tecidos do organismo e removem-nos plemento se activa espontaneamente. Normalmente, a proteína
da sua superfície de diversas formas. As substâncias estranhas C3 activada é rapidamente inactivada pelas proteínas da super-
são expulsas dos olhos, pelas lágrimas; da boca, pela saliva; e das fície das células do organismo. Contudo, se a C3 activada se com-
vias urinárias, pela urina. Nas vias aéreas, as mucosas ciliadas bina com uma substância estranha, como parte de uma bactéria
“varrem” os microrganismos captados pelo muco para a faringe, ou vírus, pode-se tornar estável e provocar a activação da cascata
para serem deglutidos. A tosse e o espirro também removem do complemento. A via clássica faz parte da imunidade adap-
microrganismos das vias aéreas. Se os microrganismos não pe- tativa que será abordada mais à frente, neste capítulo.
netrarem no organismo não podem ser agentes de doença. As proteínas activadas do complemento fornecem protec-
ção de diversas formas (ver figura 22.9). Cinco das proteínas do
Mediadores Químicos complemento unem-se para formar o complexo de ataque à
Os mediadores químicos são moléculas que estão envolvidas no membrana (MAC)(*) que faz um orifício na membrana. Quan-
desenvolvimento da imunidade inata (quadro 22.1). Alguns dos do os complexos de ataque à membrana se formam na membrana
mediadores que se encontram na superfície das células, matam ou plasmática de uma célula nucleada, o Na+ e a água entram para a

Quadro 22.1 Mediadores Químicos da Imunidade Inata, Funções


Mediador Descrição Mediador Descrição
Mediadores de superfície Lisozimas (nas lágrimas, saliva, secreções nasais Complemento Grupo de proteínas plasmáticas que aumentam a
e suor), lise das células; secreções ácidas permeabilidade vascular, estimulam a libertação
(sebo na pele e ácido clorídrico no estômago), de histamina, activam as cininas, fazem a lise de
evitam a proliferação microbiana ou matam os células, promovem a fagocitose e atraem
microrganismos; muco nas membranas neutrófilos, monócitos, macrófagos e eosinófilos.
mucosas, sequestra os microrganismos até
que eles possam ser destruídos. Prostaglandinas Grupo de lípidos (PGEs, PGFs, tromboxanos e
prostaciclinas), produzidos pelos mastócitos.
Histamina Amina libertada pelos mastócitos, basófilos e Relaxam o músculo liso, provocam
plaquetas. Provoca vasodilatação, aumenta a vasodilatação, aumentam a permeabilidade
permeabilidade vascular e estimula a secreção vascular e estimulam os receptores da dor.
das glândulas (especialmente produção de
muco e lágrimas), provoca a contracção do Leucotrienos Grupo de lípidos, principalmente produzidos pelos
músculo liso das vias aéreas (bronquíolos) e mastócitos e pelos basófilos, que provoca a
nos pulmões e atrai eosinófilos. contracção prolongada do músculo liso
(especialmente nos bronquíolos). Aumentam a
Cininas Polipéptidos derivados das proteínas permeabilidade vascular e atraem neutrófilos e
plasmáticas. Induzem vasodilatação, aumen- eosinófilos.
tam a permeabilidade vascular, estimulam os
receptores da dor e atraem neutrófilos. Pirogénios Substâncias químicas libertadas pelos neutrófilos,
monócitos e outras células. Estimulam a febre.
Interferão Proteína produzida pela maioria das células que
interfere com a produção dos vírus e com a
infecção.
PGE – Prostaglandina E; PGF – Prostaglandina F.

(*) Letras da sigla em língua inglesa para Membrane Attack Complex (N.T.).
794 Parte 4 Regulação e Manutenção

A via clássica é activada em C1


e necessita de anticorpos que se
tenham ligado a antigénios.

Via clássica
Complexo
antigénio-anticorpo

A via alternativa é activada quando a


C1 C1 activada proteína C3 do complemento se activa
espontaneamente e se combina com
substâncias estranhas e com os
factores B, D e P.

C4 C4 activada
Via alternativa

Substâncias estranhas
e factores B, D e P
C2 C2 activada

Estabilização
de C3 activada

As proteínas C3 a C7 C3 C3 activada
do complemento
promovem a
fagocitose, a
inflamação e a
quimiotaxia (atraem C5 activada C5
células imunitárias).
Podem ser activadas
pela via clássica ou
pela alternativa.
C6 activada C6

C7 activada C7

C8 activada C8

C9 activada C9

Membrana As proteínas
celular do complemento
formam um
complexo de
ataque à membrana

As proteínas C5 a C9 (amarelo)
combinam-se para formar um orifício
na membrana da células alvo,
provocando a sua lise.

Figura 22.9 Cascata do Complemento


Através de uma reacção em cascata as proteínas do complemento inactivas são activadas (ovais azuis): cada proteína do complemento activada vai activar a que
se lhe segue na sequência.
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 795

célula, pelo orifício gerado pelo complexo, fazendo com que a


Tratamento das Infecções Virais e das Neoplasias
aquela entre num processo de lise celular. Quando os complexos
com Interferãos
de ataque à membrana se formam na membrana externa de certas Como algumas neoplasias são induzidas por vírus, os interferãos
bactérias (Gram negativas), passa através do orifício formado uma podem ter importância no seu controlo. Os interferãos activam os
enzima, a lisozima, que digere a parede da bactéria. Quando a pare- macrófagos e as células natural killer (um tipo de linfócitos) que atacam
de é destruída a célula bacteriana entra em processo de lise. as células neoplásicas. Actualmente, são produzidas, por engenharia
As proteínas do complemento também poderem aderir à su- genética, quantidades de interferãos suficientes para utilização clínica
perfície das bactérias e estimular os macrófagos para as fagocitarem. e, em conjunto com outras terapêuticas, têm sido eficazes no tratamen-
As proteínas do complemento também atraem células do sistema to de certas infecções a vírus e neoplasias. Por exemplo, os interferãos
imunitário para os locais de infecção e induzem a inflamação. são utilizados no tratamento da hepatite C, uma doença viral que pode
provocar cirrose e neoplasia hepática e, nas verrugas genitais
provocadas pelo vírus do herpes. Os interferãos também estão
Interferão indicados no tratamento do sarcoma de Kaposi, uma neoplasia que
Os interferãos são proteínas que protegem o organismo contra pode ocorrer nos doentes com SIDA.
as infecções virais e, possivelmente, de algumas formas de
neoplasia. Quando um vírus infecta uma célula, pode-se dar a
replicação viral. Os ácidos nucleicos virais e as proteínas, pro- células imunitárias, como sejam os macrófagos e as células na-
duzidas à custa dos organelos celulares, são reunidos em novos tural killer.
vírus. Estes novos vírus libertam-se da célula infectada, para in- 19. Enuncie os três principais componentes da imunidade inata.
fectar outras. As infecções virais são prejudiciais ao organismo 20. Refira dois mecanismos mecânicos que formam barreira,
porque as células infectadas deixam de desempenhar as suas fun- impedindo a entrada de microrganismos. Como é que os
ções, ou morrem, durante a replicação dos vírus. Felizmente, os microrganismos podem ser eliminados da superfície do
vírus e outras substâncias também podem estimular as células a corpo?
produzir interferãos. Os interferãos, nem protegem as células 21. O que é o complemento? Quais as duas vias pelas quais
que os produzem nem actuam directamente contra os vírus. pode ser activado? Como é que o complemento oferece
Ligam-se à superfície das células vizinhas, estimulando-as a pro- protecção?
duzir proteínas antivirais que impedem a replicação viral nes- 22. O que são interferãos? Qual o mecanismo pelo qual eles
sas células, evitando a produção de novos ácidos nucleicos e de protegem o organismo da acção dos vírus?
proteínas virais. A resistência aos vírus fornecida pelos inter-
ferãos não é específica, os mesmos interferãos actuam contra Células
muitos vírus diferentes. Na realidade, a infecção por um tipo de Os leucócitos e as células que deles derivam (ver quadro 19.2),
vírus pode proteger contra a infecção por outros tipos de vírus. constituem o componente celular mais importante do sistema
Alguns dos interferãos também têm funções na activação de imunitário (quadro 22.2). Os leucócitos são produzidos na medula

Quadro 22.2 Células Imunitárias, Principais Funções


Célula Funções Principais Célula Funções Principais
Imunidade Inata Imunidade Adaptativa
Neutrófilo Fagocitose e inflamação. Normalmente, é a Célula B Após ser activada, diferencia-se em
primeira célula a deixar o sangue e a entrar nos plasmócito ou em célula B de memória
tecidos infectados Plasmócito Produz anticorpos que, directa ou indirecta-
Monócito Deixa o sangue e entra nos tecidos para se mente, são responsáveis pela destruição
transformar em macrófago do antigénio
Macrófago Fagócito mais importante. Importante nos estados Célula B de memória Resposta rápida e eficaz contra um antigénio
infecciosos avançados e na reparação dos a que o sistema imunitário já tenha
tecidos. Está disperso pelo organismo para reagido; responsável pela imunidade
“interceptar” substâncias estranhas. Produz Célula T citotóxica Responsável pela destruição de um
antigénios e tem influência na activação das antigénio por lise ou através da produção
células B e T de citocinas
Basófilo Célula móvel que sai do sangue, entra nos tecidos Célula T Produz citocinas que induzem a inflamação
e liberta mediadores químicos que induzem a de hipersensibilidade
inflamação
retardada
Mastócito Célula fixa nos tecidos conjuntivos que induz a
Célula T helper Activa as células B e T efectoras
inflamação através da libertação de mediadores
químicos Células T supressoras Inibem as células B e T efectoras
Eosinófilo Penetra nos tecidos, a partir do sangue, e liberta Célula T de memória Resposta rápida e eficaz contra um antigénio
substâncias químicas que inibem a inflamação a que o sistema imunitário tenha reagido
previamente. Responsável pela imunidade
Células natural killer Fazem a lise de células tumorais e das infectadas
adaptativa
por vírus
Célula dendrítica Produz antigénios e interfere na activação
das células B e T
796 Parte 4 Regulação e Manutenção

óssea vermelha e no tecido linfático, depois são libertados no fígado os vasos sanguíneos, alargam e formam espaços – os seios
sangue e transportados a todo o organismo. Para serem eficazes, – semelhantes aos dos gânglios linfáticos. Nos seios, as células
os leucócitos têm de ser conduzidos até aos tecidos onde são reticulares produzem uma rede fina de fibras reticulares que
necessários. Os factores quimiotácticos são componentes de relenta os fluxos, sanguíneo ou linfático, e forma uma grande
microrganismos ou produtos químicos, libertados pelas células superfície para os macrófagos se fixarem, para além de que estes
dos tecidos, que actuam como sinais químicos para atrair leucó- também existem no seu revestimento endotelial.
citos. São factores quimiotácticos importantes que se difundem Como os macrófagos das fibras reticulares e do revestimen-
a partir do local onde são libertados: o complemento, os leuco- to endotelial dos seios, fazem parte dos primeiros macrófagos
trienos, as cininas e a histamina. Os leucócitos podem detectar estudados, estas células eram referidas como o sistema retículo-
pequenas diferenças na concentração dos factores quimiotácticos, endotelial. Hoje, sabe-se que os macrófagos têm origem nos
deslocando-se daqueles onde a sua concentração é menor, para monócitos e que existem em diversos locais, para além dos seios.
aqueles onde ela é maior. Assim, deslocam-se para a fonte dos Como os monócitos e os macrófagos têm um só núcleo, não-
mediadores, uma capacidade chamada quimiotaxia. Os leucó- lobado, são hoje denominados sistema fagocitário mononu-
citos podem-se deslocar, por movimento amebóide, pela super- clear. Por vezes, são dados nomes específicos aos macrófagos,
fície das células, podem passar entre as células e, por vezes, pas- como: macrófagos alveolares (dust cells), nos pulmões; células
sam directamente através de outras células. de Kupffer, no fígado; e, microglia, no sistema nervoso central.
A fagocitose é a endocitose e a destruição de partículas
pelos fagócitos (ver figura 3.21). Essas partículas podem ser mi- Basófilos, Mastócitos e Eosinófilos
crorganismos, parte destes, substâncias estranhas ou células Os basófilos têm origem na medula óssea vermelha e são glóbulos
mortas do organismo. As células fagocitárias mais importantes brancos móveis que podem deixar o sangue e penetrar nos tecidos
são os neutrófilos e os macrófagos. infectados. Os mastócitos, que têm a mesma origem, são células
imóveis que residem no tecido conjuntivo, principalmente perto
Neutrófilos dos capilares. Tal como os macrófagos, os mastócitos localizam-se
Os neutrófilos são pequenas células fagocitárias que a medula nos locais de potencial entrada de microrganismos no corpo: a pele,
óssea vermelha produz, em grande quantidade, e liberta para o os pulmões, o tubo digestivo e nas vias genito-urinárias.
sangue onde circulam durante poucas horas. Por dia, passam do Os basófilos e os mastócitos podem ser activados pela imu-
sangue através das paredes do tubo digestivo que protegem, por nidade inata (por exemplo, pelo complemento), ou pela imuni-
fagocitose, cerca de 126 biliões de neutrófilos que depois são eli- dade adaptativa (ver parte relativa aos anticorpos). Quando ac-
minados como parte do bolo fecal. Normalmente, são as pri- tivados libertam substâncias químicas, como a histamina e os
meiras células a entrar nos tecidos infectados e, muitas vezes, leucotrienos, que induzem uma reacção inflamatória ou que ac-
morrem após um único episódio de fagocitose. tivam outros mecanismos, como por exemplo, contracção do
Os neutrófilos também libertam enzimas lisosómicas, que músculo liso brônquico.
matam microrganismos e que também lesam e inflamam os te- Os eosinófilos são produzidos na medula óssea vermelha,
cidos. O pus é uma acumulação de neutrófilos, microrganismos entram no sangue e, em poucos minutos, penetram nos tecidos.
mortos, resíduos dos tecidos necrosados e líquido. As enzimas que eles libertam desdobram as substâncias quími-
cas libertadas pelos basófilos e pelos mastócitos. Então, em si-
Macrófagos multâneo com o início da inflamação, são activados mecanis-
Os macrófagos são monócitos que deixam o sangue e entram mos que travam e reduzem a reacção inflamatória. Este processo
nos tecidos onde aumentam cerca de cinco vezes o seu tamanho, é semelhante ao da coagulação sanguínea, no qual os mecanis-
assim como o número de lisosomas e de mitocôndrias. São gran- mos que evitam a formação de coágulos e favorecem a sua des-
des células fagocitárias que têm uma vida mais longa que os truição, são activados à medida que se forma o coágulo (ver
neutrófilos e podem fagocitar partículas maiores e em maior capítulo 19). Nos doentes com infecções parasitárias, ou com
quantidade do que aqueles. Normalmente, os macrófagos che- reacções alérgicas com um grande componente inflamatório, o
gam aos tecidos a seguir aos neutrófilos e são responsáveis pela número de eosinófilos está muito elevado. Os eosinófilos tam-
maioria da fagocitose nos estádios mais avançados de infecção e bém segregam enzimas que matam alguns parasitas.
pela remoção de neutrófilos mortos e de outros resíduos celula-
res. Para além desta função os macrófagos produzem diversas Células Natural Killer
substâncias, como interferãos, prostaglandinas e complemento, As células natural killer (NK), um tipo de linfócitos produzido
que reforçam a resposta imunitária. na medula óssea vermelha, correspondem a 15% dos linfócitos.
Os macrófagos localizam-se abaixo das superfícies livres As células NK reconhecem tipos de células, como células neo-
do organismo, como a pele (derme), a hipoderme, as mucosas e plásicas ou células infectadas por vírus em geral, em vez de reco-
as serosas e circundam os vasos sanguíneos e linfáticos. Nestes nhecerem células neoplásicas específicas ou células infectadas por
locais, os macrófagos protegem, sequestrando e destruindo os um determinado vírus. Por este motivo e porque não têm me-
microrganismos que tentam entrar nos tecidos. mória, as células NK são classificadas como fazendo parte da
Se os microrganismos conseguem entrar no sangue ou no imunidade inata. As células NK matam as células alvo de diver-
sistema linfático, os macrófagos aguardam-nos em locais espa- sas formas, incluindo a libertação de substâncias que danificam
çosos, os seios, para os fagocitar. No baço, na medula óssea e no a membrana celular, provocando a lise da célula.
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 797

