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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE

CAPITAIS – DEVERES DOS ADVOGADOS

BRUNO NEVES DE SOUSA

CENTRO DE ESTÁGIO – CONSELHO REGIONAL DE LISBOA DA


ORDEM DOS ADVOGADOS

Lisboa, 15 de Dezembro de 2016


SIGLAS UTILIZADAS
CDAE – CÓDIGO DE DEONTOLOGIA DOS ADVOGADOS EUROPEUS
CP – CÓDIGO PENAL
CPP – CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
CRP – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA
EOA – ESTATUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS
DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

"All I ever did was sell beer and whiskey to our best people.
All I ever did was supply a demand that was pretty popular.
Why, the very guys that make my trade good are the ones that yell the loudest about me.
Some of the leading judges use the stuff”.

(Al Capone)

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DOS ADVOGADOS

ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO

1. CONCEITO

2. ENQUADRAMENTO LEGAL
 Lei n.º 25/2008, de 5 de Junho
 Código Penal: art.º 368.º-A
 Outras fontes: Aviso do Banco de Portugal n.º 5/2008, de 1 de Julho; Aviso n.º
9/2012, de 17 de Maio; Aviso n.º 2/2014, de 13 de Maio; Instrução do Banco de
Portugal n.º 26/2005, de 16 de Agosto
 Directiva UE 2015/849 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de Maio de
2015

3. BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS
 Colocação
 Circulação
 Integração
 Exemplos-padrão

4. ÂMBITO SUBJECTIVO DE APLICAÇÃO DA LEI N.º 25/2008, DE 5 DE


JUNHO
 Entidades financeiras
 Entidades não financeiras
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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA
 Deveres genéricos
 Deveres específicos das entidades financeiras
 Deveres específicos das entidades não financeiras, em particular, dos
advogados e solicitadores.

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS
 Segredo Profissional;
 Mecanismo de comunicação ao Bastonário da Ordem dos Advogados;

7. POSIÇÃO DA ORDEM DOS ADVOGADOS

8. JURISPRUDÊNCIA

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1. CONCEITO

A expressão “branqueamento de capitais” corresponde ao comportamento de


ocultação ou dissimulação da origem ilícita ou criminosa dos bens ou resultados
obtidos, através de um conjunto de operações praticadas através do sistema
económico, com a finalidade de lhes dar uma aparência final de legitimidade.

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2. SEDE LEGAL

2.1. LEI N.º 25/2008, DE 5 DE JUNHO

Estabelece medidas de natureza preventiva e repressiva de combate ao


branqueamento de vantagens de proveniência ilícita e ao financiamento do
terrorismo, transpondo para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2005/60/CE,
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de Outubro, e a Directiva n.º
2006/70/CE, da Comissão, de 1 de Agosto, relativas à prevenção da utilização do
sistema financeiro e das actividades e profissões especialmente designadas para
efeitos de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo.

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2. SEDE LEGAL

2.2. CÓDIGO PENAL – ARTIGO 368.º-A

“2 - Quem converter, transferir, auxiliar ou facilitar alguma operação de conversão ou


transferência de vantagens, obtidas por si ou por terceiro, directa ou indirectamente,
com o fim de dissimular a sua origem ilícita, ou de evitar que o autor ou participante
dessas infracções seja criminalmente perseguido ou submetido a uma reacção
criminal, é punido com pena de prisão de dois a doze anos.

3 - Na mesma pena incorre quem ocultar ou dissimular a verdadeira natureza,


origem, localização, disposição, movimentação ou titularidade das vantagens, ou os
direitos a ela relativos.

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2. SEDE LEGAL

2.2. CÓDIGO PENAL – ARTIGO 368.º-A

4 - A punição pelos crimes previstos nos n.os 2 e 3 tem lugar ainda que os factos que
integram a infracção subjacente tenham sido praticados fora do território nacional, ou
ainda que se ignore o local da prática do facto ou a identidade dos seus autores.

5 - O facto não é punível quando o procedimento criminal relativo aos factos ilícitos
típicos de onde provêm as vantagens depender de queixa e a queixa não tenha sido
tempestivamente apresentada.

6 - A pena prevista nos n.os 2 e 3 é agravada de um terço se o agente praticar as


condutas de forma habitual.

7 - Quando tiver lugar a reparação integral do dano causado ao ofendido pelo facto
ilícito típico de cuja prática provêm as vantagens, sem dano ilegítimo de terceiro, até
ao início da audiência de julgamento em 1.ª instância, a pena é especialmente
atenuada.

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2. SEDE LEGAL

2.2. CÓDIGO PENAL – ARTIGO 368.º-A

8 - Verificados os requisitos previstos no número anterior, a pena pode ser


especialmente atenuada se a reparação for parcial.

9 - A pena pode ser especialmente atenuada se o agente auxiliar concretamente na


recolha das provas decisivas para a identificação ou a captura dos responsáveis pela
prática dos factos ilícitos típicos de onde provêm as vantagens.

