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Universidade de Brasília – UnB

Instituto de Ciências Sociais – ICS

Departamento de Sociologia –SOL

Disciplina: Teoria Sociológica Marxista

Docente: Christiane Machado Coelho

Discente: Beatriz Amorim de Barros – 222028504

TEXTO: MARX, Karl. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007. Capítulo “A
Ideologia em geral, em especial a alemã”.

Os escritos que se enquadram na obra A Ideologia Alemã (1945-1946), no período que


foram formulados, apresentaram uma verdadeira virada de chave na compreensão da relação
do gênero humano com o meio natural e, por conseguinte, do próprio ambiente social. A
partir da crítica a filosofia idealista de Hegel e do materialismo de Ludwig Feuerbach, Karl
Marx e Friedrich Engels elaboraram o que, mais tarde, seria o materialismo histórico e
dialético como superação do que chamaram de “Ideologia Alemã”.

Para Marx e Engels (1998, p. 7), “a crítica alemã não deixou o terreno da filosofia” e,
portanto, ainda continuaria operando sob o sistema hegeliano, no qual os produtos da
consciência teriam primazia no ordenamento do mundo concreto. Mesmo os jovens
hegelianos que pretendiam confrontar tal concepção, não ousaram se libertar da dependência
as categorias hegelianas. 

A diferença entre jovens e velhos hegelianos se sustentava em sinais opostos, em que,


os primeiros se apegavam a uma categoria do sistema e a partir dela desenvolviam uma crítica
a tudo, enquanto os outros, “tinham compreendido tudo desde que tinha reduzido tudo a uma
categoria”, ao fim e ao cabo, desaguavam no mesmo lugar, estavam de “acordo em acreditar
que a religião, os conceitos o Universal reinavam no mundo existente” (MARX; ENGELS,
1998, p. 8).

No mesmo movimento que Marx e Engels se opõem a essa visão, também incorporam
a dialética aprimorada pela filosofia alemã enquanto uma forma de apreender as contradições
existentes, mas a compreensão do mundo e das relações existentes nele partem do ser
humano, mas não do ser humano enquanto gênero abstrato, e sim em sua relação com o meio
e com seus pares. Ao contrário do materialismo de Feuerbach que era limitado justamente por
não se desenvolver a partir dos indivíduos concretos.

São esses seres humanos, tomados em sua realidade geográfica, climática, de


alimentação, que irão produzir os meios para garantir sua existência, enfrentando toda
adversidade do meio natural. Mas a produção da vida não ocorre de forma aleatória, como
simples reprodução de meios para se preservar vivo. No ponto em que se encontram, os
indivíduos já apresentam um modo de agir determinado que em conjunto se traduz num modo
de vida elaborado para a produção da vida. “O que eles são coincide, pois, com sua produção,
isto é, tanto com o que eles produzem quanto com a maneira como produzem” (MARX;
ENGELS, 1998, p. 11).

Tal produção tem como base o aumento populacional e os intercâmbios entre os


indivíduos, grupos e nações. Assim,

A forma desses intercâmbios é condicionada a produção. As relações entre


diferentes nações dependem do estágio de desenvolvimento em que cada uma
delas se encontra, no que concerne as forças produtivas, divisão do trabalho e
as relações internas (MARX; ENGELS, 1998, p 11).

A disposição dos indivíduos na produção não se dá meramente pela sua vontade. A


divisão do trabalho está relacionada a forma de exploração do trabalho e a forma da
propriedade. Dentro de uma nação, é possível observar a divisão primaria entre cidade e
campo, entre trabalho comercial e industrial e o trabalho agrícola, que também possui
subdivisões internas, impulsionadas pelo grau de desenvolvimento das forças produtivas e a
divisão do trabalho social, todas enquadradas pelo tipo de exploração do trabalho dentro da
produção e a forma da propriedade. 

O ordenamento do mundo concreto, o modo de vida, as relações, os intercâmbios, não


obedecem a conceitos ou ideias, longe disso, são frutos, da atividade prática dos indivíduos,
que por sua parte, são historicamente determinados pela forma que produzem e reproduzem
seu modo de vida. 

Nesse sentido, Marx e Engels não só conflitas com a concepção de mundo dos
filósofos idealistas, como apresentam numa nova lógica de apreensão da realidade. Nas
palavras dos autores,

Ao contrário da filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui é da terra que se
sobe ao céu. Em outras palavras, não partimos do que os homens dizem, imaginam e
representam, tampouco do que eles são nas palavras, no pensamento, na imaginação
e na representação dos outros, para depois se chegar aos homens de carne osso; mas
partimos dos homens em sua atividade real, é a partir do seu processo de vida real
que representamos também o desenvolvimento dos reflexos e repercussões
ideológicas desse processo vital (MARX; ENGELS, 1998, p 19).

Assim, as transformações e, até mesmo a existência, de uma estrutura social e do


Estado não seriam resultado, como pregavam os hegelianos, de uma evolução da consciência
ou das representações e conceitos. Nesse sentido, a crítica feita à ideologia alemã parece ser
uma crítica a própria realidade alemã, que não teria condições materiais para desenvolver e
isso se traduzia numa realidade atrasada com uma forma ideológica compatível com tal
atrasado.

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