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Introdução

à Engenharia
Dr. José Roberto Castilho Piqueira
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração, Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente
Distância; PIQUEIRA, José Roberto Castilho. da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

Introdução à Engenharia. José Roberto Castilho Piqueira.
Maringá-PR.: Unicesumar, 2018. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
256 p.
“Graduação - EaD”.
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Prestes, Tiago Stachon , Diretoria de Design
1. Engenharia. 2. Introdução . 3. EaD. I. Título. Educacional Débora Leite, Diretoria de Graduação
e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de
ISBN 978-85-459-0986-6
CDD - 22 ed. 620
Permanência Leonardo Spaine, Head de Produção
CIP - NBR 12899 - AACR/2 de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho,
Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros,
Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey,
Gerência de Produção de Conteúdos Diogo
Impresso por:
Ribeiro Garcia, Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi, Fotos Shutterstock.

Coordenador de Conteúdo Fábio Augusto Gentilin


e Crislaine Rodrigues Galan
Designer Educacional Yasminn Tavares Zagonel
Revisão Textual Talita Dias Tomé e Meyre Barbosa
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Editoração Isabela Belido, José Jhonny Coelho,
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação Melina Ramos e Thayla Guimarães Cripaldi
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná Ilustração Bruno Pardinho, Marta Kakitani e
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Marcelo Goto
Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Thiago
Surmani e Leandro Naldei
PALAVRA DO REITOR

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-


mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois
cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos
mais de 100 mil estudantes espalhados em todo
o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
WILSON DE MATOS SILVA MEC como uma instituição de excelência, com
REITOR IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos
educadores soluções inteligentes para as ne-
cessidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter pelo menos
três virtudes: inovação, coragem e compromisso
com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as
quais visam reunir o melhor do ensino presencial
e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
BOAS-VINDAS

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co-


munidade do Conhecimento.
Essa é a característica principal pela qual a
Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu-
nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é
importante destacar aqui que não estamos falando
mais daquele conhecimento estático, repetitivo,
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ-
mico, renovável em minutos, atemporal, global,
democratizado, transformado pelas tecnologias
digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comu-
nicação têm nos aproximado cada vez mais de
pessoas, lugares, informações, da educação por
meio da conectividade via internet, do acesso
wireless em diferentes lugares e da mobilidade
WILLIAM DE MATOS SILVA dos celulares.
PRÓ-REITOR EXECUTIVO DE EAD As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace-
leraram a informação e a produção do conheci-
mento, que não reconhece mais fuso horário e
atravessa oceanos em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer
transformou-se hoje em um dos principais fatores de
agregação de valor, de superação das desigualdades,
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
Logo, como agente social, convido você a saber
cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e
usar a tecnologia que temos e que está disponível.
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
cultura e transformando a todos nós. Então, prio-
rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação
a Distância (EAD), significa possibilitar o contato
Janes Fidélis Tomelin
PRÓ-REITOR DE ENSINO EAD
com ambientes cativantes, ricos em informações
e interatividade. É um processo desafiador, que
ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida
sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que
a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você
está iniciando um processo de transformação,
pois quando investimos em nossa formação, seja
ela pessoal ou profissional, nos transformamos e,
consequentemente, transformamos também a so-
ciedade na qual estamos inseridos. De que forma
o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe-
lecendo mudanças capazes de alcançar um nível
de desenvolvimento compatível com os desafios
que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Kátia Coelho
DIRETORIA DE GRADUAÇÃO
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- E PÓS-GRADUAÇÃO
nhará durante todo este processo, pois conforme
Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na
transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem
dialógica e encontram-se integrados à proposta
pedagógica, contribuindo no processo educa-
cional, complementando sua formação profis-
sional, desenvolvendo competências e habilida-
des, e aplicando conceitos teóricos em situação
de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como
principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita Leonardo Spaine
DIRETORIA DE PERMANÊNCIA
o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação
pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de
crescimento e construção do conhecimento deve
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu-
deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas
ao vivo e participe das discussões. Além disso,
lembre-se que existe uma equipe de professores e
tutores que se encontra disponível para sanar suas Débora Leite
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- DIRETORIA DE DESIGN EDUCACIONAL
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili-
dade e segurança sua trajetória acadêmica.
APRESENTAÇÃO

Caro(a) aluno(a) do curso de Engenharia, esta primeira disciplina pretende


apresentar uma ideia geral das atividades profissionais que você poderá
exercer no futuro, com ênfase no fato de que a Engenharia é uma atividade
de grande relevância para o progresso e bem-estar da humanidade.
A Engenharia nos rodeia nas atividades caseiras que envolvem fogão, má-
quina de lavar, geladeira, televisão, internet, chuveiro, aquecedor, ferro
elétrico, projetados e produzidos em escala industrial, para uso comum.
Isso sem falar da nossa própria habitação, projetada e construída para nos
proporcionar abrigo e conforto.
Da casa para o trabalho: ruas, avenidas, pontes e viadutos permitem
que o transporte, individual ou coletivo, conduza-nos com segurança
e confiabilidade. Do trabalho para o lazer: estádios, teatros, academias,
parques e resorts transformam nosso cansaço diário em momentos de
tranquilidade e cuidado com nossa vida. Há, ainda, os aviões e navios,
que facilitam o comércio entre as nações, transportam turistas e exe-
cutivos entre continentes. Poderíamos continuar essa enumeração por
muitos parágrafos. Entretanto preferimos que você comece a trilhar seu
caminho na nova profissão.
Na Unidade I, visitaremos a Pré-História e a Antiguidade, iniciando com as
armas, roupas e habitação, essenciais para a escalada evolutiva de nossa es-
pécie e chegando às maravilhas das construções gregas, egípcias e romanas.
A Unidade II mostrará a evolução da Engenharia, com o construtor
ainda visto como operário braçal até seu reconhecimento como profis-
são e a criação das primeiras escolas, no século XVII. Era o Positivismo,
combinando ciência e tecnologia, trazendo as máquinas como alívio
ao trabalho físico.
O início do século XX, descrito na Unidade III, trouxe verdadeiras maravi-
lhas que vão desde sofisticados eletrodomésticos até a conquista do espaço,
com o homem pisando na Lua, em 1969. Nesse ponto, o desenvolvimento
foi de tal monta, que as divisões em modalidades de estudo surgiram: Ci-
vil (Unidade IV), Elétrica (Unidade V), Química (Unidade VI), Produção
(Unidade VII), Mecânica (Unidade VIII), descritas em conjunto com suas
subdivisões: Ambiental, Telecomunicações, Eletrônica, Energia, Materiais,
Metalurgia, Petróleo, Naval, Aeronáutica, Mecatrônica e tantas outras de-
nominações especializadas.
O seu século, o XXI, chegou e trouxe a reunião de todas essas ramifica-
ções sob um novo paradigma: a Engenharia da Complexidade, descrita na
Unidade IX. É para essa viagem, da Pré-História ao século XXI, que você
está convidado.
“Plunct, Plact, Zum; pode partir sem problema algum” (Raul Seixas).
CURRÍCULO DO PROFESSOR

Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Escola


de Engenharia de São Carlos da Universidade de São
Paulo (1974), mestrado em Engenharia Elétrica pela
Escola de Engenharia de São Carlos da Universida-
de de São Paulo (1983), doutorado em Engenharia
Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (1987) e livre-docência em Controle e
Automação pela Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo (1997). Atualmente é professor titular
(Concurso Público em 1999) e Diretor da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, tem 110
artigos indexados na principal coleção da Web of
Science (3 Editoriais, 89 em periódicos, 18 em con-
gressos; h=12), orientou 23 mestrados, 24 douto-
rados e supervisionou 9 pós-doutorados. Participa
do corpo editorial dos periódicos: Journal of Con-
Dr. José Roberto Castilho Piqueira trol, Automation and Electrical Systems (Springer)
Journal of Taibah University for Science (Elsevier).
É presidente do Conselho Superior do Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e mem-
bro efetivo da Academia Nacional de Engenharia.
Tem experiência nas áreas de Engenharia Elétrica e
Biomédica, com ênfase em Teoria Geral dos Circui-
tos Elétricos, atuando principalmente nos seguintes
temas: dinâmica, bifurcação, sincronismo, caos e
modelos matemáticos.
http://lattes.cnpq.br/6644721827442957
Conceito Básico
de Engenharia

13

A Engenharia como
Atividade Artesanal
e o Surgimento das
Primeiras Escolas

41

Engenharia:
do Positivismo
à Integração

67
Engenharia Civil Indústria e Produção

101 175

Engenharia Elétrica Engenharia Mecânica

123 199

Engenharia Engenharia da
Química Complexidade

149 227
25 Aqueduto Pont du Gard na Gália Romana
(atual sul da França)

46 Exemplo do uso de roldanas


83 Estação de tratamento e reciclagem de água
106 Exemplo de planta baixa
129 Gerador de Van Der Graaf
162 Usina termoelétrica: princípio de funcionamento
185 O interior de um chip
214 Processo de Fresagem
241 Um “cluster” computacional

Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dr. José Roberto Castilho Piqueira

Conceito Básico
de Engenharia

PLANO DE ESTUDOS

Os sistemas de
A Engenharia abastecimento de água
na Grécia do Império Romano

A Engenharia na A Engenharia no Consumo de Energia e


Evolução Humana Império Romano sua relação com a vida no
Planeta

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Compreender que a Engenharia rodeia a atividade huma- dade iniciando a capacidade de planejamento da espécie
na desde os primórdios da escala evolutiva. humana.
• Compreender a Engenharia como a habilidade de utilizar • Pesquisar e entender as obras de abastecimento de água
os recursos disponíveis na natureza para benefício da do Império Romano, presentes e úteis até hoje.
vida humana. • Entender as modalidades de energia envolvidas nas ati-
• Entender como as civilizações grega e egípcia realizaram vidades descritas.
grandes obras de engenharia construtiva, utilizando ele- • Finalizar entendendo que a Engenharia trabalha os diver-
mentos intuitivos da Matemática. sos tipos de transformação e conservação de energia em
• Verificar como o Império Romano aprimorou essa habili- benefício da vida no planeta.
Engenharia na
Evolução Humana

O uso da energia, de ferramentas e de vestimen-


tas pelo homem primitivo foi a primeira manifes-
tação da Engenharia na vida da nossa espécie.
Aproveitar os recursos que a natureza oferece
para melhorar a vida no planeta é a principal
finalidade da Engenharia.

Você acaba de ingressar no curso de Engenharia,


uma profissão nobre, responsável pelo desenvol-
vimento da tecnologia desde as mais simples uti-
lidades, como lâmpadas, móveis e embalagens até
as mais sofisticadas, tais como máquinas elétricas,
pontes, automóveis e computadores.
Em toda nossa atividade diária, a Engenharia
se faz presente: nos eletrodomésticos, nos trans-
portes, nas ferramentas de trabalho e no mundo
do lazer. Além disso, os hospitais e clínicas, cada
vez mais, aprimoram suas técnicas com sofisti-
cados equipamentos mecânicos e eletrônicos. É
nesse mundo maravilhoso que você está ingres-
sando e, para começar, faremos uma breve retrospectiva histórica,
mostrando como a criatividade e a habilidade humana permitiram
que nossa espécie evoluísse da pré-história às viagens espaciais.
A Engenharia acompanha o homem desde suas origens. A obten-
ção do fogo, de vestimentas, das habitações e o tratamento de metais
para a construção de armas e ferramentas permitiram a sobrevivên-
cia da espécie (PIQUEIRA, 2014). Na Figura 1, podemos observar
uma importante atividade de Engenharia sendo realizada por um
indivíduo de uma espécie pré-humana: transferindo à pedra energia
potencial gravitacional e energia proveniente de seus processos bioló-
gicos internos, ele a usa para quebrar um osso e facilitar sua utilização.

Figura 1 – Indivíduo de espécie pré-humana quebra osso de animal com uma pedra
Fonte: Fernandes (2012, on-line)1.

Esse é sempre o sinal de que a Engenharia manifesta-se: ela cria


meios para que a energia seja transformada, conservada ou consu-
mida, a bem do conforto da espécie. Não deixa, portanto, de ser um
fato interessante que a Engenharia se manifeste, mesmo em escalas
evolutivas primitivas. É dessa intuição, ligada à conservação da vida,
que nasce a melhor Engenharia.
Desde o início da civilização humana, o bom uso da energia se
faz presente, inicialmente, com a obtenção do fogo, originária da
transformação de energia mecânica em energia térmica e com o uso
de cavernas como primeiras habitações, permitindo conservação de
energia e viabilizando conforto térmico mínimo para sobrevivência,
conforme ilustra a Figura 2.

UNIDADE I 15
Figura 2 – Domínio do fogo e grutas como habitação
Fonte: História... (2013, on-line)2.

Os desenvolvimentos posteriores, alavancas e rodas também se


relacionam ao bom uso da energia e de suas transformações. Nas-
ce o que chamamos tecnologia, isto é, o domínio de técnicas que
transformam recursos naturais em processos de preservação e de-
senvolvimento da vida no planeta (BAZZO; PEREIRA, 2000).
Assim foram dados os principais passos na evolução e progresso
da espécie humana - usando os recursos energéticos disponíveis no
planeta para garantir a vida.

O blog PET-Civil da UFJF é um trabalho realizado por alunos


dessa instituição, tratando, de maneira interessante, as questões
históricas da Engenharia. Assim, para saber mais sobre a relação
entre a Engenharia e a evolução humana, consulte o site: <https://
blogdopetcivil.com/2015/04/23/a-engenharia-na-historia-a-pre-
historia/>.

16 Conceito básico de engenharia


A Engenharia na Grécia

Os Egípcios iniciaram a indústria da constru-


ção com grandes obras realizadas de maneira
engenhosa (Engenharia), usando conhecimen-
tos rudimentares e pré-científicos. Além disso,
utilizaram, de maneira inteligente, a energia
dos ventos (eólica) para a navegação. Os gre-
gos aprimoraram as construções, introduzindo
importantes valores estéticos combinados com
a habilidade construtiva. A civilização egípcia
antiga teve grande importância para a cons-
trução civil, sendo responsável pela invenção
do cimento, combinando sobras de polimentos
com gesso e água.

Além disso, estudaram profundamente os solos


e as fundações e construíram sistemas de ca-
lhas para escoamento da água da chuva. Esses
avanços permitiram a materialização de grandes
obras como pirâmides e templos (Figura 3), com
impressionantes exemplos de uso de pedras e
vidros.

UNIDADE I 17
Figura 3 – Pirâmides e Templo de Faraós
Fonte: Brasil ([2017], on-line)3.

Os egípcios são os primeiros a usar grande quan-


tidade de pedras em obras e, há mais de 5 mil
anos, já utilizavam tijolos no formato atual. Além
disso, tinham bons conhecimentos de Geologia
e dos fatores que influenciavam a dureza das
rochas. Além da construção civil, a construção
naval era dominada pelos egípcios com o pri-
meiro barco à vela, datado de 1000a.C. Outra
área da Engenharia dominada pelos egípcios é
a hidráulica, conhecendo a arte de construção
de diques e canais e transformando o Nilo em
importante meio de transporte.
A Grécia Antiga, considerada o berço da
civilização ocidental, notabilizou-se pela valo-
rização do ser humano e pelo culto ao pensa-
mento e ao belo, expresso pelo pensamento de
Pitágoras: “O homem é a medida de todas as
coisas”. A arquitetura, tratada como a arte de
realizar grandes esculturas, passa a seguir nor-
mas geométricas rigorosas, respeitando relações
matemáticas precisas. Esculturas de deidades
constituíam as colunas das construções (Figura
4) e, supostamente, contavam as histórias dos
templos. Os principais monumentos da arqui-
tetura grega foram os templos (Figura 4) e os
teatros (Figura 5). Figura 4 – Mulheres esculpidas

18 Conceito básico de engenharia


Figura 5 – Teatro de Epidauro servindo de colunas

As construções gregas eram feitas de madeira, barro ou tijolos de


barro com telhados de palha. As colunas eram usadas para suporte,
e o mármore passou a ser utilizado, a partir do século VII a.C., em
templos e teatros. A maioria dos templos gregos foi construída com
vigas de madeira envoltas por colunas de pedra, que serviam como
forma de sustentação do telhado, e possuíam, também, três tipos
de estética bem definidas: a dórica, a jônica e a coríntia (Figura 6).

Figura 6 – Estética das colunas de sus-


tentação (Jônico, Corinthio, Dórico)

UNIDADE I 19
A ordem dórica tem origem no sentir do povo
grego, representando o pensamento. A ordem jô-
nica representa a graça e o feminino. Já a ordem
coríntia refere-se ao luxo e à ostentação.

““
Os gregos antigos não usavam argamassa em
suas construções, mas braçadeiras e buchas
para apertar as peças. Os blocos de mármore
e calcário eram cuidadosamente extraídos
e medidos e então cortados precisamente
para garantir uma construção perfeita. As
ferramentas usadas pelos pedreiros eram
manuais, tais como enxada, broca, cinzel e
marreta. Os mestres escultores enchiam as
colunas de pedra e os plintos de entalhes
altamente decorados. Um guindaste era usa-
do para levantar e colocar no lugar as peças
(SABINO, 2015, on-line).

Neste ponto do nosso estudo, podemos fazer uma


ligeira reflexão sobre as conquistas da Engenha-
ria, anteriormente descritas, nas civilizações do
Egito e da Grécia. Elas têm em comum a criação
de grandes monumentos e construções suntuo-
sas voltadas para a ostentação do poder de faraós
e imperadores. O lado genial da capacidade de
conceber obras robustas é pouco reportado e seus
autores, arquitetos e engenheiros da época, prati-
camente não são referenciados.
Entretanto, é fato digno de nota que conce-
beram e construíram obras e monumentos den-
tro dos melhores padrões da Engenharia, sem o
ferramental teórico que a Ciência proporcionou
séculos depois, com o desenvolvimento da Física.
Um ponto importante a se destacar é que,
mais uma vez, é a energia dos operários, de seus
inventos utilitários e da natureza que, bem apro-
veitada, dá vida às obras. Em relação ao bom uso
da Energia, é nesse período que as energias dos
cursos d’água e do vento passam a ser utilizadas
no transporte fluvial e marítimo.

20 Conceito básico de engenharia


A Engenharia no
Império Romano

A Engenharia da Roma antiga iniciou um período


importante da história da civilização aprimoran-
do a indústria da construção com a invenção
do concreto. Concebeu as estruturas em arco,
pavimentou áreas urbanas, construiu pontes e
túneis tecnicamente perfeitos.

O Império Romano, herdeiro dos grandes pro-


gressos intelectuais e tecnológicos dos egípcios e
gregos, produziu importantes desenvolvimentos
na Engenharia. Além do aprimoramento dos ma-
teriais utilizados e das técnicas construtivas, há
um amplo avanço na infraestrutura de transpor-
tes, com a construção de estradas, túneis e pontes
com técnicas até hoje estudadas.

UNIDADE I 21
Figura 7 – Coliseu
Fonte: Pet Engenharia Civil UFJF (2016, on-line)4.

Deve-se ressaltar, ainda, os aquedutos que garan-


tiam abastecimento de água a boa parte de popu-
lação e são os precursores das modernas redes de
distribuição atuais. Do ponto de vista da constru-
ção, a obra que melhor representa o trabalho da
Engenharia Romana é o Coliseu (Figura 7), que
se apresenta até os dias de hoje como modelo para
construção de estádios. Com capacidade para 50
mil pessoas, foi cuidadosamente projetado com
ventilação e iluminação naturais planejadas de
maneira minuciosa, inaugurado em 80 d.C.
Uma novidade introduzida pelos romanos foi
a concepção de arruamentos e calçadas nos espa-
ços urbanos, melhorando a qualidade de vida da
população. Nesse período foram construídos mi-
lhares de quilômetros de calçada com o esquema
construtivo mostrado na Figura 8.
Outra conquista da Engenharia romana foram
as pontes, construídas com pedras no século II
a.C. Originalmente os blocos eram fixados por
grampos de ferro, mas houve uma importante
Figura 8 – Calçadas romanas evolução para o uso de núcleos de concreto e re-
Fonte: Pet Engenharia Civil UFJF (2016, on-line)4. vestimentos de blocos de pedras (Figura 9).

22 Conceito básico de engenharia


Figura 9 – Ponte romana sobre o Rio Marecchia
Fonte: Wikipédia ([2017], on-line)5.

As construções romanas usaram amplamente as perto de Roma, comprova esse fato (Figura 10).
vantagens estruturais dos arcos. Suas pontes con- Deve-se ressaltar que os romanos construíram
tinham arcos de pedra que permitiam a distribui- centenas de milhares de quilômetros de estradas
ção eficiente dos pesos. Em toda Europa existem, para várias finalidades, como comércio e con-
ainda, centenas de pontes romanas, indicando sua trole do império.
precisão técnica e alta confiabilidade. Por fim, não há como negar que a mais impor-
Os romanos aprimoraram, também, a cons- tante contribuição dos romanos para a construção
trução de túneis subterrâneos que permitiam foi a invenção do concreto, permitindo impressio-
circulação subterrânea, construídos com tal per- nantes construções. Inventado no final do século
feição que estão em perfeito estado, até hoje. A III, era obtido adicionando um pó vulcânico à
recente descoberta de uma rede de túneis sob argamassa feita de uma mistura de tijolo ou pe-
as ruínas da Villa Adriana, na cidade de Tivoli, daços de pedra, cal ou gesso e água.

O blog Edukavita contém uma quantidade variada


de informações úteis, com ênfase na História
das maravilhas construídas pelo homem. Para
saber mais sobre a Engenharia romana e suas
construções, consulte o site: <https://edukavita.
blogspot.com.br/2016/05/engenharia-romana-
origens-e-historia.html>.

Figura 10 – Vila Adriana

UNIDADE I 23
Os Sistemas de
Abastecimento de Água
do Império Romano

Os aquedutos romanos colocam em evidência


os dois bens mais preciosos que a natureza pro-
porcionou ao planeta: água e energia. Conser-
vá-los é tarefa de todos e finalidade primordial
da Engenharia.

Deixamos esta contribuição do Império Roma-


no para a Engenharia em uma sessão especial,
pois trata da primeira iniciativa organizada do
bom uso da energia disponível na natureza para
o bem-estar humano.
Os aquedutos foram concebidos e construídos
pelos romanos para satisfazer a vários tipos de
aplicação. A principal era levar a água de lugares
onde havia em abundância para lugares em que
ela era escassa.
Dessa maneira, a água, corretamente dire-
cionada, servia chafarizes, banhos públicos ou
privados e limpeza de latrinas. Adicionalmente,
atividades de agricultura e mineração se serviram

24 Conceito básico de engenharia


dos benefícios proporcionados pela disponibilidade da água. Come-
çam, então, de maneira organizada e planejada, os bons serviços da
Engenharia, envolvendo os dois aspectos essenciais da vida: água e
energia. É desses dois itens que depende a vida em nosso planeta, e
uma mirada retrospectiva para os cuidados dos romanos deve ser
de grande utilidade.
Os aquedutos transportavam água fazendo uso da energia po-
tencial gravitacional, aproveitando inclinações de canais enterra-
dos. Nos locais onde a natureza era desfavorável, vales e planícies,
canos de chumbo, em alta pressão ou canais passavam por pontes
e alimentavam o sistema (Figura 11).

Figura 11 – Aqueduto Pont du Gard na Gália Romana (atual sul da França)


Fonte: Wikimedia ([2017], on-line)6.

UNIDADE I 25
No século III, Roma tinha um grande número de
aquedutos para uma população de mais de um
milhão de pessoas que usavam a água de maneira
extravagante. Não havia, ainda, a consciência da
importância da preservação desse presente da
natureza.

Os Aquedutos Romanos refletiam a filosofia ro-


mana de objetividade e praticidade. Roma nos
deixou volumosas estruturas que tinham a fun-
ção de conduzir a água pelas cidades. As fontes
atestam que os romanos conheciam o sistema de
transporte de água por canalização subterrânea
e o de aquedutos em arcos suspensos que fora
aprendido com os etruscos. A escolha por este
modelo deu-se pelo preço inferior das obras, já
que os materiais necessários eram mais abun-
dantes e baratos.
Para saber mais sobre esse assunto, acesse:
<http://www.infoescola.com/historia/aquedutos-
romanos/>.
Fonte: Gasparetto Júnior ([2017], on-line)7.

26 Conceito básico de engenharia


Consumo de Energia
e sua relação com
a Vida no Planeta

Para medidas práticas de consumo de energia,


usa-se a unidade “quilowatt hora” (kWh), que cor-
responde ao consumo de um aparelho de potência
1kW (1 000W), ligado durante uma hora (3 600s).

Ao estudarmos a evolução da Engenharia, desde


as civilizações pré-humanas até a civilização ro-
mana, pudemos observar que nossa espécie, para
evoluir e melhorar suas condições de vida, apro-
veitou-se dos recursos naturais disponíveis, sem
se preocupar com sua reposição ou conservação.
O grande desafio do século XXI é a questão
energética – trata-se de problema delicado e de
abrangência mundial. O nível atual de desenvolvi-
mento da humanidade, evidenciado pela tecnolo-
gia, a medicina e o potencial de conforto, exige um
consumo de energia por habitante bastante eleva-
do. Interromper esse consumo – decisão simplista
– seria negar o conhecimento adquirido e, talvez,
comprometer a continuidade da civilização.

UNIDADE I 27
Piqueira e Brunoro (2000, p. 5) afirmam que do-se no interior dos seres vivos, por processos
“sendo inevitável consumir energia, é importante fisiológicos complicados, nas mais diversas mo-
haver bom senso na sua distribuição e renovação e dalidades, sendo essencial para funções como
também a consciência de que é urgente desenvol- respiração, excreção, reprodução, manutenção de
ver novas tecnologias não poluentes para obtê-la”. temperatura e condução de impulsos elétricos
A obtenção de energia para manter a sociedade, associados ao sistema nervoso. Os físicos pare-
hoje, está atrelada, quase inevitavelmente, à degra- cem falar de algo mais abstrato, calculável por
dação ambiental. A escolha adequada da matriz equações, relativo a situações mais simples, como
energética (distribuição entre as formas de gera- carrinhos descendo montanhas-russas ou cargas
ção) mundial não pode levar em conta apenas os elétricas em movimento nos circuitos.
custos imediatos: deve assegurar a qualidade de Os conceitos empregados nas duas disciplinas,
vida das futuras gerações. entretanto, são integrados e remetem a mesma en-
Veremos, a seguir, alguns dos aspectos relativos tidade física: a capacidade de um corpo (ou sistema
ao uso da energia e suas implicações. Iniciamos de corpos), em qualquer escala espacial, produzir
com a ideia geral de que a energia é o bem de movimento próprio ou de outros corpos que estão
capital de maior valor para a nossa espécie, dis- no seu entorno. Assim, o ser humano, nas atividades
cutindo-a no que se refere à utilização humana. diárias, todo o tempo utiliza energia. Ele a retira
Nas aulas de Biologia e Física, estamos acostu- dos alimentos que ingere e, como se fosse uma
mados a nos deparar com dois conceitos aparen- máquina, transforma-a nas diversas modalidades
temente díspares de energia. Os biólogos parecem necessárias ao funcionamento do seu organismo.
falar de algo concreto, que passa do Sol para as A Tabela 1 ilustra o gasto de energia do corpo
plantas e dessas para os animais, transforman- humano em diversas atividades:

Necessidades energéticas para várias atividades (em kcal/hora)

Trabalho leve Trabalho moderado Trabalho pesado Trabalho muito pesado

Escrever 20 Dormindo 85-110 Marchando 280-400 Pedreiro 350

Permanecer Tomando Andando


20 125-125 180-600 Correndo 800-1000
relaxado banho de bicicleta

Datilografando
55 Carpintaria 150-180 Remando 120-600 Escalando 400-900
rapidamente

Tocando
40-50 Caminhando 130-240 Nadando 200-700 Esquiando 500-950
violino

Lavando Subindo
60 - - 1000
louça escadas

Passando
60 - - -
a ferro

Tabela 1 – Necessidades energéticas para várias atividades (kcal/h)


Fonte: Goldemberg (1998).

28 Conceito básico de engenharia


Expectativa de vida, mortalidade infantil,
Evidentemente, à medida em que a nossa espécie alfabetização e taxa de fertilidade total
foi se multiplicando e se apropriando do espaço como uma função da energia comercial
terrestre, as necessidades de energia aumentaram consumida per capita
80
consideravelmente, sobretudo, porque dela pas-
sou a depender a vida sob condições adversas. O

Expectativa de vida (anos)


60
gráfico de barras da Figura 12 (GOLDEMBERG,
1998) mostra esse fato, indicando que, quanto 40

mais sofisticada a vida e melhor sua qualidade,


maior a necessidade de consumo de energia. 20 Média de 127 países
para grupos de 10 países

Estágios de desenvolvimento e consumo de energia


0 2 4 6
Alimentação Moradia e Indústria e Transporte
Uso de energia TEP per capita por ano
comércio agricultura
Energia total consumida per capita (mil kcal/dia)

Homem
230 80
tecnológico
Média de 127 países

(Mortes por 100 nascimentos vivos)


Homem para grupos de 10 países
77
industrial
60

Mortalidade infantil
Homem agrícola
20
avançado

Homem agrícola 40
12
primitivo

Homem 20
6
caçador

Homem
2
primitivo
0 2 4 6 8
0 50 100 150 200
Uso de energia TEP per capita por ano
Consumo diário per capita (mil kcal)

Figura 12 – Desenvolvimento e consumo de energia 80


Analfabetismo (% população adulta)

Fonte: Goldemberg (1998).


60

Do homem primitivo até o homem tecnológico, o


40
consumo diário cresceu, em um milhão de anos,
de 2000 kcal para quase 230 000 kcal. Esse aumen- 20
to foi progressivo, acompanhando o refinamento
da tecnologia desenvolvida pela humanidade para
0 2 4 6 8
modificar o meio ambiente em seu benefício. Uso de energia TEP per capita por ano

Os recursos energéticos disponíveis na Terra,


porém, são limitados. Conciliar esse fato com as 10
Taxa de fertilidade total (TFT)

necessidades humanas é, como dizemos, um gran- 8


Oma
Arábia Saudita
de desafio a ser enfrentado pela ciência moderna, Ira Líbia
6
Gabão
independentemente das administrações e das ideo- Mongolia
4
logias. Além disso, não há como negar que o con- Venezuela Kuwait
Trinidad e Tobago
sumo de energia está relacionado com a qualidade 2

de vida, conforme mostram os gráficos ilustrativos


0 2 4 6 8
(GOLDEMBERG, 1998) da Figura 13, em que a Uso de energia TEP per capita por ano

unidade de energia utilizada é a TEP (tonelada Figura 13 – Energia e qualidade de vida


equivalente de petróleo), equivalente a 107 kcal. Fonte: Goldemberg (1998).

