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1 - Crimes Contra o Sistema Financeiro

Os tipos penais financeiros se destinam a punir as condutas intoleráveis, que


importem em manobras lucrativas em prejuízo geral, mediante o aproveitamento da estrutura
e organização do sistema financeiro.

No Brasil, desde há muitos anos, os juristas preocupam-se com as relações


entre economia e a criminalidade.

A lei 7.492, de 16 de junho de 1986 define os crimes contra o sistema financeiro


nacional e dá outras providências.

O sistema financeiro caracteriza-se como um bem jurídico supraindividual, no


qual se destacam os seguintes aspectos:

1) a organização do mercado;

2) a regularidade dos seus instrumentos;

3) a confiança neles exigida; e

4) a segurança dos negócios.

O art. 1º, caput, da lei 7.492/86 traz claramente o que se deve entender, para
efeitos dessa lei, por instituição financeira (considera-se instituição financeira, para efeito
desta Lei, a pessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade principal
ou acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos
financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão,
distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários). É
importante reparar que, segundo esse art. 1º caput, não é considerada instituição financeira
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a instituição que tenha como atividade a aplicação de recursos próprios, ainda que essa
tenha sido a vontade do projeto de lei. Os termos ‘próprios ou’ foram vetados pelo Presidente
da República com a justificativa de que “no art. 1º, a expressão ‘próprios ou’, porque é
demasiado abrangente, atingindo o mero investidor individual, o que obviamente não é o
propósito do legislador. Na aplicação de recursos próprios, se prejuízo houver, não será para
a coletividade, nem para o sistema financeiro; no caso de usura, a legislação vigente já
apena de forma adequada quem a praticar. Assim, evidentemente não podem, de modo
algum, ser equiparadas à instituição financeira as empresas que realizam a aplicação de
recursos próprios.

O parágrafo único do art. 1º traz consignado pessoas que se equiparam à


instituição financeira:

I- a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização


ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;
II- a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que
de forma eventual.

O art. 1º, caput, parágrafo único e incisos assinala que a marca típica da
instituição financeira, em sua autêntica conformação ou nas modalidades assemelhadas por
força da lei, é a operacionalidade com recursos de terceiros.

Verificando as penas cominadas em todos os tipos penais, constata-se que em


todos eles, com exceção do art. 21, aparece cominada a pena de reclusão e multa. A
exceção prevê pena de detenção e multa. Com isso, conclui-se, que a multa sempre é
cominada cumulativamente.

O art. 4º, caput, é um tipo penal que define a conduta denominada de gestão
fraudulenta.

O art. 4º, caput, é crime pluriofensivo, pois ofende a boa execução da política
econômica e causa prejuízos ao mercado financeiro ou seus investidores. Tem como sujeitos
passivos o Estado, a empresa e os particulares. É crime doloso (o agente deve ter
consciência e vontade de gerir a instituição financeira de maneira fraudulenta), próprio
(somente as pessoas que gerenciam a instituição financeira poderão ser sujeito ativo - art.
25), formal e de perigo concreto.

O art. 26 da lei 7.492/86 diz que a ação penal, nos crimes contra o sistema

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financeiro nacional, será promovida pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça
Federal. São todos delitos de ação penal pública incondicionada.

2 – Crime de Lavagem de Dinheiro

O crime de lavagem de dinheiro é um conjunto de operações por meio das


quais os bens, direitos e valores obtidos com a prática de crimes são integrados ao sistema
econômico financeiro, com a aparência de terem sido obtidos de maneira lícita. É uma forma
de mascaramento da obtenção ilícita de capitais.

Com a Lei 9.613/98, o crime de lavagem de capitais passa a ser considerado


um crime independente, cuja previsão encontra-se, como dito, em Lei Especial, e, portanto,
fora do Código Penal.

Essa técnica legislativa - inovação na ordem jurídica, mediante a criação de


figuras penais especiais - principalmente no caso da lavagem de dinheiro, possui um lado
positivo e outro negativo.

