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FORTALEZA
2014
NATHÁLIA FERREIRA ONOFRE
FORTALEZA
2014
O58a Onofre, Nathália Ferreira
O acolhimento institucional de crianças e adolescentes em
foco: As inspeções do Ministério Público / Nathália Ferreira
Onofre. Fortaleza – 2014.
68f.
Orientador: Profª. Drª. Francisca Helena Rocha.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.
This study addresses the institutional care of children and adolescents to Fortaleza
and inspections conducted by prosecutors in these spaces. The research presents
quantitative and qualitative data, seized by insertion of the researcher as an intern for
Social Service, interprofessional crew that performs this work of prosecutors.
Problematizes recurrent practices in residential care services. It also presents the
actions taken by prosecutors to intervene in these spaces, points out the advances
and the challenges posed to this procedure. Depicts the trajectory of care policies for
children and adolescents from Brazil to Cologne today, drawing a parallel with the
policy of Social Assistance. The result of the research finds that the services of
institutional care have a number of problems that need the intervention of the public
prosecutor to be remedied. The problems are related to inadequate physical
infrastructure, the scarce human resources, lack of safety and hygiene, overcrowding
of reception spaces, the constant exchange of educators and technical teams. Given
the observed facts, prosecutors articulated a group of professionals to formulate an
Individual Service Plan (IAP) unified. Also requested the Fire Department and the
Health Surveillance, conducting inspections of residential care entities, these being
issues identified in the research as advances. The challenges posed to improve
services to children and youth by the inspected institutions make reference to the
ongoing reorganization of these services to the municipal level, the establishment of
an effective crew and educators, with affinity and qualification for work in these
spaces .
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
1 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................ 13
2 HISTÓRICO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
NO BRASIL ........................................................................................................... 20
2.1 Do Brasil Colônia à implementação do Estatuto da Criança e do
Adolescente ......................................................................................................... 20
2.2 A Assistência Social e o Acolhimento Institucional de Crianças e
Adolescentes ....................................................................................................... 32
3 AS INSPEÇÕES NOS ACOLHIMENTOS INSTITUCIONAIS E A ATUAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO ......................................................................................... 39
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 52
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55
ANEXOS ................................................................................................................... 59
10
INTRODUÇÃO
1
O Centro de Apoio Operacional da Infância e da Juventude criado através do Provimento
Nº001/95 e alterado pelo Provimento Nº70/2008, é órgão Auxiliar do Ministério Público Estadual
instituído para acompanhar e executar ações voltadas à proteção dos interesses de crianças e
adolescentes, servindo de suporte ao trabalho dos promotores de Justiça, competindo-lhe: Estimular
a integração e o intercâmbio entre órgãos que atuam na área da Infância e da Juventude e que
desenvolvem atividades afins; Remeter informações técnico-Jurídicas sem caráter e da Juventude;
Estabelecer intercâmbio permanente com entidades ou órgãos públicos e privados que atuam em
áreas afins, para obtenção de elementos técnicos especializados, necessários ao desempenho das
funções ministeriais relativas à Infância e à Juventude; Exercer outras funções compatíveis com as
atribuições da Promotoria da Infância e da Juventude, vedado o exercício de qualquer atividade
própria de órgão de execução, bem como a expedição de atos normativos a estes designados;
Remeter anualmente, ao Procurador Geral de Justiça relatório das atividades do Ministério Público
relativas às Promotorias da Infância e da Juventude, em Intercâmbio com entidades afins.
(Informações retiradas do endereço eletrônico:
http://www.mpce.mp.br/orgaos/CAOPIJ/apresentacao.asp)
12
1 PERCURSO METODOLÓGICO
2
Este documento foi aprovado por meio da Resolução Conjunta n.º 1, de 18 de junho de 2009,
assinada pelo Presidente do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e pelo Presidente do
15
que, mesmo em relação às perguntas fechadas, com opções SIM ou NÃO, sempre
houve a contextualização dessas respostas por parte dos gestores ou da equipe
técnica de cada instituição levando, em média, 1 a 2 horas. Após o preenchimento
do formulário, foi realizada a visita às instalações físicas, sendo este momento
aproveitado para a observação da situação física dos dormitórios e o número de
crianças que acomoda, dos banheiros, das áreas de uso comum e do número de
educadores por crianças. Esse foi o momento em que também se realizou uma
conversa espontânea e informal com os educadores sociais, a fim de conhecer e
compreender a dinâmica institucional por meio da visão dos responsáveis pelo
cuidado diário com as crianças e os adolescentes institucionalizados.
