Você está na página 1de 23

THAÍS CAROLINA ACOSTA BRAGA

A APLICAÇÃO DO CANABIDIOL COMO TERAPIA


ALTERNATIVA PARA EPILEPSIA REFRATÁRIA

Cidade
Ano

Campo Grande
2021
THAÍS CAROLINA ACOSTA BRAGA

A APLICAÇÃO DO CANABIDIOL COMO TERAPIA


ALTERNATIVA PARA EPILEPSIA REFRATÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Centro Universitário Anhanguera, como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Biomedicina.

Orientadora: Nágila Bortolato

Campo Grande
2021
THAÍS CAROLINA ACOSTA BRAGA

A APLICAÇÃO DO CANABIDIOL COMO TERAPIA ALTERNATIVA


PARA EPILEPSIA REFRATÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Centro Universitário Anhanguera, como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Biomedicina.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Me. Lucas Roberto Pessatto

Prof(a). Me. Patrícia Soares Pacheco

Prof(a). Esp. Bruna Magusso Rodrigues

Campo Grande, 30 de maio de 2021.


Dedico este trabalho...

A todas as pessoas que me deram apoio


e amor durante a minha vida acadêmica.
AGRADECIMENTOS

Quero começar agradecendo primeiramente a Deus, que me deu a


oportunidade de fazer esta graduação, sem ele me guiando e iluminando eu nada
seria.
Agradeço a minha mãe e meus irmãos por todo apoio e amor que me
proporcionam, essa graduação é por vocês.
Ao meu amigo de graduação e futuro biomédico, Andrew Gallucci, minha
gratidão eterna por ter se tornado um irmão que me ajudou tanto nessa jornada.
As minhas amigas Renata Soares, Verônica Rodrigues, Rafaela Julião, eu
não conseguiria ter iniciado essa etapa se vocês não estivessem me ajudando tanto
desde o começo.
Agradeço também ao meu namorado, João Pedro, que sempre acreditou em
mim mais do que ninguém, sua força e apoio foram muito importantes para mim.
Além disso, um gigantesco obrigado aos professores que fizeram parte do
curso de Biomedicina. Sou eternamente grata por toda a dedicação em repassar a
sabedoria de cada um para os alunos, vocês merecem todo o reconhecimento do
mundo.
O começo de todas as ciências é o espanto
de as coisas serem o que são.
(Aristóteles)
BRAGA, Thaís Carolina Acosta. A Aplicação do Canabidiol como Terapia
Alternativa para Epilepsia Refratária. 2021. 23 folhas. Trabalho de Conclusão de
Curso de Biomedicina – Centro Universitário Anhanguera, Campo Grande, 2021.

RESUMO

A epilepsia é uma patologia neurológica que consiste numa modificação temporária


e reversível do cérebro, por alguns segundos ou minutos o cérebro emite sinais
incorretos que provocam crises epilépticas. Apesar de haver diversos fármacos
anticonvulsivantes, ainda há pacientes que apresentam resistência a esse modo de
tratamento. Estudos apontam que os quadros que não apresentam alguma melhoria
com a terapia convencional são os de paciente jovens com diagnóstico de epilepsia
refratária. Um dos modos de terapia alternativa para esses casos é o uso do
Canabidiol (CBD), a substância é extraída da Cannabis Sativa, popularmente
conhecida como maconha, porém essa substância não é psicoativa e é usada para
fins medicinais há vários anos, sendo considerada eficaz no tratamento de várias
doenças, uma delas é a epilepsia refratária. Apesar de haver casos que
apresentaram sucesso contra o aumento de atividades epilépticas, a ação
farmacológica do CBD ainda é bastante questionada em diversos países, que não
aprovam sua legalização e o seu uso só é liberado depois de um processo
demorado e burocrático que busca analisar se é realmente necessário o paciente ir
para esse método de terapia. Este trabalho tem como objetivo discutir o potencial
terapêutico do canabidiol no tratamento de epilepsia refratária. A metodologia usada
foi a de pesquisa de artigos em materiais encontrados na internet. O trabalho
contribuirá para ampliar a visão sobre um novo recurso terapêutico para a epilepsia
refratária, almejando colaborar para diminuir os processos complicados que existem
para a liberação do medicamento e idealizando extinguir o preconceito ainda
presente, para fazer com que os números de pacientes que serão beneficiados
sejam maiores. O uso do canabidiol no tratamento de epilepsia refratária vem
demonstrando cada vez mais relevância, contudo ainda são indispensáveis mais
estudos científicos para que a execução da terapia seja mais acessível.