10 - A pena aplicada nos termos dos números anteriores não pode ser
superior ao limite máximo da pena mais elevada de entre as previstas para
os factos ilícitos típicos de onde provêm as vantagens.”

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2. SEDE LEGAL

2.3. AVISOS DO BANCO DE PORTUGAL

Estabelecem condições, mecanismos e procedimentos para o efectivo cumprimento,


na prestação de serviços financeiros sujeitos à supervisão do Banco de Portugal, dos
deveres preventivos do branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo
previstos na Lei n.º 25/2008, de 5 de Junho.

Tais Avisos são aplicáveis, nomeadamente, a instituições de crédito, sociedades


financeiras, instituições de pagamento, e respectivas sucursais e ainda, a entidades
prestadoras de serviços postais que ofereçam ao público serviços financeiros
relacionados com matérias, sob a supervisão do Banco de Portugal.

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2. SEDE LEGAL

2.4. DIRECTIVA (UE) 2015/849 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO


SOBRE A PREVENÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO PARA
EFEITOS DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS E DE FINANCIAMENTO DE
TERRORISMO

As Directivas 2005/60/CE e 2006/70/CE são revogadas com efeitos a partir de 26 de


Junho de 2017, devendo, até à mesma data, os Estados-Membros pôr em vigor as
disposições legislativas, regulamentares e administrativas necessárias para dar
cumprimento à referida Directiva.

MEDIDAS DE VIGILÂNCIA
A presente Directiva reforça os deveres de vigilância das entidades sujeitas, definindo
as condições em que as mesmas devem comunicá-las.

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2. SEDE LEGAL

2.4. DIRECTIVA (UE) 2015/849 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO


SOBRE A PREVENÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO PARA
EFEITOS DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS E DE FINANCIAMENTO DE
TERRORISMO

As entidades sujeitas devem aplicar medidas de vigilância da clientela,


designadamente, quando estabelecem relações de negócio, quando se efectuem
transacções ocasionais de montante igual ou superior a € 15.000,00, quando pessoas
singulares transacionem ocasionalmente em numerário de montante igual ou superior
a € 7.500,00 ou, quando haja suspeitas de branqueamento de capitais ou de
financiamento de terrorismo.

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2. SEDE LEGAL

2.4. DIRECTIVA (UE) 2015/849 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO


SOBRE A PREVENÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO PARA
EFEITOS DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS E DE FINANCIAMENTO DE
TERRORISMO

Os advogados continuam a ser considerados como "entidades obrigadas", quando


participem, quer actuando em nome e por conta do seu cliente numa transacção
financeira ou imobiliária, quer prestando assistência ao seu cliente e na concepção ou
execução de transacções relativamente à:
 Compra e venda de bens imóveis ou entidades comerciais;
 Gestão de fundos, valores mobiliários ou outros activos pertencentes ao cliente;
 Abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança ou de valores mobiliários;
 Organização das entradas necessárias à criação, exploração ou gestão de
sociedades;
 Criação, exploração ou gestão de trusts, sociedades ou estruturas análogas.

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3. BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

O processo de branqueamento de capitais é complexo, dividindo-se em 3 fases distintas:

 Colocação (“Placement”);

 Circulação (“Layering”); e

 Integração (“Integration”).
 

Alguns autores, no entanto, têm vindo a acrescentar recentemente uma 4.ª nova fase
denominada “segurança”, reportando-se à actividade que os líderes das organizações
criminosas têm de assegurar durante todo o processo, de forma a não serem também
defraudados.

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3. BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

3.1. COLOCAÇÃO

Introdução dos bens, produtos ou capitais que se pretendem branquear no sistema


económico-financeiro, utilizando os mais diversos meios ou instrumentos.

3.2. CIRCULAÇÃO

A circulação implica um conjunto de procedimentos que provoquem grande


rotatividade da titularidade dos bens, com vista ao maior afastamento possível
entre a sua origem e forma de obtenção, e aquele que finalmente ficará na posse
dos mesmos.

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3. BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

3.2. CIRCULAÇÃO

A dissimulação da origem dos activos é agora efectuada com recurso a processos


mais complexos, nomeadamente:
 Off-shore Banking;
 Empresas Fictícias;
 Negócios fictícios;
 Contabilidade paralela em empresas com actividade regular;
 Mistura de activos “sujos” com activos “limpos” dentro de estruturas
empresariais regulares – Caso do “Carrocel do IVA”, de difícil reconstituição.

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3. BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

3.3. INTEGRAÇÃO

A terceira fase constitui-se com a integração dos bens e/ou dos valores na esfera
patrimonial do agente a quem os valores são devidos.

Completa-se quando os bens ou valores ilícitos surgem com a aparência de lícitos e


são usados livremente.

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3. BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

3.4. EXEMPLOS-PADRÃO – BANCO DE PORTUGAL

 
Operações em numerário: por exemplo, levantamentos em numerário de
montantes elevados, aumentos substanciais de saldo sem causa aparente, em
resultado de créditos em numerário, clientes com várias contas onde efectuam
depósitos em numerário que no seu conjunto atingem montantes elevados.