Entrada Resposta Inflamatória


da bactéria
no tecido
A resposta inflamatória é uma sequência complexa de aconte-
cimentos que envolve muitos dos mediadores químicos e células
da imunidade inata. Qualquer tipo de lesão a que os tecidos se-
jam submetidos pode induzir inflamação. Os traumatismos,
queimaduras, substâncias químicas ou as infecções podem da-
nificar os tecidos logo, produzir inflamação. Considerar-se-á uma
Lesão do tecido
infecção bacteriana, como exemplo ilustrativo da resposta infla-
matória (figura 22.10). As bactérias, ou a lesão dos tecidos, pro-
vocam a libertação ou a activação de mediadores químicos como
a histamina, prostaglandinas, leucotrienos, complemento, cininas
e outros. Os mediadores químicos provocam diversas reacções:
Libertação de (1) vasodilatação, que aumenta o fluxo sanguíneo e que contri-
mediadores químicos bui para a chegada de fagócitos e outros leucócitos à área afecta-
da; (2) atracção quimiotáctica de fagócitos, que deixam o san-
gue e penetram nos tecidos; e (3) aumento da permeabilidade
vascular, o que permite a entrada de fibrinogénio e de comple-
Aumento Aumento da
mento, do sangue para os tecidos. O fibrinogénio é convertido
do fluxo Quimiotaxia permeabilidade em fibrina, o que evita a disseminação da infecção, através do
sanguíneo vascular isolamento da área infectada. O complemento vai reforçar a res-
posta inflamatória e atrai mais fagócitos. O processo de liberta-
ção de mediadores químicos, de atracção de fagócitos e de ou-
tros leucócitos continua, até que as bactérias sejam destruídas.
Aumento do número Os fagócitos (principalmente os macrófagos) removem os mi-
de leucócitos e de crorganismos e os tecidos necrosados e assim, os tecidos lesados
mediadores químicos
no local da lesão são reparados.
A inflamação pode ser local ou sistémica. A inflamação
local é uma resposta inflamatória confinada a uma área especí-
fica do organismo (ver capítulo 4). Os sinais e sintomas são
edema, rubor, calor, dor e impotência funcional. O rubor, o ca-
As bactérias lor e o edema, são consequência do aumento do fluxo sanguíneo
são isoladas, e da permeabilidade vascular. A dor é causada pelo edema e pela
destruídas
e fagocitadas acção dos mediadores químicos nos receptores da dor. A impo-
tência funcional resulta da destruição dos tecidos, do edema e da
dor.
A inflamação sistémica é uma resposta inflamatória que
A bactéria é A bactéria tem lugar em diversos locais do organismo. Para além dos sinto-
eliminada permanece mas e sinais locais, podem ocorrer mais três reacções. Primeiro,
a medula óssea vermelha produz e liberta uma grande quantida-
de de neutrófilos que promovem a fagocitose. Segundo, os
pirogénios, substâncias químicas libertadas pelos microrganis-
Reparação Activação de mais
dos tecidos mediadores químicos
mos, macrófagos, neutrófilos e outras células, estimulam a pro-
dução da febre. Os pirogénios interferem no mecanismo de
regulação da temperatura do corpo no hipotálamo, o calor é con-
Figura 22.10 Resposta Inflamatória servado e a temperatura corporal aumenta. A febre estimula a
Fluxograma da resposta inflamatória. As bactérias lesam os tecidos e libertam actividade do sistema imunitário, como a fagocitose, e inibe o
mediadores químicos que iniciam a inflamação, tendo como resultado a
crescimento de alguns microrganismos. Terceiro, nos casos de
destruição das bactérias.
infecção sistémica grave, a permeabilidade vascular pode aumen-
tar tanto que gera a transferência de uma grande quantidade de
líquido, do espaço vascular para o interstício dos tecidos; esta
23. Defina os termos factor quimiotáctico, quimiotaxia e diminuição do volume intravascular (volémia) pode conduzir
fagocitose. ao choque e à morte.
24. Quais são as funções dos neutrófilos e dos macrófagos? O
que é o pus? 27. Descreva os fenómenos que ocorrem durante um processo
25. Quais os efeitos produzidos pelas substâncias químicas de resposta inflamatória.
libertadas pelos basófilos, mastócitos e eosinófilos? 28. Quais são os sintomas da inflamação local e da inflama-
26. Descreva a função das células natural killer. ção sistémica?
798 Parte 4 Regulação e Manutenção

Imunidade Adaptativa Os antigénios podem-se dividir em dois grupos: antigénios


estranhos e auto-antigénios. Os antigénios estranhos não são
Objectivos produzidos pelo organismo, mas são nele introduzidos. São
■ Explicar a origem, desenvolvimento, activação e inibição exemplo de antigénios estranhos: componentes de bactérias, ví-
dos linfócitos. rus e outros microrganismos capazes de provocar doença. O
■ Descrever a imunidade mediada por anticorpos, incluindo a pólen, as faneras dos animais (pele seca e escamosa), excrementos
estrutura, os tipos e os efeitos dos anticorpos. dos ácaros domésticos, alimentos e medicamentos, também são
■ Descrever a imunidade mediada por células e as funções antigénios estranhos e, em certas pessoas, podem desencadear
das células T. uma reacção exagerada do sistema imunitário e produzir uma
reacção alérgica. Os tecidos e os órgãos transplantados que te-
A imunidade adaptativa diz respeito à capacidade para
nham antigénios estranhos, determinam a rejeição do transplan-
reconhecer e responder e memorizar uma determinada subs-
te. Os auto-antigénios (ou antigénios do próprio) são molécu-
tância. As substâncias que a estimulam são os antigénios, gran-
las produzidas pelo organismo que estimulam uma resposta imu-
des moléculas com peso molecular de 10.000, ou mais. Os hap-
nitária adaptativa. A resposta aos auto-antigénios pode ser be-
tenos são pequenas moléculas (de baixo peso molecular) ca-
néfica ou perniciosa. Por exemplo, o reconhecimento de
pazes de se combinarem com outras maiores, como proteínas
antigénios tumorais pode conduzir à destruição do tumor, mas
sanguíneas, para estimularem uma resposta imunitária adap-
pode ocorrer uma doença auto-imune quando os auto-anti-
tativa.
génios estimulam a destruição de tecidos que não era suposto
serem eliminados.
Historicamente, a imunidade adaptativa foi dividida em
Reacções Alérgicas à Penicilina duas partes: imunidade humoral e imunidade mediada por
A penicilina é um exemplo de um hapteno com importância clínica. É uma
células ou celular. Os primeiros investigadores que se dedicaram
pequena molécula que não despoleta uma resposta imunitária. Contudo,
ao estudo do sistema imunitário concluíram que quando o plas-
a penicilina pode-se desdobrar e ligar-se a proteínas plasmáticas, para
ma de um animal imunizado era injectado num outro não imu-
formar uma molécula composta que pode produzir uma reacção
nizado, o segundo ficava imunizado. Como este processo envol-
alérgica. Usualmente, a reacção provoca eritema e febre e, mais
raramente, uma reacção grave que pode conduzir à morte.
ve fluidos corporais (humores), foi-lhe atribuída a designação
de imunidade humoral. Foi também descoberto que as células

Quadro 22.3 Comparação entre a Imunidade Inata, Imunidade Mediada por Anticorpos e Imunidade
Mediada por Células
Imunidade Mediada
Características Imunidade Inata por Anticorpos Imunidade Mediada por Células
Células principais Neutrófilos, eosinófilos, basófilos, mastócitos, Células B Células T
monócitos e macrófagos

Origem das células Medula óssea vermelha Medula óssea vermelha Medula óssea vermelha

Local de maturação Medula óssea vermelha (neutrófilos, Medula óssea vermelha Timo
eosinófilos, basófilos e monócitos) e
tecidos (mastócitos e macrófagos)

Localização das Sangue, tecido conjuntivo e tecido linfático Sangue e tecido linfático Sangue e tecido linfático
células maduras

Principais produtos Histamina, cininas, complemento, Anticorpos Citocinas


segregados prostaglandinas, leucotrienos e interferão

Principais acções Resposta inflamatória e fagocitose Protecção contra antigénios Protecção contra antigénios intracelulares
extracelulares (bactérias, (vírus, bactérias e fungos intracelulares)
toxinas, parasitas e vírus e tumores: regulam a imunidade
exteriores às células) mediada por anticorpos e as respostas
imunitárias mediadas por células
(células T helper e células T
supressoras)

Reacções de Nenhuma Hipersensibilidade imediata Hipersensibilidade retardada (alergia ou


hipersensibilidade (atopia, anafilaxia, infecção e hipersensibilidade de
reacções citotóxicas e contacto)
doença do
imunocomplexo)
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 799

células pré-T que migram pelo sangue até ao timo, onde se divi-
dem e maturam, dando origem a células T. O timo produz
Célula estaminal hormonas, como a timosina, que estimula a maturação das cé-
Medula óssea vermelha
Célula pré-B lulas T. Outras células estaminais também produzem células pré-
B, que são transformadas na medula óssea vermelha em células
Célula pré-T
Célula B B (figura 22.11). Ocorre um processo de selecção positiva que
tem como consequência a sobrevivência das células pré-B e pré-
Circulação T que têm competência para a resposta imunitária. As que não
são competentes não sobrevivem.
Circulação
As células B e T que podem responder a antigénios, são com-
postas por pequenos grupos de linfócitos semelhantes e consti-
tuem os clones. Embora cada um dos clones só possa responder
Célula pré-T Célula B a um determinado antigénio, o número de clones existente é de
tal modo elevado que o sistema imunitário pode reagir à maio-
Célula T
Célula T ria das moléculas existentes. Alguns dos clones também podem
Circulação reagir a auto-antigénios. Alguns destes clones são eliminados ou
Gânglio inactivados por um processo de selecção negativa, dado que esta
Timo infático
resposta poderia destruir as células do próprio organismo. Ape-
Figura 22.11 Origem e Maturação das Células B e T sar de a maioria deste processo ter lugar durante o desenvolvi-
Tanto as células B como as T têm origem na medula óssea vermelha. As mento pré-natal, continua-se ao longo da vida (ver “Inibição dos
células B amadurecem na medula vermelha e as células T no timo. Os dois linfócitos”).
tipos de células deslocam-se para outros locais do tecido linfático onde se As células B são libertadas a partir da medula óssea verme-
podem dividir e aumentar em número, em resposta aos antigénios.
lha, as células T são libertadas a partir do timo e, ambos os tipos
de células, são transportados pelo sangue até ao sistema linfáti-
sanguíneas transferidas de um animal imunizado poderiam ser co. Normalmente, existem cerca de cinco células T por cada cé-
responsáveis pela imunização de outro, este processo foi deno- lula B no sangue. Esses linfócitos têm um período de vida que
minado de imunidade mediada por células ou celular. varia, desde poucos meses até vários anos, e circulam, continua-
Hoje, sabe-se que a imunidade resulta da actividade de cer- mente, entre o sangue e os tecidos linfáticos. Os antigénios podem
tos linfócitos, as células B e T (ver quadro 22.2). As células B entrar em contacto com os linfócitos e activá-los, determinando
estimulam as células que produzem proteínas específicas, os a divisão celular, aumentando o número de linfócitos que podem
anticorpos, que circulam no plasma. Como os anticorpos são reconhecer o antigénio. Estes linfócitos podem circular no san-
os responsáveis, a imunidade humoral hoje denomina-se imu- gue e na linfa para irem ao encontro de antigénios nos tecidos de
nidade mediada por anticorpos. todo o corpo.
As células T são responsáveis pela imunidade mediada por Os órgãos linfáticos primários, a medula óssea vermelha
células. Existem diversas sub-populações de células T e cada uma e o timo, são os locais onde os linfócitos amadurecem, transfor-
delas é responsável por um aspecto específico da imunidade me- mando-se em células funcionantes. Os órgãos e tecidos linfáti-
diada por células. Por exemplo, as células T efectoras, como as cos secundários são os locais onde os linfócitos interagem entre
células T citotóxicas e as células T de hipersensibilidade retar- si, com as células apresentadoras de antigénios e com os anti-
dada, são responsáveis pelos efeitos da imunidade mediada por génios para produzir uma resposta imunitária. O grupo dos ór-
células; enquanto que as células T reguladoras, como as células T gãos e tecidos linfáticos secundários é composto pelo tecido lin-
helper e as células T supressoras, podem regular a actividade da fático difuso, pelos nódulos linfáticos, pelas amígdalas, pelos
imunidade mediada por anticorpos e da imunidade mediada por gânglios linfáticos e pelo baço.
células. 31. Descreva a origem e o desenvolvimento das células B e T.
O quadro 22.3 resume e compara os principais aspectos da 32. O que são clones de linfócitos? Diferencie os processos de
imunidade inata, da imunidade mediada por anticorpos e da selecção positiva e negativa.
imunidade mediada por células. 33. Quais são os principais órgãos e tecidos linfáticos? E os
29. Defina antigénio e hapteno. Distinga um antigénio secundários?
estranho de um auto-antigénio.
30. O que são reacções alérgicas? E doenças auto-imunes? Activação dos Linfócitos
Os linfócitos podem ser activados pelos antigénios, de diferentes
Origem e Maturação dos Linfócitos formas, dependendo dos tipos de linfócito e de antigénio envol-
Todas as células sanguíneas, incluindo os linfócitos, derivam das vidos. Contudo, apesar destas diferenças, existem dois princípi-
células indiferenciadas (stem cells, progenitoras ou estaminais) os gerais da activação linfocitária: (1) os linfócitos têm de ser
da medula óssea vermelha (ver capítulo 19). Este processo ini- capazes de reconhecer o antigénio; e, (2) após o reconhecimen-
cia-se durante o desenvolvimento embrionário e continua ao to, o número de linfócitos tem de aumentar para fazer uma des-
longo da vida. Algumas das células progenitoras dão origem a truição eficaz do antigénio.
800 Parte 4 Regulação e Manutenção

Determinantes e Receptores Antigénicos tamente a um antigénio dentro de uma célula. Por exemplo, os
Para que se dê uma reacção imunitária adaptativa, os linfócitos vírus replicam-se dentro das células, dando origem a proteínas
têm de reconhecer um antigénio. Contudo, os linfócitos não virais que são antigénios estranhos. Algumas destas proteínas
interagem com todo o antigénio, mas com regiões específicas de virais desdobram-se no citoplasma. Os fragmentos proteicos
um antigénio reconhecido pelo linfócito, os determinantes an- entram no retículo endoplasmático rugoso e combinam-se com
tigénicos ou epitopos. Cada antigénio tem muitos determinantes antigénios de histocompatibilidade major de classe I (MHC I),
antigénicos diferentes (figura 22.12). Todos os linfócitos de um clo- para formar complexos que vão para o aparelho de Golgi e pos-
ne, têm à superfície proteínas idênticas, os receptores antigé- teriormente, serem distribuídos na superfície da célula (ver
nicos, que se combinam com um determinante antigénico espe- capítulo 3).
cífico. A resposta do sistema imunitário a um antigénio com um Na superfície da célula, o complexo antigénio-antigénio do
determinado determinante antigénico, é semelhante ao modelo complexo de histocompatibilidade major classe I (complexo
chave-fechadura para as enzimas (ver capítulo 2) e, qualquer antigénio-MHC I) pode-se ligar a um receptor da célula T, acti-
determinante antigénico só se pode combinar com um receptor vando a célula T. Tal como se verá, à frente neste capítulo, esta
antigénico específico no linfócito. Por exemplo, os receptores activação pode conduzir à destruição da célula, o que determina
das células T são compostos por duas cadeias polipeptídicas que o fim da replicação viral. Então o complexo antigénio-MHC I
se subdividem, numa região constante e numa região variável funciona como um sinal ou “bandeira vermelha” que induz o
(figura 22.13). A região variável pode-se ligar a um antigénio e, sistema imunitário à destruição da célula em causa. Basicamente,
receptores de células T diferentes reagem a antigénios diferentes a célula emite um sinal que diz “mata-me!”. Diz-se que este é um
porque as suas regiões variáveis também diferem. Os receptores processo MHC limitado, uma vez que é necessária a interven-
das células B são compostos por quatro cadeias polipeptídicas, ção de um antigénio e do antigénio MHC próprio do organis-
com duas regiões variáveis iguais. São um tipo de anticorpo que mo.
vai ser detalhadamente descrito, mais à frente, neste capítulo. E X E R C Í C I O
No rato A, as células T podem reagir ao vírus X. Se essas células T
Antigénios do Complexo Major de forem transferidas para um rato B que está infectado pelo referido
Histocompatibilidade vírus, será que as células T vão reagir ao vírus? Explique.
Embora alguns antigénios se liguem aos seus receptores e acti-
O mesmo processo que conduz os fragmentos das proteí-
vem, directamente, as células B e algumas das células T, a maio-
nas estranhas à superfície das células, pode transportar fragmen-
ria da activação dos linfócitos tem a intervenção de glicoproteínas
tos de auto-proteínas, inadvertidamente (ver figura 22.14a).
da superfície das células, os antigénios do complexo major de
Como acontece no metabolismo normal das proteínas, as célu-
histocompatibilidade (MHC)(*). Estes antigénios fixam-se na
las desdobram as proteínas velhas e sintetizam outras novas. Al-
membrana celular e têm uma região variável que se pode ligar a
guns dos fragmentos de auto-proteínas, resultantes daquele pro-
auto-antigénios e a antigénios estranhos.
Os antigénios do complexo major de histocompati-
bilidade de classe I (MHC I), encontram-se nas células nucleadas Local de ligação
do antigénio
e têm como função, expressar os antigénios produzidos dentro
da célula, na superfície celular (figura 22.14a). Esta etapa é ne-
cessária porque o sistema imunitário não pode responder direc- Região variável

Determinantes Região constante


Exterior
antigénicos
da célula
diferentes

Antigénio
Membrana celular

Interior
da célula

Figura 22.13 Receptor da Célula T


Figura 22.12 Determinantes Antigénicos O receptor da célula T é constituído por duas cadeias polipeptídicas. A região
Um antigénio tem muitos determinantes antigénicos aos quais os linfócitos variável de cada tipo de receptor é específica para determinado antigénio. A
podem responder. região constante liga a célula T receptora à membrana celular.