O processo de inspeção a uma Unidade de Acolhimento Institucional
durou em torno de 4 a 5 horas, a depender do tamanho da instituição. Cabe ressaltar
que cada inspeção deve gerar um parecer técnico e um parecer do Promotor de
Justiça responsável pela realização de tal procedimento. Foi no momento do parecer
que se fez necessário a análise de todas as questões observadas e apreendidas
durante a inspeção, pois todos os pontos importantes que não estão englobados no
formulário devem constar no parecer da equipe técnica que acompanha o Promotor
de Justiça, para assim ser demonstrado o panorama de cada instituição.
Para este trabalho, a pesquisa bibliográfica se fez necessária ao
proporcionar a reconstrução histórica e a compreensão do processo de construção
de uma política de atendimento a crianças e adolescentes no Brasil, assim como das
legislações existentes que regulamentam a operacionalização da medida de
acolhimento institucional, no qual o segmento infanto-juvenil está inserido.
Assim conforme Gil (2008, p. 50),
enterrar mortos nas igrejas, alimentar presos, amparar órfãs e recolher crianças
depositadas nas rodas dos expostos (ROCHA, 2012).
Conforme Rizzini e Rizzini (2004, p. 23), “uma modalidade de
atendimento a bebês abandonados de longa duração foi o sistema das Rodas dos
Expostos, surgindo no Período Colonial por iniciativa da Santa Casa de Misericórdia
e somente sendo extinto na República”.
Nos séculos XVI e XVII, já podiam ser visualizadas crianças abandonadas
nos arredores das vilas, porém somente no século XVIII surgiram as primeiras
instituições de proteção a crianças abandonadas.
pobres ou órfãs desvalidas, inicialmente foi separado dos recolhimentos das órfãs
legitimas, e esse tipo de recolhimento tinha por finalidade a formação de boas
empregadas domésticas (RIZZINI e RIZZINI, 2004).
Dessa forma, pode-se perceber que o tratamento empregado para as
meninas variava de acordo com sua proveniência social. Deste modo, para as que
advinham de classe social inferior não havia perspectiva de ascensão, apenas a
permanência na sua condição na classe proletariada.
mendigo (os que pedem esmolas ou vendem coisas) e libertinos (os frequentadores
de prostíbulos).
Diante desse contexto, pode-se perceber que mesmo que o SAM tenha
surgido com a intenção de atender aos menores desvalidos, houve o desvirtuamento
deste serviço ao incorporar “menores” que não sern iam o seu perfil de atendimento,
não havendo estrutura mínima para a garantia da qualidade do atendimento
prestado aos desvalidos ou a qualquer outro que adentrasse no Serviço. Assim, a
partir de 1950, surgiram muitas críticas ao órgão, sendo proposta a criação de um
novo instituto.
Com a decadência do SAM, foi criada a Fundação Nacional do Bem-Estar
26
Essa legislação era voltada apenas para aqueles que se encontravam em “situação
irregular”, ou seja, todo menor de 18 anos de idade que estivesse “privado de
condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória; em perigo
moral; privados de representação ou assistência legal, pela falta eventual do pais ou
responsável; com desvio de conduta, e virtude de grave inadaptação familiar e
comunitária; autor de infração penal”.
6
No governo de Getúlio Vargas foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA) como forma de
atender aos combatentes da II Guerra Mundial, bem como suas famílias. Ela também se estabeleceu
como uma instituição de assistência suplementar para toda a sociedade (BONFIM, 2009, p. 66).
7
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a introduzir o conceito de seguridade social, incluindo
aí a noção de assistência social como política de proteção, afirmativo de direitos na superação do
histórico de práticas laicas, caritativas e clientelistas. Ao incluí-la no tripé da seguridade social junto à
saúde e à previdência social, a Carta Magna legitimou a assistência social no campo dos direitos, da
universalidade do acesso e da responsabilidade estatal; entretanto, contraditoriamente, favorece as
entidades beneficentes com isenções de contribuições para a seguridade social (art. 195, parágrafo
7º) e também não explicita com clareza os termos dessa filantropia e a situa como estratégia para
conceder vantagens às entidades e não garantir direitos à população. Cinco anos após a
Constituição, a Lei n.º 8.742/93 – Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS foi editada com a
finalidade de regulamentar e garantir o status de política pública conferido à assistência pela
Constituição de 1988, e assim propôs a sistematização e a institucionalização desta política pública,
ao estabelecer normas e critérios para a efetivação proposta (ROCHA, 2012, p. 83).
