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Empresas Estatais/Públicas de Moçambique: perspectiva

objectiva e subjectiva, Outubro de 2021.


Autor: Tavares Adelino Colher

Resumo
As Empresas Estatais/Públicas de Moçambique vista na perspectiva objectiva e subjectiva aquando da intervenção do
Estado no Sector Empresarial, desde então, foi um tema de debate entre diferentes actores dentre eles, Governo,
Sociedade, Académicos/Investigadores, entre outros. Duas correntes - se destacaram para análise da gestão na
economia moçambicana, ou seja, uma que defendem a forte participação do Estado no sector produtivo/empresarial
(economia socialista), outra que defendem a pouca ou até restrita intervenção Estatal no sector (economia capitalista.
Moçambique é um dos poucos exemplos no mundo que teve a experiência de passar por esses dois tipos de sistemas
económicos. Nesse contexto por meio de pesquisa bibliográfica e análise documental, o presente artigo teve como
objectivo principal, analisar Empresas Estatais/Públicas de Moçambique no sector empresarial durante os períodos
socialista e capitalista, que o país foi sujeito na actuação empresarial. As considerações finais da pesquisa
demonstraram que na fase da economia socialista, isto é, pós-independência, a intervenção do Estatal era linha recta
e pouco eficiente e ao longo do tempo, devido crises e falhas da estratégia política adoptada, diferentes reformas
foram sendo realizadas, com vista a torná-la mais eficiente, obrigado a introdução de reformas jurídicas das normas e
consequentemente redução da actuação e participação do Estatal na actividade económica, cabendo a missão de
regulador e ficou apenas nas áreas-chave da economia.

Palavras-chave: Modelo Socialista; Capitalista; Empresa Estatal; Empresa Pública; Sector Empresarial.

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Summary
The State/Public Companies of Mozambique seen from an objective and subjective perspective when the State
intervenes in the Business Sector, since then, it has been a topic of debate between different actors, including
Government, Society, Academics/Researchers, among others. Two currents - stood out for the analysis of
management in the Mozambican economy, that is, one that defends the strong participation of the State in the
productive/business sector (socialist economy), another that defends little or even restricted State intervention in the
sector (capitalist economy. Mozambique is one of the few examples in the world that has had the experience of going
through these two types of economic systems. In this context, through bibliographical research and documental
analysis, this article had as its main objective, to analyze Mozambican State/Public Companies in the sector
entrepreneurship during the socialist and capitalist periods, which the country was subject to in the entrepreneurial
activity. The final considerations of the research demonstrated that in the phase of the socialist economy, that is,
post-independence, the intervention of the State was a straight line and inefficient and throughout over time, due to
crises and failures in the adopted political strategy, different reforms were carried out, with a view to make it more
efficient, thanks to the introduction of legal reforms to the norms and, consequently, reduction of the State's action
and participation in economic activity, with the role of regulator and remained only in the key areas of the economy.

Keywords: Socialist Model; Capitalist; State company; company Public; Business Sector.

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1. Introdução
O exercício de actividades económicas por meio de entes privados por parte da Administração Pública pode
inicialmente conduzir à ideia de que o Estado, quando o faz, assume um carácter negocial, concorrendo
com o mercado nas actividades que realiza. O Estado divide entes da Administração Indirecta em quatro
espécies: Empresas Públicas, Autarquias, Fundações Públicas, e Sociedades de Economia Mista.

O presente ensaio de artigo científico irá debruçar-se em torno da Administração indirecta na espécie
“Empresas Estatais/Públicas de Moçambique: na perspectiva objectiva e subjectiva”, sob prisma do seu
regime jurídico, forma de contribuição na economia para satisfação do interesse público enquanto ente
privado de prestadores de serviços e disponibilização de bens ou produtos no mercado nacional.

O tema em referência constituirá de alicerce para o Sector Empresarial Estado (SEE), o Governo,
Académicos e bem como para Sociedade no cômputo geral compreender a relevância do tecido
empresarial em Moçambique conduzido pelo Estado desde da era pós-independência até aos nossos dias.

O artigo analisa igualmente a transição das correntes económicas pós-independência e entrada em


vigor da Constituição da República de Moçambique de 1990 no concernente a participação do Estado
no Sector Empresarial, isto é, análise do modelo político Socialista e do Capitalista, em especial para
uma economia fortemente dependente de recursos financeiros externos.

