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Conversão de Energia
Profa. Dra. Stefani Freitas

MÓDULO I

Revisão de Magnetismo e Eletromagnetismo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FITZGERALD, A. Máquinas Elétricas. São Paulo: Mc-Graw-Hill do Brasil.
KOSOW, I. W. Máquinas elétricas e transformadores. São Paulo: Globo, 5ª edição, 1998.
NEVES, E. G. C., MÜNCHOW, R. Capítulo 2 – Características magnéticas do materiais magnéticos.
Circuitos magnéticos. Disciplina de Máquinas e Transformadores Elétricos. UFPEL.
OLIVEIRA, J. C. Transformadores, teoria e ensaios. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 1984.
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1.1 INTRODUÇÃO
O transformador é um importante componente do processo global de conversão
energética. As técnicas desenvolvidas na análise de transformadores forma a base da
discussão sobre máquinas elétricas, que seguirão em disciplinas seguintes a esta.
Praticamente todos os transformadores e máquinas elétricas usam material
ferromagnético para direcionar e dar forma a campos magnéticos, os quais atuam como
meio de transferência e conversão de energia. Materiais magnéticos permanentes, ou imãs,
também são largamente usados. Sem esses materiais, não seriam possíveis as
implementações práticas da maioria dos dispositivos eletromecânicos de energia. A
capacidade de analisar e descrever sistemas que contenham esses materiais é essencial ao
projeto e entendimento desses dispositivos eletromecânicos de conversão de energia. A
capacidade de analisar e descrever sistemas que contenham esses materiais é essencial ao
projeto e desenvolvimento desses dispositivos.
Na maior parte das vezes os campos magnéticos, antes de constituírem em um fim em
si mesmo, são um meio utilizado para alcançar um resultado; em outras palavras,
geralmente não há sentido em gerar um campo magnético sem que este se destine à
obtenção de algum outro tipo de fenômeno.
Uma das maiores utilidades de um campo magnético é servir como "intermediário"
para a transformação de energia elétrica em mecânica – e vice-versa -, em um processo
conhecido como conversão eletro-mecânica de energia, presente nas máquinas elétricas. No
caso de um gerador, por exemplo, a energia mecânica fornecida por uma fonte externa
(digamos, um motor a gasolina) é transformada em energia elétrica, como mostra a figura
1.1; é o campo magnético quem propicia esta transformação.
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ENERGIA CAMPO ENERGIA


MECÂNICA MAGNÉTICO ELÉTRICA

Figura 1.1 – Fluxo de energia em um gerador elétrico.

Máquinas e transformadores que utilizam campos magnéticos têm seus elementos


constitutivos projetados de forma a proporcionar uma otimização na distribuição espacial
destes campos. Esses dispositivos se constituem em verdadeiros circuitos magnéticos,
distribuindo os fluxos magnéticos de maneira adequada ao bom funcionamento da máquina
ou transformador.

1.2 PERMEABILIDADE MAGNÉTICA

A permeabilidade magnética, simbolizada pela letra grega μ, é uma grandeza


característica de cada material e se refere à sua capacidade em "aceitar" a existência de
linhas de indução em seu interior. Assim, quanto maior for a permeabilidade de um
material, mais facilmente se "instalarão" linhas de indução em seu interior.
A permeabilidade magnética de um material pode ser comparada à condutância de um
corpo: enquanto esta exprime o grau de "facilidade" com que a corrente elétrica percorre
este corpo, aquela mede o grau de "facilidade" com que o fluxo magnético se estabelece no
interior de um material.

(a) (b)
Figura 1.2 - Distribuição das linhas de indução geradas pela corrente i em um enrolamento: (a) com núcleo de
ar; (b) com núcleo de material de alta permeabilidade magnética relativa.
Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL)

Denomina-se permeabilidade magnética relativa (μr) de um material à relação.

(1.1)
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onde μ é a permeabilidade do material e μo = 4 10-7 Wb/A.m é a permeabilidade magnética


do vácuo. Então, um material com μr = 1.000 é capaz de aceitar em seu interior um número
de linhas mil vezes maior que o vácuo.
Para melhor visualizar esta propriedade, observe-se a figura 1.2, que mostra dois
casos de distribuição de linhas de indução geradas pela corrente i que circula num
enrolamento. Em (a) não existe núcleo (ou, como se costuma dizer, a bobina tem núcleo de
ar ) e as linhas se espalham por todo o espaço em torno do enrolamento; já em (b), as linhas
de indução se concentram no interior do núcleo em torno do qual é feito o enrolamento,
graças à elevada permeabilidade relativa do material, resultando em um fluxo magnético
mais intenso. As poucas linhas que "escapam" através do espaço em torno do núcleo
constituem o chamado fluxo de dispersão.