Operações com recurso a transferências: por exemplo, transferências


electrónicas com entrada e saída imediata da conta sem motivo aparente,
transferências efectuadas de e/ou para jurisdições fiscalmente mais favoráveis, sem
que existam motivos comerciais consistentes com a actividade conhecida do cliente,
instruções para que os fundos a favor de um determinado beneficiário sejam
levantados por terceiros.

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3. BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

3.4. EXEMPLOS-PADRÃO – BANCO DE PORTUGAL

 
Outras operações: como sejam a recusa do cliente em fornecer a informação
necessária para formalizar um crédito ou qualquer serviço, depósito de bens não
compatíveis com a actividade conhecida do cliente, gestão de patrimónios em que a
origem dos fundos não é clara, utilização da conta pessoal em operações que se
relacionam com a actividade comercial, operações envolvendo bancos ou empresas
sediadas em centros offshore.

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4. ÂMBITO SUBJECTIVO DA APLICAÇÃO DA LEI N.º 25/2008, DE 5


DE JUNHO

4.1. ENTIDADES FINANCEIRAS – ARTIGO 3.º

 Instituições de crédito;
 Empresas de investimento e outras sociedades financeiras;
 Entidades que tenham a seu cargo a gestão ou comercialização de fundos de
capital de risco;
 Organismos de investimento colectivo que comercializem as suas unidades de
participação;
 Empresas de seguros e mediadores de seguros que exerçam a actividade referida
na alínea c) do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 144/2006, de 31 de Julho, com
excepção dos mediadores de seguros ligados mencionados no artigo 8.º do referido
decreto-lei, na medida em que exerçam actividades no âmbito do ramo «Vida»;

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4. ÂMBITO SUBJECTIVO DA APLICAÇÃO DA LEI N.º 25/2008, DE 5


DE UNHO

4.1. ENTIDADES FINANCEIRAS – ARTIGO 3.º

 Sociedades gestoras de fundos de pensões;


 Sociedades de titularização de créditos;
 Sociedades e investidores de capital de risco;
 Sociedades de consultoria para investimento;
 Sociedades que comercializem bens ou serviços afectos ao investimento em bens
corpóreos;
 Instituições de pagamento;
 Instituições de moeda electrónica.

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4. ÂMBITO SUBJECTIVO DA APLICAÇÃO DA LEI N.º 25/2008, DE 5


DE JUNHO

4.2. ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS – ARTIGO 4.º

 Concessionários de exploração de jogo em casinos;


 Entidades pagadoras de prémios de apostas ou lotarias;
 Entidades exploradoras de jogos de fortuna ou azar, de apostas desportivas à
cota e de apostas hípicas, mútuas ou à cota, quando praticadas à distância,
através de suportes electrónios, informáticos, telemáticos e interactivos, ou por
quaisquer outros meios (jogos e apostas online);
 Entidades que exerçam actividades de mediação imobiliária e de compra e
revenda de imóveis bem como entidades construtoras que procedam à venda
directa de imóveis;

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4. ÂMBITO SUBJECTIVO DA APLICAÇÃO DA LEI N.º 25/2008, DE 5


DE JUNHO

4.2. ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS – ARTIGO 4.º

 Comerciantes que transaccionem bens cujo pagamento seja efectuado em


numerário, em montante igual ou superior a € 15 000,00, independentemente
de a transacção ser realizada através de uma única operação ou de várias
operações aparentemente relacionadas entre si;
 Revisores oficiais de contas, técnicos oficiais de contas, auditores externos e
consultores fiscais;
 Notários, conservadores de registos, advogados, solicitadores e outros profissionais
independentes, constituídos em sociedade ou em prática individual, que
intervenham ou assistam, por conta de um cliente ou noutras circunstâncias, em
operações:
i. De compra e venda de bens imóveis, estabelecimentos comerciais e
participações sociais;

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4. ÂMBITO SUBJECTIVO DA APLICAÇÃO DA LEI N.º 25/2008, DE 5


DE JUNHO

4.2. ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS – ARTIGO 4.º

ii. De gestão de fundos, valores mobiliários ou outros activos pertencentes a


clientes;
iii. De abertura e gestão de contas bancárias, de poupança ou de valores
mobiliários;
iv. De criação, exploração, ou gestão de empresas ou estruturas de natureza
análoga, bem como de centros de interesses colectivos sem personalidade
jurídica;
v. Financeiras ou imobiliárias, em representação do cliente;
vi. De alienação e aquisição de direitos sobre praticantes de actividades desportivas
profissionais;
vii. Prestadores de serviços a sociedades, a outras pessoas colectivas ou centros de
interesses colectivos sem personalidade jurídica, que não estejam abrangidos
nos casos anteriores.