Palavras-chave: Epilepsia. Epilepsia Refratária. Canabidiol. CBD. Terapia


alternativa.
BRAGA, Thaís Carolina Acosta. The Application of Cannabidiol as an Alternative
Therapy for Refractory Epilepsy. 2021. 23 pages. Trabalho de Conclusão de
Biomedicina – Centro Universitário Anhanguera, Campo Grande, 2021.

ABSTRACT

Epilepsy is a neurological pathology that consists of a temporary and reversible


modification of the brain, for a few seconds or minutes the brain emits incorrect
signals that cause epileptic seizures. Although there are several anticonvulsant
drugs, there are still patients who are resistant to this mode of treatment. Studies
show that the conditions that do not show any improvement with conventional
therapy are those of young patients diagnosed with refractory epilepsy. One of the
alternative therapy modes for these cases is the use of Cannabidiol (CBD), the
substance is extracted from Cannabis Sativa, popularly known as marijuana,
however this substance is not psychoactive and has been used for medicinal
purposes for several years, being considered effective in the treatment of various
diseases, one of them is refractory epilepsy. Although there are cases that have been
successful against the increase in epileptic activities, the pharmacological action of
the CBD is still very much questioned in several countries, which do not approve its
legalization and its use is only released after a lengthy and bureaucratic process that
seeks to analyze whether it is really necessary for the patient to go to this method of
therapy. This work aims to discuss the therapeutic potential of cannabidiol in the
treatment of refractory epilepsy. The methodology used was to search for articles in
materials found on the internet. The work will contribute to broaden the vision of a
new therapeutic resource for refractory epilepsy, aiming to collaborate to reduce the
complicated processes that exist for the release of the drug and idealizing to
extinguish the prejudice still present, to make the numbers of patients who will benefit
are bigger. The use of cannabidiol in the treatment of refractory epilepsy has been
showing more and more relevance, however, more scientific studies are still
indispensable for the implementation of therapy to be more accessible.

Keywords: Epilepsy. Refractory Epilepsy. Cannabidiol. CBD. Alternative Therapy.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária


CBD Canabidiol
CG Crise Generalizada
CP Crise Parcial
DAE Drogas Antiepiléticas
ER Epilepsia Refratária
SUS Sistema Único de Saúde
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11
2. EPILEPSIA ........................................................................................................ 13
2.1 EPILEPSIA REFRATÁRIA ................................................................................ 13
3. O USO DO CANABIDIOL COMO TERAPIA ALTERNATIVA ........................... 16
4. O DESEMPENHO DO CANABIDIOL NO ORGANISMO .................................. 19
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 21
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 22
11

