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Salve Essa Flor - Cassiano

De um jardim sem cor Ninguém quer morrer


Nasce uma flor que vive só Salve essa flor que vai morrer
Vento amigo tem Ninguém quer morrer
Por essa flor amor maior Salve essa flor que vai morrer

Enquanto isso o Sol Mas existe um mal


Com seu calor lhe faz melhor Que ela nem perceberá
Ervas tão daninhas por perto
Mas existe um mal A lhe envenenar
Que ela nem perceberá
Ervas tão daninhas por perto Se não for a ajuda de alguém
A lhe envenenar Ela vai, claro que vai
Despetalar
Se não for a ajuda de alguém Morrer, morrer
Ela vai, claro que vai
Despetalar Ninguém quer morrer
Morrer, morrer Salve essa flor que vai morrer (morrer)
Ninguém quer morrer
Salve essa flor que vai morrer (morrer)
Ninguém quer morrer
Salve essa flor que vai morrer (morrer)

→ Genival Cassiano dos Santos foi um artista nascido em Campina Grande (PB) e responsável
por transformar a música brasileira e moldar o que conhecemos como soul brasileiro.
→ Cassiano era um artista ímpar e, juntamente com Tim Maia, construiu um estilo soul
totalmente brasileiro, que se relaciona diretamente com gêneros musicais já presentes no país,
tais como a bossa nova e o samba-canção.
→ Fez parte do grupo “Os Diagonais'', no entanto, na década de 70, Cassiano dedicou-se a
instaurar uma revolução musical com a black music. Para isso, contou com o auxílio de Tim Maia
e Hyldon. Faz-se importante destacar que nessa mesma época o Brasil passava por inúmeras
mudanças no âmbito cultural, tais como o tropicalismo e maior consolidação da Jovem Guarda.
→ A música foi lançada em 1976 no álbum “Cuban Soul: 18 Kilates”.
→ Estilo Soul.
→ Voz marcante e de timbre único.
→ Doce coral ao fundo mesclado com o naipe dos violinos.
→ A canção é composta por 8 estrofes que não obedecem a uma equivalência de versos, como é
possível notar logo no início da canção ao comparar as estrofes 1 e 2.
→ Salve essa flor apresenta certa narratividade pois apresenta de forma quase fabular a história
de uma flor, desde o seu nascimento até a sua possível morte.
→ Interessante destacar a dualidade que se instaura ao fim da música onde são apresentadas
para o ouvinte duas possibilidades: a de morte e a de salvamento. Ao chegar no final da música
não se sabe se a flor de fato morreu ou não. Isso abre espaço para a construção de sentido de
quem a ouve, uma vez que cabe a cada ouvinte decidir ajudar a flor ou não, cabe a cada um
salvar ou não a flor.
→ A música se apresenta como esse pedido de socorro, perceptível na forma imperativa
presente já no título da canção e evidenciada pela repetição do verso “Salve essa flor que vai
morrer” no final da música. Importante notar que a música não acaba de maneira abrupta, mas
sim vai diminuindo e tornando-se mais suave e baixa até que se encerra. Além de ser um
recurso muito presente nesse estilo musical, também pode ser interpretada como junção de
forma e conteúdo em prol de passar uma mensagem: o desvanecer da música é o próprio
desvanecer da flor que vai pouco a pouco desaparecendo.
→ Na primeira estrofe é dito que a flor é solitária no jardim, no entanto, é revelada a presença
do vento como uma figura que lhe tem apreço. Pode-se contrapor as características dessas duas
figuras: enquanto a flor tem um caráter estático, fixo e, como dito anteriormente, solitário, o
vento tem um caráter móvel, traz a ideia de liberdade. Interessante observar que mesmo com
características opostas o vento tem “por essa flor amor maior” (verso 4).
→ Também é possível pensar a flor e o vento relacionando com a questão da feminilidade e da
masculinidade: a flor seria essa representação do feminino, da sutileza, delicadeza, perfume. Já o
vento estaria relacionado à masculinidade, até mesmo pela sua relação com o processo de
polinização (mesmo que isso não tenha sido abordado pela música).
→ A partir da análise da relação entre o vento e a flor, pode-se inferir que é esse elemento que
leva o pedido de socorro da canção, que vê o envenenamento da flor e tenta ajudá-la.
→ Na segunda estrofe tem-se o destaque da figura do sol que simboliza a luz, a vitalidade, a
energia, a força e que também se relaciona com a flor por ser um elemento vital para seus
processos de sustentação e desenvolvimento, mas também por ser, como afirma a canção, um
elemento que a faz melhor com seu calor (verso 6). Ao pensarmos que a flor absorve o calor do
sol, pode-se concluir que ela apreende em si todas as suas outras características, o que a torna
ainda mais bela e forte.
→ Nota-se que a flor se relaciona muito bem com elementos “externos” ao jardim, como o sol e o
vento, mas não aparenta estabelecer nenhum tipo de relação com os elementos de sua própria
espécie como, por exemplo, as ervas daninhas, que são apenas citadas como elementos que
querem prejudicar a flor mas não se conectam com ela em outro aspecto. O fato da flor
concentrar em si o calor do sol, a cor do jardim, a força da terra e a leveza do vento pode gerar
inveja nas ervas daninhas e, consequentemente, motivação para o envenenamento da flor.
→ Apesar da flor ser tida como única, não é apresentada nenhuma característica física individual
que permita conhecer mais sobre ela (cor, tipo, tamanho, etc) o que lhe confere um caráter
individual e geral ao mesmo tempo. Ela é singular, mas também é abstrata, é símbolo de beleza e
pureza.
→ Por fim, a flor pode ser o próprio eu lírico e a representação de seu ser sonhador, florescente
e poético que vê no mundo material um contexto tóxico e desloca sua alma para relações com
elementos imateriais e intangíveis (é possível sentir o sol e o vento mas não é possível tocar).

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