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Projeto: Leitura e Escrita de Textos Argumentativos

Professora: Lilia Chaves


Aluno(a):

Atividade diagnóstica de leitura e escrita


Leia os excertos abaixo com atenção:

Texto 1 (excerto)

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu


ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do
riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e
torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando água com
a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem
até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas penduram a
roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a
mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita
para dizer.

Fonte: RAMOS, Graciliano. Linhas Tortas. 1962. Disponível em:


http://graciliano.com.br/site/obra/linhas-tortas-1962. Acesso: 30.jun.2021.

Texto 2 (excerto)

Eu escrevi esse texto que você vai ler agora. Mas não o escrevi assim de um só jato, de
um só fôlego, usando as palavras apenas para expressar um pensamento já pronto, fruto de
uma inspiração transcendente. Não; fui tecendo sentidos ao escrever, fui inventando,
lembrando, me apropriando, criando, reformulando, precisando, apagando, abandonando,
escolhendo, elegendo sentidos, silenciando outros. Ou seja, fui enlaçando palavras,
entremeando contextos, entretecendo texturas, tecelã que também sou.
[...]
Eu esbocei planos, escrevi, risquei, hesitei, corrigi, inverti, sublinhei, flechei, anotei,
recortei-colei, apaguei, deletei, inventei signos – asteriscos, caracóis, estrelas, sóis - inventei
para mim mesma uma paralinguagem para controlar minha reformulação. Entre versões,
dizeres provisórios, pincelei margens e entrelinhas de dizeres outros ou “sobredizeres”.
Qualquer trabalho sobre o já-escrito – pontual e espontâneo que seja – qualquer
episódio de reelaboração, qualquer rasura, qualquer tentativa de modificação, indicam já certa
preocupação com o leitor. [...] efetuar um arranjo complexo dos elementos textuais de modo a
fornecer pistas para que o leitor possa construir o sentido, supõe prever de certo modo esse
leitor, tê-lo representado no ato mesmo de escrever e reescrever, numa espécie de dialogia
interior. [...]
Substituindo, suprimindo, acrescentando, deslocando elementos de níveis diversos,
quem escreve trata os signos como variáveis suscetíveis de comparação, análise, equivalência,
o que revela uma consciência - ou uma certa consciência - da não transparência da linguagem.
Fonte: ARAÚJO, Liane Castro de. Tecendo Sentidos: reescrita e produção de texto. 2001.
Disponível em: http://portlseer.ulba.br/index.php/entreideas/article/view/2841/2017. Acesso
em: 30.jun.2021.

Texto 3

Catar Feijão

(João Cabral de Melo Neto)

Catar feijão se limita com escrever:

joga-se os grãos na água do alguidar

e as palavras na folha de papel;

e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiará no papel,

água congelada, por chumbo seu verbo:

pois para catar esse feijão, soprar nele,

e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:

o de que entre os grãos pesados entre

um grão qualquer, pedra ou indigesto,

um grão imastigável, de quebrar dente.

Certo não, quando ao catar palavras:

a pedra dá à frase seu grão mais vivo:

obstrui a leitura fluviante, flutual,

açula a atenção, isca-a como o risco.

Fonte: NETO, João Cabral de Melo. Catar feijão. Disponível em:


https://poesiaspoemaseversos.com.br/catar-feijao-joao-cabral-de-melo-neto/. Acesso:
30.jun.2021.
Agora produza um pequeno texto com base nos anteriores em que você contemple o que
significa escrever.

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