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NATAL – RN
2019
MARLENE GORETE DE ARAÚJO
NATAL – RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Banca Examinadora
___________________________________________________________________
Profª Dra. Bernadete Barbosa Morey (Orientadora) - Presidente
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Giselle Costa de Sousa – examinador interno
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Ana Carolina Costa Pereira (UECE) – Examinador externo
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Fabian Arley Balvin Posada – Co-orientador
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por todas as vezes que Ele me deu força quando pensei em
desistir ou redefinir meus objetivos.
A meus pais e demais familiares, pela educação e conselhos que me foram
dados.
À minha orientadora, professora doutora Bernadete Morey, pela acolhida e
ensinamentos. Confesso que sem as orientações que me foram prestadas, não teria
conseguido chegar até onde estou. Aqui lhe exprimo a minha gratidão!
Ao meu companheiro de todas as horas, Ramon Costa, que divide comigo
todas as dificuldades e felicidades da vida acadêmica e pessoal.
A todos os meus amigos que entenderam a minha ausência durante esses
últimos tempos, ouviram todas as minhas inquietações e me incentivaram a seguir
adiante.
A todos os amigos do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências
Naturais e Matemática (PPGECNM), que dividiram comigo o peso das disciplinas e
da dissertação e as angustias e as alegrias vividas durante esse período.
A todos os orientandos da professora Bernadete Morey, por todos os
conhecimentos compartilhados em nosso grupo de estudo.
A todos os professores do PPGECNM, pelos ensinamentos durante o
mestrado.
Aos professores que participaram da banca de qualificação e defesa: Dra.
Giselle Costa de Sousa, Dra. Ana Carolina Costa Pereira e Dr. Fabian Arley Balvin
Posada, cujas contribuições foram primordiais para a conclusão desse trabalho.
A todos, mesmo àqueles que por ventura não tenham sido registrados aqui,
meus sinceros agradecimentos.
RESUMO
Recognizing that medieval Islamic mathematics has produced several names of first-
rate scholars, this research focuses on the well-known work entitled Al-Kitāb al-
mukhtaṣar fī ḥisāb al-jabr wal-muqābala (Book of Restoration and Balancing) like al-
Khwarizmi Algebra, written by the eminent medieval Islamic sage, Abu Ja'far
Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi. Thus, the objective of this research was to know
the historical-pedagogical potentialities of al-Khwarizmi's Algebraic Treaty (Algebra de
al-Khwarizmi) having as theoretical and methodological support the Objection Theory.
This is a qualitative bibliographical and documentary historical research, with some
brushstrokes of action research. In the course of the research an instructional material
was prepared in the form of e-book that was designed to satisfy the educational product
requirement in the Professional Master course. In this research, the ebook plays the
role of teaching aids to mathematics teachers who want to become familiar with al-
Khwarizmi's Algebra. In the presentation of al-Khwarizmi's Algebra to the teachers, we
chose to privilege the formal, external and physical aspects of the work, thinking that
the familiarity with such aspects of the mentioned work may, in the future, enhance the
teachers' deeper immersion. in the historical-mathematical content of the work. Thus
we conclude that al-Khwarizmi Algebra is a considerably important treatise for the
development of algebra. Moreover, this treatise has great potential for teacher
education, not only in mathematical aspects, but also in historical, social and political
aspects.
1 INTRODUÇÃO 10
REFERÊNCIAS 105
1 INTRODUÇÃO
estudo sobre a Teoria da Objetivação como suporte ao nosso estudo. Após isso,
falaremos sobre o percurso metodológico que seguimos e, por fim, explicaremos a
estrutura da dissertação, apresentando, assim, qual o objetivo de cada capítulo
presente ao longo do presente texto.
O saber como definido acima não se dá a perceber. É uma forma, uma entidade
geral, com formato ideal que habita a esfera da cultura. É por meio da atividade
humana que o saber se atualiza e se torna perceptível, ou seja, é por meio da atividade
que se produzem subjetividades. O saber atualizado e que adquiriu uma de suas
realizações específicas é chamado de conhecimento. Aqui está uma particularidade
da TO: saber (knowledge) e conhecimento (knowing) são categorias distintas e não
devem ser confundidas. Saber é uma forma ideal que habita na esfera da cultura,
enquanto que conhecimento é o saber atualizado que, mediado pela atividade,
assumiu a forma de uma de suas realizações. Radford (2017b) chamou a atividade
em sala de labor conjunto.
É no labor conjunto que o saber se materializa e é apresentado à consciência.
A este processo de dar-se conta, de tornar-se consciente do saber em sua forma
materializada (conhecimento) é que chamamos de objetivação. O aprendizado na TO
é teorizado em termos de processos de objetivação.
O labor conjunto se desenvolve ao máximo de sua potencialidade no trabalho
de sala de aula com alunos em pequenos grupos nos quais se respeita a ética
comunitária e a(o) professora(o) percorre os grupos e dialoga com aqueles que
tiverem dificuldade.
18
prática reflexiva e prática educativa”. Essa prática educativa, quando investigada, gera
compreensões que podem ser utilizadas em sua própria transformação,
proporcionando, assim, novas situações de investigação (FIORENTINI;
LORENZATO, 2009, p.113). Tratando-se de uma pesquisa ação, escolhemos, como
instrumentos de coleta de dados fotografias, filmagens, anotações e um questionário.
Por último, na terceira etapa da nossa pesquisa, que consiste na conclusão do
nosso trabalho, fizemos a análise dos dados que pudemos coletar durante nossa
pesquisa-ação. Assim, fizemos reflexões e recomendações baseadas nos resultados
de nosso estudo bibliográfico, documental e na aplicação do produto educacional
desenvolvido.
Como síntese do nosso percurso metodológico, elaboramos o quadro 1.
Pesquisa bibliográfica
sobre: o mundo islâmico Pesquisa-ação: Aplicação Descrição da aplicação
medieval, al-Khwarizmi e do produto educacional do produto educacional
a Teoria da Objetivação
Limitada ao norte com a Jordânia e o Iraque, ao sul com o mar Arábico (atual
Oceano Índico), ao leste com o golfo Pérsico e ao oeste com o Mar Vermelho, a
Península Arábica é um grande planalto cercado ao leste e ao sul por montanhas que
descem suavemente em direção ao golfo Pérsico. Essa região abriga sete países:
Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã, Bahrein, Kuwait, Catar e Iêmen, como
pode-se ver no mapa 1.
O deserto da Arábia ocupa uma grande porção da Península Arábica, o que
implica nessa região possuir um clima extremamente árido. Segundo Morey (2018b,
em fase de elaboração)1, no início do século VII essa Península era habitada,
basicamente, por tribos nômades que falavam dialetos da língua árabe.
