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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE -FaC


CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

NATHÁLIA FERREIRA ONOFRE

O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM


FOCO: AS INSPEÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

FORTALEZA
2014
NATHÁLIA FERREIRA ONOFRE

O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM


FOCO: AS INSPEÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

Monografia submetida à aprovação da


Coordenação do Curso de Serviço Social
do Centro Superior do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Graduação.
Orientadora: Dr.ª Francisca Helena
Rocha.

FORTALEZA
2014
O58a Onofre, Nathália Ferreira
O acolhimento institucional de crianças e adolescentes em
foco: As inspeções do Ministério Público / Nathália Ferreira
Onofre. Fortaleza – 2014.
68f.
Orientador: Profª. Drª. Francisca Helena Rocha.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.

1. Acolhimento institucional. 2. Criança e adolescente. 3.


Ministério Público. I. Rocha, Francisca Helena. II. Título
CDU 364

Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274


RESUMO

Este estudo aborda o acolhimento institucional de crianças e adolescentes na cidade


de Fortaleza e as inspeções realizadas pelo Ministério Público nesses espaços. A
pesquisa apresenta dados quantitativos e qualitativos, apreendidos por meio da
inserção da pesquisadora como estagiária de Serviço Social, na equipe técnica
interprofissional que realiza esse trabalho do Ministério Público. Procura
problematizar as práticas recorrentes nos serviços de acolhimento institucional.
Apresenta, também, as ações desenvolvidas pelo Ministério Público a fim interferir
nesses espaços, os avanços e os desafios postos a esse procedimento. Retrata a
trajetória das políticas de atendimento a crianças e adolescentes desde o Brasil
Colônia aos dias atuais, fazendo um paralelo com a política de Assistência Social. O
resultado da pesquisa constata que os serviços de acolhimento institucional
apresentam uma série de problemáticas que necessitam da intervenção do
Ministério Público para serem sanadas. Os problemas estão relacionados à estrutura
física inadequada, aos recursos humanos escassos, à falta de segurança e higiene,
à superlotação dos espaços de acolhimento, à troca constante dos educadores e
das equipes técnicas. Diante dos fatos observados, os representantes do Ministério
Público articularam um grupo de profissionais para a formulação de um Plano
Individual de Atendimento (PIA) unificado. Requisitaram, também, do Corpo de
Bombeiros e da Vigilância Sanitária, a realização de inspeções às entidades de
acolhimento institucional, sendo essas questões identificadas na pesquisa como
avanços. Os desafios postos à melhoria dos serviços prestados ao público infanto-
juvenil pelas instituições inspecionadas fazem referência ao processo de
reordenamento desses serviços para o âmbito municipal, ao estabelecimento de
uma equipe técnica efetiva e de educadores sociais, com afinidade e qualificação
para o trabalho nesses espaços.

Palavras-Chave: Acolhimento Institucional. Criança e Adolescente. Ministério


Público.
ABSTRACT

This study addresses the institutional care of children and adolescents to Fortaleza
and inspections conducted by prosecutors in these spaces. The research presents
quantitative and qualitative data, seized by insertion of the researcher as an intern for
Social Service, interprofessional crew that performs this work of prosecutors.
Problematizes recurrent practices in residential care services. It also presents the
actions taken by prosecutors to intervene in these spaces, points out the advances
and the challenges posed to this procedure. Depicts the trajectory of care policies for
children and adolescents from Brazil to Cologne today, drawing a parallel with the
policy of Social Assistance. The result of the research finds that the services of
institutional care have a number of problems that need the intervention of the public
prosecutor to be remedied. The problems are related to inadequate physical
infrastructure, the scarce human resources, lack of safety and hygiene, overcrowding
of reception spaces, the constant exchange of educators and technical teams. Given
the observed facts, prosecutors articulated a group of professionals to formulate an
Individual Service Plan (IAP) unified. Also requested the Fire Department and the
Health Surveillance, conducting inspections of residential care entities, these being
issues identified in the research as advances. The challenges posed to improve
services to children and youth by the inspected institutions make reference to the
ongoing reorganization of these services to the municipal level, the establishment of
an effective crew and educators, with affinity and qualification for work in these
spaces .

Keywords: Institutional host. Children and Adolescents. Prosecutors.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 1 - Número de Instituições por gênero da população atendida em novembro


de 2013 .................................................................................................... 41
Tabela 2 - Número de Instituições por gênero da população atendida em março de
2014 ......................................................................................................... 41
Tabela 3 - Número de instituições com PIA .............................................................. 44
Tabela 4 - Número de Instituições que preenchem o PIA imediatamente ................. 45
Tabela 5 - Número de instituições que propiciam a profissionalização aos acolhidos
................................................................................................................. 48
Tabela 6 - Índice de instituições que estimulam a autonomia dos acolhidos e
permitem a saída com os amigos e a participação em atividades na
comunidade. ............................................................................................ 49
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

CAOPIJ - Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude


CIJ - Coordenadoria da Infância e Juventude
CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social
CNJ - Conselho Nacional de Justiça
CNMP - Conselho Nacional do Ministério Público
CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CRAS - Centro de Referência da Assistência Social
CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social
ECA - Estatuto da Criança do Adolescente
FCBIA - Fundação Centro Brasileiro para a Infância e a Adolescência
FEBEM - Fundação de Bem-Estar do Menor
FORUM DCA - Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
FUNABEM - Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor
IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
LBA - Legião Brasileira de Assistência
LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
MNMMR - Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua
MP - Ministério Público
NOB/SUAS - Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
PIA - Plano Individual de Atendimento
PNAS - Política Nacional de Assistência Social
PNBEM - Política Nacional de Bem-Estar do Menor
PNCFC - Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária
REDE SAC - Rede Serviços de Ação Continuada
SAM - Sistema de Assistência ao Menor
SCDH - Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos
SEDH - Secretaria Especial de Direitos Humanos
SETRA - Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social e Combate à Fome
SNAS - Secretaria Nacional de Assistência Social
STDS - Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social e Combate à Fome
SUAS - Sistema Único de Assistência Social
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
1 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................ 13
2 HISTÓRICO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
NO BRASIL ........................................................................................................... 20
2.1 Do Brasil Colônia à implementação do Estatuto da Criança e do
Adolescente ......................................................................................................... 20
2.2 A Assistência Social e o Acolhimento Institucional de Crianças e
Adolescentes ....................................................................................................... 32
3 AS INSPEÇÕES NOS ACOLHIMENTOS INSTITUCIONAIS E A ATUAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO ......................................................................................... 39
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 52
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55
ANEXOS ................................................................................................................... 59
10

INTRODUÇÃO

As questões relativas à infância e adolescência sempre estiveram


presentes na história brasileira. Contudo, diante da falta de práticas e políticas
efetivas de proteção, vivenciou-se durante quase cinco séculos um processo de
marginalização, criminalização e abandono de crianças e adolescentes, sendo
criadas legislações para atender e normatizar as ações realizadas a esse público.
Como exemplos de legislações históricas, apontamos o Código de Menores de 1927
e o de 1979, os quais apresentavam um viés mais repressivo do que protetivo.
Durante o desenvolvimento histórico brasileiro, o público infanto-juvenil foi
visto como objeto de intervenção e não como sujeitos de direitos, sendo essa ideia
introduzida somente em 1990, com a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).
Esta legislação inovou ao introduzir conceitos como: proteção integral,
prioridade absoluta, criança e adolescente como sujeitos em processo de
desenvolvimento, dentre outros.
O ECA é uma legislação completa, tendo em vista que apresentou as
formas de operacionalização das medidas de proteção e de socioeducação, sendo
uma referência jurídica de âmbito internacional na proteção de crianças e
adolescentes.
Conforme a lei 8.069/90, o acolhimento institucional é uma medida de
proteção de caráter provisório e excepcional, ou seja, deve ser a última alternativa, e
aplicada somente quando forem esgotadas todas as possibilidades.
Atualmente essa medida está categorizada como um serviço de proteção
social especial de alta complexidade, sendo de responsabilidade da política de
Assistência Social o repasse de recursos e a supervisão dos serviços de
acolhimento institucional.
Outro ponto importante a ser destacado é a função dos órgãos de justiça,
em especial a do Ministério Público, para a garantia do direito de crianças e
adolescentes em situação de acolhimento. Portanto, o artigo 201, inciso XI do ECA,
afirma a competência do Ministério Público para inspecionar as entidades públicas e
privadas de atendimento a crianças e adolescentes, sendo esse artigo, a
fundamentação para a promulgação da Resolução N.º 71 de 2011 do Conselho
11

Nacional do Ministério Público, que determina a realização de inspeções anuais e


periódicas nos serviços de acolhimentos.
O interesse em pesquisar a atuação do Ministério Público nas inspeções
realizadas junto às entidades de acolhimento institucional, em Fortaleza, surgiu por
meio da inserção da pesquisadora no âmbito do estágio prático em Serviço Social
no Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude (CAOPIJ)1.
Dessa forma, o presente trabalho teve por objetivo apresentar o
panorama dos dados apreendidos por meio das inspeções às unidades de
acolhimento, as ações realizadas pelo MP para interferir na realidade diagnosticada
e os avanços e desafios postos a realização disso.
Para atingir o objetivo proposto, organizou-se esse trabalho em três
capítulos.
No primeiro capítulo, a abordagem se direciona para o percurso
metodológico seguido para a realização da pesquisa e do trabalho de modo
geral.
O segundo enfatiza a reconstrução histórica dos conceitos de criança
e adolescente, as práticas realizadas para com esse público nos diversos
momentos históricos brasileiros, e a relação entre acolhimento institucional e
assistência social.
O último capítulo apresenta os dados da pesquisa realizada por meio
da inserção da pesquisadora, como estagiária de Serviço Social, na equipe do
Ministério Público que inspeciona as unidades de acolhimento. Também
apresenta as ações realizadas por este órgão que intervém na realidade dos

1
O Centro de Apoio Operacional da Infância e da Juventude criado através do Provimento
Nº001/95 e alterado pelo Provimento Nº70/2008, é órgão Auxiliar do Ministério Público Estadual
instituído para acompanhar e executar ações voltadas à proteção dos interesses de crianças e
adolescentes, servindo de suporte ao trabalho dos promotores de Justiça, competindo-lhe: Estimular
a integração e o intercâmbio entre órgãos que atuam na área da Infância e da Juventude e que
desenvolvem atividades afins; Remeter informações técnico-Jurídicas sem caráter e da Juventude;
Estabelecer intercâmbio permanente com entidades ou órgãos públicos e privados que atuam em
áreas afins, para obtenção de elementos técnicos especializados, necessários ao desempenho das
funções ministeriais relativas à Infância e à Juventude; Exercer outras funções compatíveis com as
atribuições da Promotoria da Infância e da Juventude, vedado o exercício de qualquer atividade
própria de órgão de execução, bem como a expedição de atos normativos a estes designados;
Remeter anualmente, ao Procurador Geral de Justiça relatório das atividades do Ministério Público
relativas às Promotorias da Infância e da Juventude, em Intercâmbio com entidades afins.
(Informações retiradas do endereço eletrônico:
http://www.mpce.mp.br/orgaos/CAOPIJ/apresentacao.asp)
12

acolhimentos em Fortaleza e os avanços e desafios postos à melhoria dos


serviços nesses espaços.
13

1 PERCURSO METODOLÓGICO

O objetivo deste capítulo é traçar o percurso metodológico que foi trilhado


para a realização desta pesquisa monográfica, assim como apresentar o panorama
no qual a pesquisa foi realizada.
Para dar conta do estudo empreendido, buscou-se, inicialmente, realizar o
resgate histórico sobre a institucionalização da infância e da adolescência no Brasil,
partindo do Período Colonial até a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), enfocando a operacionalização da medida de acolhimento
institucional do público infanto-juvenil no diversos períodos históricos brasileiros.
Evidencia, também, o processo de constituição da política de assistência
social, especificamente, a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988,
sendo esta legislação considerada o marco legal para a instituição da política de
assistência como política pública. Nesta perspectiva, para a reconstrução histórica
sobre a institucionalização infanto-juvenil foram utilizados, como referência, autores
como Irene Rizzini, Irma Rizzini, Myriam Veras Baptista, Mary Del Priori, dentre
outros. Tais autores são referência nas pesquisas sobre a temática em foco desta
monografia, e por esse motivo, foram essenciais à sua construção.
Procura apresentar a prática do Ministério Público da Infância e
Juventude, por meio da realização das inspeções nas entidades que
operacionalizam a medida de acolhimento institucional de crianças e adolescentes
em Fortaleza, sendo analisados os dados apreendidos nas visitas realizadas aos
espaços de acolhimento institucional. Entretanto, foram observados não somente os
dados dispostos pelo roteiro de inspeção, mas também a rotina e as práticas
institucionais recorrentes nesses locais. Essa pesquisa visa expor alguns dados
apreendidos durante as inspeções, porém também apresenta a reconstrução
histórica da atuação do Ministério Público junto a essas instituições, a fim de
identificar os avanços e os desafios existentes no trabalho.
Ao enveredar sobre esse assunto é importante destacar que não existe a
instituição ideal e que estes tipos de instituições existem devido à demanda posta
pela sociedade. Atualmente, visualiza-se a falta de uma rede de apoio e de
retaguarda para o atendimento às famílias, cujo foco de atuação se direcione à
prevenção de inserção de crianças e/ou adolescentes nos serviços de acolhimento
institucional. Assim, estariam garantidos direitos infanto-juvenis, inviabilizando o
14

desmembramento familiar e a consequente separação dos filhos, por motivos de


negligência, violência, pobreza, dentre outros.
Também é sabido que os processos de mudança são históricos, e que,
para notarmos algumas mudanças, é necessário um lapso temporal relativamente
extenso, a exemplo das práticas de atendimento e do conceito de infância e
adolescência, que em 514 anos de história brasileira, ainda, estão sendo
construídos, transformados e adequados à realidade cotidiana.
As legislações referentes a crianças e adolescentes envolvem diversas
políticas públicas, e devido a isso foi realizada a escolha do enfoque na política de
Assistência Social, em especial da medida de acolhimento institucional, a qual
atualmente esta situada âmbito da Proteção Social Especial de Alta Complexidade,
conforme será exposto de forma mais explicativa no decorrer deste trabalho.
Essas inspeções são fruto de determinação do Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP), através da Resolução n.º 71/2011, que determina a
realização de inspeções periódicas pelos membros do Ministério Público às
instituições que prestam o serviço de acolhimento institucional, a fim de visualizarem
a realidade vivenciada pelas crianças e adolescentes acolhidos, garantir a efetivação
dos direitos destes e requisitar a adequação do serviço às normas legais, quando
necessário.
A Resolução n.º 71/2011 também determina que para a realização da
inspeção exista a disponibilidade de uma equipe técnica para dar suporte à atuação
do Promotor de Justiça, e que esta equipe seja composta por no mínimo 1 assistente
social, 1 psicólogo, 1 pedagogo.
A Resolução em comento também determina a periodicidade da
realização das inspeções, a depender do porte do município. Dessa forma, no
município de Fortaleza, por se tratar de uma cidade de grande porte, essa prática
deve ser realizada nos meses de março, julho e novembro, sendo a primeira a
inspeção anual e as outras periódicas.
Durante as visitas, é feito o preenchimento do formulário que foi elaborado
pelo CNMP, em concordância com as Orientações Técnicas para o Serviço de
Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes2. Assim, diversos pontos são

2
Este documento foi aprovado por meio da Resolução Conjunta n.º 1, de 18 de junho de 2009,
assinada pelo Presidente do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e pelo Presidente do
15

abordados nas inspeções, dentre eles: a população atendida, as instalações físicas


das instituições, o projeto político pedagógico, as fontes de financiamento, dentre
outros.
A pesquisa foi realizada por meio das visitas de inspeções realizadas nos
meses de novembro de 2013, em vinte e três instituições de acolhimento de crianças
e adolescentes, e em março de 2014, em vinte e seis. Cabe ressaltar que essas
instituições foram selecionadas a partir do cadastro utilizado pela Defensoria Pública
e pelo Ministério Público para a operacionalização das inspeções determinadas pelo
CNMP.
Durante a prática de estágio, principalmente, após o início das visitas às
Unidades de Acolhimento, surgiram diversos questionamentos e, dentre eles, qual
seria o panorama do acolhimento institucional em Fortaleza e se a atuação do
Ministério Público, por meio das inspeções, surtiam algum efeito ou melhoria na
prestação desse serviço a crianças e adolescentes. Dessa forma, a pergunta de
partida do projeto de pesquisa foi: quais os avanços e os desafios identificados na
análise das inspeções realizadas pelo Ministério Público junto às entidades de
acolhimento institucional de crianças e adolescentes na capital cearense?
A partir da elaboração desta questão, estabeleceram-se os seguintes
objetivos: Objetivo Geral: Avaliar os impactos da atuação do Ministério Público por
meio das inspeções nas Unidades de Acolhimento para crianças e adolescentes.
Objetivos Específicos: Apresentar o panorama do acolhimento institucional de
crianças e adolescentes em Fortaleza; Expor os dados apreendidos no trabalho
realizado; Analisar os impactos da atuação do Ministério Público para intervir no
contexto identificado.
Conforme citado anteriormente, foram realizadas inspeções em 2013 e
em 2014, entretanto cabe ressaltar que a diferença entre o número de instituições
visitadas nesses períodos se deu pela “descoberta” da existência de mais três
instituições de acolhimento em funcionamento e, por este motivo, elas foram
visitadas na última inspeção citada.