UNIDADE I 29
Verificamos, então, que a energia é essencial à vivência na Terra. Outro foi a ECO 92 ou United
vida e fator de conforto e bem-estar. Entretan- Nations Conference on Environment and Deve-
to seu consumo é fator relevante nos problemas lopment - Unced, realizada no Rio de Janeiro, que
ambientais, principalmente em decorrência do frisou o problema da utilização de combustíveis
emprego de combustíveis fósseis na produção de fósseis na produção de energia devido à emissão de
eletricidade, no setor de transporte e na indústria. CO2 e o consequente agravamento do efeito estufa.
Resolver esse problema eliminando a causa, evi- O Protocolo de Kyoto (1997) procurou restrin-
dentemente, é uma tarefa muito difícil, pois os com- gir a emissão de CO2 dos países, sugerindo o em-
bustíveis fósseis respondem por mais de 90% do con- prego de mecanismos para um desenvolvimento
sumo atual de energia mundial. Entretanto não parece limpo. O recente acordo de Paris (2015) rege as
impossível, dadas as alternativas de fontes renováveis emissões de CO2, estabelecendo limites a serem
disponíveis hoje. Usar gás natural nas termelétricas é atingidos em 2020.
interessante, pois, em comparação com os combus- Para dar uma ideia dos reais responsáveis pelo
tíveis fósseis, emite metade do CO2 por kWh e pra- efeito estufa e pela degradação ambiental, apre-
ticamente não emite óxidos de enxofre e nitrogênio. sentamos a Tabela 2, com o volume anual de CO2
Fazendas de produção de energia a partir de emitido por diversos países.
biomassa representam outra solução bastante con-
vidativa, uma vez que o CO2 por elas emitido pode Emissão de CO2
ser reabsorvido nos processos de fotossíntese e não (toneladas de CO2 per capita)
há emissão de óxidos de enxofre e nitrogênio. Há, Quantidade Países
ainda, a energia solar, que pode ser utilizada como
fonte quente nas termelétricas ou ser diretamente Entre 16 e 36 Estados Unidos
e Austrália.
convertida em elétrica, nas células fotovoltaicas.
As desigualdades entre os países, no entanto, de- Entre 7 e 16 Japão, Canadá, Rússia,
terminam diferenças não só no volume de energia Ucrânia, Polônia e África
consumido (os pobres consomem menos que os do Sul.
ricos), como também na forma de obtê-la: as me- Entre 2,5 e 7 União Europeia, China,
lhores soluções para a matriz energética dos países México, Chile, Argentina e
desenvolvidos, quando aplicadas ao contexto de paí- Venezuela.
ses em desenvolvimento, nem sempre serão ótimas.
Entre 0,8 e 2,5 Brasil, Índia, Indonésia,
A questão energética influencia diretamente o países da América Central
desenvolvimento e o meio ambiente. Não podemos e Caribe.
privilegiar o primeiro provocando drásticos impac-
tos no segundo. É nisso que se fundamenta o concei- Tabela 2 - Emissão de CO2 (toneladas per capita)
to de desenvolvimento sustentável, que defende não Fonte: Goldemberg (1998).
só a qualidade de vida atual, mas também a herança
a ser deixada para as gerações futuras, propondo a Os Estados Unidos, um dos maiores emissores de
proteção e a manutenção dos sistemas naturais. CO2, posicionaram-se contra as medidas propos-
Um passo significativo para a concretização tas, alegando que elas acarretariam uma redução
desse conceito foi a Conferência de Estocolmo, em drástica na sua economia, podendo provocar re-
1972, que enfatizou a questão ambiental e a con- cessão. Esse é um exemplo da tentativa suicida de

30 Conceito básico de engenharia


manter a economia dos ricos à custa da degrada-
ção da qualidade de vida de todos.
Para que você possa avaliar o consumo de Tenha sua dose extra de
energia de seu cotidiano, vamos recordar um conhecimento assistindo ao
ponto importante da Física: vídeo. Para acessar, use seu
• No sistema internacional de unidades (SI), leitor de QR Code.

a energia, de qualquer tipo ou modalidade,


é medida em joules (J).
• Quando se trata de estudar processos de
transformação de energia, usa-se o con-
ceito de potência, medida em watts (W)
e definida como energia por unidade de Piqueira e Brunoro escreveram um texto sobre
tempo. Assim, quando ligamos uma lâm- as principais questões relativas ao uso da ener-
pada de 100W à rede elétrica, uma energia gia e como seu uso e consumo se relacionam à
de 100 J é consumida, a cada segundo. vida e à sustentabilidade no nosso planeta. Além
• Para medidas práticas de consumo de disso, abordam possíveis consequências do uso
energia, usa-se a unidade “quilowatt hora” de energia proveniente de combustíveis fósseis
(kWh), que corresponde ao consumo de para o clima na Terra.
um aparelho de potência 1kW (1 000W), Para saber mais, acesse: <https://www.
ligado durante uma hora (3 600s). A título researchgate.net/publication/266247679_
de exemplo, vamos considerar um chuvei- ENERGIA_uso_geracao_e_impactos_ambientais>.
ro que, quando ligado em uma instalação
de 220 volts (V), opera com potência de
2000W (2kW). Caso você tome um banho
de 0,5 h (30min = 1800 s), o consumo de Nesta unidade, procuramos apresentar uma
energia correspondente será de: ideia de como a criatividade humana e a ob-
C = 2000W.1800s = 3 600 000 J ou servação da natureza nos levou ao progresso
C = 2kW.0,5h = 1 kWh. tecnológico e como é possível manter a vida e
Assim, podemos escrever: preservar os recursos naturais disponíveis. Essa
1kWh = 3 600 000 J. missão da espécie humana só é possível com a
Considerando nossas atividades cotidianas (Ta- boa Engenharia, associada ao amplo conheci-
bela 1), verificamos que, mesmo dormindo, nosso mento das formas de energia disponíveis e de
organismo consome cerca de 100 kcal/h. seu bom uso.
A kcal é uma unidade de energia que se rela-
ciona com o joule por: 1 kcal = 4 000 J. Como em
uma hora temos 3 600 s, esse nosso consumo de
energia pode, também, ser expresso por:
(100 . 4 000)/(3 600) = 111 W, isto é, quando
dormimos nosso organismo gasta a mesma
energia de uma lâmpada de 100W perma-
nentemente acesa.

UNIDADE I 31
1. O abrigo do homem pré-histórico em cavernas, além da proteção contra espécies
predadoras, proporcionava:
a) Conservação da energia térmica.
b) Aquecimento.
c) Resfriamento.
d) Trocas de calor rápidas.
e) Aquecimento brusco.

2. Os egípcios se destacaram nas engenharias:


a) Civil e Mecânica.
b) Civil e Naval.
c) Elétrica e Civil.
d) Mecânica e Hidráulica.
e) Naval e Mecânica.

3. Os tijolos dos egípcios eram:


a) Poligonais.
b) Arredondados.
c) Com formato semelhante aos atuais.
d) Hexagonais.
e) Poligonal.

4. Para os gregos, a Arquitetura era:


a) Uma arte.
b) Um trabalho repetitivo.
c) Um passeio pela imaginação.
d) Um retorno ao mar.
e) Um retorno à Terra.

32
5. A ordem Dórica representa:
a) Fome.
b) Pressão.
c) Dor de cabeça.
d) Ação impulsiva.
e) Pensamento.

6. Os monumentos e as obras das civilizações egípcia e grega se fundamentavam:


a) Nas leis de Newton.
b) Nas equações de Maxwell.
c) Nos fundamentos matemáticos da Geometria.
d) Na prática e na intuição dos trabalhadores.
e) No teorema de Pitágoras.

7. A navegação à vela, iniciada pelos egípcios e fenícios, fazia uso da energia:


a) Química.
b) Eólica.
c) Potencial gravitacional.
d) Eletromagnética.
e) Nuclear.

8. Além das técnicas de construção, em quais áreas da Engenharia os romanos


contribuíram:
a) Transportes e Mecânica.
b) Mecânica e Eletricidade.
c) Transporte e Materiais.
d) Materiais e Mecânica.
e) Termodinâmica e Eletricidade.

33
9. O Coliseu, obra de referência da civilização romana, é usado, até hoje, como
modelo para projetos de:
a) Casas.
b) Prédios.
c) Pontes.
d) Estradas.
e) Estádios.

10. A qualidade de vida nas cidades urbanas do Império Romano teve uma melhoria
considerável pela introdução de:
a) Luz elétrica.
b) Água potável.
c) Rede de esgotos.
d) Ruas e calçadas.
e) Transporte coletivo.

11. As estruturas em arco permitem:


a) Melhor distribuição de peso.
b) Diminuição de peso.
c) Melhor aparência.
d) Diminuição da ação dos ventos.
e) Diminuição da ação das águas.

12. O concreto inventado pelos romanos era constituído de:


a) Pó vulcânico, tijolo, argamassa e água.
b) Pó vulcânico, tijolo, gesso e água.
c) Tijolo, gesso, água e óleo.
d) Gesso, água, pó de licopódio e tijolo.
e) Pó de licopódio, água, ácido clorídrico e tijolo.

34
13. Os aquedutos romanos transportavam água fazendo uso da energia:
a) Cinética.
b) Eólica.
c) Elétrica.
d) Potencial Gravitacional.
e) Nuclear.

14. Os dois aspectos vitais para a espécie humana envolvidos na concepção dos
aquedutos são:
a) Água e Energia.
b) Água e Ar.
c) Ar e Energia.
d) Oxigênio e Água.
e) Oxigênio e Energia.

15. Além das aplicações de higiene proporcionadas pelos aquedutos, seus principais
benefícios envolviam:
a) Agricultura e Pecuária.
b) Pecuária e Mineração.
c) Mineração e Agricultura.
d) Pecuária e Qualidade do ar.
e) Qualidade do ar e Mineração.

16. Obtenha a relação de transformação de kWh para J.

17. Quantos kWh, por dia, gasta o homem tecnológico? Quanto gastava o homem
agrícola primitivo? (Considere 1cal = 4J.)

18. Compare, aproximadamente, o consumo anual de energia per capita de um país


com mortalidade infantil de 10 mortes por 1 000 nascimentos com outro de 40
mortes a cada 1 000 nascimentos.

35
19. Considere os seguintes dados a respeito da energia elétrica no Brasil, fornecidos
pelo IBGE:

Custo por kWh R$ 0,18

Número de chuveiros elétricos 28 000 000

Número médio de pessoas por residência 3,6

Tempo médio para um banho 8 minutos

Potência média do chuveiro 4kW

a) Considerando que cada pessoa toma um banho por dia, qual o consumo médio
mensal de energia por residência?
b) Compare o valor obtido no item anterior com os 100 kWh dados como limite
pelos órgãos governamentais.
c) Qual o consumo nacional anual em kWh, considerando apenas o gasto com
banhos?
d) Se uma residência tem, além do chuveiro, 3 lâmpadas de 100 W (1 hora por
dia), uma geladeira de 300 W (8 horas por dia) e um ferro de passar roupa de
500 W (1 hora por dia), qual será o custo mensal da conta, considerando que
o consumo acima de 200 kWh é sobretaxado em 50%?
e) Considerando que uma termelétrica emite 100 g de CO2 por kWh, quantas to-
neladas desse gás seriam emitidas por ano se toda a energia relativa a banhos
do Brasil passasse a ser gerada dessa maneira?

36
LIVRO

Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento


Autor: José Goldemberg e Osvaldo Lucon
Editora: Edusp
Sinopse: o papel da energia no desenvolvimento é bem conhecido, assim como
o seu papel como uma das principais causa da degradação ambiental. Contudo,
a inter-relação energia–desenvolvimento–meio ambiente não é adequadamente
analisada pelo material bibliográfico convencional, e esta é a principal inovação
deste livro. O livro discute, inicialmente, o conceito de energia; em seguida,
aborda sua relação com as principais atividades humanas, como os recursos
naturais existentes e com os indicadores de desenvolvimento. Discute, também,
os principais problemas ambientais, suas causas e possíveis soluções. Com esses
diagnósticos, classifica as fontes e os usos finais de energia, apresentando ten-
dências futuras e soluções – tecnológicas, políticas e comportamentais – para os
problemas de sustentabilidade ambiental, econômica e social. Tal abordagem é
resultado de vários anos de estudos e experiência dos autores no ensino, bem
como na formulação, discussão e implantação de políticas públicas relativas ao
tema.

WEB

PET-Civil
O blog PET-Civil da UFJF é um trabalho de ótima qualidade realizado por alunos
dessa instituição, tratando de maneira interessante as questões históricas da
Engenharia. Para boas leituras sobre História da Engenharia, consulte-o.
<https://blogdopetcivil.com>.

37
BAZZO, W. A.; PEREIRA, L. T. V. Introdução à engenharia. Florianópolis: UFSC, 2000.

PIQUEIRA, J. R. C. Reflexões sobre história do ensino de Engenharia. Porvir: Inovações em Educação, 2014.
Disponível em: <http://porvir.org/reflexoes-sobre-historia-ensino-de-engenharia/>.

PIQUEIRA, J. R. C.; BRUNORO, C. M. Energia: uso, geração e impactos ambientais. São Paulo: Editora Anglo,
2000. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/266247679_ENERGIA_uso_geracao_e_im-
pactos_ambientais>. Acesso em: 06 nov. 2017.

SABINO, R. História da Engenharia: A Grécia antiga. 2015. Disponível em: <https://blogdopetcivil.


com/2015/06/01/historia-da-engenharia-a-grecia-antiga>.Acesso em: 06 nov. 2017.

GOLDEMBERG, J. Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. São Paulo: EDUSP, 1998.

REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <https://cpalexandria.wordpress.com/2012/02/13/definicao-contemporanea-de-pre-historia/>. Acesso
em: 06 nov. 2017.
2
Em: <http://rhistoriaz.blogspot.com/2013/06/historia-geral-i-pre-historia.html>. Acesso em: 06 nov. 2017.
3
Em: <http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/seu-destino/egito>. Acesso em: 06 nov. 2017.
4
Em: <https://blogdopetcivil.com/2016/09/26/historiadaengenhariaromaantiga/>. Acesso em: 06 nov. 2017.
5
Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rimini>. Acesso em: 06 nov. 2017.
6
Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d8/Pont_du_Gard_Oct_2007.jpg>. Acesso em:
06 nov. 2017.
7
Em: <https://www.infoescola.com/historia/aquedutos-romanos/>. Acesso em: 06 nov. 2017.

38
1. O abrigo do homem pré-histórico em cavernas, além da proteção contra espécies
predadoras, proporcionava conservação da energia térmica, isolando o ambiente.
(Alternativa A)
2. Os Egípcios se destacaram nas engenharias: Elétrica e Civil. (Alternativa B)
3. Os tijolos dos egípcios eram: com formato semelhante aos atuais. (Alternativa C)
4. Para os gregos, a Arquitetura era: uma arte. (Alternativa A)
5. A ordem Dórica representa: pensamento. (Alternativa E).
6. Os monumentos e obras da civilização Egípcia se fundamentavam: na prática e na in-
tuição dos trabalhadores. (Alternativa D)
7. A navegação à vela, iniciada pelos Egípcios e Fenícios, fazia uso da energia Eólica. (Al-
ternativa B)
8. Além das técnicas de construção, em quais áreas de Engenharia os romanos contribuí-
ram: transporte e materiais. (Alternativa C)
9. O Coliseu, obra de referência da civilização romana, é usado até hoje como modelo para
projetos de: estádios. (Alternativa E)
10. A qualidade de vida nas cidades urbanas teve uma melhoria considerável pela introdução
de: ruas e calçadas. (Alternativa D)
11. As estruturas em arco permitem: melhor distribuição de peso. (Alternativa A)
12. O concreto inventado pelos romanos era constituído de: pó vulcânico, tijolo, gesso e
água. (Alternativa B)
13. Os aquedutos romanos transportavam água fazendo uso da energia: Potencial Gravi-
tacional. (Alternativa D)
14. Os dois aspectos vitais para a espécie humana envolvidos na concepção dos aquedutos
são: água e energia. (Alternativa A)
15. Além das aplicações de higiene proporcionadas pelos aquedutos, seus principais bene-
fícios envolviam: mineração e agricultura. (Alternativa C)
16. 3,6 . 106J.
17. Homem tecnológico: 255 kWh; homem agrícola primitivo: 13,3 kWh.
18. A energia gasta, per capita, em um país de 10 mortes por 100 nascimentos, é 7,5 vezes
maior que a gasta por um de 40 mortes por 100 nascimentos.
19.
a) 57,6 kWh.
b) 1,92% do total proposto são gastos só com banhos, sobrando 98,08 kWh para o res-
tante das atividades.
c) 1,9.1010 kWh.
d) R$ 27,65, desconsiderando-se os impostos.
e) 1,9.106 toneladas.

39
40
Dr. José Roberto Castilho Piqueira

A Engenharia como
Atividade Artesanal
e o Surgimento das
Primeiras Escolas

PLANO DE ESTUDOS

A Ciência e a Filosofia O Positivismo

O construtor visto As Academias Militares O Positivismo e as


como operário e Escolas Navais como Escolas Politécnicas
precursoras das Escolas de
Engenharia

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Compreender que a Engenharia, embora essencial para • Entender como as atividades expansionistas de reis e
o desenvolvimento humano, até o final do século XVII, era imperadores incentivaram as primeiras escolas militares
considerada tarefa de artesãos e operários e de pouco para o ensino da Engenharia, ainda como prática artesanal.
valor intelectual. • Verificar como a corrente filosófica do Positivismo apro-
• Compreender que a Engenharia, até o século XVII, era ximou a Engenharia das Ciências Básicas, que passou a
exercida com extrema habilidade artesanal, guiada pela utilizar os princípios da Física e da Matemática de maneira
intuição e pela experiência. sistematizada.
• Entender que, nessa época, Filosofia e Ciência eram con- • Verificar o surgimento e difusão das Escolas Politécnicas,
sideradas atividades intelectuais nobres e de pouca in- trabalhando a combinação dos conhecimentos científicos
fluência na Engenharia. com a habilidade tecnológica.
O Construtor Visto
como Operário

Ao final da Idade Média, havia um grande conhe-


cimento acumulado relativo às técnicas e mate-
riais de construção. Essas atividades de constru-
ção eram exercidas por operários, planejadas por
aqueles que detinham conhecimento intuitivo e
originário da prática.

Olá, aluno(a), conforme você pôde notar na unida-


de anterior, a Engenharia sempre esteve associada à
criatividade e à intuição humana, que levou à con-
cepção das maravilhas já descritas. A invenção da
roda, o transporte do fogo e o fogo moldando me-
tais são descobertas que garantiram a evolução da
espécie. Pirâmides egípcias, colunas gregas, aque-
dutos romanos são exemplos de engenhosidade e
de entendimento intuitivo das forças da natureza.
Além disso, embora haja registros históricos
dos faraós associados às pirâmides, dos impera-
dores gregos e romanos associados às obras de
Arquitetura e Engenharia, preciosas e duradouras,
não se sabe ao certo quem as concebeu, projetou aquedutos foram implementados por engenheiros
ou construiu. As pirâmides, por exemplo, são obras anônimos que, com a pouca Matemática que ti-
tão impressionantes que há até quem diga que fo- nham à mão, produziram essas maravilhas.
ram construídas por extraterrestres. Entretanto Filosofia, Arte e Literatura se desenvolveram e
arqueólogos afirmam que as pirâmides foram eternizaram os nomes de seus autores como ine-
construídas por trabalhadores livres e assalariados, gáveis geradores do saber humano, em espaços
supervisionados e orientados por operários mais concebidos e construídos por trabalhadores e
experientes, não havendo registro de papiros ou operários pouco lembrados. Esse conhecimen-
pinturas indicando planejamento prévio. to acumulado, acrescido de diversas descobertas
Na mesma linha, embora haja registros e lou- científicas, passou a fazer parte do conjunto de
vores aos autores e intérpretes do teatro grego, segredos dominados por entidades poderosas,
pouco se sabe sobre aqueles que conceberam e durante a Idade Média. É o final do século XVII,
realizaram as obras de seus espaços físicos, eternos entre o Renascimento e o Iluminismo, que traz
trabalhos de engenharia e exemplos para constru- nova concepção de Engenharia, fundamentada no
ção de estádios e arenas, até hoje. progresso científico e sua utilização para resolver
Sobre o teatro de Epidauro, sabe-se que o es- problemas práticos e projetar máquinas.
cultor e arquiteto Policleto o concebeu, indicando Ficou claro que, ao longo dos eventos aqui des-
os primeiros sinais do surgimento da profissão. critos, as construções foram pensadas e realizadas
Entretanto não há registros de planejamento ou a partir de uma apurada observação da natureza,
de evolução da construção, que era realizada por com pouco uso do que chamamos de conheci-
operários humildes. Considerando os feitos ro- mento científico. Tentando ilustrar essa notável
manos, representados pela invenção do concreto habilidade, vamos entender como as pedras, ma-
e pela concepção das estruturas em arco, tam- terial básico da construção, ficavam unidas ao
bém não há registro de seus criadores. Estradas e serem assentadas.

Sobre as pirâmides do Egito:


As pirâmides do Egito exercem um fascínio natural sobre as pessoas em geral, por sua grandeza e pelo
conteúdo místico associado. Para um engenheiro, fica a pergunta: Como foram projetadas e construí-
das? O site indicado traz informações sobre a História do Egito e, em particular, sobre as pirâmides.
Acesse o link disponível em: <http://www.egipto.com.br/segredos-piramides-egito>.
Sobre o teatro grego:
Como uma construção da antiguidade apresenta acústica tão boa como as construções modernas, sem
os equipamentos hoje disponíveis? Os teatros gregos são construídos com engenhosidade admirável. O
site indicado traz interessantes noções sobre a História da Arquitetura e sobre as construções gregas.
Acesse o link disponível em: <http://historiaearquitetura.blogspot.com.br/2012/01/teatro-de-epidauro-
grecia.html>.

UNIDADE II 43
Civilizações diferentes deram soluções diver-
sas e criativas para o problema. Os romanos,
como já vimos, desenvolveram o cimento que
servia de liga entre as partes e, além disso, ali-
sado, embelezava as áreas externas (Figura 1).

Figura 1 – Parede romana

Os Incas, no século XV, construíram, na América


do Sul, fortalezas usando imensas pedras encai-
xadas geometricamente de maneira tão perfeita
que até hoje não se sabe como os cortes das pe-
dras eram feitos com tanta precisão (Figura 2).

Figura 2 – Pedras em construção INCA

44 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas


A Ciência e a Filosofia

O século XVII marca, na Engenharia, a passagem


do uso de ferramentas totalmente empíricas
para os métodos de projeto fundamentados nas
leis da natureza.

Os primeiros relatos da sistematização do conhe-


cimento humano datam da Grécia Antiga e são
relacionados à Filosofia idealista de Platão, com-
plementadas por Aristóteles, que atribui à Natureza
leis que regem seu funcionamento (BUNGE, 2017).
Ao longo do tempo, nas civilizações egípcia,
grega e romana, os estudos filosóficos implica-
ram as primeiras descobertas da Matemática e
alguns desenvolvimentos iniciais de leis relativas
às Ciências da Natureza. Havia, na formulação
dessas leis, uma forte dose de empirismo e uma
sistematização ainda incipiente, o que não impedia
que os artífices, artesãos e operários se aproprias-
sem desse conhecimento e, combinando-os com a
prática, construíssem as grandes obras já descritas.

UNIDADE II 45
Apesar da distância social e das diferenças cação e controle de forças, como aparelhos utiliza-
de costumes entre o mundo dos filósofos e dos dos para condicionamento físico.
operários da construção, os esgotos, teatros, pa- No final da Idade Média, a ciência procurou
lácios, estradas, pontes e engenhos de guerra fo- buscar explicações para os fenômenos mais pró-
ram construídos, baseados no saber científico que ximos da natureza, afastando-se um pouco do
começava a se concretizar. Na Grécia Clássica, os mundo das ideias de Platão e comprovando essas
conhecimentos de Matemática de algumas escolas explicações experimentalmente. A consequência
filosóficas serviram para desenvolver a Mecânica disso é que teorias formuladas e comprovadas
e diminuir o trabalho manual (SCHNAID et al., permitiram o aparecimento da engenharia, com
2006). Por exemplo, roldanas (Figura 3) facilita- projetos fundamentados em cálculos, baseados
ram transporte de materiais em construções e nos princípios enunciados pela ciência. Esses
navios, enquanto que moinhos (Figura 4) viabi- princípios descrevem os fenômenos e predizem
lizaram a produção de alimentos. comportamentos de sistemas que permitem as
Atualmente, o uso de roldanas é geral e aplicável prescrições, isto é, escolhas de parâmetros e gran-
às mais diversas atividades que requerem multipli- dezas físicas que levam a resultados esperados.

Figura 3 – Exemplo do uso de roldanas

46 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas


Figura 4 - Moinho de Vento

Um exemplo de projeto: • A densidade de um corpo é sua massa por


Vamos considerar os seguintes pressupostos unidade de volume.
originários da Física a respeito da energia poten- • A vazão de um curso d’água é dada pelo
cial gravitacional. volume por unidade de tempo.
A energia potencial gravitacional associada a um
corpo de massa m, elevado a uma altura h é dada por: Consideremos, agora, o seguinte problema de
Epg= mgh. engenharia:
Nessa expressão, m é a massa da caixa em • Na idade do “homem agrícola avançado”,
quilogramas (kg), g é a aceleração da gravidade considere uma população de 10 000 pes-
em metro por segundo (m/s2) e h é a altura soas;
em relação ao solo, em metros (m). Com essas • Suponha que a energia a ser fornecida para
unidades, a energia potencial gravitacional é essas pessoas seja proveniente de uma que-
dada em Joules (J). da d’água com vazão 2 m3/s;
• Quando se trata de estudar processos • Sabendo-se que a densidade da água é de
de transformação de energia, usa-se o 1kg/L (1000 kg/ m3).
conceito de potência, medida em watts
(W) e definida como energia por unida- Qual a altura mínima necessária para a queda
de de tempo. d’água?

UNIDADE II 47
Estágios de desenvolvimento e consumo de energia
Alimentação Moradia e Indústria e Transporte
comércio agricultura

Energia total consumida per capita (mil kcal/dia)


Homem
230x102 tecnológico

Homem
77x102 industrial
Homem
20x102 agrícola
avançado
Homem
12x102 agrícola
primitivo

Homem
6x102 caçador

Homem
2x102 primitivo

0 50 100 150 200


Consumo diário per capita (mil kcal)

Figura 5 – Desenvolvimento e consumo de energia


Fonte: Goldemberg (1998).

• O primeiro passo a ser dado no projeto é determinar “qual é


a necessidade”. Neste caso, qual é a potência necessária para
fornecer a energia necessária à população.

Como se trata do “homem agrícola avançado”, consultando a Figura


5 verificamos que o consumo individual de energia é 2.000 kcal/
dia e, como são 10.000 pessoas, chegamos a um consumo mínimo
necessário de 20.000.000 kcal/dia.
O valor obtido precisa ser convertido para unidades do Sistema
Internacional (SI), isto é, kcal deve ser convertido em joule (J) e
dia em segundo (s).
Se 1 kcal = 1.000 cal, então 20.000.000 kcal = 20.000.000.000
cal. Sabemos que 1 cal = 4 J. Dessa forma, 20.000.000.000 cal =
80.000.000.000 J.
Um dia possui 24h e 1h 3.600 s. Sendo assim, 1 dia = 24h*3.600s
= 86.400s.
Logo, a potência mínima necessária para atender à população
de 10.000 pessoas será de:
P = 80.000.000.000/86.400 = 925.925,925 W
Ou P = 926 kW.
• O segundo passo é verificar se a “necessidade pode ser aten-
dida”, isto é, se a potência disponível na queda d’água pode
atingir 926 MW.

48 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas


Agora é a hora de usar a Física, isto é, calcular a
potência P como energia potencial gravitacional
por unidade de tempo: Uma das principais fontes de energia é a prove-
P = Epg / ∆t. niente das quedas d’água. No Brasil, é a fonte
Se Epg = m*g*h, então: mais significativa para a composição da matriz
P = mgh / ∆t. energética. O site indicado traz dados técnicos
Sabendo que densidade (d) = massa (m) / vo- relevantes sobre as usinas hidrelétricas.
lume (V) e que vazão (Q) = volume (V) / variação Acesse o link disponível em: <http://masterenergia.
de tempo (∆t), então temos que: com.br/index.php/informacoes-tecnicas/78-como-
P = dQgh. medir-a-energia-hidraulica-e-hidreletrica>.
Agora, temos que P deve ser maior que 926
kW. Substituindo esse fato e os dados numéricos
fornecidos pelo problema, temos:
dQgh > 926 kW
1.000*2*10*h > 926 kW
h > 926.000 / 20.000
h > 46,3 m.

Imagine o homem caçador, isto é, alguém cujo


consumo de energia era equivalente a 6 000 kcal
por dia. A potência, em watts (W), relativa a esse
consumo de energia é dada por:
(6 000). (4 000)/ (24 . 3 600) = 278 W, isto é, esse
consumo é equivalente ao consumo de 3 lâmpa-
das de 100W acesas.

Tenha sua dose extra de


conhecimento assistindo ao
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leitor de QR Code.

UNIDADE II 49
As Academias Militares e
Escolas Navais como
Precursoras das Escolas
de Engenharia

Nos séculos XVII e XVIII, os reinados e as nações


hegemônicas criaram escolas para o estudo siste-
mático de técnicas de construção, voltadas para
o uso militar. As academias militares são as pre-
cursoras das escolas de Engenharia.

Conforme consta em Piqueira (2014, on-line):



A atividade da engenharia era vista como
intelectualmente menor, própria dos artífices
e artesãos, que passavam seu conhecimento
sem preocupação com sistematização ou me-
todologia. Pertencia ao mundo dos trabalha-
dores braçais, e os intelectuais preocupavam-
-se com questões filosóficas e metafísicas.
Os exércitos, entretanto, perceberam a im-
portância da engenharia para as batalhas, e a
arte de construir passou a ser sistematizada,
com seu ensino incorporado ao treinamen-
to de oficiais de maior patente. No Brasil, as seguintes instituições foram
As escolas de navegação foram decisivas para formadas:
os descobrimentos, nos séculos XV e XVI. O • Em Salvador, na capitania da Bahia, a Es-
domínio das técnicas de construção naval cola de Artilharia e Arquitetura Militar
e da prática de conduzir navios tornou-se (1696);
essencial para as nações que procuravam • Na cidade do Rio de Janeiro, a Aula das
expandir suas fronteiras e buscar riquezas. Fortificações e Arquitetura (1698).
Essa era a engenharia até o final do século
XVII: técnicas de construção de pontes, du- Em Portugal, no ano de 1701, foi criada, também,
tos, armas e navios, reproduzindo os traços uma Escola, na cidade de Viana do Castelo, que
empíricos herdados das gerações anteriores, teve uma ação expressiva nas cidades fortifica-
restritas ao âmbito militar. das do Norte do país. Em 1707, essa Escola foi
Nessa época, as Leis de Newton, que haviam transformada na Academia Militar da Corte,
sido propostas no início do século 18, deixa- encerrada em 1779. Em 1790, a Academia Real
ram de ser vistas como filosofia da natureza, de Fortificação, Artilharia e Desenho passa a
sendo incorporadas aos trabalhos de enge- exercer importante papel no desenvolvimento
nharia, que ganharam contornos de projetos, da arquitetura e construção naval.
com as construções sendo pensadas com Nesse contexto nasceu a primeira escola bra-
abordagem baseada nos saberes científicos. sileira considerada de nível superior: a Escola
Naval. No início do século 19, Dom João VI,
Em Portugal, uma das nações hegemônicas da ao transferir a corte portuguesa para o Brasil,
época, existia a chamada “Aula de Fortificação e trouxe a Escola Naval de Portugal, que aqui se
Arquitetura Militar”, escola de engenharia militar, estabeleceu formando oficiais de alto nível até
criada no século XVII e transformada, no século os dias de hoje.
XVIII, na “Academia Militar da Corte”. Em Ma-
drid, a Academia de Matemáticas y Arquitectura
foi criada como sucessora da “Escola de Moços
Fidalgos do Paço da Ribeira”.
A Guerra da Restauração da Independência A Engenharia brasileira tem, na sua origem, for-
Portuguesa (1640-1668) gerou a necessidade da tes laços com as instituições militares. O trabalho
criação de uma Academia de Arquitetura Militar, constante do site a seguir é uma ótima referên-
fundada em 1647, por decreto de João IV de Por- cia para entender como essa relação se deu.
tugal. Essa academia era localizada em Lisboa e Acesse o link disponível em: <http://www.
nela eram lecionadas Matemática e Fortificação, cporpa.eb.mil.br/images/2016/int/hist_mil/UDIV/
sendo considerada uma das precursoras do ensino Apostila_Historia_Militar_Brasileira_Cap_6.pdf>.
superior militar e do ensino da engenharia no país.

UNIDADE II 51
O Positivismo

O progresso tecnológico experimentado a partir


do século XVIII origina-se na adoção do método
científico proposto por Galileu e resumido na
frase: “A natureza é como um livro que se lê com
caracteres matemáticos” (Galileu Galilei).

