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Universidade Federal do Rio Grande

Instituto de Letras e Artes


Literatura Brasileira I
Prof. Luciana Paiva Coronel

MEMORIAL – AS INFLUÊNCIAS DA HIPOCRISIA EUROPEIA E CRISTÃ NA


HISTÓRIA DA LITERATURA

Acadêmico: Everton Odir Fontoura da Silva Junior Matrícula: 154392

Este memorial tem como objetivo retratar as minhas vivências em sala aula e das leituras
concluídas ao longo do primeiro bimestre da disciplina de Literatura Brasileira I, onde neste
período bimestral eu pude ter contato com materiais que retratam a história do início do Brasil o
período barroco e o início do período do arcadismo.
A seguir, irei retratar em tópicos detalhados as obras e os conteúdos trabalhados em sala
de aula e registrarei minha opinião sobre aquilo que me marcou e tudo o que eu consegui
absorver deste material num contexto geral.

CARTA DE CAMINHA, DE PERO VAZ DE CAMINHA:

Para introduzir a disciplina, nos foi apresentada como o princípio da literatura brasileira
no Brasil a Carta de Caminha, que narra as aventuras da náutica de Pero Vaz de Caminha em sua
chegada às índias, marcando o pontapé para aquilo que seria o descobrimento do Brasil há mais
de quinhentos anos.
Para todo estudante de Letras, trata-se de uma leitura essencial, não só para conhecer as
questões literárias da época que abrangem o modo de escrita, as narrações e a história real
retratada ali como também para entender um pouco mais das questões sociais que estão
estruturadas naquele conteúdo e que permanecem enraizadas na sociedade atual, que ainda age
de forma brutal mesmo depois desta metade de milênio.
Confesso que já havia tido contato com esta leitura no primeiro ano do ensino médio,
porém, acredito que a minha mente de adolescente de quinze anos não assimilou tudo o que era
retratado ali, ou então, apenas não queria enxergar o que se passava e o quão mal estava fazendo
o homem branco para aquela gente sem instrução que estava fascinada com a visita daquela
tripulação que parou por ali por engano.
Partindo para o aprofundamento dentro desta releitura mais detalhada que pude realizar,
percebi ali que a todo momento Caminha tinha segundas intenções em todos os seus atos
executados durante sua visita a aquelas terras. Lembrando também que, todos os relatos
presentes naquele documento expressam uma versão parcial de Caminha e que lhe autodenomina
uma espécie de herói que ali parou por acaso, mas que estava pronto para salvar a alma
“pecadora” daquelas “pobres criaturas ingênuas” (abro aqui um parênteses para ressaltar o
quanto a visão de Caminha estava a todo momento querendo pintar aquelas pessoas como
idiotas, como se o alto de seu privilégio branco o fizesse alguma espécie de entidade cheia de
gana de mudar aquele novo mundo diante dos seus olhos para um “melhor” que era conveniente
para si mesmo).
Como pude notar fortemente também, há questões bem persistentes neste documento
também com relação à presença dos corpos desnudos daquele povo indígena que ali habitava.
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Claro que isso causa surpresa a Caminha, até porque, até hoje o corpo nu causa tabus e
discussões na sociedade, porém, nitidamente as questões que levam Caminha a dar enforque
englobam pontos tão atuais como a objetificação do corpo, machismo, sexismo ao lado de sua
visão de mundo cristã e conservadora.
Por exemplo, vejo que para Caminha o fato de os indígenas do gênero masculino
andarem com suas vergonhas (aqui, outro termo repleto de problemáticas por conta do seu cunho
conservador) expostas é como se os tornassem rudes e desprovidos de educação, como se em sua
cabeça, houvesse alguma espécie de competição entre ele e estes indígenas, se fazendo superior
por ter “mais educação” por se preservar com suas vestimentas. Por outro lado, com as mulheres
eu pude perceber que a conotação de suas declarações eram outras, tornando-as “gentis e
novinhas”. Pude reparar a quão repleta de problemáticas estão lotadas estas declarações, afinal,