O que sabemos sobre o mundo islâmico medieval e a ciência e a matemática
desenvolvida nele, está disponibilizado, principalmente, em documentos escritos em
árabe por caneta e tinta no papel. De acordo com Berggren (2007, tradução nossa),
2Batalha de Atlakh/Talas foi o confronto ocorrido entre os árabes do Califado Abássida e os chineses
da Dinastia Tang, em 751, afim de conquistarem o controle do Rio Syr Darya, na Ásia Central.
25
desse contexto, consultaremos Morey (2018), cujas fontes, por sua vez são três
historiadores da ciência, mais especificamente da matemática: Adolph-Andrei
Pavlovich Youschkevitch, historiador soviético da matemática, especialista em
matemática medieval do Oriente, viveu de 1906 a 1993; Ahmed Djebbar, emérito
matemático, historiador da ciência e professor na Universidade de Lille, especialista
em matemática do Ocidente muçulmano (Espanha muçulmana e no Magrebe); e
Lennart Berggren, professor aposentado do Departamento de Matemática da Simon
Fraser University (SFU), cujos interesses de pesquisa na História da Matemática
incluem a Grécia antiga e o Islã medieval, bem como a história de instrumentos
científicos como o relógio de sol e o astrolábio.
O que conhecemos hoje como mundo islâmico, que está compreendido entre
os séculos VII e XVII, é extremamente conectado ao início do Islã. De acordo com
Youschkevitch (1976), no início do século VII os países árabes chamaram a atenção
do mundo inteiro, devido seu crescimento extraordinariamente rápido. No final do
século VI e início do século VII, a Arábia passou por uma grave crise econômica e
política: Maomé (571-632), após fundar e propagar o Islã, foi forçado a fugir de Meca
e refugiar-se em Medina, em 622, pelos seus opositores políticos e religiosos. A nova
religião monoteísta da época, fundada por Maomé, que recebeu o nome de Islã e
desenvolveu-se entre as camadas mais baixas da sociedade, chamou atenção e
causou polêmicas ao se opor ao politeísmo das classes dominantes da Arábia
(YOUSCHKEVITCH, 1976).
Segundo Berggren (2003), essa fuga de Maomé da sua cidade natal, Meca,
situada na costa oeste da Península Arábica, para Medina, uma cidade a cerca de
320 quilômetros ao norte, é o marco inicial do calendário mulçumano.
Na cidade de Medina, “Maomé funda uma coalisão formada por tribos árabes
que aderiram ao islã” (YOUSCHKEVITCH, 1979, p. 1, tradução nossa). É importante
ressaltar que o próprio Maomé foi reconhecido como profeta de Alá. Passados os
tempos, oito anos depois, em 630, Maomé retornou em triunfo a Meca, onde morreria
dois anos mais tarde, em 632.
26
3 Califa quer dizer sucessor. É um título atribuído ao líder religioso da comunidade islâmica, considerado
pelos muçulmanos como um dos sucessores do profeta Maomé.
4 Tropas bizantinas, ou exército do Império Bizantino ou Império Romano do Oriente.
5 Berberes são os povos naturais da região localizada no norte da África.
27
Califado
644–656 Othmân Conquista do Egito (642);
Ortodoxo
Cirenaica (643).
656–661 Ali
Califado
717–720 Omar II África mediterrânea, Oriente
Omíadas
Próximo, Ásia Menor, Cáucaso,
Ásia Central e parte do Rio Indo
744–750 Marvão II
(meados do séc. VII).
32
Assim, com esse pequeno relato da história militar e política do mundo islâmico,
podemos nos voltar, agora, para os primórdios da atividade científica naquela
civilização. Desse modo, no próximo tópico apresentaremos a Casa da Sabedoria,
local esse de grande importância para o desenvolvimento do conhecimento científico
dessa época.
[...] Abu Jafar al-Mansur (95-135 AH6) que coletou livros sobre medicamentos,
astronomia, engenharia e literaturas que foram traduzidos em seu reinado,
além de algumas outras publicações sobre Hadith (tradição profética),
história, ciências do Alcorão, al-Mansur reuniu todas as coleções de livros em
uma grande sala que era o núcleo da Casa da Sabedoria (al-Diyaji, 1975).
Ele foi o primeiro califa que motivou os muçulmanos a estudar ciências e
6Ano da Hégira 95 corresponde ao ano 716d.C e o ano 135 corresponde ao ano 756d.C, em nosso
calendário.
34
Uma segunda opinião diz que a Casa da Sabedoria foi fundada durante o
governo de Harun al-Rashid (786-809). Essa fundação foi resultado de um progresso
intelecto e civilizacional que caracterizou seu califado, principalmente durante a era
das traduções, cujo objetivo era o enriquecimento muçulmano com diferentes
conhecimentos e ciências (ALGERIANI; MOHADI, 2017).
Embora não saibamos o verdadeiro fundador da Casa da Sabedoria, podemos
dizer que essa importante biblioteca brilhou durante o reinado de al-Mamun, pois, de
acordo com Algeriani e Mohadi (2017, p. 181), “ele era um homem de literatura, um
cientista e um amante de estudiosos a quem ele tinha dado maior interesse e apoio
para sua pesquisa, debates e livros de autoria”.
A Casa da Sabedoria era, conforme aponta Lyons (2011), um local para
acomodação dos inúmeros trabalhos traduzidos, copiados e escritos pelos estudiosos
islâmicos. Além de ser um espaço destinado ao estudo, também era um “espaço de
trabalho, suporte administrativo e auxílio financeiro para o pequeno exército de
eruditos que assumiria essas tarefas e depois as usaria de forma criativa e original”
(LYONS, 2011, p. 88).
Bayt al-Hikma, era um é símbolo da ambição intelectual e política do Estado
dos Abássidas. Ao decorrer do tempo, de acordo com Lyons (2011, p.88),
a grandes somas de dinheiro, seja para comprar materiais de trabalho, como papel,
caneta, livros, entre outros, ou para fazer o pagamento dos salários dos funcionários,
como os tradutores, autores, palestrantes, servidores, dentre outros.
A Casa da Sabedoria teve um papel crucial no desenvolvimento dos
conhecimentos islâmicos medievais, uma vez que foi a primeira biblioteca científica e
educacional que juntou, em um só lugar, cientistas, estudiosos e tradutores, para
estudar e pesquisar. Por esse e outros motivos, muitos califas tentaram simular e
fundar novas bibliotecas e casas das sabedorias que pudessem competir com a Casa
da Sabedoria de Bagdá.
A respeito disso, Algeriani e Mohadi (2017) relatam que houve, pelo menos,
três bibliotecas no mesmo estilo da Casa da Sabedoria de Bagdá, a saber: a Casa da
Sabedoria de Aglábida, fundada pelo Amir Ibrahim Ibn Mohammad al-Aghlabi (882-
911) em Raqqada; a Casa de Sabedoria da Andaluzia, fundada pelo Califado Omíada
na Andaluzia Hakam al-Mustansir (923-987); e a Casa da Sabedoria do Cairo, cujo o
início da sua fundação está relacionado com o tempo da Fatimid al-Aziz billah (986-
1007).