I- De um lado, está a previsão de um texto legal autônomo que favorece a criação de um


espectro punitivo próprio, pretendendo abarcar exaustivamente todo o âmbito da
matéria, concentrando em um único diploma a resposta penal e os demais aspectos
dela decorrentes.
II- Por outro lado, temos a não inclusão do delito na Parte Especial do Código Penal,
contribuindo para a erosão da harmonia legislativa e do sistema punitivo, adotando um
modelo político-criminal fragmentado que não respeita o ideal codificador, nem
possibilita a sistematização ordenada do universo de condutas sujeitas ao Direito
Penal, afetando o processo de interpretação da norma e produzindo duvidosos efeitos
da prevenção geral.

É perceptível que no seu primeiro artigo a intenção do legislador de tipificar os


diferentes comportamentos típicos, bem como estabelecer as regras especiais sobre a
dosimetria da pena, que irão influenciar no cômputo da resposta penal. Há uma abordagem
individualizada de quais seriam os ilícitos precedentes do delito de lavagem de capitais.

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A lei oferece ao sistema penal uma resposta pesada ao problema, limitando
uma série de benefícios processuais e instrumentais, apesar de introduzir institutos novos,
como a delação premiada. O argumento sustentado, para tanto, é que evitar a impunidade e
aplicar efetivamente o novo sistema legal é algo mais importante do que a previsão de penas
altas como artifício preventivo.

Neste sentido é possível analisar a Lei 9.613/998, sob os seguintes pontos:

I- Proibição da Fiança – Preceitua o artigo 3º da referida lei que os crimes definidos nela
são insuscetíveis de fiança e liberdade provisória;
II- Inversão do Ônus da Prova em relação à ilicitude dos bens que foram objeto de
apreensão e ao sequestro.

Da necessidade de respeitar a ordem constitucional, surgem muitas


dificuldades no efetivo combate à lavagem de dinheiro, isto porque enquanto os agentes
criminosos não têm limitações na realização de suas condutas, o Estado tem de respeitar os
mencionados direitos fundamentais, bem como um leque de outros.

A maior preocupação, quando se cuida da lavagem de dinheiro, está em não


permitir a utilização no processo penal de provas ilicitamente obtidas e respeitar a ampla
defesa e o contraditório, garantias que se ofendidas desmoronariam todos os esforços para a
punição dos culpados. Desta maneira, corre-se o risco dos agentes criminosos utilizarem das
garantias constitucionais para assegurarem o encerramento da persecução do delito, bem
como promover continuidade aos seus atos ilícitos.

3 - Conclusão

É possível notar a necessidade de reformulação em toda a legislação que trata


dos delitos econômicos, que incluem os delitos financeiros.

O bom funcionamento do sistema financeiro é essencial para uma sociedade


que pretende desenvolver-se. O sistema financeiro brasileiro conta atualmente com grande
complexidade e deve merecer uma proteção eficaz. Não há como ignorar que o Brasil tem
um sistema financeiro que, a despeito de suas mazelas, é ainda assim bastante
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desenvolvido, confiável e sofisticado, com executivos de nível internacional em seus postos
de direção.

Quanto à lavagem de dinheiro, desde que surgiu vem crescendo e tomando


dimensões cada vez maiores, especialmente em razão de novas técnicas criminosas criadas
para burlar o controle e a punição deste crime.

Os delitos financeiros talvez sejam aqueles que, em nosso país, causem mais
danos à economia. A necessidade de um tratamento sério e amplo de tais delitos é
manifesta, especialmente se atentarmos para o fato de que o nosso Direito Penal dispõe de
escassas e, lamentavelmente, imperfeitas normas, numa legislação fragmentária, elitista e
seletiva, que tem como consequência, a impunidade.

4 - Bibliografia

MESSA, Ana Flávia. Curso de Direito Processual Penal. 2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2014.

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 12.ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

BRASIL. Lei 9.613/1988. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm > Acesso em: 07 set. 2016.

BRASIL. Lei 7.492/1986 . Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7492.htm > Acesso em: 07 set. 2016.

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