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). As Orientações Técnicas


regulamentam a organização e oferta de Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes no
âmbito da política de Assistência Social.
16

Atualmente, em Fortaleza, existem quatro unidades de acolhimento


patrimoniais do município, treze mantidas apenas por Organizações Não
Governamentais (ONGs), e nove que são mantidas por ONGs que mantêm
convênios com a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS)3, em
regime de cogestão ou em regime descentralizado4.
O município apresenta serviços de acolhimento nas modalidades
Acolhimento Institucional ou Casa Lar, sendo que cada uma apresenta um
parâmetro de funcionamento específico5. Em Fortaleza, ainda não foram
estabelecidas as outras modalidades de acolhimento previstas pela legislação, tais
como, Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora e República para jovens entre
18 e 21 anos após desligamento de serviços de acolhimento para crianças e
adolescentes.
Durante as visitas, diversos aspectos do cotidiano e do atendimento
realizado junto aos acolhidos são apreendidos, e anotadas as informações dadas
pela equipe técnica da unidade de acolhimento por meio da realização de uma
entrevista, sendo os questionamentos guiados por roteiro preestabelecido. Ressalta-
se que, embora se tenha um roteiro para nortear a inspeção, este não impediu que
indagações diversas viessem a surgir, uma vez que a fala das equipes técnicas e as
informações repassadas por eles suscitaram diversas questões e tendem a revelar a
realidade a qual, muitas vezes, destoa do que é previsto em Lei e do que é de
conhecimento de pessoas que não estão inseridas diariamente no cotidiano dessas
entidades.
Após o preenchimento do roteiro, foi realizada uma visita às dependências
da instituição, momento em que a equipe que realiza a inspeção entra em contato
com os acolhidos, interagindo e conversando informalmente com eles. Durante este
momento, também foi realizado o contato com os educadores sociais e os outros
profissionais, a fim de compreender a rotina de atendimento das crianças e
adolescentes.

3 Secretaria ligada ao Governo Estadual do Ceará.


4 As terminologias ‘cogestão’ e ‘descentralizado’ serão explicados nos capítulos posteriores.
5 Os parâmetros destas modalidades serão apresentados no terceiro capítulo.
17

Dessa forma, objetivando apresentar o panorama das Unidades de


Acolhimento Institucional em Fortaleza por meio das inspeções realizadas pelo
Ministério Público, utilizamos o percurso metodológico descrito neste capítulo.
Para chegarmos ao objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa
quantitativa e qualitativa. Chizzotti (2003, p. 34) afirma que

Para muitos autores, a pesquisa quantitativa não deve ser oposta à


pesquisa qualitativa, mas ambas devem sinergicamente convergir na
complementaridade mútua, sem confinar os processos e questões
metodológicas a limites que atribuam os métodos quantitativos
exclusivamente ao positivismo ou os métodos qualitativos ao pensamento
interpretativo (fenomenologia, dialética, hermenêutica etc.). Esses autores
consideram que é necessário superar as oposições que subsistem nas
pesquisas em ciências humanas e sociais, e apontam que se pode fazer
uma análise qualitativa de dados estritamente quantitativos ou que o
material recolhido com técnicas qualitativas podem ser analisados com
métodos quantitativos, como é o caso da análise de conteúdo.

Assim, os dados quantitativos foram apreendidos por meio das entrevistas


guiadas por formulário com perguntas abertas e fechadas com múltiplas escolhas.
Já os dados qualitativos foram apreendidos através da observação participante, que
segundo Denzin (1989, p. 157-158) é “... definida como uma estratégia de campo
que combina, simultaneamente, a análise de documentos, a entrevista de
respondentes e informantes, a participação e a observação diretas e a introspecção”
(DENZIN 1989, p. 157-158 apud FLICK, 2004, p. 152).
Em síntese, pode-se aferir que a pesquisa se deu por meio da articulação
de um conjunto de métodos de apreensão de dados, sendo também realizada a
análise crítica das observações feitas pela pesquisadora.
Ainda sobre esta discussão, cabe ressaltar que para Chizzoti (2003, p. 84)
“algumas pesquisas qualitativas não descartam a coleta de dados quantitativos,
principalmente na etapa exploratória de campo ou nas etapas em que estes dados
podem mostrar uma relação mais extensa entre fenômenos particulares”.
A pesquisa em tela apresenta os dados quantitativos em forma de tabelas,
a fim de ilustrar e facilitar a compreensão sobre o assunto. Desse modo, foi realizada
uma reconstrução histórica dos dados apreendidos nas inspeções realizadas pelo
Ministério Público, bem como das ações desenvolvidas pelo referido órgão no intuito
de intervir na realidade diagnosticada.
Durante a realização das vistas de inspeção, houve o preenchimento dos
dados do formulário, sendo um processo relativamente demorado, tendo em vista
18

que, mesmo em relação às perguntas fechadas, com opções SIM ou NÃO, sempre
houve a contextualização dessas respostas por parte dos gestores ou da equipe
técnica de cada instituição levando, em média, 1 a 2 horas. Após o preenchimento
do formulário, foi realizada a visita às instalações físicas, sendo este momento
aproveitado para a observação da situação física dos dormitórios e o número de
crianças que acomoda, dos banheiros, das áreas de uso comum e do número de
educadores por crianças. Esse foi o momento em que também se realizou uma
conversa espontânea e informal com os educadores sociais, a fim de conhecer e
compreender a dinâmica institucional por meio da visão dos responsáveis pelo
cuidado diário com as crianças e os adolescentes institucionalizados.
O processo de inspeção a uma Unidade de Acolhimento Institucional
durou em torno de 4 a 5 horas, a depender do tamanho da instituição. Cabe ressaltar
que cada inspeção deve gerar um parecer técnico e um parecer do Promotor de
Justiça responsável pela realização de tal procedimento. Foi no momento do parecer
que se fez necessário a análise de todas as questões observadas e apreendidas
durante a inspeção, pois todos os pontos importantes que não estão englobados no
formulário devem constar no parecer da equipe técnica que acompanha o Promotor
de Justiça, para assim ser demonstrado o panorama de cada instituição.
Para este trabalho, a pesquisa bibliográfica se fez necessária ao
proporcionar a reconstrução histórica e a compreensão do processo de construção
de uma política de atendimento a crianças e adolescentes no Brasil, assim como das
legislações existentes que regulamentam a operacionalização da medida de
acolhimento institucional, no qual o segmento infanto-juvenil está inserido.
Assim conforme Gil (2008, p. 50),

A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao


investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do
que aquela que poderia pesquisar diretamente. Esta vantagem se torna
particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados
muito dispensados pelo espaço. Por exemplo, seria impossível um
pesquisador percorrer todo o território brasileiro em busca de dados sobre a
população e renda per capita; todavia, se tem à sua disposição uma
bibliografia adequada, não terá maiores obstáculos para contar com as
informações requeridas. A pesquisa bibliográfica também é
indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há
outra maneira de conhecer os fatos passados senão com base em
dados secundários. (Grifo nosso).
19

O capítulo seguinte do trabalho remete ao resgate histórico da infância e


juventude no Brasil, desde o Período Colonial, quando as primeiras crianças e
adolescentes chegaram à nova colônia portuguesa, até os dias atuais, sendo
apresentadas, de forma explicativa, as formas de tratamento despendidas a esse
público e as legislações que fundamentaram essas práticas.
O terceiro e último capítulo apresenta os dados quantitativos apreendidos
por meio das inspeções realizadas pelo Ministério Público, além das observações
feitas pela pesquisadora durante sua atuação junto ao referido órgão. O foco
principal desse capítulo é expor a atuação do Ministério Público por meio das
inspeções às entidades de acolhimento, pontuando os avanços e os desafios postos
à adequação dos serviços de acolhimento às legislações vigentes. Apresenta
também alguns parâmetros estabelecidos no documento “Orientações Técnicas:
serviços de acolhimento para crianças e adolescentes”, uma vez que esta legislação
foi referência para a pesquisa, sendo o roteiro utilizado para nortear as inspeções,
embasado em suas normas.
20

2 HISTÓRICO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES


NO BRASIL

2.1 Do Brasil Colônia à Implementação do Estatuto da Criança e do


Adolescente

Neste capítulo, contextualizarei a história das crianças e dos adolescentes


no Brasil, enfocando o acolhimento institucional desses indivíduos desde o Período
Colonial até os dias atuais, fazendo uma apreciação das legislações que foram
criadas e direcionadas ao segmento infanto-juvenil.
O Brasil foi “descoberto” em 1500, contudo suas terras começaram a ser
povoadas somente 30 anos depois. A nova Colônia Portuguesa desde a sua origem
se tornou o local para onde eram enviados os considerados indesejados em
Portugal.
Ramos (2009) relata que para o povoamento da colônia vieram de
Portugal muitos homens, mulheres e crianças, no entanto as crianças “subiam a
bordo somente na condição de grumetes ou pagens, como órfãs do Rei enviadas ao
Brasil para se casarem com os súditos da coroa, ou como passageiros embarcados
em companhia dos pais ou de algum parente” (RAMOS, 2009, p. 19).
De acordo com Ramos (2009), a viagem para os infantes era penosa,
independente da forma pela qual eles se encontravam nas embarcações, pois eles
passavam fome, sede, sofriam abusos sexuais, dentre outros. Assim sendo, as
crianças que conseguiam chegar ao Brasil já haviam passado por diversas violações
de direitos.
Em 1549, chegaram ao Brasil os primeiros jesuítas, e eles tinham como
objetivo maior a conversão dos nativos da Colônia. Foi durante esse período que
houve as primeiras iniciativas de atuação junto às crianças por meio da catequese,
uma vez que a realização desse trabalho com os adultos era uma tarefa difícil, tendo
em vista que eles eram mais resistentes à conversão, e a opção encontrada foi a
conversão das crianças nativas.

Diante da resistência dos índios à cultura europeia e à formação cristã, os


padres resolveram investir na educação e na catequese das crianças
indígenas, consideradas ‘almas menos duras’. Muitas dessas crianças eram
deliberadamente afastadas de suas tribos. (BAPTISTA, 2010, p. 21).
21

Conforme Baptista, após esse afastamento as crianças eram levadas para


as Casas Muchachos, que eram as “protoformas dos abrigos e internatos
educacionais” (SPOSATI, 2004 apud BAPTISTA, 2010, p. 1), custeadas pela Coroa
portuguesa. Em decorrência da catequização, essas crianças indígenas
colaboravam na pregação cristã pelas matas e pelos sertões, servindo de intérpretes
para os jesuítas.
Del Priori (2009) relata que a língua tupi só era utilizada para falar com os
índios, daí a importância das crianças indígenas. Além da formação cristã e da
educação, a criação de um clero nativo mobilizou a Companhia de Jesus. Assim,
pode-se constatar que na atuação dos jesuítas com os nativos existiam interesses
para além da caridade, sendo estas crianças utilizadas no processo de construção
de um povo cristão na terra nativa.
As Casas Muchachos recebiam meninos indígenas, órfãos e enjeitados
vindos de Portugal, os quais aprendiam rapidamente a línguas nativas, tornando-se
importantes auxiliares no processo de conversão.
No decorrer dos séculos XVI e XVII, conforme as necessidades
visualizadas pelos jesuítas, foram sendo criadas escolas nas principais vilas e
cidades. Segundo Rafael Chamboileyron (2009) a criação dessas casas e colégios
aconteceu de forma particular em cada região, sendo que o sustento deles advinha
de doações dos moradores das vilas e cidades, e da contribuição do Rei.
Para Rizzini e Rizzini (2004), os jesuítas foram os principais agentes
educacionais até 1759, quando eles foram expulsos do país pelo Marquês de
Pombal. A partir desse período, outras ordens religiosas instalaram seminários,
colégios para órfãos e recolhimento de órfãos até a segunda metade do século XVIII.
Segundo Marcílio (1998), a prática do abandono dos filhos foi introduzida
no Brasil pelos europeus no período da colonização. Dessa forma, “a situação de
miséria, exploração e marginalização, aliada às dificuldades de apropriação do
modelo europeu de família, levou os moradores da terra a seguirem o exemplo dos
europeus ao abandonar seus filhos” (MARCILIO 1998 apud BAPTISTA, 2010, p. 22).
A primeira Santa Casa de Misericórdia no Brasil foi criada em 1543.
Inicialmente esta instituição foi criada para assistir os marinheiros doentes, os
náufragos e os atingidos pela pirataria, depois elas passaram a assumir funções de
manter hospitais para doentes terminais, arrecadar donativos para os pobres,
22

enterrar mortos nas igrejas, alimentar presos, amparar órfãs e recolher crianças
depositadas nas rodas dos expostos (ROCHA, 2012).
Conforme Rizzini e Rizzini (2004, p. 23), “uma modalidade de
atendimento a bebês abandonados de longa duração foi o sistema das Rodas dos
Expostos, surgindo no Período Colonial por iniciativa da Santa Casa de Misericórdia
e somente sendo extinto na República”.
Nos séculos XVI e XVII, já podiam ser visualizadas crianças abandonadas
nos arredores das vilas, porém somente no século XVIII surgiram as primeiras
instituições de proteção a crianças abandonadas.