se com os homens o tratamento era hostil, com as mulheres claramente haviam segundas e
terceiras intenções da parte de Caminha, pois sua visão dá brecha para pensarmos que ele criou
em sua cabeça uma oportunidade de aproximação inexistente com estas moças de modo mais
íntimo. Digo mais, em minha visão diante desta leitura posso até afirmar que Caminha e seus
homens se aproveitaram a força de algumas destas mulheres, caminhando até para possíveis
casos de pedofilia, já que ele ressalta a todo momento o quão “novinhas” elas são.
Ainda sobre os corpos destas mulheres, noto também o quão longe demais Caminha vai
nas questões sexistas ao comparar os corpos destas mulheres aos corpos das mulheres europeias,
insinuando até que elas teriam inveja das indígenas. Inveja do que? Oras, são fenótipos e
genéticas diferentes, Caminha além de tudo tenta instaurar uma rivalidade inexistente entre estas
mulheres, ressaltando mais uma característica que está presente no homem de hoje em dia com
estas comparações.
Partindo para outro ponto, notei também uma grande incoerência nas falas de Caminha,
pois no mesmo ponto em que trata com excessos a “ingenuidade” deste povo (como se estivesse
idiotizando estes mesmos indivíduos com este tipo de fala), querendo salvar estas pessoas na
base do supremacismo religioso, também são tratados como “feras que precisam ser amansadas”.
Amansadas por que se são criaturas ingênuas que precisam serem salvas? Para mim faz sentido
algum, afinal em momento algum demostraram algum tipo de comportamento agressivo, muito
pelo contrário, em um ato de submissão involuntária eles até entregam seu armamento nas mãos
destes homens, se tornando extremamente vulneráveis a partir dali. E mesmo que demonstrassem
algum comportamento “agressivo”, quem são estes portugueses para querer domar pessoas como
se fossem bichos? É uma síndrome de prepotência gigantesca nas falas deste homem que chega
até a embrulhar o estômago.
E falando sobre a submissão involuntária praticada inconscientemente por estes
indivíduos em dar seu armamento a estes homens em troca de coisas que são banais para aqueles
homens, isso gera mais uma fresta em minha visão sobre a questão da exploração indevida de
minérios naquela terra. Caminha se faz de inocente e desentendido sobre não saber se há ou não
minérios por ali, ao mesmo passo que ele dá bugigangas em troca de coisas essenciais para a
sobrevivência desse povo para justamente dominá-los. Claro que é conveniente desarmá-los,
assim fica mais fácil para dominá-los.
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Outras questões de domínio que encontrei presentes nesta situação é o fato dos
portugueses querem a todo custo fazê-los fiéis consumidores do vinho contra sua vontade, em
uma clara tentativa de torná-los dependentes do alcoolismo, afirmando que com costume eles
irão consumir vinho com mais frequência. Além de, claro, o ápice nisso tudo: a tentativa de
doutriná-los com a religião. Catequeses realizadas em modo teatral, construção de cruz naquelas
terras seguida de atos como exaltar aquelas figuras, dentre outras artimanhas foram realizadas
para converter aquela gente inconscientemente a algo que elas não faziam ideia para tomá-los em
suas mãos. Em uma rápida visualização, podemos associar este fato à história recente do país,
onde um homem branco autointitulado religioso tentou manipular parte da nação dizendo-se ser
“cidadão de bem”, algo que para mim é imprescindível de semelhança dentro deste contexto.
Enfim, com a Carta de Caminha eu pude notar o quanto o Brasil pouco mudou ao longo
destes quinhentos anos em termo do conservadorismo cristão, da corrupção dos brancos em
tomar o que é de direito dos pobres, das questões envolvendo o abuso moral e sexual por parte
dos homens quanto às mulheres e da inferiorização de raças. Se por um lado é fascinante ter
acesso à materiais tão ricos dos nossos primórdios, por outro lado é deplorável ler como tudo
começou e como ainda se repete até os dias atuais.