O autor recorreu a pesquisa quanto aos objectivos como exploratória por que ela assume um carácter de
pesquisa bibliográfica, proporcionando assim maior conhecimento sobre o assunto, facilitando desta forma
a delimitação do tema. Quanto a abordagem do problema, a pesquisa é qualitativa. Os procedimentos
técnicos, o artigo auxiliou-se de pesquisa documental, fruto das informações obtidas por meio de
leitura de manuais físicos e de internet, documentos oficiais.

Este artigo irá contribuir no campo científico para despertar a atenção da necessidade do Estado criar
políticas inovadoras e criativas para as Empresas Públicas no novo contexto de governação corporativa.

O artigo, apresenta a seguinte estrutura: (i) introdução que contextualiza o tema, (ii) Marco teórico de
alguns conceitos chaves e (iii) por fim considerações finais de índole científico para melhoria do SEE em
Moçambique a nível interno ou externo.

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2. Marco teórico

2.1 Empresas Estatais/Públicas de Moçambique: Perspectiva Objectiva e


Subjectiva.
2.1.1 Contextualização das correntes na economia do Estado Moçambicano

A intervenção e participação do Estado no Sector Empresarial e no mundo em geral sempre foi tema
de debate de diferentes teóricos e pesquisadores desta área, onde o artigo apresenta 2 (duas)
correntes, cujo Estado moçambicano foi sujeito, nomeadamente:

 1ª Corrente - defendia a plena participação do Estado no sector produtivo; e


 2ª Corrente - defendia a mínima ou inexistência da presença do Estado no sector produto.

2.1.1.1 Estado Moçambicano na política Socialista

De acordo com (Moçambique, 1975a), (Moçambique, 1975b), (Castel-Branco, 1995); (Carvalho, 2008);
Mazzeo, 2015), visava:

i. eliminar grande parte do parque industrial, empresarial e imobiliário que estivesse ao longo do
todo país e instituir a nacionalização com vista a não causar as injustiças e desigualdades
sociais, o consumismo exacerbado, o individualismo;

ii. eliminar as estruturas de opressão e exploração coloniais, tradicionais e da mentalidade


subjacentes, bem como a consolidação de uma economia independente;

iii. reduzir à porção de empresas sob gestão privada, isto é, não actuação em actividade
estratégica para o desenvolvimento do país e bem como não retirada de altos rendimentos e
pagamento de tributos de forma progressiva;

iv. organizar o sector produtivo com vista a garantir a direcção centralizada da economia,
promovendo desta forma a gestão de forma planificada.

2.1.1.2 Estado moçambicano na política Capitalista

De acordo com a Constituição da República de Moçambique de 1990, a função do Estado nesta era,
passou a ser:

i. promover, coordenar e fiscalizara actividade económica directa ou indirectamente para a


solução dos problemas fundamentais do povo e bem como para redução das desigualdades
sociais e regionais, permitindo também a participação do sector privado com o direito à
propriedade de meios de produção;

ii. introduzir novo modelo económico, baseado nos ideais neoliberais( mas não a extinção da
participação do Estado no sector produtivo ), mas sim a sua reestruturação;

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iii. mudança na forma de designação das Empresas Estatais- E.E, passando a serem consideradas
como Empresas Públicas-E.P;

iv. criar o 1ᵒ Gabinete de Gestão das Participações do Estado (GAGEPE), com intuito de
reestruturar o Sector Empresarial do Estado (SEE), e bem como coordenar acções de
privatização, fusão e extinção de Empresas Públicas que - se demonstrassem ineficientes.

2.1.1.3 Corrente da plena participação do Estado no sector produtivo

O Estado nesta era da corrente Socialista foi vista como um dos elementos principais para a construção da
base material, política e ideológica bem como para a edificação da sociedade com intuito de prosseguir a
economia planificada que visava a satisfação das necessidades básicas do povo (Moçambique, 1981).