Durante o Período Colonial, a proteção à criança abandonada no Brasil


tinha por referência as determinações de Portugal e era prevista nas três
Ordenações do Reino: formalmente, era responsabilidade das câmaras
municipais encontrar os meios para criar as crianças sem família, sendo
obrigadas a lhes destinar um sexto de seus recursos. Função que
frequentemente era exercida a contragosto, com evidências de omissão,
relutância, negligência e falta de interesse: limitava-se a pagar quantias
irrisórias as amas-de-leite para amamentar e criar essas crianças ou
delegavam serviços especiais de proteção a outras instituições, sobretudo
às Santas Casas de Misericórdia. (BAPTISTA, 2010, p. 22).

Dessa forma, as Santas Casas de Misericórdia mantinham um grupo de


amas-de-leite que cuidavam das crianças, contudo, como os números de crianças
pequenas era relativamente alto, viu-se a necessidade de se contratar amas-de-leite
externas para cuidarem das crianças por um determinado período.
Essa experiência até certo ponto foi positiva, uma vez que, conforme
Marcilio (2003), o índice de mortalidade das crianças expostas nas rodas era
altíssimo, pois nas Santas Casas de Misericórdia não existiam condições higiênicas
para a convivência de um número elevado de crianças pequenas. A primeira roda
dos expostos foi instalada em Salvador, em 1726, e apenas em meados do século
XIX iniciou-se o movimento para que fossem abolidas, de maneira que a última
extinta data do século XX.
Durante o Império, diversas mudanças foram realizadas em decorrência
do aumento da pobreza e do número de crianças abandonadas. No Período
Colonial, existiam duas opções para a criação das crianças abandonadas: colocá-las
sob a tutela de instituições religiosas ou serem criadas pelas famílias que as
encontravam. Já no Período Imperial diversas iniciativas foram criadas para
enfrentar esses problemas, o que desencadeou um processo gradativo “que
23

substituiu a atenção individual pela asilar, por meio da institucionalização maciça,


mantendo em condição de órfãos e abandonados, aqueles que, carentes de apoio
familiar, foram assumidos como problemas sociais” (BAPTISTA, 2010, p.23).
Destarte, observa-se que restavam poucas opções paras as crianças que
eram abandonadas ou órfãs. Dessa forma, elas sofriam todo tipo de violência, não
sendo vistas como sujeitos de direitos, e sim como “objetos” que eram utilizados
conforme a necessidade dos outros. Somente a partir do Período Imperial é que se
dá início a um processo de mudança desse pensamento e dessa postura ao se tratar
dos abandonados ou desvalidos.
Para Rizzini e Rizzini (2004), no século XVIII, as instituições religiosas e
as governamentais já trabalhavam a educação elementar e de ofícios mecânicos,
porém só a partir da independência, em 1822, que se iniciou o processo de
educação do povo brasileiro, havendo a instalação de escolas públicas primárias e
internato para formação profissional dos meninos pobres. Dessa forma, iniciou-se a
criação de casas para a educação dos meninos pobres, a fim de direcionar-lhes
instrução primária. A autora acrescenta que no governo imperial houve a criação das
Companhias de Aprendizes de Marinheiros e Escolas/Companhias de Aprendizes do
Arsenal de Guerra.

Os Arsenais de Guerra recebiam meninos dos colégios de órfãos e das


casas de educandos, que lá iam receber treinamento nas oficinas. Já as
Companhias de Aprendizes de Marinheiros, que eram escolas do tipo
internato, são experiências interessantes para este estudo, pois geralmente
recebiam os meninos recolhidos nas ruas pelas polícias das capitais
brasileiras. (RIZZINI e RIZZINI, 2004, p. 25).

Assim, conclui-se que neste período a educação dos meninos órfãos e de


rua era realizada através da institucionalização, para posteriormente, serem
integrados ao corpo de profissionais em instituições militares, como Exército e
Marinha. Por meio da institucionalização dos meninos em situação de rua, houve a
“limpeza” das ruas das capitais brasileiras.
As meninas órfãs pobres e filhas de legítimo casamento nos séculos XVIII
e XIX eram atendidas pelas instituições de recolhimento feminino. Estas instituições
foram criadas por religiosos, sendo o local nos quais as meninas permaneciam
aprendendo o necessário para serem futuras mães de família, reproduzindo o seu
lugar na sociedade, tais como educação do lar, o enxoval de casamento e o dote. Já
o recolhimento religioso voltado para as indigentes, as filhas naturais de mães
24

pobres ou órfãs desvalidas, inicialmente foi separado dos recolhimentos das órfãs
legitimas, e esse tipo de recolhimento tinha por finalidade a formação de boas
empregadas domésticas (RIZZINI e RIZZINI, 2004).
Dessa forma, pode-se perceber que o tratamento empregado para as
meninas variava de acordo com sua proveniência social. Deste modo, para as que
advinham de classe social inferior não havia perspectiva de ascensão, apenas a
permanência na sua condição na classe proletariada.

Durante o século XIX o Brasil passou por um importante período de


progresso, que assentou as bases de sua sociedade moderna. As grandes
transformações econômicas, políticas e sociais da época provocaram uma
mudança de mentalidade: o conceito de infância passou a ser uma questão
social, competência do Estado. Mas a criança nunca deixou de ser tratada
como um produto da pobreza, um problema que exigia atenção. Da vertente
jurídica dessa concepção surgiu a expressão “menor”, que passou a
caracterizar a criança pobre e potencialmente perigosa. (ALVES, 2005, p.
3).

Diante da visão da infância como uma expressão da questão social, e em


especial da pobreza, foi que se iniciou o processo de regulamentação das ações de
atendimento as crianças e aos adolescentes.
Durante a República deu-se centralidade à identificação e ao estudo das
categorias que necessitavam de proteção, passando a se preocuparem com a
questão da criança abandonada. Assim, passou-se a pensar e a construir propostas
de reformulação da política assistencial, visando melhorar o atendimento dessas
demandas, sendo este um período de grande presença do Estado no planejamento
e na implementação de políticas de atendimento ao público infanto-juvenil.
Para Rizzini e Rizzini (2004), no século XX houve muitas cobranças
direcionadas aos poderes públicos por parte dos meios especializados, uma vez que
para eles a intervenção do Estado não tinha uma orientação unificada. Nesse
período, também aconteceram mobilizações em torno da criação de leis voltadas
para a proteção e a assistência à infância, o que culminou na criação do primeiro
Juizado de Menores do país e na aprovação do primeiro Código de Menores em
1927.
O Código de Menores consolidou as leis de assistência e proteção a
menores e representou grande avanço ao tipificar, de forma específica, seu objeto
de intervenção. Em seu artigo 26, ele caracterizou como: expostos (os menores de
07 anos), abandonados (os menores de 18 anos), vadios (os meninos de rua),
25

mendigo (os que pedem esmolas ou vendem coisas) e libertinos (os frequentadores
de prostíbulos).

O menor que se encontrava “enquadrado” nas categorias é tomado como


objeto da ação repressiva e disciplinar do Estado, e sua vida passa a ser
vigiada, regulada, controlada e punida através do dispositivo disciplinar do
Estado, e sua vida passa a ser vigiada, através de micropoderes instituídos
em nome da ordem, dos bons costumes, da disciplina, da moral e do futuro
da defesa da Nação – cidadãos úteis à sociedade. (BONFIM, 2009, p. 58).

De tal modo, a ação do Estado sobre qualquer criança e/ou adolescente


que se encaixasse em algum desses perfis era justificável, fazendo desses sujeitos
objeto de sua intervenção, sem a mínima noção de garantia de direitos. Nesse
período, havia a imposição de normas ao segmento infanto-juvenil. Cabe ressaltar
que o Código de Menores de 1927 teve aplicabilidade até 1979, quando
reformulações foram feitas.
Durante o governo de Getúlio Vargas, houve grande intervenção junto à
infância, período no qual foi implementada a centralização da assistência aos
menores, por meio do Sistema de Assistência a Menores (SAM), inaugurado em
1941.

O SAM foi instalado pelo governo ditatorial de Getúlio Vargas, em 1941. O


novo Serviço herdou o modelo e a estrutura de atendimento do Juízo do
Distrito Federal e pouco a alterou nos primeiros anos de sua
implementação. A meta do alcance nacional revelou-se um fiasco, conforme
testemunho do diretor nos anos 1955-1956. Os escritórios instalados
tornaram-se cabides de emprego para ‘afilhados políticos’, salvando-se
alguns deles. No processo de ‘expansão nacional’ do SAM, a finalidade de
assistir aos ‘autênticos desvalidos’, ou seja, àqueles sem responsáveis por
suas vidas, foi desvirtuada, sendo o órgão tomado pelas relações
clientelistas, pelo uso de uma instituição pública. ‘Falsos desvalidos’, cujas
famílias tinham recursos, eram internados nos melhores educandários
mantidos pelo Serviço, através de pistolão e até corrupção. (RIZZINI e
RIZZINI, 2004, p.33-34).

Diante desse contexto, pode-se perceber que mesmo que o SAM tenha
surgido com a intenção de atender aos menores desvalidos, houve o desvirtuamento
deste serviço ao incorporar “menores” que não sern iam o seu perfil de atendimento,
não havendo estrutura mínima para a garantia da qualidade do atendimento
prestado aos desvalidos ou a qualquer outro que adentrasse no Serviço. Assim, a
partir de 1950, surgiram muitas críticas ao órgão, sendo proposta a criação de um
novo instituto.
Com a decadência do SAM, foi criada a Fundação Nacional do Bem-Estar
26

do Menor (FUNABEM), em 1964. Essa instituição tinha uma proposta diferenciada


de atendimento não privilegiando a internação, e sim a proteção da criança na
família. “A FUNABEM teria por função exercer a vigilância sobre os menores,
principalmente a partir de sua condição, de carenciado, isto é, próximo a uma
situação de marginalização social” (LONDOÑO, 1998, p. 151). A instituição seria um
órgão nacional, tendo autonomia financeira e administrativa, havendo a rejeição dos
internatos para crianças e adolescentes das camadas populares.
A FUNABEM deveria priorizar a valorização da vida familiar e da
integração do menor na comunidade, e sua missão seria de planejar e coordenar a
ação assistencial. Cabe ressaltar que, na prática, ocorria o inverso do exposto em
seus princípios, existindo a continuidade da institucionalização em massa do publico
infanto-juvenil.
Inicialmente, houve a reestruturação das instituições de internação
remanescentes do antigo SAM, havendo a melhoria das condições de vida e
habitabilidade dessas instituições, e estas foram transformadas em Centro-Piloto,
local onde eram realizadas experiências na internação dos menores. Após essa
reestruturação no Rio de Janeiro, iniciou-se a interiorização da Política Nacional de
Bem-Estar do Menor (PNBEM), ou seja, sua expansão para as outras regiões
brasileiras, havendo a construção, a ampliação, a reforma, a adaptação ou a
melhoria de “obras”, e o treinamento de pessoal especializado (RIZZINI e RIZZINI,
2004).
Segundo a autora, mesmo a FUNABEM surgindo como uma instituição
que viria romper com a lógica do SAM, ela não conseguiu se diferenciar muito deste,
uma vez que, embora se colocasse contra a internação, ainda permaneceu o alto
índice dessa prática, e a maior parcela dos acolhidos era composta por crianças
abandonadas que se encontravam em situação de rua e menores infratores, em
menor proporção. No período republicano e, em especial, nos governos ditatoriais, a
“limpeza” das ruas tinha a tônica de afastar os menores das ideias subversivas do
comunismo, sendo esse o motivo para justificar o alto índice de internos.
Em decorrência do alto índice de internação, ficou claro que as diretrizes
de atendimento à criança e ao adolescente longe da internação e da inserção deste
na comunidade não se concretizaria.
Em 1979, houve a promulgação do novo Código de Menores, porém a
legislação também não era universal no trato para com o público infanto-juvenil.
27

Essa legislação era voltada apenas para aqueles que se encontravam em “situação
irregular”, ou seja, todo menor de 18 anos de idade que estivesse “privado de
condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória; em perigo
moral; privados de representação ou assistência legal, pela falta eventual do pais ou
responsável; com desvio de conduta, e virtude de grave inadaptação familiar e
comunitária; autor de infração penal”.

Esse novo Código acabou com a clássica separação entre abandonados e


delinquentes e ampliou sensivelmente os poderes do juiz de menores,
dando-lhe, entre outras atribuições, a de determinar, por meio de portarias,
medidas de ordem geral. Oficializava o papel da FUNABEM e estabelecia
que ela, além de atender aos desvalidos, abandonados e infratores, deveria
adotar meios para prevenir ou corrigir as causas dos desajustamentos.
Determinava a criação, pelo poder público, de entidades de assistência e de
proteção ao menor: centros especializados destinados à recepção, triagem
e observação e permanência de menores carentes e infratores. As unidades
da Fundação de Bem-Estar do Menor (FEBEM) ficariam sob a
responsabilidade dos governos estaduais, sujeitas à supervisão das
políticas gerais estabelecidas pela FUNABEM. (BAPTISTA, 2010, p. 27).

Assim, observa-se que, embora o Código de 1979 tenha modificado as


tipificações concebidas em sua versão anterior, apresentou a categoria “situação
irregular”, para justificar a atuação do juiz no atendimento às demandas
encaminhadas ao Juizado de Menores. As crianças e os adolescentes ainda não
eram considerados como sujeitos de direitos, sendo vistos como indivíduos que
necessitam da intervenção do Estado para se desenvolverem e se inserirem na
sociedade.
Na década de 1980, através do fortalecimento dos movimentos populares
que deram fim à ditadura militar existiram, realmente, mudanças significativas no
trato para com a infância e adolescência no Brasil. Somente ao final dessa década,
houve a reestruturação da FUNABEM, que na tentativa de modificar sua imagem,
transformou-se na Fundação Centro Brasileiro para a Infância e a Adolescência
(FCBIA), instituição que teria a missão de apoiar a implantação Estatuto da Criança
e do Adolescente no país (RIZZINI e RIZZINI, 2004).
Para Bonfim (2009, p. 73) “a política implantada pela FCBIA tinha como
objetivo promover mudanças no atendimento de âmbito nacional, na construção de
novas normas e na coordenação de políticas de proteção e garantia de direitos da
infância e adolescência.” A autora ainda relata que somente em 1995 a FCBIA e a
28

LBA6 foram extintas, e isso ocorreu no processo de implantação da Lei Orgânica da


Assistência Social (LOAS)7.
A reabertura democrática possibilitou que diversos grupos organizados da
sociedade questionassem esta modalidade de assistência, uma vez que a
internação em massa sempre foi vista como a solução para os problemas tanto da
problemática das crianças abandonadas como da delinquência juvenil.

O Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), a Pastoral


do Menor e outras entidades tiveram papel preponderante na mobilização
nacional e na defesa dos direitos da população infanto-juvenil, movimento
esse que, em uma assembleia realizada em março de 1988, redundou no
estabelecimento e a criação de um Fórum Nacional Permanente de
Entidades não Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente – Fórum DCA. (ROCHA, 2012, p. 67).