1. INTRODUÇÃO

A Cannabis sativa, conhecida popularmente como maconha, não é apenas a


droga ilícita mais utilizada no mundo, ela é reconhecida também pelo seu uso de
forma medicinal. Para isso há a necessidade da extração de algumas substâncias
presentes na planta, como por exemplo, o canabidiol (CBD).
O CBD é uma substância que foi identificada no de ano de 1963, ela é
considerada não psicoativa, ou seja, a sua matéria não causa alterações ao sistema
nervoso central, não altera funções cerebrais e não causa dependência. O composto
é conhecido por ser altamente eficaz no tratamento de algumas doenças, sendo
uma delas a epilepsia.
A epilepsia é uma disfunção neurológica que causa modificações temporárias
e reversíveis no cérebro, durante minutos ou segundos, o cérebro emite sinais
incorretos, que causam crises epilépticas, estas podem ficar restritas a um lugar ou
se generalizarem. Apesar de, existirem vários fármacos antiepilépticos, ainda
existem pessoas que apresentam resistência ao tratamento convencional e precisam
procurar outros métodos.
A liberação de produtos feitos à base de CBD para uso medicinal no Brasil
ocorreu em dezembro de 2019, com isso houve a disponibilização para vendas em
farmácias e drogarias, mediante prescrição médica, e sujeitos à fiscalização. Tendo
em vista que os produtos produzidos a partir da matéria prima do CBD são
considerados valiosos no tratamento da epilepsia refratária, porque não investir mais
na pesquisa sobre a substância para alcançar um resultado conclusivo e que possa
colaborar na distribuição desses medicamentos pelo SUS (Sistema Único de Saúde)
no futuro?
Este trabalho busca compreender os benefícios que os medicamentos
produzidos através do canabidiol oferecem aos pacientes que são acometidos pelas
crises de ausências e de convulsões causados pela epilepsia. Além disso, busca
calcular a inibição sobre o uso da substância no tratamento da doença, discutir o
preconceito na liberação do canabidiol de forma medicinal e conceituar qual o seu
efeito terapêutico e sua importância.
Esta é uma pesquisa bibliográfica baseada em artigos, livros ou reportagens
que foram publicados com embasamento na área da pesquisa cientifica e saúde
entre 2006 e 2020. Para o desenvolvimento do presente estudo foram feitas buscas
12

de dados disponíveis na internet sobre o uso do canabidiol como terapia alternativa


no tratamento de epilepsia refratária, através de sites, tais como: Google Acadêmico
e Scielo.
13

2. EPILEPSIA

A epilepsia é um transtorno neurológico caracterizado por duas ou mais crises


epilépticas que não foram causadas febre ou desiquilíbrios tóxico-agudos graves. A
doença pode ser classificada em crises parciais (CP) ou crises generalizadas (CG) e
o diagnóstico são feito através da descrição do quadro clinico e de um
eletroencefalograma (EEG). Ela é descrita como uma doença crônica do encéfalo
caracterizada por descargas elétricas súbitas, anormais e desordenada dos
neurônios que causam convulsões ou crise epiléptica (FISHER; BONNER, 2018).
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a epilepsia atinge mais de
50 milhões de pessoa no mundo todo, tendo cerca de 1,7 milhões de portadores da
doença aqui no Brasil. Considerada como uma das doenças mais frequentemente
tratadas pela neurologia acomete qualquer tipo de pessoa, independente de raça,
sexo, condições socioeconômicas, porém a incidência é maior em idosos e crianças
(BRASIL, 2016; CUNHA, 2007). Em adultos pode surgir através de acidentes
vasculares, traumatismos cranianos, doenças cardíacas. Nas crianças as causas
mais comuns são doenças genéticas, má formações cerebrais ou meningites.
Tem como estigma o fato de ser considerada uma doença mental e ser
apontada como contagiosa. Por séculos essa classificações equivocadas
provocaram inibições para pessoas que tem a doença. Países como Estados
Unidos, Reino Unido, China, elaboraram limitações como impedir pessoas com
epilepsia de casar, proibições de dirigir veículos e até mesmo restringiram as
oportunidades de emprego.
Entretanto, é importante destacar que a patologia é uma condição neurológica
e que não apresenta nenhuma chance de transmissão de uma pessoa para outra.
Aproximadamente três quartos das pessoas que desenvolvem epilepsia podem se
tornar livres de crises através do uso de drogas antiepilépticas (DAE) (Hauser e
Annegers, 1993; Sander, 1993), e dois terços das que obtiveram controle podem
interromper o tratamento com DAE, após o período aproximado de dois anos
(Sander, 1993). Sendo assim, a maioria dos pacientes epilépticos com um
diagnóstico preciso quanto ao tipo de crise e síndrome epiléptica, quando tratados
de forma adequada, terá um controle total ou parcial das crises (BUSTAMANTE et
al., 1999).
14