8
Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
9
Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990.
29
10
Art. 6º do Estatuto da Criança e do Adolescente.
11
O acolhimento institucional é um atendimento voltado às crianças e adolescentes que, de alguma
maneira, tiveram seus direitos ameaçados ou violados, por isso necessitaram ser afastados do
convívio familiar de modo temporário. Essa medida está prevista no Estatuto da Criança e do
Adolescente, sendo que o termo “abrigamento”, que antes definia a situação, foi substituído (com a lei
12.010/09) - “Lei da adoção”) pela terminologia “acolhimento institucional” (MOREIRA, 2013, p. 66).
12
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos
reconhecidos nesta lei forem ameaçados ou violados: I – por ação ou omissão da sociedade ou do
Estado; II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis; III – em razão de sua conduta.
13
Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Podre Público assegurar,
com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos, referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
30
Capítulo III
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
Seção I
Disposições Gerais
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no
seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada
a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de
pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
o
§ 1 Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de
acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no
máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária
competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional
ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de
reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
o
§ 2 A permanência da criança e do adolescente em programa de
acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo
comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse,
devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.
o
§ 3 A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família
terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será
esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do
parágrafo único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos
incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (BRASIL, 1990).
Dessa forma, pode-se observar que por ser uma medida excepcional e
15
Resolução Conjunta n.º 1 de 13 de dezembro de 2006.
32
para que não ocorram excessos na execução da mesma, a legislação determina sua
forma de operacionalização, estipulando um período máximo para a avaliação da
medida por uma equipe interprofissional ou multidisciplinar e o período de
permanência na unidade, salvo necessidade comprovada.
Em concordância com o objeto desta pesquisa, destaca-se o Art. 131 que
institui o Conselho Tutelar, consistindo este último um “órgão permanente e
autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento
dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta lei”. Este órgão tem como
uma de suas atribuições aplicar as medidas do Art. 101, e dentre elas, a medida de
acolhimento institucional.
Outro destaque a ser feito é acerca das funções do Ministério Público com
atuação na seara da infância e juventude. Assim, conforme exposto no ECA, em seu
Art. 201 inciso XI, compete ao Ministério Público “inspecionar as entidades públicas
e particulares de atendimento e os programas de que trata esta lei, adotando de
pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de
irregularidades porventura verificadas”.
Em concordância com essa atribuição, e sendo dever do membro do
Ministério Público fiscalizar as entidades governamentais e não governamentais
referidas no Art. 90 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Conselho Nacional
do Ministério Público (CNMP) aprovou a Resolução n.º 71/2011 que dispõe sobre a
atuação do membros do Ministério Público na defesa do direito fundamental à
convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes em acolhimento. Esta
Resolução instituiu e buscou operacionalizar a realização da inspeção nas
instituições que desenvolvem o programa de acolhimento institucional, sendo
elaborado, pelo CNMP, um formulário específico para apreensão dos dados que
serão apresentados nessa pesquisa.
Art. 17 § 4º Os Conselhos de que tratam os incisos II, III e IV do art. 16, com
competência para acompanhar a execução da política de assistência social,
apreciar e aprovar a proposta orçamentária, em consonância com as
diretrizes das conferências nacionais, estaduais, distrital e municipais, de
acordo com seu âmbito de atuação, deverão ser instituídos,
respectivamente, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios,
mediante lei específica. (LOAS, 1993).
16
Art. 194 da Constituição Federal de 1988.
17
Lei nº 8.742 de 1993, alterada pela Lei nº 12.435 de 2011, que dispõe sobre a organização da
Assistência Social e dá outras providências.
34
18
O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), que é a unidade pública municipal, de base
territorial, localizada em áreas de maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à
articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência e à prestação de serviços,
programas e projetos socioassistenciais de proteção básica às famílias.