De tal modo, pode-se perceber a importância dessas instituições na


garantia dos direitos de crianças e adolescentes, principalmente a partir da criação
do Fórum DCA, importante para a discussão de questões relativas a esse segmento
populacional. Foi através da articulação desse Fórum que foi incluído, na
Constituição de 1988, o artigo 2278, o qual trata especificamente da criança e do
adolescente. Cabe ressaltar que este artigo deu fundamentação ao Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA)9.
O ECA foi um instrumento inovador no cenário brasileiro e introduziu

6
No governo de Getúlio Vargas foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA) como forma de
atender aos combatentes da II Guerra Mundial, bem como suas famílias. Ela também se estabeleceu
como uma instituição de assistência suplementar para toda a sociedade (BONFIM, 2009, p. 66).
7
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a introduzir o conceito de seguridade social, incluindo
aí a noção de assistência social como política de proteção, afirmativo de direitos na superação do
histórico de práticas laicas, caritativas e clientelistas. Ao incluí-la no tripé da seguridade social junto à
saúde e à previdência social, a Carta Magna legitimou a assistência social no campo dos direitos, da
universalidade do acesso e da responsabilidade estatal; entretanto, contraditoriamente, favorece as
entidades beneficentes com isenções de contribuições para a seguridade social (art. 195, parágrafo
7º) e também não explicita com clareza os termos dessa filantropia e a situa como estratégia para
conceder vantagens às entidades e não garantir direitos à população. Cinco anos após a
Constituição, a Lei n.º 8.742/93 – Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS foi editada com a
finalidade de regulamentar e garantir o status de política pública conferido à assistência pela
Constituição de 1988, e assim propôs a sistematização e a institucionalização desta política pública,
ao estabelecer normas e critérios para a efetivação proposta (ROCHA, 2012, p. 83).
8
Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
9
Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990.
29

vários conceitos, dentre eles a noção de criança e adolescentes como sujeitos de


direitos e pessoas em desenvolvimento10.

Os anos 1990 foram marcados pelo esforço de implementação do Estatuto


da Criança e do Adolescente (ECA). Foram introduzidas mudanças na lei
em relação à questão da internação, dependendo da natureza da medida
aplicada: o abrigo, como medida de caráter provisório e excepcional de
proteção para crianças em situações consideradas de risco pessoal e social;
e a internação de adolescentes em instituições, como uma medida
socioeducativa de privação de liberdade. Em ambos os casos, a lei buscará
prever mecanismos de garantia de direitos de crianças e adolescentes.
(RIZZINI e RIZZINI, 2004, p. 48).

Destarte, pode-se observar que as formas de atendimento ao segmento


infanto-juvenil passam a ser diferenciadas em decorrência da nova categorização
apresentada pelo Estatuto. O acolhimento institucional de crianças e adolescentes
está esboçado em seu artigo 101 como medida de proteção, e a medida
socioeducativa de internação, em seu artigo 112.
De acordo com o art. 101 do ECA, a medida de acolhimento institucional11
é caracterizada como medida de proteção, sendo uma “medida provisória e
excepcional, usada como forma de transição para reintegração família ou, não sendo
esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de
liberdade” (ECA, art. 101, § 1º). Cabe salientar que tal medida é aplicável nos casos
expostos no art. 9812, ou seja, sempre que os direitos reconhecidos pelo Estatuto
forem ameaçados ou violados.
O ECA é uma legislação completa, já que apresenta dispositivos legais e
operacionais para a efetivação de direitos das crianças e adolescentes. Assim, tal
legislação afirma os deveres da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
Poder Público para a efetivação dos direitos desse segmento populacional13.

10
Art. 6º do Estatuto da Criança e do Adolescente.
11
O acolhimento institucional é um atendimento voltado às crianças e adolescentes que, de alguma
maneira, tiveram seus direitos ameaçados ou violados, por isso necessitaram ser afastados do
convívio familiar de modo temporário. Essa medida está prevista no Estatuto da Criança e do
Adolescente, sendo que o termo “abrigamento”, que antes definia a situação, foi substituído (com a lei
12.010/09) - “Lei da adoção”) pela terminologia “acolhimento institucional” (MOREIRA, 2013, p. 66).
12
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos
reconhecidos nesta lei forem ameaçados ou violados: I – por ação ou omissão da sociedade ou do
Estado; II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis; III – em razão de sua conduta.
13
Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Podre Público assegurar,
com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos, referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
30

Ricardo (2011, p. 32) afirma que “a Constituição Cidadã reafirmou os


direitos já garantidos pela Declaração Universal dos Direitos do Homem e pela
Declaração dos Direitos da Criança, ambas elaboradas pela ONU e também
ressaltou a importância do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar
e comunitária14”. O autor além disso acrescenta que o direito à convivência familiar e
comunitária foi elaborado para responder às questões relativas à institucionalização,
tendo em vista que esta era uma prática muito utilizada no país.
Em 2003, foi realizada uma pesquisa pelo Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (IPEA), a fim de conhecer as características, a estrutura de
funcionamento, os serviços prestados e caracterizar o perfil das crianças e
adolescentes que se encontravam nos abrigos, que recebiam recursos da Rede de
Serviços de Ação Continuada – (Rede SAC) – da Secretaria de Assistência Social do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Tal pesquisa ficou
conhecida como Levantamento Nacional dos Abrigos de Crianças e Adolescentes.
As informações geradas pela pesquisa demonstraram que, das 589 instituições que
desenvolviam o abrigamento, “cerca de 78,4% servem efetivamente como local de
moradia para crianças e adolescentes, ainda que a maioria dos abrigados, algo em
torno de 86,7% dos quase 20.000 presentes no levantamento, possui referência
familiar ou contato regular com os pais e/ou responsáveis” (CAVALCANTE e SILVA,
2010, p. 1155).
Em decorrência dessa pesquisa, foi diagnosticada a situação vivenciada
pelas crianças e adolescentes que se encontravam nos abrigos de todo país. Do
mesmo modo, pôde ser observado o descompasso entre a realidade das Unidades
de Acolhimento e os princípios e diretrizes apresentados pelas legislações.

[...] após a publicação da pesquisa, quando o Ministro Chefe da SEDH e o

educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e


a convivência familiar e comunitária.
14
Na Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente da ONU de 1989, ratificada
pelo Brasil através do Decreto n.º 99.710/1990, adota a Doutrina Jurídica da Proteção Integral de
Crianças e Adolescentes, que foi incorporada pelo art. 227 da Constituição da República e
Regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Destaca-se na Convenção o princípio do
melhor interesse da criança (art. 3) e o reconhecimento do direito à convivência familiar, seja na
família biológica, seja na família substituta, considerando que “a criança, para o pleno e harmonioso
desenvolvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de
felicidade, amor e compreensão” (Preâmbulo) (FERREIRA e BITTENCOURT, 2009, p. 141).
31

Ministro de Estados do MSD, com o apoio o UNICEF, convocaram outros


Ministérios e atores para a formação de uma Comissão Intersetorial que
apresentou os subsídios ao CONANDA e ao CNAS para a elaboração do
Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Os Conselhos
analisaram e aprimoraram o documento, aprovando em assembleia
conjunta em 2006, após incorporação das sugestões apresentadas na
15
consulta pública . Ressalte-se que, além dos dois Conselhos e do Poder
Público, a sociedade civil teve também uma importante participação na
construção coletiva do Plano Nacional. (BRASIL, 2006, p. 21).

O Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária foi sancionado


em 2006 e visa romper com a cultura de institucionalização do segmento infanto-
juvenil. Ele destaca a importância da convivência familiar e comunitária para o
desenvolvimento da criança e do adolescente, e apresenta um conjunto de ações a
ser implementado e implantado nos anos de 2007 a 2015.
O Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta um capítulo
direcionado ao Direito à Convivência Familiar e Comunitária e seu Art. 19 trata
especificamente sobre a medida de acolhimento institucional:

Capítulo III
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
Seção I
Disposições Gerais
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no
seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada
a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de
pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
o
§ 1 Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de
acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no
máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária
competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional
ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de
reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
o
§ 2 A permanência da criança e do adolescente em programa de
acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo
comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse,
devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.
o
§ 3 A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família
terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será
esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do
parágrafo único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos
incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (BRASIL, 1990).

Dessa forma, pode-se observar que por ser uma medida excepcional e

15
Resolução Conjunta n.º 1 de 13 de dezembro de 2006.
32

para que não ocorram excessos na execução da mesma, a legislação determina sua
forma de operacionalização, estipulando um período máximo para a avaliação da
medida por uma equipe interprofissional ou multidisciplinar e o período de
permanência na unidade, salvo necessidade comprovada.
Em concordância com o objeto desta pesquisa, destaca-se o Art. 131 que
institui o Conselho Tutelar, consistindo este último um “órgão permanente e
autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento
dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta lei”. Este órgão tem como
uma de suas atribuições aplicar as medidas do Art. 101, e dentre elas, a medida de
acolhimento institucional.
Outro destaque a ser feito é acerca das funções do Ministério Público com
atuação na seara da infância e juventude. Assim, conforme exposto no ECA, em seu
Art. 201 inciso XI, compete ao Ministério Público “inspecionar as entidades públicas
e particulares de atendimento e os programas de que trata esta lei, adotando de
pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de
irregularidades porventura verificadas”.
Em concordância com essa atribuição, e sendo dever do membro do
Ministério Público fiscalizar as entidades governamentais e não governamentais
referidas no Art. 90 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Conselho Nacional
do Ministério Público (CNMP) aprovou a Resolução n.º 71/2011 que dispõe sobre a
atuação do membros do Ministério Público na defesa do direito fundamental à
convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes em acolhimento. Esta
Resolução instituiu e buscou operacionalizar a realização da inspeção nas
instituições que desenvolvem o programa de acolhimento institucional, sendo
elaborado, pelo CNMP, um formulário específico para apreensão dos dados que
serão apresentados nessa pesquisa.

2.2 A Assistência Social e o Acolhimento Institucional de Crianças e


Adolescentes

A Constituição de 1988 introduziu o conceito de seguridade social como


sendo um “conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
33

assistência social16”. Dessa forma, a assistência assume status de política pública e


para regulamentá-la e garantir isso, foi promulgada em 1993 a Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS17). A LOAS propôs formas de sistematização da política de
assistência social ao estabelecer normas e critérios que garantissem a sua
efetivação.

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política


de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais,
realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e
da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (LOAS,
1993).

Por meio dessa legislação, foram estabelecidas as provisões assistenciais


que devem garantir o atendimento às necessidades básicas dos que necessitam
diretamente dessa política. Assegura, também, a primazia da iniciativa do Estado
para a garantia desses direitos, além da articulação dessas ações com as da
sociedade.
A LOAS cria estratégias para a ampliação da assistência para todo o país
e, dessa forma, prevê a elaboração da Política de Assistência pela União e o
Conselho Nacional de Assistência Social; a ampliação para os Estados Federativos
e a criação dos Conselhos Estaduais de Assistência Social; do Conselho de
Assistência Social do Distrito Federal e nos Municípios a criação dos Conselhos
Municipais de Assistência Social. Tais conselhos seriam órgãos permanentes e de
composição paritária entre a sociedade civil e o governo (Art. 16, LOAS, 1993).

Art. 17 § 4º Os Conselhos de que tratam os incisos II, III e IV do art. 16, com
competência para acompanhar a execução da política de assistência social,
apreciar e aprovar a proposta orçamentária, em consonância com as
diretrizes das conferências nacionais, estaduais, distrital e municipais, de
acordo com seu âmbito de atuação, deverão ser instituídos,
respectivamente, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios,
mediante lei específica. (LOAS, 1993).

Através desse artigo, podemos ponderar que a LOAS regulamentou a


política de Assistência Social e instituiu seus instrumentos de controle social.

16
Art. 194 da Constituição Federal de 1988.
17
Lei nº 8.742 de 1993, alterada pela Lei nº 12.435 de 2011, que dispõe sobre a organização da
Assistência Social e dá outras providências.
34

Somente em 2004 foi aprovada a Política Nacional de Assistência Social


(PNAS), sendo ela resultado da articulação do Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS), por intermédio da Secretaria Nacional de Assistência
Social (SNAS) e do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). A PNAS
demonstra a intenção de construção e redesenho da política de assistência, na
perspectiva de implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e na
materialização das diretrizes da LOAS.

As ações da Política de Assistência Social são organizadas por meio do


SUAS. O SUAS constitui-se na regulação e organização em todo o território
nacional dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais,
de caráter continuado e eventual, executados e providos por pessoas
jurídicas de direito público sob critério universal e lógica de ação em rede
hierarquizada e em articulação com iniciativas da sociedade civil. Define e
organiza os elementos essenciais e imprescindíveis à execução desta
Política, possibilitando a normatização dos padrões de serviço, qualidade no
atendimento aos usuários, indicadores de avaliação e resultado,
nomenclatura dos serviços e da rede prestadora de serviços
socioassistenciais. Trata-se de um sistema público não contributivo,
descentralizado e participativo que tem por função a gestão do conteúdo
específico da assistência social no campo da proteção social brasileira.
(SÃO PAULO, 2010).

Igualmente pode-se aferir que o SUAS apresenta um novo modelo de


gestão que supõe um pacto federativo, com a definição de competências entre as
esferas de poder (União, Estados e Municípios), havendo a separação de
competências destes por meio do estabelecimento de parâmetros como, a região e o
porte dos municípios. A proteção social constitui-se no conjunto de ações, benefícios
e auxílios ofertados pelo SUAS para a redução e prevenção do impacto das
vicissitudes sociais e naturais ao ciclo de vida, à dignidade humana e à família como
núcleo básico de sustentação afetiva, biológica e relacional. Nessa perspectiva, a
proteção social de Assistência Social, ao ter por direção o desenvolvimento humano
e social e os direitos de cidadania, tem por princípios a matricialidade sociofamiliar, a
territorialização, a proteção pró-ativa, a integração à seguridade social, a integração
às politicas sociais e econômicas (NOB/SUAS, 2006).
Em decorrência do SUAS, os programas, projetos e benefícios são
estruturados por níveis de complexidade, ou seja, como Proteção Social Básica e
Proteção Social Especial (média e alta complexidade).

Art. 6º - A. A assistência social organiza-se pelos seguintes tipos de


proteção:
35

I – proteção social básica: conjunto de serviço, programas, projetos e


benefícios da assistência social que visa a prevenir situações de
vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de
potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e
comunitários;
II - proteção social especial: conjunto de serviços, programas e projetos que
tem por objetivo contribuir para a reconstrução de vínculos familiares e
comunitários, a defesa de direitos, o fortalecimento das potencialidades e
aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das
situações de violações de direitos.
Parágrafo Único. A vigilância socioassistencial é um dos instrumentos das
proteções da assistência social que identifica e previne as situações de
risco e vulnerabilidade social e seus agravos no território. (LOAS, 1993,
alterações incluídas pela Lei n.º 12.435 de 2011).

A assistência social é um dos pilares da proteção social brasileira e,


dessa forma, sua operacionalização foi subdividida em níveis de proteção social. O
primeiro nível de proteção corresponde à proteção social básica, esse serviço é de
18
competência do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) , local no qual
são realizados atendimentos a famílias em situação de vulnerabilidade social
decorrente da pobreza, do precário ou nulo acesso aos serviços públicos fragilização
de vínculos de pertencimento e sociabilidade e/ou qualquer outra situação de
vulnerabilidade e risco social residentes nos territórios de abrangência dos CRAS. O
segundo nível diz respeito à proteção social de média complexidade, que tem como
órgão de referência o Centro de Referência Especializado da Assistência Social
(CREAS)19, local onde são realizados atendimentos a famílias e indivíduos que
vivenciam violações de direitos por ocorrência de violência física, psicológica e
negligência; violência sexual: abuso e/ou exploração sexual; afastamento do
convívio familiar devido à aplicação de medida socioeducativa ou medida de
proteção; entre outros. O terceiro nível corresponde à proteção social de alta
complexidade, serviço no qual se insere o acolhimento institucional em diferentes
tipos de equipamentos, destinado a famílias e/ou indivíduos com vínculos familiares
rompidos ou fragilizados, a fim de garantir proteção integral.