Conforme pudemos observar neste histórico da En-


genharia, da Antiguidade até o início do século XVII,
a atividade de construir e modificar o meio que nos
cerca, buscando o conforto e a melhoria da qualida-
de de vida da espécie humana seguiu, sempre, uma
perspectiva naturalista guiada por um fio condutor
racionalista na interpretação dos fenômenos naturais.
Essa perspectiva filosófica deixa claro que a
Engenharia seguiu, sempre, os passos da razão,
descoberta na Grécia antiga, trazendo à tona os
princípios da ciência e da metafísica. Observando
racionalmente a natureza, o ser humano foi capaz
de construir verdadeiras maravilhas, roteiro que se
interrompeu na Idade Média, período em que a ra-
zão se submeteu à religião. Tal submissão tornou o
conhecimento uma propriedade de uma instituição,
que dele se serviu para progredir e dominar, dei-
xando que o restante se submetesse à degradação.
EMPIRISTAS
Bacon O novo despertar da razão e a revolução científica
ocorreram com o Iluminismo, entre os séculos XVII
e XIX. A revolução científica se dá pelo embate entre
racionalistas e empiristas. O empirismo é represen-
tado por Bacon (1561-1626), Locke (1632-1704) e
Locke Hume Hume (1711-1776), que acreditavam que a única
Figura 6 - Bacon, Locke e Hume (empiristas) fonte de conhecimento é a experiência (Figura 6).

RACIONALISTAS
Descartes (1596-1650) e Leibniz (1646-1716) re-
presentavam o racionalismo e propunham que o
conhecimento se caracterizava por ideias inatas,
Descartes Leibniz
e a metodologia a ser aplicada deveria ser sempre
o questionamento metódico e crítico das fontes
Figura 7 - Descartes e Leibniz (racionalistas) de conhecimento (Figura 7).

MÉTODO
CIENTÍFICO
Apesar do embate metodológico, empirismo-ra-
cionalismo, os resultados são tentativas de traçar
modelos para a natureza.
Deve-se a Galileu (1564-1642) (Figura 8) a combi-
Galileu
nação das duas metodologias, resumidas, a seguir,
Figura 8 - Galileu Galilei como “método científico”.

UNIDADE II 53
Kant Comte

Figura 9 - Immanuel Kant e Crítica da Razão Pura Figura 10 - Augusto Comte

Passos do método científico (segundo Galileu): O conceito de mente estruturadora, com refe-
• Conceber uma ideia (razão); rências objetivas, passou a ser um importante pa-
• Montar uma experiência (empirismo) e radigma filosófico que, combinado com o avanço
traduzi-la em caracteres matemáticos (ra- científico da época, levou a perspectivas de refor-
zão e empirismo); mulação social e progresso expressas por Augusto
• Observar os resultados (empirismo) e Comte (1798-1857) em seu positivismo (Figura 10).
compará-los com as hipóteses (razão e Comte acreditava na reforma da sociedade
empirismo); pela reformulação das mentes e pela revolução
• Formular leis (empirismo e razão). científica. Teríamos uma revolução pacífica, li-
derada por especialistas educados pelo método
Nesse contexto, a ciência passou por um progresso científico.
tão grande que trouxe à baila importantes ques- Os positivistas propõem que a teoria seja for-
tões filosóficas, que aparecem no trabalho de Kant temente baseada na prática com a matematiza-
(1724-1804), em sua obra seminal Crítica da Ra- ção das experiências, sem problematizar qualquer
zão Pura (Figura 9). questão a respeito do conhecimento.
O ponto central da contribuição de Kant é Esse foi o mote para a criação de um grande
a separação estabelecida entre o conhecimento número de escolas de engenharia em todo mundo,
e a metafísica, retomando o conceito de sujeito, entre 1700 e 1900, com a crença de que o apren-
estabelecido por Descartes e a possibilidade de dizado matemático, suportado por leis e regras
estabelecer um sujeito associado a um conheci- vindas da experimentação, criaria uma sociedade
mento objetivo. mais livre e independente, vivendo com conforto.

54 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas


Embora, no âmbito militar, já houvesse educação des Ponts et Chaussées (Escola de Engenharia
em engenharia para oficiais graduados, a possi- Civil) que se diferenciava da École Polytechnique
bilidade da ampliação de sua metodologia para por formar especialistas em problemas de Enge-
aplicações do cotidiano, no contexto aqui descrito, nharia, independentemente de modelos sociais.
levou à criação de Escolas de Engenharia para a Era o Positivismo transformando os enge-
população civil, voltada para as elites sociais a nheiros de operários e artífices da construção em
serem convertidas em lideranças das reformas. protagonistas das mudanças sociais do mundo
Vários cientistas franceses, tais como Poisson, moderno.
Navier, Coriolis, Poncelet e Monge, contribuíram
para a definição de uma abordagem tecnológica,
com fundamento científico, resultando na funda-
ção, em Paris, em 1794, da École Polytechnique O Positivismo teve forte influência na Engenharia
(Escola Politécnica), que tinha como finalidade do século XVIII, levando a Ciência para a práxis
formar lideranças para o novo modelo social a tecnológica. Para conhecer uma interessante
ser implantado. visão do assunto, acesse o link: <http://vivianes.
Entretanto, em 1747, havia sido criada, tam- blogspot.com/2011/04/discussao-sobre-
bém na França, aquela que é considerada a pri- abordagem-positivista.html>.
meira Escola de Engenharia do mundo, a École

UNIDADE II 55
O Positivismo e as
Escolas Politécnicas

O método científico de Galileu e a postura de


busca da verdade na natureza são os principais
responsáveis pelo progresso da Engenharia. O
positivismo incentivou o ensino da técnica, aliada
à ciência, desenvolvendo o ensino da Engenharia
em todo mundo, no século XIX.

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia,


nesse período, em áreas como extração de miné-
rios, siderurgia e metalurgia, além das construções
de pontes e canais, foi notável, trazendo como
consequência a necessidade do amplo domínio
dessas áreas.
Essa necessidade foi responsável pela criação
das três primeiras escolas de Engenharia fora do
âmbito militar:
• École des Ponts et Chaussées, fundada em
1747, na França, de caráter prático e vol-
tada para as construções;
• École Polytechnique, fundada em 1794, rando o panorama brasileiro, pode-se afirmar que
na França, de caráter mais teórico e des- a primeira Escola de Engenharia não-militar foi a
tinada à formação de pesquisadores em Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876, no mes-
Engenharia; mo padrão da École de Mines de Paris, atendendo
• École de Mines, fundada em 1783, na Fran- os interesses da Monarquia e voltada à exploração
ça, de caráter prático e destinada à explo- das riquezas minerais de nosso território.
ração de recursos minerais. No Rio de Janeiro, instalou-se, em 1858, a Es-
cola Central, de origem militar (Academia Real
É a Engenharia, vista agora como profissão dig- Militar), destinada exclusivamente à formação de
na de respeito intelectual e aliada ao Positivis- engenheiros militares e de um pequeno número
mo, que levou à disseminação das chamadas de civis, ligados à elite monarquista.
Escolas Politécnicas, na Europa e na América Em São Paulo, os últimos anos do século XIX
do Norte. assistiam ao grande crescimento econômico, ori-
São exemplos disso as Escolas Politécnicas de ginário da cultura do café. Os jovens das famílias
Praga (1806), Viena (1815), Kerlsruche (1825), cafeeiras iam para a Europa realizar seus estudos.
Munique (1827). Entre as escolas europeias, a de Entre esses jovens abastados estava Antônio
maior importância foi a de Zurique (1854). Nos Francisco de Paula Souza (1843-1917) (Figura 11)
Estados Unidos, os principais exemplos são o Car- que estudou Engenharia na Alemanha e na Suíça.
negie Institute of Technology (1905), o Califórnia De volta ao Brasil, com espírito liberal e republi-
Institute of Technology (1919) e o MIT - Massa- cano, aboliu a escravatura em suas propriedades
chusetts Institute of Technology (1865). antes da Lei Áurea e, contagiado pelo Positivismo,
De uma maneira geral, eram institutos eliti- sonhou a criação de uma escola de Engenharia
zados e voltados para as bases do positivismo: que promovesse o progresso tecnológico e eco-
formar os dirigentes da nova sociedade. Conside- nômico da população brasileira.

Figura 11 - Antônio Francisco de Paula Souza Figura 12 - Teodoro Sampaio


Fonte: Instituto de Pesquisas Tecnológicas ([2017], on-line)1. Fonte: Engenheiro de Vida (2014, on-line)2.

UNIDADE II 57
Aliado a Teodoro Sampaio (Figura 12), apresen- Duas outras Escolas Politécnicas foram cria-
tou seu projeto de Escola à Assembleia Legislativa das no Brasil dentro do movimento positivista:
do Estado de São Paulo, sendo diariamente com- Bahia (1897) e Pernambuco (1912). As Escolas
batido por Euclydes de Cunha que, em artigos Politécnicas, a Escola Central do Rio de Janeiro e
publicados em importante jornal paulista, quali- a Escola de Minas são responsáveis por muito do
ficava o projeto de mirabolante e desnecessário. progresso experimentado pelo Brasil no século
Como consequência, o projeto de Paula Souza XX, servindo de modelo e de suporte para outras
e Teodoro Sampaio foi reprovado em sua primeira excelentes escolas hoje existentes.
proposição. Depois de dois anos de trabalho e Nesta unidade, apresentamos como a Enge-
negociações, a Assembleia Legislativa de São Pau- nharia passou a adotar os conhecimentos cien-
lo regulamentou, em setembro de 1893, a Escola tíficos em suas atividades de natureza tecnoló-
Politécnica de São Paulo. gica, dando início às atividades de formação dos
Outro grupo positivista brasileiro importante primeiros Engenheiros, inicialmente no âmbito
surgiu no Rio Grande do Sul e fundou a Escola militar e, posteriormente, no civil.
de Engenharia de Porto Alegre, em 1896. Essa Um resumo histórico do aparecimento das
escola forneceu parte significativa dos quadros primeiras escolas de Engenharia no Brasil e
técnicos das secretarias e agências do estado nas no mundo mostrou a atividade do Engenheiro
décadas seguintes, notadamente da Secretaria dos como elemento transformador da natureza, em
Negócios e de Obras Públicas. benefício da sociedade.

Para saber mais sobre Engenharia e Positivismo no Brasil, leia Positivistas e republicanos: os professores
da Escola de Engenharia de Porto Alegre entre a atividade política e a administração pública (1896-
1930) de Flávio Heinz, disponível em: <http://observatory-elites.org/wp-content/uploads/2011/11/
Heinz-Positivistas-e-republicanos.pdf>.

58 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. As pirâmides do Egito foram construídas por:


a) Escravos dos faraós.
b) Extraterrestres.
c) Sacerdotes.
d) Trabalhadores assalariados.
e) Escravos estrangeiros.

2. Os teatros gregos servem de modelo para:


a) Projetos de residência.
b) Projetos de estádios.
c) Projetos de salas de estudo.
d) Projetos de tribunais de júri.
e) Projetos de áreas de recreação.

3. Na Grécia e Roma Antigas, a concepção das construções era feita por:


a) Senadores.
b) Imperadores.
c) Engenheiros.
d) Pintores.
e) Arquitetos.

4. Os dispositivos mecânicos desenvolvidos na Antiguidade, fundamentados na


geometria, foram:
a) Roldanas e catapultas.
b) Roldanas e balões aferidos.
c) Guindastes e catapultas.
d) Carregadores e roldanas.
e) Moinhos e válvulas hidráulicas.

59
5. (MACKENZIE) - Sendo de 180 m3 por minuto a vazão de uma cascata e tendo a
água a velocidade de 4 m/s, qual a potência hidráulica desenvolvida por essa
cascata?

6. Nos séculos XVI e XVII, o progresso da Engenharia é, majoritariamente, devido:


a) À construção de estradas entre reinos.
b) Às grandes navegações.
c) À independência das nações americanas.
d) Ao comércio de especiarias entre a Europa e a América.
e) À construção de redes de esgotos.

7. A primeira escola militar brasileira foi estabelecida em:


a) Pernambuco.
b) São Paulo.
c) Bahia.
d) Rio de Janeiro.
e) Rio Grande do Sul.

8. Para o empirismo, a única fonte legítima de conhecimento é:


a) O cérebro humano.
b) Qualquer rede de neurônios.
c) O universo dos números.
d) A experiência.
e) O raciocínio lógico.

9. São representantes da filosofia empirista:


a) Locke, Hume e Bacon.
b) Locke, Descartes e Bacon.
c) Descartes, Hume e Bacon.
d) Locke, Hume e Kant.
e) Kant, Descartes e Galileu.

60
10. A filosofia racionalista diz que a única fonte legítima de conhecimento é:
a) A experiência.
b) O raciocínio.
c) As leis religiosas pré-estabelecidas.
d) Os escritores consagrados.
e) O trabalho braçal.

11. Os principais filósofos representantes do Racionalismo foram:


a) Leibniz e Cauchy.
b) Einstein e Descartes.
c) Galileu e Leibniz.
d) Eistein e Bohr.
e) Leibniz e Descartes.

12. O método científico de Galileu é:


a) Empirista.
b) Racionalista.
c) Religioso.
d) Uma combinação de Empirismo com Racionalismo.
e) Baseado nas Sagradas Escrituras.

13. As primeiras escolas de engenharia não-militares foram criadas na:


a) Inglaterra.
b) França.
c) Noruega.
d) Suíça.
e) Holanda.

61
14. O grande progresso da Engenharia no século XIX se deve:
a) Ao ensino de filosofia.
b) Ao ensino de literatura.
c) Ao ensino aliando teoria e prática.
d) Ao trabalho de campo.
e) À disciplina nas escolas militares.

15. A Escola de Engenharia de Ouro Preto foi criada para desenvolver:


a) Os transportes.
b) A construção de moradias.
c) A geração de energia.
d) A exploração de recursos minerais.
e) A agricultura.

62
LIVRO

Ensino de Engenharia: do positivismo à construção de mudanças para o


século XXI
Autor: Fernando Schnaid, Milton Antônio Zaro, Maria Izabel Timm
Editora: UFRGS-Editora
Sinopse: o livro é uma coletânea de artigos organizados pelo núcleo de ensino
de Engenharia da UFRGS. Seu conteúdo é dividido em dois grandes blocos:
Parte I – A formação de engenheiro: desafios históricos culturais e filosóficos;
Parte II – Tecnologias educacionais e ensino a distância e seu uso no ensino de
Engenharia.
Comentário: textos de excelente qualidade, úteis para o jovem estudante e
para o orientador em Engenharia.

63
BUNGE, M. Matéria e Mente. São Paulo: Perspectiva, 2017.

SCHANAID, F.; ZARO, M. A.; Timm, M. I. Ensino de Engenharia: do positivismo à construção das mudanças
para o século XXI. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2006.

PIQUEIRA, J. R. C. Reflexões sobre história do ensino de Engenharia. Porvir: Inovações em Educação, 2014.
Disponível em: <http://porvir.org/reflexoes-sobre-historia-ensino-de-engenharia/>. Acesso em: 13 nov. 2017.

REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: < http://www.ipt.br/institucional/campanhas/12personalidades_ipt___antonio_francisco_de_paula_
souza.htm>. Acesso em: 10 nov. 2017.
2
Em: < http://engenheirodevida.blogspot.com.br/2014/11/uma-homenagem-aos-engenheiros-negros.html>.
Acesso em: 10 nov. 2017.

64
1. D

2. B

3. E

4. A

5. 24 000 W

6. B

7. C

8. D

9. A

10. B

11. E

12. D

13. B

14. C

15. D

65
66
Dr. José Roberto Castilho Piqueira

Engenharia:
do Positivismo
à Integração

PLANO DE ESTUDOS

As Modalidades Divisão
de Engenharia de tarefas

Divisão de tarefas, Uma divisão Integração


divisão de aceitável de tarefas
competências

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Discutir como, ao longo do século XX, a Ciência se com- • Discutir possíveis divisões de tarefas nas áreas: Projeto,
partimentou e como a Engenharia seguiu os mesmos Execução, Operação e Manutenção.
caminhos. • Discutir de maneira genérica como a construção de um
• Mostrar a proliferação de denominações, de divisões e conjunto habitacional envolve as diversas modalidades
subdivisões, que influenciou a prática da Engenharia e da Engenharia.
afetou o desempenho profissional.
• Discutir como as modalidades podem ser agrupadas em
grandes áreas: Civil, Mecânica, Elétrica e Química.
Divisão de Tarefas,
Divisão de Competências

Cientistas contribuem para o entendimento da


natureza; Engenheiros, para modificá-la, em be-
nefício do ser humano.
O século XX inicia-se com o amadurecimento das
engenharias Civil e Mineral e a emergência das
engenharias Elétrica e Mecânica.

Em nossas discussões anteriores, insistimos em


apresentar a atividade de Engenharia como trans-
formadora da natureza, em benefício da espécie
humana, e relatamos o fato de que, no final do
século XIX, a atividade de formação e ensino das
técnicas de construção, obtenção de materiais e
de industrialização marcaram o início do reco-
nhecimento profissional do Engenheiro.
Vamos, então, nos aprofundar melhor no en-
tendimento da função do engenheiro, tentando
distingui-la daquela exercida pelo cientista, em-
bora a proximidade e superposição entre elas seja, rodeia. No entanto, desenvolver a competência e
de maneira geral, inevitável. o discernimento do engenheiro só é possível com
A divisão natural/artificial, com a qual nos seu bom entendimento dos fenômenos físicos,
acostumamos desde nossa infância, pode ajudar químicos e biológicos.
nessa distinção. Grosseiramente, consideramos Os Físicos estudam do que a matéria é com-
natural aquilo que encontramos à nossa volta posta, quais são as leis de interação entre as partes
cujas existência e formação dependeram, apenas, da matéria e como a energia manifesta-se, trans-
de fenômenos da natureza, sem a influência do forma-se e se conserva. Já os Químicos, com o
homem. Por artificial, consideramos aquilo que conhecimento da Física, estudam como a matéria
encontramos e que, de alguma maneira, seja re- se agrupa e se transforma, alterando a composição
sultado da ação humana. Um riacho, no meio da de elementos e substâncias, natural ou artificial-
floresta, é um objeto natural (Figura 1a); um cór- mente. Biólogos, munidos da Física e da Química,
rego canalizado, artificial (Figura 1b). estudam a formação dos seres vivos, animais ou
Manter a riqueza e a biodiversidade das águas plantas, de maneira geral. Isto é, cientistas olham
e florestas é tão fundamental para o ser humano para os objetos procurando respostas sobre como
como canalizar um córrego, viabilizando a vida eles se formaram, de que são feitos e como se com-
urbana saudável. Esse é o principal papel do en- portam. Engenheiros olham para os objetos pen-
genheiro moderno: saber discernir entre o pre- sando em como combiná-los para a obtenção de
servar e o transformar, respeitando a vida que nos novos objetos e sistemas, úteis à sociedade.

Figura 1a – Riacho Figura 1b - Córrego canalizado

UNIDADE III 69
As ciências, à medida que aprofundaram seus A Engenharia Civil, com suas construções, pon-
conhecimentos, foram se fragmentando ao lon- tes, estradas, sistemas de abastecimento de águas
go dos séculos XIX e XX: a Física em Mecâ- e coletas de esgoto (Figura 2a) e a Engenharia
nica Clássica, Eletromagnetismo, Estrutura da Mineral, trabalhando a exploração e a obten-
Matéria, Cosmologia, Relatividade, Mecânica ção das riquezas minerais, transformando-as
Quântica, a Química em Orgânica, Inorgânica, em matérias para as mais variadas finalidades
Bioquímica, Físico-Química, Química Analí- (Figura 2b).
tica, a Biologia em Citologia, Histologia, Ge- Um fenômeno ocorrido no século XIX foi a
nética, Fisiologia, Botânica, Zoologia. Enfim, chamada Revolução Industrial, originária do uso
o conhecimento científico humano progrediu da máquina a vapor nas indústrias e nos trans-
e se acumulou em tal quantidade e qualidade portes, automatizando processos de produção e
que não há cérebro capaz de, nem ao menos, criando meios de transporte de massas (Figura 3).
enumerar todos os ramos. As máquinas térmicas, representadas pelos traba-
A Engenharia, filha da Ciência e sua discí- lhos de Sadi Carnot (1796-1832), aproveitavam os
pula, passou pelo mesmo processo. No início da conhecimentos da Termodinâmica e, acrescidas
fase em que, além dos militares, os civis passaram das máquinas simples (polias, talhas, alavancas)
a estudá-la (final do século XVIII e início do usadas nas construções, foram o embrião do que
século XIX), havia apenas duas modalidades. se chama hoje de Engenharia Mecânica.

Figura 2a - Engenharia Civil: Ponte Figura 2b - Engenharia Mineral: Mina de ouro

70 Engenharia: do positivismo à integração


Figura 4 - Michael Faraday

Figura 3 - Locomotiva a vapor

A descoberta do fenômeno da indução eletromag-


nética, por Michael Faraday (1791-1867) (Figura
4), é outro marco importante na engenharia do
final do século XIX.
A possibilidade da obtenção de correntes elétri-
cas por variação de fluxo magnético, sem conexão
física entre circuitos, permitiu o desenvolvimento
das máquinas elétricas, da geração de grandes blo-
cos de energia elétrica e da transmissão de sinais
à distância. Chegamos, então, aos primórdios da Figura 5a - Engenharia Elétrica – Energia
engenharia elétrica de Energia (Figura 5a) e de
Comunicações (Figura 5b).
Começa, então, o século XX com marcantes di-
visões de trabalho: entre a Ciência e a Engenharia,
o entendimento e a modificação da natureza. Na
Ciência: a Física e a Química dos objetos não vivos,
a Biologia, ocupada com a vida. A Engenharia, com
a Mecânica e a Elétrica desprendendo-se da Civil e a
Mineral, aprimorando seus processos metalúrgicos.

Figura 5b – Engenharia Elétrica: Comunicações

UNIDADE III 71
As Modalidades
de Engenharia

O século XX foi o século da especialização, que


gerou grande progresso tecnológico nas diversas
áreas da Engenharia. A seleção de conquistas do
século XX, proposta por Neil Armstrong, permite
entender a presença das diversas modalidades
da Engenharia na civilização moderna.

O século XX assistiu uma hiper especialização


em todas as áreas do conhecimento. Novas pro-
fissões surgiram, e a Engenharia passou a receber
um grande número de adjetivos. Essa especiali-
zação, embora tenha gerado grandes progressos,
afastou-nos das Ciências básicas, trazendo perdas
para nossa formação. Entretanto falaremos disso
no decorrer de nosso percurso pelas próximas
unidades.
Falando um pouco em primeira pessoa, consi-
dero a imensa quantidade de adjetivos utilizados
(Civil, Ambiental, Sanitária, Mecânica, Mecatrôni-

72 Engenharia: do positivismo à integração


ca, Elétrica, Eletrônica, Telecomunicações, Auto- Materiais de Alto
mação, Computação, Química, Metalúrgica, Ma- desempenho
teriais, Naval, Aeronáutica, Produção, Nuclear e
muitos outros) mera consequência de ações mer- Ligas metálicas com propriedades elétricas e me-
cadológicas e de reserva de mercado de trabalho. cânicas especiais (Figura 7), materiais cerâmicos e
Por essa razão, de agora em diante, falaremos materiais semicondutores são pertinentes ao traba-
das grandes conquistas da Engenharia no século lho dos Engenheiros Metalurgistas, Engenheiros de
XX, associando a elas possíveis denominações, ad- Microeletrônica, com forte suporte da Engenharia
jetivos e códigos, considerados irrelevantes, uma Química e da Engenharia Mecânica de Processos.
vez que a Engenharia é multidisciplinar na essên-
cia e se fundamenta no bom uso da Matemática,
da Física, da Química e da Biologia.
A maior conquista da Engenharia do século
XX foi, sem dúvida, a chegada do homem à Lua,
em 20 de julho de 1969 (Figura 6). As viagens
espaciais nos anos 60 eram o grande agende mo-
tivador dos jovens para a escolha da área de En-
genharia como profissão.
Neil Armstrong (1930-2012), primeiro homem
a pisar na Lua, em palestra realizada na Academia
Nacional de Engenharia, em 22 de fevereiro de
2000, apresentou vinte itens, considerados por ele
as grandes conquistas da Engenharia do século XX.
Apresentaremos esses pontos agrupados, co-
mentando-os brevemente e os contextualizando Figura 7 - Perfis especiais de aço
no universo de denominações da Engenharia ha-
bituais no Brasil.
Tecnologia Nuclear

Diferente do que popularmente se apregoa, a tec-


nologia nuclear é de grande valia para o homem,
não só na geração de energia (Figura 8a) como
na fabricação de fármacos (Figura 8b) relacio-
nados ao tratamento de doenças graves, além, é
claro, das tecnologias relativas a imagens médicas
e odontológicas.

Figura 6 - Neil Armstrong em selo comemorativo

UNIDADE III 73
Para regulamentar e dirigir o uso dessas tecnolo-
gias na área da saúde, a formação em Engenharia
Biomédica é adequada. Engenheiros Civis se en-
volvem na construção de fundações e edifícios de
contenção para os reatores. Engenheiros Mecâni-
cos e Eletricistas projetam os sistemas de troca de
calor e energia.
Cabe aos Engenheiros Químicos e de Materiais
os projetos relativos aos chamados combustíveis
nucleares, que são o ponto de partida dos me-
canismos energéticos. Em algumas
escolas de Engenharia estrangeiras
e brasileiras, há a habilitação
de Engenharia Nuclear, com
noções básicas das Enge-
nharias citadas, enfati-
zando o projeto, insta-
lação e manutenção das
plantas nucleares. Essa
é uma área de grande
atuação dos Físicos,
que desenvolveram
lasers potentes e al-
tamente controláveis
(Figura 9a).

Figura 8a - Tecnologia nuclear: núcleo de um reator

Figura 8b – Tecnologia nuclear: Fármaco.

74 Engenharia: do positivismo à integração


Os Engenheiros Eletrônicos e Biomédicos conce-
beram, a partir deles, equipamentos hospitalares
e odontológicos (Figura 9b) de grande precisão.
Na área de Telecomunicações, os lasers, alia-
dos às fibras ópticas, mudaram o mundo da in-
formação, a partir do trabalho dos Engenheiros
Eletrônicos e de Telecomunicações.
Não podemos deixar de citar que, dada a pre-
cisão necessária para a construção das antenas e
dos dispositivos ópticos, a atuação da Engenharia
Mecânica foi, também, de grande importância.

Figura 9a – Laser Controlável

Figura 9b - Laser Odontológico

UNIDADE III 75
Tecnologias de Petróleo e Tecnologias de Saúde
Gás
Engenheiros Mecânicos, Eletricistas e Biomédicos
Os combustíveis fósseis foram, e ainda são, os res- constroem equipamentos hospitalares, como res-
ponsáveis pela matriz energética mundial. En- piradores, tomógrafos, laparoscópios, equipamen-
genheiros Civis projetam, constroem e operam tos de ressonância magnética, instrumentos de
instalações de exploração e refino. No final do medição e instrumentos cirúrgicos, complemen-
século XX, a exploração de petróleo “off-shore” tando e facilitando o trabalho dos profissionais de
passou por um grande desenvolvimento, empre- saúde (Figura 11a).
gando um grande número de Engenheiros Navais Materiais sofisticados para próteses e órteses
no projeto, construção e operação de plataformas (Figura 11b) são desenvolvidos por Engenheiros
(Figura 10). Mecânicos e de Materiais, salvando vidas e recupe-
rando funções perdidas por acidentes ou doenças.

Figura 11a - Equipamento de respiração mecânica

Figura 10 - Plataforma de Petróleo Figura 11b - Implante de titânio em fratura


O armazenamento, refino e obtenção das composi- Os Engenheiros Biomédicos e de Computação
ções especificadas para os combustíveis é trabalho têm obtido sucesso na construção de dispositivos,
dos Engenheiros Químico. A cadeia produtiva do fundamentados em inteligência artificial, para a
setor de petróleo e gás tornou-se tão sofisticada que recuperação de funções perdidas por lesões me-
Engenheiros de Produção e Logísticas executam tra- dulares.
balhos de alta sofisticação metodológica para a área.

76 Engenharia: do positivismo à integração


Eletrodomésticos, Ar con- Tecnologia de Imagens
dicionado e Refrigeração,
Rádio e TV Tomografias, ultrassom, PET-Scan passaram a ser
correntes na vida dos médicos. Técnicas e algorit-
Liquidificadores, batedeiras, fornos de micro-on- mos, desenvolvidos por Engenheiros de Compu-
das, ventiladores, aparelhos de ar condicionado, tação e Biomédicos, proporcionam diagnósticos
fogões sofisticados, aparelhos de TV, computa- precisos, por técnicas não invasivas (Figura 13a).
dores pessoais, máquinas de lavar fazem parte Os mesmos algoritmos invadiram a arte e o
do mundo moderno, sendo impensável viver sem entretenimento, levando a precisão extrema do
eles (Figura 12). processamento digital de sinais aos dispositivos de
São produtos da criatividade e da Engenharia, fotografia e filmagem de uso corrente (Figura 13b).
que mistura a Eletricidade com a Mecânica, in-
dustrializados em larga escala.

Figura 13a – Diagnóstico

Figura 13b - Câmera fotográfica

Figura 12 - Eletrodomésticos

UNIDADE III 77
Internet Forno de micro-ondas, Velcro, GPS e lentes
de contato nasceram nas pesquisas aeroespaciais,
Iniciada por uma rede militar estratégica dos Esta- voltadas para as viagens. Até mesmo o tratamen-
dos Unidos (Arpanet), mudou a vida das pessoas, to para a osteoporose recebeu relevante contri-
proporcionando acesso ao mundo da informação buição proveniente da análise de tripulantes das
em um simples apertar de botão (Figura 14). viagens.
Engenheiros, Físicos, Matemáticos, Cientistas
da Computação, Biólogos, Médicos, Economistas,
Juristas, Linguistas colocam o mundo do conhe- Automóvel e Sistema de es-
cimento à disposição de todos em sites, blogs e tradas de rodagem
redes sociais.
Relações de amizade se refazem, contatos com Os sistemas de estradas não são uma invenção
entes queridos distantes povoam o novo dia a dia do século XX, uma vez que já existiam desde a
das pessoas. Claro que estamos falando só do lado antiguidade, com os romanos. Entretanto o aper-
bom da tecnologia. A intriga, a mentira e a infor- feiçoamento da fabricação dos automóveis e seu
mação falsa estão fora da nossa análise. uso maciço como meio de transporte, criando
novos hábitos de mobilidade, proporcionou a
necessidade de estradas (rodovias) com pisos de
Exploração do Espaço alta qualidade e medidas de segurança efetivas.
A Engenharia Mecânica aprimorou os auto-
Embora não percebamos isso com clareza, muitas móveis (Figura 16) e a Engenharia Civil garantiu
das facilidades incorporadas ao nosso cotidiano a evolução da infraestrutura necessária para seu
tiveram origem nas viagens espaciais. uso (Figura 17).

Figura 14 – Internet (Figura conceitual) Figura 15 - Apolo 13

78 Engenharia: do positivismo à integração


Figura 16a – 1904 Figura 16b - 2017

Figura 17a - Rodovia de terra Figura 17b - Rodovia Moderna

Telefone

Soa jurássico, na época de celulares e tablets, lem- A qualidade de serviço da Engenharia de Te-
brar dos telefones fixos de uma única função. En- lecomunicações nos anos 60 era tão satisfatória
tretanto a evolução da telefonia no século XX foi que, nas principais cidades do mundo, imensos
decisiva para que as comunicações transformas- congestionamentos telefônicos passaram a ocorrer,
sem nosso planeta em uma aldeia global. por excesso de uso.Para aumentar a capacidade de
Até os anos 50, as ligações eram feitas manual- tráfego das linhas, os laboratórios Bell, de Nova
mente (Figura 18a), por telefonistas, com trans- York, conceberam a modulação digital PCM (Pulse
missão analógica, quando as centrais automáticas Code Modulation). O novo processo de modula-
cross-point eletromecânicas começaram a aparecer. ção, a miniaturização da Eletrônica e a evolução
Nos anos 60, houve uma evolução para as cen- dos computadores, levaram-nos, então, em menos
trais eletromecânicas de barras cruzadas (cros- de 20 anos, à integração total dos serviços de co-
s-bar) (Figura18b), transformando, para os pa- municação.
drões da época, a telefonia em confiável e rápido
meio de comunicação.