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

5.1. DEVERES GENÉRICOS


 
- Dever de identificação
- Dever de diligência
- Dever de recusa
- Dever de conservação
- Dever de exame
- Dever de comunicação
- Dever de abstenção
- Dever de colaboração
- Dever de segredo
- Dever de controlo
- Dever de formação

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE IDENTIFICAÇÃO – ARTS. 7.º E 8.º


 
 Relações de negócio;
 Transacções ocasionais de montante igual ou superior a € 15 000,00,
independentemente de a transacção ser realizada através de uma única
operação ou de várias operações que aparentem estar relacionadas entre si;
 Quando se suspeite que as operações, independentemente do seu valor e de
qualquer excepção ou limiar, possam estar relacionadas com o crime de
branqueamento ou de financiamento do terrorismo.

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE IDENTIFICAÇÃO – ARTS. 7.º E 8.º


 

No caso de pessoas singulares, a verificação da identidade efectua-se mediante a


apresentação de documento original válido com fotografia.

No caso de pessoas colectivas, através do cartão de identificação de pessoa


colectiva, de certidão do registo comercial, ou, no caso de não residentes em
território nacional, de documento equivalente.

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE IDENTIFICAÇÃO – QUANDO?


 

Geralmente, a verificação da identidade do cliente deve ter lugar no momento em


que seja estabelecida a relação de negócio ou antes da realização de qualquer
transacção ocasional.

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE DILIGÊNCIA – ARTS. 9.º, 10.º, 11.º, 12.º

As entidades sujeitas devem ainda tomar diversas medidas, designadamente as


adequadas para compreender a estrutura de propriedade e de controlo do cliente,
bem como obter informação sobre a finalidade e a natureza pretendida da relação
de negócio, entre outras.

 Dever de diligência simplificado;


 Dever de diligência reforçado.

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BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE DILIGÊNCIA SIMPLIFICADO – ART.º 11.º

Salvo quando existam suspeitas de branqueamento ou de financiamento do


terrorismo, as entidades sujeitas ficam dispensadas do cumprimento dos deveres
de identificação e diligência quando:

 o cliente seja uma entidade financeira estabelecida em qualquer Estado


Membro da União Europeia, ou num país terceiro equivalente em matéria de
prevenção do branqueamento e do financiamento do terrorismo;

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BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE DILIGÊNCIA SIMPLIFICADO – ART.º 11.º

 o cliente seja uma sociedade cotada cujos valores mobiliários tenham sido
admitidos à negociação num mercado regulamentado, na acepção do
artigo 199.º do Código dos Valores Mobiliários, na redacção dada pelo Decreto-
Lei n.º 357-A/2007, de 31 de Outubro, em qualquer Estado membro da
União Europeia, bem como sociedades cotadas em mercados de países
terceiros e que estejam sujeitas a requisitos de divulgação de informação
equivalentes aos exigidos pela legislação comunitária, conforme publicitação a
efectuar pela autoridade de supervisão do respectivo sector;

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE DILIGÊNCIA SIMPLIFICADO – ART.º 11.º

 o cliente seja o Estado, as regiões autónomas ou as autarquias locais ou


uma pessoa colectiva de direito público, de qualquer natureza, integrada na
administração central, regional ou local;

 o cliente seja uma autoridade ou organismo público sujeito a práticas


contabilísticas transparentes e objecto de fiscalização, incluindo as
instituições previstas no Tratado que instituiu a Comunidade Europeia e outras que
venham a ser enunciadas em lista a divulgar por portaria do membro do Governo
responsável pela área das finanças;

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE DILIGÊNCIA SIMPLIFICADO – ART.º 11.º

É igualmente aplicável aos beneficiários efectivos de contas-clientes abertas em


instituições de crédito, tituladas por advogados ou solicitadores
estabelecidos em Portugal, desde que se encontre assegurado, mediante
declaração prestada perante a instituição onde a conta se encontra aberta e no
momento da abertura, a disponibilização imediata da identidade do beneficiário
efectivo, quando solicitada pela instituição de crédito.

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE DILIGÊNCIA SIMPLIFICADO – ART.º 11.º

As entidades sujeitas devem, em qualquer caso, recolher informação suficiente para


verificar se o cliente se enquadra numa das categorias ou profissões referidas, bem
como acompanhar a relação negocial por forma a poder detectar transacções
complexas ou de valor anormalmente elevado que não aparentem ter objectivo
económico ou fim lícito.

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE DILIGÊNCIA REFORÇADO – ART.º 12.º

Aplicação de medidas acrescidas de diligência em relação aos clientes e às operações


que possam revelar um maior risco de branqueamento ou de financiamento do
terrorismo.