A classificação magnética dos materiais é feita de acordo com sua permeabilidade


magnética (ver tabela 1.1):

a) Materiais paramagnéticos são aqueles que cuja permeabilidade relativa é pouco


maior que 1. Tais substâncias são levemente atraídas por campos magnéticos
excepcionalmente fortes, porém esta atração é tão fraca que são consideradas
nãomagnéticas. Nessa classe se encontra um grande número de substâncias, como o ar, o
alumínio, o alumínio e a madeira.

b) Materiais diamagnéticos, como o bismuto, o cobre e a água, possuem


permeabilidade relativa um pouco menor que 1, sendo levemente repelidos por campos
magnéticos muito fortes. Também aqui estas forças são muito fracas, sendo esses materiais
considerados não-magnéticos.

c) Materiais ferromagnéticos, ou simplesmente materiais magnéticos, possuem


permeabilidade relativa muito maior que 1, sendo fortemente atraídos por campos
magnéticos em geral. Nesta categoria se incluem substâncias como o ferro, o cobalto, o
níquel e algumas ligas industriais.

A Tab. 2.1 mostra o valor da permeabilidade magnética relativa de alguns materiais. É


importante observar que se tratam de valores médios de permeabilidade, já que, como se
verá adiante, esta pode variar significativamente de acordo com a intensidade dos campos
magnéticos a que são submetidos os materiais.
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Tabela 1.1 – Permeabilidade e classificação magnética de alguns materiais.

(1) Liga composta por ferro (17%), molibdênio (4%) e níquel (79%).

1.3 TEORIA DE GAUSS-EWING

Embora sejam usadas há muito tempo, as propriedades magnéticas dos materiais até
hoje não são perfeitamente explicadas. Acredita-se que a "fonte" do magnetismo está no
movimento orbital dos elétrons em torno dos núcleos, gerando campos magnéticos
infinitesimais.
A chamada Teoria de Gauss-Ewing postula que em grande parte dos materiais esses
campos se cancelam mutuamente devido ao movimento desordenado dos elétrons; nos
materiais ferromagnéticos, entretanto, certos grupos de átomos estão "pareados", de forma
que seus campos se somam, formando o que se chama de domínios magnéticos, cada um
dos quais pode ser representado por um dipolo magnético semelhante a um ímã. Porém,
numa dada amostra de material ferromagnético, o alinhamento dos domínios é também
desordenado, como se mostra na figura 1.3 (a), de forma que o material como um todo não
apresenta qualquer característica magnética (uma exceção seria um mineral conhecido como
magnetita, que naturalmente apresenta-se magnetizado; é, portanto, o único ímã natural que se
conhece).
No entanto, se um campo magnético externo de intensidade H for aplicado à amostra,
os domínios tendem a se alinhar por ele, como se vê na figura 1.3 (b), reforçando assim as
propriedades magnéticas do material. A amostra comporta-se como um ímã, cujos pólos são
mostrados na figura; como se verá na Seção 1.4, esta "imantação" poderá ou não ser
permanente, isto é, subsistir após a retirada do campo externo, dependendo do valor do
mesmo.
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(a) (b)
Figura 1.3 - Domínios em uma amostra de material: (a) não-magnético ou não magnetizado; (b) magnetizado
pela aplicação de um campo magnético externo H.
Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).

Esta teoria explica satisfatoriamente algumas características dos materiais


magnéticos:
 imãs naturais (ver nota de rodapé) já teriam os domínios naturalmente
alinhados, de forma a produzir os efeitos magnéticos sem a necessidade de
campo externo;
 não se consegue isolar os pólos de um ímã: se um desses for partido ao meio
obtém-se dois ímãs completos, cada um com um pólo N e outro S;
 quando um ímã é submetido a choque mecânico ou aquecimento, pode perder
sua imantação: é que a energia fornecida ao material nesses casos pode ser
suficiente para desarranjar a orientação dos domínios;
 para se magnetizar uma agulha deve-se "esfregá-la" com o pólo de um ímã
passado sempre no mesmo sentido: o ímã produz o papel de campo externo
necessário e a movimentação constante promove um alinhamento dos
domínios sempre no mesmo sentido.