18
O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), que é a unidade pública municipal, de base
territorial, localizada em áreas de maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à
articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência e à prestação de serviços,
programas e projetos socioassistenciais de proteção básica às famílias.
19
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), que é a unidade pública de
abrangência e gestão municipal, estadual ou regional, destinada à prestação de serviços a indivíduos
e famílias que se encontram em situação de risco pessoal ou social, por violações de direitos ou
contingência, que demandam intervenções especializadas da proteção social especial.
36

Art. 2º A assistência social tem por objetivos: (Redação dada pela Lei nº
12.435, de 2011)
I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e
à prevenção da incidência de riscos, especialmente: (Redação dada
pela Lei n.º 12.435, de 2011)
a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice; (Incluído pela Lei n.º 12.435, de 2011)
b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; (Incluído pela Lei nº
12.435, de 2011)
c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; (Incluído pela Lei nº
12.435, de 2011)
d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária; e (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; (Incluído pela Lei nº
12.435, de 2011)
II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a
capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades,
de ameaças, de vitimizações e danos; (Redação dada pela Lei nº 12.435,
de 2011)
III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no
conjunto das provisões socioassistenciais. (Redação dada pela Lei nº
12.435, de 2011). (LOAS, 1993, grifo nosso).

Diante do exposto, pode-se observar que a medida de acolhimento


institucional é considerada uma medida de proteção e, dessa forma, encontra-se
atualmente situada na política de assistência social no nível da Proteção Social de
Alta Complexidade.
A NOB/SUAS (2006) afirma que tal proteção ao ter por direção o
desenvolvimento humano e social e os direitos de cidadania, tem por garantias: a
segurança de acolhida; a segurança social e de renda; a segurança do convívio ou
vivência familiar, comunitária e social; a segurança do desenvolvimento da
autonomia individual, familiar e social; e a segurança de sobrevivência a riscos
circunstanciais.
Em 2009, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e o
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) lançaram
a Resolução Conjunta n.º 1/09, sendo nomeado “Orientações Técnicas: Serviço de
Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes”. Este documento tem por
finalidade regulamentar a organização e oferta de serviços de Acolhimento
Institucional para crianças e adolescentes.
Ainda em 2009, foi aprovada a Resolução n.º 94 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), determinando a criação de Coordenadorias da Infância e Juventude
(CIJ) no âmbito dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal. Em
37

decorrência desta determinação, foi promulgada a Resolução nº 17, de outubro de


2009, que dispõe sobre a criação e funcionamento da Coordenadoria da Infância e
Juventude no município de Fortaleza. Dessa forma, foi estabelecido que as
Coordenadorias da Infância e da Juventude terão por atribuição: elaborar sugestões
para o aprimoramento da estrutura do Judiciário na área da infância e da juventude;
dar suporte aos magistrados, aos servidores e às equipes multiprofissionais visando
à melhoria da prestação jurisdicional; promover a articulação interna e externa da
Justiça da Infância e da Juventude com outros órgãos governamentais e não
governamentais; colaborar para a formação inicial, continuada e especializada de
magistrados e servidores na área da infância e da juventude; exercer as atribuições
da gestão estadual dos Cadastros Nacionais da Infância e Juventude.
Outra importante ação do Conselho Nacional de Justiça foi a aprovação
da Instrução Normativa nº 02, de 30 de junho de 2010, que “disciplina a adoção de
medidas destinadas à regularização do controle de equipamentos de execução da
medida protetiva de acolhimento (institucional ou familiar), e de criança e
adolescentes sob essa medida20”. Assim, ficou estabelecida a realização de
audiências concentradas com a finalidade de acompanhar a atuação das entidades
de acolhimentos e dar celeridade processual aos casos de crianças e/ou
adolescentes sob medida de proteção acolhimento institucional.
Conforme citado na sessão anterior, em 2011 o Conselho Nacional do
Ministério Público resolveu instituir a Resolução nº 71, a qual determina a realização
de inspeções periódicas aos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes,
sendo esta pesquisa embasada nos dados e informações apreendidos por meio da
prática de estágio da pesquisadora no Ministério Público, em especial, da inserção
nas inspeções às unidades de acolhimento.
O Estatuto da Criança e do Adolescente já destacava a importância da
atuação dos órgãos de justiça junto ao acompanhamento dos serviços de
acolhimento institucional, entretanto, fez-se necessário a promulgação de
Resoluções e Instruções Normativas para que houvesse, de fato, o
acompanhamento e a fiscalização desses espaços por parte desses órgãos.

20
Preâmbulo da Resolução n.º 02/10 do CNJ.
38

Após a abordagem do referencial histórico e documental, o trabalho


apresenta, a seguir, os dados encontrados na pesquisa e a consequente análise do
material reunido.
39

3 AS INSPEÇÕES NOS ACOLHIMENTOS INSTITUCIONAIS E A ATUAÇÃO DO


MINISTÉRIO PÚBLICO

Este capítulo apresenta os dados apreendidos nas inspeções realizadas


pelo Ministério Público enfocando as ações empreendidas por este órgão visando
interferir na realidade dos acolhimentos institucionais. Apresenta, também, algumas
observações feitas pela pesquisadora. É importante informar que a primeira
inspeção realizada ocorreu em março de 2012, porém, nesta pesquisa, serão
enfocadas as informações das inspeções realizadas em novembro de 2013 e março
de 2014.
Após a promulgação da Resolução de 71/2011 do CNMP, determinando a
realização de inspeções nas Unidades de Acolhimento Institucional de crianças e
adolescentes, o Procurador Geral de Justiça do Ceará instituiu uma Portaria
convocando a participação dos Promotores de Justiça que atuam na seara da
infância e juventude, para a realização das inspeções em Fortaleza. Assim, para
atender a essa demanda, a Promotora de Justiça, coordenadora do Centro de Apoio
Operacional da Infância e da Juventude (CAOPIJ), viu a necessidade de ser
montada uma equipe técnica para a realização das inspeções.
Para que isso se efetivasse, seria necessária a existência de uma equipe
multiprofissional formada por profissionais de nível superior (serviço social,
pedagogia e psicologia), contudo, a equipe técnica do Centro de Apoio era composta
apenas por uma assistente social e dois estagiários de Serviço Social21.
Diante desse contexto, houve a necessidade da realização de parcerias
com órgãos do sistema de justiça para a disponibilização de servidores, a fim de
ampliar a equipe técnica e atender a demanda das inspeções.
Ao final dessa articulação, foi formada uma equipe técnica composta por:
duas assistentes sociais (uma do CAOPIJ e outra cedida pelo Tribunal de Justiça) e
três estagiários; uma pedagoga (técnica ministerial com nível superior em
pedagogia, lotada no CAOPIJ); e uma psicóloga (cedida da 5ª Promotoria da
Infância e Juventude). Cabe ressaltar que as inspeções foram realizadas por quatro
Promotores de Justiça.
Em novembro de 2013, foram inspecionadas vinte três unidades de
acolhimento institucional, sendo visualizado que: três são mantidas apenas pelo

21
Situação ocupacional na qual a pesquisadora se inseriu ao realizar a pesquisa.
40

município, através de recursos repassados pela Secretaria de Cidadania e Direitos


Humanos (SCDH); quatro mantidas em regime de cogestão22 por uma ONG que
recebe recursos estaduais para a administração dos acolhimentos, a Secretaria do
Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS); cinco mantidas em regime de gestão
descentralizada23 por uma ONG que administra recursos estaduais repassados
também pela STDS; e onze mantidas por ONGs que recebem doações da sociedade
civil e que mantém convênios eventuais com o município e/ou estado. Já em março
de 2014 foram inspecionadas vinte e seis instituições, sendo que vinte três já eram
inspecionadas regularmente, sendo acrescentadas três ONGs que realizavam esse
serviço, porém, seus funcionamentos não eram de conhecimento do Ministério
Público.
Constatou-se, ainda, a existência de 3 instituições casas lares e 20
acolhimentos institucionais em 2013 e 4 casas lares e 22 acolhimentos em 2014.
Ao final das inspeções, foi visualizado que a capacidade total de
atendimento das instituições em 2013 era de 517, existindo 465 crianças e
adolescentes acolhidos, restando 52 vagas ociosas24. Já na inspeção de março de
2014, a capacidade total era de 662, estando acolhidas 525 crianças e adolescentes,
restando 137 vagas ociosas25.
Foi percebida a existência de perfis bem definidos em algumas
instituições, havendo a separação por sexo conforme ilustrado na tabela seguinte:

22
No regime de cogestão, a unidade de acolhimento tem sua gestão compartilhada entre a Secretaria
de Trabalho e Desenvolvimento Social e a ONG que administra os recursos estaduais para a
manutenção dos serviços. Essas instituições funcionam em prédios públicos cedidos pelo governo do
estado, têm alguns funcionários que são servidores públicos e alguns custos também são de
responsabilidade da secretaria estadual.
23
Nesse regime de gestão, a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social mantém convênio e
faz repasse de recursos para uma ONG que administra os serviços de acolhimento institucional para
crianças e adolescentes.
24
Sobre as vagas ociosas cabe ressaltar que foi constatado que algumas unidades de acolhimento,
estavam atendendo acima da capacidade física, e que, embora apresentem legalmente um número
elevado de vagas, não há camas e local físico para os acolhidos dormirem em condições dignas e
salubres. Verificou-se ainda, a existência de instituições que mantém jovens adultos com histórico de
institucionalização, que por não terem autonomia suficiente para saírem da unidade de acolhimento e
permanecem nesse espaço. Geralmente isso ocorre pela da existência de alguma deficiência e/ou
por não terem vínculos familiares, permanecendo nos acolhimentos e ocupando as supostas vagas
ociosas.
25
Durante as inspeções, visualizamos que as instituições que ainda acolhiam jovens adultos, em
novembro de 2013, tinham conseguido desinstitucionalizar alguns desses sujeitos, porém ainda
existem alguns jovens adultos, em especial, os com alguma deficiência.
41

Tabela 1 - Número de Instituições por gênero da população atendida em novembro de 2013


SEXO Nº DE INSTITUIÇÕES %

– FEMININO 6 26,09%
– MASCULINO 5 21,74%
– AMBOS 12 52,17%
TOTAL 23 100,00%
Fonte: Próprio autor

Já em 2014 visualizamos que o cenário permanece quase inalterado


havendo poucas mudanças nesse quesito, conforme exposto na tabela a seguir:

Tabela 2 - Número de Instituições por gênero da população atendida em março de 2014


SEXO Nº DE INSTITUIÇÕES %
- FEMININO 5 19,23%
- MASCULINO 5 19,23%
- AMBOS 16 61,54%
TOTAL 26 100,00%
Fonte: Próprio autor

Portanto, fica nítida a existência de perfil, sendo isso contrário à


Orientação Técnica para o serviço de acolhimento de crianças e adolescentes, que
determina que “crianças e adolescentes com vínculo de parentesco, não devem ser
separados ao serem encaminhados para serviço de acolhimento” (p. 51).
O que se figurou foi a existência de poucas instituições que atendam
efetivamente aos grupos de irmãos26, uma vez que, ao se delimitar faixas de idades
estreitas e/ou a apenas um sexo, não se consegue atender efetivamente todos tipos
de grupos de irmãos. Outro destaque é que mesmo as instituições que acolhem
ambos os sexos delimitam seu atendimento à crianças ou a adolescentes. Cabe
ressaltar que, geralmente, as instituições que não acolhem ambos os sexos,
apresentam orientação religiosa ou atendem a “perfis” bem específicos27.
As equipes técnicas de doze acolhimentos responderam que as
instituições não separam grupos de irmãos, e onze, afirmaram que separam devido

26
A ênfase na separação do grupo de irmãos se dá em consequência das diversas legislações que
afirmam a necessidade da garantia do direito à convivência familiar e comunitária. Entretanto, viu-se a
necessidade de pesquisas acerca dessa temática nos acolhimentos institucionais sob a perspectiva
das crianças e adolescentes inseridos nesses espaços.
27
Atendimento a adolescentes gestantes, crianças e adolescentes do sexo masculino em situação de
rua, crianças e adolescentes abusadas ou exploradas sexualmente, dentre outros.
42

à faixa etária definida pela instituição ou por determinação judicial. Entretanto,


podemos perceber que muitas instituições não compreendem que ao se estabelecer
perfis, seja por idade ou sexo, abre-se margem para que ocorra a separação de
grupos de irmãos, tendo em vista que, esses grupos podem ter faixas etárias
distintas e ambos os sexos. Nas instituições que separam grupos de irmãos, foi
relatado que são empreendidas ações nas quais a convivência entre irmãos
acolhidos em instituições diferentes é garantida. Contudo, foi detectado que devido
ao cotidiano institucional, principalmente em instituições de grande porte, isso não é
realizado com a frequência relatada.
Em 2013, verificou-se a existência de 71 acolhidos provenientes de
outros municípios, estando eles distribuídos em dezesseis instituições. Já em 2014
houve o aumento desse número, existindo 90 acolhidos de outros municípios.
Foram relatadas pelas equipes técnicas, as dificuldades na manutenção
de vínculos familiares dos acolhidos advindos de outros municípios, pois a maioria
das famílias não dispõe de recursos materiais para realizarem visitas aos
acolhimentos. Outro fator relatado foi a dificuldade que as equipes técnicas têm para
realização das visitas domiciliares de acompanhamento familiar nos municípios,
porque alguns têm mais de 500 quilômetros de distância de Fortaleza, ficando
impossível a realização desta ação.
De modo geral, considerando as dificuldades apresentadas, ficou nítida a
fragilidade do processo de manutenção de vínculos familiares desses acolhidos.
Analisando os dados das inspeções, percebeu-se que em novembro de
201328 houve o retorno de 59 acolhidos para família de origem (nuclear ou extensa),
12 foram colocados em família substituta e 26 estavam em processo de adoção. Já
em março de 201429, foi verificado o retorno de 238 acolhidos para a família de
origem, 10 foram colocados em família substituta e 21 estavam em processo de
adoção.
Ao compararmos esses dados, concluímos que houve o crescimento do
número de retorno à família. Dessa forma, percebe-se que, mesmo com todas as
fragilidades encontradas no acompanhamento familiar e no processo de manutenção
de vínculos, as equipes técnicas dos acolhimentos têm conseguido modificar

28
Número referente ao período pós-inspeção de março a novembro de 2013.
29
Número referente ao período pós-inspeção de novembro de 2013 a março de 2014.
43

realidade dos longos períodos de institucionalização de crianças e adolescentes,


embora, nem sempre isso seja possível.
Em novembro de 2013, visualizamos a existência de crianças e
adolescentes sem receber vistas dos pais e/ou responsável por período superior a
dois meses em 17 instituições (73,71%), o que representou o quantitativo de 177
crianças e adolescentes (38,6% do total de infantes acolhidos). Já em 2014, 23
instituições (92,31%) matinham acolhidos sem receber visitas a mais de dois meses,
existindo 171 acolhidos (32,57% do total) sem receber visitas e, consequentemente,
sem efetiva manutenção dos vínculos familiares.
Diante desses dados, percebemos que, embora o número de instituições
com acolhidos sem receber visitas tenha aumentado, houve uma pequena redução
do número de crianças e adolescentes que não mantém contato com os familiares
e/ou responsáveis. Entretanto, deve ser levado em consideração que esse
panorama se deu em um lapso de tempo de 4 meses, e que não se pode aferir se,
realmente, existiram reais modificações sobre esse quesito, tendo em vista que foi
relatado pelas equipes técnicas que diversos fatores interferem na manutenção de
vínculos e nas visitas, sendo o mais recorrente a drogadição familiar e a extrema
vulnerabilidade social vivenciada pelas famílias.
Durante todas as inspeções, foi detectada a dificuldade de preenchimento
do Plano Individual de Atendimento (PIA), documento no qual devem estar previstas
as informações pessoais de cada acolhido, os motivos que levaram ao acolhimento,
as providências a serem tomadas para o acompanhamento individual e familiar, as
ações desenvolvidas junto aos acolhidos, os compromissos firmados pelos
familiares, entre outros.
Diante do diagnóstico dessa problemática, após a inspeção de novembro
de 2013, a Promotora de Justiça, articulou a formação de um grupo composto por
representantes do CAOPIJ, da Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal
de Justiça, da coordenação do acolhimento institucional do município de Fortaleza e
da coordenação da proteção social de alta complexidade da STDS30.
O resultado da articulação desse grupo foi a elaboração de um minuta de
PIA que teria aprovação deliberada pelos representantes dos acolhimentos. Tal
medida foi tomada diante da inexistência e do sub-preenchimento desse documento

30
Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social, órgão ligado ao governo estadual.
44

em muitas das instituições inspecionadas, mesmo diante de sua importância


destacada nas Orientações Técnicas. A tabela a seguir apresenta a comparação
entre os dados da inspeção, anterior e posterior, a essa ação do Ministério Público.

