DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL E SUA RELAÇÃO COM
GLAUCOMA : ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS E SUAS LIMITAÇÕES - ESTUDO
RELATO DE CASO
Natália Vitoria Macedo
Nathan Santos Alves
INTRODUÇÃO
O glaucoma é uma doença crônica
caracterizada por neuropatia óptica
degenerativa que provoca uma queda da
percepção visual, sendo no Brasil a
principal causa de amaurose, e em segundo
lugar em nível global (ANDRADE et.al
2020).
A Diabetes Mellitus (DM) e a Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS), também são
consideradas doenças crônicas não
transmissível (DCNT), sendo
desencadeadas por fatores genéticos,
epigenéticos, ambientais e sociais
(ANDRADE et.al 2020; BARROSO et.al
2020).
Estudos realizados demonstraram que os
pacientes diabéticos e/ou hipertensos estão
propícios a desenvolver glaucoma. Uma
pesquisa realizada em Patos, Paraíba (PB),
utilizou o PIO (exame que mede a pressão
intraocular), como parâmetro para análise
comparativa entre as pessoas acometidas
com diabetes e hipertensão, ambas
descompensadas. Esse exame indicou
aumento significativo em relação à
hipertensão ocular mostrando que se não
houver um controle dessas doenças o
paciente fica mais suscetível ao
desenvolvimento do glaucoma
(MENEZES et.al 2020).
O controle dos níveis pressóricos e
glicêmicos, apresentam um impacto
significativo nos termos de mortalidade,
incapacidade e agravamento de doenças
pré-existentes. Sendo assim, é necessário
o monitoramento, a realização de exames
laboratoriais, avaliação terapêutica e
execução de atividades físicas no controle
da HAS e DM (BRASIL, 2015).
O presente caso tem o objetivo de ilustrar
a associação entre a diabetes e hipertensão
com a gênese do glaucoma, suas
estratégias terapêuticas e limitações.
CASO CLÍNICO
Identificação
A.S, 84 anos, Sexo Masculino, Solteiro, ex
motorista de onibus.
Queixa Principal
Dores nos membros superiores e inferiores
no período da manhã.
História Pregressa Da Moléstia Atual
Paciente deu entrada no Abrigo Nosso Lar
em 2019, diagnosticado com Hepatite C,
glaucoma e relata disúria urinária e
queixa-se de dores na próstata. Diante ao
quadro clínico apresentado, em 2019 foi
receitado o uso de Solução Oftálmica
Tartarato De Brimonidina 0,5% e colírio
de Bimatoprosta 0,03%, o tratamento não
foi continuado. Subsequente, em 2020 o
paciente realizou avaliação médica,
relatando alteração em todos os exames,
mostrando que o paciente estava pré
diabético e que evoluiu para diabetes.
Além disso, os exames para hepatite
também emitiram alterações, confirmando
a Hepatite C crônica, também foi
identificado a presença do vírus
linfotrópico humano tipo 1 (HTLV I), e
realizado o diagnóstico para sífilis. No
mesmo período, foi efetuado o tratamento
para a sífilis com 3 doses de penicilina, e
também relatado desconforto na próstata e
disúria (dor) ao urinar.
Posteriormente, em 2021 foram realizados
exames de sangue e elastografia hepática,
em que o médico informou lapso da
Hepatite C. Após 1 mês, foi efetuado o
retorno ao médico, para a realização da
consulta, no mesmo dia foi receitado
amitriptilina 25 mg (1 comprimido/noite) e
entregue os resultados do exame para
hepatite C, e o quantitativo de RNA e
HCV, alegando vírus não detectável. No
mesmo ano o paciente foi tratado da
infecção urinária com Fosfomicina, nessa
época ele apresentou simbilus que são
sugestivos de asma onde fez uso de aerolin
100 mg/dia 2 jatos de 12/12 horas.
