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PONTIFICIA UNIVERSITÀ LATERANENSE


FACULDADE CLARETIANA DE TEOLOGIA
FABIANO DE LIMA

RESENHA DO LIVRO: “A PAIXÃO”

CURITIBA
2017
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FABIANO DE LIMA

RESENHA DO LIVRO: “A PAIXÃO”

Trabalho apresentado ao curso de Teologia


do Studium Theologicum – Faculdade
Claretiana de Teologia da Pontificia
Università Lateranense como requisito para
horas complementares de Atividades
Acadêmico-científico-culturais.

CURITIBA
2017
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1. RESENHA

O título do livro é “A Paixão” e foi escrito por Geza Vermes. A obra foi
estruturada em quatro capítulos, que tratavam de temáticas diferentes, porém ligados
e perfazendo uma linha de pensamento.
Vejamos: no primeiro capítulo as preliminares históricas e literárias; no segundo
capítulo os relatos da Paixão segundo os evangelistas; no terceiro capítulo os relatos
da Paixão são comparados entre si e também com fontes externas ao Novo
Testamento e no quarto, e último, capítulo é realizado o desenlace.

Prefácio

O autor começa criticando o filme de Mel Gibson, A Paixão de Cristo, acusando-


o de distorção da história. Para que se compreenda a Paixão de Cristo deve-se
recorrer aos Evangelhos, pois eles nos darão a versão mais próxima da realidade.

Prólogo

Jesus pode ser interpretado de várias maneiras: para alguns ele é visto como
um curandeiro para outros, exorcista, porém ele era muito procurado pelas multidões
de pessoas doentes e excluídas. Tudo isso fez com que os escribas e presidentes das
sinagogas o recriminassem e o perseguissem.
Ele fazia curas aos sábados, por isso insuficientemente versado em teologia
judaica, alguns escribas galileus murmuravam “blasfêmia” quando Jesus proclamou
que curar era equivalente ao perdão dos pecados.
Na Galileia e na sua chegada em Jerusalém, Jesus é retratado como herói de
uma multidão jubilosa e acolhedora. Marcos, Mateus e João descrevem a
aproximação de Jesus da capital com uma entrada triunfal universalmente aclamada.
Lucas atribui o ânimo de festividade ao grupo dos discípulos que acompanhavam
Jesus.
Até a sua prisão, Jesus parece ter sido o bem-amado do povo camponês
galileu, e mesmo calorosamente acolhido pela multidão judaica em Jerusalém. Então
Jesus se torna objeto de ódio dos líderes do judaísmo, dos sacerdotes e do Sinédrio,
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e também do povo judeu. Ninguém falava nada ao seu favor. A multidão o execrou.
Todas as pessoas, “os Judeus”, pediram a sua morte e instigaram o governador
romano a crucificá-lo.

Preliminares históricas e literárias

As Fontes

A Paixão de Jesus de Nazaré faz parte da história, mas também é o núcleo


central da teologia cristã, o próprio núcleo da fé da Igreja. Os quatro evangelistas têm
uma mensagem religiosa a ser pregada numa forma adaptada ás necessidades do
seu público leitor específico.
Segundo a erudição dominante, esses quatro autores produziram suas obras
entre c. 70 e 110 d.C. Acredita-se que Marcos tenha sido o primeiro. Em seus
evangelhos, os evangelistas se dirigiram, entre os seus contemporâneos, àqueles que
tentavam persuadir a abraçar a cristandade ou aos que já eram membros das suas
igrejas.
Quanto a motivação, os narradores objetivam apresentar um Messias-Redentor
judeu crucificado por Pôncio Pilatos de modo que ele parecesse aceitável aos
habitantes não-judeus do mundo greco-romano. O propósito dos evangelistas é provar
implicitamente que ser cristão não é incompatível com a lealdade para com César e o
império romano.