Apesar de 70% dos casos serem controlados através das drogas


antiepiléticas (DAE), os outros 30% dos pacientes epilépticos apresentam quadro
clínico de crises de difícil controle terapêutico, correspondendo à chamada epilepsia
refratária (ER) (Dodrill, Beier et al., 1984; Alving 1995; Guerreiro et al., 2000;
Yacubian, 1998).

2.1 Epilepsia Refratária

A palavra refratária pode ser definida como algo resistente a ações físicas ou
químicas. Com isso podemos concluir que pacientes com quadros de epilepsia
refratária são aqueles que não conseguem obter o controle adequado das crises
epilépticas no tratamento com os medicamentos indicados que estão disponíveis na
indústria farmacêutica (CABOCLO, 2014).

A epilepsia refratária pode ter consequências devastadoras. Muitos


indivíduos experimentam convulsões prolongadas ou estados de mal
epiléptico e, como resultado, sofrem lesões corporais que requerem
hospitalização. Outros reduziram a expectativa de vida devido ao risco
aumentado de morte súbita e inesperada que está associada a convulsões
não controladas. Estudos têm mostrado que pacientes com epilepsia
refratária têm deficiências neuropsicológicas, psiquiátricas e sociais
significativam que limitam o emprego, reduzem a taxa de casamento e
diminuem a qualidade de vida (FRENCH;JAQUELINE, 2007, p.2).

De acordo com Caboclo (2014, p. 276) no livro “Tratamento Medicamentoso


das Epilepsias”, pacientes que apresentam resistências ao tratamento clínico, pode
ser encaminhado para outras formas de tratamento como dieta cetogênica, cirurgia
de epilepsia e neuromodelação.
Além disso, a alternativa teraupêutica que também se deve considerar é o
tratamento com o canabidiol. O oléo extraido da Cannabis Sativa, vem sendo
utilizado para fabricação de novo medicamentos para epilepsia refratária e
apresentou grandes êxitos como resultados (GURGEL et al., 2019).
Pesquisas reportaram que o CBD não possui efeitos psicoativos e também
apresenta amplo espectro de ação farmacológica (Schier et al., 2012). O composto
possui comprovado efeito antiepilético, porém com alguns pontos não bem
esclarecidos, como: segurança de administração por longo espaço de tempo,
propriedades farmacocinéticas, seu mecanismo de ação e interação farmacológica
com outros canabinóides (BRUCKI et al., 2015).
15

Em vários países ainda há certa inibição quanto ao uso de medicamentos


produzidos através do canabidiol, pelo fato do composto ser derivado da Cannabis
Sativa, que é conhecida por produzir duas drogas ilicitas: maconha e haxixe. Essa
circunstância acaba resultando em um acesso restrito e burocrático ao CBD,
fazendo com que os pacientes que necessitam dessa terapia alternativa tenham
dificuldade em adquirir esse recurso terapêutico.
No Brasil, o uso de CBD no tratamento de epilepsia refratária passou a ser
discutido amplamente quando familiares de pacientes que apresentaram esse
quadro começaram a importar ilegalmente produtos contendo a substância
considerada de uso proscrito no país até alteração da legislação pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (ANVISA, 2015).
16