O KARAÍBA E METADE CARA, METADE MÁSCARA:

Com a Carta, tivemos acesso à visão romantizada e perfeita do homem branco, que se
julga ser o salvador da pátria e da moral dos povos indígenas com seus comportamentos erráticos
e conservadores. Porém, passada essa parte, adentramos aos textos que tratam a visão dos dias
difíceis enfrentados pelos povos indígenas com “O Karaíba” e com “Metade Cara, Metade
Máscara”. A seguir, trago uma análise do que pude absorver com base nestas leituras.
O início de “O Karaíba” nos traz uma previsão de que tudo aquilo que era essencial para
a sobrevivência dos indígenas como as plantas, a água, a terra e os animais seriam fortemente
destruídos pela passagem de um grande monstro. Aqui, interpreto que talvez este grande monstro
possa ser a ação do homem branco, interligando esta leitura à anterior, pois sabemos o quanto a
ação dos homens portugueses iniciou períodos de trevas aos povos originários.
Com esta leitura, gostaria de ressaltar o quanto me chamou a atenção os perfis dos
personagens principais, Perna Solta e Potyra, vindos de tribos opostas que no passado eram uma
só, mas que por acasos do destino, acabaram se bifurcando em rivais. A missão de ambos era
estabelecer a paz entre suas tribos, em uma época onde os homens eram destinados a serem
fortes guerreiros e as mulheres a se restringir apenas a parirem filhos uns atrás dos outros,
porém, o que me encanta é o como o perfil destes dois personagens é construído com
características fora dos padrões para aquela época.
Cheio de sensibilidade e com pouca vocação para ser guerreiro, Perna Solta é um
exemplo da quebra doo tradicional perfil onde o homem precisa ser totalmente másculo e
rudimentar, enquanto Potyra, mesmo destinada pela previsão de Yara a ir para a guerra com o
intuito de conhecer o pai de seu filho, que irá unir aquelas duas tribos novamente, em momento
algum abre mão dos seus anseios e da enorme vontade de honrar o legado de seu pai e ser uma
grande guerreira. Claramente estas duas relações entre estes personagens quebra os padrões
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machistas e patriarcais de uma época onde tudo era preto no branco e deveria ser como mandava
a lei dos homens.
Perna Solta e Potyra são dois exemplos admiráveis de como o homem e a mulher podem
conquistar um espaço aonde quiserem e de como não devem seguir os padrões infelizes de uma
sociedade julgadora, tudo isso em meio a um enredo místico que prevê as desgraças causadas
pelo homem branco.
Já com a leitura de “Metade Cara, Metade Máscara” ressalto o quanto me senti tocado e
até mesmo surpreso com muitos dos relatos presentes no livro, escrito sob o intuito de exaltar as
raízes indígenas presentes em terras brasileiras desde os primórdios, mas que até hoje sofrem
todos os tipos de negligência por parte da nação. Vejamos como exemplo a tragédia do povo
Yanomami ocorrida recentemente no governo anterior do nosso país, relativizada pelo mesmo e
por outras partes envolvidas naquela gestão.
Penso no quão absurdo essas pessoas foram e até hoje são maltratadas pelo simples fato
de existirem, não possuindo os direitos mais básicos e humanos que qualquer pessoa merece e
deve ter, sendo que diariamente deveriam ter sua existência exaltada, afinal, se este país existe é
graças às raízes construídas pelos povos originários desde o começo de tudo.
“Metade Cara, Metade Máscara” é a realidade nua e crua, a dura realidade explícita dos
povos originários que me fez colocar a mão na consciência e sentir o quanto essas pessoas
sofrem indevidamente, o quanto são estigmatizadas e execradas em nome da cultura do
privilégio branco estabelecida no começo de tudo. É uma leitura essencial que eu recomendo
para que toda e qualquer pessoa entenda mais e pense mais sobre essa causa tão ignorada, mas
muito importante por se tratar do maior pedaço da história da existência do Brasil.

O SOM DO RUGIDO DA ONÇA, DE MICHELINY VERUNSKI:

A terceira e última leitura do ponto de vista indígena se trata de “O Som do Rugido da


Onça”, onde pouco consegui compreender da leitura, por achar a história um tanto quanto
confusa à princípio. Por se tratar de uma história onde o rapto seguido de morte da pequena
indígena Iñe-e nas mãos dos brancos, quem além dela, levaram das terras brasileiras outras
riquezas, ao meu ver, a leitura por fim reforça os argumentos onde os brancos pouco se
importam com as vidas indígenas, que para eles, são tão irrelevantes quanto as de animais
utilizados em testes de laboratório.
Do pouco que consigo compreender desta leitura, a tragédia de Iñe-e é mais um
lamentável caso representativo da negligência e da pouca importância que a vida indígena tem
para a raça branca.

