Você está na página 1de 4

A Lei diz que não se deve violar

propriedade. Propriedade é o direito de


titularidade sobre um determinado bem. Este
direito se aplica a qualquer coisa capaz de decidir
exclusivamente sobre o uso de determinado bem.
A palavra chave em questão é "decidir".
Uma coisa que decide se distingue de coisas que
não decidem. O erro no raciocínio de Fabrette
está na definição do termo "decisão".
Decisão significa arbitrar, escolher,
deliberar sobre. Isso envolve uma análise feita por
quem decide, e envolve uma possibilidade de que
qualquer uma das alternativas frente a uma
tomada de decisão possa ser escolhida,
independente das consequências. Exemplo: Paulo
Kogos resiste a tentação de quebrar seu celibato
frente a um harém de gêmeas suecas bissexuais
gostosas. Eu me jogo no chão no meio de um
shopping lotado. Sua mãe me adiciona no
whatsapp.
Para Fabrette, no entanto, o termo "decisão"
não envolve deliberação (ou "vontade" kanteana),
quando claramente a deliberação é um pre-
requisito para que haja decisão de fato.
Se removermos o aspecto deliberado do ato
de decidir (que é o que arbitrariamente Fabrette
faz para sustentar seu argumento), temos nada
além de uma cadeia fatalista/determinística de
ações e reações não refreáveis, e não deliberáveis.
Exemplo: Um cão no cio não refreia sua sede por
sexo frente a uma cadela. Ele nunca possuiu, e
jamais possuirá tal escolha. Uma decisão envolve
a capacidade de escolher o contrário, e não um
invariável e fatal reação imediata de um estado
anterior causador dessa reação.
Ou seja: Seguindo o raciocínio e definição
de "decidir" dada por Fabrette, absolutamente
qualquer agrupamento de matéria seria passível
dessa "capacidade" de "decidir", afinal, uma
planta estaria "decidindo" crescer em direção à
luz, assim demonstrando sua "propriedade" sobre
si mesma. Um cachorro estaria "decidindo"
comer para saciar sua fome, demonstrando
"propriedade" sobre si mesmo. Um bloco de ferro
estaria "decidindo" enferrujar-se ao deparar-se
com oxigênio, demonstrando "propriedade" sobre
si mesmo.
Sendo assim, dadas as demonstrações
acima, e expondo a falsa definição do termo
"decidir", podemos concluir que seres sem
potência de consciência ou linguagem são
incapazes de decidir exclusivamente sobre o uso
de qualquer bem, inclusive a própria matéria da
qual são compostos, e por tanto, não cabem na
definição de concessão de
propriedade/proprietários.
Fabrette pode ainda alegar o seguinte: Por
que tratamos velhos caducos e bebês como
potências de consciência, se em seu estado atual,
eles não são conscientes, assim como animais?
Isso não seria arbitrário (e conveniente) de nossa
parte?
A resposta para isso é: Se podemos definir
qualquer coisa como é, é por que esta definição
não é contraditória e não-procedente. "A" é "A",
porque não é "B". Se "A" não possui nada que o
difere de "B", então "A" e "B" são a mesma coisa, e
esta definição diferenciada faz-se desnecessária e
não-procedente. Para que "A" seja "A", é
necessário um atributo persistente que sustente
sua essência própria. Dessa forma, podemos ter
um "A" completo e ideal, assim como um "A"
incompleto não-ideal, mas que ainda sim é um
"A".
Temos então que um ser humano ideal, com
todos os seus atributos que o definem como
categoria "humano", inclui dentro de si um
humano não-ideal, incompleto.
Um velho caduco ou um bebê não são
humanos completos em sua plenitude, porém
possuem essência de humano. E a essência de
humano possui o atributo da
vontade/deliberação/decisão/escolha.
POR FIM, se definimos que quem é
proprietário de algo é aquele que é capaz de
decidir exclusivamente sobre o uso de qualquer
bem, e o ato de decidir é parte presente na
essência de "humano", ou de "ser consciente",
mas ausente na essência de outros agrupamentos
materiais não-humanos, podemos finalmente de
uma vez por todas concluir que Fabrette está
errado em suas afirmações.

Você também pode gostar