De modo geral, Algeriani e Mohadi (2017) apontam que um grande número de
bibliotecas surgiram na Península Arábica, assim como em outros territórios, no
entanto, embora houvesse uma tentativa de superar a Casa da Sabedoria de Bagdá,
essas bibliotecas nunca conseguiram atingir o potencial estruturado da Bayt al-Hikma.
Vale ressaltar que a influência da Casa da Sabedoria de Bagdá rompeu fronteiras, ao
passo de chegarem a solos europeus, principalmente na Espanha, Córdoba, Sevilha
e Toledo (ALGERIANI; MOHADI, 2017).
Com a invasão de Bagdá pelos mongóis em 1258, houve a destruição da Casa
da Sabedoria, bem como a destruição de livros, manuscritos, mapas, observatórios,
entre outros materiais. Os mongóis7 queimaram a maioria dos as coleções, enquanto
outros foram jogados no rio Tigre. A invasão dos mongóis e destruição dessa
biblioteca marcou a queda de Bagdá e, finalmente, o colapso do califado abássida que
havia deixado o mundo muçulmano em crise nos anos vindouros (ALGERIANI;
MOHADI, 2017).
7 Os mongóis formam um grupo étnico que habita as estepes da Ásia Central. Sua existência é
documentada desde o século VIII. Os mongóis formaram sociedades complexas na Idade Média,
especialmente no Império Mongol e, depois, sob Tamerlão.
36
[...] sua contribuição, quando examinada, mostra que ele era uma figura
importante no processo de indigenização da ciência na civilização islâmica.
Entre os elementos da indigenização da ciência estavam o redigir do antigo
tesouro científico e a produção de obras originais, que era o ápice desse
processo.
Embora essa obra tenha incluído mapas que são mais precisos do que os de
Ptolomeu, para a Europa, al-Khwarizmi parece, no geral, ter usado os dados de
Ptolomeu, o que anula, assim, às contribuições desse autor árabe.
Além dessas contribuições, al-Khwarizmi foi o décimo primeiro estudioso a falar
sobre o cálculo do 𝜋, em 800. Em sua álgebra, esse autor fala que o homem prático
usa 22⁄7 para 𝜋, o geômetra usa √10 para 𝜋, enquanto o astrônomo usa 3,1416.
De modo geral, Al-Khawarizmi esteve muito envolvido em vários campos do
conhecimento que trouxeram o desenvolvimento intelectual durante seu tempo.
Através de sua criatividade, ele produziu muitos trabalhos. De acordo com Sidek e
Bakar (2012), existem, então, 11 trabalhos conhecidos, a saber: Kitab al-Zij al-Sind;
Kitab al-Rukhamah; Kitab al-'Amal bi a-Asturlab; al-Mujtasar fi hisab al-jabar wa-l-
muqabala; Kitab al-Jam 'wa Ta'aqq; Kitab al-Jabar al-Muqabalah; Kitab Surat al-Ard;
Kitab Rasm al-Rub' al-Mamur (min al-Ard); Kitab Taqwim al-Buldan; Kitab Tarikh bi al-
falsafah; e Kitab 'Amal al-Asturlab.
Foi com essas e outras contribuições que, com sua morte, o legado de al-
Khwarizmi à sociedade islâmica incluiu uma maneira de representar números que
levaram a métodos fáceis de computação, mesmo com frações, uma ciência da
álgebra que poderia ajudar a resolver problemas de herança e um mapa que
mostrasse distribuição de cidades, mares e ilhas na superfície da Terra. Com isso,
podemos dizer que al-Khwarizmi foi um dos principais eminentes estudiosos em várias
49
o árabe, cuja difusão até o advento do islã limitou-se à Arábia e sua extensão no
Crescente Fértil. Após a constituição da primeira comunidade de matemáticos falando
árabe, as traduções do final do século VIII foram julgadas insatisfatórias e novas
traduções foram ordenadas.
A terceira fase consiste na reativação dos saberes, seguida de um longo
processo de inovação. Essa fase aconteceu, aproximadamente, entre os séculos IX e
XIV. Djebbar (2017) aponta que desde o início do século IX, os saberes islâmicos
entraram em uma fase de enriquecimento e criatividade em diferentes níveis. Essa
dinâmica continuou até o início do século XV. O autor expõe, ainda, que durante esse
longo período, foi constituída e consolidada uma comunidade matemática cujos
membros pertenciam aos diferentes grupos étnicos, confissões e culturas do império
muçulmano e, por vezes, algumas contribuições externas, em particular da China e
da Índia. Embora possuíssem especificidades divergentes, os matemáticos islâmicos
faziam matemática da mesma forma, recorrendo às ferramentas da demonstração
e/ou cálculos e resoluções de problemas (DJEBBAR, 2017).
Finalmente, a quarta fase teve duração entre os séculos XII e XV e consiste
nas transferências, para outras áreas culturais, de uma parte do corpus matemático
herdado de tradições anteriores e de novas contribuições produzidas. A matemática
escrita em árabe, segundo Djebbar (2017), começou a se espalhar em outros espaços
culturais no início do século X, mas foi essencialmente nos séculos XII-XIII que essa
disseminação se intensificou e um processo de aclimatação nasceu nos dois extremos
do império muçulmano na China e na Europa.
Mas, o que exatamente consistia em Matemática Islâmica? A matemática
islâmica refere-se, de acordo com Rogers (2008), às teorias e práticas matemáticas
que floresceram nas partes do mundo onde o islã era a influência religiosa e cultural
dominante. Juntamente com as transmissões da matemática grega, os matemáticos
muçulmanos do Império Medieval islâmico expandiram os conceitos gregos de
geometria, astronomia, medicina e aritmética. Estudiosos muçulmanos, também
consolidaram a matemática indiana e a grega, para formar o início do conhecimento
algébrico moderno (ROGERS, 2008).
É importante notar que a origem da álgebra se estende aos antigos egípcios e
babilônios, que tinham textos lidando com problemas aritméticos, algébricos e
geométricos já em 2000 a.C. Conforme aponta Rogers (2008, p. 9, tradução nossa),
52
Até o ponto que nossos estudos revelaram, al-Khwarizmi não sabia grego, e
não havia tradução árabe da Aritmética de Diofante na época. Então, al-Khwarizmi foi
provavelmente mais influenciado por fontes hindus ou locais siríaco-persa-hebraico.
No entanto, nenhuma dessas fontes progrediu até al-Khwarizmi.