O artigo 12.º da Lei n.º 25/2008, de 5 de Junho estipula ainda as operações e


situações em que as medidas acrescidas de diligência devem ser sempre aplicadas,
com sejam, operações realizadas à distância e especialmente às que possam
favorecer o anonimato, às operações efectuadas com pessoas politicamente
expostas que residam fora do território nacional, às operações de
correspondência bancária com instituições de crédito estabelecidas em países
terceiros e a quaisquer outras designadas pelas autoridades de supervisão ou de
fiscalização do respectivo sector, desde que legalmente habilitadas para o efeito.
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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

PESSOAS POLITICAMENTE EXPOSTAS – ART.º 2.º, N.º 6

“Pessoas singulares que desempenham, ou desempenharam até há um ano, altos


cargos de natureza política ou pública, bem como os membros próximos da sua
família e pessoas que reconhecidamente tenham com elas estreitas relações de
natureza societária ou comercial”.

Altos cargos de natureza política ou pública:


 Chefes de Estado, chefes de Governo e membros do Governo, designadamente
ministros, secretários e subsecretários de Estado;
 Deputados ou membros de câmaras parlamentares;

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

PESSOAS POLITICAMENTE EXPOSTAS – ART.º 2.º, N.º 6

 Membros de supremos tribunais, de tribunais constitucionais, de tribunais de contas


e de outros órgãos judiciais de alto nível, cujas decisões não possam ser objecto de
recurso, salvo em circunstâncias excepcionais;
 Membros de órgãos de administração e fiscalização de bancos centrais;
 Chefes de missões diplomáticas e de postos consulares;
 Oficiais de alta patente das Forças Armadas;
 Membros de órgãos de administração e de fiscalização de empresas públicas e de
sociedades anónimas de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos, institutos
públicos, fundações públicas, estabelecimentos públicos, qualquer que seja o modo da
sua designação, incluindo os órgãos de gestão das empresas integrantes dos sectores
empresariais regionais e locais;

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5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

PESSOAS POLITICAMENTE EXPOSTAS – ART.º 2.º, N.º 6

 Membros dos órgãos executivos das Comunidades Europeias e do Banco Central


Europeu;
 Membros de órgãos executivos de organizações de direito internacional;

Membros próximos da família:


 O cônjuge ou unido de facto;
 Os pais, os filhos e os respectivos cônjuges ou unidos de facto;

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

PESSOAS POLITICAMENTE EXPOSTAS – ART.º 2.º, N.º 6

Pessoas com reconhecidas e estreitas relações de natureza societária ou


comercial:
 Qualquer pessoa singular, que seja notoriamente conhecida como proprietária
conjunta com o titular do alto cargo de natureza política ou pública de uma pessoa
colectiva, de um centro de interesses colectivos sem personalidade jurídica ou que
com ele tenha relações comerciais próximas;
 Qualquer pessoa singular que seja proprietária do capital social ou dos direitos de
voto de uma pessoa colectiva ou do património de um centro de interesses colectivos
sem personalidade jurídica, que seja notoriamente conhecido como tendo como único
beneficiário efectivo o titular do alto cargo de natureza política ou pública.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE RECUSA – ART.º 13.º

As entidades sujeitas devem recusar efectuar qualquer operação em conta


bancária, iniciar uma relação de negócio ou realizar qualquer transacção ocasional,
quando:

i. Não forem facultados os elementos previstos para a identificação do cliente, do


seu representante ou do beneficiário efectivo, caso exista;
ii. Não for fornecida a informação sobre a estrutura de propriedade e controlo do
cliente, a natureza e a finalidade da relação de negócio e a origem e o destino
dos fundos.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE CONSERVAÇÃO – ART.º 14.º

As cópias ou referências aos documentos comprovativos do cumprimento do dever


de identificação e de diligência devem ser conservadas por um período de sete
anos após o momento em que a identificação se processou ou, no caso das
relações de negócio, após o termo das mesmas.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE COMUNICAÇÃO – ARTS. 16.º, 35.º E 36.º

As entidades sujeitas devem, por sua própria iniciativa, informar de imediato o


Procurador-Geral da República e a Unidade de Informação Financeira (Serviço da
Polícia Judiciária) sempre que saibam, suspeitem ou tenham razões suficientes para
suspeitar que teve lugar, está em curso ou foi tentada uma operação susceptível de
configurar a prática do crime de branqueamento ou de financiamento do terrorismo.
 
As referidas informações apenas podem ser utilizadas em processo penal, não
podendo ser revelada, em caso algum, a identidade de quem as forneceu.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5. DEVERES LEGAIS EM MATÉRIA DE PREVENÇÃO DO


BRANQUEAMENTO DE VANTAGENS DE PROVENIÊNCIA ILÍCITA E DO
FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

DEVER DE SEGREDO – ART.º 19.º, 20.º, 35.º E 36.º

Associado ao dever supra referido, as entidades sujeitas, bem como os membros


dos respectivos órgãos sociais, os que nelas exerçam funções de direcção, de
gerência ou de chefia, os seus empregados, os mandatários e outras pessoas que
lhes prestem serviço a título permanente, temporário ou ocasional, não podem
revelar ao cliente ou a terceiros que transmitiram as comunicações
legalmente devidas ou que se encontra em curso uma investigação
criminal.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5.2. DEVERES ESPECÍFICOS DAS ENTIDADES FINANCEIRAS