História judaica e sistemas legais em vigor na Judéia da época de Jesus

O contexto histórico

A morte de Jesus é um fato estabelecido e talvez seja o único. A crucificação


faz parte das histórias dos judeus e romanos que viveram no século I d.C. A vida de
Jesus começou possivelmente em 6/5 a.C., nos anos finais do reino de Herodes, o
Grande (47-4 a.C.), e terminou durante o governo de Pôncio Pilatos (26-36 d.C.),
provavelmente em 30 d.C. Durante a vida de Jesus, Anás (6-15 d.C.) e Caifás (18-
36/37 d.C.)., os dois a quem são atribuídos papéis principais no julgamento de Jesus.
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Seu ministério teve início, provavelmente, por volta do ano 29 d.C. O Evangelho
de João relata duas ou três Páscoas, o que nos leva a compreender que foram ao
menos três anos. Já os Evangelhos sinópticos mencionam somente uma Páscoa e
uma visita a Jerusalém, esta provavelmente é a mais correta. Nos Evangelhos
Sinópticos, por outro lado, só são mencionadas uma Páscoa e uma única visita a
Jerusalém.
Essa cronologia mais curta é historicamente a mais provável. Os evangelhos
diferem em relação ás circunstâncias da execução de Jesus, mas afirmam
unanimemente que ela aconteceu ao cabo de um breve julgamento ou de dois
julgamentos consecutivos. Dois tipos de cortes funcionavam na Palestina do século I
d.C., tanto sob o governo romano como sob o herodiano.

O sistema provincial romano

Jesus sendo acusado de revolucionário e sendo considerado culpados, Pilatos


tinha o direito de crucifica-lo, e também tinha o dever de assim fazer. Ao falar dos
aspectos legais da Paixão se faz necessário conhecer o sistema jurídico, herança da
Escritura pelo judaísmo do primeiro século da era cristã.

O sistema legal bíblico

Para projetar uma luz sobre os aspectos legais da história da Paixão é


necessário dar uma rápida olhada no sistema jurídico herdado diretamente da
Escritura pelo judaísmo do primeiro século da era cristã. Os responsáveis pela justiça
eram os anciãos de cada cidade. As punições eram realizadas no local após o
julgamento dos casos e todos podiam participar.
Na Bíblia existem doze crimes que eram casos de pena de morte, são eles:
homicídio, sequestro para vender como escravo, idolatria, blasfêmia, não
cumprimento do descanso do sábado, feitiçaria, ofensas à família, prostituição da filha
de um sacerdote, adultério, incesto, atos homossexuais masculinos, bestialidade. Nos
casos de idolatria e blasfêmia a execução se dava por apedrejamento.
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Tribunais judeus segundo a Mixná

A Mixná é o código legal rabínico mais antigo. Nele contém o Sinédrio que relata
detalhadamente os vários tribunais judaicos e suas regras processuais. Ela menciona
três tipos de tribunais: no nível mais baixo está o tribunal local que pode somente tratar
das questões civis rotineiras, nele haviam três juízes ou árbitros; a corte intermediária
composta por 23 juízes e tratava dos crimes e caso que envolviam a pena de morte;
a corte suprema de Mixná ou Sinédrio composto por 71 juízes, situada em Jerusalém.
As sessões eram realizadas na Câmara da Pedra Talhada.
Pela lei escritural, nenhuma pessoa poderia ser sentenciada a morte sem o
testemunho concorrente de pelo menos duas testemunhas. Outra processual do
grande Sinédrio estabelecia que sentenças capitais jamais poderia ser pronunciada
no mesmo dia da audiência na corte; o decreto da condenação tinha de esperar até o
dia seguinte. O fato de a corte não funcionar no sábado é obvio.