Depois do Tratado algébrico de al-Khwarizmi, o desenvolvimento da álgebra
não chegou a um impasse. Vários matemáticos muçulmanos são conhecidos por seu
trabalho sobre desenvolvimentos algébricos. Os mais conhecidos são Abu Kamil (850
– 930), al-Karaji (953 – 1029), al-Hasan, também conhecido como Alhazen (965 –
1040) e Al-Samawal (1130 – 1180).
A morte de al-Khwarizmi coincide, aproximadamente, com o nascimento no
Egito de Abu Kamil Shuja ibn Aslam ibne Muhammad ibn Shuja, também conhecido
como al-Hasib al-Misri, o Calculista Egípcio. Segundo O'Connor e Robertson (1999b),
Abu Kamil, além de ser um sucessor, era um profundo admirador do legado deixado
por al-Khwarizmi. Em seu tratado de álgebra, esse estudioso islâmico resolve
geometricamente, assim como al-Khwarizmi, as equações do segundo grau, porém
apoia-se mais diretamente em Euclides. O'Connor e Robertson (1999b, p.1, tradução
nossa) assinalam, ainda, que o trabalho de Abu Kamil foi a base dos livros de
Fibonacci e, portanto, Abu Kamil não é importante, apenas, “no desenvolvimento da
álgebra árabe, mas, através de Fibonacci, ele também é de fundamental importância
na introdução da álgebra na Europa”.
Abu Bekr ibn Muhammad ibn al-Husayn al-Karaji, ou simplesmente, al-Karaji,
diferentemente de al-Khwarizmi e Abu Kamil, tendia a aplicar a aritmética à álgebra.
Desse modo, esse estudioso escreveu um compêndio da ciência e da matemática,
que, conforme Castillo (2009), divide-se em setenta capítulos, dos quais os
dezessetes últimos estão dedicados à álgebra. A importância de al-Karaji, como
sugerem O'Connor e Robertson (1999a), no desenvolvimento da matemática islâmica
é vista de maneira divergente por diversos autores. A razão para isso depende do
significado que se atribui ao estilo de sua matemática. Alguns consideram que sua
obra é apenas uma reformulação das ideias de matemáticos anteriores, enquanto
53
8 Vale ressaltar que essa também era uma característica da matemática grega. Por isso, há muitos
indícios que al-Khwarizmi tenha se inspirado nos gregos para realizar suas demonstrações.
55
[...] Imam al-Mamun (a graça de Deus esteja com ele), emir dos crentes (que
com o califa ele herdou, as roupas com as quais ele foi honrado, e os
ornamentos com os quais ele se investiu, foi-lhe concedido o amor pelo
ciência), que acolhe, convida e amplia sua proteção e ajuda àqueles que
ilustram o que está oculto e facilita o que é árido, encomendou-me a escrever
um pequeno livro sobre o cálculo da álgebra e redução, contendo o mais
importante e delicado do cálculo que os homens aplicam às suas
necessidades, heranças, testamentos, partições e negócios, e em tudo o que
eles lidam entre eles na medida da terra, escavação de canais, construções
e muitas outras coisas. (CASTILLO, 2009, p. 23-25, grifo nosso)
N° DE
PARTES CAPÍTULOS
PÁGINAS
Para dar início à fala sobre o estudo das equações, que compreende a primeira
parte de seu livro, al-Khwarizmi faz uma breve explicação sobre o funcionamento e
organização do sistema decimal posicional. Depois dessa explicação, al-Khwarizmi
inicia o seu primeiro capítulo sobre os seis tipos de equações classificadas por ele.
Inicialmente, é feita a apresentação das equações dos tipos: quadrados iguais a
raízes, quadrados iguais a números ou raízes iguais a números, com seus respectivos
exemplos e formas de resolução. Em seguida, al-Khwarizmi parte para a explicação e
resolução, algébrica e geométrica, desses tipos de equação. Feito isso, o autor ensina
a multiplicar, somar e subtrair equações. Para finalizar o capítulo, é ensinado como
realizar a divisão de raízes e números de uma equação. A apresentação e explicação
do modo de resolução algébrico e geométrico das equações do segundo grau feitas
por al-Khwarizmi serão apresentadas mais à frente.
60
10Nascido cerca de 10 d.C e falecido por volta de 70 d.C, Heron de Alexandria foi um sábio matemático
e mecânico grego. Seu trabalho mais famoso no campo da Geometria é conhecido por Métrica, que
que versa sobre a medição de figuras simples de planos sólidos, com prova das fórmulas envolvidas
no processo.
62
modo, para que o termo −20𝑥 da equação (1) desapareça, al-Khwarizmi somava 20𝑥
em ambos os membros da equação. O resultado dessa operação é:
50 + 𝑥 2 = 29 + 10𝑥 (5)
21 + 𝑥 2 = 10𝑥 (7)
quadrados mais raízes iguais a números, quadrados mais números iguais a raízes ou
raízes mais números iguais a quadrados. Na nomenclatura moderna, poderíamos
escrever isso de acordo com o quadro 4.
Exemplo 1.1: “un cuadrado es igual a cinco veces la raíz” (AL-KHWARIZMI, 830, p.
25), ou seja, 𝑥 2 = 5𝑥.
𝑥² 5𝑥
Se 𝑥 2 = 5𝑥, então = → 𝑥 = 5. E, portanto, 5 é o valor da raiz e 25 é o valor
𝑥 𝑥
do quadrado.
Exemplo 1.2: “un tercio de um cuadrado es igual a cuatro raíces” (AL-KHWARIZMI,
𝑥²
830, p. 25), ou seja, = 4𝑥.
3
𝑥² 𝑥² 𝑥2 12𝑥
Se = 4𝑥, então ∙ 3 = 4𝑥 ∙ 3 → 𝑥 2 = 12𝑥 → = → 𝑥 = 12. E, portanto, 12
3 3 𝑥 𝑥
quadrado é 16.
66
Exemplo 2.3: “un médio del cuadrado es dieciocho” (AL-KHWARIZMI, 830, p. 27), ou
𝑥²
seja, = 18.
2
𝑥² 𝑥²
Se = 18, então ∙ 2 = 18 ∙ 2 → 𝑥 2 = 36 → 𝑥 = 6. Portanto, a raiz é igual a 6
2 2
vinte e cinco.
𝑥
Exemplo 3.3: “un médio de la raíz es diez” (AL-KHWARIZMI, 830, p. 27), ou seja, 2 =
10.