19
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), que é a unidade pública de
abrangência e gestão municipal, estadual ou regional, destinada à prestação de serviços a indivíduos
e famílias que se encontram em situação de risco pessoal ou social, por violações de direitos ou
contingência, que demandam intervenções especializadas da proteção social especial.
36
Art. 2º A assistência social tem por objetivos: (Redação dada pela Lei nº
12.435, de 2011)
I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e
à prevenção da incidência de riscos, especialmente: (Redação dada
pela Lei n.º 12.435, de 2011)
a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice; (Incluído pela Lei n.º 12.435, de 2011)
b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; (Incluído pela Lei nº
12.435, de 2011)
c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; (Incluído pela Lei nº
12.435, de 2011)
d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária; e (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; (Incluído pela Lei nº
12.435, de 2011)
II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a
capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades,
de ameaças, de vitimizações e danos; (Redação dada pela Lei nº 12.435,
de 2011)
III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no
conjunto das provisões socioassistenciais. (Redação dada pela Lei nº
12.435, de 2011). (LOAS, 1993, grifo nosso).
20
Preâmbulo da Resolução n.º 02/10 do CNJ.
38
21
Situação ocupacional na qual a pesquisadora se inseriu ao realizar a pesquisa.
40
22
No regime de cogestão, a unidade de acolhimento tem sua gestão compartilhada entre a Secretaria
de Trabalho e Desenvolvimento Social e a ONG que administra os recursos estaduais para a
manutenção dos serviços. Essas instituições funcionam em prédios públicos cedidos pelo governo do
estado, têm alguns funcionários que são servidores públicos e alguns custos também são de
responsabilidade da secretaria estadual.
23
Nesse regime de gestão, a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social mantém convênio e
faz repasse de recursos para uma ONG que administra os serviços de acolhimento institucional para
crianças e adolescentes.
24
Sobre as vagas ociosas cabe ressaltar que foi constatado que algumas unidades de acolhimento,
estavam atendendo acima da capacidade física, e que, embora apresentem legalmente um número
elevado de vagas, não há camas e local físico para os acolhidos dormirem em condições dignas e
salubres. Verificou-se ainda, a existência de instituições que mantém jovens adultos com histórico de
institucionalização, que por não terem autonomia suficiente para saírem da unidade de acolhimento e
permanecem nesse espaço. Geralmente isso ocorre pela da existência de alguma deficiência e/ou
por não terem vínculos familiares, permanecendo nos acolhimentos e ocupando as supostas vagas
ociosas.
25
Durante as inspeções, visualizamos que as instituições que ainda acolhiam jovens adultos, em
novembro de 2013, tinham conseguido desinstitucionalizar alguns desses sujeitos, porém ainda
existem alguns jovens adultos, em especial, os com alguma deficiência.
41
– FEMININO 6 26,09%
– MASCULINO 5 21,74%
– AMBOS 12 52,17%
TOTAL 23 100,00%
Fonte: Próprio autor
26
A ênfase na separação do grupo de irmãos se dá em consequência das diversas legislações que
afirmam a necessidade da garantia do direito à convivência familiar e comunitária. Entretanto, viu-se a
necessidade de pesquisas acerca dessa temática nos acolhimentos institucionais sob a perspectiva
das crianças e adolescentes inseridos nesses espaços.
27
Atendimento a adolescentes gestantes, crianças e adolescentes do sexo masculino em situação de
rua, crianças e adolescentes abusadas ou exploradas sexualmente, dentre outros.
42
28
Número referente ao período pós-inspeção de março a novembro de 2013.
29
Número referente ao período pós-inspeção de novembro de 2013 a março de 2014.
43
30
Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social, órgão ligado ao governo estadual.
44
NOV/13 19 4 23
MAR/14 22 4 26
Fonte: Próprio autor
rotatividade de cuidadores, são fatores que podem ter um impacto negativo sobre o
desenvolvimento do acolhido” (MORÉ e SPERANCETTA, 2010, p. 520).
Observou-se que esses fatores são nítidos em instituições de grande
porte, e que em Fortaleza existem três acolhimentos desse nível. Em média esses
espaços atendem de 90 a 100 crianças e adolescentes, sendo verdadeiros depósitos
de crianças, visto que é humanamente impossível a realização de um trabalho de
acompanhamento individualizado, diante dessa enorme demanda, tanto por parte da
equipe técnica quanto pelos educadores.