No início de 2022 o paciente apresenta
glicemia descontrolada, em jejum 200
mg/dL e pós-desjejum 250 mg/dL,
apresenta também emergência miccional
(incontinência urinária), provavelmente
por conta do descontrole da glicemia. O
paciente foi encaminhado ao médico, no
qual, o mesmo receitou Azukon 30 mg
para tratar a diabetes. No mesmo ano, o
paciente inicia o tratamento para as dores
na próstata, com ozonioterapia retal,
auricular e subcutânea. Em 03/22 o
paciente queixou de dores nos membros
inferiores e superiores e disforia (não
conseguia falar), médico recomendou
consulta com endocrinologista, devido aos
níveis glicêmicos elevados, e receitou
paracetamol 500 mg 6/6 horas para as
dores, e aumento do consumo de água,
assim como controle na alimentação. Em
05/22 paciente queixou-se de sedação e
novamente de incontinência urinária.
Devido aos sintomas apresentados, em
06/22 o paciente foi encaminhado ao
urologista, que prescreve Tansulosina 0,4
mg (1 comprimido ao dia), e feita a
solicitação da PSA total e livre para
identificar existência de câncer (não
tivemos acesso a esse exame). No dia 20
de setembro de 2022 o horário do Azukon
foi alterado de 2 comprimidos às 7 horas
da manhã e 1 a noite, para 2 comprimidos
às 6 da manhã e um à noite.
Interrogatório Sintomatológico
O paciente relatou desconforto na boca por
conta da prótese dentária realizada a pouco
tempo e diz ter dores nos membros
inferiores no período da manhã nas últimas
semanas.
Antecedentes Pessoais
Paciente diabético, em tratamento com
antidiabéticos orais, porém sua glicemia
não está controlada. Detectado juntamente
com hipertensão arterial, também
descompensada. Foi diagnosticado com
sífilis e Hepatite C crônica, das quais o
médico relatou que o paciente já está
curado. Além de apresentar glaucoma, em
que o paciente não utiliza nenhum
medicamento para o controle da patologia.
Hábitos
Ex-tabagista, negava uso de drogas ilícitas
e fazia uso de bebida alcoólica.
Medicamentos em uso
Contínuo clonazepam + mirtazapina, aumentam a
Mirtazapina 15 mg/ 1CP a noite sedação.
Amitriptilina 25 mg/ 1CP ao dia risperidona + amitriptilina, aumentam a
Risperidona 1 mg e meio/ noite sedação.
AAS 100 mg/ 1CP após o almoço risperidona + mirtazapina, aumentam a
Lacrifilm colírio/ 3x ao dia sedação.
Complexo B1/ 1 CP ao dia amitriptilina + mirtazapina, aumentam a
Maleato de enalapril 10 mg/ 1CP 12/12 hrs sedação.
Azukon 30 mg/ 2 CP pré-prandial mirtazapina + risperidona, aumentam o
Azukon 30 mg/ 1 CP antes do jantar intervalo QTc.
Tansulosina 0,4 mg/ 1 CP ao dia
Parâmetros Clínicos
Se necessário Pressão arterial (Sentado): 140 x 80
Clonazepam 2 mg/ 10 gotas mmHg, Glicemia capilar (pós-prandial):
Dipirona 500 mg/1CP 8/8 hrs 221 mg/dL.
Salbutamol 100 mg/ inalatório 2 jatos
Soro Fisiológico 0,9%/ 3x ao dia Evolução
Nebulização Não houve tempo o suficiente para
acompanhar o paciente de forma que possa
Interações medicamentosas ver resultados. Tivemos contato com o
paciente uma vez, onde foi feita a aferição
Risco elevado de pressão e glicemia capilar e foi possível
mirtazapina + amitriptilina. O uso dessas observar que mesmo com os
medicações em conjunto, apresenta medicamentos os valores estavam
interação de risco elevado, devido ao alterados.