𝑥 𝑥
Se = 10, então ∙ 2 = 10 ∙ 2 → 𝑥 = 20. Portanto, a raiz é igual a 20 e o
2 2
Quadro 5 - Resolução da equação "un cuadrado más diez raíces igual a treinta y
nueve dirhams" (AL-KHWARIZMI, 830, p.27)
Quadro 6 - "un cuadrado más cinco raíces es igual a veinticuatro dirhams" (AL-
KHWRIZIMi, 830, p. 27)
Quadro 7 - "Un cuadrado más diez raíces es igual a cincuenta y seis dirhams" (AL-
KHWARIZMi, 830, p. 29)
Quadro 8 - Resolução geométrica de “un cuadrado más diez raíces igual a treinta y
nueve dirhams" (AL-KHWARIZMI, 830, p. 29)
Método geométrico
2° passo: Adicionar
uma área de dez
raízes ao redor do
quadrado ABCD. Para
isso, é necessário
dividir a área de dez
raízes por quatro, para
que essa área seja
melhor encaixada ao
redor do quadrado
ABCD. Desse medo,
será encaixado à cada
lado do quadrado
ABCD um retângulo de
lados x e cinco meios.
O resultado disso
gerará a figura ao lado.
72
Método geométrico
2° passo:
Adicionar uma
área de dez raízes
ao redor de dois
lados do quadrado
ABCD. Para isso,
é necessário
dividir a área de
dez raízes por
dois, para que
seja melhor
encaixado ao
redor do dois
lados (AD e DC)
quadrado ABCD.
Desse medo, será
encaixado aos
74
Por meio dessas duas explicações, al-Khwarizmi chega à conclusão que a raiz
da equação um quadrado mais dez raízes são iguais a trinta e nove dirhams é igual a
75
Quadro 10 - "Un cuadrado más veintiún dirhams es igual a diez de sus raíces" (AL-
KHWARIZMI, 830, p. 29)
Método geométrico
4° passo: Traçar, no segmento JI, o segmento KI, de modo que KI seja igual a HI
e, portanto, é evidente que HG é igual a JK e o resto do segmento JI, que é igual a
KI, é igual ao segmento HI. O mesmo processo deve ser repetido no segmento EH,
de modo que LH seja igual ao segmento HI. E assim aparece o retângulo JIHE,
que é igual ao retângulo HADG, e é evidente que o retângulo EHGF somado com
JKLE é igual ao retângulo EADF.
Como o quadrado JIGF tem área igual a vinte e cinco, quando retiramos do
retângulo JIGF o retângulo EHGF e o retângulo JKLE que totalizam uma área de
vinte e um, temos que o quadrado KIHL (vide figura 15) terá área igual a quatro.
80
Portanto, os segmentos KI, IH, HL, LK, HA, GD e JE possuem medida igual a dois.
Assim, como o segmento HB é igual a cinco e o segmento HA é igual a dois, temos
que o segmento AB é igual a três.
Desse modo, por meio dessa construção, al-Khwarizmi chega à conclusão que a
raiz da equação um quadrado mais vinte e um dirhams é igual a dez de suas raízes
é igual a três.
. Desse modo, esse estudioso islâmico utiliza do exemplo três raízes mais
quatro são iguais a um quadrado. A resolução desse exemplo pode ser observada no
quadro 13.
a equação tenha mais de um quadrado, ou menos, esse valor deve ser reduzido a um
só quadrado.
Em seu tratado algébrico, al-Khwarizmi também apresenta a resolução
geométrica da equação três raízes mais quatro são iguais a um quadrado. Essa
resolução pode ser acompanhada no quadro 14.
Método geométrico
1° passo: Para essa resolução, é necessário construir um quadrado ABCD de lados
desconhecidos, que seja igual a três raízes mais quatro, como podemos ver na
imagem a seguir:
que o quadrado DCBA é a soma das áreas dos retângulos EFBA e DCFE. Essa
construção consiste na imagem a seguir:
4° passo: completar o segmento HG, de modo que esse segmento passe a ter a
mesma medida do segmento CH. A partir do segmento HO, deve ser construído o
quadrado PCHO, de modo que os segmento PC, CH, HO e OP sejam iguais, e o
segmento KJ seja igual ao segmento OG. Essa construção pode ser vista na
seguinte imagem:
Sabemos que o retângulo CFED tem área igual a quatro e o retângulo PCFK mais
o retângulo JGOK é igual ao retângulo CFED. Por meio das construções, fica claro
que o quadrado CHOP é a metade do número de raízes, ou seja, um mais um meio
por si mesmo, que é dois mais um quarto, mais quatro, que é a soma das áreas dos
retângulos PCFK e JGOK. Com isso, sobra do lado do quadrado inicial, DCBA, a
metade do número de raízes, um mais um meio, que é o segmento HB.
Desse modo, quando somamos CH com o segmento HB, o segmento resulta em
uma medida igual a quatro. Portanto, o lado do quadrado DCBA mede quatro e sua
área é igual a dezesseis.
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
Esse e-book foi organizado em três partes, sendo que a primeira parte
destinada a apresentação do contexto do mundo islâmico, a segunda destinada a
apresentação do estudioso islâmico al-Khwarizmi e por fim, a terceira destinada à
descrição da Álgebra de al-Khwarizmi.
Desse modo, o presente recurso didático é composto por três capítulos. O
primeiro capítulo, de caráter introdutório, tem o objetivo de apresentar o contexto
político, histórico e social no qual viveu al-Khwarizmi. O objetivo do segundo capítulo
é apresentar aos professores de matemática o grande estudioso islâmico al-
Khwarizmi, bem como suas contribuições deixadas à humanidade. O terceiro e último
capítulo, tem por finalidade apresentar ao professor de matemática um dos trabalhos
mais importantes para o desenvolvimento da álgebra, a Álgebra de al-Khwarizmi.
O e-book E se o berço da Álgebra fosse islâmico, ela seria terrorista? é uma
proposta interativa, que apresenta textos e tarefas a serem realizadas, pensada para
aplicação em sala de aula, no entanto, nada impede que ele seja utilizado de forma
individualizada, fora do ambiente educacional. Além disso, ele também pode ser
88
utilizado na educação básica, desde que sejam realizadas algumas adaptações pelo
professor, tais como: tratamento didático nos textos dos capítulos um e dois, escolhas
de algumas atividades pertinentes para o nível da educação básica, tratamento
didático dos recortes da Álgebra de al-Khwarizmi.
Como já falado, essa proposta foi elaborada de acordo com os princípios da
Teoria da Objetivação. Desse modo, sugerimos que, ao ser aplicado em sala de aula,
a metodologia utilizada seja a proposta pela Teoria da Objetivação, o labor conjunto,
que fora explicado na introdução dessa dissertação. Desse modo, seguido essa
metodologia, recomendamos, no ato da aplicação em sala de aula, que:
Apresentação da
ministrante, dos
Introdução 19h00 às 19h15
participantes e do produto
educacional
Apresentação digital do
texto 2 O mundo islâmico
Tarefa 2 19h50 às 20h15
medieval e a ciência nele
produzida
Apresentação digital do
texto 4 e 5 A Álgebra de
Tarefa 4 al-Khwarizmi e Um 20h45 às 21h00
exemplar do livro Álgebra
de al-Khwarizmi
conhecidas pela sua profissão, pelo nome do seu cônjuge ou pai, entre outros, como
por exemplo: Joana da bodega, José da padaria, Francisco do leite, Maria de Damião,
Glória de Cosme.