Para Cramer, Castel-Branco e Hailu (2001), as reformas implantadas pelo Governo, incidiram em
políticas neoliberais, efectivadas em parte, a despeito da realidade e necessidades de cada local,
originando pressão e imposição, tais como:

1. pressão e imposição interna: as elites detentoras de capital (comerciantes), especuladores e


oficiais de alta patente no exército, sindicatos (que estavam convencidos que as privatizações
trariam novos investimentos e com isto maior segurança e expansão de negócios), o Governo
(que estava interessado em arrecadar fundos no curto prazo através de venda dos seus
activos);

2. pressão e imposição externa: credores e doadores em forma de condicionalidade para a


liberalização, desregulamentação e política fiscal e monetária geral visando à redução do papel
do Estado na economia e aumentar o peso do sector privado.

2.1.1.4 Corrente de mínima ou inexistência da presença do Estado no sector produto

Esta corrente defende a mínima ou até mesmo a não participação do Estado no sector produtivo tendo
como base o Capitalismo, o qual Moçambique aderiu nos finais e início década 80 e 90,
respectivamente.

O Capitalismo é um sistema económico que defende a propriedade privada dos meios de produção,
visando o lucro, acumulação de capital e o trabalho assalariado, Yotamo & Mahachi (2021, p.62),
citando (Jenks, 1998; Rosser & Rosser, 2003; Hyman & Baptist, 2014).

Essa perspectiva, dita que Estado devem actuar nas questões económicas e produtivas como mero
moderador com vista a evitar o abuso dos agentes económicos perante a sociedade, tendo em vista
que Estado não é eficiente na gestão dos meios de produção.

Adam Smith, Milton Friedman e David Ricardo citados por Yotamo & Mahachi (2021, p.62), vêem essa
corrente como benéfica para a economia de um Estado, visto que ela se consubstancia como incentivo
à concorrência, por meio de melhores práticas produtivas e inovadoras, garantindo o desenvolvimento
técnico e tecnológico e consequente eficiência nos custos de produção, podendo registar uma redução

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no preço final ao consumidor e garante a livre escolha por parte dos consumidores em decorrência de
maior oferta dos produtos.

2.2 Fase de transição das Empresas Estatais/Públicas


2.2.1 No período imediatamente a seguir à independência

O Estado adoptou a política de centralização da economia moçambicana e consequente estabelecimento


do processo de nacionalização, no qual, grande parte do parque industrial, empresarial e imobiliário passou
a fazer parte da gestão directa ou indirecta do Estado, (Moçambique, 1975b).

O Estado e as Empresas Estatais neste período enfrentaram inúmeras dificuldades macroeconómicas,


movidas por seguintes factores internos e externos: guerra civil entre a (FRELIMO e RENAMO) que
paralisou grande parte da produção industrial e agrícola; diminuição das exportações e registado o
aumento da dívida externa; diminuição do Produto Interno Bruto (PNB), entre outros factores (Yotamo &
Mahachi, 2021).

Redução da capacidade intelectual e profissional para fazer face as necessidades pontuais do sector
industrial, isto é, dos equipamentos (maquinarias) deixadas pelo colono aquando das nacionalização.

Meque (2013), realça que os factores externos e interno levaram o país a uma crise sem precedentes e foi
nesta senda que procurou-se encontrar alternativa junto as instituições de Bretton Woods (Fundo
Monetário Internacional e Banco Mundial), isto é, em 1987, com intuito de introduzir reformas económicas
que visava colmatar a crise e consequente restabelecer os equilíbrios macroeconómicos e restaurar um
ambiente socioeconómico, revertendo as tendências de crescimento negativas que se registava, que
culminou com a retirada do Estado na actividade produtiva através da privatização das Empresas Estatais
ou intervencionadas, (Muchanga, 2005).

Destas políticas, destacam-se os seguintes programas:

1. Programa de Reabilitação Económica (PRE); e mais tarde


2. Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES) que passou a integrar a componente social.

2.2.2 Período pós Constituição da República de 1990

Por força da aplicação do Programa de Reabilitação Económica e Social, o governo, viu se necessário alterar
o regime jurídico das Empresas Estatais dado estar ultrapassado, pois, defendia-se a introdução de novos
mecanismos jurídicos e de gestão no sentido de garantir uma maior eficiência e rentabilidade do Sector
Empresarial Público, para além de uma profunda alteração na gestão das empresas dotadas de capital do
Estado para salvaguardar a prossecução do interesse público e bem como a obtenção do lucro com vista a
dar contributo no Orçamento de Estado por via do Tesouro.

