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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA
MARÍLIA SOUZA MARTINS

Esse parecer tem como objetivo a medicação urgente que a parte requerente, que
sofre de epilepsia, necessita para salvaguardar o seu direito à saúde. A epilepsia se
caracteriza pela ocorrência espontânea de episódios breves ou prolongados da
atividade cerebral excessiva, em decorrência de um estado de hiperexcitabilidade
neuronal e hipersincronia. É uma doença cerebral definida por pelo menos duas
crises não provocadas que correm com um intervalo maior do que 24 horas, ou uma
crise não provocada e uma probabilidade de novas crises semelhantes ao risco de
recorrência geral( no mínimo 60%) após duas crises não provocadas, ocorrerem nos
próximos 10 anos.

O tratamento farmacológico dessa doença tem como objetivo interromper as crises


por meio da administração de fármacos anticonvulsivantes, mesmo que o
tratamento seja ineficaz em até 30% dos casos, como o do paciente TDG, que fez
uso anteriormente de Clobazam e Nitrazepam, porém os resultados não foram
satisfatórios, tendo sido suspensos. Na grande porcentagem dos casos, possuem
uma evolução benigna em relação aos tratamentos tradicionais. Porém, outra parte
dos pacientes não conseguem uma boa evolução com medicamentos habituais,
necessitando do uso de outras drogas para o controle dos sintomas da doença e
para uma melhor qualidade de vida. Por essa razão surgiram estudos que apontam
a importância e o benefício do uso do canabidiol no tratamento de síndrome
convulsivas.

Entre os canabinóides presentes na Cannabis, o que vem mostrando resultados


promissores é o canabidiol (CBD), devido à sua propriedade anticonvulsiva e
principalmente pela ausência de efeitos psicotomiméticos e menor risco de
desenvolver dependência. O canabidiol possui ação analgésica, imunossupressora,
é utilizado em tratamento de distúrbio do sono e ansiedade, pode ser relacionado a
propriedades anti-inflamatórias, no tratamento de diabetes, náuseas, isquemias e
por ter propriedades anticonvulsivantes, extratos com alto teor de CBD se mostram
eficazes no tratamento alternativo de pessoas com epilepsia refratária, onde
medicamentos convencionais não surtem efeito
Atualmente, no Brasil, o primeiro caso de paciente a tratar a epilepsia com
medicamento a base de canabidiol aconteceu em 2013, onde um casal do Estado
de Pernambuco passou a importar o canabidiol de forma ilegal como uma última
esperança no tratamento de sua filha de 5 anos. Ela sofria de um tipo grave de
epilepsia, chegando a ter 80 crises por semana e nenhum medicamento
convencional cessava suas crises convulsivas. Os pais começaram a buscar ajuda
na internet, encontrando o canabidiol como alternativa. Em 2014, o casal entrou na
justiça em busca de uma autorização para importação da substância, uma vez que a
própria é proibida no Brasil, obtendo sucesso. Os pais relataram que após o uso do
canabidiol a criança passou de 80 crises semanais para nenhuma crise e a
substância se mostrou eficaz na diminuição ou bloqueio das convulsões,
promovendo melhor qualidade de vida a criança, pois muitas delas voltam a se
alimentar normalmente sem a necessidade de sonda para sua alimentação e
ganhou forças para realizar fisioterapia.

Tendo em vista todas as características técnicas e terapêuticas da doença, fica claro


a necessidade da aprovação do tratamento com canabidiol para o referido paciente,
que atualmente sofre com aproximadamente 100 crises/mês e de difícil controle,
interferindo na sua qualidade de vida, como também na dos seus familiares.

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