Consideramos que esse tipo de participação dos alunos, em que eles mesmos
mostram um exemplo do contexto em que vivem, é duplamente significativo, pois, se
por um lado mostra que eles compreenderam com propriedade o assunto em
discussão, por outro lado dá indícios de eles romperam a barreira do estranhamento.
Nesse caso, quer dizer que para eles o costume árabe refletido no nome Mohammed
al-Khwarizmi (Mohammed de Khwarizm, ou, Mohammed nascido em Khwarizm) é
análogo ao nosso costume de atribuir uma característica à pessoa para melhor defini-
la, como é o caso de Joana da bodega ou Francisco do leite. Em termos de TO
podemos dizer que ocorreu a objetivação do objeto cultural atribuição de nome entre
os árabes.
A quarta tarefa consistiu na apresentação da Álgebra de al-Khwarizmi e do
exemplar do livro Álgebra de al-Khwarizmi em espanhol. Optamos por um relato feito
pela pesquisadora que abarcava o conteúdo dos textos 4 e 5 do produto educacional,
a saber: quando a obra Álgebra de al-Khwarizmi foi escrita; quais exemplares do
original encontrados hoje em dia; como al-Khwarizmi dividiu o conteúdo presente em
seu livro e quais os conhecimentos presentes nessa obra (vide figura 9). Em seguida,
falamos sobre o exemplar que temos em mãos, que consiste em uma edição bilíngue,
traduzida e comentada pelo autor Ricardo Castillo. Optamos por apresentar essa parte
na forma de relato oral em vez de texto para leitura porque tínhamos 4 horas para
desenvolver todo o trabalho e o material de que dispúnhamos era bastante extenso.
Era necessário poupar tempo para que pudéssemos fazer a quinta e última tarefa.
Na quinta e última tarefa retornamos ao labor conjunto com os membros dos
grupos discutindo entre si enquanto faziam a leitura e atendiam às indicações da tarefa
solicitada. Enquanto a quarta tarefa tinha o objetivo de disponibilizar informações
sobre a obra em questão (contexto em que foi escrita, qual a estrutura do livro, qual o
conteúdo matemático, etc.), a quinta tarefa tinha um objetivo bem distinto. Aqui se
pretendia que os alunos imaginassem que estavam folheando um exemplar do livro
do livro impresso prestando atenção na escrita, tamanho dos parágrafos, na
introdução, na cor da tinta, etc. Era uma tentativa de emular sensações, a sensação
de estar folheando um livro.
96
Desse modo, pedimos para que todos lessem os recortes que estavam
presentes do caderno de atividades. As perguntas relativas a essa parte foram:
modo, enquanto ele lia o texto em voz alta, os participantes que apresentavam
dificuldade na leitura de outro idioma, o escutava. Após a leitura e resolução da última
tarefa, foi dado início a discussão com o grande grupo, acerca dos questionamentos
feitos nessa tarefa. Nossa recomendação é que caso seja necessário ler um texto em
espanhol em sala de aula, o professor encontre um jeito de convencer os alunos a
fazer um esforço, usar os recursos à disposição como o dicionário espanhol (usar o
celular para isto) e assim vencer a barreira.
Na discussão final eles mostraram ter apreendido a ideia de que al-Khwarizmi
era uma pessoa bastante religiosa, a julgar pela introdução do livro que faz pensar
que o texto é mais religioso do que matemático. Esta é uma questão que merecia
maior desdobramento, mas as condições não eram propícias. No entanto, achamos
que este ponto tem de ser melhor estudado. Quando questionados sobre as
características de al-Khwarizmi, além de identificarem a sua religiosidade, perceberam
que al-Khwarizmi era uma pessoa muito minuciosa em suas explicações. Os
participantes perceberam que al-Khwarizmi não utilizava símbolos matemáticos para
escrita do seu texto, e que, portanto, sua álgebra era retórica. Após a fala dos
participantes, achamos interessante falar de outras características que eles não
identificaram, como por exemplo, a utilização do texto em duas cores para chamar a
atenção do leitor e a falta de capítulo bem definidos durante a sua Álgebra de al-
Khwarizmi.
De modo geral, observamos que o objetivo do produto educacional foi atingido
com sucesso, uma vez que conseguimos debater todo o conteúdo exposto no produto.
Esse fato se deu, principalmente, pela participação ativa dos alunos, uma vez que eles
não pouparam esforços para realização das tarefas propostas, e mantiveram-se
sempre animados/ativos para a discussão em grandes grupos.
Verificamos que todas as tarefas propostas foram realizadas de maneira
satisfatória. No entanto, podemos dizer que a discussão referente a última tarefa
deixou, um pouco, a desejar, uma vez que só tivemos vinte minutos para discussão
do recorte da Álgebra de al-Khwarizmi.
É válido lembrar que as tarefas foram realizadas em forma de labor conjunto,
de maneira que os participantes deveriam trabalhar em conjunto, respeitando as
ideias e opiniões do outro, respeitando, assim, a ética comunitária e proporcionando
a colaboração humana, tão defendida por Radford (2017). Podemos ver na figura 10
indícios da realização das tarefas como labor conjunto.
98
ideias e visões acerca do que se estava sendo discutido com sua dupla. Desse modo,
conforme o que percebemos, o labor conjunto foi um dos pontos que resultou no
sucesso de nosso minicurso, e consequentemente do nosso produto educacional,
uma vez que essa metodologia dinamizou a leitura dos textos e mapas, e a realização
das tarefas e debates, promovendo assim, o engajamento das duplas.
De acordo com nossa percepção, o labor conjunto promoveu, também, o
envolvimento dos participantes com o grande grupo, uma vez que todas as tarefas
foram finalizadas com discussões com todos os participantes. Por meio dessas
discussões, as ideias foram compartilhadas e respeitadas, conforme a ética
comunitária defendida por Radford (2017).
A carga horária destinada à aplicação do produto educacional (4 h/a) deixou a
desejar, uma vez que, mesmo com todas as adaptações planejadas, ficamos com
pouco tempo para realizar a discussão em grande grupo da última tarefa.
Consideramos que esse fato prejudicou o aprofundamento sobre a Álgebra de al-
Khwarizmi.
Esse aumento de carga horária se faz necessário, principalmente, se o produto
for aplicado na íntegra, de modo que os participantes façam a leitura de todos os
textos e realizem todas as tarefas sugeridas. Com isso, sugerimos que a carga horária
para a aplicação do produto, na íntegra, seja superior a quatro horas aulas.
Refletindo após a aplicação do produto, percebemos que a produtividade, no
final do minicurso, deixou a desejar. Supomos que o fato do minicurso ter sido
finalizado em quatro horas aulas corridas pode, de certa forma, justificar essa falha.