(*) Letras da sigla em língua inglesa para Major Histocompatibility Complex (N.T.).
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 801

cesso, podem combinar-se com antigénios MHC classe I e ser As células apresentadoras de antigénios, estão especializadas
expressos na superfície da célula tornando-se auto-antigénios. em captar antigénios estranhos, em processar antigénios e em levar
Normalmente, o sistema imunitário não reage aos auto-an- os antigénios MHC classe II a apresentar os antigénios estranhos a
tigénios combinados com os antigénios MHC, porque os lin- outras células do sistema imunitário (figura 22.14b). Por exemplo,
fócitos que poderiam responder, foram inactivados ou elimina- o complexo antigénio-MHC II pode-se ligar ao receptor das célu-
dos (ver inibição dos linfócitos). las T. Como neste processo é necessária a intervenção do antigénio
Os antigénios MHC classe II (MHC II) encontram-se nas e do antigénio MHC classe II do indivíduo, ele é MHC limitado. Ao
células apresentadoras de antigénios, onde se incluem as célu- contrário dos antigénios MHC classe I, este tipo de expressão não
las B, os macrófagos, os monócitos e as células dendríticas. As leva à destruição da célula apresentadora do antigénio; em vez dis-
células dendríticas são grandes células móveis, com grandes pro- so, o complexo antigénio-MHC II é um sinal que estimula outras
longamentos citoplasmáticos. Estão dispersas pela maioria dos células do sistema imunitário a reagir contra o antigénio. Este tipo
tecidos (excepto no cérebro), tendo a sua maior concentração de expressão celular, é como Paul Revere que deu o alarme para a
nos tecidos linfáticos e na pele. As células dendríticas da pele são milícia se armar e organizar. A milícia saiu e matou o inimigo. Por
muitas vezes chamadas células de Langerhans. exemplo, quando os linfócitos do clone da célula B, que podem

1. As proteínas estranhas ou
autoproteínas são
processadas no citoplasma
Fragmentos
em fragmentos que são
proteicos
antigénios. 3
(antigénios) 2
2. Os antigénios são Antigénio MHC
transportados até ao retículo classe I
endoplasmático rugoso.
3. Os antigénios combinam-se 1
com antigénios MHC classe I.
4. O complexo antigénio-MHC
classe I é transportado para o
aparelho de Golgi, colocado 4
dentro de uma vesícula e Membrana Lúmen Antigénio estranho
transportado para a Proteína 5
membrana celular.
5. Os antigénios estranhos Retículo
combinados com antigénios endoplasmático
MHC classe I estimulam a rugoso Auto-antigénio
destruição celular. Aparelho
6. Os auto-antigénios de Golgi 6
combinados com antigénios
MHC classe I não estimulam a
destruição celular.
(a)

1. O antigénio extracelular
não-processado é ingerido
por endocitose e fica dentro Vesícula
de uma vesícula. com antigénios
2. O antigénio é desdobrado MHC classe II
em fragmentos para formar
antigénios processados.
3. As vesículas que contêm
os antigénios processados 2
fundem-se com as vesículas
produzidas pelo aparelho 3
1
de Golgi que contêm antigénios
MHC classe II. O antigénio Vesícula
processado e o antigénio MHC com
classe II combinam-se. antigénio
4. O complexo antigénio-MHC processado
Antigénio
classe II é transportado para 4
não processado
a membrana celular. Antigénio
5. O complexo antigénio-MHC MHC classe II
classe II expresso pode
estimular as células imunitárias.
Antigénio
processado
5
(b)

(Processo) Figura 22.14 Processamento de Antigénios


(a) No citoplasma, as proteínas estranhas (como as virais) ou as autoproteínas no citosol são processadas em antigénios, transportados pelos antigénios MHC
classe I e expressos na superfície celular. (b) Os antigénios extracelulares são incorporados na célula apresentadora de antigénio, processados, transportados
pelos antigénios MHC classe II e expressos na superfície celular.
802 Parte 4 Regulação e Manutenção

reconhecer o antigénio, entram em contacto com o complexo an- e em outros processos. O quadro 22.4 enumera algumas citocinas
tigénio-MHC II, eles são estimulados a dividirem-se. As funções importantes, bem como as suas funções.
destes linfócitos, tal como a produção de anticorpos, conduzem à Há certos pares de moléculas de superfície (marcadores de
destruição do antigénio. superfície) que também podem estar implicados na co-estimulação
(figura 22.15b). Quando a molécula de superfície de uma célula se
34. Defina determinante antigénico e receptor do antigénio.
combina com uma molécula de superfície de outra, a combinação
Como é que estes se relacionam?
pode funcionar como um sinal que estimula a resposta por parte
35. Que tipo de antigénios são expressos pelos antigénios
de uma dessas células; ou, a combinação pode manter as células
MHC classe I e classe II?
juntas. Normalmente, são necessários vários tipos diferentes de
36. Que tipo de células expressam complexos antigénio-MHC I
moléculas de superfície para induzir uma reacção. Por exemplo,
e antigénio-MHC II e quais as consequências?
uma molécula chamada B7 nos macrófagos, tem de se ligar a uma
37. Defina o processo MHC limitado.
outra, à CD28 das células T helper, antes que estas possam reagir
E X E R C Í C I O com o antigénio levado pelo macrófago. Para além disso, as células
Como é que a eliminação do antigénio pára a produção de anticorpos? T helper têm uma glicoproteína, a CD4, que ajuda as células T helper
a ligarem-se ao macrófago, através da ligação aos antigénios MHC
Co-estimulação classe II. É por esta razão que as células T helper são, por vezes,
A combinação de um complexo antigénio-MHC II com um recep- denominadas células CD4 ou células T4. Pela mesma ordem de
tor de antigénio é, normalmente, o primeiro sinal necessário para razões, as células T citotóxicas, também se podem chamar células
induzir a resposta de uma célula B ou T. Em muitos casos, também CD8 ou células T8, dado terem uma glicoproteína chamada CD8,
é necessária a co-estimulação por outros sinais. A co-estimulação que ajuda a ligar as células T citotóxicas às células do organismo
pode ser feita por moléculas libertadas pelas células e por molécu- que têm antigénios MHC classe I. A designação CD, significa “cluster
las ligadas à superfície das células. As citocinas são proteínas ou differenciation” (diferenciação por grupos), que é um sistema utili-
péptidos segregadas por uma célula, como um regulador das célu- zado para classificar muitas moléculas de superfície.
las vizinhas, que promovem a co-estimulação (figura 22.15a). As
citocinas produzidas pelos linfócitos, são muitas vezes chamadas Proliferação de Linfócitos
linfocinas. As citocinas estão implicadas na regulação da imunida- Antes da exposição a um antigénio, o número de linfócitos num
de, da inflamação, da reparação dos tecidos, no crescimento celular clone é demasiadamente pequeno para produzir uma reacção

Figura 22.15 Co-estimulação Primeiro sinal


O primeiro sinal necessário à activação de uma célula T helper é a
Antigénio Antigénio Receptor
ligação do complexo antigénio-MHC II ao receptor da célula T. (a) MHC processado da célula T
Um sinal de co-estimulação é a libertação, pelo macrófago, de classe II
uma citocina que se liga a um receptor na célula T helper. (b) Um
outro sinal de co-estimulação é a ligação de uma molécula B7 do
macrófago, a uma molécula CD28 da célula T helper. A molécula
CD4 da célula T helper liga-se ao antigénio MHC classe II do Macrófago
macrófago e ajuda a manter as células juntas.
Célula
T helper

Receptor
da citocina

(a) Co-estimulação por citocinas

Antigénio
MHC
classe II Macrófago Célula
T helper
CD4

B7 CD28

(b) Co-estimulação por moléculas de superfície


Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 803

Quadro 22.4 Citocinas, Funções


Citocina* Descrição
Alfa-interferão (αIFN) Evita a replicação viral e inibe o crescimento celular; é segregado pelas células infectadas por vírus.

Beta-interferão (βIFN) Evita a replicação viral, inibe o crescimento celular e diminui a actividade do antigénio MHC das classes I e II. É
segregado pelos fibroblastos infectados por vírus.

Gama-interferão (γIFN) Cerca de 20 proteínas diferentes que activam os macrófagos e as células natural killer (NK); estimulam a imunida-
de adaptativa, aumentando a actividade dos antigénios MHC classe I e II e evita a replicação viral. É segregado
pelas células T helper, citotóxicas T e natural killer.

Interleucina-1 (IL-1) Co-estimulação das células B e T; estimulam a inflamação, através da produção de prostaglandinas, e induzem a
febre actuando no hipotálamo (pirogénios). É segregada pelos macrófagos, pelas células B e pelos fibroblastos.

Interleucina-2 (IL-2) Co-estimulação das células B e T, activação dos macrófagos e das células NK. É segregada pelas Células T helper.

Interleucina-4 (IL-4) Tem papel nas reacções alérgicas, pela activação das células B, conduzindo à produção de IgE. É segregada pelas
células T helper.

Interleucina-5 (IL-5) Parte da reacção contra parasitas, através da estimulação da produção de eosinófilos. É segregada pelas células T
helper.

Interleucina-8 (IL-8) Factor quimiotáctico que estimula a inflamação, atraindo neutrófilos e basófilos. É segregada pelos macrófagos.

Interleucina-10 (IL-10) Inibe a secreção de γ-interferão e de interleucinas. É segregada pelas células T supressoras.

Linfotoxina Mata as células alvo. É segregada pelas células T citotóxicas.

Perforina Forma um orifício nas células alvo, determinando a sua lise. É segregada pelas T citotóxicas.

Factor de necrose tumoral (TNF)** Activa os macrófagos e conduz ao aparecimento de febre (pirogénios). É segregado pelos macrófagos.

* Algumas citocinas foram denominadas de acordo com o teste laboratorial que foi inicialmente utilizado para as identificar. Hoje, esses nomes raramente descrevem bem as
actuais funções da citocina.
** Sigla da nomenclatura em língua inglesa para Tumor necrosis factor (N. T.).

eficaz contra o antigénio. A exposição a um antigénio vai deter- receptores da célula B que se podem ligar a esse antigénio.
minar um aumento do número de linfócitos. Primeiro, dá-se a As células B utilizam complexos antigénio-MHC classe II
elevação do número de células T helper. Este é um acontecimen- para apresentar os antigénios às células T helper produzi-
to importante, uma vez que o grande número de células T helper das durante o processo referido no ponto 1. Essas células
a responder ao antigénio, pode encontrar e estimular células B estimulam as células B a dividirem-se e a produzir
ou T efectoras. Em seguida, aumenta o número de células B ou T anticorpos. O aumento do número de células que produ-
efectoras. Este é também um facto importante, uma vez que es- zem anticorpos pode determinar uma resposta
tas células são as responsáveis pela resposta imunitária que des- imunitária que destrua os antigénios (ver “Efeitos dos
trói o antigénio. anticorpos”, mais à frente neste capítulo.)
38. Defina co-estimulação. Refira duas situações nas quais ela
1. Proliferação das células T helper (figura 22.16). As células
possa ocorrer.
apresentadoras de antigénios utilizam antigénios MHC
39. Porque é que as células T helper são, por vezes, denomina-
de classe II para apresentar os antigénios processados às
das CD4 ou células T4? Porque é que as células T citotóxicas
células T helper. Só as células T helper com os receptores
são, por vezes, denominadas CD8 ou células T8?
da célula T que se podem ligar ao antigénio respondem.
40. Descreva como é que as células apresentadoras de
Estas células T helper respondem aos complexos
antigénios estimulam o aumento do número de células T
antigénio-MHC classe II e à co-estimulação dividindo-se.
helper. Porque é que este é um facto importante?
Assim, o número de células T helper que reconhecem o
41. Descreva como é que as células T helper estimulam um
antigénio aumenta.
aumento do número de células B ou T. Porque é que este é
2. Proliferação e activação das células B ou das células T
um facto importante?
efectoras. Normalmente, o processo de proliferação e a
activação das células B ou das células T efectoras envolve
as células T helper. Este processo está esquematizado na Inibição dos Linfócitos
figura 22.17 para as células B, mas para as células T A tolerância é um estado no qual os linfócitos não respondem
efectoras o processo é semelhante. O clone das células B (estado de não-reacção) a um antigénio específico. Embora os
que pode reconhecer um determinado antigénio possui antigénios estranhos possam induzir tolerância, a função mais
804 Parte 4 Regulação e Manutenção

Antigénio
Macrófago
1
1. As células apresentadoras de
antigénios, como os Antigénio
macrófagos, captam, processado
processam e expressam
antigénios na superfície das
células.

2. Os antigénios ligam-se aos B7


antigénios MHC classe II que Antigénio MHC classe II
têm a função de apresentar o CD4
2 Antigénio processado
antigénio processado ao CD28
receptor de células T da Receptor da célula T
célula T helper, para o
reconhecimento do antigénio. Interleucina-1

3. Dá-se a co-estimulação, pela Célula T helper


glicoproteína CD4 da célula T 3 Co-estimulação
helper ou pelas citocinas. O
macrófago segrega uma cito- Receptor da
cina chamada interleucina-1. interleucina-1

4. A interleucina-1 estimula a
célula T helper, para segregar
a interleucina-2 e para Interleucina-2
produzir os respectivos
receptores. Célula T helper 4

5. A célula T helper auto-estimula Receptor da


a sua divisão quando a interleucina-2
interleucina-2 se liga e aos
receptores interleucina-2.
5
6. As células T helper "filhas"
desta divisão também podem
ser estimuladas a dividir-se, se
expostas ao mesmo antigénio Célula T Célula T
que estimulou a célula T helper "filha" helper "filha"
helper "mãe". Surge um
grande aumento do número
de células T helper.

7. Aumento do número de 6 7
células T helper pode facilitar
a activação das células B ou
das células T efectoras.

A célula T helper A célula T helper pode


pode ser estimulada estimular as células B
para se dividir de novo ou as células T efectoras

(Processo) Figura 22.16 Proliferação das células T helper


A célula apresentadora de antigénio (macrófago) estimula a divisão das células T helper.

importante da tolerância é evitar que o sistema imunitário reaja imaturos são expostos aos auto-antigénios, este processo
contra os auto-antigénios. É evidente a necessidade de manter a elimina os linfócitos auto-reactivos. Para além disso, os
tolerância para evitar o desenvolvimento de uma doença auto- linfócitos imaturos que não são eliminados durante o
imune. A tolerância pode ser induzida de diversas formas. processo de maturação e se tornam maduros, se são auto-
reactivos, podem ainda ser eliminados de formas ainda
1. Eliminação dos linfócitos auto-reactivos. Durante o não muito bem conhecidas.
desenvolvimento pré-natal e após o nascimento, as 2. Prevenção da activação dos linfócitos. Normalmente, para
células estaminais da medula óssea vermelha e do timo, que os linfócitos sejam activados são necessários dois
dão origem a linfócitos imaturos que maturam, ficando estímulos: (1) ligação do complexo antigénio-MHC com
capazes de desenvolver uma resposta imunitária. Quando um receptor de antigénio e (2) co-estimulação. Se um
os linfócitos imaturos são expostos aos antigénios, destes estímulos não ocorrer cessa a activação dos
morrem, em vez de responderem de uma forma que linfócitos. Por exemplo, bloquear, modificar ou eliminar
conduza à eliminação do antigénio. Como os linfócitos um receptor de antigénio, evita a activação. A anergia,
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 805

2
1. Antes de uma célula B poder
ser activada por uma T helper, Receptor Antigénio Antigénio Receptor
a célula B tem de processar o da célula B MHC processado da célula T
mesmo antigénio que activou classe II
a T helper. O antigénio liga-se
a um receptor da célula B e
ambos são introduzidos na
célula por endocitose. 1
Célula B Célula T helper
2. A célula B utiliza um antigénio
MHC classe II, para apresentar
o antigénio processado à
célula T helper. Antigénio
não processado CD4

3. A célula T helper responde


com a libertação de várias
interleucinas que activam a
célula B a dividir-se. 3 As interleucinas
desencadeiam a
divisão das células B

4. As células B activadas
dividem-se, as células 4
descendentes também, e
assim sucessivamente, Célula B Célula B
produzindo eventualmente um "filha" "filha"
elevado número (a figura só
mostra duas células).

5. O número aumentado de
células B produz anticorpos,
que fazem parte da resposta 5
imunitária mediada por
As células "filhas"
anticorpos que elimina
continuam a
antigénios.
dividir-se e a
produzir
anticorpos

(Processo) Figura 22.17 Proliferação das Células B


As células T helper estimulam as células B a dividir-se.

que significa “sem trabalhar”, é uma situação de inactivi- 3. Activação das células T supressoras. As células T
dade, na qual uma célula B ou T não responde a um supressoras, são um grupo de células mal conhecido que
antigénio. A anergia desenvolve-se quando um complexo são definidas pela sua capacidade para suprimirem as
antigénio-MHC se liga a um receptor de antigénio e não respostas imunitárias. É possível que as células T
existe co-estimulação. Por exemplo, se uma célula T se supressoras sejam sub-populações das células T helper e
encontra com um auto-antigénio, numa célula que não das células T citotóxicas. As células T helper (supressoras)
possa proporcionar co-estimulação, ela é desactivada. É libertam citocinas supressoras ou as células T
como se só as células “apresentadoras” de antigénios (citotóxicas) matam as células apresentadoras de
pudessem proporcionar co-estimulação. antigénios.
42. Defina tolerância. Enuncie três formas pelas quais ela se
Inibição e Estimulação da Imunidade estabelece.
A diminuição da produção ou da actividade das citocinas, pode
deprimir o sistema imunitário. Por exemplo, a ciclosporina, um fármaco
utilizado para prevenir a rejeição de órgãos transplantados, inibe a Imunidade Mediada por Anticorpos
produção de interleucina-2. Pelo contrário, podem ser utilizadas A exposição do organismo a um antigénio, pode conduzir à acti-
interleucinas obtidas por engenharia genética para estimular o sistema vação das células B e à produção de anticorpos responsáveis pela
imunitário. A administração de interleucina-2 já promoveu a destruição
destruição dos antigénios. Dado que os anticorpos se localizam
de células neoplásicas, nalguns casos, aumentando a actividade das
nos fluidos corporais, a imunidade mediada por anticorpos é
células T efectoras.
eficaz contra os antigénios extracelulares, como bactérias e ví-
806 Parte 4 Regulação e Manutenção

Locais de ligação
aos antigénios
antigénios.