Tabela 3 - Número de instituições com PIA


Nº DE INSTITUIÇÕES Nº DE INSTITUIÇÕES
COM PIA SEM PIA TOTAL DE INSTITUIÇÕES

NOV/13 19 4 23

MAR/14 22 4 26
Fonte: Próprio autor

Observa-se que, conquanto exista diferença entre o número de


instituições nas inspeções, houve uma modificação nesse quadro, porque das
instituições visitadas em 2013, vinte e duas já apresentavam o PIA padronizado, e
apenas uma ainda não havia se adequado. As outras três instituições que não
apresentavam o PIA foram as que nunca haviam sido inspecionadas, portanto não
tinham conhecimento deste instrumental padronizado do município.
De acordo com as Orientações Técnicas, assim que a criança ou
adolescente chegar ao serviço de acolhimento, a equipe técnica do serviço deverá
elaborar um PIA no qual constem objetivos, estratégias e ações a serem
desenvolvidas, tendo em vista a superação dos motivos que levaram ao afastamento
do convívio familiar e o atendimento das necessidades específicas de cada situação.
Frente aos dados apresentados, faz-se mister considerar que a
individualização no atendimento, proposta pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, realiza-se através de dois importantes instrumentos: o primeiro é o
registro de anotações no qual constem data e circunstâncias do atendimento, nome
do acolhido, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade,
acompanhamento da sua formação e relação de seus pertences e demais dados
que possibilitem sua identificação e individualização do atendimento (ECA, art. 94,
caput, XX, e § 1º). O segundo é a elaboração de Plano Individual de Atendimento
(PIA), cujo objetivo é orientar o trabalho de intervenção durante o período de
acolhimento, visando à reintegração familiar, salvo determinação judicial em
contrário, quando, então, o plano visará à colocação em família substituta (CNMP,
2013).
45

Diante das orientações realizadas durante as visitas, é visível que as


instituições estão buscando se adequar as legislações, especialmente, em relação
ao PIA. A tabela abaixo compara o número de instituições que preenchem o PIA
imediatamente após o acolhimento, nas duas inspeções.

Tabela 4 - Número de Instituições que preenchem o PIA imediatamente


NOV/13 % MAR/14 %
SIM 12 52,17% 18 69,23%
NÃO 11 47,83% 8 30,77%
TOTAL 23 100% 26 100,00%
Fonte: Próprio autor

Em 2013, outro ponto relevante foi referente às questões de estrutura


física, de segurança e de habitabilidade, pois que muitos acolhimentos
apresentavam problemas estruturais, como: fiação exposta, falta de extintores de
incêndio, falta de higienização, dispensa com acondicionamento de produtos
alimentícios e de higiene juntos, dentre outros. Percebeu-se também que todas as
instituições inspecionadas não tinham registros da Vigilância Sanitária e do Corpo de
Bombeiros.
Diante desse contexto, o membro do MP requisitou que a vigilância
sanitária e o corpo de bombeiros fizessem inspeções, em suas áreas de
competência, a fim de serem melhoradas as questões latentes em relação à
segurança e à higiene dos acolhimentos institucionais, e para que fossem dadas as
orientações pertinentes.
Dos encaminhamentos realizados pós-inspeção, pudemos perceber que a
vigilância sanitária realizou inspeções em todas as unidades indicadas, sendo feitas
as orientações pertinentes e dado os prazos para a adequação necessária.
Entretanto, durante as inspeções de março de 2014, percebeu-se que, mesmo
diante de toda a articulação realizada com a vigilância sanitária, ainda é possível
visualizar que algumas instituições estão muito distantes de se enquadrarem nas
normas sanitárias. Alguns espaços de acolhimento conseguiram atender a todas as
normas indicadas nos registros de inspeção sanitária, porém a maior parcela ainda
não conseguiu atender aos quesitos referentes à higiene e às adequações
estruturais, a exemplo da aquisição de luminárias com proteção, limpeza das caixas
d’água, mudanças de tomadas de energia, proteção para tomadas elétricas, dentre
outros.
46

Segundo o ofício resposta do Corpo de Bombeiros ao MP, a escassez de


recursos humanos impossibilitou o atendimento deste órgão à requisição ministerial,
sendo constatado durante todas as inspeções do MP, que a maioria das instituições
não possuem ao menos um extintor de incêndio. Do mesmo modo, a equipe do MP
orientou as instituições a tentarem adquirir extintores como precaução a possíveis
acidentes, sendo uma forma de se resguardarem até que o Corpo de Bombeiros
possa realizar as visitas.
De modo geral, pudemos visualizar avanços em relação ao Plano
Individual de Atendimento, uma vez que pudemos constatar que quase todas as
unidades de acolhimentos já estão utilizando o instrumental, porém, nem todas
realizam o preenchimento completo do mesmo.
Em cada inspeção, observamos o regime de contratação dos educadores
sociais e da equipe técnica, os processos seletivos, as capacitações, dentre outros.
De tal modo, constatamos que a maioria dos acolhimentos institucionais trocam
constantemente o quadro de educadores/cuidadores, e que estes, em sua maioria,
não tiveram capacitação introdutória e/ou periódica para o desenvolvimento desse
trabalho no serviço de acolhimento.
É nítida a descontinuidade dos serviços realizados nos acolhimentos,
sendo a troca de profissionais da equipe técnica muito comum. Também foi
verificada a existência de profissionais que atendem em mais de duas instituições de
acolhimento, e que as instituições não têm os profissionais básicos para a formação
de uma equipe técnica, havendo apenas um profissional de serviço social. Notou-se
a falta de profissionais com formação em pedagogia e psicologia em,
aproximadamente, 52% das instituições, nas duas inspeções.
Durante conversa informal com alguns educadores, percebemos a
fragilidade da realização deste serviço com qualidade, seja por questão de afinidade
dos funcionários com o trabalho, seja por questões financeiras. Percebemos também
que há um processo de terceirização massiva, incluindo até mesmo as equipes
técnicas, não havendo a valorização salarial dos trabalhadores que atuam no
serviço, e por esses motivos há a mudança constante dos profissionais,
principalmente de educadores.
Em termos gerais, ressalta-se que “um atendimento caracterizado pela
impessoalidade, massificação e privação de afeto, agravados pela elevada
47

rotatividade de cuidadores, são fatores que podem ter um impacto negativo sobre o
desenvolvimento do acolhido” (MORÉ e SPERANCETTA, 2010, p. 520).
Observou-se que esses fatores são nítidos em instituições de grande
porte, e que em Fortaleza existem três acolhimentos desse nível. Em média esses
espaços atendem de 90 a 100 crianças e adolescentes, sendo verdadeiros depósitos
de crianças, visto que é humanamente impossível a realização de um trabalho de
acompanhamento individualizado, diante dessa enorme demanda, tanto por parte da
equipe técnica quanto pelos educadores.
A Orientação Técnica determina que em instituições de Acolhimento
Institucional o número máximo de acolhidos é de 20 crianças e adolescentes, para
uma equipe técnica composta por dois profissionais de nível superior em serviço
social e psicologia. A equipe de educadores deveria ser composta por educadores e
auxiliares de educadores com turnos fixos, na proporção de um profissional e um
auxiliar para cada 10 usuários. Já na modalidade Casa-lar, a Orientação determina
que cada instituição pode atender até 20 acolhidos subdivididos em até três casas-
lar, com uma equipe técnica de dois profissionais de nível superior, com graduação
em serviço social e em psicologia, e a existência de um educador e auxiliar de
educador residentes em cada casa-lar.
Durante as inspeções, notamos que essas normas não são seguidas por
nenhuma das instituições de acolhimento, sejam elas patrimoniais ou ONGs, sendo
constatada: a existência de instituições com número imenso de acolhidos; nas
instituições categorizadas de acolhimento institucional, os educadores trabalham em
regime de plantão; e que, em muitas delas, o número de profissionais não atende à
demanda dos espaços. Verificou-se que em algumas casas lares existem os
educadores e auxiliares residentes, porém, em outras, esses profissionais trabalham
em regime de plantão. Também se observou que algumas casas-lar ultrapassam o
limite de acolhimento estabelecido em lei.
Em Fortaleza, identificamos algumas instituições “híbridas”, ou seja, que
apresentam características de acolhimento institucional e de casa-lar, sendo
necessário um trabalho explicativo por parte da equipe que realiza inspeção, ficando
nítida a falta de conhecimento dos parâmetros previstos no documento Orientações
Técnicas, pois algumas instituições, ora se reconhecem como casas-lar ora como
acolhimentos institucionais. Foi detectada a existência de instituições se identificam
como casa-lar, sem, entretanto, ter suas características básicas.
48

De acordo com o Manual de “Orientações Técnicas: serviços de


acolhimento para crianças e adolescentes” (CONANDA/CNAS, 2009): “A principal
diferença entre este serviço e o Abrigo Institucional, além do menor número de
crianças e adolescentes atendidos por equipamento, está na presença do
educador/cuidador residente – pessoa ou casal que reside na casa-lar juntamente
com as crianças/adolescentes atendidos, sendo responsável pelos cuidados e pela
organização da rotina da casa” (p. 75).
Inqueridos, em 2013, se os adolescentes frequentam atividades de
iniciação ao mundo do trabalho e de profissionalização, 56,52% das entidades
relataram que sim, e que os adolescentes frequentam os programas e cursos
profissionalizantes do governo estadual. Todavia, 43,48% informaram não executar
esta ação, pois as crianças e adolescentes não possuem a faixa etária para a
inserção nos programas profissionalizantes. Em 2014, esse cenário permanece,
sendo as alterações resultado do acréscimo das três instituições. Ver tabela abaixo:

Tabela 5 - Número de instituições que propiciam a profissionalização aos acolhidos

NOV/13 % MAR/14 %
SIM 13 56,52% 14 53,85%

NÃO 10 43,48% 12 46,15%

TOTAL 23 100,00% 26 100,00%


Fonte: Próprio autor

Ao serem questionadas sobre a autonomia dos adolescentes para saídas


com os amigos ou participação em atividades desenvolvidas na comunidade, em
2013, 52,17% das instituições expuseram que os adolescentes não possuem esta
autonomia devido a indícios de dependência química, periculosidade das
redondezas da instituição, entre outros. Desse modo, 47,83% informaram permitir e
fomentar essa ação. Conforme a tabela a seguir, podemos visualizar que houve a
redução do índice de instituições que permitiam a saída dos acolhidos com amigos e
a participação das atividades na comunidade, sendo que, durante as visitas, esses
dados foram questionados, porém as equipes disseram que os acolhidos saem
sempre acompanhados dos educadores, para que sejam evitadas questões como o
consumo de drogas e a evasão.
49

Tabela 6- Índice de instituições que estimulam a autonomia dos acolhidos e permitem a saída
com os amigos e a participação em atividades na comunidade.

NOV/13 % MAR/14 %

SIM 11 47,83% 5 19,23%

NÃO 12 52,17% 21 80,77%

TOTAL 23 100,00% 26 100,00%


Fonte: Próprio autor

Nas duas inspeções, percebemos as deficiências no desligamento


gradativo dos acolhidos, situação que reflete a falta de autonomia dos acolhidos, a
falta de qualificação profissional, a dependência emocional, dentre outros.
É fato que a medida de proteção acolhimento institucional não deve
implicar a privação de liberdade, porém foi observado que poucas instituições
trabalham a autonomia dos acolhidos e, por esse motivo, alguns, sem possibilidade
do retorno familiar, permanecem nas instituições de acolhimento. Em Fortaleza, não
houve a estruturação do serviço de Repúblicas, assim, os jovens adultos com
histórico de institucionalização, permanecem nos acolhimentos de crianças e
adolescentes. Isso é agravado quando eles apresentam algum tipo deficiência física,
mental e sensorial. Ressalta-se que, em 2013, oito acolhidos foram desligados por
terem completado a maioridade e, em 2014, quatorze.
Atualmente, o município de Fortaleza está passando por um período de
transição no que tange ao serviço de acolhimento institucional. Esse processo se
deu após a promulgação da Resolução nº 23/2013 do Conselho Nacional de
Assistência Social (CNAS), que prevê a adequação dos serviços de acolhimento às
normativas legais; a expansão e criação de novos serviços; e o reordenamento,
através da municipalização das unidades de acolhimento institucional nos
municípios, a fim de garantir o acolhimento no local mais próximo da residência dos
familiares da criança e do adolescente acolhido, para que assim o processo de
manutenção de vínculo seja realizado a contento.
De modo geral, visualizamos que o acolhimento institucional em Fortaleza
apresenta várias especificidades, e que ainda está em um processo de expansão e
melhoria dos serviços prestados. Assim, nesse processo, o Ministério Público é uma
instituição que interviu nessa realidade por meio das inspeções, a fim de garantir às
50

crianças e adolescentes acolhidos a prestação de um serviço de qualidade, para que