Quando um material magnético é submetido a um campo externo ⃗ , a indução


magnética ⃗ é dada pela soma dos efeitos devidos ao campo externo e ao vetor chamado
polarização magnética ⃗⃗ , isto é:

⃗ (⃗ ⃗⃗

equação que, em módulo, pode ser colocada sob a forma

( )
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O termo entre parênteses representa a permeabilidade magnética relativa do material,


portanto

portanto, de acordo com a equação 1.1

(1.2)

1.4 CURVAS DE MAGNETIZAÇÃO

Medidas realizadas em laboratório mostram que a relação B x H dada pela equação 1.2
é essencialmente não-linear: se for traçado um gráfico relacionando o campo externo H com
a indução magnética B no material, obtém-se uma curva do tipo mostrado na figura 1.4,
conhecida como curva de magnetização ou característica B x H do material. A Teoria de
Gauss-Ewing também explica o comportamento dessas curvas:

Figura 1.4 - Curva de magnetização típica de materiais magnéticos.


Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).

 Na região I acontece um crescimento dos domínios favoravelmente alinhados com o


campo externo. Nessa região as alterações são reversíveis: se o campo externo for
retirado, os domínios voltarão a sua situação original, sem haver "fixação" das
características magnéticas na amostra.
 Se H for aumentado até a região II, o aumento dos domínios é acompanhado de uma
tendência de alinhamento de outros domínios com o campo externo. A partir dessa
região, os efeitos magnéticos tornam-se irreversíveis, de forma que o material fica
magnetizado mesmo se o campo externo for anulado.
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 Na região III, a maioria dos domínios já está alinhada com o campo externo, de modo
que é necessário um grande incremento de H para se conseguir um discreto aumento
de B.
 Na região IV, todos os domínios da amostra estão alinhados com o campo externo;
portanto um aumento de H não produz qualquer alteração de B. Diz-se que, nesta
situação, o material atingiu a saturação magnética.

Se esta equação se transforma em uma derivada, que pode ser representada


geometricamente pela tangente à curva B x H em cada ponto. Vê-se, então, que a
permeabilidade magnética não pode ser considerada uma constante: no ponto a mostrado
na Fig. 2.4 a permeabilidade é maior que no ponto b. A exceção é feita para o vácuo, onde a
permeabilidade é considerada constante e igual a 4 .10-7 Wb/A.m.
Na figura 1.5 são mostradas as curvas de magnetização de alguns materiais
magnéticos usados em aplicações comerciais.

Figura 1.5 -- Curvas de magnetização de alguns materiais magnéticos comerciais.


Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).
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1.5 HISTERESE

Suponha-se que uma amostra de material magnético seja submetida a um campo


magnético de intensidade H variável com o tempo (este é o caso típico de núcleos em torno
dos quais são feitos enrolamentos excitados por CA). Se a amostra estiver inicialmente
desmagnetizada e o campo for aumentando até o valor H1, a curva B x H segue a linha 0a
mostrada na figura 1.6. Caso o valor de H1 seja suficientemente elevado para atingir a região
II da curva de magnetização, quando o campo externo decrescer a curva seguirá pela linha
ab, de modo que para H = 0 o valor de B será dado pela ordenada 0b; este valor é chamado
de magnetização residual, pois é a magnetização que "resta" no material após o campo
externo ter-se reduzido a zero.

Figura 1.6 - Formação do laço de Histerese.


Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).

Para desmagnetizar a amostra será necessário inverter o sentido do campo e


aumentar sua intensidade até H2, valor conhecido como força coercitiva (este termo é
derivado do verbo coagir, que significa obrigar, forçar. De fato este valor de H2 obriga o
material a se desmagnetizar). Se o campo continuar aumentando até o valor – H1 (isto é, no
sentido contrário ao inicial), a curva B x B seguirá a linha cd. No semiciclo seguinte o
raciocínio é o mesmo, de forma que após completado um ciclo obtém-se uma curva
semelhante à mostrada na figura 1.6, chamada curva de histerese.
A forma do laço de histerese de um dado material depende do máximo valor do campo
atingido no ciclo (H1). A curva obtida pela ligação dos vértices dos laços de histerese obtidos
para diferentes valores de H1é chamada curva normal de magnetização.
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Quando um material é submetido a um campo magnético externo alternado, seus


domínios estarão em contínuo movimento, buscando alinhar-se com H. Isso causa um
"atrito" entre os domínios, aquecendo o material e ocasionando as chamadas perdas por
histerese. Demonstra-se que essas perdas são proporcionais à área encerrada na curva de
histerese.
Comprova-se experimentalmente que a potência dissipada por unidade de volume de
material durante um ciclo de histerese é dada por
(1.3)
onde Kh e n são constantes que dependem do material e da própria densidade do campo
magnético, enquanto f é a frequência do campo magnético (em Hz) e BM é o máximo valor
de B alcançado durante o ciclo.