Cadeia pesada

Cadeia leve Regiões variáveis


das cadeias leves
e das pesadas

Local de ligação ao complemento


Regiões constantes
das cadeias leves
Local de ligação aos macrófagos, e das pesadas
basófilos e mastócitos

Figura 22.18 Estrutura de um Anticorpo


Os anticorpos são constituídos por duas cadeias polipeptídicas pesadas e duas leves. A região variável do anticorpo liga-se ao antigénio. A região constante do
anticorpo pode activar a via clássica da cascata do complemento. A região constante do anticorpo também o pode ligar à membrana celular dos macrófagos,
basófilos ou mastócitos.

rus, protozoários, fungos, toxinas e parasitas quando não estão


Utilização dos Anticorpos Monoclonais
dentro das células. A imunidade mediada por anticorpos tam- Cada tipo de anticorpo monoclonal é uma preparação pura de anticorpo
bém pode provocar reacções de hipersensibilidade imediata (ver que é específica para um único antigénio. Quando o antigénio é
“Foco na Clínica: Problemas do sistema imunitário com rele- inoculado num animal de laboratório, ele activa um clone da célula B
vância clínica”). contra o antigénio. As células B são retiradas do animal e fundidas com
células tumorais. As células do hibridoma resultante têm duas caracte-
Anticorpos rísticas ideais: dividem-se para formar um grande número de células; e,
Os anticorpos são proteínas produzidas como reacção a um as células de um dado clone só produzem um tipo de anticorpos.
Os anticorpos monoclonais são utilizados para determinar a
antigénio. No plasma, para além de outras proteínas, existem
gravidez e para o diagnóstico de doenças como a gonorreia, a sífilis, a
grandes quantidades de anticorpos. Tendo como base o tipo de
hepatite, a raiva e neoplasia. Estes testes são específicos e rápidos,
proteína e os lípidos associados, o plasma pode ser separado em porque os anticorpos monoclonais só se ligam ao antigénio que está a
fracções: albumina, e alfa (α), beta (β) e gama (γ) globulinas. ser testado. Os anticorpos monoclonais poderão vir a ser úteis no
Como um grupo, os anticorpos são, algumas vezes, chamados tratamento das neoplasias, libertando fármacos para as células
gamaglobulinas, dado que é, principalmente, na fracção gama- neoplásicas. (ver “Imunoterapia”, mais à frente neste capítulo).
globulina do plasma que eles existem. Também são chamados
imunoglobulinas (Ig) porque são proteínas globulina envolvi-
das na imunidade.
As cinco classes de imunoglobulinas são chamadas IgG, Acções dos Anticorpos
IgM, IgA, IgE e IgD (quadro 22.5). Todos os grupos de anticorpos Os anticorpos podem afectar directamente os antigénios por dois
têm uma estrutura semelhante, com quatro cadeias polipeptídicas mecanismos. O anticorpo pode-se ligar ao determinante anti-
(figura 22.18): duas cadeias pesadas idênticas entre si e duas ca- génico de um antigénio e interferir na capacidade deste para de-
deias leves, igualmente idênticas entre si. Cada cadeia leve está sempenhar as suas funções (figura 22.19a). Ou então, o anti-
ligada a uma cadeia pesada e as extremidades desta combinação corpo pode-se combinar com um determinante antigénico de
formam a região variável do anticorpo, que é o local que se com- dois antigénios diferentes, tornando ambos ineficazes (figura
bina com o determinante antigénico do antigénio. Como dife- 22.19b). A capacidade dos anticorpos para agregarem antigénios
rentes anticorpos, têm regiões variáveis diferentes, eles são espe- é a base de muitos testes clínicos, como a tipagem sanguínea,
cíficos de cada antigénio. A parte restante do anticorpo é a re- porque quando estão reunidos antigénios suficientes ou agre-
gião constante que é responsável por funções dos anticorpos gam ou precipitam, tornando-se visíveis.
como a capacidade para activar o complemento, ou para ligar o Embora os anticorpos possam afectar os antigénios, de for-
anticorpo a células como macrófagos, basófilos, mastócitos e ma directa, a maior parte da sua eficácia é devida a outros meca-
eosinófilos. Todos os anticorpos de um determinado grupo têm nismos. Quando um anticorpo (IgG ou IgM) se combina com
aproximadamente as mesmas regiões constantes. um antigénio na região variável, a região constante pode activar
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 807

Perspectiva Clínica Problemas do Sistema Imunitário com Relevância Clínica

Reacções de Hipersensibilidade mentos (por exemplo penicilina) e as picadas longadas e as proteínas utilizadas para in-
As reacções imunitárias e as de hipersen- de insectos, são a causa mais frequente. Os duzir imunidade artificial passiva. Surgem
sibilidade (alergia) processam-se de forma mediadores químicos libertados pelos mas- sintomas como febre, adenopatias, espleno-
idêntica, não se conseguindo diferenciar os tócitos e pelos basófilos, provocam uma megália e artrite. Os sintomas de anafilaxia
mecanismos envolvidos numas e noutras. vasodilatação sistémica, hipotensão e insufi- como a urticária também podem ocorrer,
Ambas requerem a exposição ao antigénio ciência cardíaca. Também podem ocorrer sin- porque o envolvimento da IgE faz parte da
e a subsequente estimulação da imunida- tomas da febre dos fenos, urticária e da asma. doença do soro. Se forem removidos do or-
de mediada por anticorpos e/ou mediada Nas reacções citotóxicas, a IgG ou a IgM ganismo, pelo rim, muitos complexos
por células. Se a imunidade ao antigénio se combinam-se com o antigénio na superfície de anticorpo-antigénio circulantes, pode surgir
estabelece, uma exposição ulterior ao mes- uma célula, conduzindo à activação do com- uma glomerulonefrite mediada por imuno-
mo antigénio, determina uma resposta plemento e à subsequente lise da célula. Uma complexos, na qual os vasos sanguíneos re-
imunitária que elimina o antigénio, não reacção citotóxica contra uma bactéria pode nais são destruídos, surgindo insuficiência
ocorrendo o aparecimento de sintomas. Nas ser protectora mas, contra uma célula huma- renal.
reacções de hipersensibilidade, o antigénio na pode ser prejudicial. São exemplos, as reac-
é chamado alergénio e, as exposições ulte- ções transfusionais, provocadas por incompa- Hipersensibilidade Retardada
riores ao mesmo alergénio, estimulam sen- tibilidade de grupos sanguíneos, a doença A hipersensibilidade retardada é mediada
sivelmente o mesmo processo que ocorre hemolítica do recém-nascido (ver capítulo 19) pelas células T e os sintomas levam algumas
durante a resposta imunitária normal. Con- e alguns tipos de doenças auto-imunes. horas ou dias a aparecer. Tal como na hiper-
tudo, o processo que elimina o alergénio As doenças do imunocomplexo surgem sensibilidade imediata, a hipersensibilidade
também produz efeitos colaterais indesejá- quando se formam muitos imunocomplexos. retardada consiste numa exacerbação agu-
veis, como uma reacção inflamatória muito Os imunocomplexos são combinações de da da reacção normal do sistema imunitário.
exacerbada. Esta resposta imunitária pode antigénios solúveis com IgG ou IgM. Quando A exposição ao alergénio provoca a activa-
ser mais prejudicial do que benéfica e pode existem muitos imunocomplexos é activado ção das células T e a produção de citocinas.
induzir sintomas muito incomodativos. As muito complemento, o que determina o desen- As citocinas atraem os basófilos e os monó-
reacções de hipersensibilidade são classi- volvimento de uma reacção inflamatória agu- citos, que se diferenciam em macrófagos. A
ficadas em imediatas ou retardadas. da. O complemento atrai neutrófilos para a actividade destas células determina a des-
área de inflamação e estimula a libertação das truição progressiva dos tecidos, perda de
Hipersensibilidade Imediata enzimas lisosómicas. Esta libertação causa função e cicatrização.
As reacções de hipersensibilidade imedia- lesão tecidular, particularmente nos vasos san- A hipersensibilidade retardada pode-se
ta, são provocadas pela interacção dos guíneos de pequeno calibre, onde os imuno- desenvolver como uma alergia da infecção
anticorpos com os alergénios e os sintomas complexos tendem a alojar-se e a diminuição e hipersensibilidade de contacto. A alergia
aparecem poucos minutos após a exposi- de aporte sanguíneo conduz à necrose dos te- da infecção é um efeito colateral, dos esfor-
ção ao alergénio. As reacções de hipersen- cidos. A reacção de Arthus, a doença do soro, ços mediados por células para eliminar os
sibilidade imediata incluem a atopia, a algumas doenças auto-imunes e a rejeição cró- microrganismos intracelulares e a quantida-
anafilaxia, as reacções citotóxicas e as nica de enxertos, são exemplos de doenças do de de tecido destruído é determinada pela
doenças do imunocomplexo. imunocomplexo. persistência e distribuição do antigénio. O
A atopia é uma reacção de hipersen- Uma reacção de Arthus é uma reacção lo- eritema do sarampo é devido à lesão dos te-
sibilidade localizada, mediada por IgE. Por calizada do imunocomplexo. Por exemplo, se cidos, à medida que a imunidade mediada
exemplo, o pólen das plantas pode ser um um indivíduo foi sensibilizado para os anti- por células destrói as células infectadas por
alergénio que causa a febre dos fenos (hay génios do toxóide da vacina do tétano, devido vírus.
fever), quando inalado e absorvido pela a vacinações sucessivas, e se esse indivíduo Nos doentes com infecções crónicas
mucosa respiratória. A reacção inflamató- for revacinado, no local da administração vai com estimulação antigénica prolongada, a
ria localizada resultante, produz edema e existir uma grande quantidade de antigénio resposta da alergia da infecção pode causar
hiperprodução de muco. Nos doentes as- com o qual os antigénios podem formar com- uma lesão extensa dos tecidos. A destruição
máticos, os alergénios podem estimular a plexos, provocando uma resposta inflamató- do parênquima pulmonar na tuberculose é
libertação de leucotrienos e histamina nos ria localizada, infiltração de neutrófilos e um dos exemplos.
bronquíolos pulmonares, conduzindo à necrose dos tecidos. A hipersensibilidade de contacto é uma
broncoconstrição, por contracção do mús- A doença do soro é uma reacção de Arthus reacção de hipersensibilidade retardada a
culo liso dos bronquíolos e, dificuldade res- sistémica, na qual os complexos anticorpo- alergénios que entram em contacto com a
piratória. A urticária, é uma reacção alérgi- antigénio circulam, alojando-se em muitos te- pele ou com as mucosas. Normalmente,
ca que provoca eritema cutâneo ou edema cidos diferentes. A doença do soro pode sur- após uma exposição prolongada, o toxiden-
localizado e é normalmente provocada pela gir por exposição prolongada a um antigénio, dero, a sumagreira, sabonetes, cosméticos,
ingestão de um alergénio. durante tempo suficiente para uma resposta medicamentos e uma grande variedade de
A anafilaxia é uma reacção sistémica dos anticorpos e consequente formação de produtos químicos, podem induzir hipersen-
IgE-mediada e pode implicar risco de vida. muitos imunocomplexos. São exemplos de sibilidade de contacto. O alergénio é absor-
A introdução de alergénios, como medica- antigénios, terapêuticas medicamentosas pro- vido pelas células epiteliais e as células T
Continua
808 Parte 4 Regulação e Manutenção

(Continuação)

invadem a área afectada, provocando infla- mas incapazes de desempenhar as suas fun- raro dois indivíduos (excepto para os gé-
mação e destruição dos tecidos. Embora o ções. Finalmente, o sistema imunitário pode meos idênticos) terem o mesmo conjunto de
prurido possa ser intenso, coçar é prejudi- ser voluntariamente deprimido por medica- genes HLA. Como eles são geneticamente
cial porque lesa os tecidos e provoca mais mentos, para evitar a rejeição de enxertos. determinados, quanto mais próxima for a re-
inflamação. As imunodeficiências congénitas (presen- lação familiar entre dois indivíduos, maior
tes desde o nascimento) podem envolver a for- será a probabilidade de partilharem os mes-
Doenças Auto-imunes mação inadequada de células B e/ou de célu- mos genes HLA.
Nas doenças auto-imunes, o organismo não las T. A doença da imunodeficiência combina- A rejeição aguda de um enxerto dá-se
consegue distinguir os auto-antigénios dos da grave (SCID)(*), na qual tanto as células B algumas semanas após o transplante e é
antigénios estranhos. Assim, produz-se como as T não se diferenciam, é provavelmen- consequência de uma reacção de hipersen-
uma reacção imunitária que conduz à des- te a mais conhecida. A menos que a pessoa sibilidade retardada e da lise celular. Os lin-
truição dos tecidos. Provavelmente, em que sofre desta doença seja mantida num fócitos e os macrófagos infiltram a área, sur-
muitos casos, a auto-imunidade resulta da ambiente estéril, ou que seja submetida a um ge uma resposta inflamatória acentuada e
diminuição da tolerância, presente nas res- transplante de medula, morrerá por infecção. o tecido estranho é destruído. Se não existir
postas auto-imunes. Numa situação de mí- rejeição aguda, pode ocorrer uma rejeição
mica molecular, um antigénio estranho sen- Controlo dos Tumores crónica, mais tarde. Na rejeição crónica, for-
do muito semelhante a um auto-antigénio, As células tumorais têm antigénios do tumor mam-se imunocomplexos nas artérias que
estimula a resposta imunitária. Depois da que as distinguem das células normais. De irrigam o enxerto, comprometendo o aporte
eliminação do antigénio estranho, o siste- acordo com o conceito de vigilância imunitária, sanguíneo e o enxerto é rejeitado.
ma imunitário continua a reagir contra o o sistema imunitário detecta as células tumo- Na rejeição hospedeiro vs. enxerto, o
auto-antigénio semelhante. Põe-se a hipó- rais e destrói-as, antes de o tumor se poder sistema imunitário do receptor reconhece o
tese de a diabetes tipo I (ver capítulo 18) formar. As células T, as células natural killer e tecido do dador como estranho e rejeita-o.
ser desencadeada desta forma. Nas pesso- os macrófagos estão implicados na destruição Na rejeição enxerto vs. hospedeiro o tecido
as susceptíveis, um antigénio estranho das células tumorais. A vigilância imunitária do dador reconhece o tecido do receptor
pode estimular a imunidade adaptativa, es- pode existir para algumas formas de neoplasia como estranho rejeita-o, causando a destrui-
pecialmente a imunidade mediada por cé- causada por vírus. Contudo, a resposta imuni- ção dos tecidos do receptor e à morte.
lulas, destruindo as células β do pâncreas tária parece ser mais dirigida contra os vírus Para reduzir a rejeição de enxertos, é
produtoras da insulina e conduzir a diabe- do que para os tumores. No homem, só é co- realizada uma prova de compatibilidade de
tes. Outras das doenças auto-imunes que nhecida a etiologia viral em algumas das neo- tecidos. Só os tecidos com HLAs semelhan-
envolvem anticorpos são a artrite reuma- plasias. Para a maioria dos tumores a respos- tes aos do receptor é que têm hipótese de
tóide, a febre reumática, a doença de Gra- ta do sistema imunitário pode ser ineficaz e serem viáveis. Mesmo quando a compatibi-
ves, o lúpus eritematoso disseminado e a muito tardia. lidade é grande, é necessária a administra-
miastenia gravis. ção de medicamentos imunossupressores,
Transplante ao longo da vida do doente, para evitar a re-
Imunodeficiências Os genes que codificam para a produção de jeição. Infelizmente, a pessoa fica com uma
A imunodeficiência é a insuficiência de uma antigénios MHC são, geralmente, chamados imunodeficiência induzida pelos medica-
parte do sistema imunitário para funcionar genes do complexo de histocompatibilidade mentos e mais susceptível ao desenvolvi-
correctamente. Uma vez que pode ter diver- major. O termo histocompatibilidade refere-se mento de infecções. Só existe compatibili-
sas causas, não é rara a existência de um à capacidade dos tecidos (Gr. Histo) coexisti- dade total para auto-enxertos ou para enxer-
sistema imunitário deficiente. A ingestão rem (compatibilidade), quando são transplan- tos entre gémeos idênticos.
inadequada de proteínas inibe a síntese tados de um indivíduo para outro. No homem, Para além de serem tão importantes
proteica e, consequentemente, os níveis de os genes do complexo de histocompatibilidade para aumentar o sucesso dos transplantes,
anticorpos vão diminuir. O stresse pode major, são muitas vezes referidos como genes a determinação dos HLAs tem muitas apli-
deprimir o sistema imunitário e a luta con- do antigénio leucocitário humano (HLA)(**), por- cações. Como são geneticamente determi-
tra a infecção pode causar uma diminuição que foram os primeiros a ser identificados nos nados, os HLAs ajudam na resolução dos
significativa de linfócitos e de granulócitos leucócitos. O sistema imunitário consegue dis- processos de identificação da paternidade.
disponíveis em reserva, tornando o indiví- tinguir as células próprias das estranhas dado Na medicina forense, os HLAs do sangue, do
duo mais susceptível a infecções subse- que ambas estão marcadas com HLAs. A rejei- esperma e dos outros tecidos, ajudam a
quentes. As doenças que provocam proli- ção de um tecido transplantado é devida à res- identificar a pessoa de quem o tecido pro-
feração linfocitária, como a mononucleose, posta normal do sistema imunitário aos HLAs vém.
as leucemias e os mielomas, podem con- estranhos. Existem milhões de combinações
duzir ao aparecimento de muitos linfócitos, diferentes possíveis dos genes HLA e é muito

(*) Sigla da nomenclatura em língua inglesa Severe combined immunodeficiency disease (N.T.).
(**) Sigla da nomenclatura em língua inglesa Human leukocyte antigen (N.T.).
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 809