os danos causados pelo período de institucionalização sejam mínimos.
As ações realizadas pelo MP modificaram algumas questões que
interferem no serviço realizado pelas instituições, mas isso é só o princípio, pois
ainda existem muitos desafios a serem enfrentados.
Como desafios, podemos apontar o processo de reordenamento do
acolhimento para o âmbito municipal, uma vez que durante as inspeções
percebemos muitos problemas nas instituições patrimoniais, desde estruturais a falta
de recursos humanos. Verificou-se ainda, que no município de Fortaleza os serviços
de acolhimento são organizados e mantidos pela Secretaria de Cidadania e Direitos
Humanos, porém como um serviço socioassistencial, ele deveria estar sob a
supervisão da secretaria municipal de Assistência Social, denominada Secretaria
Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (SETRA).
Outro desafio diz respeito às equipes técnicas, pois em quase todas as
inspeções realizadas as equipes técnicas eram diferentes, fragilizando, assim, o
atendimento aos acolhidos e o acompanhamento familiar. Dessa forma, faz-se
necessário a intervenção dos órgãos de justiça, no sentido de garantir o mínimo de
continuidade na prestação dos serviços de acolhimento institucional, sendo
importante a proposição de concurso público para a estruturação dessas equipes no
âmbito da Assistência Social.
O último desafio refere-se aos educadores sociais, sendo esses os
profissionais que mais convivem com os acolhidos, entretanto, a troca contínua
desses profissionais, o ritmo de trabalho extenuante, a falta de valorização
profissional seja pessoal ou financeira, tendem a prejudicar a qualidade do serviço.
Esse fator é altamente prejudicial para o desenvolvimento afetivo das crianças e
adolescentes, pois alguns educadores se tornam referência afetiva para os
acolhidos. Observou-se também a falta de afinidade e de qualificação dos
educadores para a realização do trabalho, sendo o quesito para o preenchimento
das vagas para esse profissional, a indicação, e não a avaliação social e psicológica
que o cargo requer.
A inspeção se fez importante, pois foi por meio dela que se diagnosticou a
situação em que se encontram os acolhimentos institucionais em Fortaleza. A crítica
feita a essa prática, diz respeito à sua periodicidade e ao insuficiente número de
técnicos interprofissionais da área social e jurídica do MP, o que prejudica a
51

qualidade do trabalho executado para a agilização e a efetivação de


encaminhamentos necessários para a superação das dificuldades identificadas em
cada acolhimento. O que tem sido realizado são encaminhamentos de ordem
coletiva, ficando prejudicada a atenção e o encaminhamento de demandas
específicas identificadas por ocasião das inspeções.
Os desafios aqui elencados, talvez, demonstram as principais fragilidades
que o serviço de acolhimento institucional apresenta. O desmonte de políticas
públicas, a precariedade dos serviços, a precarização das relações de trabalho,
dentre outros, foram questões que este trabalho pôde identificar.
Dessa forma, entende-se necessária a atuação incisiva do Ministério
Público, a fim de, interferir na realidade dos acolhimentos institucionais. Entretanto,
mesmo diante desses fatos, ainda não houve nenhuma articulação desse órgão para
que fossem tomadas as providências cabíveis de responsabilização dos gestores
das entidades inspecionadas.
52

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de conclusão de curso teve como centralidade a temática o


acolhimento institucional de crianças e adolescentes e as inspeções realizadas pelo
Ministério Público nos referidos espaços.
De forma mais específica, tratou-se inicialmente da reconstrução histórica
dos conceitos de infância e juventude e das legislações existentes para
regulamentar as ações referentes a esse público.
Diante disso, foram resgatadas as práticas do Período Colonial, no qual
os jesuítas eram responsáveis pela educação das crianças indígenas e assim faziam
deles instrumentos de catequização dos índios adultos.
Analisou-se também, a prática do abandono de crianças nas rodas dos
expostos e a ampliação da ação caritativa filantrópica das Santas Casas de
Misericórdia.
Destacou-se que, somente durante o Império, diversas mudanças foram
realizadas em decorrência do aumento da pobreza e do número de crianças
abandonadas, surgindo o conceito do “menor abandonado” como um problema
social, sendo a solução para a limpeza das ruas, a institucionalização em maciça de
crianças e adolescentes.
Somente na década de 80, após diversas mobilizações populares e de
instituições de defesa da criança e do adolescente, foi formulada uma legislação que
considerou os anseios e as necessidades do público infanto-juvenil, sendo esta
legislação denominada Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O ECA instituiu direitos para o público infanto-juvenil e buscou
operacionalizar as medidas de proteção e socioeducação, além de estabelecer as
funções dos órgãos componentes do sistema de justiça, para garantir que direitos
sejam efetivados.
Vimos também que atualmente o acolhimento institucional está inserido
na proteção social especial de alta complexidade da assistência social, sendo
responsabilidade dessa política o repasse de recursos e a supervisão dos serviços.
Além da supervisão que deve ser realizada pelas equipes do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), os acolhimentos também são
inspecionados pelos órgãos componentes do sistema de justiça, ou seja, por meio
das audiências concentradas realizadas pela equipe do Tribunal de Justiça e pelas
53

inspeções anuais e periódicas feitas pelo Ministério Público.


O trabalho exposto apresentou os dados das inspeções realizadas pelo
MP. Portanto, concluiu-se que os serviços de acolhimento institucional em Fortaleza
ainda estão se adequando às normas do documento Orientações Técnicas, e que
foram visualizadas diversas problemáticas nesses espaços.
De modo geral, foi visto durante as inspeções: a superlotação de alguns
acolhimentos, a separação de grupos de irmãos, o acolhimento de crianças e
adolescentes provenientes de outros municípios, o alto índice de rotatividade dos
educadores sociais e das equipes técnicas, a inexistência ou o não preenchimento
do Plano Individual de Atendimento, e péssimas condições de seguranças, higiene e
salubridade.
Somado a todas essas questões, observou-se, também, que algumas
instituições não têm o mínimo de conhecimento sobre os parâmetros estabelecidos
por lei.
No que tange à atuação no Ministério Público, percebeu-se que a
instituição empreendeu ações a fim de intervir nas práticas dos acolhimentos
institucionais, porém nem todas as providências atingiram o efeito esperado.
Diante das ações realizadas, observaram-se avanços em relação à
padronização do PIA, sendo isso comprovado por meio da adesão total do
instrumental, pelas instituições que já haviam sido inspecionadas, embora elas ainda
não estivessem fazendo uso efetivo deste. A presença da vigilância sanitária
possibilitou pontuar as deficiências existentes nos quesitos higiene, segurança e
habitabilidade, de modo que foram realizadas as notificações e orientações
necessárias. O resultado dessa ação foi a adequação de algumas instituições às
normas sanitárias vigentes, embora algumas apresentem dificuldades em atender as
modificações solicitadas. Percebeu-se, ainda, que após o início da vigilância
contínua do Ministério Público, por meio das inspeções, algumas instituições que
não apresentavam a mínima condição para realizar o serviço de acolhimento
institucional foram fechadas, consequentemente foi efetuado o remanejamento dos
acolhidos para outras instituições, ou até mesmo, quando possível, foi realizado o
retorno às famílias de origem ou ampliada.
Entretanto, o encaminhamento referente ao Corpo de Bombeiros ficou
pendente, sendo as instituições de acolhimento orientadas, durante as visitas do MP,
54

a adquirirem extintores de incêndio enquanto a inspeção do Corpo de Bombeiros é


viabilizada.
Os principais desafios apontados acerca da melhoria dos serviços de
acolhimento foram: o reordenamento dos acolhimentos para o âmbito municipal; a
necessidade de estruturação das equipes técnicas por via de concurso público; e o
estabelecimento de um processo de contratação e de qualificação dos educadores
sociais.
Embora haja muito a ser feito, foi observado que, finalmente, os órgãos
de justiça despertaram para a necessidade de direcionar ações sistemáticas e
efetivas aos espaços de acolhimento institucional, visando à melhoria dos serviços
prestados e da análise individual de cada caso de criança e adolescente acolhido.
55

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58

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jus.br/jspui/bitstream/123456789/108/1/Resolu%C3%A7%C3%A3o%20n.17%20-
%202009.pdf>.
59

ANEXOS
60

ANEXO A - ROTEIRO PARA INSPEÇÃO ANUAL DOS SERVIÇOS DE


ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Data: ____ / ____ / ______


Modalidade: ( ___ ) Acolhimento Institucional ( ___ ) Casa Lar
1 - DADOS GERAIS
Nome da Entidade de Acolhimento/Casa
Lar:________________________________________________
1. Endereço:_____________________________________________________
2. Município: __________________________________
3. Estado: _____________________________________
4. Telefone/Fax:________________________________
5. Coordenador(a)/Gerente:________________________________________
6. Instituição Mantenedora:_________________________________________
7. Site/E-mail____________________________________________________
8. Registro CMDCA: N.º ________Validade: ___________________________
9. Registro CMAS: N.º ________ Validade: __________________________
10. Laudo do Corpo de Bombeiros: N.º _____________________
Validade:___________________________
11. Laudo da Vigilância Sanitária: N.º _____________________
Validade:___________________________
12. Tipo de orientação religiosa da Instituição: ( ___ ) Católica ( ___ ) Evangélica
( ___ ) Espírita ( ___ ) Ecumênica ( ___ ) Não possui ( ___ ) Outra:
__________________________________________
13. Visita realizada por:
___________________________________________________________________
14. Atendido(a) por:
___________________________________________________________________
2 - POPULAÇÃO ATENDIDA31
Capacidade Total:_____________________________________________________
2.1. Número de crianças ou adolescentes atendidos atualmente no serviço: ____
2.2. Sexo: ( ___ ) Feminino ( ___ ) Masculino ( ___ ) Ambos os sexos
2.3. Faixa Etária Atendida:
Faixa etária Masculino Feminino Total
0a5
6 a 11
12 a 15
16 a 18
Total

31
Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília-DF, Junho/2009:
- Número máximo de usuários por equipamento: Acolhimento Institucional – 20 /Casa Lar – 10 (pp. 69 e 76).
- O Acolhimento Institucional e a Casa-Lar devem acolher crianças e adolescentes de 0 a 18 anos de ambos os sexos (pp. 68 e 75).
- Devem ser evitadas especializações e atendimentos exclusivos - tais como adotar faixas etárias muito estreitas, direcionar o atendimento
apenas a determinado sexo, atender exclusivamente ou não atender crianças e adolescentes com deficiência ou que vivam com HIV/AIDS. A atenção
especializada, quando necessária, deverá ser assegurada por meio da articulação com a rede de serviços, a qual poderá contribuir, inclusive, para
capacitação específica dos cuidadores (pp. 69 e 75).
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n.º 12.010/2009
Art. 92, princípio V - Não desmembramento de grupos de irmãos.
61

2.4. Prevalência no atendimento a grupos de irmãos: ( ___ ) Sim ( ___ ) Não


2.5. Há crianças ou adolescentes atendidos com as seguintes especificidades?
Em caso afirmativo, informe a quantidade:
(___) Deficiência Mental Quantidade: _____
(___) Deficiência Sensorial (visão/audição) Quantidade: _____
(___) Deficiência Física Quantidade: _____
(___) Adolescentes com filhos Quantidade: _____
(___) Transtorno Mental Quantidade: _____
(___) Dependência Química Quantidade: _____
(___) Doenças Infectocontagiosas Quantidade: _____
(___) Situação de Rua Quantidade: _____
(___) Ameaçados de Morte Quantidade: _____
(___) Adolescentes Grávidas Quantidade: _____
2.6. Há crianças ou adolescentes acolhidos cujas famílias residam em outros
municípios?
(___) Sim (___) Não
2.7.1. Em caso positivo, quantos? (__)
2.7. Principais órgãos que realizam encaminhamentos à Instituição32:
(___) Conselho Tutelar
(___) Ministério Público
(___) Secretaria Municipal de Assistência Social
(___) Outros Órgãos Públicos. Especificar:________
(___) Cidadão
2.8. Quais os principais motivos para o acolhimento?33
(___) Abandono pelos pais ou responsáveis
(___) Pais ou responsáveis dependentes químicos/alcoolistas
(___) Ausência dos pais ou responsáveis por doença
(___) Pais ou responsáveis portadores de deficiência
(___) Ausência dos pais ou responsáveis por prisão
(___) Pais ou responsáveis com transtorno mental (problemas
psiquiátricos/psicológicos)
(___) Carência de recursos materiais da família/responsável
(___) Pais ou responsáveis sem condições para cuidar de adolescente gestante
(___) Órfão (morte dos pais ou responsáveis)
(___) Pais ou responsáveis sem condições para cuidar de criança/adolescente com
questões de saúde específica
(___) Violência doméstica
(___) Submetido à exploração sexual (prostituição, pornografia)
(___) Negligência
(___) Submetido à exploração no trabalho, tráfico e/ou mendicância

32
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 12.010/2009
Art. 93 - As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, acolher crianças e
adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da
Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.
Art. 101 §2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que
alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e
importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten cioso, no qual se
garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Art. 136 – parágrafo único - Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar,
comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas
para a orientação, o apoio e a promoção social da família. (NR)
33
Referência: SILVA, Enid Rocha Andrade da (Coord.). O direito à convivência familiar e comunitária: os abrigos para crianças e adolescentes no Brasil.
Brasília: IPEA/CONANDA. 2004.
62

(___) Abuso sexual praticado pelos pais ou responsáveis


(___) Vivência de rua
(___) Outros: _____________________________________________
2.9. No último ano, quantas crianças ou adolescentes retornaram para a sua
família de origem (incluindo nuclear e extensa)?
___________________________________________________________________
2.10. No último ano, quantas crianças ou adolescentes desta entidade de
acolhimento foram colocadas em família substituta (que não sejam família nuclear ou
extensa)? ______________________________________
2.10.1. Desse total, quantas crianças ou adolescentes estão em processo de
adoção? ________________
2.11. Qual é o período médio de acolhimento na Instituição?
(___) Até 3 meses
(___) De 4 a 6 meses
(___) De 7 meses a 1 ano
(___) de 1 a 2 anos
(___) Acima de 2 anos
2.12. Há crianças ou adolescentes acolhidos sem a respectiva Guia de
Acolhimento (Art. 101, §3º, lei 8.069/90)?
(___) Sim (___) Não
2.12.1. Em caso afirmativo, por quais os
motivos?____________________________________________________________
3 - INSTALAÇÕES FÍSICAS 34
3.1. Qual a situação do imóvel? (___) Próprio (___) Alugado (___) Cedido
3.2. Há identificação externa da Instituição? (___) Sim (___) Não
3.3. Está localizado em área residencial e de fácil acesso via transporte
público?(___) Sim (___) Não
3.4. Há disponibilidade de equipamentos da assistência social e saúde nas
proximidades da entidade?
(___) Sim (___) Não
3.4.1. Em caso positivo, assinale quais:
(___) CRAS
(___) CREAS
(___) Posto de saúde
(___) CAPSi
(___) CAPSad
(___) Hospitais
3.5. Existe adaptação física para acesso aos deficientes?
(___) Sim (___) Não
3.6. Existe ambiente acolhedor, com aspecto semelhante ao de uma residência?
(___) Sim (___) Não
3.7. Existem condições adequadas de higiene, segurança e habitabilidade?
(___) Sim (___) Não
4 – PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO35

34
Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:
A entidade de acolhimento institucional e a Casa Lar deverão estar localizados em áreas residenciais. “Deverão manter aspectos semelhantes ao
de uma residência, seguindo o padrão arquitetônico das demais residências da comunidade na qual estiver inserida. Não devem ser instaladas
placas indicativas da natureza institucional do equipamento, também devendo ser evitadas nomenclaturas que remetam a aspectos negativos,
estigmatizando e despotencializando os usuários” (págs. 69 e 77).
63