Estas entidades têm vindo a munir-se de ferramentas que lhes permitam prevenir o
uso indevido do sistema financeiro, nomeadamente através do uso de listas de
excepção internacionalmente validadas, de software sofisticado, a criação de perfis
de risco e de comportamento dos clientes, a implementação de estruturas de
compliance numerosas, formação dada aos seus funcionários, participação em
seminários internacionais, contratação de empresas especializadas na análise de
operações.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5.3. DEVERES ESPECÍFICOS DAS ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS, EM


PARTICULAR, DOS ADVOGADOS E SOLICITADORES

Nos termos do artigo 35.º da Lei n.º 25/2008, de 5 de Junho e, no cumprimento do


dever de comunicação, os advogados e os solicitadores devem comunicar “as
operações suspeitas, respectivamente, ao Bastonário da Ordem dos
Advogados e ao presidente da Câmara dos Solicitadores, cabendo a estas
entidades a comunicação, pronta e sem filtragem, ao Procurador-Geral da
República e à Unidade de Informação Financeira, sem prejuízo do disposto no
número seguinte”.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5.3. DEVERES ESPECÍFICOS DAS ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS, EM


PARTICULAR, DOS ADVOGADOS E SOLICITADORES

DELIMITAÇÃO POSITIVA

i. de compra e venda de bens imóveis, estabelecimentos comerciais e


participações sociais;
ii. de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros activos pertencentes a
clientes;
iii. de abertura e gestão de contas bancárias, de poupança e de valores mobiliários;
iv. de criação, exploração ou gestão de empresas, fundos fiduciários ou estruturas
análogas;
v. financeiras ou imobiliárias, em representação do cliente;
vi. de alienação e aquisição de direitos sobre praticantes de actividades desportivas
profissionais.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5.3. DEVERES ESPECÍFICOS DAS ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS, EM


PARTICULAR, DOS ADVOGADOS E SOLICITADORES

DELIMITAÇÃO NEGATIVA

i. Avaliação da situação jurídica do cliente;


ii. Consulta jurídica;
iii. Exercício da missão de defesa ou representação do cliente em processo judicial
ou a respeito de um processo judicial, incluindo o aconselhamento relativo à
maneira de propor ou evitar um processo, quer as informações sejam obtidas
antes, durante ou depois do processo.

Lei n.º 49/2004, de 24 de Agosto (Lei dos Actos próprios do advogado)?

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5.3. DEVERES ESPECÍFICOS DAS ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS, EM


PARTICULAR, DOS ADVOGADOS E SOLICITADORES

Questiona-se, portanto, se tais deveres, tal como estão gizados, não conflituam com a
deontologia própria da profissão, com as regras legais e éticas fundamentais do
exercício da advocacia?

i. Problemas de interpretação – conceitos indeterminados;


ii. A insuficiência da ressalva da delimitação negativa;
iii. Problemas de aplicação prática;
iv. Colisão com deveres e imposições deontológicas.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5.3. DEVERES ESPECÍFICOS DAS ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS, EM


PARTICULAR, DOS ADVOGADOS E SOLICITADORES

ESPECIFICIDADES

i. a entidade fiscalizadora daquele (in)cumprimento não é uma entidade


administrativa de sentido próprio como sucede para outras entidades
consideradas (Inspecção Geral de Jogos ou Inspecção Geral de Actividades
Económicas) mas antes da Ordem dos Advogados;
ii. as sanções susceptíveis de serem aplicadas não são coimas eventualmente
acompanhadas de sanções acessórias como sucede com todas as entidades
mencionadas no diploma (com excepção dos solicitadores) mas antes sanções
disciplinares;
iii. o processo a observar perante o incumprimento não é o do Regime Geral
das Contra-Ordenações como sucede com todas as entidades mencionadas no
diploma (com excepção dos solicitadores) mas antes aquele próprio do
procedimento disciplinar tal como definido no respectivo Estatuto.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

5.3. DEVERES ESPECÍFICOS DAS ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS, EM


PARTICULAR, DOS ADVOGADOS E SOLICITADORES

ESPECIFICIDADES

As sanções disciplinares aplicáveis são:

i. Advertência;
ii. Censura;
iii. Multa de quantitativo até ao valor da alçada dos tribunais de comarca (€
5.000,00);
iv. Multa de quantitativo entre o valor da alçada dos tribunais de comarca (€
5.000,00) e o valor da alçada dos tribunais de Relação (€ 30.000,00) ou, no caso
de pessoas colectivas, o valor do triplo da alçada da Relação (€ 90.000,00);
v. Suspensão até 10 anos;
vi. Expulsão.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS

SEGREDO PROFISSIONAL - C.D.A.E. – PARÁGRAFO 2.3.

“2.3. 1 - É requisito essencial do livre exercício da advocacia a possibilidade do


cliente revelar ao advogado informações que não confiaria a mais ninguém,
e que este possa ser o destinatário de informações sigilosas só transmissíveis no
pressuposto da confidencialidade. Sem a garantia de confidencialidade não
pode haver confiança. O segredo profissional é, pois, reconhecido como direito e
dever fundamental e primordial do advogado.”