Quadro 22.5 Tipos de Anticorpos, Funções


% de Anticorpo
Anticorpo no Plasma Estrutura Descrição
IgG 80-85 Activa o complemento e funciona como uma opsonina para
aumentar a fagocitose; pode atravessar a barreira placentária e
dar imunidade ao feto e ao recém-nascido; responsável por
reacções ao factor Rh, como a eritroblastose fetal (doença
hemolítica do recém-nascido)
IgM 5-10 Activa o complemento e actua como um antigénio receptor de
IgG IgA ligação do antigénio na superfície das células B; responsável
pelas reacções transfusionais ao sistema ABO sanguíneo; é
muitas vezes o primeiro anticorpo produzido como reacção a um
IgM
antigénio
IgA 15 Segregada na saliva, lágrimas e nas mucosas para proteger a
superfície corporal; existe no colostro e no leite para fornecer
protecção imunitária ao recém-nascido
Cadeia pesada
IgE 0,002 Liga-se aos mastócitos e aos basófilos e estimula a reacção
inflamatória
IgD 0,2 IgE IgD Cadeia leve Funciona como receptor de ligação antigénico nas células B

a cascata do complemento, através da via clássica (figura 22.9c). habitualmente, o indivíduo desenvolve os sintomas da doença,
Quando o complemento é activado estimula a inflamação; atrai dado que o antigénio teve tempo para lesar os tecidos.
neutrófilos, monócitos, macrófagos e eosinófilos aos locais da A resposta secundária ou de memória, ocorre quando o
infecção e mata a bactérias, fazendo a sua lise. sistema imunitário é exposto a um antigénio contra o qual ele já
Os anticorpos (IgE) podem iniciar uma resposta inflama- tinha produzido uma resposta primária. A resposta secundária
tória (figura 22.9d). Os anticorpos ligam-se, através da região resulta da acção das células B de memória que, quando expostas
constante, aos mastócitos, ou aos basófilos. Quando os antigénios ao antigénio, rapidamente se dividem, para produzir células
se combinam com a região variável dos anticorpos, os mastócitos, plasmáticas e uma grande quantidade de anticorpos. A resposta
ou os basófilos, libertam substâncias químicas (mediadores), por secundária fornece melhor protecção do que a resposta primá-
exocitose, e surge a inflamação. ria, por duas razões. Primeiro, o tempo necessário para começar
As opsoninas são substâncias que tornam o antigénio mais a produzir anticorpos é menor (de horas a poucos dias); e, se-
susceptível à fagocitose. Os anticorpos (IgG) actuam como gundo, a quantidade de anticorpos produzida é muito maior.
opsoninas, ligando-se pela região variável ao antigénio e, pela Assim, o antigénio é destruído mais rapidamente, não se desen-
região constante ao macrófago. Depois, o macrófago fagocita o volvem sintomas da doença e a pessoa está imune.
antigénio e o anticorpo (figura 22.9e). A resposta de memória também inclui a formação de no-
vas células B de memória que protegem contra posteriores ex-
posições ao antigénio. As células B de memória são a base do
Produção de Anticorpos
sistema de imunidade adaptativa. Após a destruição do antigénio,
A produção de anticorpos, após a primeira exposição a um
as células plasmáticas morrem, os anticorpos que elas liberta-
antigénio, é diferente daquela que ocorre durante a segunda ou
ram são degradados e os níveis de anticorpos diminuem até um
as subsequentes. A resposta primária surge na primeira exposi-
ponto a partir do qual já não podem proteger de forma adequa-
ção de uma célula B específica para um determinado antigénio,
da. As células B de memória podem perdurar durante muitos
inclui múltiplas divisões celulares, diferenciação celular e pro-
anos e em alguns casos, provavelmente, toda a vida. Contudo, se
dução de anticorpos. Os receptores de superfície das células B
a produção das células de memória não é estimulada, ou se as
são anticorpos, normalmente IgM e IgD. Os receptores têm a
produzidas vivem durante pouco tempo, podem ocorrer episó-
mesma região variável que os anticorpos que venham a ser, even-
dios de repetição da mesma doença. Por exemplo, o mesmo ví-
tualmente, produzidos pelas células B. Antes da estimulação por
rus da gripe pode provocar a constipação vulgar, mais do que
um antigénio as células B são pequenos linfócitos. Após a activa-
uma vez, no mesmo indivíduo.
ção, as células B sofrem muitas divisões para dar origem a gran-
des linfócitos. Algumas destas grandes células tornam-se células 43. Qual é o tipo de linfócitos responsável pela imunidade
plasmáticas que produzem anticorpos, outras voltam a trans- mediada por anticorpos? Quais as funções da imunidade
formar-se em pequenos linfócitos e tornam-se células B de me- mediada por anticorpos?
mória (figura 22.20). Normalmente, a IgM é o primeiro anti- 44. Quais as funções das regiões variável e constante de um
corpo produzido como resposta a um antigénio, mas mais tarde anticorpo? Enumere os cinco tipos de anticorpos, referindo
são produzidos outros tipos de anticorpos. Normalmente, a res- as suas funções.
posta primária demora entre 3 a 14 dias para produzir anticorpos 45. Descreva as diferentes formas pelas quais os anticorpos
suficientes para serem eficazes contra o antigénio. Entretanto, participam na destruição dos antigénios.
810 Parte 4 Regulação e Manutenção

Antigénio

(a) Inactiva o antigénio. Um anticorpo liga-se a


um antigénio e inactiva-o.

Anticorpo

(b) Liga dois antigénios. Os anticorpos


mantêm diversos antigénios juntos.

(c) Activa a cascata do complemento. Um


antigénio liga-se a um anticorpo. O anticorpo
pode activar as proteínas do complemento Cascata do Inflamação
que podem produzir inflamação, quimiotaxia complemento Quimiotaxia
e lise. activada Lise

(d) Inicia a libertação de mediadores da


inflamação. Um anticorpo liga-se a um
mastócito ou a um basófilo. Quando um
antigénio se liga a este anticorpo,
desencadeia a libertação de substâncias
químicas, os mediadores que causam Mediadores
inflamação.
Inflamação

Mastócito ou basófilo

(e) Facilita a fagocitose. Um anticorpo liga-se


a um antigénio e depois a um macrófago que
fagocita o anticorpo e o antigénio.

Macrófago

Figura 22.19 Acções dos Anticorpos


Os anticorpos podem inactivar os antigénios, induzir a fagocitose (ligando antigénios entre si ou por opsonização) e provocar inflamação (libertação de mediado-
res dos mastócitos ou dos basófilos e pela activação da cascata do complemento).
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 811

46. Defina células plasmáticas e de memória, referindo as sibilidade retardada e no controlo de tumores (ver “Foco na clínica:
suas funções. Problemas do sistema imunitário com relevância clínica”).
47. Em que consistem as respostas primária e secundária dos A activação das células T contra os antigénios é regulada
anticorpos? Porque é que a resposta primária não evita a pelas células apresentadoras de antigénios e pelas células T helper.
doença e a segunda o faz? Uma vez activadas, as células T dividem-se diversas vezes, dando
origem a células T efectoras e células T de memória (figura 22.21).
E X E R C Í C I O
As células T efectoras, como as células T citotóxicas, são respon-
Uma teoria para a imunidade de longa duração, assume que os
sáveis pelas reacções imunitárias mediadas por células. As célu-
seres humanos estão, permanentemente, expostos aos agentes
las T de memória podem fornecer uma resposta secundária e
patogénicos. Explique como é que esta exposição pode produzir
imunidade de longa duração, de forma idêntica à das células B
imunidade para toda a vida.
de memória.

Imunidade Mediada por Células Células T Citotóxicas


A imunidade mediada por células constitui uma das funções das As células T citotóxicas têm duas acções principais: lisam as
células T e é a mais eficaz contra os microrganismos intracelulares células e produzem citocinas. Podem entrar em contacto com
como vírus, fungos, bactérias intracelulares e parasitas. Este tipo de outras células e determinar a sua destruição. As células infectadas
imunidade também está implicado nas reacções de hipersen- por vírus têm antigénios virais, as células tumorais têm antigénios

Células B Mais
de memória células B
de memória

Célula B Menos
1 plasmócitos
Células B
de memória Mais
2 plasmócitos

Mais
anticorpos
Menos
anticorpos

Resposta
secundária
da resposta
Amplitude

Primeira Segunda
exposição exposição
Resposta
primária

Início Início
lento de rápido de
resposta resposta

1. Resposta primária. A resposta primária ocorre 2. Resposta secundária. A resposta secundária ocorre
quando uma célula B é primeiro activada por um quando se dá uma posterior exposição ao mesmo
antigénio (contacto primário). A célula B prolifera antigénio que faz com que as células de memória
para formar plasmócitos e células de memória. Os produzam plasmócitos e mais células de memória. A
plasmócitos produzem anticorpos. resposta secundária é mais rápida e produz mais
anticorpos que a resposta primária.

(Processo) Figura 22.20 Produção de Anticorpos


812 Parte 4 Regulação e Manutenção

tumorais e os tecidos transplantados têm, à superfície, antigénios 49. Refira as duas principais respostas das células T
estranhos que podem estimular a actividade das células T citotóxicas.
citotóxicas. A célula T citotóxica liga-se à célula alvo e liberta 50. Qual o tipo de resposta imunitária produzido pelas células
mediadores químicos que conduzem à destruição desta. A prin- T de hipersensibilidade retardada?
cipal forma de lise envolve uma proteína, a perforina, que faz 51. Como é atingida a imunidade de longa duração na
um orifício na membrana da célula alvo. A célula T citotóxica imunidade mediada por células?
liberta-se da célula alvo e liga-se a outras induzindo este proces-
so de destruição.
Para além da lise das células, as células T citotóxicas tam-
Interacções Imunitárias
bém libertam citocinas que activam outros componentes do sis- Objectivo
tema imunitário. Por exemplo, uma das funções importantes das ■ Descrever as interacções imunitárias.
citocinas é o recrutamento de macrófagos que depois ficam res-
Embora o sistema imunitário possa ser descrito a partir
ponsáveis pela fagocitose e pela inflamação.
dos diferentes tipos de imunidade, inata, mediada por anticorpos
E X E R C Í C I O e mediada por células, ele é um só. Estas categorias são divisões
Nos doentes com sindroma de imunodeficiência adquirida (SIDA), artificiais que são utilizadas para realçar aspectos particulares da
as células T helper são destruídas por uma infecção viral. Estes imunidade. Actualmente, as respostas imunitárias envolvem,
doentes podem morrer por uma pneumonia causada por um fungo muitas vezes, componentes de mais de um tipo de imunidade
intracelular (Pneumocystis carinii), ou por sarcoma de Kaposi, que (figura 22.22). Por exemplo, embora a imunidade adaptativa
consiste no desenvolvimento de tumores na pele e gânglios possa reconhecer e relembrar antigénios específicos, após o seu
linfáticos. Explique este mecanismo. reconhecimento, muitos dos acontecimentos que levam à des-
truição do antigénio são da competência da imunidade inata,
como sejam a inflamação e a fagocitose.
Células T de Hipersensibilidade Retardada
As células T de hipersensibilidade retardada reagem aos an- 52. Descreva como é que através da interacção entre as
tigénios através da libertação de citocinas. Assim, favorecem a imunidades inata, mediada por anticorpos e mediada por
fagocitose e a inflamação, especialmente nas reacções alérgicas células pode resultar a eliminação de um antigénio.
(ver “Foco na clínica: Problemas do sistema imunitário com re-
levância clínica”). Por exemplo, as células de Langerhans da pele
podem interagir com os antigénios do toxidendro e apresentá-
Imunoterapia
los às células T de hipersensibilidade retardada, resultando uma Objectivo
reacção inflamatória intensa. ■ Definir e dar exemplos de imunoterapia.

48. Que tipo de linfócito é responsável pela imunidade O conhecimento das formas básicas de funcionamento do
mediada por células? Quais as funções da imunidade sistema imunitário conduziu a dois aspectos fundamentais: (1) uma
mediada por células? compreensão acerca da causa e da evolução de muitas doenças, e

Inflamação
Células T Libertação Fagocitose
citotóxicas de citocinas Activa as células

Morte por
contacto
Activação da Célula T citotóxica
célula T por um
antigénio na
superfície de uma célula Célula alvo
Célula T
Células T de memória

Lise da
célula alvo

Figura 22.21 Estimulação e Acções das Células T


Quando as células T contactam com um antigénio processado, podem dar origem a células T de memória e T citotóxicas. As células T de memória são responsáveis
pela resposta secundária e as células T citotóxicas provocam morte por contacto ou libertam citocinas que induzem a destruição do antigénio.
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 813

Antigénio

Imunidade inata
Resposta genérica que Mecanismos Neutrófilos, macrófagos, Mediadores Interferãos evitam as
não aumenta com as mecânicos basófilos e eosinófilos químicos infecções virais
exposições subsequentes

A inflamação e a fagocitose
destroem o antigénio
Imunidade adaptativa
Resposta específica que
aumenta com as exposi-
Macrófago
ções subsequentes
Inicia-se com a
apresentação de um
antigénio a uma célula T O macrófago apresenta
helper por um macrófago o antigénio processado
Célula T helper à célula T helper

A célula T helper prolifera As citocinas e os


e segrega citocinas anticorpos aumentam a
inflamação e a fagocitose

Célula T helper Célula T helper

A célula T helper
A célula pode activar
T helper pode uma célula T
Célula B Célula T
activar uma
célula B

A célula B prolifera A célula T prolifera


e diferencia-se e diferencia-se

Plasmócito Célula B de memória A célula T de memória Célula T efectora

Anticorpos Responsáveis Lise de células Citocinas


pela imunidade adaptativa exprimindo antigénios
Efeitos directos
contra o antigénio

Imunidade mediada por anticorpos Imunidade mediada por células


Os anticorpos actuam contra os antigénios As células T efectoras actuam contra os antigénios
dissolvidos ou na superfície dos ligados aos antigénios MHC na superfície das células.
microrganismos extracelulares. São eficazes contra os microrganismos intracelulares,
tumores e células transplantadas.

Figura 22.22 Principais Interacções e Respostas da Imunidade Inata e da Imunidade Adaptativa a um Antigénio
814 Parte 4 Regulação e Manutenção

Perspectiva Clínica Sindroma da Imunodeficiência Adquirida (SIDA)

O sindroma da imunodeficiência adquirida alguns casos, poucos, em profissionais de saú- replicação. Os organelos da célula infecta-
(SIDA) é uma doença grave que implica ris- de que se contaminaram com sangue ou líqui- da começam a produzir cópias do vírus que
co de vida e é provocada pelo vírus da imu- dos orgânicos infectados com VIH. Existem vão, mais tarde, abandonar a célula e infec-
nodeficiência humana (VIH). Foram identi- também relatos de um número diminuto de tar outras.
ficadas duas estirpes de VIH: o VIH-1 que é casos em que os profissionais de saúde con- A seguir à infecção pelo VIH, dentro de
responsável pela maioria dos casos de SIDA taminaram utentes. Nos Estados Unidos, o gru- um período que varia de 3 semanas a 3 me-
e o VIH-2 que continua a ser cada vez mais po de doentes com SIDA que está a aumentar ses, muitos doentes desenvolvem um
encontrado no ocidente africano. A SIDA foi mais rapidamente é o dos homens ou mulhe- sindroma agudo e súbito semelhante à
relatada pela primeira vez em 1981 nos Es- res heterossexuais que tiveram contactos se- mononucleose com sintomas como: febre,
tados Unidos e, desde então, já foram noti- xuais com indivíduos infectados. Noutros paí- sudorese, fadiga, dores musculares e arti-
ficados aos Centers for Disease Control and ses, o padrão dos casos de SIDA é diferente culares, cefaleias, dores de garganta, diar-
Prevention (CDC) mais de 800000 casos. O do dos Estados Unidos. A UNAIDS estima que, reia, eritema e adenopatias (gânglios linfá-
Programa das Nações Unidas para a SIDA globalmente, 90% de todas as infecções por ticos aumentados). Estes sintomas são de-
(UNAIDS*) estima que existam cerca de 60 VIH sejam transmitidas em contactos heteros- belados dentro de 1 a 3 semanas, quando o
milhões de pessoas infectadas em todo o sexuais. sistema imunitário responde ao vírus, pro-
mundo e que 18 milhões já morreram devi- Presentemente, a única forma de preve- duzindo anticorpos que activam as células
do a esta doença. O curso da infecção pelo nir a SIDA é a prevenção da transmissão. O ris- T citotóxicas que matam as células infec-
VIH é variável. Algumas pessoas morrem um co de transmissão pode ser reduzido através tadas pelo VIH. O sistema imunitário não tem
ano após a contaminação; contudo, a mai- da educação do público sobre as práticas se- capacidade para eliminar o VIH; contudo, em
oria sobrevive durante 10 ou 11 anos, ha- xuais seguras, como a redução do número de cerca de seis meses, atinge-se uma fase
vendo algumas com sobrevidas de cerca de parceiros sexuais, evitar o coito anal e a utili- durante a qual o vírus se continua a replicar
20 anos. zação de preservativo. A educação do público a uma velocidade menor e estabiliza. Este
O VIH é transmitido de um indivíduo in- também inclui o aviso aos toxicodependentes estádio crónico de infecção pode durar, em
fectado a um não-infectado, através do con- sobre os perigos da utilização de agulhas con- média, 8 a 10 anos, durante os quais a pes-
tacto com os líquidos orgânicos, como san- taminadas (partilha de seringas). Assegurar a soa infectada se sente bem, com pouco ou
gue, esperma ou secreções vaginais. As segurança do sangue transfundido também mesmo nenhuns sintomas da doença.
principais vias de transmissão são os con- constitui outra medida de prevenção muito Embora as células T helper sejam infec-
tactos sexuais não protegidos, agulhas con- importante. Em Abril de 1985 foi disponi- tadas e destruídas durante o período de
taminadas utilizadas por toxicodepen- bilizado um teste para detectar a presença de cronicidade da infecção pelo VIH, o organis-
dentes, produtos derivados do sangue e da anticorpos VIH. O tratamento dos factores de mo responde aumentando a sua produção.
mulher grávida infectada para o feto. Os coagulação, pelo calor, também foi eficaz na Apesar disso, com o passar dos anos, o nú-
dados actuais indicam que os contactos prevenção da transmissão do VIH aos mero de VIH vai aumentando gradualmen-
domésticos, escolares ou profissionais, não hemofílicos. te, enquanto que o número de células T
conduzem à transmissão. A infecção por VIH começa quando uma helper vai diminuindo. Normalmente, exis-
Nos Estados Unidos, durante os anos proteína viral, a gp 120, se liga a uma molécu- tem cerca de 1200 células T helper/mm3 de
80, a maioria dos casos de SIDA ocorria nos la de superfície das células, a molécula CD4. sangue. Considera-se que uma pessoa infec-
homossexuais, ou homens bissexuais, e Esta molécula existe, principalmente, nas cé- tada pelo VIH tem SIDA quando, um ou mais
nos toxicodependentes por via intravenosa. lulas T helper e normalmente incapacita-as dos seguintes factos está presente: o núme-
Também ocorreu uma pequena percenta- para aderir a outros linfócitos, por exemplo ro de células T helper é inferior a 200/mm3,
gem de casos provocados por transfusões durante o processo de apresentação dos eclode uma infecção oportunista ou desen-
de sangue ou factores de coagulação con- antigénios. Alguns monócitos, macrófagos, volve-se um sarcoma de Kaposi.
taminados, utilizados por hemofílicos. As neurónios e células gliais também têm molé- As infecções oportunistas são origina-
crianças podem ser infectadas antes do culas CD4. Quando o vírus se liga às molécu- das por organismos que, normalmente, não
nascimento, durante o parto ou durante o las CD4, injecta o seu material genético (ARN) provocam doença, mas podem-no fazer
aleitamento materno. Também ocorreram e as enzimas na célula, dando início à sua quando existe imunodepressão. Quando

