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Lacan, um equivalente do sexo feminino como R.S.I. (Real, Simbólico, Imaginário) ao tríptico
coisa real, impossível de simbolizar. Em segui- em que o real é assimilado a um “resto” impos-
da encontramos seu vestígio na concepção la- sível de transmitir, e que escapa à matematiza-
caniana da sexualidade feminina*: Lacan faz ção.
desta um “suplemento” e lhe atribui um gozo*
• Jacques Lacan, “Para-além do ‘Princípio de reali-
que escapa à racionalidade. dade’” (1936), in Escritos (Paris, 1966), Rio de Janeiro,
Em 1955-1956, no âmbito de sua leitura da Jorge Zahar, 1998, 77-95; “Le Symbolique, l’Imaginaire
história de Daniel Paul Schreber* e de sua et le Réel” (1953), Bulletin de l’Association Freudienne,
concepção de uma clínica da psicose centrada 1, 1982, 4-13; O Seminário, livro 2, O eu na teoria de
Freud e na técnica da psicanálise (1954-1955) (Paris,
na paranóia*, Lacan elaborou dois conceitos: a 1978), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1985; O Seminário,
foraclusão* e o nome-do-pai*. A primeira foi livro 3, As psicoses (1955-1956) (Paris, 1981), Rio de
definida como o mecanismo específico da psi- Janeiro, Jorge Zahar, 1988, 2ª ed.; O Seminário, livro
cose, diferente do recalque*, e que consiste 4, A relação de objeto e as estruturas freudianas (1956-
1957) (Paris, 1994), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1995;
numa rejeição primordial de um significante Le Séminaire, livre XXII, R.S.I. (1974-1975), inédito •
fundamental para fora do universo simbólico do Émile Meyerson, La Déduction relativiste, Paris, Payot,
sujeito. Quanto ao segundo, ele é o conceito da 1925 • Georges Bataille, “La Structure psychologique
função paterna, o significante fundamental, jus- du fascisme” (1933-1934), in La Critique sociale,
reimpressão, Paris, La Différence, 1985, 159-65 e 205-
tamente aquele que fica foracluído na psicose. 11; “La Valeur d’usage de D.A.F. de Sade (1) et (2)”, in
A partir dessa nova organização da estrutura Oeuvres complètes II. Écrits posthumes, 1922-1940,
do sujeito, tal como aparece na clínica da psi- Paris, Gallimard, 1970, 57-73; “Dossier ‘Hétérologie’”,
cose, o conceito de real adquiriu uma outra ibid., 167-78 • Jean-Claude Milner, Les Noms indis-
tincts, Paris, Seuil, 1983; A obra clara. Lacan, a ciência,
dimensão. Tornou-se então o lugar da loucura. a filosofia (Paris, 1995), Rio de Janeiro, Jorge Zahar,
Com efeito, se os significantes foracluídos do 1997 • François Roustang, Lacan, de l’équivoque à
simbólico retornam no real, sem serem integra- l’impasse, Paris, Minuit, 1986 • Élisabeth Roudinesco,
dos no inconsciente do sujeito*, isso quer dizer Jacques Lacan. Esboço de uma vida, história de um
sistema de pensamento (Paris, 1993), S. Paulo,
que o real se confunde com um “alhures” do
Companhia das Letras, 1994; “Bataille entre Freud et
sujeito. Fala e se exprime em seu lugar através Lacan: une expérience cachée”, in Denis Hollier (org.),
de gestos, alucinações ou delírios, os quais ele Georges Bataille après tout, Paris, Belin, 1995, 191-
não controla. 212 • Claude Lévesque, Le Proche et le lointain, Mon-
treal, Vlb Éditeur, 1994.
A importância atribuída à psicose como pa-
radigma do psiquismo humano estaria sempre ➢ ESTÁDIO DO ESPELHO; OBJETO (PEQUENO) a;
ligada, em Lacan, à questão da ciência. Aí en- OUTRO; TÉCNICA PSICANALÍTICA.
contramos duas filiações (a ciência do real e a
heterologia) a que ele sempre recorreu (sem
dizê-lo claramente) e às quais acrescentou a realidade psíquica
referência à realidade psíquica. al. psychische Realität; esp. realidad psíquica; fr.
A partir de 1970, o interesse cada vez maior réalité psychique; ing. psychical reality
pela ciência levou Lacan a tentar formalizar sua Termo empregado em psicanálise* para de-
própria visão conceitual: de um lado, uma ma- signar uma forma de existência do sujeito* que
thesis dos discursos (ou matema*), e de outro, se distingue da realidade material, na medida
uma topologia (o nó borromeano*) destinada a em que é dominada pelo império da fantasia* e
substituir a antiga tópica. Essa vontade de cons- do desejo*. Historicamente, a idéia nasceu do
truir uma ciência do real traduziu-se, então, abandono da teoria da sedução* por Sigmund
numa reorganização dos elementos da antiga Freud* e da elaboração de uma concepção do
tópica na qual o lugar determinante foi ocupado aparelho psíquico baseada no primado do in-
não mais pelo simbólico, mas pelo real. Como consciente*.
conseqüência disso, a psicose (forma teorizada Na história da clínica psicanalítica, a noção
da loucura e lugar da simbolização impossível) de realidade psíquica foi objeto de diversas
viu ser-lhe imposta a tarefa de questionar todas reinterpretações (em especial por Melanie
as certezas da ciência. Lacan deu o nome de Klein* e Jacques Lacan*), as quais, na aborda-