Penas de morte

A Bíblia dos hebreus reconhece duas formas de pena de morte, a primeira é o


apedrejamento judicial das pessoas culpadas de blasfêmia, idolatria, não
cumprimento do descanso do sábado, adultério e estupro etc.; e por segundo é a
morte na fogueira para os acusados de tentativa de contrair casamento com uma
mulher e sua mãe ao mesmo tempo, prostituição cometida pela filha de um sacerdote.
Há ainda a decapitação por espada, praticada pelo poder secular, e as
estrangulamento. Estas eram as formas utilizadas no tempo de Jesus.
A crucificação, desde os tempos bíblicos pré-exílicos, a suspensão dos corpos
dos executados por apedrejamento fazia parte do ritual de execução. A cruz foi o sinal
tangível e visível, certamente a marca registrada, da cruel presença romana nas terras
judaicas.
Para os cristãos, a tribulação de Jesus é um fenômeno único. Para os judeus
do primeiro século, foi um trágico espetáculo cotidiano, mas aos olhos romanos foi
insignificante, uma necessidade inevitável, terrível.
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As autoridades do Templo de Jesus

De acordo com os evangelhos sinóticos Jesus provocou nas autoridades


sacerdotais do templo uma certa hostilidade, assim que chegou em Jerusalém. Essas
autoridades eram os sumos sacerdotes e governadores romanos. O motivo de não
gostarem de Jesus era pela ameaça que ele representava à paz. De modo semelhante
o mesmo ocorreu com João Batista.

Os relatos da Paixão pelos evangelistas

1° A Última Ceia

A última ceia compartilhada com os 12 apóstolos é relatada em todos os quatro


Evangelhos, mas o quadro dado pelos Sinópticos difere marcadamente da versão de
João. No quarto Evangelho, a Última Ceia de Jesus recebe um tratamento extensivo.
A humildade de Jesus é demonstrada com ele lavando os pés dos discípulos, e a ceia
termina com uma grandiosa oração de Jesus para seus seguidores.
O relato de João não contém alusão à instituição da Eucaristia, mas deixa claro
que, durante aquela ceia, Judas Iscariotes, identificado como “filho de Simão”, tomou
sua decisão e deixou o grupo para trair Jesus. Em contraste, a ocasião é apresentada
pelos evangelistas sinópticos definitivamente como uma ceia de Páscoa.
Os três evangelistas se referem a abstinência de Jesus de vinho até o Reino
de Deus, como antecipação do final da sua missão divinamente confiada e condução
do reino eterno de Deus.

2° A Prisão de Jesus

Quanto à prisão de Jesus, João designa o local como um jardim no outro lado
do Vale do Cedron, não o chama de Getsêmani, pois para ele aquela não era a
primeira visita de Jesus a Jerusalém, ele pode observar que o lugar foi regularmente
frequentado por Jesus em ocasiões anteriores. João fala da chegada dos soldados
romanos que tinham apoio moral de oficiais judeus.
Em suma, os quatro evangelistas nos deixaram tradições similares exceto por
três aspectos: primeiramente a data do evento que em João ocorreu antes da Páscoa
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e durante a festa da Páscoa nos sinópticos; por segundo a porta que leva a questão
da identidade dos membros do grupo de captura guiado por Judas; e por último a
sequência da história na qual Jesus foi levado numa direção segundo João, e em
outra segundo os Sinópticos.

3° O interrogatório de Jesus segundo João

Para João Jesus é levado até Anás, que envia o prisioneiro amarrado até o
sumo sacerdote Caifás.

4° O julgamento noturno de Jesus pelo Sinédrio

Desde o começo, a história está repleta de dificuldades. Embora a prisão de


Jesus tenha sido repentina e não preparada, os evangelistas declaram que todo o
corpo augusto do Sinédrio – que consistia de 71 membros, segundo a Mixná – já
estava reunido no palácio do sumo sacerdote á noite e, todas as noites, naquela da
Páscoa.
Lucas faz menção a uma sessão noturna no Sinédrio. Marcos e Mateus
afirmam que Caifás adotou a tática de questionamento direto e confrontou Jesus com:
“És tu o Cristo, o Filho do Bendito? ” – “Bendito” sendo um nome substituto para Deus.
Por sua vez o Sinédrio nada fala nada sobre execuções. A confiabilidade do
relato da presença de Jesus perante o Sinédrio e da sua condenação à morte é
questionada devido as contradições e improbabilidades históricas e legais presentes
na narrativa de Marcos, copiada por Mateus.

