OFTÁLMICO
Informativo de: JAN.2021
CERATOMICOSE
O termo ceratomicose se refere à infecção fúngica da córnea. Dentre as
espécies animais, os cavalos são os mais suscetíveis à doença,
principalmente em virtude de alguns fatores específicos, como: 1) Alta
prevalência de organismos fúngicos na conjuntiva e córnea
(normalmente presentes em animais hígidos em simbiose com
bactérias); 2) Frequente entrada na superfície ocular de corpos estranhos
(matéria vegetal e solo) contendo fungos; 3) Extensa área de superfície
de córnea, com baixa temperatura. Os animais afetados tipicamente
apresentam secreção, blefaroespasmos e lesões corneanas que incluem:
microerosões, focos de opacificação, vascularização e formação de placa
ou abscessos de estroma (ulcerados ou não). Em muitos casos, a doença
pode evoluir para uma uveíte grave, formação de malácia e até
perfuração corneana. O tratamento desta condição é longo e muitas
vezes requer intervenções cirúrgicas, além do próprio tratamento
medicamentoso.
VORICONAZOL
O voriconazol é um derivado moderno do fluconazol, com espectro de
ação ampliado, sendo particularmente útil para tratar infecções oculares
fúngicas invasivas (ou seja, candidíase, aspergilose) (Kaur et al., 2008). A
administração tópica de voriconazol em concentrações de 0,5%, 1% ou
(no máximo) 3% a cada 4 horas já demostraram resultar em
concentrações terapêuticas no humor aquoso, sem sinais de irritação
ocular em cavalos (Clode et al., 2006). A concentração mais amplamente
empregada na oftalmologia veterinária é a de 1%. A avaliação da
atividade in vitro de voriconazol contra organismos fúngicos
filamentosos e leveduras, isolados de casos de ceratomicose equina,
confirmam sua maior efetividade em relação à dos outros derivados
azólicos (Lalitha et al., 2007; Ozdemir et al., 2012). Aspergillus sp.,
Fusarium sp., Cylindrocarpon sp., Curvularia sp., Penicillium sp.,
Cystodendron sp., leveduras e bolores são agentes conhecidos da
ceratomicose ulcerativa e não ulcerativa em cavalos. Além disso, outro
patógeno fúngico, Mortierella wolfii, isolado do solo, silagem podre e de
substratos semelhantes também já foi recentemente descrita como
causa desta grave doença corneana. Fusarium sp. e Aspergillus sp., por
exemplo, são significativamente mais suscetíveis ao voriconazol do que
a qualquer outro derivado azólico, e apenas a natamicina superou o
voriconazol na eficácia específica contra alguns isolados de Fusarium
sp. (Pearce et al., 2009). A eficácia clínica do uso tópico do voriconazol
também já foi relatada nas ceratomicoses que acometem (mais
raramente) pequenos animais, como cães (Grudnon et al., 2010) e gatos
(Labelle et al., 2009).
INDICAÇÕES:
Infecções fúngicas do bulbo e anexos oculares em animais.
Particularmente indicada para ceratomicose equina.
RECOMENDAÇÕES DE USO:
Administração tópica de voriconazol em concentrações de 0,5% a 1% a
cada 4 horas ou de acordo com orientações do médico veterinário.
SUGESTÕES DE FÓRMULAS:
1- Colírio de Voriconazol
Voriconazol 0,5% - 1%
Veículo qsp (colírio) 10 ml
Ceratomicoses em equinos, cães e gatos ou infecções fúngicas em
outras regiões do bulbo e anexos oculares.
Pingar 1 a 2 gotas 6 vezes ao dia ou conforme indicação do
médico veterinário.
2- Gel oftálmico de Voriconazol
Voriconazol 1%
Gel oftálmico qsp 10 g
Ceratomicoses em equinos, cães e gatos ou infecções fúngicas em
outras regiões do bulbo e anexos oculares.
Aplicar fina camada 6 vezes ao dia ou conforme indicação do
médico veterinário.
3- Pomada oftálmica de Voriconazol
Voriconazol 1%
Pomada oftálmica qsp 10 g
Ceratomicoses em equinos, cães e gatos ou infecções fúngicas em
outras regiões do bulbo e anexos oculares.
Aplicar fina camada 6 vezes ao dia ou conforme indicação do
médico veterinário.
REFERÊNCIAS
Clode, A., Davis, J., Salmon, J., et al. (2006) Evaluation of concentration of voriconazole in
aqueous humor after topical and oral administration in horses. American Journal of
Veterinary Research, 67, 296–301.
Grudnon, R., O’Reilly, A., Muhlnickel, C., et al. (2010) Keratomycosis in a dog treated with
topical 1% voriconazole solution. Veterinary Ophthalmology, 13, 331–335.
Herbrecht, R., Nivoix, Y., Fohrer, C., et al. (2005) Management of systemic fungal infections:
alternatives to itraconazole. The Journal of Antimicrobial Chemotherapy, 56, i39–i48.
Kaur, I., Rana, C. & Singh, H. (2008) Development of effective ocular preparations of
antifungal agents. Journal of Ocular Pharmacology and Therapeutics, 24, 481–493.
Labelle, A., Hamor, R., Barger, A., et al. (2009) Aspergillus flavus keratomycosis in a cat
treated with topical 1% voriconazole solution. Veterinary Ophthalmology, 12, 48–52.
Lalitha, P., Shapiro, B., Srinivasan, M., et al. (2007) Antimicrobial susceptibility of fusarium,
Aspergillus, and other filamentous fungi isolated from keratitis. Archives of Ophthalmology,
125, 789–793.
Ozdemir, H., Oz, Y., Ilkit, M., et al. (2012) Antifungal susceptibility of ocular fungal pathogens
recovered from around the world against itraconazole, voriconazole, amphotericin B, and
caspofungin. Medical Mycology, 50(2), 130–135.
Pearce, J., Giuliano, E. & Moore, C. (2009) In vitro susceptibility patterns of Aspergillus and
Fusarium species isolated from equine ulcerative keratomycosis cases in the midwestern
and southern United States with inclusion of the new antifungal agent voriconazole.
Veterinary Ophthalmology, 12, 318–324.