TEXTOS CATEQUÉTICOS, DE PADRE JOSÉ DE ANCHIETA:

Finalizando o período do Quinhentismo, temos os textos de cunho religioso de Padre José


de Anchieta, que sob minha visão, são de um extremo conservadorismo e deturpam totalmente
os fatos ocorridos no período na batalha entre portugueses e os povos originários.
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Para o autor, os portugueses são a representação de “Deus” enquanto os indígenas são o


“Diabo”, porém, alinhando todas as leituras fora as pesquisas realizadas por fora e todo o
conhecimento adquirido sobre este período histórico, constato que para os dias de hoje estes
textos insultam a inteligência do leitor, ao menos assim me senti ao me deparar com eles.
Para mim, o caso dos textos catequéticos do Padre José de Anchieta padecem do mesmo
problema da Carta de Caminha, que apesar de serem essenciais para entendermos um pouco mais
do período literário daquele tempo, nos dias de hoje me causa revolta pela forma deturpada e
fingida como o autor tenta vender uma imagem agressiva, feroz e até mesmo diabólica de
criaturas que tiveram suas terras invadidas, profanadas (o que causa até certa incoerência, por vir
de seres que se dizem cristãos) e exploradas para sugar tudo o que havia que pudesse trazer lucro
e riqueza para estes brancos.
Isso sem contar o quanto é incentivado que esses indivíduos merecem ser exterminados
para que o “bem” possa reinar. Que bem é esse que incentiva o genocídio de uma raça inocente
que estava em sua própria propriedade e que gera resquícios dessas consequências até hoje?
Concluo as leituras deste período com um sentimento de revolta, pois como eu disse
anteriormente, as consequências desses atos tão monstruosos estão presentes na nossa sociedade
até hoje, com total respeito zero aos povos originários.

INTRODUÇÃO AO BARROCO:

Com o término do período do Quinhentismo, partimos em aula para o período Barroco,


marcado pelo estilo rústico e ousado na arte daquele período, e quando falo em arte, me refiro
com certeza também aos textos deste período.
Se mal me recordo, logo na primeira aula sobre este período foi quando a professora nos
trouxe a representação de uma igreja barroca acompanhada de uma música daquele período, e
apesar da construção requintada deste local e da sonoridade extravagante da canção, senti-me um
tanto quanto desconfortável, afinal, tenho uma certa resistência a ambientes como este. Consegui
sim sentir a energia do momento, porém, isso não me causou bons sentimentos.
Logo a seguir, constarão as leituras deste período que foram trabalhados em aula, as quais
trago aqui algumas análises e pontos destacados sob meu ponto de vista.

POEMAS DE GREGÓRIO DE MATOS:

Marcado por um texto ousado com forte presença da sátira, repleto de sinceridade quanto
aos acontecimentos da sociedade daquela época e com bastante duplo sentido beirando o cunho
erótico, os poemas do Gregório de Matos (ou Boca do Inferno, como também é chamado) me
causaram certo choque no primeiro princípio quando os li e também quando os acompanhei em
aula, pois nunca havia visto obras com um vocabulário tão escrachado e repleto de palavras de
baixo calão, afinal, estava mais acostumado com poemas de cunho mais romântico ou levados
para o lado melancólico.
No entanto, são poemas nos quais caíram no meu gosto justamente pelo seu diferencial de
serem diretos e sinceros quanto ao assunto que está sendo tratado como tema, além da acidez
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bastante presente no texto do Gregório. Alguns me chamaram mais atenção do que outros,
nitidamente, então darei mais enforque a estes que me marcaram mais para registrar o que
absorvi deles.
No poema “A uma que me chamou de pica-flor”, temos aqui uma analogia ao termo pica-
flor (ou beija-flor) para uma situação na qual logo se nota o cunho sexual, pois após ser chamado
de tal alcunha, o eu-lírico questiona se sendo “pica-flor”, ele conseguirá “picar a flor que
guardais”. Apesar de não ser um exemplo didático e repleto de duplo sentido sexual, acredito que
à primeira vista para o mais desavisado mal se nota o que o eu-lírico está querendo passar com
sua mensagem, visto que a figura do beija-flor indo de encontro ao néctar das flores é um tanto
quanto delicada, mas, se fizermos analogia ao grande bico do pássaro penetrando aquela flor
para tirar seu néctar, logo notamos que tanto o bico quanto a flor fazem referência aos órgãos
sexuais masculino e feminino. No entanto, em primeiro caso pude notar o conteúdo erótico aqui
presente.
Outro poema que me marcou de certa forma é o poema “Defina sua cidade”, que diz que
a Bahia está composta de dois ff: os de “furtar” e “foder”, e de certa forma isso me remeteu um
pouco aos problemas atuais da sociedade, podendo contextualizar estas duas palavras com o fato
onde um está disposto a passar por cima do outro através de métodos ilícitos e corruptos, não
propriamente dito “furtar”, onde no fim, o indivíduo que propaga o mal também está disposto a
“foder” o próximo, não em conotação sexual, mas em apenas ferrar com a vida alheia, em
propagar o escárnio em nome dos benefícios próprios.
Já no poema “Definição do Amor”, percebi que o conteúdo do poema retrata o amor
como um “rebuliço” no sentido geral onde tudo começa através dos excessos com o álcool,
talvez muito pelo fato da bebida alcoólica liberar os atos presos no nosso subconsciente que não
faríamos sóbrios diante dos demais. Ou seja, a libido sexual é externada após a bebedeira e
depois tudo acaba na cama, sendo esta a concepção de amor do eu-lírico, embora eu acredite que
o amor é um sentimento complexo e delicado demais para ser limitado à atos sexuais decorrentes
do uso de álcool.
Na minha opinião, apesar de serem poemas do meu agrado, acredito que os poemas de
Gregório são inacessíveis para a grande massa por tratar de temas que tocam na ferida da
sociedade até nos dias de hoje, além de certamente irritar os mais conservadores por conta do seu
linguajar. Como um futuro docente, não creio que os exemplos citados acima sejam os mais
apropriados para se trabalhar em sala de aula, mas, acredito que para os amantes de poemas
como eu, é uma boa fonte literária por sair do comodismo dos demais poetas e por se arriscar
sem medo de escandalizar.

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA, DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA:

Por fim, finalizando o período do barroco, temos um dos maiores atos que marcou o
movimento, o já mencionado “Sermão da Sexagésima”, proferido por António Vieira. Com ele,
percebo as evidências de que António Vieira foi um dos principais opositores do movimento,
culpabilizando os artistas daquele período pelos “pecados” proferidos em sociedade. Como
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mencionado anteriormente, o texto de Gregório de Matos, por exemplo, claramente pode servir
como argumento de atentado aos bons costumes do público conservador daquele período.
Aproveitando-se para culpabilizar até a própria ala religiosa pela falha na doutrina da
religião, António Vieira tenta com essa missa executar um papel quase como o da catequização
dos portugueses com os indígenas, em um discurso que nos dias de hoje pode ser classificado
como absurdo.
No entanto, não é de se surpreender que a igreja sempre tentou dominar as relações
universais e controlar tudo aquilo que julgava como imoral. Percebo que o barroco executou uma
transgressão brusca naquela sociedade tão primitiva que jamais alguém aceitaria a cultura
pregando textos com vocabulário vulgar. Incoerente, pois naquela época esta mesma ala religiosa
cultuava a imagem de Cristo seminu com os pelos pubianos à mostra, mas não era capaz de
tolerar que tudo de imoral que executassem entre quatro paredes fosse exposto em sonetos pelos
escritores.

CONCLUSÃO:

Traçando um paralelo entre os dois períodos, percebo que o domínio da igreja e do


homem branco sempre foi um percalço para a sociedade, enquanto a naturalização de coisas
banais como o sexo e o corpo humano nu foram vistos como transgressões sem tamanho, seja
através da representação física quando através da representação literária.
Com isso, concluo que meu aprendizado com base nas aulas e nas leituras do bimestre
foram importantes para perceber como a nossa cultura sempre esteve envolta pelas amarras
moralistas daqueles que são hipócritas e cultuam coisas como a objetificação do corpo feminino,
o adultério e até mesmo a pedofilia, muito recorrentes neste período.

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