1.6 CIRCUITOS MAGNÉTICOS

Nos dispositivos eletromecânicos e transformadores – e aí se incluem geradores,


motores, contatores, relés, etc. – a utilização de enrolamentos e núcleos objetiva o
estabelecimento de fluxos magnéticos como meio de acoplamento na transformação de
energia elétrica. Nesses dispositivos, a função do núcleo é "canalizar" para os pontos
desejados as linhas de indução do campo magnético geradas pelos enrolamentos. Fazendo
uma analogia com os circuitos elétricos, os enrolamentos seriam como fontes, os fluxos
magnéticos equivaleriam a correntes e os núcleos fariam o papel de condutores.
Para tornar mais evidente esta analogia, tome-se um núcleo toroidal, como o da figura
1.7 (a), com seção transversal circular de raio r, confeccionado com um material de elevada
permeabilidade magnética . Em torno do mesmo é feito um enrolamento de N espiras
onde circula a corrente constante I, gerando um campo magnético. Como a permeabilidade
do material magnético é muito maior que a do ar que o circunda, é válido pensar que as
linhas de indução estará confinadas ao núcleo.

(a) (b)

Figura 1.7 - Bobina toroidal: (a) aspecto físico; (b) circuito elétrico análogo.
Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).

Pode-se deduzir que o campo magnético no interior desse núcleo não é uniforme, já
que as espiras estão mais próximas entre si na parte interna do que na externa, o que
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significa que o campo vai enfraquecendo em direção à parte exterior do núcleo. Para
contornar esse problema, que dificulta o processo de cálculos, toma-se a linha de indução
correspondente a um raio médio R, representada por uma linha tracejada na figura 1.7(a) e
aplica-se a Lei de Ampère. Como cada uma das espiras transporta a corrente I e contribui
para a formação do campo no interior do núcleo, a corrente total é NI, então

∮⃗

onde l = 2 R corresponde ao comprimento médio do núcleo.


Uma vez que a corrente no enrolamento é a "fonte" geradora do magnetismo, o termo
NI é chamado de força magnetomotriz (abreviadamente f.m.m.), simbolizada por F. Então
(1.4)
As principais unidades de f.m.m. são:
 Ampère-espira (A-e) – usada no Sistema Internacional
e
 Gilbert = 0,7958 A-e.
O fluxo magnético no interior do núcleo será:

ou, ainda

( ) (1.5)

O termo entre parênteses nessa equação lembra a expressão para o cálculo da resistência
elétrica R de um corpo, dada por

onde é a condutividade elétrica do material, l é o comprimento do condutor e S é a área de


sua seção transversal. Por esta razão, denomina-se relutância ( ) à relação

(1.6)

cuja unidade no Sistema Internacional é o Ampère-espira/Webber (A-e/Wb). Assim, a


equação 2.5 pode ser reescrita como
(1.7)
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que é a chamada Lei de Ohm para circuitos magnéticos, dada sua semelhança com a lei
homônima para circuitos elétricos.
A semelhança entre os circuitos magnéticos e elétricos é evidente. Na tabela 1.2
mostra-se a analogia entre as grandezas mais comumente encontradas em um e outro tipo
de circuito. O circuito elétrico análogo ao da figura 1.7(a) é mostrado na figura 1.7(b).
Tabela 2.1 - Analogia entre grandezas dos circuitos elétricos e magnéticos.

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Exercício 1. Uma bobina é confeccionada com 500 espiras enroladas em torno de um núcleo
toroidal semelhante ao da figura 1.7(a), sendo a = 11 cm e b = 9 cm. Desejando-se estabelecer
no interior desse núcleo um fluxo magnético médio igual a 0,2 mWb, determinar a corrente I
necessária, supondo-se que o material é:
(a) plástico;
(b) ferro fundido;
(c) aço fundido.
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Em circuitos magnéticos práticos, tais como em máquinas elétricas e transformadores,
normalmente existem peças móveis, de modo que os núcleos possuem espaços livres
chamados entreferros. Ao cruzarem o entreferro, as linhas de indução se deformam -
criando o chamado efeito de espalhamento – devido ao aumento da relutância neste trecho,
como se vê na figura 1.8(a). Na maioria das situações esse efeito pode ser desconsiderado;
porém, se forem necessários cálculos mais precisos pode-se corrigir a influência dessa
deformação somando-se à cada uma das dimensões relativas à seção do entreferro o
comprimento do mesmo. Assim, se a e b forem respectivamente a largura e a profundidade
do núcleo e g for o comprimento do entreferro, como se mostra na figura 1.8(b), a seção
reta do entreferro será dada por
( ( (1.8)
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(a) (b)

Figura 1.8 - Efeito de espalhamento: (a) deformação das linhas de indução no entreferro; (b) dimensões
usadas para a correção.
Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).