UNIDADE III 79
Computadores e Eletrônica

Na primeira metade do século XX, os circuitos


eletrônicos à válvula tiveram grande desenvolvi-
mento e impulsionaram a comunicação via rádio,
marcando o início das Engenharias Eletrônicas e
de Telecomunicações.
Além disso, máquinas de computação eletro-
Figura 18a – Central telefônica manual mecânicas, concebidas para a realização de cál-
Fontes: Davidin (2006, on-line)1.
culos relativos ao projeto da bomba atômica, em
Los Álamos -USA, deram início à implementação
efetiva de um computador universal (Máquina de
Turing - Figura 19a) (PIQUEIRA, 2016).
O célebre trabalho de von Neumann (Figura
19b), propondo a arquitetura do computador uni-
versal (VON NEUMANN, 1945) marca o início
da Engenharia da computação, nos moldes que
hoje conhecemos.
A invenção do transistor nos Laboratórios
Figura 18b – Central telefônica Barras cruzadas
Fonte: Museu das Comunicações ([2017], on-line)2. da Bell Telephone, por John Bardeen e Walter
Houser Brattain, em 1947, cuja viabilidade foi
demonstrada em 23 de dezembro de 1948, por
John Bardeen, Walter Houser Brattain e William
Bradford Shockley, além de garantir a seus in-
ventores o Nobel de Física, em 1956, deu início à
chamada era da microeletrônica.
A invenção dos circuitos integrados por Jack
Kilby, da Texas Instruments e Robert Noycem, da
Fairchild Semiconductor, em 1958, acelerou a mi-
Figura 19a – Estátua de Alan Turing (1912-1954) niaturização dos circuitos, transformando equi-
pamentos de telecomunicações e computadores
em sistemas cada vez mais compactos e amigáveis.
O resultado disso, aliado ao desenvolvimento
do processamento digital de sinais, está na mão
de toda a população, dada a praticidade dos dis-
positivos e seu baixo custo.

Figura 19b – John von Neumann (1903-1957)

80 Engenharia: do positivismo à integração


Figura 20 – O EMBRAER 190:
Aviação Projetado e Fabricado no Brasil

Falar de aviões emociona os brasileiros. Imedia-


tamente pensamos em Alberto Santos Dumont
(1873-1932), que, em 1906, realizou um voo con-
trolado com seu Oiseau de Proie III.
Se foi o primeiro ou não, não é objeto deste tex-
to. A verdade é que nós, brasileiros, temos vocação
para a Engenharia Aeronáutica e nos orgulhamos
do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e
da EMBRAER (Figura 20), instituições de renome
mundial nessa sofisticada área tecnológica.

Mecanização da Lavoura

Durante o século XX, as máquinas agrícolas e


a tecnologia agropecuária se desenvolveram a
ponto de trabalhar com dispositivos totalmente
automatizados em suas diversas tarefas: preparo
do solo, semeadura, colheita e armazenamento.
Inicialmente, a Engenharia Agrícola teve
como principal parceira a Engenharia Mecânica
desenvolvendo tratores, arados e colhedeiras. O
desenvolvimento da Engenharia de Automação
acrescentou à Engenharia Agrícola processos au-
tomáticos otimizados aos tipos de máquinas já
existentes e, além disso, proporcionou novas má-
quinas autônomas que, trabalhando com extrema
precisão, controlam níveis e composição de solos.

O desenvolvimento da automação agrícola em


nosso país é digno de nota. Uma visita ao site
da EMBRAPA – Instrumentação (https://www.
embrapa.br/instrumentacao) proporcionará
uma visão das principais ferramentas disponíveis
para a modernização e otimização dos processos
produtivos.

UNIDADE III 81
Abastecimento de Água e
Eletrificação

O abastecimento de água, conforme já vimos, é ob-


jeto da Engenharia de Construção desde a Roma
antiga. No século XX, houve um grande progresso
no tratamento e potabilidade da água. É disso que
Armstrong falou: como a Engenharia Química e a
Engenharia Ambiental aliaram-se à Civil, criando
processos e sistemas de abastecimento de água em
quantidade e adequada para as diversas tarefas es-
senciais à vida (Figura 21).
Além da água, outro fator que garante a vida é
a energia. No século XX, desenvolveu-se a trans-
missão de energia elétrica em corrente alternada,
que garantiu a eletrificação maciça dos sistemas de
energia (Figura 22).
Assim, terminamos esta sessão, esperando que as
ideias de Neil Armstrong tenham servido de amos-
tra dos saltos da Engenharia, no século XX. Deve-
mos entender, entretanto, que essa é apenas uma
visão geral e que a Engenharia progride diariamente,
tentando seguir o expressivo progresso das Ciências.

Pense em como sua moradia foi construída e em


como você vive nela. Que modalidades de Enge-
nharia você é capaz de identificar?

Tenha sua dose extra de


conhecimento assistindo ao
vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.

Figura 22 - Linha de transmissão

82 Engenharia: do positivismo à integração


Figura 21 – Estação de tratamento e reciclagem de água

O discurso de Neil Armstrong foi a base do texto


que você acaba de ler. Você poderá assisti-
lo na íntegra no site disponível em: <https://
www.rmastri.it/spacestuff/neil-armstrong/neil-
armstrongs-speech-on-engineering-in-the-20th-
century-2000/>.

UNIDADE III 83
Uma Divisão
Aceitável

As modalidades de Engenharia podem ser agru-


padas em quatro grandes áreas: Civil, Mecânica,
Elétrica e Química. As modalidades Aeronáutica,
Naval, Mecatrônica, Minas e Naval são combina-
ções de grandes áreas. A Engenharia de Produ-
ção perpassa as diversas modalidades, otimizan-
do as cadeias produtivas.

Conforme foi possível notar, o século XX foi carac-


terizado por um forte movimento no sentido da
divisão das diversas áreas da Engenharia e a cria-
ção de novas denominações, indicando especia-
lização e concentração em problemas específicos.
Esse movimento acelerou o progresso das
áreas, mas tirou do engenheiro sua visão genera-
lista e multidisciplinar. Nos centros tecnológicos
mais avançados, entretanto, essa verticalização
passou a ser questionada, principalmente quando
o computador passou a ser elemento facilitador
de tarefas repetitivas.

84 Engenharia: do positivismo à integração


A consequência é que o engenheiro, aliviado de de Telecomunicações, Engenheiro de Sistemas de
muitas tarefas de prancheta e de cálculos manuais, Potência, Engenheiro de Máquinas, Engenheiro
passou a olhar seus projetos de maneira mais glo- Biomédico a grande área Elétrica é responsável
bal e entendê-los como inseridos nos ambientes. pela geração, transmissão e distribuição da ener-
A principal evidência disso é o amplo sucesso gia elétrica nos locais em que for necessária.
da Engenharia de Produção, criada no Brasil, nos Além disso, é responsável pela infraestrutura
anos 50, que passou a formar profissionais de visão de comunicações, projetando, instalando, ope-
ampla da cadeia produtiva e de logística, desenvol- rando e mantendo sistemas que proporcionem as
vendo métodos eficientes de otimização e controle mais diversas formas de comunicação: voz, dados,
dos processos que envolvem industrialização. imagens, rádio, TV de maneira separada ou inte-
Uma proposta interessante, situada no ponto grada, visando sempre a um consumo mínimo
médio entre a especialização e a abordagem ge- de energia e à rapidez de respostas, nos proces-
neralista talvez seja a divisão da Engenharia em samentos de sinais.
quatro grandes áreas: Civil, Elétrica, Mecânica e A Engenharia Elétrica é também responsável
Química. pela fabricação de componentes (válvulas, resisto-
A Grande área Civil é responsável pelo projeto, res, capacitores, transformadores, indutores, tran-
construção, operação e manutenção das obras de sistores, circuitos integrados, microprocessadores)
infraestrutura essenciais para a vida produtiva e essenciais para a montagem de equipamentos dos
confortável. Sob as denominações Engenheiro mais variados tipos de indústria, desde os ele-
Civil, Engenheiro de Infraestrutura, Engenheiro trodomésticos e entretenimento até a indústria
Sanitarista, Engenheiro de Transportes, é respon- profissional, envolvendo alta tecnologia.
sável pelas moradias, praças, estádios, espaços ur- A grande área Mecânica é a modalidade que
banos, avenidas, ruas e estradas. recebeu um menor número de novas adjetivações.
Essa responsabilidade vai além do projeto e Apesar de títulos, como Engenheiro Mecânico,
da construção, estendendo-se à otimização do Engenharia Industrial, Engenharia Automobilís-
uso dos espaços naturais e criados, além de sua tica e Engenharia de Robótica, manteve suas três
preservação. É também de sua atribuição projetar, áreas clássicas: Máquinas, Energia e Fluidos.
construir, operar e manter os sistemas de abaste- Na área de máquinas, estão o projeto, fabrica-
cimento de águas e tratamento de esgotos, assim ção, operação e manutenção de máquinas, desde
como hospitais, portos e aeroportos. as operatrizes para fins industriais até os compo-
Em todas as atividades, a interação com as En- nentes de automóveis, navios e aviões. Já na área
genharias Elétrica e Mecânica, nas suas diversas de energia, o estudo do balanço energético dos
áreas, proporciona o devido provimento de ener- processos combina com o estudo dos fluidos, tan-
gia e de automação/instrumentação dos processos to para a finalidade de propulsão como para sim-
envolvidos. ples operação de aparelhos de ar condicionado.
Os portos devem ser trabalhados em conjunto A grande área Química carrega denominações,
com os Engenheiros Navais e os aeroportos, com como Engenheiro Químico, Engenheiro Meta-
os Engenheiros Aeronáuticos. Sob as denomina- lurgista, Engenheiro de Alimentos e Engenheiro
ções Engenheiro Eletricista, Engenheiro Eletrô- de Materiais sendo responsável por praticamente
nico, Engenheiro de Computação, Engenheiro tudo que nos rodeia.

UNIDADE III 85
Controle da qualidade do ar e da água, produ- Esta é apenas uma visão geral de uma tentativa
ção de fármacos e alimentos permitem que a vida de organizar o trabalho multidisciplinar do
se prolongue e tenha qualidade. Materiais cerâmi- engenheiro. A Engenharia é tão ampla que,
cos, metálicos e plásticos contribuem para fabricar certamente, a abordagem está incompleta.
brinquedos, instrumentos cirúrgicos, máquinas,
mobiliário e computadores. Além disso, adquiriu Você é capaz de identificar as modalidades de
importância fundamental no mundo moderno, Engenharia envolvidas na produção de energia
otimizando o processamento de resíduos e os elétrica, nas usinas nucleares?
reciclando, o que contribui decisivamente para a Resposta:
sustentabilidade. • Química, na obtenção do combustível.
Não se pode esquecer da Engenharia de Produ- • Metalúrgica, na obtenção dos materiais
ção, que começou na grande área Mecânica e, hoje, metálicos sofisticados do reator.
é fundamental em todas, garantindo design e custos • Mecânica, nos diversos tipos de transfor-
compatíveis com as necessidades das populações. mação e troca de energia.
É importante, também, ressaltar que há • Civil, na construção das fundações, prédio
modalidades que combinam grandes áreas. Por e contenção.
exemplo, a Engenharia Ambiental combina Civil • Elétrica, no projeto da turbina.
e Química, enquanto que as Engenharias Naval e
Aeronáutica juntam a infraestrutura da Civil com
as três áreas clássicas da Mecânica.
Outra modalidade híbrida é a Engenharia de
Automação e Controle, ou Mecatrônica, combi- Tenha sua dose extra de
nando Eletrônica, Computação, Mecânica, e Pro- conhecimento assistindo ao
dução transforma a Cibernética em realidade a vídeo. Para acessar, use seu
cada dia que passa (BENNATON, 1986). leitor de QR Code.

Finalmente, a Energia de Minas, iniciada no


século XVIII para o aproveitamento dos recursos
minerais, é hoje uma sofisticada combinação da
Engenharia Civil com a Engenharia Química.

Conforme você pode notar no texto desta sessão, o engenheiro tem sempre um leque amplo de
possibilidades de trabalho. No Brasil, a Engenharia é profissão regulamentada, seguindo normas do
CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia).
Para conhecer essa regulamentação, consulte: <http://normativos.confea.org.br/ementas/visualiza.
asp?idEmenta=266>.

86 Engenharia: do positivismo à integração


Divisão
de Tarefas

O trabalho, em todas modalidades de Engenha-


ria, apresenta tarefas típicas, como projeto, insta-
lação, operação e manutenção. Os diversos pro-
fissionais, de acordo com seus perfis, interesses
e oportunidades, optam por exercer uma delas
e, de acordo com as experiências adquiridas,
transitam entre elas.

Todas as modalidades de Engenharia possuem


um número muito grande de atividades diferen-
tes, ligadas ao seu exercício. Embora haja uma
certa semelhança entre as modalidades, para cada
uma delas há um conjunto diverso do ponto de
vista da natureza do trabalho.
Por essa razão, nas próximas sessões, que tratam
das modalidades em separado, essas atividades se-
rão descritas, caso a caso. Entretanto, neste ponto
da exposição, daremos uma ideia genérica dessa di-
visão de tarefas, a ser aprofundada posteriormente.

UNIDADE III 87
Construção ou Fabricação
Conforme discutido nesta sessão, o planejamen-
to e acompanhamento de projetos e obras são Toda construção ou fabricação deve ser gerencia-
decisivos para seu sucesso. O PMI (Project Ma-
da e acompanhada, para garantir a qualidade de
nagement Institute) é um órgão independente
que certifica engenheiros para essa atividade, sua execução, os prazos e os custos.
usando ferramentas de alto nível. Há, aqui, dois tipos de tarefas: a gerência do
Para saber mais sobre o PMI, visite o site: <https:// empreendimento, exercida a partir de programas,
search.pmi.org/default.aspx?q=PMO>. como PERT, COM, BIM ou PMO e o acompanha-
mento diário, in loco, de cada tarefa de construção
e montagem.
Via de regra, essas duas tarefas são exercidas
Especificação por pessoas diferentes e com perfis complemen-
tares, administrativo e construtivo.
Todo trabalho de Engenharia começa com uma
especificação que deve conter as características de-
sejadas para o produto ou obra. No caso de uma Operação
residência, por exemplo, onde se localiza e quais são
as dimensões do terreno? Qual a área construída O bom uso de um dispositivo, seja ele uma má-
desejada? Quantos cômodos e andares? Como são quina, uma estrada, um porto ou um aeroporto,
as redes de água, esgotos, energia e telefonia? Qual requer acompanhamento diário de engenheiros
o orçamento disponível? e técnicos, responsáveis por normas de operação
e atendimento, bem como leituras diárias de ins-
trumentos de medição de parâmetros críticos.
Projeto inicial

Esse trabalho define as características gerais da obra. Manutenção


Para uma residência: planta baixa com as localiza-
ções dos cômodos, dos pontos de energia, dos pon- As medições obtidas por operadores dão sinais
tos de TV e de Internet. Além disso, a distribuição de da necessidade de pequenos reparos preventivos
água, energia e rede de esgoto devem estar definidas. e de interrupções de uso para que o bem ou
equipamento não se deteriore. A isso se dá o nome de
manutenção preventiva, exercida e supervisionada
Projeto executivo por engenheiros.
Acidentes e funcionamentos inadequados ocor-
O trabalho a ser realizado nessa fase do processo rem, mesmo quando a manutenção preventiva é
consiste em definir todos os detalhes construtivos boa. Recuperar o bem ou equipamento danificado
ou de fabricação, a quantidade e qualidade do mate- é função dos engenheiros de manutenção corretiva.
rial a ser utilizado e seu custo associado, as diversas Essa é uma visão aproximada das funções co-
etapas a serem seguidas, bem como as pessoas e muns a todas as modalidades de engenharia. Os
custos envolvidos devem estar bem definidos em perfis pessoais dos engenheiros devem, em geral,
memoriais e cronogramas. ser compatíveis com suas funções.

88 Engenharia: do positivismo à integração


Integração
de Tarefas

O final do XX trouxe a reintegração das Ciências e


a verdadeira multidisciplinaridade. A Engenharia,
beneficiando-se dessa multidisciplinaridade e
das ferramentas de “Big Data”, chega ao século
XXI integrando modalidades e saberes.

No final do século XX e início do século XXI, com


a automação de um grande número de tarefas,
antes dos engenheiros, apareceram as ideias de
integração de tarefas e o consequente conceito
de Engenharia da Complexidade.
Para conceituar complexidade no contexto da
atividade de Engenharia, é necessário enfrentar o
significado conotativo atribuído à palavra, ao lon-
go dos anos. No dia a dia do Engenheiro, comple-
xo é tudo que apresenta dificuldades especiais em
relação à concepção, ao projeto, à montagem e à
operação. Por exemplo, uma ponte ou uma via ele-
vada é uma obra que pode ser de alta dificuldade.

UNIDADE III 89
Sua concepção inicia-se com necessidade de ligar Definido o traçado, há o projeto que envolve
dois locais separados por algum fator geográfico que alterações de uso do solo, com demolições, proce-
impede ou dificulta o trânsito de pessoas e veículos. dimentos de terraplenagem, definições de pisos e
Nessa fase, estão presentes fatores econômicos, bordas e o projeto executivo, prevendo o preparo
sociais, ambientais e financeiros que determinam dos materiais e máquinas, bem como os custos de
a localização e o custo máximo permitido que, mão de obra. Do papel para a realidade, tarefa di-
uma vez definidos, dão a partida para as primeiras fícil, com trabalho durante possíveis intempéries,
especificações da obra. com alterações de circulação de veículos e pessoas
Possíveis esforços naturais a serem suportados, no entorno dos canteiros de obra.
cargas permissíveis devidas ao tráfego e aos fato- Depois das inaugurações, discursos e cortes
res geométricos dão início aos cálculos. Esforços de fitas, há a operação e manutenção, com me-
solicitantes e possíveis variações atmosféricas dições que podem ser sofisticadas e ações que
proporcionam a definição dos materiais, vigas, podem influenciar a rotina diária de motoristas e
pilares, pavimentação e sustentação. usuários de transporte individual e coletivo. Mais
Em seguida, vem o projeto executivo. Todos os uma vez, usando a linguagem diária, conceber,
materiais e custos de mão de obra são detalhados projetar, construir e manter uma avenida é tarefa
para que a obra possa ser iniciada e comece a sair de complexidade considerável.
do mundo do papel. A construção é árdua e requer Essa ideia de complexidade, explorada nos dois
acompanhamento constante para sanar proble- exemplos, carrega a carga semântica da disjunção,
mas não previstos no projeto e que são inevitáveis isto é, o problema complexo da implantação de
durante o trabalho de implementação. uma ponte ou via elevada é visto como decom-
Pronta e inaugurada, a ponte ou via elevada posto em sequência de operações, realizadas por
precisa ser mantida, com medições constantes pessoas diferentes que executam tarefas aparen-
usando sensores de posição e de cargas. O resul- temente estanques e sem conexão.
tado dessa monitoração permite a prevenção e A ponte ou via elevada são vistas e estudadas
correção de falhas. como sistemas fechados. Suas interações com
Recorrendo ao sentido habitual da palavra, o entorno são compreendidas de uma maneira
todos concordarão que conceber, projetar, cons- probabilista, como se fossem responsáveis pelo
truir e manter uma ponte constitui um complexo imponderável, atribuindo-se a elas fatores de se-
problema de engenharia. gurança que, nem sempre, funcionam adequa-
Outro possível exemplo é o da concepção, do damente.
projeto, da construção e da operação de uma ave- A queda do elevado Paulo de Frontin (Rio de
nida ligando dois bairros de uma cidade, com o in- Janeiro) e o incêndio sob a ponte da Avenida San-
tuito de melhorar a mobilidade urbana. Definir o to Amaro (São Paulo) são exemplos ilustrativos
traçado da via é o ponto de partida, problema que dessa falha de abordagem.
pode envolver complicadas questões econômicas, Da mesma maneira, a construção da avenida,
sociais e ambientais. Não basta o conhecimento da qual a ponte ou via elevada podem fazer parte,
geométrico para essa tarefa: o planejamento ur- se for vista como sistema fechado pode trazer mais
bano, combinando tráfego de veículos e pessoas, prejuízos do que benefícios. Basta olhar o “Minho-
aliado ao atendimento das populações a serem cão” de São Paulo para entender o estrago urbano
deslocadas, são elementos essenciais nessa tarefa. causado por uma melhoria de tráfego.

90 Engenharia: do positivismo à integração


O pensamento complexo aparece em um con-
texto complementar ao da prática atual da enge-
nharia cujos sucessos poderiam ser enumerados
em todas as áreas da atividade humana. Trata-se
de adicionar aos trabalhos três novos pontos de
vista: as obras como sistemas abertos, a emergên-
cia de fenômenos resultantes das não linearidades
e o olhar da incompletude.
Assim, passamos a entender a Engenharia
da Complexidade como aquela que adiciona à
visão tradicional da disjunção e do fechamento
dos sistemas uma abordagem aberta, não linear e
com a incompletude em sua gênese. Apoia-se nas
conquistas e nos conhecimentos bem estabeleci-
dos, mas proporciona uma abordagem global e
transdisciplinar, trabalhando a noção de sistemas
(VON BERTALANFY, 1968).
Essa é a Engenharia do século XXI, integran-
do os mais variados conhecimentos científicos e
fazendo uso das ferramentas de “Big Data”, ori-
ginária da moderna Engenharia da Computação.
Caro(a) aluno(a), nesta unidade você viu como
a compartimentalização das Ciências e da Enge-
nharia, no século XX, levou a espécie humana às
conquistas tecnológicas com as quais convivemos
hoje. Além disso, percebeu como essas conquis-
tas remeteram-nos à reintegração dos diversos
compartimentos da Ciência e da Engenharia, con-
duzindo-nos a um século XXI de grandes pers-
pectivas para a preservação da vida e do planeta.

A integração das modalidades e saberes da


Engenharia da Complexidade chegou ao Brasil.
Para saber mais sobre isso, consulte: <http://
revistapesquisa.fapesp.br/2017/03/17/uma-
engenharia-mais-ampla/>.

UNIDADE III 91
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. A função do engenheiro, no final do século XIX, passa ser entendida por:


a) Entender profundamente a composição da matéria.
b) Descobrir como duas substâncias diferentes se combinam.
c) Entender a emergência de comportamentos em seres vivos.
d) Aplicar os conhecimentos científicos para modificar e combinar objetos da
natureza.
e) Propiciar ganhos econômicos em transações bancárias.

2. As principais Ciências Naturais são:


a) Biologia, Química e Física.
b) Matemática, Física e Química.
c) Biologia, Matemática e Sociologia.
d) Química, Biologia e Matemática.
e) História Natural, Matemática e Química.

3. A revolução industrial, ocorrida no Reino Unido, no século XIX está ligada à:


a) Geometria.
b) Química Orgânica.
c) Termodinâmica.
d) Eletricidade.
e) Indução Eletromagnética.

4. A descoberta do fenômeno da indução eletromagnética contribuiu para o de-


senvolvimento das:
a) Pontes metálicas.
b) Comunicações.
c) Estruturas de navios.
d) Máquinas térmicas.
e) Grandes máquinas industriais.

92
5. Assinale a afirmativa correta:
a) A chegada do homem à Lua não ocorreu, sendo uma farsa teatral do governo
americano.
b) A exploração do espaço não trouxe benefícios para a espécie humana.
c) As tecnologias de processamento de imagens se desenvolveram durante a
corrida espacial.
d) A existência de vida em outros planetas do Sistema Solar está comprovada.
e) Em Marte, a existência de energia hidráulica de quedas d´água contribui para
a existência de vida.

6. O domínio da tecnologia nuclear contribui positivamente para o:


a) Desenvolvimento das telecomunicações.
b) Desenvolvimento da vida em outros planetas.
c) Desenvolvimento de computadores mais rápidos.
d) Desenvolvimento de produtos de beleza.
e) Desenvolvimento de fármacos.

7. A Engenharia de Petróleo combina:


a) Engenharia Civil, Mecânica e Química.
b) Engenharia Nuclear, Sanitária e Metalúrgica.
c) Engenharia Mecânica, Elétrica e Aeronáutica.
d) Engenharia Elétrica, Mecânica e Química.
e) Engenharia Naval, Nuclear e Mecânica.

8. Assinale a afirmativa correta:


a) Os primeiros sistemas de abastecimento de água foram construídos no século
XX.
b) As primeiras estradas foram construídas na Roma antiga.
c) A telefonia digital começou a se desenvolver em 1 900.
d) A precisão nas imagens médicas depende de como a Anvisa vistoria a
aparelhagem.
e) A máquina de Turing foi desprezada por John von Neumann.

93
9. A grande área Civil é responsável por:
a) Geração de Energia.
b) Construção de navios.
c) Provimento de materiais cerâmicos.
d) Construção de estradas.
e) Construção de dispositivos de troca de energia em usinas.

10. As comunicações digitais tiveram origem:


a) Na eletrônica, combinada com a computação.
b) Na mecânica dos fluidos.
c) Nos trabalhos filosóficos dos gregos.
d) Na construção automatizada de edifícios.
e) Nas redes sociais, como facebook e twitter.

11. As três áreas clássicas da Engenharia Mecânica são:


a) Energia, circuitos elétricos e fluidos.
b) Máquinas, energia e fluidos.
c) Fluidos, construção e máquinas.
d) Máquinas, tintas e software.
e) Hardware, fluidos e software.

12. Duas atividades essenciais para a vida fazem parte da grande área Química:
a) Qualidade do ar e computação.
b) Alimentos e distribuição de água.
c) Alimentos e Qualidade do ar.
d) Alimentos e redes de esgotos.
e) Alimentos e computação.

94
13. No projeto executivo de uma obra ou equipamento:
a) É necessário fornecer apenas o custo da mão de obra.
b) Não há necessidade de apresentar cronograma.
c) Todos os custos envolvidos devem constar, com o maior nível de detalhamento
possível.
d) Os dados relativos ao consumo de energia são desnecessários.
e) Caso a obra seja uma residência, os dados das fundações são irrelevantes.

14. Assinale a afirmativa correta:


a) PERT e CPM são ferramentas computacionais relativas à operação de bens ou
de equipamentos.
b) PERT e CPM são ferramentas computacionais relativas à manutenção de bens
ou de equipamentos.
c) Para fiscalizar a qualidade da execução de uma obra, o engenheiro necessita
de um cronograma.
d) Para fiscalizar a qualidade da execução de uma obra, o engenheiro deve ter
um perfil detalhista.
e) A tarefa de manutenção preventiva não requer medições de parâmetros.

15. Assinale a afirmativa correta:


a) Sistemas complexos são aqueles difíceis de entender.
b) A Engenharia só estuda sistemas não complexos.
c) Projetar um sistema complexo é desnecessário para o homem.
d) Sistemas complexos são lineares.
e) Sistemas complexos são não lineares.

95
LIVRO

Introdução à Engenharia - Modelagem e Solução de Problemas


Autor: Jay B. Brockman
Editora: LTC
Sinopse: introdução à Engenharia - Modelagem e Solução de Problemas mostra
como os profissionais resolvem problemas no dia a dia, provendo os engenheiros
do conhecimento essencial que precisam para ter sucesso. Brockman utiliza os
conceitos básicos de matérias como matemática, ciência e física para resolver
os problemas que surgem no exercício da profissão - desde a estabilidade de
uma plataforma off-shore de petróleo à maneira mais eficiente de fornecer água
a comunidades carentes. Os capítulos da primeira parte deste livro discutem a
representação e a resolução de problemas, abrangendo engenharia e sociedade
e organização e representação de sistemas de engenharia. Já a segunda parte
trata dos projetos baseados em modelos matemáticos da engenharia, usando
para isso leis da natureza e modelos teóricos, análise de dados e modelos empí-
ricos e modelagem da relação entre os componentes de um sistema (estruturas
leves), entre outras ferramentas. Por fim, o pacote computacional MATLAB é o
assunto da terceira parte, com a apresentação das ferramentas necessárias para
implementar os modelos apresentados na segunda parte desta obra.

96
BENNATON, J. O que é Cibernética. São Paulo: Editora Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 1986.

PIQUEIRA, J. R. C. Complexidade computacional e medida da informação: caminhos de Turing e Shannon.


Estudos Avançados, v. 30, p. 339-344, 2016.

______. Reflexões sobre história do ensino de Engenharia. Porvir: Inovações em Educação, 2014. Disponível
em: <http://porvir.org/reflexoes-sobre-historia-ensino-de-engenharia/>. Acesso em: 13 nov. 2017.

SCHANAID, F.; ZARO, M. A.; TIMM, M. I. Ensino de Engenharia: do positivismo à construção das mudanças
para o século XXI. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2006.

VON NEUMANN, J. First draft of a Report on EDVAC. Moore School of Electrical Engineering, University
of Pennsylvania, 1945.

VON BERTALANFFY, L. General System Theory: Foundations, Development, Applications. New York: George
Braziller Inc., 1968.

REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://www.davidin.com/central-telefonica-i/>. Acesso em: 14 nov. 2017.
2
Em:<http://macao.communications.museum/por/exhibition/secondfloor/MoreInfo/2_6_5_2_
EricssonARF503.html>. Acesso em: 14 nov. 2017.

97
1. D

2. A

3. C

4. B

5. C

6. E

7. A

8. B

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11. B

12. C

13. C

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15. E

98
99
100
Dr. José Roberto Castilho Piqueira

Engenharia Civil

PLANO DE ESTUDOS

Engenheiro Civil no Escritório As áreas de Engenharia Civil

O Engenheiro e o Arquiteto Engenheiro Civil na Obra Construção Sustentável

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Discutir e esclarecer os pontos de atribuição de atividades • Apresentar as diversas questões relacionadas à Engenha-
de Engenheiros Civis e Arquitetos, ressaltando a aborda- ria Civil: Materiais, Hidráulica, Estruturas e Transportes.
gem cooperativa. • Trabalhar os problemas ambientais das obras bem como
• Mostrar como se trabalha em um escritório de projetos, discutir escolhas de materiais mais econômicos e duráveis.
com ênfase nas ferramentas computacionais disponíveis.
• Descrever as diversas atividades concernentes a uma obra
civil, estendendo a discussão de relacionamentos huma-
nos com operários e auxiliares.
O Engenheiro e
o Arquiteto

A denominação “Engenharia Civil” foi cunhada no


século XVIII, indicando que a Engenharia como
atividade profissional deixava de ser exclusiva
da formação militar.
No começo do século XX, a modalidade profis-
sional “Engenheiro-Arquiteto” adquire grande
importância na consolidação das concepções de
cidades e moradias. Em meados do século XX,
a Arquitetura torna-se profissão distinta da En-
genharia Civil. As atividades em Engenharia Civil
realizam-se, predominantemente, em campo,
exigindo do profissional a habilidade de liderança.