aumento do intervalo QTc, que ocorre
quando o tempo de duração da ativação DISCUSSÃO
atrial e o retardo fisiológico na junção Metas agressivas de controle pressórico e
atrioventricular coração entre os glicêmico são recomendadas em pacientes
batimentos se prolonga. Isso, ocasiona o com algum tipo de retinopatia. A Diabetes
início da TdP, um ritmo cardíaco anormal Mellitus é reconhecidamente com o fator
e potencialmente fatal. Sendo assim, é de risco mais importante sobre a
necessário substituir as drogas (MILITÃO, progressão de lesões oculares, em
2018). populações acometidas com glaucoma ou
não. Assim como, a Hipertensão Arterial,
Monitoramento que é uma doença altamente prevalente,
amitriptilina + mirtazapina, aumentam os em pessoas idosas e que, devido a
níveis de serotonina. elevação da pressão arterial sanguínea, e o
amitriptilina + risperidona, aumentam o curso multissistêmico, afeta a
intervalo QTc. microvasculatura de diversos órgãos-alvo,
clonazepam + risperidona, aumentam a entre eles, o olho. Dessa forma, o
sedação. tratamento anti-hipertensivo e
clonazepam + amitriptilina, aumentam a anti-diabético visa a diminuição do
sedação. aparecimento de complicações causadas
pelas DCNT, além de reduzir problemas
oculares (MENEZES et.al 2020).
De acordo a Diretriz Oficial da Sociedade
Brasileira de Diabetes 2022, os valores de
referência para o controle da diabetes,
deve constar glicemia média diária de
aproximadamente 154 mg/dL, variando de
122 a 184 mg/dl,1 (PITITTO, et. al, 2021).
Segundo o Ministério da Saúde, os níveis
pressóricos sistólicos ≥ 140 mmHg e/ou
diastólicos ≥ 90 mmHg, constante, sem
sinais de lesão aguda de órgão-alvo e com
quadro clínico estável, indica o controle da
HAS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021).
Estudos mostram que a maioria dos
pacientes que possuem glaucoma não
costumam realizar o tratamento
corretamente, seja por conta de
esquecimento, ou até mesmo por não ter os
colírios disponíveis em farmácia públicas.
Esses fatores acabam levando ao abandono
ou não adesão ao tratamento (BUSCÁCIO,
2011).
Sendo assim, pacientes com glaucoma,
acometidos por DM tipo II e HAS,
precisam manter uma terapia correta e
ideal para o controle da pressão intraocular
e consequentemente o glaucoma. Assim
como manter os níveis glicêmicos e
pressóricos sob controle, pois como foi
visto ao longo do artigo a Diabetes
Mellitus e Hipertensão Arterial Sistêmica
exercem de forma influente no surgimento
e descontrole do glaucoma.
CONCLUSÃO
A diabetes Mellitus e a Hipertensão
Arterial são reconhecidas como fatores de
risco mais importantes sobre a progressão
da lesão intraocular ou glaucoma, podendo
evoluir para cegueira. Tendo isso, é
importante que se trace uma meta para o
controle glicêmico que deve ser 80-130
mg/dL em jejum, conforme a Diretriz
Oficial da Sociedade Brasileira de
Diabetes. Assim como também se faz
necessário traçar uma meta para o controle
da hipertensão sendo mantida a menos de
140/90 mmHg.
No caso apresentado, em 2019 foi
receitado pelo médico o uso de Tartarato
De Brimonidina 0,5% e Bimatoprosta
0,03%, porém o mesmo não deu
prosseguimento ao tratamento, por
motivos até então não identificáveis. Dessa
forma, é necessário que se dê continuidade
a terapia proposta, para a melhora do
quadro clínico em que o paciente se
encontra. Outrossim, a solicitação de
exame de fundo de olho torna-se
indispensável, para triar pacientes com
danos nos órgãos-alvo, pois este é um dos
meio mais preciso, barato e de fácil
aplicabilidade.
Além da implementação do tratamento
contínuo para o glaucoma, o caso
apresentou a necessidade da suspensão da
Amitriptilina 25 mg, para diminuir os
riscos de infarto do miocárdio.
Também foi analisado que o Maleato de
Enalapril 10 mg interage com o ASS,
reduzindo a eficácia do Enalapril. Sendo
imprescindível, o encaminhamento ao
médico para a realização da substituição
do mesmo.
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