Outro fator que deve ser considerado em cálculos mais precisos é o fluxo de dispersão,
já mencionado na Seção 1.2. Porém, desde que o material tenha permeabilidade magnética
relativa muito alta, este fluxo tem valor muito baixo e sua influência nos resultados é
desprezível.
Um último aspecto a ser considerado nos cálculos em circuitos magnéticos é que
normalmente os núcleos são laminados, como forma de redução das correntes parasitas.
Então, a espessura do isolamento que separa cada par de lâminas deve ser descontada no
cálculo da área; em outras palavras, a área efetivamente disponível para o fluxo (Sf) é
menor que a área total do núcleo (S).

Figura 1.9 – Laminação do núcleo.


Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).

A relação entre essas duas áreas é chamada de fator de empilhamento (fep) (esta
relação também é conhecida como fator de ferro ou fator de laminação), isto é

(1.9)

valor que também pode ser expresso em termos percentuais.


A analogia entre os circuitos magnéticos e elétricos pode ser estendida. A relutância
ao longo de um dispositivo eletromagnético pode variar, devido à mudança de dimensões,
de permeabilidade (quando se usam materiais diferentes, por exemplo) ou à existência de
entreferros. Então, a relutância de cada um desses trechos pode ser considerada um
"elemento", de sorte que haverá circuitos série ou paralelo.
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a) Circuito magnético série: quando todos os elementos são "atravessados" pelo


mesmo fluxo magnético . Se n for o número de elementos associados em série, a
f.m.m. total será dada pela soma das f.m.m. parciais, isto é
(1.10)
que equivale à Lei das Tensões de Kirchoff dos circuitos elétricos.
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Exercício 2. O circuito magnético da figura 1.10(a) tem enrolamento de 1.500 espiras.
Determinar a corrente I necessária para estabelecer um fluxo de 10 mWb nos entreferros,
sabendo que o fator de empilhamento do elemento de aço-silício é igual a 90%, enquanto que
o elemento de aço fundido é maciço. Desprezar o efeito do espalhamento e o fluxo de
dispersão.

(a) (b)
Figura 1.10 - (a) circuito magnético; (b) circuito elétrico análogo.
Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).

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b) Circuito magnético paralelo: a f.m.m. em cada um dos elementos é a mesma; o fluxo
magnético total é dado pela soma algébrica dos fluxos magnéticos individuais, isto é
(1.11)
onde n é o número de elementos (percursos) do núcleo.
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Exercício 3. O núcleo da figura 1.11(a) é de aço fundido maciço, sendo o enrolamento dividido
em duas partes, cada qual com número N de espiras. Sabendo que uma corrente de 0,8 A
produz no entreferro um fluxo magnético igual a 5 mWb, determinar o valor de N. Desprezar o
efeito do espalhamento e o fluxo de dispersão.
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(a) (b)
Figura 1.11 - (a) circuito magnético; (b) circuito elétrico análogo.
Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).

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Nos exercícios anteriores observa-se que, apesar de seu pequeno comprimento, o
entreferro "concentra" uma f.m.m. bastante elevada; isto se deve à sua elevada relutância a
qual, por sua vez, resulta da baixa permeabilidade magnética do ar. Esta constatação é útil
na solução de outro tipo de problema: a determinação do fluxo magnético uma vez
conhecida a f.m.m. Nesse caso, como não se conhece o valor de B no núcleo, não é possível o
cálculo de H – e consequentemente de – no elemento.
Um método simplificado para a solução nesses casos é o das aproximações sucessivas:
Supõe-se, inicialmente, que toda a relutância do circuito está contida no entreferro e
calcula-se a requerida, comparando-a à real. Ajusta-se, então, o valor de B para
mais ou para menos e repete-se os cálculos. Prossegue-se assim até que a f.m.m. dada e a
calculada atinjam uma diferença pré-fixada (por exemplo, 5%) e, por fim, calcula-se o fluxo.
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Exercício 4. Dado o núcleo maciço de aço fundido da figura 1.12(a), determinar o fluxo
magnético em seu entreferro, sabendo-se que I = 0,5 A e N = 1.000 espiras. Desconsiderar os
efeitos do espelhamento e do fluxo de dispersão.

(a) (b)
Figura 1.12 - (a) circuito magnético; (b) circuito elétrico análogo.
Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL).

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