Além disso, sexta-feira, num curso noturno, manter a atenção concentrada durante
quatro aulas é dificultoso para os alunos. Desse modo, nossa sugestão é que o
produto educacional seja aplicado em dois momentos diferentes, sendo os capítulos
um e dois aplicados em conjunto e o capítulo três, aplicado separadamente.
Nas fichas de avaliação, alguns participantes sugeriram a tradução dos recortes
da Álgebra para o português, consideramos que alunos de graduação devem ser
desafiados o tempo todo mesmo nas áreas que não diretamente relacionadas com
sua área de formação. Espanhol é uma língua próxima da nossa e perder o medo de
ler em espanhol, mesmo sem ter se preparado para isto, é benéfico para a vida de
nossos alunos. Em outras palavras, a leitura desse texto em espanhol é uma forma
de incentivar o licenciando ou o professor a sair da zona de conforto e se desafiar em
outros idiomas. Com isso, sugerimos que, caso seja percebido alguma dificuldade
100
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa construção durou cerca de um ano e meio. A princípio, nossa ideia era
focar nos métodos de resolução das equações de segundo grau, proposta por al-
Khwarizmi. No entanto, refletimos melhor e vimos que, os métodos de resolução são
encontrados com mais facilidade em bibliotecas e artigos na internet. Com isso,
decidimos dar um foco no tratado como um todo e apresentar, no produto educacional,
o mundo islâmico e o Tratado algébrico de al-Khwarizmi aos leitores desse trabalho.
Destarte, o produto educacional gerado tem o potencial de divulgar a história
islâmica medieval, estando centrado no personagem islâmico al-Khwarizmi e em seu
trabalho mais famoso e importantíssimo para o desenvolvimento algébrico, o Tratado
algébrico de al-Khwarizmi (em alguns momentos desse trabalho também chamamos
esse tratado de, simplesmente, Álgebra). Por meio dele, pudemos desconstruir
algumas ideias a respeito da utilização da história da matemática em cursos de
formação inicial e/ou continuada, uma vez que, alguns cursos sobre essa temática,
focam, apenas, na matemática propriamente dita. No entanto, de acordo com a
historiografia atualizada e com as ideias de Radford (2008, 2016), o contexto em que
a matemática estava inserida deve ser valorizado.
Além disso, por meio do nosso minicurso, tivemos a oportunidade de vivenciar
e pôr em prática a Teoria da Objetivação, mais precisamente, a sua metodologia, o
labor conjunto e a ética comunitária. Consideramos isso importante pois nós,
enquanto professores, necessitamos conhecer novas metodologias de ensino, para
que possamos ajudar nossos alunos nos seus processos de objetivação e,
consequentemente, subjetivação.
Esperamos ter fornecido, por meio desse texto dissertativo e de nossa proposta
educacional, elementos para novas reflexões acerca da matemática islâmica medieval
e da Álgebra de al-Khwarizmi. Além disso, esperamos ter contribuído para a
divulgação do labor conjunto, prática educativa essa que considera a participação
ativa do estudante, por meio de debates e discussões.
Consideramos que, por mais produtiva seja uma pesquisa, ela ainda deixa
brechas, que podem resultar em estudos futuros. Todavia, por mais que concordemos
que ainda há um amplo espaço para se descobrir e divulgar sobre a matemática
islâmica medieval, conjecturamos que nossa pesquisa trouxe grandes contribuições
ao estudo desse tema. Além disso, julgamos que o produto educacional desenvolvido
durante essa pesquisa, contribuirá, positivamente, no estudo desse tema por
licenciandos e professores de matemática.
104
REFERÊNCIAS
ALGERIANI, Adel Abdul-aziz; MOHADI, Mawloud. The House of Wisdom (Bayt al-
Hikmah) and Its Civilizational Impact on Islamic libraries: A Historical Perspective.
Mediterranean Journal Of Social Sciences, Roma, v. 8, n. 5, p.179-187, set. 2017.
Disponível em: <http://www.mcser.org/journal/index.php/mjss/article/view/10072>.
Acesso em: 15 mar. 2019.
BERGGREN, John Lennart. Mathematics in Medieval Islam. In: KATZ, Victor. The
Mathematics of Egypt, Mesopotamia, China, India, and Islam: A Sourcebook.
New Jersey: Princeton University Press, 2007. p. 515-675.
DANTE, Luiz Roberto. Matemática: contexto & aplicações, ensino médio. 3. ed. São
Paulo: Ática, 2016.
DJEBBAR, Ahmed. L’algèbre árabe: Genèse d’un art. Paris: Vuibert/Adapt, 2005.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2008.
107
HOYRUP, Jens. "Oxford" and "Cremona": on the relation between two versions of Al-
Khwarizmi's algebra. Filosofi Og Videnskabsteori Pa Roskilde
Universitetscenter, [s.l], p.1-29, 1991.
MACEDO, Elaine Souza de. Uma sequência didática para o ensino da resolução
da equação do 2. grau: adequação para o uso com professores. 2011. 141 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós-graduação em Ensino de
Ciências Naturais e Matemática, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2011. Disponível em:
<https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/16077>. Acesso em: 17 mar.
2019.
OAKS, Jeffrey A.. Polynomials and equations in arabic algebra. History Of Exact
Sciences, Nova Iorque, p.169-203, 2009.
PUIG, L. Historias de al-Khwārizmī (1ª entrega). Suma, [badalona], n. 58, p.1-5, jun.
2008a.
PUIG, L. Historias de al-Khwārizmī (2ª entrega): los libros. Suma, [badalona], n. 59,
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RADFORD, Luis. Sumisión, alienación y (un poco de) esperanza: hacia una visión
cultural, histórica, ética y política de la enseñanza de las matemáticas. In: Congreso
de educación matemática de América Central y de el Caribe, 1., 2013, Santo
Domingo. Anais. Santo Domingo: A. Ramirez e Y. Morales, 2013. p. 1 - 16.
Disponível em: <http://www.luisradford.ca/pub/2013%20-%20Dominicana-
%20Conferencia_plenaria_Radford.pdf>. Acesso em: 31 jun. 2019.
OUZA, Joamir Roberto de. #Contato matemática, 1° ano. São Paulo: FTD, 2016.
E se o berço da Álgebra
fosse islâmico, ela seria
terrorista?
113
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS 139
114
APRESENTAÇÃO DO E-BOOK
Por ser pouco familiar para nós o meio cultural em que viveu nosso
personagem, vamos fazer uma apresentação gradual. Inicialmente, trataremos do
contexto histórico, apresentando o mundo islâmico medieval. A seguir, vamos falar
sobre a produção científica que floresceu neste mundo e por último, passaremos a
focar atenção no personagem histórico al-Khwarizmi e sua produção em ciência e
matemática e mais especificamente, em álgebra.