Qualquer atividade construtiva humana é pro-


duto do conhecimento adquirido e da experiên-
cia individual ou coletiva, conforme você pode
observar nas nossas unidades anteriores.
A espécie humana, durante séculos, aprendeu
e aprimorou a Engenharia, exercendo a prática
construtiva, desde a antiguidade. O saber cons-
truir teatros, moradias, praças, sistemas de trans- recém-criada Escola Politécnica à constituição
porte e de abastecimento de água não era ensina- do curso de Engenheiro-Arquiteto, iniciado em
do sistematicamente. Mestres de obras aprendiam 1894 e extinto em 1954 (FICHER, 2005). O pri-
com a natureza, passando suas competências e meiro Engenheiro-Arquiteto formado por esse
habilidades durante o trabalho. curso foi João Moreira Maciel (1899). O des-
Os conhecimentos sistematizados de Enge- taque do corpo docente era o Engenheiro-Ar-
nharia começaram a ser cultivados nas academias quiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo,
militares para, basicamente, garantir expansão formado pela École Spéciele du Genie Civil et
e manutenção de poderes. Esse era o panorama des Arts Manufactures da Universidade de Gan-
vigente, em meados do século XVIII: o ensino de d-Bélgica, em 1878.
Engenharia adquire qualidade e prestígio, mas é, Além de lecionar, Ramos de Azevedo mante-
essencialmente, militar. ve ativo o escritório de Arquitetura, responsável
Essa é a origem da denominação Engenharia por obras emblemáticas da cidade de São Paulo,
Civil: os progressos obtidos pela aplicação das como o teatro municipal (Figura 1) e o edifício
metodologias científicas às construções dos am- dos correios.
bientes rurais e urbanos passam a transcender o
mundo Militar, sendo ensinados em escolas que
admitem a presença da população civil.
A primeira dessas escolas foi a École des Ponts
et Chaussées, fundada em 1747, na França, de
caráter prático e voltada para as construções de
moradias e cidades. Por essa razão, a Engenharia
Civil é considerada muito ampla. Construir re-
quer alicerces, materiais, estrutura adequada às
condições ambientais, provimento de energia,
abastecimento de águas, tratamento de esgotos
e, tratando-se de um espaço urbano, garantia da
Figura 1 – Teatro Municipal – São Paulo
possibilidade de movimentação das populações.
Assim progrediu a Engenharia até o início
do século XX, adjetivada como Civil, com o
progresso tecnológico trazendo as novas subdi-
visões e modalidades já destacadas nos capítulos
2 e 3 de nosso curso.
Uma questão relevante a ser pontuada é que
toda obra ou intervenção urbana combina as-
pectos tecnológicos, sociais e estéticos. Assim,
no início do século XX, uma nova profissão
emergiu no âmbito da Engenharia Civil: o En-
genheiro Arquiteto.
No Brasil, o explosivo desenvolvimento Figura 2 – Obras de Ramos de Azevedo (Pinacoteca – São
urbano ocorrido em São Paulo levou a então Paulo)

UNIDADE IV 103
O progresso da modalidade de Engenheiro-Ar- de Engenharia Civil, ocorreu em meados do
quiteto foi bastante notável no início do século século XX, em todo o mundo, consolidando
XX, consolidando a Arquitetura como carreira a ideia de que o viver bem não está associa-
profissional específica, que agregou o urbanismo do apenas à qualidade técnica das obras, mas
como uma de suas atribuições adicionais. também a aspectos estéticos, humanos e sociais
Um dos mais eminentes egressos da Escola relevantes.
Politécnica de São Paulo, Luiz Ignácio de Anhaia A Engenharia Civil passa a ter um crescimen-
Melo, formado Engenheiro-Arquiteto, em 1913, to considerável nos aspectos relativos à tecno-
liderou a concepção do curso de Arquitetura e logia, com grande aprofundamento de conheci-
Urbanismo que passou a ser ministrado, então, na mento em várias áreas, todas com fortes ligações
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), com outras modalidades e com a arquitetura e
da Universidade de São Paulo, criada em 1948. o urbanismo.
O prédio da FAU-USP, localizado na cidade Entre essas áreas, destacam-se: o cálculo estru-
universitária de São Paulo, projetado por João Ba- tural, a geotécnica, os transportes, a hidráulica, a
tista Vilanova Artigas, também egresso da Escola construção e o planejamento urbano. Em todas
Politécnica, foi um marco para a transformação elas há a atividade de projeto, realizada em escri-
do ensino, pois buscava que seu interior (Figura 3) tórios, mas as atividades, como edificação, fiscali-
fosse um espaço de integração e aprendizado ativo. zação, operação e manutenção são realizadas em
O movimento de criação de Escolas de Ar- campo, exigindo, além do conhecimento técnico,
quitetura e Urbanismo, destacadas dos cursos a capacidade de liderança.

Figura 3 – Interior do prédio da FAU-USP

104 Engenharia civil


Engenheiro Civil
no Escritório

Nos escritórios de engenharia dos órgãos pú-


blicos, são definidas as especificações técnicas
e financeiras das obras públicas necessárias. Já
nos escritórios das empresas de engenharia, são
realizados os projetos funcionais e executivos.

O exercício da Engenharia Civil demanda ati-


vidades que se realizam em vários tipos de am-
bientes predominantes: escritórios, laboratórios
e canteiros de obras. No ambiente de escritório,
normalmente são executadas atividades de plane-
jamento e projeto. Em escritórios de prefeituras e
órgãos governamentais, são discutidas as políticas
públicas e sua implementação, especificando as
características técnicas e de custos desejáveis para
as obras públicas, fixando-se editais para concor-
rências e seu julgamento.
Nos escritórios de projeto das empresas de En-
genharia, são definidas, a partir de levantamentos
de campo e especificações técnicas, as característi-
cas gerais funcionais da obra, sua disposição física

UNIDADE IV 105
e localização, bem como os custos esperados de • Pisos a serem utilizados;
material e mão de obra. • Revestimentos de paredes;
Nesse mesmo ambiente, são executados, • Tipos de tijolos;
também, os chamados projetos executivos que, • Projeto da cobertura e telhado;
de maneira detalhada, apresentam as listas de • Planejamento da fundação;
materiais, as dimensões dos compartimentos, os • Pias e louças dos banheiros e cozinha;
detalhes de fundação e de inserção no ambiente. • Localização e quantidade de lâmpadas,
Por exemplo, o primeiro passo para definir um interruptores e tomadas;
projeto de uma residência é determinar suas • Localização e definição dos encanamentos
funcionalidades: para uma residência sem so- de água e esgoto.
fisticações, 3 quartos, sala cozinha, banheiro e
garagem, o projeto funcional pode ser dado pela De posse do projeto executivo é que o engenheiro
planta da Figura 4. da obra pode iniciar seu trabalho de supervisão
O projeto executivo relativo ao desenho da da execução e de garantia do cumprimento das
Figura 4 consiste, entre outras definições, de: especificações.

Figura 4 – Exemplo de planta baixa


Fonte: adaptado de Thiago Surmani.

106 Engenharia civil


Vamos juntos esboçar alguns pontos do projeto Aparentemente, a tecnologia computacional
de sua residência: mais utilizada é a chamada Building Information
• Como é a planta baixa? Modeling - BIM, um processo de modelagem
• Como é a cobertura? 3D que permite visualizar e realizar os projetos
• Que pisos foram utilizados? de arquitetura e engenharia, monitorar a cons-
• Como são as pias e louças? trução, com ferramentas adicionais eficientes
• Como foram passados os fios elétricos? de planejamento e controle de construção de
• Como é o encanamento? edifícios e obras de infraestrutura.

Tenha sua dose extra de


conhecimento assistindo ao
As ferramentas BIM são, nos dias de hoje,
vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code. essenciais para o bom projeto e gerenciamento
de uma obra. Saiba mais no link disponível
em: <http://www.au.pini.com.br/arquitetura-
O desenvolvimento da informática e da engenha- urbanismo/208/artigo224333-2.aspx>.
ria de software trouxe para a Engenharia Civil
um progresso considerável na disponibilidade
de ferramentas computacionais para projeto e
acompanhamento de obras.

UNIDADE IV 107
Engenheiro Civil
na Obra

Respeito e incentivo aos operários são qualida-


des essenciais para o engenheiro de obras. Ele
deve ser cuidadoso e detalhista, para garantir a
qualidade do trabalho.

O engenheiro de obras é aquele que transforma


em realidade o objeto projetado. Para isso, algu-
mas características pessoais devem fazer parte de
sua personalidade. A primeira delas é a de ser um
indivíduo cuidadoso e detalhista, que não pode
deixar de notar qualquer detalhe construtivo, du-
rante o curso da obra, garantindo a qualidade.
Além disso, deve estar sempre atento aos proce-
dimentos de segurança dos operários, evitando
possíveis acidentes.
Essa interação com operários requer que o
engenheiro seja capaz de manter bom relaciona-
mento com seus subordinados, respeitando-os e
incentivando o trabalho de qualidade e em equipe
(Figura 5).

108 Engenharia civil


O início do trabalho é um bom estudo do projeto para o engenheiro de obras é que ele deve conhe-
executivo, verificando se tudo está bem especifi- cer a metodologia de estocagem dos materiais e
cado realizando a partir dele um planejamento de de administração do almoxarifado (Figura 6),
métodos e etapas da construção. poupando custos desnecessários.
O projeto executivo permite ao engenheiro de
obras a quantificação dos materiais a serem utili-
zados. De posse desse dado, o engenheiro poderá
adaptar a compra dos materiais ao cronograma
físico-financeiro, otimizando o uso dos recursos Ser engenheiro de obras requer, além do
disponíveis. Além disso, cabe ao engenheiro de conhecimento técnico, qualidades humanas,
obras garantir a correção e eficiência dos proces- como capacidade de relacionamento e de
sos, evitando o desperdício de materiais. conduta cuidadosa. O site, a seguir, contém
Nos dias de hoje, é essencial que o engenheiro informações relevantes sobre esses aspectos
de obras zele pela reutilização e reciclagem dos da vida do engenheiro: <http://techne.pini.com.
materiais no canteiro, praticando a economia e br/engenharia-civil/161/artigo286729-1.aspx>.
a consciência ambiental. Outro ponto relevante

Figura 5 – Trabalho em equipe (obra) Figura 6 – Almoxarifado de uma obra

UNIDADE IV 109
As Áreas de
Engenharia Civil

A Engenharia Civil rodeia-nos e constrói obras


de infraestrutura fundamentais para o conforto
humano. Aeroportos, portos, pontes, viadutos,
praças, barragens nascem nas pranchetas dos
escritórios e são construídos, melhorando a vida
do ser humano a cada dia.

Até aqui, apresentamos a Engenharia Civil em seus


aspectos mais simples e próximos da nossa vida co-
tidiana. Entretanto ela está presente em praticamen-
te todas as atividades humanas, uma vez que está
ligada à infraestrutura vital para o mundo moderno.
Vou tentar explicar isso falando um pouco do
domingo de um paulistano típico. Peço que os habi-
tantes de outras cidades ou estados não se ofendam.
Não se trata de prepotência ou mania de grandeza,
mas da descrição de uma experiência pessoal.
Nós sabemos que todos os brasileiros torcem
pelo Corinthians, metade a favor e metade contra.
Sou do primeiro grupo e, morando no Brooklyn

110 Engenharia civil


paulista, resolvi assistir a uma partida dele no
Itaquerão ou Arena-Corinthians. Começo con-
sultando o Google Maps, que me dá a seguinte
informação: a distância da minha casa à Arena é,
seguindo de automóvel pela Avenida Radial Leste
(Figura 7), de 30,3km (tempo estimado de 58min)
ou, seguindo pela Marginal Tietê (Figura 8), de
47,4km (tempo estimado de 1h e 3min).
Nesse momento, eu me dou conta de que a
Zona Leste, onde se concentra uma grande po-
pulação que, em geral, trabalha em outras regiões
da cidade, exigiu das administrações da cidade a
construção de grandes obras viárias. O complexo
de viadutos da Radial Leste é uma obra prima de
infraestrutura de transportes (Engenharia Civil),
partindo do centro da cidade, segue radialmente,
margeando todos os bairros da nossa Zona Leste,
de acordo com cuidadoso trabalho de planeja-
mento urbano (também Engenharia Civil).
Outra obra prima da Engenharia Civil são as Figura 7 – Radial Leste
Marginais Pinheiros e Tietê, atravessando toda a
cidade, de Leste a Oeste, passando pelo seu centro
e dando acesso às Zonas Norte e Sul. Porém o
Google Maps, também uma maravilha da Geo-
désia, indica que os engenheiros de logística de
trânsito da cidade indicam outra solução: ônibus
e metrô em 1h43min. Opto pelo metrô (Figura 9)
e chego à Arena (Figura 10), observando a alegria
dos torcedores.
Durante a viagem, fico pensando na engenha-
ria de estruturas envolvida no projeto das estações
e na via subterrânea. Além disso, na construção e
na concretagem das paredes e na logística dos pla-
nejadores das linhas. No estádio, impossível não
admirar a estrutura e a qualidade da construção.
O Timão perdeu, mas eu voltei para casa feliz com
a engenharia brasileira, elegante e competente,
mesmo sujeita a tantas manobras escusas.
Vocês podem dizer: e as Engenharias Elétrica
e Mecânica necessárias para o passeio? Falarei
delas nas próximas unidades. Figura 8 – Marginal Tietê

UNIDADE IV 111
Figura 9 – Arena Corinthians

Figura 10 – Metrô – São Paulo

O provimento de energia elétrica, no Brasil, deve-se, essencialmente, ao seu potencial hidrelétrico.


Para o bom aproveitamento desse potencial, a construção de barragens é mandatória. O site, a
seguir, contém importante trabalho sobre essas barragens: <http://www.ipea.gov.br/portal/index.
php?option=com_content&view=article&id=19703>.

112 Engenharia civil


Construção Sustentável

A cadeia produtiva da construção civil é impor-


tante agente consumidor de recursos da natu-
reza e contribui de maneira considerável para o
efeito estufa.

A cadeia da construção civil, constituída por ci-


dades, estradas e novas edificações é quem mais
extrai riquezas da natureza, que vão terminar em
edifícios, rodovias e outras obras, produzindo um
impacto ambiental significativo (JOHN, 2000).
Os resíduos de construções e demolições são da
ordem de 500 quilos por habitante, anualmente,
representando volume maior que o de lixo urbano
domiciliar e de escritórios.
Embora tímidas, algumas ações têm sido to-
madas, no Brasil. Existem exemplos de evolução
tecnológica, como o concreto de alta resistência,
muito mais ecoeficiente.
Na década de 1960, quando a indústria do aço
aumentou a resistência do produto, surgiram os
tipos CA 50 e CA 60, que provocaram expressiva
diminuição nos diâmetros dos pilares. O mesmo

UNIDADE IV 113
aconteceu quando se trocou o tijolo maciço pelo moderno. Além disso, a questão da sustentabi-
tijolo furado, fazendo com que o peso das paredes lidade da cadeia produtiva da construção civil
caísse de 200 para 120 quilos por metro quadrado. foi abordada.
Além disso, ao se fabricar cimento, produz-se
uma quantidade considerável de CO2, aumentan-
do o efeito estufa. A Figura 11 mostra a variação
do percentual dessas emissões, ao longo do tempo.
Assim, fica claro o efeito das obras de constru-
ção e extração de matérias-primas na destruição O professor Vanderley M. John é importante
da fauna e da flora. A água, também usada em pesquisador na área de construção sustentável.
abundância na construção civil, é, para o planeta Você pode encontrar o trabalho por ele
como um todo, produto escasso e caro, requeren- apresentado como tese de livre docência no
do cuidado e preservação. link: <http://www.ietsp.com.br/static/media/
Nesta unidade, discutimos a Engenharia Ci- media-files/2015/01/23/LV_Vanderley_John_-_
vil e sua importância para a construção da in- Reciclagem_Residuos_Construcao_Civil.pdf>.
fraestrutura necessária para a vida do homem

10,0

8,0
CO2 Cimento (%)

Brasil
6,0

4,0
Global
2,0

0,0
1920 1940 1960 1980 2000

Ano

Figura 11 – Evolução histórica da participação da indústria de cimento na geração mundial de CO2


Fonte: John (2000).

114 Engenharia civil


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. A denominação “Engenharia Civil” designa, originalmente, a atividade de:


a) De construção dos sistemas de distribuição de energia.
b) De realização de obras coordenadas por oficiais de exército.
c) De montagem de pontes.
d) De realização de obras coordenadas por engenheiros não militares.
e) De realização de vendas de habitações.

2. Os profissionais denominados Engenheiros-Arquitetos eram responsáveis:


a) Somente aspectos estéticos das obras.
b) Somente por aspectos sociais das obras.
c) Por aspectos econômico-financeiros das obras.
d) Somente pela fachada dos edifícios.
e) Por aspectos estéticos e estruturais dos edifícios.

3. Nos dias de hoje, considera-se como área da Engenharia Civil:


a) O saneamento básico.
b) O planejamento energético.
c) O projeto de uma máquina.
d) O estabelecimento de uma linha de produção.
e) A produção de materiais cerâmicos.

Para as próximas três perguntas, considere a planta a seguir:

115
ÁREA DA CASA = 72,32m²
8.00
ÁREA EXTERNA = 33,40m²

ÁREA TOTAL = 108,72m²

VARANDA

11.43
2.10 2.25 2.85 3.45

2.90
COZINHA QUARTO QUARTO
9.20

2.90

6.59
3.30
SALÃO

BANHO
2.25 BANHO SUÍTE

2.00 1.20 1.20 2.50

Fonte: (<http://www.tudoconstrucao.com/wp-content/uploads/2015/03/Planta-Baixa.jpg>).

4. A relação entre a área da casa e a área total é:


a) 80%.
b) 66%.
c) 72%.
d) 34%.
e) 100%.

5. A área total dos quartos vale:


a) 18,27 m2.
b) 10,95 m2.
c) 18,00 m2.
d) 18,95 m2.
e) 5,95 m2.

116
6. A área do banheiro da suíte vale:
a) 4,7m2.
b) 8,9m2.
c) 9,1m2.
d) 2,7m2.
e) 2,0m2.

7. O conhecimento que o engenheiro de obras deve ter do projeto a ser executado:


a) Pode ser superficial.
b) É desnecessário.
c) Deve ser levado ao maior grau de detalhamento possível.
d) Pode ser conhecido no final da obra.
e) Serve apenas para o fiscal de obras.

8. Entre as atribuições do engenheiro de obras está:


a) O planejamento da rede telefônica.
b) O cumprimento dos prazos.
c) O planejamento urbano.
d) A precificação dos materiais.
e) O contato com o futuro usuário.

9. A Engenharia de Transportes é:
a) Um ramo da Engenharia Civil.
b) Um ramo da Engenharia de Materiais.
c) Um ramo híbrido: Civil-Logística-Materiais.
d) Um ramo da Engenharia de Produção.
e) Um ramo Híbrido Mecânica-Logística.

117
10. O planejamento urbano é uma atividade:
a) Exclusiva da Engenharia Civil.
b) Exclusiva da Arquitetura.
c) Híbrida Engenharia Civil-Produção.
d) Híbrida Engenharia Civil-Arquitetura.
e) Exclusiva da Câmara de Vereadores.

11. Os três principais fatores que fazem com que a indústria da construção civil
degrade o meio ambiente são:
a) Uso de recursos naturais, aumento da umidade relativa, consumo de petróleo.
b) Uso de recursos naturais, emissão de CO2 e uso da água.
c) Uso da água, emissão de CO2 e mudança da densidade do ar.
d) Aumento da umidade relativa, mudança da densidade do ar, uso da água.
e) Uso da água, emissão de CO2 e aumento da umidade relativa.

12. A mudança de tijolo maciço para tijolo vazado diminui o peso das paredes em:
a) 40%.
b) 66%.
c) 80%.
d) 60%.
e) 20%.

118
LIVRO

O desafio da sustentabilidade na construção civil


Autor: Vahan Agopyan e Vanderley M. John
Editora: Blucher
Sinopse: a Série Sustentabilidade surgiu a partir da análise do panorama his-
tórico com o início do conceito de desenvolvimento sustentável, formulado
pela Comissão Brundtland em 1970, até o evento da Agenda 21 com enorme
influência no mundo em todas as áreas, reforçando o movimento ambientalista.
A série, escrita por renomados pesquisadores nacionais que apresentam análises
do impacto do conceito de desenvolvimento sustentável no Brasil, é coordenada
pelo prof. José Goldemberg e tem como objetivo analisar o que está sendo feito
para evitar um crescimento populacional sem controle e uma industrialização
predatória, em que a ênfase seja apenas o crescimento econômico, bem como
o que pode ser feito para reduzir a poluição e os impactos ambientais em geral,
aumentar a produção de alimentos sem destruir as florestas e evitar a exaustão
os recursos naturais por meio do uso de fontes de energia de outros produtos
renováveis.
Neste Volume 5 - O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil, os auto-
res orientam o profissional sobre o tema e fornecem dados para permitir o
desenvolvimento de suas atividades, levando em consideração os aspectos da
sustentabilidade da construção, em particular a preservação do meio ambiente.
Comentário: a Engenharia Civil é essencial para o desenvolvimento da infraes-
trutura e deve ser tratada dentro dos padrões atuais de sustentabilidade. O
livro indicado traz considerações essenciais para o bom exercício do progresso
sustentável.

119
FICHER, S. Os Arquitetos da Poli. São Paulo: EDUSP, 2005.

JOHN, V. M. Reciclagem de resíduos na construção civil: Contribuição para metodologia de pesquisa e


desenvolvimento. São Paulo: EPUSP, 2000.

SCHANAID, F.; ZARO, M. A.; TIMM, M. I.  Ensino de Engenharia: do positivismo à construção das mudanças
para o século XXI. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2006.

120
1. D

2. E

3. A

4. B. Analisando os dados: área construída= 72,32m2 ; área total=108,72m2. Logo, a relação pedida é:
72,32/108,72 = 0,66 ou 66%.

5. A. Analisando a figura, a área total dos quartos vale: 18,27 m2, obtidos por: (2,85+3,45)*2,90.

6. D. Analisando a figura, a área do banheiro da suíte vale: (2,25.1,20) = 2,7m2.

7. C

8. B

9. C

10. D

11. B

12. A. De acordo com o texto, a diminuição foi de (200-120)/200 = 0,4 ou 40%.

121
122
Dr. José Roberto Castilho Piqueira

Engenharia Elétrica

PLANO DE ESTUDOS

A descoberta de Faraday Ondas Eletromagnéticas

Energia Elétrica como Corrente contínua x Fontes de Energia


Energia Intermediária corrente alternada

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Mostrar que a Energia Elétrica é a modalidade mais eco- • Discutir a controvérsia e o papel de Tesla no desenvolvi-
nômica para prover as populações de suas necessidades mento dos aparatos elétricos.
energéticas para a vida. • Descrever a evolução da rádio difusão para Internet.
• Mostrar como o domínio do fenômeno da “Indução Ele- • Apresentar as fontes de energia disponíveis e suas van-
tromagnética” mudou a sociedade. tagens e desvantagens na conversão em energia elétrica.
A Energia Elétrica como
Modalidade Intermediária

A energia elétrica é uma modalidade de energia


que permite a distribuição de grandes quantida-
des de energia, de maneira eficiente e econômica.
Sistemas de comunicação são análogos aos siste-
mas sensoriais dos seres vivos. Computadores tive-
ram sua arquitetura inspirada no cérebro humano.

Você é capaz de imaginar o que aconteceria com a


sua cidade se a rede de distribuição de energia elétrica
caísse por uma semana? Alimentos pereceriam; ci-
rurgias, exames e tratamentos hospitalares parariam,
levando hospitais ao colapso; meios de comunicação
e computadores esgotariam suas baterias, silenciando
a troca de informações; sem contar todos os outros
inconvenientes, como escuridão e mau funcionamen-
to dos sistemas de abastecimento de água.
Nos dias de hoje, é difícil conceber o cotidiano
sem energia elétrica. Esse é um panorama que se
iniciou nos primórdios do século XX, quando
houve a percepção de que o método mais eficiente
Figura 1 – A energia liberada pela fusão nuclear no Sol viaja até a Terra por ondas eletromagnéticas
Fonte: Carron, Piqueira e Guimarães (2017).

e econômico de levar energia para a população


é convertê-la em elétrica, distribuí-la e, no final,
reconvertê-la para as formas adequadas ao uso.
Na natureza, esse tipo de processo trouxe a vida
para a Terra. A fonte de toda energia aproveitada
em nosso planeta é o Sol, que a produz pelo pro-
cesso de fusão nuclear. Essa energia é convertida
em radiação, transmitida à Terra e transformada
nas diversas formas de energia, como a mecânica,
a química, a térmica e outras necessárias para a
geração e manutenção da vida (CARRON; PI-
QUEIRA; GUIMARÃES, 2017).
A radiação é uma combinação de campos
elétricos e magnéticos que, de maneira eficiente,
transmite a energia do Sol à Terra por ondas ele-
tromagnéticas (Figura 1).
Outro exemplo dessa estratégia encontrado na
natureza são os processos sensoriais e fisiológicos,
em nosso corpo, que ocorrem por intermediação
de campos elétricos e magnéticos. Tomando o
nosso tato para efeito de raciocínio, quando pas-
samos os dedos sobre uma superfície, as rugosi-
dades provocam ações elétricas nas terminações
nervosas de nossos dedos. Essas ações elétricas
Figura 2 – Representação da propagação de impulsos nervosos
são propagadas ao sistema nervoso central, pro- para o cérebro
duzindo as sensações de tato (Figura 2). Fonte: Carron, Piqueira e Guimarães (2017).

UNIDADE V 125
Ao imitar a natureza e utilizar a energia elétrica
como fonte intermediária, a espécie humana ex-
perimentou um grande progresso tecnológico,
tornando eficiente a transmissão de energia em
grandes quantidades.
Convertendo em energia elétrica, a energia
mecânica (Figura 3), a energia térmica (Figura
4), a energia eólica (Figura 5) ou nuclear (Figura
6) e usando linhas de transmissão para enviá-las
aos usuários, obtemos alta eficiência e qualidade
no provimento de energia às populações.
Adicionalmente, vivemos a era da rapidez do
processamento e da transmissão da informação,
iniciada pelos criadores da Cibernética: Norbert
Wiener, Alan Turing e John von Neumann e con-
solidada pela obra seminal de John von Neumann,
publicada, pela primeira vez, em 1958, propondo
uma arquitetura computacional análoga ao cére-
bro humano (VON NEUMANN, 1958).
É da engenharia dessas ações que esta unidade
trata: conversão e transmissão de energia, com-
putação e comunicações.

Para os engenheiros, eletricistas ou não, conhecer


a organização do setor elétrico brasileiro é
bastante útil, permitindo o entendimento das
possibilidades de uso da energia elétrica. Para
saber mais sobre essa análise, consulte o link:
<http://www.abradee.com.br/setor-eletrico/
visao-geral-do-setor>.

126 Engenharia elétrica


Figura 3 – Fonte mecânica

Figura 4 – Fonte térmica

Figura 5 – Fonte eólica

Figura 6 – Fonte Nuclear

UNIDADE V 127
A Descoberta de Faraday

Pieter van Musschenbroek concebeu um disposi-


tivo de armazenamento de energia elétrica.
Alessandro Volta, ao propor sua pilha elétrica,
deu início à ideia de corrente elétrica.
Ørsted e Ampère relacionaram a Eletricidade
com o Magnetismo.
A indução eletromagnética, descoberta por Fa-
raday, permitiu a conversão eletromecânica de
energia e as comunicações a distância.

Embora a Eletricidade fosse conhecida desde Ta-


les de Mileto, importante Filósofo e Matemático
que viveu entre 623 a.C. e 548 a.C., foi o engenhei-
ro Pieter van Musschenbroek (1692-1761) (Figu-
ra 7) que construiu, na Universidade de Leyden,
o primeiro dispositivo armazenador de energia
elétrica, que passou a ser chamado de “garrafa de
Leyden” (Figura 8a). O princípio da garrafa de
Leyden encontra-se, também, materializado no
gerador de Van Der Graaf, como podemos visua-
lizar na Figura 8b.

128 Engenharia elétrica


Figura 7 – Pieter van Musschenbroek Figura 8a – Garrafa de Leyden
Fonte: Wikmedia Commons ([2018], on-line)1. Fonte: COE (2000, on-line)2.

Figura 8b – gerador
de Van Der Graaf
Fonte: o autor.

UNIDADE V 129
Figura 9 – O início da Engenharia
Elétrica com Alessandro Volta

Figura 10 – Pilha de Volta

Entretanto vamos considerar como marco inicial


da Engenharia Elétrica a construção, por Alessan-
Figura 11 – Hans Christian Ørsted
dro Volta (Figura 9) (1745-1827), no ano de 1800,
Fonte: Wikimédia ([2017], on-line)3.
da chamada pilha de Volta (Figura 10).
A partir dessa construção, a eletricidade, até
então conhecida como um fenômeno estático,
passa a ser vista como um fenômeno dinâmico,
devido às correntes elétricas, e sua relação com
o magnetismo passa a ser explorada. Foi o físi-
co dinamarquês Hans Christian Ørsted (Figura
11) (1777-1851) que, em 1820, anunciou que as
correntes elétricas geram campos magnéticos,
interagindo com imãs.
O trabalho Ørsted foi seguido por André Marie
Ampère (Figura 12) (1775-1836), que formalizou,
matematicamente, os resultados experimentais e
demonstrou, também, que fios percorridos por
Figura 12 – André Marie Ampère correntes interagiam.

130 Engenharia elétrica


Figura 13 – O aparelho telegráfico

Apesar desse conhecimento inicial das relações


entre a Eletricidade e o Magnetismo parecer ru-
dimentar, permitiu a viabilização do código Morse
e do telégrafo elétrico (Figura 13), patenteado por
Samuel Morse (Figura 14) (1791-1872) em 1837.
Para o mundo tecnológico atual, o ano de 1831
é marcante. Nesse ano, Michael Faraday (1791-
1867) apresentou um artigo científico denomi-
nado “Experimental Researches in Eletricity” no
qual descreveu, pela primeira vez, o fenômeno da
indução eletromagnética.
Esse talvez seja o fato histórico mais relevante
para o modo de vida da sociedade atual, uma vez
que proporcionou dois desenvolvimentos tecno-
lógicos importantes: a possibilidade de conversão,
de maneira econômica, da energia mecânica em
elétrica e a possibilidade de comunicação, sem su-
porte material, pelo uso de ondas eletromagnéticas.

Figura 14 – Samuel Morse

UNIDADE V 131
São marcos iniciais da tecnologia do século XX: Os computadores ganharam poderosos al-
• A conversão de energia mecânica em elé- goritmos de controle e tratamento de sinais,
trica, viabilizando as construções de usinas executados com rapidez inimaginável e ad-
geradoras, como as mostradas na Figura quiriram imensa capacidade de memória em
3, levando ao desenvolvimento industrial espaços pequenos, invadindo até mesmo a
(Figura 15) e ao desenvolvimento do trans- Medicina.
porte por tração elétrica (16). Adjetivar os engenheiros eletricistas, hoje, é
• A possibilidade de transmissão de sinais à tarefa impossível: Máquinas Elétricas, Sistemas
distância, sem a necessidade de fios conduto- de Potência, Automação e Controle, Computa-
res, fazendo uso das ondas eletromagnéticas ção, Microeletrônica, Telecomunicações, Redes
geradas por variações de campos elétricos e Inteligentes, Engenharia Biomédica, Energia,
magnéticos variáveis no tempo, permitiu o Processamento de Imagens, Engenharia de
grande desenvolvimento das comunicações Software e tantos outros nomes que nos con-
(Figuras 17 e 18). Considera-se que esse mar- fundem. Todos nascidos na descoberta de Mi-
co tecnológico se deve a Guglielmo Marconi chael Faraday.
(1874-1937), que propôs o primeiro sistema
prático de telégrafo sem fios, em 1896.

Essas conquistas tecnológicas eram associadas


aos engenheiros eletricistas, até meados do sé-
culo XX, dividindo-os de maneira simplista em: A verdadeira Engenharia Eletrônica nasceu com
Eletrotécnicos, associados às máquinas e à dis- Michael Faraday. Se quiser conhecer a história
tribuição de energia, e Eletrônicos, associados às desse gênio da ciência e suas descobertas,
Telecomunicações. Porém os Físicos e Matemá- consulte: <http://www.ghtc.usp.br/Biografias/
ticos preparavam duas revoluções silenciosas: a Faraday/Faraday3.htm>.
miniaturização dos circuitos e o tratamento dos
problemas lógicos usando circuitos elétricos.

Figura 15 – Conversão Eletromecânica de Energia – Fábrica Automatizada

132 Engenharia elétrica


Figura 16 – Conversão Eletromecânica de Energia Tração Elétrica

Figura 17 – Telecomunicações Antenas de transmissão e recepção

Figura 18 – Telecomunicações Estação base de rede

UNIDADE V 133
Corrente Contínua X
Corrente Alternada

Geração de energia elétrica em grandes quanti-


dades deve ser em corrente alternada.
Transmissão de energia elétrica em grandes
quantidades à curta distância deve ser em cor-
rente alternada.
Transmissão de energia elétrica em grandes
quantidades à longa distância deve ser em cor-
rente contínua.