3. O USO DO CANABIDIOL COMO TERAPIA ALTERNATIVA

A Cannabis sativa apresenta benefícios terapêuticos ao ter algumas de suas


mais de 400 substâncias extraídas. A utilização da cannabis é reconhecida desde os
primórdios da medicina chinesa e é descrita na mais antiga farmacopeia do mundo
chamada de Pen-ts Chin na qual se refere o uso da cannabis no tratamento de
diversos problemas, nomeadamente, dores reumáticas, problemas intestinais,
malária e problemas no sistema reprodutor feminino (ZUARDI, 2005). Na Índia a
cannabis era utilizada pelos Hindus com funções espirituais, como promotor à
meditação e para usos médicos no tratamento das insônias, febres, tosse seca,
oftalmologia e disenteria (ESCOHOTADO, 2004).
Um dos principais compostos extraídos dessa planta é o canabidiol, que nos
últimos anos tornou-se bastante conhecido pela eficacácia no tratamento de
doenças como Alzheimer, Esclerose Múltipla, Autismo e Epilepsia. O Canabidiol
(CBD) é um dos ativos canabinóides da Cannabis sativa, e constitui quase metade
das substâncias ativas da planta em questão, ou seja, cerca de 40% destas. Apesar
de muito conhecido o Δ-9-tetrahidrocanabinol (THC), principal componente ativo da
Cannabis sativa, e responsável por suas ações psicoativas, os efeitos
farmacológicos do canabidiol são diferentes e mostram-se opostos ao deste anterior
(SCHIER,2012).
O canabidiol possui ação analgésica, imunossupressora, é utilizado em
tratamento de distúrbio do sono e ansiedade, pode ser relacionadas a propriedades
anti-inflamatórias, no tratamento de diabetes, náuseas, isquemias e por ter
propriedades anticonvulsivantes, extratos com alto teor de CBD se mostram eficazes
no tratamento alternativo de pessoas com epilepsia refrataria, onde medicamentos
convencionais não surtem efeito (CARVALHO et al., 2017)
Porém, mesmo com muitos casos favoráveis, a indicação e liberação do uso
de medicamentos a base de canabidiol não ocorre de maneira simples e o acesso
ao fármaco ainda acontece de modo complicado (GURGEL et al., 2019). O tema
ainda é considerado de difícil debate devido ao preconceito da maioria das pessoas
em relação à maconha, visto que para muitos não há diferenciação entre fins
terapêuticos e uso recreativo da planta (KRUSE et al.,2007).
Como a epilepsia refratária vem sendo relatada com uma frequência maior,
especialmente em crianças, novas pesquisas foram surgindo e com isso é possível
17

ver que o Canabidiol (CBD), principal componente antipsicótico da Cannabis


sativa, possui propriedades antiepilépticas. No entanto, seu mecanismo de ação
ainda necessita de estudos aprofundados, visto que a falta de informação, o
envolvimento de questões éticas, morais, religiosas e sociais, e restrições das mais
diversas formas, a pesquisa clinica sobre CBD torna-se de difícil execução e seus
resultados não atingem a população que necessita, principalmente em países que
ainda possuem estigmas com o uso desses compostos da Cannabis sativa para
fins medicinais (CILIO et al, 2014).
Em vários países do mundo já existe a comercialização para uso medicinal
do canabidiol, os derivados da planta para tratar ou aliviar os sintomas (dor,
espasticidade, náuseas e vômitos) de uma doença específica com, por exemplo, a
epilepsia. Alguns países, tais como Canadá, EUA e Holanda, dispõem de produtos
herbais, preparações farmacêuticas derivadas de Cannabis para uso medicinal,
bem como medicamentos alopáticos (CARVALHO et al, 2017).
A respeito do assunto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamentou
o uso do canabidiol no Brasil através de sua resolução nº 2.113/14, para tratamento
de crianças e adolescentes portadores de epilepsias refratárias que não apresentam
melhorias com os tratamentos convencionais. Esta regra veda a prescrição da
Cannabis in natura para uso medicinal, bem como de quaisquer outros derivados. O
grau de pureza da substância e sua apresentação devem seguir de forma rigorosa
as determinações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (SBP e ABP,
2017). Após profunda análise científica, com enfoque principal na segurança e
eficácia do canabidiol, o CFM concluiu que ainda não há evidências científicas que
comprovem que os canabinóides são totalmente seguros e eficazes no tratamento
de casos de epilepsia. Desta forma, só há indicação para o uso em casos restritos,
quando realmente não há resposta adequada aos medicamentos
convencionalmente liberados e que, apesar do manejo adequado e em doses
satisfatórias, produz resultados insatisfatórios (SBP e ABP, 2017).
Recentemente, em meio ao avanço das pesquisas sobre a segurança do
composto, a ANVISA aprovou a sua comercialização em dezembro de 2019. A
agência inclusive recomenda que a prescrição do produto a base de CBD seja feita
exclusivamente quando não houver mais nenhuma outra opção de tratamento
disponível. A plantação da planta tanto para uso medicinal, como para uso
recreativo, continua proibida no país (DAMASCENO, 2019).
18