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS

SEGREDO PROFISSIONAL - ESTATUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS – ART.º


92.º

“1 - O advogado é obrigado a guardar segredo profissional no que respeita a todos os


factos cujo conhecimento lhe advenha do exercício das suas funções ou da prestação
dos seus serviços, designadamente:
a) A factos referentes a assuntos profissionais conhecidos, exclusivamente, por revelação do
cliente ou revelados por ordem deste;
b) A factos de que tenha tido conhecimento em virtude de cargo desempenhado na Ordem dos
Advogados;
c) A factos referentes a assuntos profissionais comunicados por colega com o qual esteja
associado ou ao qual preste colaboração;
d) A factos comunicados por co-autor, co-réu ou co-interessado do seu constituinte ou pelo
respectivo representante;
e) A factos de que a parte contrária do cliente ou respectivos representantes lhe tenham dado
conhecimento durante negociações para acordo que vise pôr termo ao diferendo ou litígio;
f) A factos de que tenha tido conhecimento no âmbito de quaisquer negociações malogradas,
orais ou escritas, em que tenha intervindo.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS

SEGREDO PROFISSIONAL - ESTATUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS – ART.º


92.º

2 - A obrigação do segredo profissional existe quer o serviço solicitado ou cometido ao advogado


envolva ou não representação judicial ou extrajudicial, quer deva ou não ser remunerado, quer o
advogado haja ou não chegado a aceitar e a desempenhar a representação ou serviço, o mesmo
acontecendo para todos os advogados que, directa ou indirectamente, tenham qualquer
intervenção no serviço.
3 - O segredo profissional abrange ainda documentos ou outras coisas que se relacionem, directa
ou indirectamente, com os factos sujeitos a sigilo. 
4 - O advogado pode revelar factos abrangidos pelo segredo profissional, desde que tal seja
absolutamente necessário para a defesa da dignidade, direitos e interesses legítimos do próprio
advogado ou do cliente ou seus representantes, mediante prévia autorização do presidente do
conselho regional respectivo, com recurso para o bastonário, nos termos previstos no respectivo
regulamento.
5 - Os actos praticados pelo advogado com violação de segredo profissional não podem fazer
prova em juízo.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS

SEGREDO PROFISSIONAL - ESTATUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS – ART.º


92.º

6 - Ainda que dispensado nos termos do disposto no n.º 4, o advogado pode manter o segredo
profissional.
7 - O dever de guardar sigilo quanto aos factos descritos no n.º 1 é extensivo a todas as pessoas
que colaborem com o advogado no exercício da sua actividade profissional, com a cominação
prevista no n.º 5. 
8 - O advogado deve exigir das pessoas referidas no número anterior, nos termos de declaração
escrita lavrada para o efeito, o cumprimento do dever aí previsto em momento anterior ao início
da colaboração, consistindo infracção disciplinar a violação daquele dever.”

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS

SEGREDO PROFISSIONAL

A violação do segredo profissional poderá acarretar a prática de crimes de violação


de segredo profissional e de aproveitamento indevido de segredo alheio, p. e p. nos
artigos 195.º e 196.º do Código Penal.

O advogado apenas poderá revelar factos abrangidos pelo segredo profissional


(art.º 92.º, n.º 1 do Estatuto da Ordem dos Advogados), desde que tal seja
absolutamente necessário para a defesa da dignidade, direitos e interesses
legítimos do próprio advogado ou do cliente ou seus representantes,
mediante prévia autorização do Presidente do Conselho Regional
respectivo, com recurso para o Bastonário da Ordem dos Advogados.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS

MECANISMO DE DISPENSA DE SEGREDO PROFISSIONAL

A dispensa de segredo profissional rege-se pelos preceitos do EOA e do Regulamento


n.º 94/2006 OA, de 25 de Maio de 2006.

Nos termos do art.º 4.º do referido Regulamento resulta que a dispensa do segredo
profissional tem carácter excepcional.

O pedido de autorização para revelação dos factos enumerados no n.º 1 do art.º


92.º do EOA de que o advogado tenha tido conhecimento deve ser efectuado
mediante requerimento dirigido ao Presidente do Conselho Regional
respectivo e subscrito pelo advogado em causa.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS

MECANISMO DE DISPENSA DE SEGREDO PROFISSIONAL

O requerimento deve identificar de modo objectivo, concreto e exacto, qual o facto


ou factos sobre os quais a desvinculação é pretendida, conter a identificação
completa do advogado requerente, vir acompanhado com os documentos
necessários à apreciação do pedido, e, se se tratar de pedido relativo a processo
em curso, vir acompanhado das peças processuais pertinentes.