Os primeiros dispositivos elétricos utilizados


para as diversas aplicações, ainda no século XIX,
eram em corrente contínua, isto é, de correntes
elétricas mantidas constantes durante certo in-
tervalo de tempo. Isso se devia ao fato de as cor-
rentes elétricas, na época, serem provenientes de
geradores eletroquímicos.
O início do século XX viabilizou a construção de
geradores de corrente alternada, isto é, com corren-
tes elétricas variando de maneira senoidal, durante
certo intervalo de tempo. Isso se deveu, fundamen-

134 Engenharia elétrica


talmente, à geração de corrente elétrica a partir do movimento de
rotação de espiras em campos magnéticos (indução eletromagnética).
A Eletricidade começava a ser usada em larga escala na ilumi-
nação, nos transportes, nos eletrodomésticos, nas fábricas e nas
comunicações. Era o início de um negócio de alto lucro, e duas
tecnologias competiam: a de corrente contínua, defendida por Tho-
mas Edison (1847-1931) e a de corrente alternada, defendida por
George Westinghouse (1846-1914) com a tecnologia patenteada
por Nikola Tesla (1856-1943).
Como a disputa envolvia um negócio altamente promissor, o
grupo patrocinado por Edison tentou de todas as formas desacredi-
tar os trabalhos de Tesla, relacionados com a corrente alternada. Até
mesmo o apelo para o obscurantismo foi tentado. Edison sustentava
que a corrente alternada era “amaldiçoada”.
O engenheiro Harold Brown, patrocinado por Edison, eletrocu-
tou um cachorro diante de uma plateia exasperada, no Columbia
College, para provar o quanto a corrente alternada era perigosa.
Edison tentou associar o termo being electrocuted (ser eletrocutado)
à expressão ser “Westinghoused”.
Apesar de a corrente contínua ter se mostrado menos eficiente para
a geração de energia elétrica, Edison não se conformou com o fato e
patrocinou a execução de um elefante (Topsy) que, acidentalmente,
matara uma pessoa em um circo, em Coney Island. O esforço de Edison
em detratar a corrente alternada foi tal que patrocinou a invenção da
cadeira elétrica, por Harold Brown, em Nova York, tentando mostrar
que a letalidade da corrente alternada era maior que da contínua.
Em 6 de agosto de 1890, a tentativa de executar o condenado
William Kemmler, na cadeira elétrica, transformou-se em um triste
espetáculo de crueldade, pois, como os cálculos das tensões elétricas
não estavam corretos, vários choques sucessivos foram necessários
para a execução.

A polêmica corrente contínua (Edison) versus corrente alternada


(Westinghouse) foi bastante acirrada, pois envolvia possíveis ganhos
com a eletrificação das cidades, tendo sido chamada de guerra das
correntes. Você pode saber mais sobre isso assistindo ao vídeo
disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xaCjwL0Zk7o>.

UNIDADE V 135
Comparação de custo entre CC e CA

Custo

Corrente alternada

Corrente contínua

Comprimento da linha (km)

Linha em CA Linha em CC
mais econômica mais econômica

Figura 19 – Economia em transmissão de Energia


Fonte: Piqueira e Brunoro (2000).

Como futuro engenheiro, você pode tirar uma importante li-


ção desse episódio: soluções técnicas devem ser validadas com
experimentos honestos e possuem intervalos de validade bem
determinados.
Sabemos, hoje, que transmissão de energia elétrica pode ser
feita em corrente contínua (CC) ou alternada (CA). Nas usinas, a
geração é em CA, porém, se a distância envolvida na transmissão
da energia é maior que 700 km, é mais econômico transmiti-la
convertida em CC. O gráfico da Figura 19 traz uma comparação
dos custos para CC e CA.
Deve-se considerar, ainda, que, para transportar grandes quan-
tidades de energia, são necessárias altas tensões, pois o processo
envolve perdas. Minimizá-las para tensões menores implicaria
utilizar condutores com bitolas enormes. Assim, de acordo com
a distância a ser coberta pela rede, existem tensões de transmissão
padronizadas, sendo as mais utilizadas:
• Alta Tensão (AT): 138 e 230 kV
• Extra Alta Tensão (EAT): 345, 440, 500 e 765 kV
• Ultra Alta Tensão (UAT): 1000 e 1200 kV

136 Engenharia elétrica


Ondas Eletromagnéticas

Maxwell unificou os trabalhos de Young, Ørsted,


Ampère e Faraday em um conjunto de equações
que permitiu mostrar a existência das ondas ele-
tromagnéticas. Todas as ondas eletromagnéticas se
propagam no vácuo com velocidade 300 000 km/s.

Conforme você notou ao longo desta unidade,


o século XIX teve uma posição de destaque no
desenvolvimento da Eletricidade, do Magnetismo
e da Óptica, mais especificamente, da natureza da
luz. Um ponto importante desse desenvolvimento
foi a previsão e a comprovação da existência de
ondas eletromagnéticas.
O trabalho começa com Thomas Young
(Figura 20) (1773-1829) que realizou pesquisas
sobre cordas vibrantes e tubos sonoros, e a in-
fluência das experiências com ondas sonoras e
sobre a interferência de ondas na água levaram
Young a apresentar à Royal Society of London,
em1801, os resultados dos seus experimentos
sobre a interferência de raios luminosos, que re-
velavam o caráter ondulatório da luz.

UNIDADE V 137
Entre 1864 e 1865, James Clerk Maxwell (Figu-
ra 21) (1831-1879) unificou as teorias de Young,
Ørsted, Ampère e Faraday em um conjunto de
equações, que passariam a ser conhecidas como
equações de Maxwell.
As equações de Maxwell englobaram as leis
da Eletricidade e do Magnetismo e, além disso,
previram a existência de ondas eletromagnéticas
que se deslocam no vácuo com a velocidade da
luz, ou seja, 300 000 km/s. Essa previsão foi veri-
Figura 20 – Thomas Young
ficada, experimentalmente, por Henrich Rudolf
Fonte: Wikimédia ([2017], on-line)4. Hertz (Figura 22) (1857-1894), em 1887, utili-
zando uma fonte de frequência conhecida para
produzir ondas eletromagnéticas estacionárias.
Hertz mediu o comprimento de onda e, como
a frequência da onda é igual à da fonte, ele, usando
a equação fundamental da ondulatória, v =λ. f,
verificou que a velocidade da onda era igual à da
luz, comprovando a teoria de Maxwell. Em reco-
nhecimento ao trabalho de Hertz, a unidade de
frequência, no Sistema Internacional de medidas
(SI), recebeu o nome de hertz.
Ondas eletromagnéticas são compostas por
um campo magnético perpendicular a um cam-
po elétrico (Figura 23). Assim como produzimos
ondas mecânicas na água, por meio da agitação
Figura 21 – James Clerk Maxwell
de uma varinha, podemos produzir ondas ele-
tromagnéticas no ar mediante a variação de uma
corrente elétrica, do movimento de uma carga
elétrica, de um campo elétrico
tica
ou magnético.
agné
E l e trom
OndaOnda Eletromagnética
po
Cam Campo o (B)
g nétic amp (E)
o
ma magnético C (B)
l é t r ico
e
Campo
elétrico (E)
a
ção d
Dire gação
a
prop
Direção da
propagação
Comp. . de
pde
Com(λ) (λ)
onda
onda
Figura 22 – Henrich Rudolf Hertz Figura 23 – Representação da onda Eletromagnética
Fonte: Wikimédia ([2017], on-line)5. Fonte: Encrypted... ([2017], on-line)6.

138 Engenharia elétrica


Na Figura 24, temos o chamado espectro eletro-
magnético, incluindo as frequências (f) e os com-
primentos de onda (λ) correspondentes.
Podemos observar que as ondas de rádio têm
As ondas eletromagnéticas fazem parte da vida menor frequência e maior comprimento de onda. Na
das pessoas: celular, TV, tablets. Para conhecê- sequência, micro-ondas; infravermelho; luz visível,
las melhor, assista a aula do professor Gil da ultravioleta, raios X e raios gama com frequências
Costa Marques em: <https://www.youtube.com/ crescentes e comprimentos de onda decrescentes.
watch?v=VNTBHXDarb4>.
Refração de ondas
A frequência (f) de uma onda eletromagnética
A frequência das ondas produzidas é igual à fre- depende, exclusivamente, da fonte que a gera.
quência da fonte. Como todas as ondas eletromag- Ao sofrer refração, passagem de um meio para o
néticas propagam-se com a mesma velocidade no outro, sua velocidade de propagação (v) varia e,
vácuo – com a velocidade da luz – sua classificação portanto, seu comprimento de onda (λ) também.
é feita com base na frequência ou no comprimen- Matematicamente: f = v/λ = constante, isto é,
to de onda. As frequências das ondas eletromag- v e λ variam na mesma proporção.
néticas variam de alguns ciclos por segundo (Hz)
a valores quase inimagináveis, como 1022 Hz, que
é a frequência de alguns raios cósmicos.
Em termos de comprimento de onda, temos Tenha sua dose extra de
uma variação que inclui valores extremamente conhecimento assistindo ao
vídeo. Para acessar, use seu
pequenos, da ordem de 10215 m, até valores da
leitor de QR Code.
ordem de metros.

Figura 24 – Espectro Eletromagnético


Fonte: Carron, Piqueira e Guimarães (2017).

UNIDADE V 139
Fontes de Energia

A matriz energética brasileira, relativa à energia


elétrica, é, predominantemente, constituída por
fontes renováveis.

Como estamos discutindo, desde a primeira unidade,


as questões energéticas do planeta, queremos termi-
nar apresentando alguns dados de interesse geral.
A Figura 25 indica a matriz energética brasilei-
ra, relativa à geração de energia elétrica, em 2011,
e podemos observar a predominância de energias
renováveis (Hidráulica, Biomassa e Eólica), indi-
cando um país responsável em relação ao uso dos
recursos naturais.
Na Figura 26, observamos a evolução da matriz
energética brasileira, comparada com a matriz
mundial, evidenciando a qualidade do sistema
brasileiro em termos de sustentabilidade.
Encerramos esta unidade, convidando os enge-
nheiros eletricistas de todas as especialidades: má-
quinas, sistemas de potência, telecomunicações, au-
tomação e controle, eletrônica, computação, software,
biomédica, redes e todos os outros a realizar seus
projetos, preservando a energia de nosso planeta.

140 Engenharia elétrica


Prever as expansões da matriz energética brasileira é de interesse de toda população. Para entender
mais do assunto, assista à palestra do professor José Goldemberg, disponível no link: <https://www.
youtube.com/watch?v=dqRlgXkGFiI>.
BRASIL (2011)

BRASIL (2011)
Hidráulica2
81,7%
Hidráulica2
81,7%
Biomassa3
6,5%
Eólica3
Biomassa
0,5%
6,5%
Carvão e EólicaNatural
Gás
Derivados1 de 4,6%
Derivados 0,5%
2,7% Nuclear Petróleo
Carvão e Gás Natural
2,7% 2,5%
Derivados de 4,6%
1
Derivados
2,7% Nuclear
Figura 25 – Matriz energética (elétrica) brasileira – 2011 Petróleo
Fonte: Brasil Nosso ([2017], on-line)7. 2,7% 2,5%

Brasil Mundo

Urânio
Gás Carvão 6,4%
Hidro- natural 6,4% Carvão
elétrica 9,3%
15,0% Urânio 24,1%
1,2%

Gás
natural
Biomassa Petróleo e
Petróleo e 20,9%
29,7% derivados
derivados 35,3%
38,4%

Hidro- Biomassa
elétrica 11,2%
2,1%

44,7% renovável 13,3% renovável


Figura 26 – Matriz energética: comparação Brasil-mundo
Fonte: 3Bp ([2017], on-line)8.

UNIDADE V 141
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Fazem parte do escopo da Engenharia Elétrica:


a) Geração e distribuição de energia, pontes e telecomunicações.
b) Telecomunicações, estradas e computadores.
c) Computadores, pontes e estradas.
d) Geração e distribuição de energia, computadores e telecomunicações.
e) Pontes, estradas e siderurgia.

2. Nas usinas hidrelétricas e eólicas, a energia se converte de:


a) Nuclear em elétrica.
b) Mecânica em elétrica.
c) Química em elétrica.
d) Térmica em elétrica.
e) Elétrica em química.

3. Nas usinas termelétricas e nucleares, a energia se converte de:


a) Nuclear em elétrica.
b) Mecânica em elétrica.
c) Química em elétrica.
d) Térmica em elétrica.
e) Elétrica em química.

4. Os fenômenos elétricos são conhecidos pela humanidade desde:


a) 1945.
b) 1800.
c) 1793.
d) Século VI a.C.
e) Século I a.C.

142
5. A primeira máquina destinada a armazenar energia elétrica foi concebida por:
a) Pieter van Musschenbroek .
b) André Marie Ampère.
c) Michael Faraday.
d) Tales de Mileto.
e) Isaac Newton.

6. A relação matemática entre correntes elétricas e campos magnéticos foi pro-


posta por:
a) Pieter van Musschenbroek
b) André Marie Ampère.
c) Michael Faraday.
d) Tales de Mileto.
e) Isaac Newton.

7. A conversão eletromecânica de energia fundamenta-se no fenômeno da:


a) Eletrólise.
b) Indução eletromagnética.
c) Atração eletrostática.
d) Gravitação universal.
e) Conservação do momento angular.

8. A geração de energia elétrica em grandes quantidades deve, preferencialmente,


ser feita em:
a) CC.
b) CA.
c) CC ou CA, pois são equivalentes.
d) Geradores químicos.
e) Geradores termo hidráulicos.

9. A transmissão de energia elétrica para grandes distâncias deve ser em:


a) CC.
b) CA.

143
c) CC ou CA, pois são equivalentes.
d) Via rádio.
e) Via micro-ondas.

10. Suponha que as ondas eletromagnéticas no vácuo tenham comprimento de


onda 1,2. 10-4. A frequência de um receptor sintonizado deve ter para captá-las:
a) 2,5. 1012 Hz.
b) 2,5. 1018 Hz.
c) 2,5. 109 Hz.
d) 2,5. 1016 Hz.
e) 2,5. 1020 Hz.

11. A frequência de uma onda eletromagnética depende:


a) Do meio.
b) Da velocidade de propagação.
c) Do comprimento de onda.
d) Da densidade do meio.
e) Da fonte.

12. Todas as ondas eletromagnéticas têm, no vácuo:


a) A mesma velocidade de propagação.
b) O mesmo período.
c) A mesma frequência.
d) O mesmo comprimento de onda.
e) O mesmo índice de refração.

13. O percentual total de energia elétrica consumida no Brasil, proveniente de fontes


renováveis, no Brasil, em 2011, era:
a) 88,7%.
b) 92,5%.
c) 6,8%.
d) 78,9%.
e) 42%.

144
LIVRO

Energia e Meio Ambiente


Autor: Roger A. Hinrichs, Merlin Kleinbach, Lineu Belico dos Reis
Editora: Cengage Learning
Sinopse: Energia e meio ambiente – Tradução da 4ª edição norte-americana, é um
livro que enfatiza os princípios físicos por trás do uso da energia e seus efeitos
sobre nosso ambiente. Aborda a desregulação e o aumento da competição no
setor de geração de energia, o aumento dos preços do petróleo e o crescente
compromisso global com as fontes de energia renováveis. Ao examinar os di-
ferentes aspectos de cada recurso energético, inclui os princípios envolvidos e
as consequências ambientais e econômicas do seu uso, e enfatiza o impacto
ambiental do consumo de combustíveis fósseis, a poluição atmosférica e o
aquecimento global.
Esta edição inovadora traz artigos que discutem a questão energética no Brasil.
São discutidos os padrões de uso da energia no Brasil, a conservação, a energia
de combustíveis fósseis, a energia solar, as fontes renováveis de energia e a
energia nuclear entre outros importantes temas.
Trata-se de uma obra de referência para estudantes e profissionais das várias
áreas da engenharia e das ciências exatas.
Comentário: Livro excelente para que o futuro engenheiro, de todas modali-
dades, possa conhecer os problemas associados à sustentabilidade de nosso
planeta.

145
Carron, W.; PIQUEIRA, J. R. GUIMARÃES, O. Física-PNLD. São Paulo: Editora Ática, 2017.

NEUMANN, J. V. The Computer and the Brain, USA: Yale University Press, 1958.

PIQUEIRA, J. R. C.; BRUNORO, C. M. Energia: uso, geração e impactos ambientais. São Paulo: Editora Anglo,
2000. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/266247679_ENERGIA_uso_geracao_e_im-
pactos_ambientais>. Acesso em: 14 nov. 2017.

REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Pieter_van_Musschenbroek#/media/File:P_v_
Musschenbroek_t-E.jpg>. Acesso em: 16 nov. 2017.
2
Em: <http://www.coe.ufrj.br/~acmq/leydenpt.html>. Acesso em: 16 nov. 2017.

Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/79/%C3%98rsted.jpg/200px-%C3%98rsted.
3

jpg>. Acesso em: 16 nov. 2017.

Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/9b/Young_Thomas_black_white.jpg/200px-
4

Young_Thomas_black_white.jpg>. Acesso em: 16 nov. 2017.


5
Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/30/HEINRICH_HERTZ.JPG/1200px-
HEINRICH_HERTZ.JPG>. Acesso em: 16 nov. 2017.
6
Em:<https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTsebdYrWnmDWEpPGZfOiu2SnRjSE0X-
WIFMA18kmpbaPWUYoIRiZw>. Acesso em: 16 nov. 2017.
7
Em: <https://brasilnosso.wordpress.com/matrizes-energeticas-do-brasil/>. Acesso em: 16 nov. 2017.
8
Em: <http://3.bp.blogspot.com/-0vEyOqPpjEo/TcslD7VmRfI/AAAAAAAABC0/Xxl7im8H0eo/s1600/
energia+1.jpg>. Acesso em: 16 nov. 2017.

146
1. D

2. B

3. D

4. D

5. A

6. B

7. B

8. B

9. A

10. A

Resolução:

λ = 1,2. 10-4m v=3. 108m/s.

f = v/λ = (3. 108)/ 1,2. 10-4 = 2,5. 1012Hz

11. E

12. A

13. A

Resolução:

Hidráulica (81,7) + Eólica(0,5) + Biomassa (6,5) = 88,7%

147
148
Dr. José Roberto Castilho Piqueira

Engenharia
Química

PLANO DE ESTUDOS

Química e Indústria Balanço de materiais

Ciência e Engenharia Operações unitárias Exemplos de balanço de


massas

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Apresentar a diferença entre Ciência Química e Engenharia • Descrever a metodologia para prever e controlar o balanço
Química. de materiais em processos.
• Mostrar como a indústria se estrutura nas diversas ativida- • Apresentar processos simples, com aplicações industriais,
des correlatas à Engenharia Química: Produtos, Alimentos de balanço de massas.
Fármacos, Materiais, Petróleo.
• Apresentar o conceito de operação unitária e como ele
permite simplificar os projetos e processos.
Ciência e Engenharia

• A Química é a Ciência das transformações, e


a Engenharia Química projeta e implementa
as transformações em larga escala.
• Lavoisier é considerado o iniciador da Quí-
mica como Ciência e enunciou o princípio da
conservação da massa em reações químicas.
• A tabela periódica, além de agrupar os ele-
mentos por propriedades físicas e químicas,
permitiu a previsão da síntese de elementos
não existentes na natureza.
• O Engenheiro Químico atua em um grande
número de setores da atividade humana,
como a indústria farmacêutica e a agricultura.
É um conhecimento quase lendário que diz que a Química tem
origem na Alquimia, prática da Idade Média que consistia na busca
da “pedra filosofal”, remédio de todos os males e que, a um simples
toque, transformaria qualquer metal em ouro.
A “pedra filosofal” nunca foi encontrada, mas a ideia de trans-
formação de uma substância em outra, com novas propriedades
é a base da Química que, acompanhando o movimento geral de
desenvolvimento, passou a ser tratada com bases científicas durante
o século XVIII.
O francês Antoine-Laurent Lavoisier (Figura 1a) (1743-1794), ao Figura 1a – Lavoisier
enunciar a lei de conservação das massas em uma transformação,
deu origem à Ciência Química, como é vista hoje, depois de passar
por grande desenvolvimento.
Apesar de todo seu brilho científico, Lavoisier foi guilhotinado
pela Revolução Francesa, em 8 de maio de 1794. O grande matemá-
tico Joseph-Louis de Lagrange (Figura 1b) (1736-1813), contem-
porâneo de Lavoisier, disse: “Não bastará um século para produzir
uma cabeça igual à que se fez cair num segundo”.
A evolução da Química como ciência, nos séculos XIX e XX,
desvendou a estrutura da matéria, permitindo a descoberta e a
classificação dos elementos químicos. Além disso, permitiu o en- Figura 1b – Lagrange
tendimento de como esses elementos podem se agregar, formando
as moléculas e como elas podem reagir, formando as substâncias
que nos dão a vida, mantendo-as pelos constantes ciclos naturais.
Devemos a Dmitri Ivanovich Mendeleev (Figura 2) (1834-1907)
a criação, em 1869, da tabela periódica, colocando os 63 elementos
químicos então conhecidos na forma de uma tabela, agrupando-
-os de acordo com as massas atômicas e as propriedades físicas e
químicas.
A tabela periódica dos elementos (Figura 3) foi uma ideia tão
importante que permitiu, ao longo do tempo, ser completada con-
tendo os 118 elementos químicos conhecidos atualmente, sendo
92 naturais e 26 artificiais. Figura 2 – Dmitri Ivanochi Mendeleev

UNIDADE VI 151
Tabela periódica
1 18
1 2

H He
hidrogênio hélio
1,008 2 13 14 15 16 17 4,0026

3 4 5 6 7 8 9 10
número atômico
Li Be 3
B C N O F Ne
lítio berílio Li símbolo químico boro carbono nitrogênio oxigênio flúor neônio
6,94 9,0122 lítio nome 10,81 12,011 14,007 15,999 18,998 20,180
[6,938 - 6,997] peso atômico (ou número de massa do isótopo mais estável)
11 12 13 14 15 16 17 18

Na Mg Al Si P S Cl Ar
sódio magnésio alumínio silício fósforo enxofre cloro argônio
22,990 24,305 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 26,982 28,085 30,974 32,06 35,45 39,948

19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36

K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
potássio cálcio escândio titânio vanádio crômio manganês ferro cobalto níquel cobre zinco gálio germânio arsênio selênio bromo criptônio
39,098 40,078(4) 44,956 47,867 50,942 51,996 54,938 55,845(2) 58,933 58,693 63,546(3) 65,38(2) 69,723 72,630(8) 74,922 78,971(8) 79,904 83,798(2)

37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54

Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
rubídio estrôncio ítrio zircônio nióbio molibdênio tecnécio rutênio ródio paládio prata cádmio índio estanho antimônio telúrio iodo xenônio
85,468 87,62 88,906 91,224(2) 92,906 95,95 [98] 101,07(2) 102,91 106,42 107,87 112,41 114,82 118,71 121,76 127,60(3) 126,90 131,29

55 56 57 a 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86

Cs Ba Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg Tl Pb Bi Po At Rn
césio bário háfnio tântalo tungstênio rênio ósmio irídio platina ouro mercúrio tálio chumbo bismuto polônio astato radônio
132,91 137,33 178,49(2) 180,95 183,84 186,21 190,23(3) 192,22 195,08 196,97 200,59 204,38 207,2 208,98 [209] [210] [222]

87 88 89 a 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118

Fr Ra Rf Db Sg Bh Hs Mt Ds Rg Cn Nh Fl Mc Lv Ts Og
frâncio rádio rutherfórdio dúbnio seabórgio bóhrio hássio meitnério darmstádtio roentgênio copernício nihônio fleróvio moscóvio livermório tenessino oganessônio
[223] [226] [267] [268] [269] [270] [269] [278] [281] [281] [285] [286] [289] [288] [293] [294] [294]

57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71

La Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu
lantânio cério praseodímio neodímio promécio samário európio gadolínio térbio disprósio hólmio érbio túlio itérbio lutécio
138,91 140,12 140,91 144,24 [145] 150,36(2) 151,96 157,25(3) 158,93 162,50 164,93 167,26 168,93 173,05 174,97

89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103

Ac Th Pa U Np Pu Am Cm Bk Cf Es Fm Md No Lr
actínio tório protactínio urânio netúnio plutônio amerício cúrio berquélio califórnio einstênio férmio mendelévio nobélio laurêncio
[227] 232,04 231,04 238,03 [237] [244] [243] [247] [247] [251] [252] [257] [258] [259] [262]

www.tabelaperiodica.org
Figura 3 – Tabela periódica dos elementos Licença de uso Creative Commons By-NC-SA 4.0 - Use somente para fins educacionais
Caso encontre algum erro favor avisar pelo mail luisbrudna@gmail.com
Fonte: Tabela Periódica (2016, on-line)1. Versão IUPAC (pt-br) com 5 algarismos significativos, baseada em DOI:10.1515/pac-2015-0305 - Atualizada em 27 de março de 2017

O bom uso da ciência Química e o entendimento Seus setores de atuação podem, de maneira
dos mecanismos de ligações e reações levaram a simplificada, ser enumerados (CREMASCO,
verdadeiras maravilhas: síntese de fármacos, pro- 2015):
cessamento de alimentos e melhoria da qualidade • Automobilístico: álcool, gasolina, óleo die-
dos solos estão entre elas. Começa, então, o encon- sel, lubrificantes;
tro da Ciência Química com a Engenharia Quí- • Construção: borracha, tinta, cal, cimento;
mica: produzir em escala as descobertas e sínteses • Eletrônicos: silicone, fibras de carbono;
realizadas nos laboratórios, disponibilizando-as • Energia: gás para aquecimento;
para a melhoria da vida. • Farmacêutico: antissépticos, anestésicos,
Essa é a essência da Engenharia Química: antitérmicos;
modificar a composição, conteúdo energético • Bebidas: cervejas (fermentação);
ou estado físico da matéria-prima, para que os • Fibras sintéticas: roupas, cortinas, cober-
produtos resultantes atendam determinado fim. tores;
Para efetuar essas modificações em larga escala, • Hortifrutigranjeiros: fertilizantes, fungici-
é necessário conceber um processo que deve ser das, inseticidas;
composto de várias fases: síntese, projeto, teste, • Limpeza: detergentes, desinfetantes, ceras,
escalonamento, operação, controle, otimização. sabões;
Assim, o Engenheiro Químico está na indústria • Metais: manufatura de aço e zinco;
de transformação, de uma maneira geral: borracha, • Plásticos: brinquedos, baldes, isolantes elé-
celulose, tintas, corantes, inseticidas, derivados de tricos.
petróleo, resinas, medicamentos e bebidas.

152 Engenharia química


Linus Pauling (1901-1994) foi um importante
Químico do século XX e a ele devemos, entre
outras coisas, a distribuição dos elétrons em
níveis de energia nos átomos e a explicação das
ligações químicas.
Para saber mais sobre Linus Pauling, consulte:
<https://www.ebiografia.com/linus_pauling/>.

UNIDADE VI 153
Química e Indústria

• Como o Engenheiro Químico trabalha proces-


sos de transformação, em geral, sua formação
deve ser multidisciplinar.
• Engenheiros Químicos podem trabalhar em de-
senvolvimento de produtos, segurança, gestão
de projetos, gestão financeira e vendas.
• As engenharias Ambiental, de Alimentos, de
Metalurgia, de Materiais, de Minas e de Petró-
leo podem ser consideradas da grande área
Química.

Conforme já dissemos anteriormente, o Enge-


nheiro Químico trabalha ligado a processos de
transformação de matéria-prima em produtos
comerciais ou industriais. Por essa razão, sua pre-
sença é sempre notável nas mais diversas áreas de
atividade, demandando um conhecimento mul-
tidisciplinar que, além das questões científicas
e tecnológicas, envolve responsabilidade social.
A atividade mais visível é a de engenharia de
produto, que trata do planejamento do processo

154 Engenharia química


de transformação, da garantia da qualidade dos entrega de produtos. Essas atividades são, normal-
resultados, do aprimoramento e da otimização mente, exercidas pelo Engenheiro Químico gestor
dos métodos de produção. Além disso, o enge- de projeto. A gestão dos custos de produção é ati-
nheiro de produto deve manter um forte conhe- vidade do Engenheiro Químico gestor financeiro
cimento do mercado, monitorando os processos que, além disso, se ocupa do controle monetário
de custos e precificação, decidindo continuidade da atividade industrial.
ou desenvolvimento dos bens produzidos. As Engenharias, de maneira geral, envolvem
Outra atividade vital da Engenharia Química é a a geração de produtos cuja venda pode requerer
engenharia de segurança, responsável pela qualida- conhecimento especializado do processo. É o que
de do trabalho dentro das fábricas, bem como pelo faz o Engenheiro Químico de Vendas, apresenta
planejamento de uma interação sustentável e não os produtos, explicando como cada um deles pode
poluidora entre as plantas industriais e seu entorno. compor o sistema do cliente.
Cada projeto a ser implantado para a produção Para exemplificar essas atividades, vamos con-
de um bem na indústria requer gestão cuidado- siderar a indústria de refino de petróleo (Figura 4)
sa, planejando a capacidade produtiva necessária e petroquímica. Tudo começa no projeto do pro-
para atendimento das expectativas de vendas, a cesso e na definição da composição do produto a
estocagem da matéria-prima e os cronogramas de ser fabricado (engenharia de gestão de projeto).

Figura 4 – Refinaria de petróleo

UNIDADE VI 155
Uma vez implantada a unidade industrial e o que Os gestores (de projeto e financeiro) planejam
vai ser fabricado, cabe monitorar a operação da a produção do petróleo e dos produtos associados,
planta garantindo a qualidade de produtos, cata- bem como seu armazenamento e distribuição.
lizadores e processos (engenharia de produto). Engenheiros de venda pesquisam, desenvol-
Essa operação deve ser segura tanto do ponto de vem o mercado e são responsáveis por prover
vista interno como externo, protegendo os tra- assistência técnica, quando necessário.
balhadores de eventuais acidentes e cuidando da Essa amplitude das atividades de um Enge-
não degradação do meio ambiente (engenharia nheiro Químico proporciona uma grande super-
de segurança). posição com atividades de engenharia que rece-
bem outras denominações e que, talvez,
pudessem ser englobadas dentro
de uma grande área.
Por exemplo, o Engenhei-
ro Ambiental (Figura 5)
trabalha com tecnologias
que permitem o desenvol-
vimento dos diversos seto-
res, sem degradar o meio
ambiente. Cuida da água,
do ar e do solo, recom-
pondo e saneando regiões
e aprimorando matrizes
energéticas.
O Engenheiro de Ali-
mentos (Figura 6) cuida da
fabricação, análise, conserva-
ção e transporte de alimentos in-
dustrializados e de bebidas. Estuda
e acompanha o processamento de
matérias-primas básicas como o
leite, a carne, as verduras, as frutas
e os legumes.

Figura 5 – Engenharia Ambiental

156 Engenharia química


Figura 6 – Engenharia de Alimentos

Assim, poderíamos também envolver as engenharias de Materiais,


de Metalurgia, de Minas e de Petróleo, todas elas ligadas a impor-
tantes transformações nas matérias-primas.

A implantação de uma planta química é tarefa complexa e envolve


conhecimentos de várias modalidades de engenharia. Para saber
mais sobre esse assunto, consulte o excelente trabalho de formatura
do site: <http://pro.poli.usp.br/wp-content/uploads/2012/pubs/
planejamento-do-arranjo-fisico-de-uma-industria-quimica.pdf>.

UNIDADE VI 157
Operações Unitárias

• A sistematização do projeto dos processos em


Engenharia Química se dá a partir do conceito
de operações unitárias.
• Existem três tipos de operações unitárias: me-
cânicas, transferência de energia e transferên-
cia de massa.

A multidisciplinaridade e a diversidade de proces-


sos em que a Engenharia Química está envolvida
parece, em um primeiro momento, ser um ramo
de estudos de difícil sistematização.
Entretanto, em 1915, o Engenheiro Quími-
co do Instituto de Tecnologia de Massachucetts
Arthur Dehon Little (1863-1935) apresentou o
conceito de “operações unitárias”, permitindo
a divisão de um processo químico em etapas
básicas de três tipos fundamentais: mecânicas,
transferência de massa e transferência de energia
(Figura 7).

158 Engenharia química


Assim, cada etapa de um processo químico na • Absorção: separação preferencial de molé-
indústria recebe o nome de “operação unitária”. O culas presentes em uma mistura gasosa por
conjunto de todas as etapas é chamado “processo meio de sua retenção em um líquido, presente
unitário”. Consideram-se como operações unitá- na indústria de ácido sulfúrico e fertilizantes;
rias mecânicas aquelas que envolvem transporte • Adsorção: separação preferencial de mo-
ou separação de fluidos e sistemas particulados. léculas presentes em um gás ou líquido
São exemplos desse tipo de operação unitária: por meio de sua retenção em um sólido,
• Filtração: separação de particulados por presente na indústria de fármacos e resinas;
diferença de tamanho entre as partículas • Destilação: separação de líquidos por
e os poros do elemento filtrante, encon- aquecimento, baseado na diferença de seus
trados na fabricação de adesivos e fibras pontos de ebulição, presente na indústria
artificiais; de derivados de petróleo e tintas.
• Flotação: separação de sólidos por meio
da suspensão de matéria para a superfície
de um líquido e sua posterior remoção,
encontrado na fabricação de resinas e tra-
tamento de água; As operações unitárias são a base da Engenharia
• Sedimentação: separação de particulados Química. Para entendê-las melhor, consulte as
por meio de deposição de material, encon- notas de aula do professor Armin Isenmann,
trado na fabricação de papel e tintas. disponíveis em: <http://sistemas.timoteo.cefetmg.
br/nos/_media/bd:livro:quimica:operacoes_
As operações unitárias de transferência de energia unitarias_08_2018.pdf>.
envolvem a troca de calor entre as partes compo-
nentes de um processo. São exemplos desse tipo
de operação unitária:
• Aquecimento: fornecimento de energia a Figura 7 – Arthur
Dehon Little
um fluido ou sólido, presente na indústria Fonte: The new Atlantis
de adesivos e fertilizantes; .
([2017], on-line)2
• Condensação: retirada de energia de um
vapor para provocar sua mudança de es-
tado, presente na indústria de inseticidas
e derivados do petróleo;
• Trocador de calor: processo simultâneo
de aquecimento e resfriamento envolven-
do correntes de fluídos, encontrado na in-
dústria de açúcar, petróleo e bebidas.