Já em 10 março de 2020, com a publicação da RDC 327/19, a ANVISA


estabeleceu uma nova categoria de produtos: os derivados de Cannabis. Apesar de
não serem considerados medicamentos, eles possuem autorização sanitária para
serem comercializados no Brasil.
19

4. O DESEMPENHO DO CANABIDIOL NO ORGANISMO

A benigdade sobre o uso do CBD para o controle da convulsão pode ser


explicado pela sua ligação com seus receptores no corpo humano. Conforme é
apresentado por Carvalho et al. (2017), no sistema nervoso central, o receptor CB1 é
altamente expresso, localizado na membrana pré-sináptica das células, modulam a
liberação de neurotransmissores de uma maneira que previne a atividade neuronal
excessiva (acalmando e diminuindo a ansiedade), além de reduzir a dor, diminui a
inflamação, regula o controle da postura, do movimento e regula a percepção
sensorial, a memória e a função cognitiva. Estes receptores CB1 estão presentes
tanto em neurônios inibitórios gabaérgicos quanto em neurônios excitatórios
glutamatérgicos. O CBD age no receptor CB1 inibindo a transmissão sináptica por
bloqueio dos canais de cálcio (Ca2+) e potássio (K+) dependentes de voltagem.
Sendo assim, acredita-se que o CBD possa inibir crises convulsivas.
Um dos primeiros e mais importantes trabalhos clínicos sobre a ação do CBD
em crises epilépticas refratárias em humanos foi realizado por dois pesquisadores
brasileiros, Dr. Elisaldo Carlini e Dr. Jomar Cunha, 1980 e 1981. Em estudo de 15
pacientes que apresentavam crises convulsivas frequentes, refratárias, (crises
parciais e secundariamente generalizadas), com idade entre 14 - 49 anos, foram
tratados com CBD vcs placebo, estudo em duplo-cego. Três entre oito pacientes
tratados com 200mg/dia de CBD obtiveram controle completo das crises
convulsivas, e 4 com 300mg/dia. A maioria obteve melhoria em seu estado
epiléptico, apenas um não mostrou nenhum resultado.
Outro estudo que é bastante reconhecido é o de Gaston et al. (2017), nele foi
testado a qualidade de vida dos pacientes com epilepsia refratária quando tratada
com o CBD, os estudos foram feitos em humanos com tratamento de solução oral de
CBD de 5 mg/kd/dia aumentada a cada 2 semanas de 5mg/kg até uma dose máxima
de 50 mg/kg/dia. Após 1 ano em tratamento, os sintomas que os pacientes mais
relataram foram o aumento do humor e dimuição da frequência de crises semanais,
indicativo de uma melhora na qualidade de vida.
Já a Universidade Federal de Minas Gerais desenvolveu experimentos em
organismos vivos (in vivo) e em ambientes controlados (in vitro). Uma das
conclusões que o estudo apresentou é que o canabidiol reduz a ativação das
20

chamadas células da glia, presentes no cérebro e que contribui para o


funcionamento dos neurônios (LIMA et al., 2020).