(*) Letras da sigla em língua inglesa para United Nations Program on AIDS (N.T.).
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 815

não existem células T helper, a activação das criptase reversa que evita que o ARN do VIH um bom indicador de predição do tempo que
células T citotóxicas e das células B está com- produza ADN viral. O AZT pode atrasar o início medeia para a eclosão da SIDA. Se a carga
prometida e a resistência adaptativa é supri- da SIDA, mas não parece que aumente o tem- viral é alta a eclosão da SIDA será mais cedo
mida. São exemplos de infecções oportunis- po de sobrevivência dos doentes com SIDA. do que ela estiver baixa. Através de uma ele-
tas: a pneumonia a Pneumocystis carinii Contudo, o número de bebés que contraem vação da carga viral também é possível de-
(provocada por um protozoário intracelular), a SIDA através das mães infectadas pode ser tectar o desenvolvimento de resistência viral.
tuberculose (provocada por uma bactéria intra- muito reduzido pela administração de AZT às Assim, uma modificação na dosagem do me-
celular, o Mycobacterium tuberculosis), a sífi- mães durante a gravidez e aos bebés após o dicamento ou do seu tipo, pode retardar a
lis (causada por uma bactéria transmitida se- nascimento. O AZT pode ter efeitos secundári- replicação viral. Actualmente, as orientações
xualmente, o Treponema pallidum); a candi- os graves, como sejam a anemia ou mesmo a para o tratamento são de que a carga viral
díase (uma infecção a fungos da boca ou da insuficiência total da medula óssea. deve ser mantida abaixo das 500 moléculas
vagina causada pela Candida albicans); e Muitas vezes, após 6 a 18 meses de trata- de ARN/mm de sangue.
protozoários que determinam o aparecimento mento com AZT, o VIH sofre mutações virais que Um tratamento eficaz para a SIDA não é
de grandes diarreias persistentes. O sarcoma o tornam resistente ao AZT. Têm sido desen- uma cura. Mesmo que a carga viral diminua
de Kaposi é um tipo de neoplasia que produz volvidos outros medicamentos que inibem a para valores em que o vírus não é detectado
lesões na pele, gânglios linfáticos e vísceras. replicação dos ácidos nucleicos virais como a no sangue, ele permanece nas células de todo
Também estão associados à SIDA sintomas dideoxinosina (DDI), que têm sido utilizados o corpo. É possível que o vírus sofra mutações,
resultantes dos efeitos do vírus no sistema em doentes resistentes ou que não respondem sobrevivendo à acção dos medicamentos.
nervoso, como o relentamento motor, altera- ao AZT. Para além deste aspecto, os efeitos da utili-
ções do comportamento, demência progressi- Os inibidores das proteases são medica- zação destes medicamentos em tratamentos
va e, possivelmente, psicoses. mentos que interferem com as proteases virais. prolongados são desconhecidos.
Presentemente, não existe cura para a São exemplos de inibidores das proteases o O objectivo de longo prazo para a SIDA
SIDA. O tratamento destes doentes pode ser ritonavir e o indinavir. Actualmente, o trata- é o desenvolvimento de uma vacina que evi-
dividido em duas categorias: (1) tratamento mento para a supressão da replicação do VIH te a infecção pelo VIH. As vacinas em desen-
das infecções secundárias ou neoplasias as- baseia-se na combinação dos três medicamen- volvimento estimulam a produção de
sociadas à SIDA; e (2) tratamento da infecção tos: dois inibidores da transcriptase reversa e anticorpos anti-VIH, estimulam a resposta
por VIH, em si mesma. Na replicação do VIH é um inibidor das proteases. A probabilidade de imunitária mediada por células contra as
utilizado o ARN viral para fazer ADN viral que é o VIH desenvolver resistência aos três medica- células infectadas pelo VIH, ou através des-
inserido no ADN da célula do hospedeiro. Este mentos é menor. Esta estratégia tem dado pro- tes dois mecanismos. Em Junho de 1998,
ADN viral introduzido na célula comanda a pro- vas de ser muito eficaz na diminuição da taxa iniciou-se o primeiro ensaio em larga escala
dução de mais ARN viral e de proteínas que se de mortalidade dos doentes com SIDA e no para testar uma vacina que estimula a pro-
reúnem para formar novos VIH. Para os passos restabelecimento parcial do estado de saúde dução contra a proteína gp120 do VIH nos
chave da replicação do VIH são necessárias de alguns doentes. EUA, Canadá e Tailândia.
enzimas virais. A transcriptase reversa promo- Estão ainda em fase de investigação os Devido aos avanços obtidos, as pesso-
ve a formação de ADN viral a partir do ARN viral inibidores da integrase que impedem a inocu- as com VIH/SIDA vivem durante um maior
e a integrase que insere o ADN viral no ADN lação do ADN viral na célula do hospedeiro. No número de anos. Esta doença está a ser,
das células do hospedeiro. Uma protease viral futuro, talvez os inibidores da integrase façam cada vez mais, considerada como uma do-
quebra as grandes cadeias de proteínas virais, parte da combinação de medicamentos utili- ença crónica e não como uma sentença de
noutras de menores dimensões que são incor- zada na SIDA. morte. Para ajudar a que as pessoas com
poradas no novo VIH. Um outro avanço no tratamento da SIDA é VIH/SIDA tenham uma melhor qualidade de
O bloqueio da actividade das enzimas do a avaliação da carga viral que determina o vida devem trabalhar em conjunto, numa
VIH pode inibir a replicação do vírus. O primei- número de moléculas de ARN viral por mililitro equipa multidisciplinar: terapeutas ocupa-
ro tratamento eficaz da SIDA foi efectuado com de sangue. O número de VIH é de metade do cionais, fisioterapeutas, nutricionistas/die-
a azotimidina (AZT), também conhecido por número de moléculas de ARN obtido, uma vez tistas, psicólogos, médicos infecciologistas
zidovudina. O AZT é um inibidor da trans- que cada VIH tem duas cadeias. A carga viral é de entre outros.
816 Parte 4 Regulação e Manutenção

(2) o desenvolvimento ou a tentativa de desenvolvimento de mé- Estão a ser investigadas muitas outras abordagens para a
todos para prevenir, parar, ou mesmo reverter doenças. Por exem- utilização da imunoterapia e prevê-se que no futuro tenha gran-
plo, a vacinação pode evitar muitas doenças. de desenvolvimento. O conhecimento do sistema imunitário vai
A imunoterapia trata a doença pela estimulação ou inibi- permitir a compreensão e avaliação destes tratamentos.
ção do sistema imunitário ou atacando directamente as células
53. Defina imunoterapia. Exemplifique.
prejudiciais. Algumas abordagens terapêuticas procuram refor-
çar a actividade do sistema imunitário de uma forma global. Por
exemplo, a administração de citocinas ou de outras substâncias Regulação Neuro-endócrina da Imunidade
pode estimular a resposta inflamatória e a activação de células Uma possibilidade intrigante para a redução da gravidade das doenças,
imunitárias, o que pode ser útil na destruição de células tumo- ou mesmo de as curar, é a utilização da regulação neuro-endócrina do
rais. Por outro lado, por vezes pode ser útil inibir a resposta do sistema imunitário. O sistema nervoso regula a secreção de hormonas
sistema imunitário. Por exemplo, a esclerose múltipla é uma como o cortisol, adrenalina, endorfinas e encefalinas, para as quais os
doença auto-imune na qual o sistema imunitário considera os linfócitos têm receptores. Por exemplo, o cortisol libertado durante
auto-antigénios como antigénios estranhos, destruindo a mielina períodos de stresse, inibe o sistema imunitário. Para além disso, a
que envolve os axónios. O β-interferão (IFNβ) bloqueia a acção maioria dos tecidos linfáticos, incluindo alguns linfócitos individuais,
dos antigénios MHC que exibem auto-antigénios e está a ser uti- têm enervação simpática. Existe uma nítida ligação neuro-endócrina ao
lizado para tratar a esclerose múltipla. sistema imunitário. Mas a questão persiste: Podemos utilizar esta
ligação para controlar a imunoterapia?
A imunoterapia pode assumir formas mais específicas. Por
exemplo, a vacinação pode evitar diversas doenças (ver “Imuni-
dade Adquirida” mais à frente, neste capítulo). A capacidade para
produzir anticorpos monoclonais pode conduzir a abordagens
terapêuticas eficazes no tratamento de tumores. Se for descober- Imunidade Adquirida
to um antigénio específico para as células tumorais, poderão ser Objectivo
utilizados anticorpos monoclonais para libertarem isótopos ra- ■ Descrever as formas de aquisição de imunidade adaptativa.
dioactivos, medicamentos, toxinas, enzimas ou citocinas que
possam matar a célula tumoral ou que possam activar o sistema Existem quatro formas de adquirir imunidade adaptativa:
imunitário para o fazer. Infelizmente, esta descoberta ainda não natural activa, artificial activa, natural passiva e artificial passiva
faz parte da realidade, ainda não foram descobertos antigénios (figura 22.23). Os termos natural e artificial dizem respeito ao modo
nas células tumorais nem nas normais. Apesar de tudo, esta abor- de exposição. A exposição natural implica que o contacto com um
dagem pode ser útil, se o dano para as células normais for dimi- antigénio ou anticorpo ocorre no quotidiano, não é deliberada. A
nuto. Por exemplo, as células tumorais podem ter mais antigénios exposição artificial, também chamada imunização, é uma introdu-
de superfície de um determinado tipo, do que as células nor- ção deliberada de um antigénio ou de um anticorpo no organismo.
mais, resultando em maior concentração do tratamento nas cé- Os termos activa e passiva indicam se o sistema imunitário
lulas tumorais. Estas também podem ser mais susceptíveis às do indivíduo está ou não a responder directamente ao antigénio.
agressões ou, as células normais terem uma melhor capacidade Quando um indivíduo está natural ou artificialmente exposto a
de recuperação. um antigénio, pode ocorrer uma resposta do sistema imunitário
Um dos problemas que surgem com os sistemas de liberta- adaptativo que produz anticorpos; é a imunidade activa por-
ção de anticorpos monoclonais é o facto de o sistema imunitário que o sistema imunitário do próprio indivíduo é a causa da imu-
os reconhecer como antigénios estranhos. Após a primeira ex- nidade. A imunidade passiva ocorre quando outra pessoa ou
posição, a resposta de memória destrói-os rapidamente passan- animal forma anticorpos que são transferidos para um indiví-
do o tratamento a ser ineficaz. Através de um processo chamado duo não imunizado; é a imunidade passiva, dado que o indiví-
de humanização, os anticorpos são modificados de modo a tor- duo não-imunizado não produziu anticorpos.
narem-se semelhantes aos anticorpos humanos. Este processo O tempo de imunização difere nestes dois tipos de imuni-
permitiu que os anticorpos monoclonais ultrapassassem a des- dade. A imunidade activa pode perdurar desde poucas semanas
truição pelo sistema imunitário. (constipação vulgar) até uma vida inteira (tosse convulsa e vari-
Os anticorpos monoclonais são usados no tratamento de cela). A imunidade pode ser de longa duração se forem produzi-
tumores apenas no domínio da investigação mas existem já en- das células de memória B ou T em número suficiente e elas per-
saios clínicos com alguns resultados promissores. Por exemplo, a sistirem para reagirem a exposições posteriores ao antigénio. A
utilização de anticorpos monoclonais com iodo radioactivo (131I) imunidade passiva não é duradoura, pois os indivíduos não pro-
produziu a regressão dos linfomas de células B com poucos efei- duzem as suas próprias células de memória. Como a imunidade
tos secundários. A herceptina é um anticorpo monoclonal que activa pode ser mais duradoura do que a passiva, é o método
se liga a um factor de crescimento que está muito elevado em 25 mais utilizado. Contudo, em situações em que é necessária uma
a 30% das neoplasias primárias da mama. Os anticorpos servem protecção imediata, é preferida a imunidade passiva.
para “marcar” as células neoplásicas que vão ser posteriormente
lisadas pelas células natural killer. A herceptina retarda a pro- Imunidade Natural Activa
gressão da doença e aumenta a sobrevida mas, não é a cura para A exposição natural a um antigénio, como um microrganismo
a neoplasia da mama. patogénico, pode levar o sistema imunitário de um determinado
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 817

indivíduo a produzir uma resposta adaptativa contra o antigénio antigénios, natural ou artificialmente, tendo adquirido anticorpos
e gerar um estado de imunidade natural activa. Como o indi- contra muitos deles. Estes anticorpos protegem a mãe e o feto
víduo não está imunizado durante a primeira exposição, nor- em desenvolvimento, contra a doença. Alguns anticorpos (IgG)
malmente desenvolve os sintomas da doença. É interessante no- podem atravessar a placenta e entrar na circulação fetal. Após o
tar que a exposição a um antigénio nem sempre produz sinto- nascimento, os anticorpos protegem a criança durante os pri-
mas. Muitas pessoas, se forem expostas ao vírus da poliomielite meiros meses de vida. Eventualmente, os anticorpos degradam-
durante a infância, desencadeiam uma resposta imunitária e pro- se e a criança tem de contar com o seu próprio sistema imunitário.
duzem anticorpos da poliomielite, embora não desenvolvam Se a mãe amamenta a criança, a IgA do leite materno pode dar
nenhuns sintomas de doença. alguma protecção à criança.

Imunidade Artificial Activa Imunidade Artificial Passiva


Na imunidade artificial activa é introduzido, deliberadamente, A obtenção da imunidade artificial passiva, normalmente co-
um antigénio no indivíduo, para estimular o seu sistema imunitário. meça com a vacinação num animal, por exemplo o cavalo. De-
Este processo constitui a vacinação e o antigénio introduzido, a pois do sistema imunitário do animal responder ao antigénio, os
vacina. A sua via de administração habitual é a parentérica (injec- seus anticorpos (por vezes células T) são removidos e adminis-
ção do toxóide do tétano, difteria e tosse convulsa e da VASPR-anti- trados ao indivíduo que necessita de ser imunizado. Em certos
sarampo, parotidite e rubéola), embora a via oral também seja por casos, o ser humano também pode ser utilizado como fonte de
vezes utilizada (vacina da poliomielite Sabin). anticorpos quando obteve imunidade através da exposição na-
Normalmente, a vacina é constituída por parte do micror- tural ou da vacinação. A imunidade artificial passiva fornece pro-
ganismo, um microrganismo morto ou, vivo modificado. O tecção imediata ao indivíduo que recebe os anticorpos e é utili-
antigénio foi modificado de forma a só estimular o sistema zada quando se corre o risco de não haver tempo suficiente para
imunitário e a não determinar o desenvolvimento dos sintomas aquele desenvolver a sua própria imunidade. Contudo, esta téc-
da doença. A imunidade artificial activa é o método preferido nica só fornece imunidade temporária, dado que os anticorpos
para a aquisição de imunidade adaptativa, porque produz um ou são utilizados, ou são inutilizados pelo receptor.
estado de imunidade prolongado, sem sintomas da doença. Anti-soro é o termo habitualmente utilizado para o soro
que é constituído pelo plasma ao qual foram removidos os fac-
E X E R C Í C I O
tores de coagulação e que contém os anticorpos responsáveis pela
Em alguns casos é utilizada uma administração de reforço como
imunidade artificial passiva. Existem anti-soros contra diversos
parte do processo de vacinação. Um reforço consiste na administra-
microrganismos como os que causam a raiva, a hepatite e a paro-
ção de uma dose da vacina algum tempo depois da administração
tidite; toxinas bacterianas como do tétano, difteria e botulismo;
da primeira dose. Qual a justificação do reforço?
e, venenos de cobra da aranha viúva negra.
Imunidade Natural Passiva 54. Diferencie imunidade passiva e activa.
A imunidade natural passiva ocorre quando há transferência 55. Enuncie os quatro mecanismos de aquisição de imunidade
de anticorpos da mãe para o filho, pela placenta, antes do nasci- adaptativa. Refira os dois que conferem protecção de
mento. Ao longo da sua vida, a mãe foi sendo exposta a diversos longa duração.

Imunidade adaptativa
adquirida

Imunidade activa Imunidade passiva


O sistema imunitário do próprio A imunidade é transferida de outra
indivíduo é a causa da imunidade. pessoa ou animal.

Natural Artificial Natural Artificial


Os antigénios são intro- Os antigénios são de- Os anticorpos da mãe são Anticorpos produzidos por
duzidos por exposição liberadamente introdu- transferidos para o filho, outra pessoa ou animal são
natural. zidos por uma vacina. através da placenta ou do leite. injectados no indivíduo.

Figura 22.23 Formas de Aquisição de Imunidade Adaptativa


818 Parte 4 Regulação e Manutenção

Patologia do Sistema Imunitário


Lúpus Eritematoso Sistémico

Manuela de 30 anos tem dois filhos e é divorciada. Apesar de ter de


trabalhar para assegurar a sua subsistência e a das crianças, decidiu
frequentar o curso de enfermagem e ser enfermeira. Manuela era uma
óptima aluna, mas a frequência das aulas e os resultados obtidos eram
irregulares. Muitas vezes demonstrava uma grande energia e obtinha
muito bons resultados mas, noutros períodos parecia deprimida e os
resultados não eram tão bons. No final do ano surgiu-lhe um eritema
na face (figura A), uma grande lesão no braço e, obviamente, não se
sentia bem. Devido a esta situação, foi falar com o responsável pelo
curso para saber se podia interromper a frequência e fazer o último
exame mais tarde. Explicou que lhe tinha sido diagnosticado lúpus aos
25 anos e que, habitualmente, controlava os sintomas com a medica-
ção mas o aumento de stresse pelo assumir sozinha as responsabili-
dades familiares e o esforço despendido durante o curso a tinham fei-
to sentir-se pior. Explicou ainda que os sintomas do lúpus tinham perí- Figura A Lúpus Eritematoso Sistémico
odos de remissão e que, muitas vezes, o repouso no leito a aliviava. Eritema, em forma de borboleta, resultante da inflamação da pele causada
Manuela terminou o curso no ano seguinte e, actualmente, trabalha pelo lúpus eritematoso sistémico.
em horário completo no hospital local.