2.2.3 Reformas registadas na transição/transformação

De acordo com (Moçambique, 1991) & (Moçambique, 2006), a transição dessas empresas deveu-se a:

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 mecanismo de acompanhamento e intervenção do governo na actividade das Empresas Públicas e
de assegurar meios eficientes e adequados de gestão;

 Concentrar competências de poderes ao Ministro responsável pela tutela sectorial e no Ministro


que superintende a área das Finanças, no âmbito de acompanhamento, fiscalização e intervenção
na actividade de Empresas Públicas;

 Controlar a gestão patrimonial, económica e financeira das Empresas Públicas e com a prevenção
do risco fiscal;

 mecanismos e instrumentos para assegurar a gestão equilibrada das Empresas Públicas, como é o
caso do novo instrumento de planificação, execução e controlo da política sectorial do Governo (o
Contrato Programa), fixando prazos da execução e alcance dos objectivos;

 ao controlo financeiro as Empresas Públicas, que compreende a análise da sua sustentabilidade


económica e financeira e a avaliação da legalidade, economicidade, eficiência e eficiência da
respectiva gestão, devendo adoptar os procedimentos de controlo interno e auditoria adequados
para prevenção do risco fiscal;

 a prestação de conta de informação de controlo de gestão, a ser efectivada mensalmente a


entidade que exerce a tutela financeira, este caso o Ministério que superentende a área das
Finanças;

 atrair investimentos privados nacionais e estrangeiros que permitam recapitalizar as empresas,


reabilitando-as ou ampliando as suas capacidades de produção de serviços e implementação de
novas infra-estruturas de serviços, abrindo acesso a novos mercados;

 gerar receitas para o Estado;

 ampliar o acesso dos cidadãos e dos trabalhadores em participar a titularidade de participações


sociais nas empresas, entre outras.

2.3 Conceito de Empresas Estatais


Segundo Moçambique (1981), no seu artigo 1, “define Empresas Estatais como unidades socioeconómicas,
propriedade do Estado que as cria, dirige e afecta os recursos materiais, financeiros e humanos adequados
à aplicação do seu processo de reprodução no cumprimento do plano, no sentido de consolidar e aumentar
um sector estatal que domine e determine a economia nacional” (…). “As Empresas Estatais realizam a sua
actividade no quadro do cumprimento do plano”.

2.3.1 Objectivo das Empresas Estatais

De a cordo com (Moçambique, 1981), as Empresas Estatais, definia como objectivos principais, adopção de
políticas sociais viradas para a satisfação das necessidades de todos no contexto do socialismo ,
perspectivando o seguinte:

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a) impulsionar o desenvolvimento da economia nacional, assumindo a responsabilidade prioritária de
materializar os objectivos definidos pelo Estado para cada um dos sectores ou ramos de actividade,
à luz das orientações do Partido FRELIMO;

b) afectar os recursos materiais, financeiros e humanos adequados a aplicação do seu processo de


reprodução no cumprimento do plano;

c) controlar diferentes empresas actuantes em diferentes ramos produtivos, tais como: ramo de
transportes, agrícola, de comunicações, Financeiro, comercial, industrial; entre outros da
economia.

2.3.2 Regime Jurídico

Empresas Estatais são de âmbito nacional ou de âmbito local e são criadas por Decreto do Conselho de
Ministros que define o Órgão Central do aparelho de Estado a que se subordinam e gozam de
personalidade e capacidade jurídica a luz da lei qua cria (Lei nº 2/81, de 10 de Setembro) que revoga o
Decreto-Lei nº 17/77, de 28 de Abril.

2.3.3 Gestão Económico-Financeira

À luz da lei, o cálculo económico, baseava-se em obter a maior eficiência na produção e no cumprimento
do plano. As relações económicas e financeiras entre as Empresas Estatais e ou com outros organismos
deveriam ser estabelecidas por via de contratos, penalizando-se não cumprimento dos seus termos.

2.3.4 Prestação de contas/contabilidade

As empresas estavam sujeito a contabilidade organizada de acordo com o Plano Nacional de Contas, regras
e normas fixadas pelo Ministro que surpreendente a área de Finança. Igualmente, todas as Empresa
Estatais tinham a obrigação em cumprimento da lei apresentar ao órgão central do aparelho de Estado que
superintende o ramo ou sector de actividade o balanço e contas referentes ao exercício Economico anterior
até último dia 31 de Marco de cada ano.

