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A responsabilidade penal do
Cillero.
adolescente e o interesse superior
da criança
Resumo
Este artigo discute as evidências que mostram a relação entre o
interesse superior da criança, a proteção da infância e o sistema penal
1 Doutor em Direito. Professor e
como uma questão mais complexa do que imaginaram os salvadores
das crianças que inspiraram o sistema tutelar. Considerando que, no
pesquisador da Faculdade de
marco da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança –
Direito Universidad Diego
CIDN- o interesse superior da criança passou a ser equivalente à
Portales (Chile). Diretor do plena satisfação de seus direitos e que as penas, de qualquer espécie
Programa Crianças, da Faculdade ou nome, consistem na privação de direitos, parece razoável assinalar
de Direito na mesma Casa de que estamos diante de uma antinomia que proporia a mútua
Estudos. Diretor Acadêmico do contradição e exclusão entre interesse superior e responsabilidade
Curso Proteção Direitos penal. Reconhecendo essa antinomia, desenvolvemos argumentos
jurisdicionais da Criança. que buscam conciliar o conjunto de princípios que regulam e limitam
a atribuição de responsabilidade penal com o princípio da prioridade
do interesse superior da criança, pretendendo legitimar a inclusão da
responsabilidade penal com base em uma análise tenta reconhecer
um espaço – ainda que muito limitado – para o interesse superior da
criança em um sistema penal para adolescentes afinado com os
princípios, diretrizes e direitos previstos na CIDN.
Resumen
En este artículo se discute la evidencia que muestra la relación entre
los intereses de los niños, la protección de los niños y el sistema de
justicia penal como un tema más complejo de lo imaginado los
salvadores de los niños que inspiraron el sistema de tutela.
Autor para correspondência Considerando que, en virtud de la Convención sobre los Derechos del
Miguel Cillero Brunõl Niño-CIDN-interés superior del niño llegó a ser equivalente a la
Email: macilbru@gmail.com plena satisfacción de sus derechos y las plumas de cualquier tipo o
nombre, que consiste en la privación de la patria, parece razonable
Observamos que estamos frente a una antinomia que proponen la
exclusión mutua y el conflicto entre los intereses y la responsabilidad
F
l
á
v
Rev. Bras. Adolescência e Conflitualidade, 2013 (8): 1-9 2
Abstract
This article discusses the evidence relationship between the superior interests
of the child, the child protection and criminal justice system as an issue more
complex than would imagine the saviors of children who inspired the
protection system. Whereas, under the Convention on the Rights of the
Child-CIDN- the relevance of the interest of the child came to be equivalent
to the full satisfaction of their rights and the penalties of any kind or name,
consisting of the deprivation of rights, it seems reasonable note that we are
facing an antinomy that propose the mutual exclusion and a conflict between
child interests and the criminal liability. Recognizing this antinomy, this
article will develop arguments that seek to reconcile the set of principles that
regulate and limit the attribution of criminal responsibility to the principle of
the priority of the interests of the child, intending to legitimize the inclusion
of criminal liability based on an analysis attempts to recognize a space -
albeit very limited - for the best interests of the child in a criminal justice
system for adolescents in tune with the principles and guidelines and rights
under CIDN.
Durante muito tempo, considerou-se que o melhor para a infância era mantê-
la fora do direito penal, estimativa que, como se sabe, levou ao “direito
tutelar do menor". Esse enfoque tem como pano de fundo a ideia de que a
única relação possível entre a proteção dos direitos da criança e a
responsabilidade penal de adolescentes é a da incompatibilidade: o
reconhecimento da responsabilidade penal contradiria a proteção dos direitos
da criança. No sistema tutelar, o princípio da prioridade do interesse superior
da criança (entendido como a sua proteção e bem-estar moral e social)
legitimou − normativa e politicamente − a exclusão absoluta da
responsabilidade penal.
Rev. Bras. Adolescência e Conflitualidade, 2013 (8): 1-9 3
Uma avaliação geral dos resultados das leis de menores revela, no entanto,
que os mecanismos tutelares foram incapazes de impedir os excessos do
sistema punitivo, fazendo com que fossem severamente criticados e afetando
sua legitimidade jurídica − por terem sido considerados contrários aos
princípios constitucionais − e social, por terem, na sua aplicação, contribuído
para aumentar a exclusão e o controle penal camuflado de um setor da
infância: o dos menores em situação irregular (GARCIA,1998).
Paradoxalmente, ao invés de fortalecer a sua proteção, a exclusão da
responsabilidade das crianças e adolescentes acabou enfraquecendo-a. As
evidências empíricas revelam, portanto, que a relação entre o interesse
superior da criança, a proteção da infância e o sistema penal é mais
complexa do que imaginaram, no começo do século, os salvadores das
crianças que inspiraram o sistema tutelar.
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (CIDN) tomou um
rumo diferente. Esse instrumento internacional reconhece que o sistema de
garantias criado pelo sistema penal (cujos dispositivos mais importantes
constituem direitos fundamentais previstos nas Constituições e instrumentos
internacionais de direitos humanos) é o melhor mecanismo para se controlar
e limitar o poder punitivo do Estado e que nenhuma consideração
relacionada ao bem da criança pode privar a infância/adolescência desse
conjunto de proteções. Consequentemente, a CIDN considera a criança como
titular de todas as garantias próprias dos adultos – além de outras garantias
complementares aplicáveis a crianças – para limitar a pretensão punitiva do
Estado. Esse reconhecimento é expresso pela reprodução dessas garantias
nos seus artigos 37 e 40. No entanto, como sabemos, a CIDN também
estabeleceu o princípio do interesse superior da criança.
Se considerarmos que, no marco da CIDN, o interesse superior da criança
deixou de ser uma consideração etérea do bem da criança e passou a ser
equivalente à plena satisfação de seus direitos (CILLERO,1998) e que as
penas, de qualquer espécie ou nome, consistem na privação de direitos,
parece razoável assinalar que ainda estamos diante de uma antinomia que
proporia a mútua contradição e exclusão entre interesse superior e
responsabilidade penal.
1
Zagrebelsky (1999) se refere ao “duplo alcance normativo dos princípios”.
2
Sobre essa questão, veja ALCÁCER, R. Los Fines del Derecho Penal. Una
Aproximación desde la Filosofía Política que desenvolve seus pontos de vista a
partir da teoria das “razões de correção” de Mac Cormick., in Anuario de Derecho
Penal, volume LI, 1998, pags. 365-587, pag. 391.
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3
Como previsto na Lei Orgânica Reguladora da Responsabilidade Penal do Menor
(5/2000) da Espanha.
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Referências
ALCÁCER, R. Los Fines del Derecho Penal. Una Aproximación desde la
Filosofía Política In Anuario de Derecho Penal, volume LI, 1998, p. 391.
Rev. Bras. Adolescência e Conflitualidade, 2013 (8): 1-9 9