Organização de registros sobre a história de vida e desenvolvimento de cada criança


e adolescente
Há o desmembramento de grupos de crianças ou adolescentes com vínculos de
parentesco?
(___) Sim (___) Não
3.1.1. Em caso afirmativo, assinale os principais motivos:
(___) Separação decorrente de faixa etária definida pela instituição
(___) Decisão judicial
(___) Entendimento da equipe técnica
(___) Outros ______________________
3.1.2. Em caso negativo, há o fortalecimento de sua vinculação afetiva?
(___) Sim (___) Não
3.2. No ato do acolhimento, a autoridade judicial encaminha para a entidade a
Guia de Acolhimento e os documentos da criança ou adolescente?36
(___) Sim (___) Não (___) Apenas em alguns casos
3.3. O serviço de acolhimento possui prontuários individualizados e atualizados de
cada criança ou adolescente?
(___) Sim (___) Não
3.4. Constam nos prontuários individuais?
(___) Documentos pessoais (certidão de nascimento, RG, CPF, Carteira Profissional
etc).
(___) Documentos da área da saúde e educação (cartão de vacinação, histórico
médico, exames, receitas de medicação etc).
(___) Fotos
(___) Plano Individual de Atendimento (PIA)
(___) Relatórios de Acompanhamento
(___) Outros:
___________________________________________________________________
_________
3.5. O serviço de acolhimento remete à autoridade judiciária, no máximo a cada
06 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou
adolescente acolhido e de sua família para fins de reavaliação da situação familiar?
(___) Sim (___) Não
Plano Individual de Atendimento (PIA)
3.6. O PIA é elaborado imediatamente após o acolhimento da criança e do
adolescente?
(___) Sim (___) Não
A elaboração do PIA é realizada em parceria com o Conselho Tutelar e, sempre que
possível, com a equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude?
(___) Sim (___) Não

35
Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:
O Projeto Político-Pedagógico (PPP) “deve orientar a proposta de funcionamento do serviço como um todo, tanto no que se refere ao seu
funcionamento interno, quanto seu relacionamento com a rede local, as famílias e a comunidade. Sua elaboração é uma tarefa que deve ser
realizada coletivamente, de modo a envolver toda a equipe do serviço, as crianças, adolescentes e suas famílias. Após a elaboração, o Projeto
deve ser implantado, sendo avaliado e aprimorado a partir da prática do dia a dia” (pág. 50).
36
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 12.010/2009
Art. 101 § 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional,
governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre
outros:
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;
II - o endereço de residência dos pais ou o responsável, com pontos de referência;
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.
64

3.7. Há a contribuição para a elaboração do PIA pela equipe responsável pela


supervisão dos serviços de acolhimento (ligada ao órgão gestor da Assistência
Social)?
(___) Sim (___) Não
3.8. Constam no PIA:
(___) os resultados da avaliação interdisciplinar (motivos que levaram ao
abrigamento, configuração e dinâmica familiar, condições socioeconômicas, rede de
relacionamentos etc).
(___) os compromissos assumidos pelos pais ou responsável.
(___) a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o
adolescente acolhido e seus pais ou responsável, com vista à reintegração familiar.
(___) as providências a serem adotadas para sua colocação em família substituta,
sob direta supervisão da autoridade judiciária, caso a reintegração familiar seja
vedada por determinação judicial.

Atendimento individualizado e personalizado


3.9. As crianças e os adolescentes têm acesso a vestuário, produtos de higiene e
brinquedos individuais?
(___) Sim (___) Não
3.10. As crianças e os adolescentes podem escolher os seus objetos pessoais?
(___) Sim (___) Não
3.11. Existem locais individuais para a guarda de roupas e objetos pessoais?
(___) Sim (___) Não
3.12. Existem banheiros com portas/box/divisórias que garantam a privacidade?
(___) Sim (___) Não
3.13. Há uma rotina para as crianças e os adolescentes atendidos, considerando
as atividades diárias e os profissionais que as atendem?
(___) Sim (___) Não
3.14. A construção da rotina é elaborada junto com as crianças e os adolescentes,
salvaguardadas idades e condições pessoais?
(___) Sim (___) Não
3.15. Há discussão das regras e dos limites de convivência com as crianças e os
adolescentes?
(___) Sim (___) Não
3.16. Os adolescentes auxiliam nos cuidados com o espaço físico, na organização
de seus pertences e recebem aprendizagens do espaço doméstico?
(___) Sim (___) Não
3.17. São realizados grupos, rodas de conversa, assembleias para a discussão da
rotina do serviço?
(___) Sim (___) Não
3.18. São realizados grupos, rodas de conversa, assembleias para a discussão de
assuntos pertinentes a cada faixa etária?
(___) Sim (___) Não
3.19. São respeitados os interesses e os anseios das crianças e dos adolescentes
e ouvidas suas famílias sobre a inserção em atividades?
(___) Sim (___) Não
3.20. As crianças e os adolescentes são assistidos na realização das atividades
escolares (dentro e fora do serviço de acolhimento)?
(___) Sim (___) Não
65

3.21. As crianças e os adolescentes podem frequentar cultos religiosos de acordo


com as suas crenças?
(___) Sim (___) Não
3.22. A atenção especializada quando necessária é assegurada por meio da
articulação com a rede de serviços?
(___) Sim (___) Não
3.23. Quais os serviços utilizados?
(___) CRAS (___) CREAS (___) Posto de saúde
(___) CAPS (___) CAPSi (___) CAPSad

Definição do papel e valorização dos educadores/cuidadores


3.24. Para a seleção dos profissionais que atuarão no serviço de acolhimento
ocorre processo seletivo através de ampla divulgação, avaliação de documentação
mínima e avaliação psicológica e social?
(___) Sim (___) Não
3.25. Os profissionais do serviço passaram por alguma capacitação introdutória?
(___) Sim (___) Não
3.26. A capacitação é realizada periodicamente?
(___) Sim (___) Não
3.27. O serviço recebe supervisão técnica do CREAS?
(___) Sim (___) Não
3.28. O número mínimo de profissionais e a carga horária são condizentes com o
definido no documento Orientações Técnicas: serviços de acolhimento?37
(___) Sim (___) Não

CASA LAR38
3.29. No caso de Casa Lar, a coordenação e a equipe técnica especializada estão
sediadas na casa?
(___) Sim (___) Não
3.30. No caso de Casa Lar, o educador/cuidador residente tem períodos livres
diários e um esquema de folgas semanais que possibilite sua participação em
atividades outras que não as da casa, além de férias anuais fora do ambiente da
Casa Lar?
(___) Sim (___) Não
3.31. No caso de Casa Lar, qual a frequência de substituição dos cuidadores?
(___) Menos de 6 meses
(___) De 6 meses a 1 ano
(___) De 1 a 2 anos
(___) Não há substituição
3.32. No caso de Casa Lar, qual o critério de divisão das crianças e dos
adolescentes?
(___) Faixa etária

37
Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:
Equipe Profissional Mínima – Abrigo Institucional (p. 69):
01 coordenador. 02 profissionais (equipe técnica). 01 educador/cuidador para até 10 usuários, por turno. 01 auxiliar de educador/cuidador para até
10 usuários por turno. A quantidade de educador/cuidador e auxiliar de educador/cuidador deverá ser aumentada quando houver usuários que
demandem atenção específica (com deficiência, com necessidades específicas de saúde ou idade inferior a um ano).
Equipe Profissional Mínima – Casa Lar (p. 77):
01 coordenador. 02 profissionais (equipe técnica) – ambos para o atendimento a até 20 crianças e adolescentes em até 03 casas-lares. 01
educador/cuidador residente para até 10 usuários. 01 auxiliar de educador/cuidador residente para até 10 usuários, por turno.
38
O preenchimento dos itens 4.30, 4.31, 4.32 e 4.33 refere-se exclusivamente à inspeção de Casa Lar.
66

(___) Grupo familiar


(___) Outros ________________________________________________________
3.33. São realizados estudos de caso com a participação da equipe técnica e dos
educadores/cuidadores para a discussão do trabalho realizado e das dificuldades
vivenciadas?
(___) Sim (___) Não
3.34. Há comunicação entre as equipes na troca do turno?
(___) Sim (___) Não
3.35. O serviço de acolhimento mantém uma equipe noturna?
(___) Sim (___) Não
3.36. O serviço de acolhimento possui estagiários?
(___) Sim (___) Não
3.36.1. Em caso afirmativo, quais as áreas de atuação?
(___) Assistência Social
(___) Psicologia
(___) Pedagogia
(___) Outros _________________________
Relação do serviço com a família de origem (nuclear ou extensa)
3.37. A implementação de uma sistemática de acompanhamento das famílias é
iniciada imediatamente após o acolhimento?
(___) Sim (___) Não
3.38. As famílias são informadas do seu direito a questionar o afastamento e
requerer, junto à Justiça, por intermédio de advogado nomeado ou Defensor Público,
a reintegração da criança ou adolescente?
(___) Sim (___) Não
3.39. Quais técnicas são utilizadas no acompanhamento às famílias?
(___) Estudo de caso
(___) Entrevista individual e familiar
(___) Grupo com famílias
(___) Grupo multifamiliar
(___) Visita domiciliar
(___) Orientação individual, grupal e familiar
(___) Encaminhamento e acompanhamento de integrantes da família à rede local
(___) Busca sistemática pela família de origem (nuclear ou extensa) das
crianças/adolescentes atendidos.
(___) Utilização de serviços de identificação/localização da família de origem
(nuclear ou extensa).
(___) Apoio financeiro.
(___) Apoio material (cesta básica, medicamentos etc.).
(___) Encaminhamento para serviços, programas, projetos e benefícios da política
de assistência social.
(___) Encaminhamento para serviços de saúde.
(___) Encaminhamento para programas de qualificação profissional, emprego,
geração de renda.
(___) Encaminhamento para programas habitacionais.
(___) Encaminhamento para programas da política de educação.
(___) Outros. ____________________________________________
3.40. As famílias são acompanhadas pelo CRAS/CREAS?
(___) Sim (___) Não
67

3.41. São firmados acordos entre o serviço de acolhimento, a equipe de supervisão


e apoio aos serviços de acolhimento - ligada ao órgão gestor da Assistência Social –
a equipe técnica do Poder Judiciário e os demais serviços da rede das diversas
políticas públicas, incluindo os não-governamentais, a fim de promover a articulação
das ações de acompanhamento à família, além de reuniões periódicas para
discussão e acompanhamento dos casos?
(___) Sim (___) Não
3.42. Há flexibilidade nos horários de visitas?
(___) Sim (___) Não
3.43. Há incentivo:
(___) Aos contatos telefônicos com as famílias.
(___) À troca de correspondências.
(___) À participação dos familiares no acompanhamento da saúde e vida escolar das
crianças ou adolescentes.
(___) Saída das crianças e adolescentes para finais de semana com os familiares.
(___) Visita da criança e do adolescente à família.
(___) Participação da família na organização e comemoração de aniversários e
outras datas comemorativas, sempre que possível, realizadas no domicílio da
família.
(___) Realização de atividades recreativas e culturais com as famílias, crianças,
adolescentes e profissionais do serviço.
(___) Outros _______________________________
3.44. Há crianças e adolescentes sem receber visitas dos pais e/ou responsável
por período superior a 2 meses (art. 5º, Resolução n.º 71/11)?
(___) Sim (___) Não
3.44.1. Em caso positivo, quantas? __________

Preservação e fortalecimento da convivência comunitária


3.45. O acolhimento ocorre no local mais próximo à residência dos pais ou do
responsável?
(___) Sim (___) Não
3.46. As crianças e os adolescentes frequentam a mesma escola em que
estudavam antes do acolhimento?
(___) Sim (___) Não
3.47. As crianças e adolescentes continuam frequentando as atividades que
realizavam antes do acolhimento (atividades esportivas, culturais, religiosas entre
outras)?
(___) Sim (___) Não
3.48. Todas as crianças ou adolescentes frequentam creches, escolas, serviços de
convivência e fortalecimento de vínculos, pós-escola?
(___) Sim (___) Não
3.49. Os adolescentes frequentam atividades de iniciação ao mundo do trabalho e
de profissionalização?
(___) Sim (___) Não
3.50. A instituição assegura a frequência em atividades culturais, esportivas e de
lazer, preferencialmente nos serviços existentes na comunidade, efetivando a
participação na vida da comunidade local?
(___) Sim (___) Não
3.51. Há a oferta de atendimentos médicos e odontológicos dentro do serviço de
acolhimento?
68

(___) Sim (___) Não


3.52. O serviço possui voluntários?
(___) Sim (___) Não
3.53. Mantém Programa de Apadrinhamento Afetivo?
(___) Sim (___) Não

Fortalecimento da autonomia da criança, do adolescente e do jovem


3.54. As crianças e os adolescentes têm a sua opinião considerada nas decisões
tomadas?
(___) Sim (___) Não
3.55. As crianças e os adolescentes têm acesso a informações sobre sua história
de vida, situação familiar e motivos de acolhimento?
(___) Sim (___) Não
3.56. Os adolescentes possuem autonomia para saídas com os amigos ou
participação em atividades desenvolvidas na comunidade?39
(___) Sim (___) Não

Desligamento Gradativo
3.57. São realizadas atividades com as crianças, os adolescentes e com os
profissionais da entidade de acolhimento como forma de preparação do
desligamento?
(___) Sim (___) Não
3.58. É fortalecida a autonomia de adolescentes que não possuem perspectivas de
reintegração familiar?
(___) Sim (___) Não
3.58.1. Em caso afirmativo, especifique as ações:
(___) Avaliação das condições sociais e psicológicas para o desligamento.
(___) Encaminhamento para repúblicas jovens.
(___) Encaminhamento para programas oficiais ou comunitários de auxílio
(ex: programas de transferência de renda, bolsa aluguel etc).
(___) Promoção de vínculos com parentes/amigos para que possam apoiar o
adolescente.
(___) Outros. __________________________________________________
3.59. No último ano, quantos adolescentes foram desligados por terem completado
a maioridade?__________
3.60. Há programa de apoio e acompanhamento dos egressos da instituição por
pelo menos 6 meses?
(___) Sim (___) Não
3.60.1. Em caso afirmativo, especifique as ações:
(___) Acompanhamento psicossocial
(___) Visitas domiciliares
(___) Apoio financeiro
(___) Apoio material (cesta básica, medicamentos, etc)
(___) Auxílio na busca de trabalho/renda
(___) Reuniões, grupos de discussão/apoio

39
Segundo o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Material elaborado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, Junho/2009:
“[...] Não devem ser impostas restrições injustificáveis à liberdade e conduta, em comparação com crianças e adolescentes da mesma idade e
comunidade. Tais restrições devem ser condizentes com o grau de desenvolvimento e capacidade da criança e do adolescente e restritas apenas
àquelas necessárias para viabilizar sua segurança e proteção” (p. 60).
69

(___) Outros. __________________________________________________


5 - FONTES DE FINANCIAMENTO
5.1. A Instituição recebe recursos públicos? (___) Sim (___) Não
5.1.1. Em caso afirmativo, de qual esfera?
(___) Municipal (___) Estadual (___) Federal
5.2. A Instituição recebe recursos privados? (___) Sim (___) Não
5.3. A Instituição conta com recursos próprios? (___) Sim (___) Não
6 – OBSERVAÇÕES DO PROMOTOR DE JUSTIÇA

7 - PARECER TÉCNICO

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