Esta prática de accountability ainda prevalece até aos dias de hoje nas actuais Empresas Públicas mas com
acréscimo de cumprimento das regras estatuídas na Normas Internacional de Relato Financeiro (NIRF).

2.4 Conceito de Empresa Pública


Moçambique (2012), define “Empresas Publicas como entidades de natureza empresarial criada pelo
Estado, com capitais próprios ou de outras entidades públicas e que realiza a sua actividade no quadro dos
objectivos traçados no diploma de criação”.

Já Coutinho (2009), entende “Empresas do Estado” e consequentemente “Empresas Públicas e Sociedades


Comerciais” são aquelas em que o Estado, directamente ou através de quaisquer entidades públicas,
actuando isolada ou conjuntamente, detenha uma posição dominante que lhe permita exercer, de forma
directa ou indirecta, o respectivo controlo accionista e/ou de gestão”.

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Para (De Melo, 2005), Empresa pública é uma pessoa jurídica de direito público administrada
exclusivamente pelo Poder Público, instituída por um ente estatal, com a finalidade prevista em lei e sendo
de propriedade única do Estado, cujo capital é formado por recursos públicos ou por agências indirectas do
Estado.

As Empresas Públicas surgem no seio de Estado por uma necessidade pública de actuação governamental
em determinados segmentos da sociedade, considerados estratégicos. Ressalta ainda De Oliveira (2013,
p.98) que “O Estado não as cria para investir, buscando simples lucros, mas sempre para implementar
políticas públicas (o desenvolvimento regional, a construção de habitações do povo, o financiamento
agrícola, entre outros ramos de actuação) ”. Ainda, esclarece Mário Engler citado por mesmo autor que:
“Todo empreendimento estatal é inspirado por algum objectivo estratégico, que transcende a mera
obtenção de recursos ao erário”.

2.4.1 Objectivos das Empresas Públicas

Garantir o bem-estar social que pode ser efectivada por via de actividade económica ou de prestação de
serviços públicos.

As Empresas Públicas no exercício de sua função gerencial, envolve uma actividade de risco passível de
gerar dano aos administrados, dano este que deve ser reparado por toda a colectividade, como forma de
promover a igualdade.

2.4.2 Regime jurídico

As Empresas do estado a luz das reformas introduzidas, novos mecanismos jurídicos no sentido de garantir
cada vez maior eficiência e rentabilidade do Sector Empresarial Público moçambicano, foram aprovadas
dispositivos legais para sustentar actual conjuntura, tal foi o caso que ocorreu com a Lei nº 17/91, de 3 de
Agosto, e mais revogada pela Lei nº de 6/2012, de 8 de Fevereiro, que estabelece regime das Empresas
Públicas (LEP), prevendo mecanismos de acompanhamento e intervenção governamentais na actividade
das Empresas Públicas e de assegurar meios eficientes e adequados de gestão dessas empresas.

A Empresa Pública é autónoma face ao Estado, razão pela qual dispões de personalidade jurídica própria,
ou seja, é a condição indispensável para que a actividade empresarial se constitua como actividade
principal da empresa e assim se constitua o seu regime jurídico. Assim, a sua capacidade jurídica não
diverge da capacidade das pessoas colectivas previstas no Código Civil.

Importa sublinhar aqui que para prática de actos indirectos relacionados com o objecto da empresa esta
deve com necessária observância das normas solicitar autorização ao Governo ou parecer do Ministro de
tutela ou parecer dos órgãos de gestão da empresa, consoante os caso, e de acordo com os estatutos.
Desta forma, a capacidade jurídica de direito público da empresa é aquela que lei lhes concede ao
determinar a sua competência.

2.4.3 Composição dos Órgãos nas Empresas Públicas

De acordo com (Moçambique, 2006), constituem órgãos obrigatórios das Empresas Públicas, seguintes:

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1. Conselho de Administração – é o órgão de gestão da empresa, constituído por um numero impar
de membros, sendo até 5 executivos, incluindo o Presidente e 2 Administradores não executivos,
dos quais um indicado pela tutela Financeira e outro pelos trabalhadores, cujo mandato são de 3
anos, renováveis uma vez;

2. Conselho Fiscal – é o órgão de fiscalização da empresa composto por 3 membros, destes, 1


Presidente e 2 Vogais, nomeados por despacho do Ministro das Finanças, ouvido o ministro de
tutela do ramo de actividade, por um período de 5 anos, renovável uma vez.