5° A Reunião matinal do Sinédrio

João não fala sobre o julgamento de Jesus por um tribunal judeu e Lucas omite
a sessão noturna do Sinédrio. Contudo, os quatro evangelistas juntam-se mais uma
vez em seu relato dos acontecimentos da manhã seguinte.
João não relata encontro dos chefes dos sacerdotes com o seu conselho; Jesus
é enviado da casa do sumo sacerdote para a residência de Pilatos em Jerusalém no
palácio de Herdodes. Os evangelistas sinópticos descrevem a reunião dos membros
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do Sinédrio na manhã de Páscoa. Este encontro, o segundo em Marcos e em Mateus


e o único em Lucas, é caracterizado como decisivo.

6° O Suicídio de Judas

Mateus faz com que Judas se arrependa e devolva o dinheiro e se empenha


em narrar a Paixão, perturbador para os crentes e pouco atraente para supostos
convertidos, como uma sequência de eventos profeticamente previstos e
providencialmente predestinados.

7° Jesus diante de Pilatos

Marcos e Mateus não mencionam a acusação de Jesus. Já Lucas faz com que
os representantes judeus acusem Jesus de sedição. João descreve Pilatos como uma
pessoa amável e que cooperava.

8° Jesus enviado a Herodes Antipas e de volta a Pilatos

Para Lucas o diálogo entre Pôncio Pilatos e os chefes dos sacerdotes existem
dois pontos importantes: o primeiro afirma que os chefes dos sacerdotes estão
acompanhados por multidões; depois Jesus é retratado por seus acusadores como
subversivo que fomentado tumulto desde a Galileia.
Por Jesus ser um Galileu Pilatos tem a oportunidade de entregar um caso que
não lhe agrada ao governante da Galiléia, pois acreditava que Herodes daria conta da
situação.

9° A Anistia da Páscoa e Barrabás

Manuscritos de Lucas e o Evangelho de João afirmam que a proclamação da


anistia no festival era uma obrigação do governador romano. Marcos e Mateus
descrevem a anistia como um costume do governador, mas o indulto devia ser aberto,
e a multidão judaica podia escolher qualquer preso que desejasse. De Barrabás nada
se sabe fora do Novo Testamento; João o chama de salteador.
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10° A Sentença de Morte

Em Lucas, o açoite é somente uma manobra de barganha sugerida por Pilatos


aos judeus - eu o castigarei antes de soltá-lo -, mas em momento algum o evangelista
diz que a oferta foi aceita, e muito menos implementada. João, o flagelo parece ser
um estratagema final de Pilatos para salvar Jesus.
Ele esperava que a visão do homem torturado abrandasse os seus acusadores.
Mateus anexa três suplementos especiais ao relato de Marcos:

1. Pilatos é avisado pela esposa para não se envolver com "esse justo";
2. Antes de sentenciar Jesus à morte na cruz, o governador protesta a sua
própria inocência, simbolicamente a de todos os romanos, lavando as
mãos em público da sangrenta inculpação de Jesus;
3. Além de justificar Roma, Mateus almeja colocar a responsabilidade pelo
assassinato de Jesus inteira e completamente nos ombros de toda a
raça judaica, presente e futura, fazendo "todo povo" responder: "O seu
sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos".

11° A Crucificação

Os evangelistas sinópticos relatam que Jesus foi crucificado na terceira hora


do dia, ou seja, ás nove horas da manhã, juntamente com outros dois condenados,
numa colina chamada Gólgota. Já para João a crucificação ocorreu ao meio dia. (A
noite judaica ocorre das seis da tarde as seis da manhã e o dia de seis da manhã as
seis da tarde.
Não há um consenso sobre o texto da inscrição, o mais breve é Marcos: "O Rei
dos Judeus", e a versão mais longa é a do Quarto Evangelho: "Jesus de Nazaré, o
Rei dos Judeus", com observação acrescentada por João de que a inscrição fora
redigida em hebraico, latim e grego.
Os dois primeiros Evangelhos não relatam a fala de Jesus: "Pai, perdoa-lhes",
e com o passar do tempo muitos copistas cortaram o versículo dos manuscritos de
Lucas.
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12° A Morte de Jesus