116
Leituras complementares:
Além dos capítulos do estudo dissertativo dessa pesquisa, sugerimos as seguintes
leituras complementares:
Sendo assim, os termos muçulmano e islâmico podem ou não ser tomados como
sinônimo; depende da situação.
Os turcos, os iranianos e os afegãos são povos de maioria muçulmana, mas
não árabes. O país que possui a maior população muçulmana do mundo é a
Indonésia, que também não é árabe. Na Europa, há diversos povos muçulmanos,
como é o caso dos Albaneses, dos Bósnios, dos Chechenos. No Líbano e na Síria,
apesar de serem países de maioria islâmica, os dois países possuem uma expressiva
parcela de sua população que é adepta do cristianismo. Ou seja, nesses países
existem muitos árabes e não árabes que não são muçulmanos, já que não seguem o
islamismo.
Tarefa 1
1. Explique o sentido dos termos islã, islâmico, islamismo.
3. Para nos situarmos melhor quanto a esse contexto, vamos a um exemplo mais
próximo da nossa realidade.
O Estado do Rio Grande do Norte possui um dos menores índices de povos
indígenas do Brasil. Há, na cidade de Canguaretama/RN, uma comunidade indígena
chamada Catu. Essa comunidade possui costumes peculiares, em que buscam
manter ou reviver costumes e práticas dos seus ancestrais indígenas, através, por
exemplo, da língua tupi, pinturas corporais, esportes indígenas, expressões da
religiosidade como o ritual do Toré, entre outros.
Suponha que uma criança nasça nessa comunidade, e por algum motivo, seja
levada embora da comunidade. Desse modo, por mais que não viva legitimamente
como um Catu, ela jamais deixará de ser catu, uma vez que possui o sangue desse
povo indígena correndo nas veias.
Esse é um exemplo claro da ideia de árabe que trabalhamos anteriormente,
uma vez que o termo não está relacionado ao território em que vive, mas sim à etnia
da pessoa.
122
de Al-Mamun, mas brilhou durante o seu reinado, pois ele era um homem de literatura,
um cientista e um amante dos estudos.
A Casa da Sabedoria era uma espécie de academia, na qual se fazia a tradução
de diversos textos para o árabe, especialmente gregos e indianos, e incorporava
eminentes sábios na procura de novos saberes. Além da biblioteca, a Casa da
Sabedoria incluía um observatório muito bem equipado e serviu como uma instituição
onde a informação foi compartilhada entre os acadêmicos de todo o mundo.
Escritos traduzidos na Casa da Sabedoria incluíram pesquisas em matemática,
astronomia, medicina, alquimia, química, zoologia, geografia, cartografia e muito mais.
Como o centro da Idade de Ouro Islâmica12, a biblioteca reuniu cientistas, escribas,
eruditos religiosos. Em 1258, a Casa da Sabedoria foi destruída durante uma invasão
mongol. No entanto, mais de 400.000 manuscritos foram resgatados e armazenados
no Observatório de Maragha, no Irã, antes do cerco e assim servir como um registro
das maiores realizações de Bagdá.
Os estudiosos que participaram das traduções e comentários deram nova vida
a essas obras. As obras gregas tornaram-se novamente manuais de uso contínuo.
Além do conhecimento que veio da Índia, as tradições de Khorezm, da Pérsia e da
Mesopotâmia desempenharam um papel importante no desenvolvimento das ciências
matemáticas no mundo islâmico. Mais tarde, as relações com a China ganharam
alguma importância, embora, de acordo com o nosso conhecimento atual, não haja
traduções feitas diretamente do chinês para o árabe.
Tarefa 2
1. Observe o mapa e localize os lugares apresentados ao longo do texto.
3. Você tem ideia de onde é a coordenada a seguir? (21° 25' 35 N 39° 49' 32 E)? Use
o Google Maps e veja o que acontece.
Fonte: ResearchGate13
Leituras complementares:
Além dos capítulos do estudo dissertativo dessa pesquisa, sugerimos as seguintes
leituras complementares:
PUIG, L. Historias de al-Khwārizmī (1ª entrega). Suma, [badalona], n. 58, p.1-5, jun.
2008a. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/316089103_Historias_de_al-
Khwarizmi_1_entrega. Acesso em 10 set. 2019
PUIG, L. Historias de al-Khwārizmī (2ª entrega): los libros. Suma, [badalona], n. 59,
p.105-112, nov. 2008b. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/316089112_Historias_de_al-
Khwarizmi_2_entrega_Los_Libros. Acesso em 10 set. 2019
Tarefa 3
1. Vamos brincar um pouco com o nome de nosso personagem:
Um filho de uma família muçulmana receberá um nome (chamado de ism em
árabe) como Muhammad, Husain, Thabit, etc. Depois disso vem a frase "filho de
fulano de tal", e a criança será conhecida como Thabit ibn Qurra (filho de Qurra) ou
Muhammad ibn Husain (filho de Husain). A genealogia pode ser composta. Por
exemplo, Ibrahim ibn Sinan ibn Thabit ibn Qurra, leva de volta ao bisavô. Mais tarde
na vida pode-se ter um filho e depois ganhar um nome paterno (kunya, em árabe)
como Abu Abdullah (o pai de Abdullah). Em seguida vem um nome indicando a tribo
ou local de origem (em árabe nisba), como al-Harrani, "o homem de Harran". No final
do nome pode vir uma tag, um apelido (aqab em árabe), sendo um apelido como “o
fazedor de tendas” (al-Khayyami) ou um título como “o ortodoxo” (al-Rashid). Juntando
tudo isso, o que quer dizer Abu Jafar Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi?
Leituras complementares:
Além dos capítulos do estudo dissertativo dessa pesquisa, sugerimos as seguintes
leituras complementares:
Tarefa 4
1. Por qual motivo, na sua opinião, a Álgebra de al-Khwarizmi foi escrita?
3. Antes desse texto, você já tinha ouvido falar sobre essa obra matemática? Se sim,
onde?
133
Tarefa 5:
1. Destaque na Figura 3 os motivos pelos quais a Álgebra de al-Khwarizmi foi escrita.
REFERÊNCIAS
ALGERIANI, Adel Abdul-aziz; MOHADI, Mawloud. The House of Wisdom (Bayt al-
Hikmah) and Its Civilizational Impact on Islamic libraries: A Historical Perspective.
Mediterranean Journal Of Social Sciences, Roma, v. 8, n. 5, p.179-187, set. 2017.
Disponível em: <http://www.mcser.org/journal/index.php/mjss/article/view/10072>.
Acesso em: 15 mar. 2019.
PUIG, L. Historias de al-Khwārizmī (1ª entrega). Suma, [badalona], n. 58, p.1-5, jun.
2008a.
PUIG, L. Historias de al-Khwārizmī (2ª entrega): los libros. Suma, [badalona], n. 59,
p.105-112, nov. 2008b.
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