A Orientação Técnica determina que em instituições de Acolhimento
Institucional o número máximo de acolhidos é de 20 crianças e adolescentes, para
uma equipe técnica composta por dois profissionais de nível superior em serviço
social e psicologia. A equipe de educadores deveria ser composta por educadores e
auxiliares de educadores com turnos fixos, na proporção de um profissional e um
auxiliar para cada 10 usuários. Já na modalidade Casa-lar, a Orientação determina
que cada instituição pode atender até 20 acolhidos subdivididos em até três casas-
lar, com uma equipe técnica de dois profissionais de nível superior, com graduação
em serviço social e em psicologia, e a existência de um educador e auxiliar de
educador residentes em cada casa-lar.
Durante as inspeções, notamos que essas normas não são seguidas por
nenhuma das instituições de acolhimento, sejam elas patrimoniais ou ONGs, sendo
constatada: a existência de instituições com número imenso de acolhidos; nas
instituições categorizadas de acolhimento institucional, os educadores trabalham em
regime de plantão; e que, em muitas delas, o número de profissionais não atende à
demanda dos espaços. Verificou-se que em algumas casas lares existem os
educadores e auxiliares residentes, porém, em outras, esses profissionais trabalham
em regime de plantão. Também se observou que algumas casas-lar ultrapassam o
limite de acolhimento estabelecido em lei.
Em Fortaleza, identificamos algumas instituições “híbridas”, ou seja, que
apresentam características de acolhimento institucional e de casa-lar, sendo
necessário um trabalho explicativo por parte da equipe que realiza inspeção, ficando
nítida a falta de conhecimento dos parâmetros previstos no documento Orientações
Técnicas, pois algumas instituições, ora se reconhecem como casas-lar ora como
acolhimentos institucionais. Foi detectada a existência de instituições se identificam
como casa-lar, sem, entretanto, ter suas características básicas.
48
NOV/13 % MAR/14 %
SIM 13 56,52% 14 53,85%
Tabela 6- Índice de instituições que estimulam a autonomia dos acolhidos e permitem a saída
com os amigos e a participação em atividades na comunidade.
NOV/13 % MAR/14 %
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DEL PRIORE, Mary (Org). História das crianças no Brasil. 5. ed. São Paulo:
Contexto, 2009.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2008.
57
LONDOÑO, Fernando Torres. A origem do conceito menor. In: DEL PRIORI, Mary
(Org.). História da criança no Brasil. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2009. Cap. 8. p.
129-145.
ANEXOS
60
31
Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília-DF, Junho/2009:
- Número máximo de usuários por equipamento: Acolhimento Institucional – 20 /Casa Lar – 10 (pp. 69 e 76).
- O Acolhimento Institucional e a Casa-Lar devem acolher crianças e adolescentes de 0 a 18 anos de ambos os sexos (pp. 68 e 75).
- Devem ser evitadas especializações e atendimentos exclusivos - tais como adotar faixas etárias muito estreitas, direcionar o atendimento
apenas a determinado sexo, atender exclusivamente ou não atender crianças e adolescentes com deficiência ou que vivam com HIV/AIDS. A atenção
especializada, quando necessária, deverá ser assegurada por meio da articulação com a rede de serviços, a qual poderá contribuir, inclusive, para
capacitação específica dos cuidadores (pp. 69 e 75).
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n.º 12.010/2009
Art. 92, princípio V - Não desmembramento de grupos de irmãos.
61
32
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 12.010/2009
Art. 93 - As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, acolher crianças e
adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da
Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.
Art. 101 §2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que
alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e
importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten cioso, no qual se
garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Art. 136 – parágrafo único - Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar,
comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas
para a orientação, o apoio e a promoção social da família. (NR)
33
Referência: SILVA, Enid Rocha Andrade da (Coord.). O direito à convivência familiar e comunitária: os abrigos para crianças e adolescentes no Brasil.
Brasília: IPEA/CONANDA. 2004.
62
34
Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:
A entidade de acolhimento institucional e a Casa Lar deverão estar localizados em áreas residenciais. “Deverão manter aspectos semelhantes ao
de uma residência, seguindo o padrão arquitetônico das demais residências da comunidade na qual estiver inserida. Não devem ser instaladas
placas indicativas da natureza institucional do equipamento, também devendo ser evitadas nomenclaturas que remetam a aspectos negativos,
estigmatizando e despotencializando os usuários” (págs. 69 e 77).