A morte de Jesus segundo Marcos e Mateus foi rápida, ocorreu as três horas
da tarde, depois de seis horas agonizando na cruz. Em João o tempo entre a
crucificação e a morte é reduzido a três horas, ou seja, de meio-dia ás três da tarde.
Os Evangelhos Sinópticos descrevem milagres que precedem e sucedem a
morte de Jesus. No Quarto Evangelho não há espectadores. O pequeno grupo
permanece ao pé da cruz não é o mesmo dos Sinópticos.

13° O Sepultamento de Jesus

Os sinópticos descrevem que ao cair da noite de sexta-feira José de Arimatéia,


conseguiu a permissão de Pilatos para tirar o corpo de Jesus da cruz, pois era
costume de os judeus deixarem o corpo ali até a carne apodrecer.
Posteriormente os ossos eram recolhidos e colocados em uma caixa de
madeira, gesso ou pedra. Essas caixas eram mantidas em jazigos. O sepultamento
de Jesus encerra a história da Paixão de Cristo no Evangelho.

Os relatos da Paixão comparados entre si e com fontes de fora do Novo


Testamento

São coincidentes os relatos da Paixão com textos externos aos Evangelhos,


vejamos quais são:

a) Todos confirmam a prisão de Jesus num jardim fora de Jerusalém ao anoitecer,


depois da ceia;
b) Na manhã seguinte, ele foi transferido do palácio do sumo sacerdote para a
residência do governador romano para ser julgado por Pôncio Pilatos;
c) Durante a audiência a anistia de Páscoa foi levantada por Pilatos;
d) Pilatos condenou Jesus à morte e uma inscrição fixada na cruz dizia que ele
era "O rei dos judeus";
e) As vestes de Jesus foram repartidas entre os membros do pelotão de
execução, quatro soldados romanos segundo João;
f) Jesus morreu crucificado;
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g) Ele foi enterrado na rocha e a entrada foi fechada por uma grande pedra.

São apresentados cinco fatos que concordam entre si nos Evangelhos


Sinópticos e no de João:

I. A data da Última Ceia, prisão e crucificação de Jesus: anoitecer de quinta-


feira/sexta-feira, 15 Nisan = Páscoa (Sinópticos); ou anoitecer de quinta-
feira/sexta-feira, 14 Nisan = véspera da Páscoa (João). Em João, o 15 Nisan =
Páscoa cai no anoitecer da sexta-feira/sábado (Jo 19,14-31);
II. Os discípulos fugiram (Sinópticos) ou receberam permissão para partir (João);
III. Jesus foi levado a Caifás, julgado e sentenciado pela acusação religiosa de
blasfêmia (Marcos e Mateus com a revisão de Lucas) ou primeiro ele foi
interrogado pelo ex-sumo sacerdote Anás e, depois, enviado a Caifás sem
julgamento ou sentença religiosa (João);
IV. Junto a cruz estava as mulheres galileias (Sinópticos) ou a mãe de Jesus e seu
discípulo querido, João, bem como mulheres galileias (João);
V. Quem enterrou Jesus foi José de arimatéia (Sinópticos) ou José de arimatéia e
Nicodemus (João).

Epílogo: Os atores principais da história da Paixão

Mateus e João, pintam um retrato profundamente antipático dos dois primeiros.


Eles todos apresentam Pôncio Pilatos com bom homem.

Os judeus

A hostilidade dos judeus contra Jesus não é manifesta em toda a história do


Evangelho. Porém, afirma-se que, desde momento da sua prisão todos os líderes
judaicos e também toda a multidão judaica demonstraram ódio contra ele.