2.4.4 Princípios de gestão económicas

As Empresas Públicas para além das previstas nos seus estatutos, devem observar dentre outros princípios,
devem respeitar os seguintes:

a) Princípio da economicidade - exige que a empresa foque se na obtenção do lucro no exercício da


sua actividade empresarial;

b) Princípio da eficácia – obrigação da utilização racional dos recursos humanos disponíveis,


minimizando os custos de produção por forma a alcançar a rentabilidade empresarial;

c) Princípio de planeamento – visa a perspectivação racional da gestão da empresa no curto, médio e


longo prazo, ou seja, calcular racionalmente as suas decisões de acordo com a conjuntura
económica.

2.4.5 Quadro legal de autonomia das Empresas Públicas

Autonomia Empresas Públicas Anotações


Nº 2 do artigo 40
da Lei nº 17/91, de
Praticar actos administrativos e executórios e que, dos seus actos praticados
3 de Agosto,
pelos seus órgãos no âmbito da suas competência não cabe recursos
Administrativa revogado pela lei
hierarquicos mas só o Contencioso Administrativo, para os tribunais
nº 6/2012, de 8 de
administrativos se for a pretenção
Fevereiro no seu
artigo 22

Existência de um orçamento próprio, elaborado pela própria empresa e


aprovado pelo governo. A lei insta as Empresas Públicas a elaborar em cada nº 1 do artigo 24
Financeira ano económico, Orçamento de Exploração e de Investimento, por grandes da Lei nº 17/91, de
rubricas, a serem submetidos à aprovação do Ministro que superntende as 3 de Fevereiro
Finanças, sob proposta do ministro de tutela do ramo de actividade

nº 4 do artigo 16
da Lei nº 17/91, de
3 de Agosto,
A penas o património da empresa que responde pelas suas dívidas, excluindo-
Patrimonial revogado pelo nº 4
se os bens de domínio público sob administração da Empresa Pública
do artigo 19 da Lei
nº 6/2012, de 8 de
Fevereiro
Fonte: elaboração própria, 2021

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2.4.5.1 Receitas

As Empresas Públicas ao gozarem da autonomia administrativa, financeira e patrimonial, a luz da lei têm
competência de cobrar receitas provenientes da actividade da respectiva empresa, bem como a realização
de todas despesas inerentes a prossecução do seu objecto.

De acordo com (Moçambique, 2006), constituem receitas de Empresas Públicas, as seguintes:

a) resultantes da sua actividade;


b) rendimento de bens próprios;
c) comparticipações e as dotações do estudo ou outras entidades;
d) doações, heranças ou legados, etc.

E excepcionalmente, em função dos objectivos e das políticas do Governo, pode ser financiada pelo
Orçamento do Estado, a título de subsídio ao défice de exploração ou ao preço, quando razões de interesse
público determinem a prática de preços ou tarifas ou prestação de serviço baixo do respectivo custo.

2.5 Sector Empresarial do Estado de Moçambique

O Sector Empresarial do Estado (SEE) encontra-se integrado no regime jurídico, aprovado pelo Decreto-Lei
n.º 133/2013, de 3 de Outubro.

Muchanga, (2005), define Sector Empresarial do Estado (SEE) como um conjunto das Empresas Públicas, as
Sociedades Comerciais cujo capital pertença exclusivamente ao Estado e ou a outras pessoas colectivas de
direito público, estabelecimentos e instalações cuja propriedade tenha revertido para o Estado
moçambicano.

O Sector Empresarial do Estado (SEE) é constituído pelo conjunto das unidades produtivas do Estado,
organizadas e geridas de forma empresarial, integrando as Empresas Públicas e as Empresas Participadas
Macore (2018).

2.5.1 Portefólio das Empresas Públicas

De acordo com (IGEPE, 2019) e pelo Yotamo9 & Mahachi10 (2021, p.69), citando (CGE, 2019), o portefólio
das empresas do Sector Empresarial do Estado é constituído por um total de 78, sendo:

 13 Empresas Públicas;
 16 Empresas Exclusivas ou Maioritariamente participadas pelo Estado;
 23 Empresas Minoritariamente Participadas pelo Estado.