As operações unitárias de transferência de massa


envolvem a troca de matéria entre as partes com-
ponentes de um processo. São exemplos desse tipo
de operação unitária:

UNIDADE VI 159
Balanço de Materiais

• O conceito de operações unitárias permite


decompor processos em etapas e analisá-las
separadamente.
• Definido um sistema e um intervalo de tempo,
a equação de balanço de propriedades exten-
sivas pode ser aplicada.

O conceito de operações unitárias permite uma


sistematização da metodologia de estudo de um
processo por sua decomposição sucessiva em
etapas, aplicando a cada uma delas o balanço de
quantidades relativas às grandezas extensivas de
cada etapa.
Simplificadamente, entendemos por grandezas
extensivas a massa, a energia, a carga elétrica e a
quantidade de partículas.
Assim, para enunciarmos a lei geral de balanço
de grandezas extensivas, é necessário definir os
seguintes pontos:
• Qual a propriedade cuja quantidade (Q)
será analisada;

160 Engenharia química


• Qual é a fronteira do sistema; Exemplo:
• Qual o intervalo de tempo a ser conside- Vamos fazer um exemplo simples, mas que
rado. ilustra de maneira simples a equação de balanço:
Ao levantar pela manhã, uma pessoa encontra
Uma maneira pictórica de se enxergar a lei de uma garrafa de água contendo 500g do precioso
balanço está mostrada na Figura 8, e estabelece- líquido e consome 200g. Outra pessoa, ao acor-
remos a seguinte notação: dar mais tarde e encontrar a garrafa resolve repor
• Qentrada: quantidade da grandeza extensiva 400g de água.
entrando no sistema; Apesar da trivialidade do exemplo, podemos
• Qsaída: quantidade da grandeza extensiva estabelecer os seguintes pontos:
saindo do sistema; • Propriedade extensiva: massa de água;
• Qgerada: quantidade da grandeza extensiva • Sistema: garrafa;
gerada no sistema; • Instante inicial: primeira pessoa acorda;
• Qconsumida: quantidade da grandeza extensi- • Instante final: segunda pessoa termina de
va consumida no sistema; adicionar líquido à garrafa.
• Qinstantânea: quantidade da grandeza extensi-
va existente no sistema. Com essas informações:
Fronteira
Qinstantâneainicial = 500g; Qsaída= 200g;
Qentrada= 400g; Qgerada=0; Qconsumida= 0
Qentrada Qsaída e, portanto:
SISTEMA
Qinstantâneafinal – 500 = (400+0) – (200+0),
implicando
Figura 8 – Balanço de propriedades extensivas
Fonte: o autor. Qinstantâneafinal = 700g.
Examinando a Figura 8, observa-se que Qentrada e
Qgerada contribuem positivamente para Qinstantânea,
enquanto que Qsaída e Qconsumida contribuem negati-
vamente. Logo, a equação de balanço de proprie-
dades extensivas do sistema pode ser escrita para Entre os processos de transferência de massa, a
um dado intervalo de tempo, entre um instante difusão é de grande utilidade na prática.
inicial (ti) e um instante final (tf): Para saber mais sobre esse assunto, assista ao

Qinstantâneafinal - Qinstantâneainicial = vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=rbB6FhBAp6U>.
(Qentrada+ Qgerada) – (Qsaída + Qconsumida).

UNIDADE VI 161
1a Lei da Termodinâmica
(Balanço Energético)
A primeira lei da Termodinâmica é uma aplicação da equação de
balanço de quantidades extensivas. Especificamente em relação a
um sistema termodinâmico (Figura 9a):

Figura 9a – Sistema Termodinâmico


Fonte: Carron e Piqueira (2017).

• a quantidade de energia Q, na forma de calor, trocada pelo


sistema com o meio externo;
• o trabalho mecânico Ʈ trocado pelo sistema com o meio Tenha sua dose
extra de conhe-
externo; cimento assis-
• a variação de energia interna ∆U = Ufinal - Uinicial do siste- tindo ao vídeo.
ma termodinâmico. Para acessar,
use seu leitor
de QR Code.
Assim, se um sistema termodinâmico recebe calor do meio externo
e realiza trabalho sobre ele, sua equação de balanço energético fica:
Ufinal - Uinicial = Q – Ʈ.

to
en Pistão Cilindro
vim

Biela
Mo

Roda

Caldeira

Correia
Água Vapor

Calor
Eletricidade

Combustível
Gerador

Figura 9b – Usina termoelétrica: princípio de funcionamento


Ilustração: adaptada por Marcelo Goto.

162 Engenharia química


Exemplos de
Balanço de Massas

• Fluxo ou vazão em massa é a massa por unida-


de de tempo que entra ou sai do componente
de um sistema.
• O balanço de massas é equivalente ao balanço
de fluxos.

Quando falamos de balanço de massa em um


processo químico, partimos do pressuposto que
as massas relativas a certos compostos e a certas
partes do sistema variam ao longo do tempo.
Assim, vamos estabelecer uma notação de-
finindo taxa de variação da massa de um certo
composto ou componente como:
w = (∆m) / (∆t), dada em unidades de massa por
unidade de tempo, por exemplo, em kg/h ou g/s.

Exemplo:
Uma companhia fabrica o produto P a partir
de um reagente R, sob a seguinte equação es-
tequiométrica:

UNIDADE VI 163
R → P + W, com W representando o resíduo indesejado da reação.
A Figura 10 esquematiza o processo, considerando-se que a
reação ocorre na unidade 1, na unidade 2, o resíduo é removido e,
na unidade 3, executa-se uma purificação.

WR
WR
E WP
WP
WW
C WW

WR A B D
WP 1 2 3
WW WR WR
WP WP
WW WW
WR
F WP
WW
Figura 10 – Processo de produção do produto P
Fonte: o autor.

Na Tabela 1, fornecemos as taxas relativas às massas de cada um dos


participantes da reação, nos diversos pontos do processo.

Fluxo wtotal (kg/h) wR (kg/h) wP (kg/h) ww (kg/h)

A 200 ? 2 2

B ? ? ? ?

C 10 ? ? 10

D ? ? ? ?

E 150 30 120 0

F ? 28 12 0

Tabela 1 – Fluxos (Produção da substância P)


Fonte: o autor.

Na sequência, mostraremos como completar a tabela, resolvendo


as interrogações.
• O balanço de massas do fluxo em A pode ser escrito como:
200 = wR + 2 + 2 e, portanto, wR = 196 kg/h.
• Como no reator não há perda de massa, para o fluxo em B,
wtotal = 200 kg/h.

164 Engenharia química


• Fazendo o balanço de massas na unidade 3, para o fluxo em
F, podemos escrever:
wtotal = 28 + 12 + 0 e, portanto, wtotal = 40 kg/h.
• Para os fluxos em C da unidade 2 é simples concluir que:
wR = wp = 0.

Para bem da clareza, vamos repetir a tabela, acrescentando os valores


obtidos até aqui:

Fluxo wtotal (kg/h) wR (kg/h) wP (kg/h) ww (kg/h)

A 200 196 2 2

B 200 ? ? ?

C 10 0 0 10

D ? ? ? ?

E 150 30 120 0

F 40 28 12 0

Tabela 2 – Fluxos (Produção da substância P)


Fonte: o autor.

• Como na unidade 3, o fluxo em D deve ser a soma dos fluxos


em E e F, temos:
wR = 30 + 28 = 58 kg/h; wP = 120 + 12 = 132 kg/h e ww = 0, o
que nos permite reescrever a tabela.

Fluxo wtotal (kg/h) wR (kg/h) wP (kg/h) ww (kg/h)

A 200 196 2 2

B 200 ? ? ?

C 10 0 0 10

D 190 58 132 0

E 150 30 120 0

F 40 28 12 0

Tabela 3 – Fluxos (Produção da substância P)


Fonte: o autor.

UNIDADE VI 165
• Como na unidade 2, o fluxo B é igual à soma dos fluxos em
C e D, escrevemos:
wR = 0 + 58 = 58 kg/h; wP = 0 + 132 = 132 kg/h; wW = 10 + 0
= 10 kg/h e completamos a tabela.

Fluxo wtotal (kg/h) wR (kg/h) wP (kg/h) ww (kg/h)

A 200 196 2 2

B 200 58 132 10

C 10 0 0 10

D 190 58 132 0

E 150 30 120 0

F 40 28 12 0

Tabela 4 – Fluxos (Produção da substância P)


Fonte: o autor.

A primeira lei da termodinâmica pode ser entendida como uma


equação de balanço de energia. Para saber mais sobre o assunto,
assista ao vídeo: <http://tvcultura.com.br/videos/53852_fisica-geral-
aula-19-utilidade-do-calor-a-primeira-lei-da-termodinamica.html>.

Assim completamos esta unidade, entendendo que a Engenharia


Química, com toda sua abrangência e amplitude de uso, pode ser
estudada de maneira sistemática, pelas operações unitárias.

166 Engenharia química


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. O cientista considerado o pai da Química foi:


a) Proust.
b) Dalton.
c) Richter.
d) Lavoisier.
e) Mendeleev.

2. O idealizador da tabela periódica foi:


a) Proust.
b) Dalton.
c) Richter.
d) Lavoisier.
e) Mendeleev.

3. Realizar projetos de processos de transformação de matéria-prima em larga


escala é trabalho do:
a) Engenheiro Civil.
b) Engenheiro Químico.
c) Engenheiro Eletricista.
d) Engenheiro Mecânico.
e) Engenheiro Ambiental.

4. As principais atividades da Engenharia Química são:


a) Projeto, produto, segurança, gestão e vendas.
b) Projeto, produto, simulação computacional, gestão e vendas.
c) Projeto, ensino, segurança, gestão e vendas.
d) Projeto, produto, segurança, gestão e seleção de pessoal.
e) Projeto, produto, segurança, pagamento de fornecedores e vendas.

167
5. A Engenharia Ambiental pode ser considerada da grande área Química, pois:
a) Trabalha com a previsão do tempo.
b) Cuida dos processos de preservação da qualidade da água, do ar e do solo.
c) Cuida das descargas elétricas na atmosfera.
d) Trabalha com o aumento da eficiência da produção.
e) Cuida da produção de materiais poliméricos.

6. A Engenharia de Alimentos pode ser considerada da grande área Química, pois:


a) Estuda as frutas e verduras.
b) Cuida dos processos saudáveis de alimentação.
c) Projeta máquinas e fornos.
d) Estuda a transformação de matéria-primas básicas, como leite, carne, verduras,
frutas e legumes.
e) Projeta biodigestores.

7. Existem três tipos de operações unitárias:


a) Mecânicas, Hidráulicas e Elétricas.
b) Mecânicas, Transferência de Energia e Transferência de Entalpia.
c) Mecânicas, Elétricas e Transferência de Massa.
d) Mecânicas, Transferência de Energia e Elétricas.
e) Mecânicas, Transferência de Energia e Transferência de Massa.

8. Flotação é uma operação unitária:


a) Mecânica.
b) Transferência de massa.
c) Transferência de Energia.
d) Geração de Energia
e) Transferência de Quantidade de Movimento.

9. Destilação é uma operação unitária:


a) Mecânica.
b) Transferência de massa.
c) Transferência de Energia.
d) Geração de Energia.
e) Transferência de Quantidade de Movimento.

168
10. Um container não vedado contém 25 kg de acetona e, duas horas depois, 23 kg
de acetona permanecem no container. A perda de massa foi de:
a) 6 kg.
b) 3 kg.
c) 8 kg.
d) Zero.
e) 2 kg.

11. Depois de quanto tempo não restará acetona no container:


a) 0,5 h.
b) 1,5 h.
c) 12 h.
d) 25 h.
e) 11 h.

12. Um gás ideal absorve 50cal de energia na forma de calor e se expande reali-
zando um trabalho de 100J. Considerando 1cal = 4J, qual a variação da energia
interna do gás?

169
LIVRO

Vale a pena estudar Engenharia Química


Autor: Marco Aurélio Cremasco
Editora: Blucher
Sinopse: este livro procura mostrar a importância da Engenharia Química e
como ela se faz presente no cotidiano das pessoas. A intenção é a de ser um
livro introdutório em que se deixam fórmulas químicas e equações matemáticas
para outra oportunidade, visando esclarecer aspectos sobre a formação do en-
genheiro químico. Busca-se, portanto, entender a Engenharia Química por meio
de áreas e campos de atuação do seu profissional, assim como dos produtos
e serviços advindos de suas atividades. Além disso, existe a preocupação de
contextualizar a profissão por meio da apresentação de um pouco da história
mundial e nacional da Indústria Química e da Engenharia Química, assim como
das responsabilidades e habilidades desejadas ao engenheiro químico, ressal-
tando a importância da Ética como norteadora de suas ações.

170
CREMASCO, M. A. Vale a Pena Estudar Engenharia Química. São Paulo: Blucher, 2015.

GLOVER, C. J.; LUNSFORD, K. M.; FLEMING, J. A. Conservation Principles and the Structure of Engi-
neering. USA: McGraw Hill Inc., 1996.

REFERÊNCIAS ON-LINE

Em: <https://www.tabelaperiodica.org/tabela-periodica-atualizada-2016-versoes-para-impressao/>. Acesso


1

em: 21 nov. 2017.

Em: < http://www.thenewatlantis.com/imgLib/20141021_TNA42Mills08Little.jpg>. Acesso em: 22 nov.


2

2017.

171
1. D

2. E

3. B

4. A

5. B

6. D

7. E

8. A

9. B

10. E

11. D

12. Q = 50.4 =200J; = 100J. Logo ∆U = 200-100 = 100J

172
173
174
Dr. José Roberto Castilho Piqueira

Indústria e Produção

PLANO DE ESTUDOS

Gestão Econômica Ciclo de Vida

Gestão de Operações Sistemas de Informação Ergonomia

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Descrever os principais tipos de operações em uma in- • Apresentar os conceitos relativos ao ciclo de vida de pro-
dústria e apresentar, resumidamente, metodologias de dutos e empreendimentos, levando em conta parâmetros
gestão. de sustentabilidade.
• Apresentar métodos, aplicativos e processos para gestão • Descrever como considerar o ser humano como protago-
econômica de empreendimentos. nista do trabalho e de suas ações no ambiente.
• Descrever estratégias de montagem de sistemas de in-
formação para empreendimentos públicos ou privados.
Gestão de Operações

• Os fundamentos científicos da engenharia


de produção foram estabelecidos por Taylor
(USA) e Fayol (França).
• A gestão de operações em uma indústria se
divide em: recursos humanos, recursos ma-
teriais, transformações e qualidade.
• O Sistema Toyota de Produção introduziu o con-
ceito de just in time, eliminando o desperdício.

Conforme você deve ter notado nas unidades re-


lativas às Engenharias Civil, Elétrica e Química,
uma boa parte do trabalho do engenheiro está
relacionada com o planejamento e controle dos
processos, com o cumprimento de prazos e com
a viabilização financeira dos empreendimentos.
Esse tipo de atividade está presente em todos
os ramos da vida humana, tendo em vista que o
aumento da população requer racionalidade e
produção em larga escala dos bens relacionados
ao dia a dia da espécie humana e de seu ambiente.
A percepção da necessidade de bases lógicas
para planejamento e controle da produção, origem
da chamada Engenharia de Produção ou Indus-
trial, talvez se deva à Frederick Winslow Taylor
(1856-1915) (Figura 1) que, ao observar o modelo
de produção da indústria americana do início do
século XX, pensou em estabelecer bases científicas
para os processos produtivos.
Nessa época, a indústria automobilística ameri-
cana se fundamentava no modelo de Henry Ford
(1863-1947), pioneiro da indústria automobilística,
que preconizava que cada operário deveria fazer uma
parte específica do produto, tornando-se um especia- Figure 1 – Frederick Winslow Taylor
lista, voltado para os detalhes de sua peça (Figura 2). Fonte: Wikipédia ([2017])1.
Taylor era um engenheiro mecânico e foi presi-
dente da ASME (American Society of Mechanical
Engineering), tendo escrito vários artigos publica-
dos nos periódicos da época. Entretanto sua obra
seminal é o livro de 1911, Principles of Scientific
Management, editado pela Harper & Brothers,
em Londres e Nova York.
Nesse livro, estão colocadas as bases do Tay-
lorismo que defende a especialização e visão de
tarefas, com rigoroso treinamento para os ope-
rários, além da execução de um controle sobre o
rendimento de cada um, atribuindo prêmios àque-
les que as executam com maior eficiência. Além
disso, defendia que o processo de produção era de
responsabilidade dividida equitativamente entre o Figura 2 – Henry Ford
Fonte: Qad ([2017])2.
corpo diretivo da fábrica e seus operários.

UNIDADE VII 177


engenheiro chefe. Por isso, seus princípios têm
um bom olho dos operários e do pessoal de linha
de produção, combinado com o ponto de vista do
corpo diretivo da fábrica.
Fayol sempre trabalhou ligado à administração
superior da companhia em que trabalhava e, pos-
teriormente, trabalhou na administração pública
francesa. Por isso, seus princípios se assemelham
a um receituário para a alta administração.
Nos dias de hoje, essa metodologia desenvol-
vida no início do século XX deve ser aplicada a
Figura 3 – Jules Henri Fayol
sistemas produtivos cada vez mais complicados,
Fonte: Wikimédia ([2017, on-line)3.
muitas vezes, constituídos por um emaranhado
de processos de entrada, saída e retroalimenta-
Contemporaneamente a Taylor, porém na França, ção. De maneira simplificada, poderíamos dizer
Jules Henri Fayol (1941-1925) (Figura 3), que tinha que processos são atividades ou conjuntos de
como formação a Engenharia de Minas, propôs o atividades que, a partir de entradas, as transfor-
que se chama, nos dias de hoje, a Teoria Clássica da mam, fornecendo uma saída. Uma maneira mais
Administração, composta por 14 princípios: divi- específica de se expressar isso é considerar que
são do trabalho, disciplina, unidade de comando, um processo é um conjunto de recursos mate-
unidade de direção, subordinação dos interesses riais e humanos, submetidos a regras, normas e
particulares ao interesse geral, remuneração, cen- transformações, que devem gerar um produto.
tralização, hierarquia, ordem, equidade, estabilida- Assim, gerir um processo é prover e gerir recur-
de do pessoal, iniciativa e união do pessoal. sos, projetar e controlar regras de transformação para
Embora as ideias propostas por Taylor e Fa- obter um produto específico, dentro de padrões de
yol apresentem divergências, principalmente em qualidade previamente definidos, veja na figura, a
relação às hierarquias de comando, ambos con- seguir, a divisão das tarefas de gestão de um processo.
juntos de princípios são aplicáveis, considerando A gestão de recursos humanos, fundamenta-
sua adequação a cada caso particular. da nos modelos de Taylor e Fayol, tem sido exer-
Taylor iniciou trabalhando como operário, cida de maneira a criar linhas de montagem de
passou pela função de contramestre e chegou a móveis, com trabalhadores especializados.

178 Indústria e produção


Embora essa abordagem seja de sucesso, tem
como principal desvantagem a pouca flexibilidade,
pois a cada nova versão ou novo produto, novas fer-
ramentas devem ser projetadas, e a mão de obra trei- O sistema Toyota de Produção, concebido
nada novamente aumentando, os custos de produção. pelo Engenheiro Taiichi Ohno, revolucionou
No ambiente industrial dos dias de hoje, os ope- a indústria em todo mundo. Para saber mais
rários trabalham em grupos colaborativos, com au- sobre ele, assista: <https://www.youtube.com/
to-gestão, permitindo flexibilidade de funções e de watch?v=1SvaVIvbEnM>.
atuação, melhorando a eficiência da mão de obra.
A gestão de materiais é, também, um ponto
em que as estratégias de controle estão sendo for-
temente modificadas. A verticalização e o controle
de todas as fontes de suprimento estão sendo subs-
tituídos pelo chamado just in time. Nessa modali-
dade, a indústria associa à matéria-prima de seus
produtos fornecedores dedicados que fornecem
material apenas quando necessário. É o que se
pode chamar de combate à cultura do desperdício.
É na gestão das transformações que as in-
dústrias estão se aprimorando a cada dia. O desen-
volvimento de ferramentas computacionais e de
automação permite uma grande economia, pois
evita a troca de hardware quando os processos
precisam ser alterados. Mudanças de softwares e Figura 4a – Eiji Toyoda
Fonte: Encrypted ([2017], online)4.
ampliações de memória dão conta das atualiza-
ções, mantendo máquinas e pessoas.
As novas maneiras de gerir a fabricação dos
produtos industriais permitem uma grande re-
dução de custos, proveniente da eliminação de
desperdícios e de compra de máquinas e fer-
ramentas. Além disso, o uso de ferramentas de
precisão (lasers e fibras ópticas) controlados por
software tornou a gerência da qualidade o fator
primordial da inserção de produtos no mercado.
A indústria automobilística, por exemplo, antes
dominada pelo alto luxo e alto preço, volta-se para
a alta qualidade de baixo preço, fundamentada no
chamado “Sistema Toyota de Produção”, criado por
Eiji Toyoda (Figura 4a), (1913-2013), da família
proprietária das indústrias Toyota e de seu enge- Figura 4b – Taiichi Ohno
Fonte: Encrypted ([2017], on-line)5.
nheiro chefe Taiichi Ohno (Figura 4b), (1912-1990).

UNIDADE VII 179


Gestão Econômica

• A gestão econômica, no ambiente industrial,


está ligada aos custos de fabricação de um
dado produto.
• Esse custo inclui insumos, como recursos ma-
teriais e humanos, bem como administração,
depreciação e energia.

A gestão econômica de um negócio comercial foi,


ao longo do tempo, objeto de um raciocínio simples:
X = Receita, isto é, quanto recebi pelas mer-
cadorias vendidas;
Y = Despesa, isto é, quanto paguei por elas +
quanto gastei de aluguel + salários de funcio-
nários + impostos + contas de água e energia;
Lucro = X – Y.

Entretanto essa maneira de calcular, embora útil,


resume, nos dias de hoje, procedimentos mais
complicados, uma vez que, no ambiente indus-
trial, a expressão “quanto paguei por elas” pode
ser difícil de ser calculada, diferentemente de um
ambiente comercial, em que as mercadorias são
compradas prontas, diretamente dos fornecedores.

180 Indústria e produção


Até os anos 90, as indústrias fabricavam pro- dado produto, entendendo por insumos a matéria-
dutos submetidos a inovações mais vagarosas, e prima, os recursos humanos, a energia elétrica, as
suas máquinas e ferramentas requeriam reno- máquinas, as ferramentas e os equipamentos. En-
vação em ritmo não muito rápido, tornando a tre os custos de recursos humanos, distinguem-se
estrutura de custos de fabricação mais previsível. aqueles relativos à mão de obra direta, relacionada
O advento dos computadores, da explosiva diretamente com a fabricação, e a indireta, relacio-
miniaturização da eletrônica e da automação nada com os recursos necessários para a adminis-
mudou totalmente esse panorama. Para manter tração e os cuidados com o ambiente fabril.
suas posições nos mercados, as indústrias devem É importante ressaltar, também, que máqui-
produzir produtos inovadores e com conteúdo nas, ferramentas e equipamentos estão sujeitos à
tecnológico cada vez mais alto. depreciação, custo relacionado com a sua perda
Isso requer renovações em produtos e linhas de valor, ao longo do tempo.
de produção flexíveis, que permitam alterações Exemplo:
constantes, com equipes de trabalho criativas pro- Para tornar mais claras essas ideias, vamos con-
duzindo softwares renovados para um hardware siderar que uma certa fábrica que produz dois
que, na medida do possível, deve ser mantido. produtos, ao final de um mês de operação, apre-
É da gestão da expressão “quanto paguei por sentou os seguintes custos:
elas” ou do custo de fabricação que estamos tra- • Salários: R$ 20 000;
tando nesta seção, ressaltando que não estamos • Materiais de consumo: R$ 8 000;
propondo uma abordagem completa e fechada, • Depreciação: R$ 2 000;
mas algumas noções que podem ser úteis se • Energia Elétrica: R$ 800.
aperfeiçoadas em estudos posteriores.
Iniciamos definindo custo de fabricação como o Os custos, divididos por item de despesa, encon-
valor dos insumos consumidos na fabricação de um tram-se na Tabela 1.

Administração
Item Valor (R$) Manutenção Usinagem Montagem
Geral

Salários 20 000,00 10 000,00 2 000,00 6 000,00 2 000,00

Materiais 8 000,00 800,00 1 800,00 2 000,00 3 400,00

Energia 800,00 200,00 300,00 200,00 100,00

Depreciação 2 000,00 - 1 500,00 500,00 -

Total 30 800,00 11 000,00 5 600,00 8 700,00 5 500,00

Tabela 1 – Custos de Fabricação


Fonte: o autor.

UNIDADE VII 181


Nesse exemplo, podemos distinguir:
• Custos Fixos: salários + materiais = R$ 28
000,00; Tenha sua dose extra de
• Custos Variáveis: energia + depreciação = conhecimento assistindo ao
R$ 2 800,00; vídeo. Para acessar, use seu
• Custos diretos (relativos à fabricação) = leitor de QR Code.

usinagem + montagem = R$ 14 200,00;


• Custos indiretos = administração + manu-
tenção = R$ 16 600,00 Princípio de Pareto
O princípio de Pareto é uma técnica para selecio-
Análise nar prioridades quando há vários fatores contri-
Algumas conclusões que podem ser úteis: buindo para um certo ponto a ser aprimorado. Se-
• Os maiores custos são os de administração gundo o economista Vilfredo Pareto (1848-1923),
(custo indireto); os itens significativos, normalmente, pertencem
• Os custos de energia são pouco conside- a um número pequeno de itens, o que se pode
ráveis; identificar no chamado Diagrama de Pareto.
• Se a fábrica produzir 200 unidades do pro- Considerando o exemplo da Tabela 1, pode-
duto A, gastando 60% dos recursos, o custo mos fazer o diagrama de Pareto para a análise dos
de produção de A será de: custos de fabricação dos produtos exemplificados,
CA = 0,6 . 30 800/ 200 = R$ 92,4, por uni- conforme mostra a Figura 5.
dade produzida; A análise desse gráfico, segundo Pareto, indica
• Se a fábrica produzir 100 unidades do pro- que um único item (salários) é responsável por
duto B, gastando 40% dos recursos, o custo 65% do custo de fabricação. Além disso, salários
de produção de B será de: e materiais são responsáveis por 91% dos custos.
CB = 0,4 . 30 800/ 100 = R$ 123,2 por uni-
dade produzida. Princípio de Pareto: Custos

1 2 3 4

12%
5%
A gestão econômica é item fundamental para
a composição do custo dos produtos que, no
47%
mercado altamente competitivo como o atual,
36%
é decisivo para o sucesso do empreendimento.
Para saber mais sobre este assunto, leia o artigo
do site abaixo:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1413-92511996000200001>.
Figura 5 – 1- Salários; 2- Materiais; 3- Energia; 4 - Depreciação
Fonte: o autor.

182 Indústria e produção


Sistemas de Informação

• As arquiteturas computacionais combinam três


tipos de função: memória, processamento e
entrada e saída de dados.
• A hiperminiaturização da eletrônica e o proces-
samento digital de sinais criaram ambientes
virtuais de trabalho de grande eficiência.

Conforme já apresentamos em nossa Unidade


III, devemos a John Von Neumann (VON NEU-
MANN, 1945) a arquitetura de computadores
composta por três funções básicas: memórias,
processamento e entrada e saída de dados.
Em 1965, Gordon Earle Moore (Figura 6),
nascido em 1929 e fundador da Intel, empresa
pioneira na fabricação de chips eletrônicos, previu
que o número de transistores no interior de um
mesmo chip dobraria a cada 18 meses, levando à
hiperminiaturização dos componentes eletrôni-
cos, sem aumento de custos.

UNIDADE VII 183


Para efeito de ilustração desse fato, a Figura
8 mostra o interior de um chip, com as diversas
camadas de material depositado, formando os
componentes internos.
Durante esse mesmo período, o processamen-
to digital de sinais revolucionou as telecomuni-
cações e, nos dias de hoje, dispositivos eletrôni-
cos baratos e pequenos se comunicam trocando
grande quantidade de informação, transformando
empresas em todo o mundo.
As barreiras físicas acabaram e a arquitetura
Von Neumann pode ter suas partes descentra-
Figura 6 – Lei de Moore Gordon Earle Moore
Fonte: Ethw ([2017], on-line)7. lizadas e espalhadas pelo mundo. O conceito de
empresa global está cada dia mais presente na vida
Essa previsão, de fato, materializou-se. A Figura 7 das pessoas. Aplicativos desenvolvem negócios
mostra o crescimento do número de transistores para antes impensáveis: empresas líderes em transporte
processadores Intel (pontos) e a previsão de Moore de pessoas não possuem veículos; empresas líde-
(linha de cima=18 meses, linha de baixo=24 meses). res na indústria hoteleira não possuem imóveis.

Figura 7 – Expressão gráfica da Lei de Moore


Fonte: Wikipédia ([2017], on-line)7.

184 Indústria e produção


interior de um chip

Figura 8 – O interior de um chip

UNIDADE VII 185


Enfim, a automação de processos comerciais ou USP, PUC-Rio, UFRJ, UFAL e ITA. Essa rede tem
industriais, as ferramentas de projeto e planeja- sido decisiva para a pesquisa e o desenvolvimento
mento que tanto nos maravilharam no século XX na área, sendo responsável por importantes pro-
são barreiras vencidas. Estamos agora no mundo gressos do país.
virtual, com arquiteturas em nuvem oferecidas Uma terceira forma interessante é a dos tra-
por grandes indústrias líderes e inovadoras. É do balhadores virtuais. Pessoas com compromis-
uso delas que falaremos aqui, brevemente. sos familiares, portadores de deficiência de loco-
O conceito de organização virtual consiste moção ou pessoas localizadas em outras cidades,
no bom uso das comunicações entre seus diver- podem trabalhar de suas casas, sem precisar ir
sos componentes: recursos humanos, clientes aos escritórios. Os encontros pessoais podem,
e fornecedores podendo, até mesmo, incluir até, ser realizados remotamente, utilizando pro-
concorrentes. gramas de videoconferência. Enfim, é o mundo
A distância passa a ser um fator irrelevan- sem distâncias, resultado da criatividade e da
te e, via dispositivos de comunicação, pessoas e inteligência humana.
organizações se juntam, de maneira temporária
ou duradoura, com nível de burocracia bastante
simplificado.
Uma outra forma moderna de trabalho são as
chamadas redes virtuais de colaboração, forma-
das por pessoas ou organizações interessadas em Novas empresas virtuais surgem diariamente.
trocar informações com seus pares. A rede What’s Se você quer saber mais sobre como elas
up é um grande exemplo de sucesso nessa área, funcionam, leia o artigo de Geraldo Maciel de
reunindo famílias e amigos dispersos pelo mundo. Araújo, encontrado em: <http://www.abepro.org.
Na indústria brasileira de petróleo há uma im- br/biblioteca/ENEGEP1997_T6303.PDF>.
portante rede de colaboração unindo Petrobrás,

186 Indústria e produção


Ciclo de Vida

• O ciclo de vida de um produto compreende: in-


trodução, crescimento, maturidade e declínio.
• A sustentabilidade de uma indústria deve ser
mantida pelo bom planejamento do declínio
dos velhos produtos e do crescimento de novos.