A ação do óleo de canabidiol é devida principalmente à sua atividade


em dois receptores presentes no organismo, conhecidos como CB1 e CB2.
O CB1 está localizado no cérebro e está relacionado com a regulação da
liberação de neurotransmissores e da atividade neuronal, enquanto que o
CB2 está presente nos órgãos linfoides, que é responsável pelas respostas
inflamatórias e infecciosas.
Por atuar sobre o receptor CB1, o canabidiol é capaz de evitar a atividade
neuronal excessiva, ajudando a relaxar e reduzir os sintomas associados
com a ansiedade, além de regular também a percepção de dor, a memória,
a coordenação e a capacidade cognitiva. Já ao atuar sobre o receptor CB2,
o canabidiol ajuda no processo de liberação de citocinas pelas células do
sistema imunológico, o que ajuda a diminuir a dor e a inflamação (REIS;
MANUEL, 2020, p. 1).

Como a substância química não causa dependência e não apresenta efeitos


alucinógenos, o cérebro humano acaba criando receptores preparados para atuar
com o composto, que são chamados de sistema endocanabinóide. Por se tratar de
um produto feito a base de um composto polêmico, para ter acesso a fármacos à
base de canabidiol, são necessárias prescrição e autorização médica, visto que seu
uso é totalmente restrito para aqueles em que não há como tratar a patologia de
forma habitual (REIS, 2020).
A escassez de informações sobre o mecanismo molecular terapêutico do
Canabidiol demonstra a necessidade contínua de estudos clínicos nessa área de
pesquisa, a fim de identificar alvos ainda pouco explorados para o progresso da
produção de medicamentos e aumentar a compreensão sobre os efeitos na epilepsia
refratária (ROSENBERG et al, 2017).
Portanto, é certo que mais pesquisas sobre o canabidiol devem ser realizadas
para elucidar seu mecanismo de ação no organismo humano, gerando maior
segurança na administração de uso para pacientes, cuidadores e prescritores
(ANVISA, 2016).
21

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme foi apresentado nesse trabalho, o canabidiol tem mostrado ser uma
substância de extrema importância no tratamento de doenças graves, como
epilepsia refratária, doença de Parkinson, AIDS, esclerose múltiplas, entre outras.
Como terapia alternativa para epilepsia refratária, há a necessidade do
desenvolvimento de mais estudos para transformar a substância em um
medicamento de fácil acesso para os pacientes em que os fármacos convencionais
não surtem efeito.
É presumível que um dos motivos da inibição ao acesso aos medicamentos à
base de canabidiol é devido a falta de informação correta a população sobre o
composto. Considerando que muitos não possuem a capacidade de diferenciar a
forma recreativa (fumo) da forma medicinal e acabam concluindo que por ser um
fármaco a base de um óleo extraído da maconha, pode causar dependência ao
paciente ou efeitos psicoativos. O que já foi demonstrado em vários artigos
científicos que não é real, pois o canabidiol não possui efeitos psicicoativos e nem
provoca dependência.
Para mudar esse estigma, o mecanismo de ação, a farmococinética e os
possíveis efeitos colaterais precisam de um melhor entendimento para que o
canabidiol seja aceito como terapia alternativa para a epilepsia refratária. Porém,
enquanto o preconceito social sobre a pesquisa do CBD existir, vários pacientes que
sofrem da patologia e são resistentes aos medicamentos antiepilépticos seguiram
com suas crises epilépticas sem controle.
22

REFERÊNCIAS

AMORIM, Letícia. O uso do canabidiol como forma de tratamento da epilepsia


refratária: uma revisão integrativa. Disponível em:
http://www.sistemasfacenern.com.br/repositorio/admin/acervo/0c356d3e8e2921488a
84db27bf8fdaf1.pdf. Acesso em 29 de abril de 2021.