2.5.2 Órgãos reguladores da actividade Empresarial do Estado

 Conselho de Ministros é da sua competência a criação de novas Empresas Públicas;


 Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), é da sua competência à
intervenção/controlo e fiscalização de todas Empresas Públicas e ou Participadas pelo Estado;
 A Inspecção Geral das Finanças de fiscalização e controlo financeiro das contas das Empresas
Públicas e das Sociedades de capitais mista; e

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 Tribunal Administrativo é órgão superior de fiscalização e controlo financeiro das contas das
Empresas Públicas e das Sociedades de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos”.

2.5.3 Críticas na gestão das Empresas Públicas

De acordo com Moraes (2019), a actuação da gestão empresarial do Estado em Moçambique, apresentam
algumas inconveniências, conforme o autor enumera-se abaixo:

 As Empresas Estatais e Públicas são susceptíveis à corrupção visto que nota-se excesso de
procedimentos burocráticos desde da gestão dos recursos o que gera um grande risco de
desvio neles, movida pela troca de favor político por meio da concessão de licitações;

 A má administração é gerada pela alta e excessiva burocratização de gastos desnecessários


quando comparado com o produto ou serviço colocado a disposição ao consumidor;

 Falta de políticas claras para que o SEE possa concorrer em pé de igualdade com o Sector
Empresarial Privado (SEP).

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3. Conclusões finais
A presente pesquisa analisou o processo das reformas legais para regular a economia moçambicana no
concernente a participação ou não do Estado na gestão das Empresas Estatais/Públicas, isto é, na
perspectiva Objectiva e Subjectiva mas concretamente no Sector Empresarial do Estado, tendo em conta as
duas correntes: da economia Socialista e da Capitalista, onde o autor apresenta as seguintes conclusões:

 no período pós-independência, boa parte da máquina produtiva existente no país estava


concentrada no Estado, ocorrendo por meio das nacionalizações de diferentes empresas de
diferentes ramos de actividade que mais tarde originou à ineficiência do Estado moçambicano na
gestão dos seus activos financeiro e viu-se na contingência de estabelecer profundas reformas
baseadas nos preceitos neoliberais da PRES;

 com a entrada em vigor da Constituição da República de 1990, notou-se a alteração do regime


jurídico das Empresas Estatais, novos mecanismos jurídicos e de gestão no sentido de garantir uma
maior eficiência e rentabilidade do Sector Empresarial Público, o que fez com que fossem extintas,
transformadas em sociedades mistas ou mesmo reestruturadas. Importa sublinhar que o processo
de privatizações, não significou total exclusão da participação do Estado no sector empresarial;

 o estatuto de autonomia das Empresas Públicas impede ao Estado um controlo directo, ou seja, é
exercida por tutela e superintendência do ramo actividade (intervenção e da fiscalização), mas não
em poderes de orientação da entidade controlada diferentemente o ocorria na relação hierárquica
entre Empresas Estatais aquando da intervenção do Estado, visto que o papel do Estado nestas
empresas para além de criá-las tinha a obrigação de dirigir e afectar os seus recursos materiais (…),
Moçambique, (1981);

 a pesquisa trouxe informações oficiais citando a (CGE,2019) que a participação do Estado


moçambicano no Sector Empresarial se dá na sua maioria em Empresas Participadas, com um total
de 73 empresas, facto que se constata há uma redução gradual da participação do Estado tendo
em conta a nova configuração adoptada, se comparado ao período socialista;

 verifica-se também que poucas são as empresas que apresentam dividendos para os cofres
públicos, devido a obtenção de resultados negativos da maioria delas, facto que preocupa o Estado
e todos actores que velam sobre a gestão do Sector Empresarial no país o que tem acarretado
custos para Estado em subsidia-la, destaque para o sector de Comércio e Serviços;

 as empresas públicas que operam em sectores vitais da economia e em condições de monopólio


protegido pelo Estado, constituem um importante elemento da ineficiência e baixa competitividade
da economia, da promiscuidade entre política e negócios que origina canais de fluxos financeiros
pouco transparentes e de maus e caros serviços aos cidadãos, às empresas e à economia;

 nota-se falta de robustez financeira das empresas públicas e participadas pelo Estado dificulta o
processo de restruturação financeira no âmbito da implementação da Lei do Sector Empresarial do
Estado, segundo (Mosca, p. 2, 2016).

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