A decisão do Presidente do Conselho Regional, nos termos do EOA e do


presente regulamento, aferirá da essencialidade, actualidade, exclusividade e
imprescindibilidade do meio de prova sujeito a segredo, considerando e
apreciando livremente os elementos de facto trazidos aos autos pelo requerente da
dispensa.
 

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS

MECANISMO DE DISPENSA DE SEGREDO PROFISSIONAL

A decisão que negue autorização para dispensa de segredo é vinculativa. A decisão


de deferimento da dispensa de segredo profissional é irrecorrível.
 
Da decisão de indeferimento de dispensa de segredo profissional cabe recurso para
o Bastonário.

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

6. IMPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS

A violação do segredo profissional pelo advogado, em detrimento do dever de


comunicação previsto na Lei n.º 25/2008, de 5 de Junho, colide ainda com o dever
de independência do advogado (previsto nos arts. 89.º, 81.º, n.º 1 do EOA e art.º
12.º da LOSJ), desde logo, porque o advogado deve manter-se, no exercício da sua
profissão, livre de qualquer pressão, abstendo-se de negligenciar a deontologia
profissional no intuito de agradar ao seu cliente, colegas, tribunal e a terceiros.

O advogado encontra-se obrigado a “[r]ecusar a prestação de serviços quando


suspeitar seriamente que a operação ou actuação jurídica em causa visa a obtenção
de resultados ilícitos e que o interessado não pretende abster-se de tal operação”
(art.º 90.º, n.º 2, alínea d) do EOA).

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

7. POSIÇÃO DA ORDEM DOS ADVOGADOS

PARECER DA ORDEM DOS ADVOGADOS (a propósito da Proposta de Directiva do


Parlamento Europeu e do Conselho sobre prevenção da utilização do sistema
financeiro para efeitos de branqueamento de capitais e de financiamento de
terrorismo, 25 de Março de 2013).

“ (…) os mesmos, em circunstância alguma, deverão ficar sujeitos a


qualquer dever de comunicação e de informação à UIF (Unidade de
Informação Financeira), ainda que através do Bastonário da respectiva Ordem,
sobre quaisquer factos que lhes tenham sido revelados pelos respectivos
clientes e que, de forma directa ou indirecta, possam ter por objecto actos ou
operações de branqueamento de capitais ou de financiamento de terrorismo”

“[o] sigilo profissional do advogado não é um direito deste mas sim dos seus
clientes e, sobretudo, é uma garantia do estado de direito democrática para a boa
administração da justiça. (…)”

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DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

7. POSIÇÃO DA ORDEM DOS ADVOGADOS

“(…) compete às autoridades policiais e judiciárias procederem à investigação


da criminalidade, nomeadamente, identificando os autores dos crimes e
reunindo as provas dessa autoria. Aos advogados compete defender os seus
constituintes e nunca aliar-se a quem os acusa ou vai acusar. Os Advogados
não podem, em circunstância alguma, transformar-se em aliados ou colaboradores da
polícia ou do Ministério Público contra os seus clientes, traindo, assim, a confiança que
estes em si depositaram, ou seja, que depositaram em quem dizia que os iria
defender”.

62
DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

8. JURISPRUDÊNCIA

“(…) as obrigações de informação e de colaboração com as autoridades


responsáveis pela luta contra o branqueamento de capitais, previstas no artigo
6.°, n.° 1, da Directiva 91/308 e impostas aos advogados pelo artigo 2.°-A, n.° 5,
desta directiva, atendendo ao artigo 6.°, n.° 3, segundo parágrafo, da mesma, não
violam o direito a um processo equitativo garantido pelos artigos 6.° da
CEDH e 6.°, n.° 2, UE.” (Acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia de 26 de
Junho de 2007)

63
DO REGIME JURÍDICO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS – DEVERES
DOS ADVOGADOS

8. JURISPRUDÊNCIA

“(…) a obrigação que impende sobre os advogados franceses de reportarem


todas as suspeitas de branqueamento de capitais por parte dos seus clientes
não viola o direito ao respeito pela vida privada e familiar, nos termos do
artigo 8.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Apesar da
importância do dever de sigilo profissional e da confidencialidade advogado-cliente, o
Tribunal considera que a obrigação legal imposta aos advogados, na medida em
que decorre da transposição de uma Diretiva europeia que visa perseguir um
objetivo legítimo de prevenção de crimes económicos, não é desproporcionada nem
ilegal.” (Caso Michaud contra França, Acórdão do Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos, 5.ª Secção, de 6 de Dezembro de 2012)

64
OBRIGADO!!!

Este documento es meramente expositivo y debe ser interpretado conjuntamente con las explicaciones y, en su
caso, con el informe elaborado por Cuatrecasas, Gonçalves Pereira sobre esta cuestión

This document is merely a presentation and must be interpreted together with any explanations and opinions
drafted by Cuatrecasas, Gonçalves Pereira on this subject

Este documento é uma mera exposição, devendo ser interpretado em conjunto com as explicações e quando
seja o caso, com o relatório/parecer elaborada pela Cuatrecasas, Gonçalves Pereira sobre esta questão

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