Fundamentação tecidular. Assim, o LES é uma doença que pode afectar muitos dos sis-
O lúpus eritematoso sistémico (LES) é uma doença de causa desco- temas do corpo. Por exemplo, os anticorpos mais comuns actuam contra
nhecida, na qual as células são agredidas pelo sistema imunitário. O o ADN que é libertado pelas células lesadas. Em situação normal, o fíga-
seu nome descreve algumas das características da doença. Literal- do remove o ADN, mas quando o ADN e os anticorpos formam imuno-
mente, termo lúpus significa lobo e, inicialmente, era utilizado para complexos, estes tendem a depositar-se nos rins e em outros tecidos.
identificar as lesões erosivas da pele (como se fossem produzidas por Cerca de 40-50% das pessoas com LES desenvolvem doença renal. Em
um lobo). O termo eritematoso, refere-se à vermelhidão da pele, pro- alguns casos, os anticorpos podem-se ligar a antigénios nas células,
duzida pela inflamação. Infelizmente, tal como o nome indica, o termo determinando a sua lise. Por exemplo, a ligação de anticorpos aos
sistémico indica que a doença não é confinada à pele e que pode afec- eritrócitos conduz à hemólise e ao aparecimento de anemia.
tar tecidos e células de todo o corpo. Um outro efeito sistémico é a A etiologia do LES é desconhecida. A hipótese mais aceite é a de que
presença de temperatura sub-febril, na maioria das situações de lúpus seja uma infecção viral que corrompa a função das células T supressoras,
activo. levando à perda de tolerância aos auto-antigénios. Contudo, provavel-
O LES é uma doença auto-imune na qual é produzida uma grande mente, a situação é mais complexa pois nem todos os doentes com LES
variedade de anticorpos que reconhecem os auto-antigénios, como os têm diminuição do número de células T supressoras. Para além disso,
ácidos nucleicos, os fosfolípidos, os factores de coagulação, os eritróci- alguns doentes têm diminuição do número de células T helper que normal-
tos e as plaquetas. A combinação dos anticorpos com os auto-antigénios mente estimulam a actividade das células T supressoras.
forma imunocomplexos que circulam ao longo do corpo e se depositam Provavelmente, existem factores genéticos que contribuem para o
em diversos tecidos, nos quais estimulam a inflamação e a destruição aparecimento da doença. A probabilidade de desenvolver LES é muito
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 819

Interacções Sistémicas
Sistema Efeitos do Lúpus Eritematoso Sistémico nos Outros Sistemas
Tegumentar As lesões cutâneas são frequentes e agravam após exposição solar. Existem três formas: (1) um rubor inflamatório que pode
assumir a forma de uma borboleta e se estende do dorso do nariz às regiões malares (eritema em asa de borboleta); (2)
pequenas lesões eritematosas, localizadas e descamativas; (3) áreas de atrofia e despigmentação central, com bordos
hiperpigmentados. Pelo e cabelo progressivamente mais fino e consequente queda.
Esquelético Pode surgir artrite, tendinite e necrose de tecido ósseo.
Muscular Pode surgir destruição do tecido muscular e diminuição da força (fraqueza muscular).
Nervoso Podem surgir perda de memória, deterioração intelectual, desorientação, psicose, depressão reactiva, cefaleias, convulsões,
náuseas e anorexia. Os acidentes vasculares cerebrais (AVC) constituem a principal causa de disfunção e de morte. O
compromisso dos nervos cranianos pode levar a diminuição da força dos músculos faciais, ptose palpebral e diplopia. A
lesão do sistema nervoso central pode levar à paralisia.
Endócrino As hormonas sexuais podem desempenhar um papel importante no LES porque 90% dos casos surgem no sexo feminino e
estas mulheres têm baixos níveis de androgénios.
Cardiovascular Pode surgir uma inflamação do pericárdio (pericardite) com dor torácica. São perturbações comuns as lesões valvulares, a
inflamação do tecido cardíaco, taquicárdia, arritmias, angina de peito e enfarte do miocárdio. Podem também estar
presentes anemia hemolítica e leucopénia (ver capítulo 19). O sindroma dos anticorpos antifosfolípidos, por um mecanis-
mo desconhecido, vai aumentar a coagulação e a formação de trombos, o que vai aumentar o risco de AVC e de ataque
cardíaco.
Respiratório Podem ocorrer: dor torácica por inflamação pleural; febre, dificuldade respiratória e hipoxémia por inflamação pulmonar; e
hemorragia alveolar.
Digestivo Podem surgir úlceras na cavidade oral e na faringe. São comuns a dor abdominal e os vómitos, de causa desconhecida. Podem
também surgir inflamação do pâncreas e hepatomegália com uma pequena alteração nas provas da função hepática.
Urinário As lesões renais e a glomerulonefrite podem conduzir a uma insuficiência renal progressiva. Existe uma proteinúria muito
significativa que conduz a uma hipoproteinémia, a qual pode favorecer o estabelecimento do edema.

maior se existirem outros casos na família. Para além deste aspecto, debelar a inflamação, antimaláricos para tratar o eritema cutâneo e a
os familiares dos doentes com LES, sem a doença, têm uma probabili- artrite, mas o seu mecanismo de acção é desconhecido. Nos doentes
dade muito maior de ter anticorpos anti-ADN do que a população em que não respondem a estes tipos de tratamento, ou em formas graves da
geral. doença, são utilizados corticosteróides. Embora estes medicamentos
Nos EUA, 1 em cada 2000 pessoas tem LES. Os primeiros sintomas sejam eficazes na supressão da inflamação, podem induzir efeitos se-
surgem frequentemente entre os 15 e os 25 anos, sendo o género fe- cundários indesejáveis como a supressão do normal funcionamento das
minino 9 vezes mais afectado do que o masculino. O curso da doença glândulas suprarrenais. Nos doentes com formas de LES que implicam
é imprevisível, com exacerbações e períodos de remissão dos sinto- risco de vida são utilizadas doses muito elevadas de corticosteróides.
mas. Após o diagnóstico, a sobrevivência após 10 anos é superior a
90%. Dentro das principais causas de morte encontram-se a insuficiên- E X E R C Í C I O
cia renal, as disfunções do sistema nervoso central, as infecções e a A lesão avermelhada que a Manuela tinha no braço denomina-se
doença cardiovascular. púrpura e é causada por hemorragia na pele. As lesões vão
O LES não tem cura nem padrão de tratamento, uma vez que o curso alterando a sua cor e desaparecem dentro de 2 a 3 semanas.
da doença é extremamente variável, podendo ser encontradas muitas Explique como é que o LES produz púrpura.
diferenças entre as pessoas afectadas. Habitualmente, inicia-se o trata-
mento de uma forma pouco agressiva, prosseguindo para formas cada
vez mais interventivas, à medida das necessidades. São utilizados medi-
camentos como a aspirina e os anti-inflamatórios não-esteróides para
820 Parte 4 Regulação e Manutenção

Efeitos do Envelhecimento no Sis- nidade. Recomenda-se que as vacinações sejam efectuadas antes
dos 60 anos de idade, uma vez que os aspectos referidos são mais
tema Imunitário e na Imunidade evidentes após esta idade. De qualquer forma, a vacinação pode
ser benéfica em qualquer idade, especialmente se a pessoa tem a
Objectivo resistência às infecções comprometida.
■ Descrever os efeitos do envelhecimento no sistema linfático A capacidade da imunidade mediada por células resistir aos
e na resposta imunitária. agentes patogénicos intracelulares diminui com o envelheci-
O envelhecimento parece ter pouca influência na capaci- mento. Por exemplo, os idosos são mais susceptíveis à gripe e
dade do sistema linfático para manter o equilíbrio hídrico, ab- devem ser vacinados anualmente. Alguns dos agentes patogénicos
sorver as gorduras a partir do aparelho digestivo ou para remo- provocam doença e não são eliminados do organismo. Com o
ver os eritrócitos defeituosos do sangue. passar dos anos, a diminuição da imunidade pode conduzir à
Também parece que o envelhecimento não interfere, di- reactivação do agente patogénico. Por exemplo, o vírus que pro-
rectamente, na capacidade das células B para responder aos voca a varicela nas crianças pode permanecer latente nas células
antigénios e, na maioria das pessoas, o número de células B nervosas, durante muito tempo após o desaparecimento,
circulantes mantém-se estável. Com o avançar dos anos, o teci- aparente, da doença. Mais tarde, o vírus pode abandonar as cé-
do tímico vai sendo substituído por tecido adiposo e a capacida- lulas nervosas e infectar células da pele, determinando lesões
de do timo para produzir células T, novas e maduras, provavel- muito dolorosas, conhecidas como herpes zóster ou zona.
mente desaparece. Contudo, na maioria das pessoas, o número Surgem doenças auto-imunes quando as respostas imu-
de células T mantém-se estável devido à sua replicação (e não nitárias destroem os tecidos saudáveis (ver “Doenças auto-imu-
maturação) nos tecidos linfáticos secundários. Apesar de tudo, nes” atrás, neste capítulo). Nos idosos o início, deste tipo de doen-
em muitas pessoas as células T têm menor capacidade para pro- ças, é muito reduzido. Contudo, as doenças inflamatórias cróni-
liferar em resposta aos antigénios. Assim, a exposição a antigénios cas e as respostas imunitárias com início prévio, determinam
produz um menor número de células T, o que conduz a uma perturbações cumulativas. Assume-se que o aumento da inci-
estimulação menor das células B e T efectoras. Este conjunto de dência de neoplasia nos idosos está relacionado com a diminui-
factores determina que tanto a imunidade mediada por anti- ção da resposta imunitária.
corpos como a mediada por células diminuam. 56. Qual o efeito do envelhecimento nas principais funções do
As respostas primária e secundária dos anticorpos diminuem sistema linfático?
com o envelhecimento. São necessários mais antigénios para pro- 57. Descreva os efeitos do envelhecimento nas células B e T.
duzir uma resposta, a resposta é mais lenta, são produzidos me- Dê exemplos de como o envelhecimento afecta a resposta
nos anticorpos e formam-se menos células de memória. Assim, imunitária mediada por anticorpos e a mediada por
diminui a resistência às infecções e o desenvolvimento da imu- células.

R E S U M O

Sistema Linfático (p. 784) 5. Os troncos e os canais linfáticos drenam para o sangue, ao nível das
O sistema linfático é constituído pela linfa, vasos linfáticos, tecido veias torácicas (na junção das veias jugulares internas e subclávias).
linfático, nódulos linfáticos, gânglios linfáticos, amígdalas, baço e pelo • A linfa proveniente da metade direita do tórax, do membro
timo. superior direito e da metade direita da cabeça e do pescoço entra
nas veias torácicas direitas.
Funções do Sistema Linfático • A linfa proveniente dos membros inferiores, da pélvis, do
O sistema linfático mantém o equilíbrio hídrico nos tecidos, absorve abdómen, a metade esquerda do tórax, o membro superior
gorduras, a partir do intestino delgado, e protege contra os microrganis- esquerdo e a metade esquerda da cabeça e do pescoço drena para as
mos e substâncias estranhas. veias torácicas esquerdas.
6. Os troncos jugular, subclavicular e os troncos broncomediastínicos
Vasos Linfáticos podem-se unir para formar o canal torácico direito.
1. Os vasos linfáticos transportam a linfa dos tecidos. 7. O canal torácico direito é o vaso linfático de maior calibre.
2. Os capilares linfáticos não têm membrana basal e têm células 8. Os troncos intestinal e lombar podem convergir na cisterna quilosa,
epiteliais ligeiramente sobrepostas. Os líquidos, bem como outras um saco que se encontra na extremidade inferior do canal torácico.
substâncias, entram facilmente nos capilares linfáticos.
3. Os capilares linfáticos unem-se para formar vasos linfáticos. Tecido Linfático e Órgãos Linfáticos
• Os vasos linfáticos têm válvulas que asseguram um fluxo 1. O tecido linfático é tecido conjuntivo reticular, contém linfócitos e
unidireccional. outras células.
• O fluxo da linfa é assegurado pela contracção dos músculos 2. O tecido linfático pode estar envolvido por uma cápsula (gânglios
esqueléticos, pela contracção do músculo liso dos vasos linfáticos e linfáticos, baço e timo).
pelas alterações da pressão intratorácica. 3. O tecido linfático pode ser não-encapsulado (tecido linfático difuso,
4. Os gânglios linfáticos estão distribuídos ao longo dos vasos linfáti- nódulos linfáticos e amígdalas). O tecido linfóide associado à
cos. Depois de passarem através dos gânglios, os vasos linfáticos mucosa não possui cápsula e localiza-se abaixo da mucosa dos
formam troncos e canais linfáticos. aparelhos digestivo, respiratório, urinário e reprodutor.
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 821

4. O tecido linfático difuso é constituído por linfócitos dispersos e mal 5. Os basófilos e os mastócitos libertam substâncias químicas (media-
delimitado. dores) que promovem a inflamação.
5. Os nódulos linfáticos são pequenos agregados de tecido linfático 6. Os eosinófilos libertam enzimas que reduzem a inflamação.
(por exemplo: placas Peyer no intestino delgado). 7. As células natural killer lisam as células tumorais e as infectadas por
6. Amígdalas vírus.
• As amígdalas são grandes agregados de nódulos linfáticos na
cavidade oral e na nasofaringe. Resposta Inflamatória
• Os três grupos de amígdalas são constituídos por amígdalas 1. A resposta inflamatória pode ser iniciada de diversas formas.
palatinas, faríngeas e linguais. • Os mediadores químicos provocam vasodilatação e aumento da
7. Gânglios linfáticos permeabilidade vascular, permitindo a entrada de outros mediado-
• Nos gânglios, o tecido linfático está dividido em córtex e medula. res químicos.
Os seios linfáticos estendem-se através do tecido linfático. • Os mediadores químicos atraem fagócitos.
• As substâncias estranhas existentes na linfa são removidas por • A quantidade de mediadores químicos e de fagócitos aumenta até
fagocitose e/ou estimulam os linfócitos. que a causa da inflamação seja destruída. Depois inicia-se a
• Os linfócitos deixam o gânglio linfático e circulam em direcção a reparação dos tecidos.
outros tecidos. 2. A inflamação local produz os seguintes sintomas e sinais: calor,
8. Baço dor, rubor, edema e impotência funcional. Na inflamação
• O baço localiza-se no abdómen, na região superior externa do sistémica ocorre também aumento do número de neutrófilos,
hipocôndrio esquerdo. febre e choque.
• As substâncias estranhas estimulam os linfócitos da polpa branca
(bainha linfática peri-arterial e nódulos linfáticos). Imunidade Adaptativa (p. 798)
• As substâncias estranhas e os eritrócitos anómalos são retirados do 1. Os antigénios são grandes moléculas que estimulam uma resposta
sangue pelos fagócitos da polpa vermelha (cordões esplénicos e imunitária adaptativa. Os haptenos são pequenas moléculas que se
seios venosos). combinam com outras maiores para estimular uma resposta
• O baço é um reservatório limitado de sangue. imunitária adaptativa.
• A maior parte do sangue atravessa o baço em poucos segundos. 2. As células B são responsáveis pela imunidade humoral, ou mediada
Cerca de 20% do sangue demora alguns minutos a passar pelo por anticorpos. As células T estão implicadas na imunidade mediada
baço e cerca de 2% leva uma ou mais horas. por células.
9. Timo
• A glândula do timo localiza-se no mediastino superior e divide-se
Origem e Maturação dos Linfócitos
em córtex e medula. 1. As células B e T têm origem na medula óssea vermelha. As células T
• Os linfócitos do córtex estão separados do sangue por células são diferenciadas no timo e as B na medula óssea.
reticulares. 2. Um processo de selecção positiva assegura que os linfócitos que
• Os linfócitos produzidos no córtex migram através da medula, sobrevivem possam reagir contra os antigénios. A selecção negativa
entram no sangue e dirigem-se para outros tecidos linfáticos, onde elimina aqueles que reagem contra os auto-antigénios.
podem proliferar. 3. Um clone é um grupo de linfócitos idênticos que pode responder a
um antigénio específico.
Imunidade (p. 792) 4. As células B e T deslocam-se do local de maturação para o tecido
A imunidade é a capacidade para resistir aos efeitos perniciosos dos linfático. Circulam, permanentemente, entre os diversos tecidos
microrganismos e de outras substâncias estranhas. linfáticos.
5. É nos órgãos linfáticos primários (medula óssea vermelha e timo)
Imunidade Inata (p. 793) que ocorre a maturação dos linfócitos em células funcionais. Nos
Mecanismos Mecânicos órgãos e tecidos linfáticos secundários, os linfócitos produzem uma
Os mecanismos mecânicos evitam a entrada de microrganismos (pele e resposta imunitária.
mucosas) ou removem-nos (lágrimas, saliva e muco). Activação dos Linfócitos
Mediadores Químicos 1. O determinante antigénico é a parte específica do antigénio à qual o
1. Os mediadores químicos promovem a fagocitose e a inflamação. linfócito responde. O receptor antigénico (receptor da célula B ou T)
2. O complemento pode ser activado pelas vias alternativa e clássica. O na superfície dos linfócitos combina-se com o determinante
complemento destrói as células, aumenta a fagocitose, atrai células antigénico.
imunitárias e promove a inflamação. 2. Os antigénios MHC classe I expressam antigénios na superfície das
3. O interferão evita a replicação viral. O interferão é produzido por células nucleadas, resultando na sua destruição.
células infectadas por vírus e desloca-se para outras, que ficam 3. Os antigénios MHC classe II expressam antigénios na superfície das
protegidas. células apresentadoras de antigénio, resultando na activação das
células imunitárias.
Células 4. Para activar os linfócitos, são necessários o complexo antigénio-
1. Os factores quimiotácticos são porções de microrganismos ou MHC e a co-estimulação. A co-estimulação envolve as citocinas e
substâncias químicas que são libertadas pelos tecidos lesados. A certas moléculas de superfície.
quimiotaxia é a capacidade que os leucócitos têm de se deslocar para 5. As células apresentadoras de antigénio estimulam a proliferação de
os tecidos que libertam factores quimiotácticos. células T helper que estimulam a proliferação de células efectoras B
2. A fagocitose é a ingestão e destruição de partículas. ou T.
3. Os neutrófilos são pequenas células fagocitárias. Inibição dos Linfócitos
4. Os macrófagos são grandes células fagocitárias.
• Os macrófagos podem fagocitar mais partículas do que os 1. A tolerância é a supressão da resposta do sistema imunitário a um
neutrófilos. antigénio.
• Os macrófagos do tecido conjuntivo protegem o organismo, nos 2. A tolerância é produzida pela eliminação das células auto-reactivas,
locais onde existe maior probabilidade de os microrganismos evitando a activação dos linfócitos, e pelas células T supressoras.
penetrarem, e depuram o sangue e a linfa.
822 Parte 4 Regulação e Manutenção