BASILIO, Pamela; FERREIRA, Rita. A importância do uso do canabidiol em


pacientes com epilepsia. Disponível em:
http://www.ojs.toledo.br/index.php/saude/article/view/3435/566. Acesso em 29 de
abril de 2021.

CABOCLO, Luis. Epilepsias Refratárias. BOGACZ, Alice et al.Tratamento


medicamentoso das epilepsias. São Paulo: Elza Márcia Targas Yacubian; Guilca
Contreras-Cadedo; Loreto Ríos-Pohl, 2014. pp 275 – 283. Disponível em:
https://epilepsia.org.br/wp-
content/uploads/2017/05/Tratamento_Medicamentoso_das_Epilepsias-3.pdf. Acesso
em 29 de abril de 2021.

CARDOSO, Louise. Estudos sustentam o uso de canabidiol no tratamento de


doenças crônicas. Disponível em:
http://www.usp.br/aunantigo/exibir?id=6709&ed=1171&f=54. Acesso em 29 de abril
de 2021.

DAMASCENO, Vitória. Remédio liberado, cultivo proibido: como o Brasil usará


a maconha medicinal. Disponível em: https://exame.com/brasil/remedio-liberado-
cultivo-proibido-como-o-brasil-usara-maconha-medicinal/. Acesso em 29 de abril de
2021.

FRENCH, Jaqueline. Refractory Epilepsy: Clinical Overview. Disponível em:


https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1528-1167.2007.00992.x. Acesso em
29 de abril de 2021.

GURGEL, Hannah Larissa de Carvalho et al. Uso terapêutico do canabidiol: a


demanda judicial no estado de Pernambuco, Brasil. Disponível em:
https://www.scielosp.org/article/sausoc/2019.v28n3/283-295/. Acesso em 29 de abril
de 2021.

KRUSE, Marianne; SOUZA, Patrícia; TOMA, Walber. A importância do principio


ativo Canabidiol (CDB) presente na Cannabis Sativa no tratamento de
Epilepsia. Disponível em: http://www.saocamilo-sp.br/novo/eventos-
noticias/simposio/15/SCF014_15.pdf. Acesso em 29 de abril de 2021.

LIMA, Isabel et al. Pesquisa da UFMG identifica como o canabidiol pode atuar
para reduzir convulsões. Disponível em: https://ufmg.br/comunicacao/assessoria-
de-imprensa/release/pesquisa-da-ufmg-identifica-como-o-canabidiol-pode-atuar-
para-reduzir-convulsoes. Acesso em 29 de abril de 2021.
23

MARRONE, Sabine. Qualidade de vida em pacientes com epilepsia refratária ao


tratamento medicamentoso: perspectiva imediata e remota do procedimento
cirúrgico. Disponível em:
http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/1539/1/380545.pdf. Acesso em 29 de abril
de 2021.

MATOS, Rafaela et al. O Uso do Canabidiol no Tratamento da Epilepsia.


Dispoível em: http://static.sites.sbq.org.br/rvq.sbq.org.br/pdf/v9n2a24.pdf. Acesso em
29 de abril de 2021.

PEREIRA, Fernanda et al. Efeitos do canabidiol na frequência das crises


epilépticas: uma revisão sistemática. Disponível em:
https://www.revneuropsiq.com.br/rbnp/article/view/349/135.Acesso em 29 de abril de
2021.

REIS, Manuel. O óleo do canabidiol (CBD): o que é e possíveis benefícios.


Disponível em: https://www.tuasaude.com/oleo-de-canabidiol/. Acesso em 29 de abril
de 2021.

RIBEIRO, José. A Cannabis e suas aplicações terapêuticas. Porto, 2014.


Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/4828/1/PPG_20204.pdf.
Acesso em 24 out. 2020.

YOCHIMURA, Denise. Perfil terapêutico do canabidiol em epilepsias. Disponível:


http://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/26485/3/PerfilTerap%c3%aauticoCanab
idiol.pdf. Acesso em 24 out. 2020.

Você também pode gostar