Caifás

Caifás e os chefes dos sacerdotes aparecem como os vilões da história da


Paixão. O retrato de Pilatos é de um juiz sensível e indeciso. O governador romano é
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apresentado como um homem que acreditava na inocência de Jesus, mas se deixou


levar pelos judeus e enviou seu rei para a cruz.
O Pilatos do Novo Testamento tem pouco em comum com o Pilatos da história.
O Pilatos de Josefo também é um funcionário ríspido, irrefletido e impiedoso.

Jesus

As narrativas da Paixão não são adequadas para retratar Jesus. A


superioridade transcendental da figura do Cristo na visão de João, espelha a teologia
altamente evoluída do Quarto Evangelho, muito mais adiantada em se tratando do
Jesus histórico.

Recapitulando

Não há dúvidas de que há aproximadamente dois mil anos um judeu foi


executado por ordem judicial em Jerusalém. Na época, isso era comum. A Palestina
estava em efervescência, judeus e romanos encontravam-se em conflitos e as
autoridades em geral reagiam severamente diante de qualquer possibilidade de
ameaça.
As consequências dessa execução, no entanto, provaram-se imensuráveis; a
decisão de Pôncio Pilatos motivou o surgimento de uma religião que ainda hoje
subsiste, influenciando a história do mundo. Mas o quanto sabemos realmente sobre
a Paixão - sequência de eventos descrita pelos seguidores de Jesus - a prisão, o
julgamento e a execução de um homem santo local cujo impacto póstumo só pode ser
comparado ao de raríssimas figuras históricas?
Neste livro, Geza Vermes analisa as contradições dos quatro evangelhos
canônicos - Mateus, Marcos, Lucas e João — para esclarecer o episódio da Paixão
de Cristo. Mostra, por exemplo, que a presença da Virgem Maria ao pé da Cruz é
detalhada apenas no relato de João; que apenas em Lucas encontram-se as famosas
palavras de Jesus, 'Pai, perdoa-lhes - não sabem o que fazem', em geral citadas pelos
cristãos como prova de que o perdão é a virtude distintiva de sua fé; e que só em
Mateus é desenvolvida a história da traição e do suicídio de Judas.
O autor aponta também equívocos de tradução dos textos, responsáveis por
uma série de mal-entendidos perpetuados ao longo da história. Além de investigações
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pontuais, Vermes amplia seu estudo para um contexto mais amplo e polêmico, ao
sugerir que os relatos dos evangelistas foram distorcidos de modo a culpar os judeus,
e não os romanos, pela morte de Jesus, o que teria servido de ponto de partida para
mais de dois mil anos de antissemitismo por parte dos cristãos.

Análise

O relato e as reflexões trazidas pelo livro “A Paixão” nos fazem adentrar no


mistério de nossa salvação, nos acontecimentos que fundamentam a nossa fé. O
interessante é que o autor tem o cuidado e a sensibilidade de separar cada
acontecimento para que possa analisa-lo e assim novamente construir, de forma
enriquecida, a história.
É realizada uma crítica ao filme dirigido por Mel Gibson afirmando que ele este
não teve compromisso com a realidade. E por esse motivo o autor resolve tratar cada
ponto da Paixão de Cristo confrontando os sinópticos com o Evangelho de João e
também com livros que estão fora do Novo Testamento, ou seja, com livros históricos,
com o objetivo de enriquecer e confirmar a veracidade dos relatos bíblicos.
Tal atitude do autor nos leva a uma maior reflexão sobre o nosso modo de
interpretar as Sagradas Escrituras, pois muitas vezes ficamos presos somente ao que
o texto em si nos traz e nos esquecemos de buscar em outras fontes materiais que
possam auxiliar nossa contextualização e até mesmo nossa comprovação histórica.
Permitindo assim, que nossa leitura e interpretação seja mais rica e menos
superficial, que é o que todos esperam de um estudante das Sagradas Escrituras,
teólogo e até mesmo um sacerdote.
Acredito que esse método abordado pelo autor possa ser aplicado em nossa
vida e em nosso trabalho pastoral, pois muitas vezes ficamos presos somente àquilo
que nos é informado sem antes pesquisar outras fontes para tentar ser o mais justo
possível. Desse modo podemos ir além das fachadas.

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