Imunidade Mediada por Anticorpos Imunoterapia (p. 812)


1. Os anticorpos são proteínas. A imunoterapia estimula ou inibe o sistema imunitário para tratar
• A região variável de um anticorpo combina-se com o antigénio. A doenças.
região constante activa o complemento ou liga-se às células.
• Existem cinco classes de anticorpos: IgG, IgM, IgA, IgE e IgD. Imunidade Adquirida (p. 816)
2. Os anticorpos afectam o antigénio de diversas formas. Imunidade Natural Activa
• Os anticorpos ligam-se ao antigénio e interferem com a sua A imunidade natural activa é resultado da exposição natural a um
actividade ou mantêm os antigénios juntos. antigénio.
• Os anticorpos actuam como opsoninas (uma substância que
aumenta a fagocitose) ligando-se aos antigénios e aos Imunidade Artificial Activa
macrófagos. A imunidade artificial activa é resultado da exposição deliberada a um
• Os anticorpos podem activar o complemento através da via antigénio.
clássica.
• Os anticorpos ligam-se aos mastócitos ou aos basófilos e provocam Imunidade Natural Passiva
a libertação de mediadores da inflamação quando o anticorpo se A imunidade natural passiva é resultado da transferência de anticorpos
combina com o antigénio. da mãe para o feto ou para o bebé.
3. A resposta primária é resultado da primeira exposição a um
antigénio. As células B diferenciam-se em plasmócitos que produ-
Imunidade Artificial Passiva
zem anticorpos e células de memória. A imunidade artificial passiva é resultado da transferência de anticorpos
4. A resposta secundária é resultado da exposição a um antigénio, após (ou células) de um animal imune para outro não imune.
uma resposta primária; as células B de memória formam, rapida-
mente, plasmócitos e mais células de memória.
Efeitos do Envelhecimento no Sistema Imunitário e na
Imunidade (p. 820)
Imunidade Mediada por Células 1. O envelhecimento tem pouco efeito na capacidade do sistema
1. O antigénio activa as células T efectoras e produz células T de linfático para remover os líquidos dos tecidos (manter o equilíbrio
memória. hídrico), para absorver as gorduras no aparelho digestivo ou para
2. As células T citotóxicas lisam as células infectadas por vírus, as remover as células defeituosas do sangue.
células tumorais e os tecidos transplantados. 2. A diminuição da proliferação das células T helper provoca uma
3. As células T citotóxicas produzem citocinas que promovem a diminuição da resposta aos antigénios, na imunidade mediada por
fagocitose e a inflamação. anticorpos e por células.
3. As respostas primária e secundária aos antigénios diminuem com o
Interacções Imunitárias (p. 812) envelhecimento.
As formas de imunidade inata, mediada por anticorpos e a mediada por 4. A capacidade para resistir aos agentes patogénicos intracelulares
células podem actuar em conjunto para eliminar um antigénio. diminui com a idade.

R E V I S Ã O D E C O N T E Ú D O S

1. O sistema linfático c. localizam-se na cavidade oral


a. remove o líquido em excesso nos tecidos d. nos adultos aumentam de tamanho
b. absorve as gorduras do tubo digestivo e. todas as anteriores
c. defende o organismo contra microrganismos e outras substâncias 6. Os gânglios linfáticos
estranhas a. filtram a linfa
d. todas as anteriores b. constituem o local onde os linfócitos se dividem e aumentam em
2. Os capilares linfáticos número
a. têm membrana basal c. contêm uma rede de fibras reticulares
b. são menos permeáveis que os capilares sanguíneos d. contêm seios linfáticos
c. evitam o refluxo da linfa para os tecidos e. todas as anteriores
d. todas as anteriores 7. Relativamente ao baço, qual destas afirmações não é correcta?
3. O movimento da linfa nos vasos linfáticos deve-se a. o baço tem polpa branca associada às artérias
a. à contracção dos músculos esqueléticos que os envolvem b. o baço tem polpa vermelha associada às veias
b. à contracção cardíaca c. o baço destrói os eritrócitos defeituosos
c. a alterações da pressão nos vasos sanguíneos d. o baço está envolvido por trabéculas localizadas no exterior da
d. ao movimento das válvulas linfáticas cápsula
e. ao bombeamento pelos gânglios linfáticos e. o baço é um reservatório limitado de sangue
4. Qual das seguintes afirmações é verdadeira? 8. O timo
a. os vasos linfáticos não têm válvulas a. nos adultos aumenta de tamanho
b. os vasos linfáticos drenam para os gânglios linfáticos b. produz macrófagos que se deslocam para outros tecidos
c. a linfa do membro inferior direito passa para o canal portal linfáticos
linfovenoso direito c. responde às substâncias estranhas existentes no sangue
d. a linfa dos troncos linfáticos jugulares e subclaviculares drenam d. tem uma barreira hemato-tímica
para a cisterna quilosa e. todas as anteriores
e. todas as anteriores 9. Qual dos seguintes é exemplo da imunidade inata?
5. As amígdalas a. as lágrimas e a saliva eliminam os microrganismos por
a. são três grupos de nódulos linfáticos arrastamento
b. localizam-se na cavidade nasal b. os basófilos libertam histamina e leucotrienos
Capítulo 22 Sistema Linfático e Imunidade 823

c. os neutrófilos fagocitam os microrganismos d. histamina


d. a activação da cascata do complemento e. células natural killer
e. todas as anteriores 20. As células T helper
10. Os neutrófilos a. respondem aos antigénios a partir dos macrófagos
a. aumentam de tamanho para se tornarem macrófagos b. respondem às citocinas a partir dos macrófagos
b. são responsáveis pela maioria das células mortas no pus c. estimulam as células B com citocinas
c. habitualmente são o último tipo de células a entrar nos tecidos d. todas as anteriores
infectados 21. A principal função da tolerância é
d. normalmente, localizam-se na linfa e nos seios venosos a. aumentar a actividade dos linfócitos
11. Os macrófagos b. aumentar a activação do complemento
a. são as maiores células fagocitárias que sobrevivem aos c. evitar que o sistema imunitário reaja aos auto-antigénios
neutrófilos d. evitar uma reacção excessiva do sistema imunitário aos antigénios
b. desenvolvem-se a partir dos mastócitos estranhos
c. muitas vezes morrem após uma única fagocitose e. processar antigénios
d. têm a mesma função que os eosinófilos 22. Sequências variáveis de aminoácidos, nos braços de uma molécula
e. todas as anteriores de anticorpo
12. Qual destas células é a mais importante na libertação da histamina, a. tornam o anticorpo específico para um determinado antigénio
mediador da inflamação? b. capacitam o anticorpo para activar o complemento
a. monócito c. capacitam o anticorpo para se ligar aos basófilos e aos mastócitos
b. macrófago d. fazem parte da região constante
c. eosinófilo e. todas as anteriores
d. mastócito 23. Os anticorpos
e. células natural killer a. evitam que os antigénios se liguem entre si
13. Qual destas situações não ocorre durante a resposta inflamatória? b. promovem a fagocitose
a. libertação de histamina e de outros mediadores químicos c. inibem a inflamação
b. quimiotaxia dos fagócitos d. bloqueiam a activação do complemento
c. o fibrinogénio entra nos tecidos, a partir do sangue e. bloqueiam a função das opsoninas
d. vasoconstrição dos vasos sanguíneos 24. A resposta secundária dos anticorpos
e. aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos a. é mais lenta do que a resposta primária
14. Qual dos seguintes sintomas surge na resposta inflamatória b. produz menos anticorpos do que a resposta primária
sistémica? c. evita o aparecimento dos sintomas de doença
a. é produzido e libertado um grande número de neutrófilos d. ocorre devido à actividade das células T citotóxicas
b. os pirogénios estimulam a febre 25. O tipo de linfócito responsável pela resposta secundária dos
c. grande aumento da permeabilidade vascular anticorpos é a
d. choque a. célula B de memória
e. todas as anteriores b. célula B
15. Os antigénios c. célula T
a. são substâncias estranhas introduzidas no organismo d. célula T helper
b. são moléculas produzidas pelo organismo 26. A maior percentagem de anticorpos no sangue pertence à classe
c. estimulam uma resposta imunitária adaptativa a. IgA
d. todas as anteriores b. IgD
16. As células B c. IgE
a. são produzidas no timo d. IgG
b. têm origem na medula óssea vermelha e. IgM
c. permanecem no sangue após serem libertadas 27. A imunidade mediada por anticorpos
d. são responsáveis pela imunidade mediada por células a. actua melhor contra antigénios intracelulares
e. todas as anteriores b. está implicada no controlo dos tumores
17. Os antigénios de histocompatibilidade major (MHC) c. não pode ser transferida de uma pessoa a outra
a. são glicoproteínas d. é responsável pelas reacções de hipersensibilidade imediata
b. ligam-se à membrana celular 28. A activação das células T citotóxicas pode conduzir
c. têm uma região variável que se pode ligar a antigénios estranhos a. à lise de células infectadas por vírus
e a auto-antigénios b. à produção de citocinas
d. podem formar um complexo antigénio-MHC que activa as c. à produção de células T de memória
células T d. todas as anteriores
e. todas as anteriores 29. As citocinas
18. As células apresentadoras de antigénios podem a. promovem a inflamação
a. captar antigénios estranhos b. activam os macrófagos
b. produzir antigénios c. matam as células alvo provocando a sua lise
c. utilizar antigénios MHC classe II para expressar os antigénios d. todas as anteriores
d. estimulam outras células do sistema imunitário 30. A hipersensibilidade retardada é
e. todas as anteriores a. causada pela activação das células B
19. Qual dos seguintes participa na co-estimulação? b. o resultado da reacção dos anticorpos com um alergénio
a. citocinas c. mediada pelas células T
b. complemento d. causada pelas células natural killer
c. anticorpos e. causada pelo interferão

Respostas no Apêndice F
824 Parte 4 Regulação e Manutenção

Q U E S T Õ E S C O N C E P T U A I S

1. Um doente apresenta edema do membro inferior direito. Explique a bacterianas sucessivas. Felizmente as infecções vão sendo debeladas
porque é que a elevação e a massagem do membro favorecem a através de antibioterapia. Quando a criança tem sarampo ou outras
diminuição do edema (remoção do líquido em excesso). infecções virais, recupera com mais dificuldade do que o normal.
2. Se o timo de um animal de laboratório for removido imediatamente Explique as respostas imunitárias envolvidas nestes tipos de infecção.
após o nascimento, o animal fica com as seguintes características: (a) Qual a razão para esta doença se manifestar tão tardiamente?
fica mais susceptível às infecções; (b) tem um número de linfócitos (Ajuda: IgG.)
muito diminuído no tecido linfático; e, (c) a sua capacidade para 7. Nasceu um bebé com uma imunodeficiência combinada grave
rejeitar enxertos é muito diminuída. Explique estas observações. (SCID). Numa tentativa para o salvar, é submetido a um transplante
3. Se o timo de um animal de laboratório adulto for removido, podem- de medula. Explique a forma como este processo pode ajudar o bebé.
se observar os seguintes factos: (a) não existe efeito imediato; e (b) Infelizmente, surge uma rejeição e o bebé morre. Explique o
após um ano o número de linfócitos no sangue diminui, a capacida- mecanismo ocorrido.
de para rejeitar enxertos diminui e a capacidade para produzir 8. Um doente tinha muitas reacções alérgicas. Do esquema terapêutico
anticorpos diminui. Explique estas ocorrências. fazia parte identificar o alergénio que estimulou a resposta
4. Adjuvantes são substâncias que retardam mas não param a liberta- imunitária. Constituíram-se soluções, contendo cada uma um
ção de um antigénio, a partir do local de injecção no sangue. alergénio que normalmente provoca uma reacção. Foi injectada cada
Suponha que a injecção A de uma determinada quantidade de uma das soluções em locais diferentes do dorso do doente. Obtive-
antigénio é dada sem adjuvante e, a injecção B da mesma quantidade ram-se os seguintes resultados: (a) num dos locais da injecção,
do antigénio é administrada com adjuvante, que prolonga a poucos minutos após, o local ficou vermelho e edemaciado; (b)
libertação de antigénio por um período de 2 ou 3 semanas. Seria a noutro local aqueles sinais só apareceram dois dias depois; e (c) nos
injecção A ou a B que determinaria uma maior quantidade de outros locais não apareceu nenhum daqueles sinais. Explique o que é
produção de anticorpos? Explique. que aconteceu em cada um dos locais, descrevendo qual a parte do
5. O tétano é provocado por uma bactéria que penetra no corpo sistema imunitário envolvida e como surgiu o rubor e o edema.
através de soluções de continuidade na pele. A bactéria produz uma 9. A Rita Rocha desenvolveu um eritema alérgico, após contacto com a
toxina que determina contracções musculares espásticas. Muitas sumagreira, num acampamento. O médico prescreveu-lhe uma
vezes a morte é devida a falência dos músculos respiratórios. Um pomada contendo corticosteróides para aliviar a inflamação.
doente recorre ao serviço de urgência após ter pisado um prego e Algumas semanas depois a Rita fez uma ferida por abrasão no
ferido um pé. Se o doente já foi vacinado contra o tétano, é-lhe cotovelo que ficou inflamado. Como ainda lhe restava alguma
injectado um reforço da vacina, toxina modificada de modo a ser pomada anteriormente prescrita, ela utilizou-a no cotovelo.
menos letal. Se o doente nunca tiver sido vacinado contra o tétano, Explicitar se a utilização da pomada foi uma decisão acertada para a
é-lhe injectada uma dose de anti-soro contra o tétano. Explique a primeira e para a segunda situação referidas.
fundamentação desta decisão e a razão pela qual as injecções são 10. A Susana furou as orelhas para usar brincos. Infelizmente, verificou
administradas em locais diferentes. que quando usava brincos de fantasia, ao final do dia tinha feito uma
6. Uma criança apresenta um desenvolvimento normal até aos nove reacção inflamatória (alérgica) ao metal dos brincos. Esta reacção
meses mas, a partir desta altura começa a fazer diversas infecções era devida aos anticorpos ou às citocinas?

Respostas no Apêndice G

R E S P O S T A S A O S E X E R C Í C I O S

1. A secção e a laqueação dos vasos linfáticos evita o movimento do 5. Com a depressão da actividade das células T helper, a capacidade dos
líquido intersticial a partir do espaço intersticial. A pequena antigénios para activar as células T efectoras é muito diminuída. A
quantidade de líquido que não retorna às extremidades venosas dos depressão da imunidade mediada por células resulta numa incapaci-
capilares após deixar as extremidades capilares arteriais, é normal- dade para resistir aos microrganismos e à neoplasia.
mente conduzida, dos espaços tecidulares à circulação sanguínea, 6. A administração de uma dose de reforço estimula a resposta
pelos vasos linfáticos. Se os vasos linfáticos forem laqueados, o secundária (de memória), levando à formação de grandes quantida-
líquido acumula-se no espaço intersticial e instala-se o edema. des de anticorpos e de células de memória. Assim, existe uma
2. As células T transferidas para o rato B não respondem ao antigénio. imunidade mais eficaz e duradoura.
As células T são MHC limitadas e têm de ter proteínas MHC do rato 7. O lúpus eritematoso sistémico é uma doença auto-imune, na qual os
A, bem como antigénio X, de forma a responder. auto-antigénios activam respostas imunitárias. Muitas vezes, esta
3. Quando o antigénio é eliminado, já não fica disponível para situação conduz à formação de imunocomplexos e ao estabeleci-
processar e para se combinar com os antigénios MHC de classe II. mento da inflamação. Mas, muitas vezes os anticorpos ligam-se a
Assim, não existe sinal para provocar a proliferação de linfócitos e antigénios nas células, lisando-as. A púrpura resulta de hemorragias
para produzir anticorpos. da pele, o que significa que a formação do trombo branco (de
4. A primeira exposição ao agente causador de doença (antigénio) plaquetas), o mecanismo normal de reparação de pequenas lesões
suscita uma resposta imunitária primária. Contudo, os anticorpos nos vasos sanguíneos, não está a funcionar normalmente. Nesta
degradam-se progressivamente e as células de memória morrem. Se, situação de lúpus eritematoso sistémico, os anticorpos estão a
antes de todas as células de memória serem eliminadas, ocorrer uma provocar a destruição das plaquetas e a diminuição do seu número
segunda exposição ao antigénio, ocorrerá uma resposta imunitária vai conduzir a uma menor formação de trombos brancos e a
secundária. As células de memória produzidas poderiam fornecer problemas na coagulação (ver capítulo 19). Esta situação denomina-
imunidade até à próxima exposição ao antigénio. se trombocitopénia.

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