63
35
Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:
O Projeto Político-Pedagógico (PPP) “deve orientar a proposta de funcionamento do serviço como um todo, tanto no que se refere ao seu
funcionamento interno, quanto seu relacionamento com a rede local, as famílias e a comunidade. Sua elaboração é uma tarefa que deve ser
realizada coletivamente, de modo a envolver toda a equipe do serviço, as crianças, adolescentes e suas famílias. Após a elaboração, o Projeto
deve ser implantado, sendo avaliado e aprimorado a partir da prática do dia a dia” (pág. 50).
36
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 12.010/2009
Art. 101 § 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional,
governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre
outros:
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;
II - o endereço de residência dos pais ou o responsável, com pontos de referência;
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.
64
CASA LAR38
3.29. No caso de Casa Lar, a coordenação e a equipe técnica especializada estão
sediadas na casa?
(___) Sim (___) Não
3.30. No caso de Casa Lar, o educador/cuidador residente tem períodos livres
diários e um esquema de folgas semanais que possibilite sua participação em
atividades outras que não as da casa, além de férias anuais fora do ambiente da
Casa Lar?
(___) Sim (___) Não
3.31. No caso de Casa Lar, qual a frequência de substituição dos cuidadores?
(___) Menos de 6 meses
(___) De 6 meses a 1 ano
(___) De 1 a 2 anos
(___) Não há substituição
3.32. No caso de Casa Lar, qual o critério de divisão das crianças e dos
adolescentes?
(___) Faixa etária
37
Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:
Equipe Profissional Mínima – Abrigo Institucional (p. 69):
01 coordenador. 02 profissionais (equipe técnica). 01 educador/cuidador para até 10 usuários, por turno. 01 auxiliar de educador/cuidador para até
10 usuários por turno. A quantidade de educador/cuidador e auxiliar de educador/cuidador deverá ser aumentada quando houver usuários que
demandem atenção específica (com deficiência, com necessidades específicas de saúde ou idade inferior a um ano).
Equipe Profissional Mínima – Casa Lar (p. 77):
01 coordenador. 02 profissionais (equipe técnica) – ambos para o atendimento a até 20 crianças e adolescentes em até 03 casas-lares. 01
educador/cuidador residente para até 10 usuários. 01 auxiliar de educador/cuidador residente para até 10 usuários, por turno.
38
O preenchimento dos itens 4.30, 4.31, 4.32 e 4.33 refere-se exclusivamente à inspeção de Casa Lar.
66
Desligamento Gradativo
3.57. São realizadas atividades com as crianças, os adolescentes e com os
profissionais da entidade de acolhimento como forma de preparação do
desligamento?
(___) Sim (___) Não
3.58. É fortalecida a autonomia de adolescentes que não possuem perspectivas de
reintegração familiar?
(___) Sim (___) Não
3.58.1. Em caso afirmativo, especifique as ações:
(___) Avaliação das condições sociais e psicológicas para o desligamento.
(___) Encaminhamento para repúblicas jovens.
(___) Encaminhamento para programas oficiais ou comunitários de auxílio
(ex: programas de transferência de renda, bolsa aluguel etc).
(___) Promoção de vínculos com parentes/amigos para que possam apoiar o
adolescente.
(___) Outros. __________________________________________________
3.59. No último ano, quantos adolescentes foram desligados por terem completado
a maioridade?__________
3.60. Há programa de apoio e acompanhamento dos egressos da instituição por
pelo menos 6 meses?
(___) Sim (___) Não
3.60.1. Em caso afirmativo, especifique as ações:
(___) Acompanhamento psicossocial
(___) Visitas domiciliares
(___) Apoio financeiro
(___) Apoio material (cesta básica, medicamentos, etc)
(___) Auxílio na busca de trabalho/renda
(___) Reuniões, grupos de discussão/apoio
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Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:
“[...] Não devem ser impostas restrições injustificáveis à liberdade e conduta, em comparação com crianças e adolescentes da mesma idade e
comunidade. Tais restrições devem ser condizentes com o grau de desenvolvimento e capacidade da criança e do adolescente e restritas apenas
àquelas necessárias para viabilizar sua segurança e proteção” (p. 60).
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7 - PARECER TÉCNICO