Um dos parâmetros importantes na definição de


um produto é seu ciclo de vida. Produtos são con-
cebidos, inicialmente, como ideias nos cérebros das
pessoas. Em seguida, passam para o papel como ras-
cunhos para que as ideias possam ser comunicadas
a possíveis interessados. Do papel para o chamado
“modelo aranha”, temos uma passagem de definição
de especificações, materiais, ferramentas e mercado.
Do “modelo aranha” para o protótipo, defi-
nem-se os procedimentos de fabricação, as listas de
componentes e os possíveis preços de venda. Essa é
uma fase de preparação que, nos mercados atuais,
precisa ser rápida e de fácil adaptação, pois novas
concepções de produtos aparecem todos os dias.
Até o final dos anos 80, essa fase de concep-
ção era bastante cuidadosa, pois se imaginava
que um produto, uma vez no mercado, teria
vida muito longa, com produção e venda ga-
rantida e praticamente contínua.

UNIDADE VII 187


O Fusca (Figura 9a) e a máquina de escrever (Fi- mercado. O crescimento caracteriza-se pelo au-
gura 9b), provavelmente, representam, para você, mento de suas vendas e pelo reconhecimento do
peças de museu, mas foram produtos de grande mercado da sua qualidade. Na maturidade, a taxa
sucesso, sobrevivendo mais de 30 anos no mercado. de crescimento das vendas estabiliza-se e o custo
Nos dias de hoje, pequenos computadores de de produção fica reduzido. É o tempo de picos de
grande capacidade e flexibilidade, embora sejam vendas e lucros, sinalizando, entretanto, necessi-
duráveis, são rapidamente substituídos, pois seus dade de novas ideias para manter o mercado. Já
usuários estão sempre ávidos por novidades. o declínio de um produto é inevitável, as vendas
Esse é um fenômeno que ocorre de maneira ge- e lucros diminuem e um bom planejamento do
ral para roupas, aparelhos de TV, carros, telefones fim do produto se faz necessário para manter a
celulares e tantos outros bens de capital e consumo. rentabilidade global da empresa.
Enfim, parece que a cultura do desperdício passou
da indústria para o mercado consumidor, com-
prometendo decisivamente o futuro do planeta.
Mesmo diante dessa nova postura industrial e
do mercado consumidor, podemos dividir o ciclo O conceito de ciclo de vida de um produto é fator
de vida de um produto, após sua concepção, em: importante na definição de estratégias de mercado.
introdução, crescimento, maturidade e declínio. Para saber mais sobre o assunto, assista à aula do
A introdução caracteriza-se, normalmente, Prof. Aldo Roberto Ometto, disponível em: <https://
por elevadas despesas e a incorporação de inova- www.youtube.com/watch?v=LSR6w14aWVE>.
ções, para que o produto atenda efetivamente o

Figura 9a – Fusca Figura 9b – Máquina de escrever

188 Indústria e produção


Ergonomia

• A Ergonomia proporciona métodos de projeto


para que os processos sejam adequados aos
seres humanos que deles participam.
• A Ergonomia deve cuidar de fatores físicos e
psicológicos dos trabalhadores.

Os trabalhos a serem executados em um ambien-


te industrial têm, sempre, alguma ação humana,
seja na operação direta de uma máquina, seja na
supervisão de uma ilha robótica de produção.
Dentro do escopo da Engenharia de Produção,
entendemos por Ergonomia o estudo das intera-
ções dos seres humanos com os outros compo-
nentes do sistema de trabalho (BATALHA, 2008)
sejam eles máquinas, ferramentas, mobiliário
sejam outros seres humanos, visando aprimorar
processos físicos, emocionais e organizacionais.
A ergonomia é assunto tão vasto e multidisci-
plinar que tentar dar a ele um arcabouço formal
normativo é tarefa quase impossível. Por essa ra-
zão, há várias abordagens, cada uma privilegiando
algum aspecto das relações de trabalho e condi-
ções de trabalho.

UNIDADE VII 189


Entre essas abordagens, a que mais se aproxima dominante. Essas lesões podem ser minimizadas
do dia a dia de uma fábrica é a chamada ho- ou evitadas, projetando-se de maneira adequada
mem-máquina-ambiente, considerando que o sistema de produção, evitando trabalhos que en-
cada operário realiza seu trabalho em postos que volvam torção do tronco, manipulações com braço
podem ser de controle de máquinas, de opera- esticado acima do ombro, ficar em pé por longos
ção de máquinas e de escritório. Recebendo in- períodos, empurrar e puxar objetos pesados.
formações das máquinas e do meio ambiente, Enfim, cabe à Engenharia de Produção criar
processa-as e atua sobre seu posto de trabalho processos que não atuem contra a saúde e a dig-
para a realização das tarefas. nidade do ser humano. Assim terminamos esta
A escola francesa de ergonomia propõe uma unidade. Aqueles que vão seguir a Engenharia
análise ergonômica do trabalho, isto é, uma de Produção verão os assuntos aqui descritos
análise cuidadosa das tarefas a serem realizadas, com muito mais detalhes. Entretanto consi-
projetando o ambiente adequado ao trabalho. deramos que todo engenheiro, de qualquer
Essa análise, realizada por equipe multidisci- modalidade, deve ter conhecimento do que
plinar que inclui médicos, deve ter a participação foi estudado aqui.
dos trabalhadores que influenciam no projeto do
processo, tornando-se protagonistas das ações e
criando um ambiente colaborativo. Os resultados
dessa análise proporcionam diagnósticos sobre os
processos, permitindo alterações nos seus proje- O trabalho a ser realizado por seres humanos
tos, tornando-os adequados à saúde física e men- requer respeito às suas limitações. O Prof. Laerte
tal dos trabalhadores. Idal Sznelwar é um conceituado especialista em
Outro aspecto importante da Ergonomia está Ergonomia, e você pode saber mais sobre o
relacionado com a previsão de lesões que podem assunto acessando o link: <https://www.youtube.
ser provocadas pelo trabalho constante e repetitivo com/watch?v=smXK3uE-p98>.
que utiliza alguns órgãos do corpo, de maneira pre-

190 Indústria e produção


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. As bases científicas da Engenharia de Produção tiveram origem:


a) No século XVIII.
b) Na Grécia Antiga.
c) No início do século XXI.
d) No início do século XX.
e) Na Idade Média.

2. Sobre a divisão de responsabilidades na linha de produção, Taylor apregoava:


a) Parcelas equitativas entre operários e corpo diretivo.
b) Totalmente dos operários.
c) Totalmente do corpo diretivo.
d) Parcelas equitativas entre o mercado consumidor e corpo diretivo.
e) Parcelas equitativas entre mercado consumidor e operários.

3. A visão de Fayol sobre a administração da produção apresenta ponto de vista:


a) Voltado para o operário.
b) Centralizador e voltado para o controle pelo corpo diretivo.
c) Descentralizado entre corpo diretivo e operários.
d) Voltado para o mercado.
e) Voltado para a economia de material.

4. As duas principais características do sistema Toyota de produção são:


a) Material em abundância e ferramentas precisas.
b) Eliminação de desperdício e ferramentas dependentes do processo.
c) Eliminação de desperdício e qualidade.
d) Material em abundância e qualidade.
e) Eliminação de desperdício e hardware variável.

191
A tabela abaixo se refere às próximas 4 questões:

Administr.
Item Valor (R$) Manutenção Usinagem Montagem
Geral

Salários 5 000,00 2 000,00 1 000,00 1 000,00 1 000,00

Materiais 2 500,00 200,00 300,00 1 500,00 500,00

Energia 400,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Depreciação 1 000,00 - 500,00 500,00 -

Total 8 900,00 2 300,00 1 900,00 3 100,00 1 600,00

Tabela 1 – Custos de Fabricação


Fonte: o autor.

5. O valor total dos custos fixos é, em R$:


a) 7 500,00.
b) 5 400,00.
c) 6 000,00.
d) 5 000,00.
e) 1 400,00.

6. O valor total dos custos variáveis é, em R$:


a) 7 500,00.
b) 5 400,00.
c) 6 000,00.
d) 5 000,00.
e) 1 400,00.

7. Os custos diretos de fabricação, em reais, somam:


a) 4 200,00.
b) 3 200,00.
c) 4 700, 00.
d) 4 100,00.
e) 7 200,00.

192
8. Os custos indiretos de fabricação, em reais, somam:
a) 4 200,00.
b) 3 200,00.
c) 4 700, 00.
d) 4 100,00.
e) 7 200,00.

9. Os principais fatores relacionados à expansão da tecnologia da informação foram:


a) Hiperminiaturização da eletrônica e a tecnologia de materiais.
b) Uso das válvulas e processamento digital de sinais.
c) Hiperminiaturização da eletrônica e tecnologia nuclear.
d) Hiperminiaturização da eletrônica e processamento digital de sinais.
e) Desenvolvimento de reatores químicos e digitalização de sinais de voz.

10. A empresa “Amazon” é um exemplo de:


a) Empresa industrial.
b) Empresa de produção de livros.
c) Editora.
d) Empresa acadêmica.
e) Empresa virtual.

11. A fase do ciclo de vida de um produto que envolve maior custo é a:


a) Concepção.
b) Introdução.
c) Crescimento.
d) Maturidade.
e) Declínio.

193
12. A fase do ciclo de vida de um produto que envolve maior lucro é a:
a) Concepção.
b) Introdução.
c) Crescimento.
d) Maturidade.
e) Declínio.

13. A Ergonomia se dedica ao estudo das:


a) Relações operário-sociedade.
b) Relações operário-salários.
c) Relações chefe-operário.
d) Relações operário-ambiente de trabalho.
e) Relações entre doenças e sociedade.

194
LIVRO

Introdução à Engenharia de Produção


Autor: Mário Otávio Batalha
Editora: Campus – Elsevier – Rio de Janeiro - 2008
Sinopse: o número de cursos de graduação e pós-graduação em Engenharia
de Produção vem aumentando rapidamente no Brasil. Hoje já são mais de 200
cursos de graduação em todo o Brasil. Este número é um dos indicadores da
vitalidade e da importância desta área para o país.
O engenheiro de produção atua no sentido de projetar, aperfeiçoar e implantar
sistemas de produção (combinando pessoas, materiais, informações, equipa-
mentos e energia) para a produção sustentável de bens e serviços. Para isso,
ele dispõe de um conjunto de conhecimentos oriundos das mais diversas áreas
do saber. É este conjunto de conhecimentos, dividido nas grandes áreas da
Engenharia de Produção, que é apresentado neste livro.
Este livro, terceira obra da Coleção Livros Didáticos ABEPRO-CAMPUS em En-
genharia de Produção, supre uma lacuna importante na bibliografia nacional.
Elaborado por uma equipe competente e experiente nas várias disciplinas apre-
sentadas, ele destina-se a estudantes, professores e profissionais que desejam
conhecer o campo da Engenharia de Produção.

195
MAXMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Atlas, 2006.

BATALHA, M. O. Introdução à Engenharia de Produção. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2008.

NEUMANN, J. V. First draft of a Report on EDVAC. Moore School of Electrical Engineering, University of
Pennsylvania, 1945.

REFERÊNCIAS ON-LINE

Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Frederick_Taylor>. Acesso em: 23 nov. 2017.


1

Em: <http://blog.qad.com/wp-content/uploads/2016/12/Blog_01.05.2017_a.jpg>. Acesso em: 23 nov. 2017.


2

3
Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/7e/Luther_Halsey_Gulick.jpg/800px-
Luther_Halsey_Gulick.jpg>. Acesso em: 23 nov. 2017.
4
Em: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSLSHUasl_IfwwEOjfsIiGMZDYi2Qgb8t-
MlPDomGJfw0vBifuGn>. Acesso em: 23 nov. 2017.
5
Em: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTA_s_8YQxu6_um5CR7jXUt9Q-
QHYMDmP6to7mDZZbjg6FXmPsgG_g>. Acesso em: 23 nov. 2017.

Em: <http://ethw.org/w/images/1/15/Gordon_E._Moore.jpg>. Acesso em: 23 nov. 2017.


6

Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Moore>. Acesso em: 23 nov. 2017.


7

196
1. D

2. A

3. B

4. C

5. A

6. E

7. C

8. A

9. D

10. E

11. B

12. D

13. D

197
198
Dr. José Roberto Castilho Piqueira

Engenharia Mecânica

PLANO DE ESTUDOS

As conquistas da Processos de manufatura


Engenharia Mecânica

Elementos de Forças e máquinas Simulação de processos


Engenharia Mecânica

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Descrever as principais áreas de atuação da engenharia • Mostrar as diversas maneiras de transmissão de força e
mecânica e suas ramificações: máquinas, energia e fluidos, de movimentos no projeto de máquinas.
mecatrônica, naval e aeronáutica. • Descrever os principais processos relativos à produção de
• Descrever as principais conquistas da Engenharia Mecâ- máquinas e ferramentas, garantindo qualidade e precisão.
nica e suas ramificações: automóvel, programa espacial, • Descrever as técnicas de simulação de processos, permi-
fontes alternativas de energia, aviões, robótica, conforto tindo seu aprimoramento durante o projeto, sem neces-
térmico. sidade de construção prévia.
Elementos de
Engenharia Mecânica

• Os primeiros dispositivos de transmissão e mul-


tiplicação de forças apareceram na Antiguidade,
nas construções de moradias e monumentos.
• As máquinas a vapor foram utilizadas na auto-
mação da manufatura e nos transportes, colabo-
rando decisivamente para a revolução industrial.
• O progresso da eletrônica permitiu a constru-
ção de robôs que atuam na manufatura fabril.

Conforme você deve ter observado ao longo das


unidades iniciais deste curso, tudo indica que a
Engenharia Mecânica nasceu na pré-história, com
os seres humanos construindo suas primeiras
ferramentas e armas.
Na Antiguidade, os processos de construção
demandaram as primeiras máquinas para trans-
missão e multiplicação de forças e torques, dimi-
nuindo o esforço humano necessário nas obras
de monumentos e edificações. Surgem, então as
alavancas, polias e rodas que atendem às mais
diversas necessidades do trabalho.
Figura 2b – Robert Hooke
Figura 1 – Arquimedes Figura 2a – Robert Boyle
Fonte: Wikimédia ([2017])1.

Figura 3a – Thomas Savery


Fontes: Wikimédia ([2017])2. Figura 3b – Denis Papin

Arquimedes (Figura 1), filósofo nascido em Siracu- ta já citado no tópico 2, da Unidade V, construiu
sa (Itália), em 287 a.C., realizou vários estudos que, a primeira bomba de vácuo.
nos dias atuais, são classificados como de Engenha- Seguindo o trabalho de Guericke, Robert Boyle
ria Mecânica, sendo o autor da frase: “deem-me (1627-1691) (Figura 2a) e Robert Hooke (1635-
uma alavanca suficientemente longa e um fulcro 1703) (Figura 2b) estabeleceram as relações entre
suficientemente forte e eu moverei o mundo”. as grandezas: pressão, volume temperatura.
Nos dias de hoje, podemos considerar a En- O trabalho de Boyle e Hooke permitiu esta-
genharia Mecânica como o ramo da tecnologia belecer que, quando um sistema gasoso desloca
que se ocupa da geração, transmissão e controle suas fronteiras (variação de volume), sua força
de movimentos e, portanto, tem como grandezas de pressão realiza trabalho mecânico, levando à
fundamentais a serem estudadas as forças, os tor- possibilidade de converter energia na forma de
ques, o trabalho e a energia. calor em energia mecânica útil.
O conhecimento e uso da Engenharia Mecâni- Essa ideia foi essencial para a construção da pri-
ca passou por grande desenvolvimento a partir da meira máquina térmica pelo engenheiro Thomas
Termodinâmica, isto é, dos fenômenos dinâmicos Savery (1650-1715) (Figura 3a), em 1697, movi-
provocados por trocas de calor cujos estudos ex- mentando pistões a partir de variações de volume
perimentais se iniciaram no século XVII, quando de gases aquecidos, baseada na máquina de Denis
Otto von Guericke (1602-1686), o mesmo cientis- Papin (1647-1712) (Figura 3b), de um único pistão.

UNIDADE VIII 201


Sadi Carnot (1796-1832) (Figura 4a) publicou, em 1824, o livro Reflexões sobre energia motora e
fogo, obra seminal que explicou o funcionamento das máquinas a vapor que passaram a ser utilizadas
nas fábricas, iniciando a automatização dos processos industriais, e no transporte com trens movidos
a vapor encurtando distâncias e levando progresso (Figura 4b).

Figura 4a – Sadi Carnot Figura 4b – Trem a vapor


Fontes: Miniweb ([2017])3.

Esse progresso tecnológico redundou na chamada “Revolução Industrial”, marcando a transição dos
métodos de produção artesanais para a produção usando máquinas. O início desse processo ocorreu
na Inglaterra e se espalhou por toda Europa Ocidental e Estados Unidos. Gradativamente, os pro-
cessos de produção foram aprimorados e, na segunda metade do século XX, iniciou-se a chamada
“Terceira Onda”, termo moldado por Alvin Toffler (1928-2016) (Figura 5a) em seu quase profético
livro (Figura 5b).
Toffler considera que o início da fixação em torno de suas produções agrícolas foi a primeira onda
de progresso da humanidade. A segunda onda foi a “Revolução Industrial” e a terceira foi a chamada
“Revolução da Informação”, marcada pelo uso maciço dos computadores e pelo desenvolvimento da
inteligência artificial.

202 Engenharia mecânica


A “Revolução da Informação” produziu os robôs industriais, mudando o modo de produção das
fábricas e dando início à chamada “Engenharia Mecatrônica”, combinando a Mecânica com a Eletrônica
nos processos de manufatura. Assim, temos hoje uma importante subdivisão da Engenharia Mecânica
que, na maioria das escolas, transformou-se em nova modalidade.
No âmbito da Engenharia Mecânica há, ainda, duas outras modalidades especializadas: Naval e
Aeronáutica. Ambas combinam o projeto de estruturas com problemas complexos de Mecânica dos
Fluidos, relativos aos meios nos quais navios, submarinos e aeronaves se movimentam.

O desenvolvimento das máquinas térmicas está diretamente ligado à “Revolução Industrial”. Para
entender melhor como isso ocorreu, consulte o site: <https://www.todamateria.com.br/revolucao-
industrial/>.

Figura 5a – Alvin Toffler Figura 5b – Capa do livro A terceira onda


Fonte: Wikipédia ([2017])4. Fonte: Amazon ([2017])5.

UNIDADE VIII 203


As Conquistas
da Engenharia Mecânica

• É difícil encontrar um produto ou serviço que


não tenha sido concebido pela Engenharia Me-
cânica em seu projeto ou fabricação.
• Carros, aviões, navios, respiradores artificiais,
próteses, órteses, estações espaciais são ma-
ravilhas da Engenharia Mecânica.

Conforme temos insistido ao longo desta disci-


plina, a principal finalidade da Engenharia é de-
senvolver produtos e processos que contribuam
para a qualidade de vida da espécie humana e para
a sustentabilidade do nosso planeta.
Dentro desse panorama, a Engenharia Me-
cânica se destaca, uma vez que é praticamente
impossível encontrar um produto que não tenha
na sua realização a participação da Engenharia
Mecânica, na sua concepção ou no projeto e fa-
bricação das máquinas que o produzem.

204 Engenharia mecânica


Assim, falar de Engenharia Mecânica é, por exemplo, falar dos carros ou dos meios de transporte,
em geral. Os carros que nasceram da ideia de Nikolaus August Otto (1832-1891) (Figura 6a), que con-
cebeu o motor à combustão interna de quatro tempos (Figura 6b), fundamentado no hoje chamado
“Ciclo de Otto.

Figura 6a – Nikolaus August Otto Figura 6b – Motor de quatro tempos


Fontes: Wikimédia ([2017])6. Fonte: 2Bp ([2017])7.

O uso do ciclo de Otto nos motores à combustão interna permitiu obter altas potências, com motores
leves e industrialmente reprodutíveis, transformando o carro em um bem de consumo de grande
utilidade.
Ao longo dos anos, os carros tiveram seus projetos aprimorados no que tange à segurança, ao conforto
e à estética. Além disso, houve o desenvolvimento de diversos tipos de combustíveis de alto desempenho.
Apesar de todas as vantagens que o uso maciço do carro trouxe para a humanidade, como foi pen-
sado inicialmente para ser movido a combustíveis fosseis, causou um sério problema para o planeta,
uma vez que contribui fortemente para as emissões de CO2, aumentando o efeito estufa.

UNIDADE VIII 205


Figura 7 – O carro sem motorista Figura 9a – Plantio de trigo

Figura 8a – Arado 9b – Combate a pragas

Figura 8b – Irrigação Figura 10 – Estudos de Aerodinâmica

206 Engenharia mecânica


Hoje, engenheiros mecânicos em todo o mundo Em relação aos motores, de acordo com o uso
trabalham no desenvolvimento de combustíveis do avião, há os mecanismos do tipo hélice (turbo
menos poluentes, tais como biocombustíveis e gás hélice) (Figura 11a) ou a jato (turbo jato) (Figura
natural. Além disso, técnicas de sequestro de car- 11b). O desenvolvimento da aviação militar levou
bono da atmosfera estão sendo projetadas. Outra ao desenvolvimento de motores altamente sofisti-
conquista que parece estar em vias de se tornar cados, que podem ser acelerados e desacelerados
um produto massivo é o carro sem motorista (Fi- muito rapidamente, de acordo com as necessida-
gura 7), desenvolvido combinando técnicas de des de combate.
posicionamento global (GPS) com a robótica e Os exemplos aqui discutidos dão uma ideia
a “Internet das coisas” (IoT), em um panorama da abrangência da Engenharia Mecânica. Se você
quase de ficção científica, que Alvin Toffler talvez olhar em volta, vai perceber muitos outros exem-
chamasse de “A Quarta Onda”. plos: viagens espaciais, geração de energia, confor-
Outro setor cujo desenvolvimento tem um to térmico, construção e lançamento de satélites,
grande aporte da Engenharia Mecânica é a agri- navios, usinas nucleares e tantas outras aplicações
cultura. Desde seus primórdios, com arados de cuja enumeração transcende ao escopo deste texto.
tração animal (Figura 8a) e mecanismos de irriga-
ção (Figura 8b), evoluiu com um grande número
de dispositivos, como colhedeiras, máquinas de
plantio e mecanismos de combate a pragas.
Atualmente, a mecânica de precisão contribui
para ferramentas de plantio otimizado e automá-
tico (Figura 9a), colheita automática e os drones
podem ser usados para espalhar sementes e com-
bater pragas (Figura 9b).
Outra área de grande importância relacionada
com a Engenharia Mecânica é a aviação. Desde a
concepção dos primeiros aviões, no começo do sé-
culo XX até os dias de hoje, a aviação experimentou Figura 11a – Turbo hélice
um grande desenvolvimento, sob os mais diversos
aspectos.
Em relação à aerodinâmica, muitos trabalhos são
realizados diariamente com ensaios e simulações
(Figura 10) que visam aprimorar a estabilidade dos
voos e adaptabilidade das formas geométricas aos
diversos tipos de atmosferas a serem enfrentados.
A engenharia de materiais é, também, altamen-
te sofisticada, pois - durante decolagens, voos e
pousos - as diversas partes podem estar sujeitas a
fortes tensões mecânicas. Aliados a isso, estão os
desenvolvimentos de pilotagem, controle e segu-
rança, que devem ser altamente confiáveis. Figura 11b – Turbo jato

UNIDADE VIII 207


O problema de conforto em cabines de avião é afeto às Engenharias Mecânica, Mecatrônica e
Aeronáutica. Para saber sobre pesquisas feitas no Brasil sobre o assunto, visite: <https://www.
monolitonimbus.com.br/conforto-de-cabine/>.

208 Engenharia mecânica


Forças e Máquinas

• Três exemplos de cálculo em Engenharia Me-


cânica são estudados: força de pressão em um
avião, energia gerada em um exercício, consu-
mo de gasolina de um carro.

Nesta parte da unidade, faremos três exemplos de


problemas relativos à Engenharia Mecânica que
requerem, para seu entendimento, apenas o co-
nhecimento de Física do Ensino Médio e, quando
for necessário, recordaremos os conceitos.

Exemplo 1: A porta de um avião


Sabemos que em altitudes de cruzeiro de aviões
a jato (cerca de 9 000 pés), a pressão atmosférica é
cerca de 30% da pressão atmosférica no nível do
mar. Para não causar desconforto, a pressão interna
da cabine é mantida em cerca de 70% da pressão
atmosférica no nível do mar. Consequentemente,
a diferença de pressão entre a cabine e o meio ex-
terno provoca forças na estrutura do avião, e vamos
estimar o valor dessa força na porta do avião.

UNIDADE VIII 209


• Consideraremos que a área da porta do Exemplo 3: Consumo de gasolina
avião é de 2m2; • Um motor de automóvel é alimentado por
• Consideraremos que a pressão atmosférica um combustível que fornece 4 000 000
no nível do mar é de 100 kPa (quilo pascal), Joules por litro (J/L);
isto é, 100 kN por m2 (quilo newton por • O motor consome 7 000 Joules por segun-
metro quadrado); do, isto é, 7 000 W, com rendimento 30%,
• Nessas condições, a diferença entre as pres- em um dado percurso de 0,5 h de rodagem;
sões interna e externa da cabine vale: (0,7 • Nessas condições podemos calcular a po-
– 0,3). 100 = 40 kPa, isto é, 40 kN por m2; tência total fornecida ao motor, pois: ren-
• Como a área da porta é de 2m2, a força so- dimento = potência útil/potência total;
bre ela vale: 40.2=80kN, dirigida do inte- • Logo: 0,3 = 7000/potência total e, portanto,
rior para o exterior da aeronave. potência total = 7 000/0,3 = 23 300 W;
• Em meia hora de rodagem, a energia ne-
Exemplo 2: A energia de um ciclista cessária vale: 23 300. 0,5. 3600 = 41 940
Neste exemplo, vamos verificar se a energia 000J;
produzida por uma pessoa pedalando é suficiente • Portanto, a quantidade de combustível
para alimentar uma TV de LCD: para realizar esse percurso vale:
• Consideraremos que uma TV de LCD ne- 41 940 000/ 4 000 000 = 10,48L.
cessita receber 110 W de potência elétrica
para funcionar;
• Consideraremos que o rendimento da con-
versão de energia mecânica da pedalada
em energia elétrica é 80%;
• Pedalar uma bicicleta ergométrica equivale
a uma subida de escada de 3m em 10s; A busca de energias alternativas é objeto de ampla
• A massa da pessoa é cerca de 70kg; pesquisa, visando garantir a sustentabilidade
• Logo, a energia transferida pela pessoa à do planeta. O uso de energias provenientes da
bicicleta equivale à energia potencial gra- marcha do ser humano parece ser tecnicamente
vitacional, isto é, mgh = 70. 10. 3 = 2 100 J; viável.
• A potência mecânica vale: 2 100/ 10 = 210 Para saber mais sobre isso, visite o site: <https://
J/s = 210 W; www.ecycle.com.br/component/content/
• A potência elétrica vale: 0,8. 210 = 168 W article/37/1463-britanico-cria-tapete-que-gera-
e, portanto, a energia fornecida nas peda- energia-eletrica-com-as-pisadas.html>.
ladas pode alimentar a TV de LCD.

210 Engenharia mecânica


Motores térmicos
Nos motores térmicos, o trabalho realizado na fase de expansão é maior que o despendido na fase de
compressão para atender à finalidade da máquina: transformar a energia recebida na forma de calor
em energia mecânica.
A Figura 12 ilustra as trocas de energia em um ciclo genérico de um motor térmico.

Figura 12 – Energias em um motor térmico


Fonte: o autor.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
seu leitor de QR Code.

Ele recebe energia na forma de calor de uma fonte quente, disponibiliza trabalho mecânico e, para
que possa voltar ao estado inicial e começar um novo ciclo, cede energia na forma de calor para uma
fonte fria. Por essa descrição, fica evidente a necessidade das duas fontes. Uma para fornecer a energia
ao motor, na forma de calor, e a outra para retirar a parcela do calor fornecido que não foi convertida
em trabalho mecânico e fazer o motor retornar à condição inicial.
No caso de um motor comum de automóvel, a queima do combustível, que gera o calor, é a fonte quente;
a atmosfera, para a qual o motor cede calor, é a fonte fria.

UNIDADE VIII 211


Processos
de Manufatura

• Os processos de manufatura podem ser classi-


ficados em: fundição, conformação, usinagem
e junção.
• Os processos de conformação podem ser:
forjamento, laminação, trefilação, extrusão,
embutimento, estiramento, dobramento e ci-
salhamento.
• Os principais processos de usinagem são: fura-
ção, serragem, frezagem e torneamento.
• A junção entre as diversas partes de um siste-
ma pode ser feita por: soldagem, rebites, pa-
rafusos ou material adesivo.

Uma área importante da Engenharia Mecânica é


constituída pelo estudo dos processos de manu-
fatura, que permitem a fabricação de peças e par-
tes de produtos como automóveis, robôs, aviões
e navios. O mais conhecido deles é a fundição,
que consiste em derramar um metal líquido em
um molde para seu resfriamento e solidificação,
adquirindo a forma desejada (Figura 13).

212 Engenharia mecânica


Outro processo importante para obtenção de
peças com formatos particulares é a conforma-
ção, no qual, por aplicação de forças intensas de
tração, dobra ou compressão, obtém-se a forma
desejada para uma dada peça.
As operações de conformação podem ser de
diversos tipos, como: forjamento (Figura 14a), la-
minação, trefilação (Figura 14b), extrusão, embu-
timento, estiramento, dobramento e cisalhamento.
A usinagem consiste na retirada de material
de uma peça, cortando-a com uma ferramenta
afiada. As técnicas de usinagem mais usadas são:
Figura 13 – Fundição furação (Figura 15a), serragem (Figura 15b), fre-
Fonte: Bm Fundição ([2017])8. sagem (Figura 16a) e torneamento (figura 16b).

Figura 14a – Conformação: Forjamento manual Figura 15a – Furadeira

Figura 14b – Máquina de trefilar (fazer fios) Figura 15b – Serra


Fonte: Wikimédia ([2017])9.

UNIDADE VIII 213


Figura 16a – Processo de Fresagem
Ilustração: Thiago Surmani (2017).

Figura 16b – Torno


Fonte: Ytimg ([2017])10.

214 Engenharia mecânica


Figura 17a – Soldagem Figura 17b – Rebites, pregos e parafusos
Fonte: Mecânica Industrial ([2017])11.

O processo de manufatura conhecido por junção consiste na combinação de componentes por soldas
(Figura 17a), rebites, parafusos (Figura 17b) ou materiais adesivos, como em um quadro de bicicletas
em que as diversas peças são soldadas formando o bloco.

1. Os processos de torneamento e fresagem são de grande importância nas indústrias mecânicas,


mecatrônicas, navais e aeronáuticas.
Para conhecê-los melhor, consulte os sites: <https://www.youtube.com/watch?v=jy6Pa9FqdRc> e
<https://www.youtube.com/watch?v=zzEAsyD7MZU>
2. A Engenharia Mecânica brasileira deve muito ao engenheiro suíço Robert Mange que, além de ter
sido catedrático da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, concebeu as escolas SENAI.
Caso você queira saber mais sobre isso, leia o excelente artigo de Desirê Luciane Dominschek
disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/11258/10028>.

UNIDADE VIII 215


Simulação de Processos

A simulação computacional permite realizar pro-


jetos minimizando o número de protótipos a se-
rem construídos e, portanto, de maneira mais
econômica e precisa.

O desenvolvimento da indústria de computadores


tornou possível armazenar e tratar grandes blocos
de informação de maneira relativamente barata.
Assim, os diversos equipamentos e processos a
serem desenvolvidos na indústria podem pres-
cindir da construção de muitos protótipos para
seu desenvolvimento, pois é possível simular suas
operações nos mais variados cenários e escolher
os parâmetros de projeto com maior segurança.
Para isso, é necessário estabelecer modelos
para as diversas partes do sistema a ser simulado,
propondo para cada uma delas um comporta-
mento dinâmico expresso por equações ou con-
juntos de dados.

216 Engenharia mecânica


Essas equações combinadas e tratadas por programas especiais permitem visualização rápida e
fidedigna dos processos ao variarmos seus parâmetros, levando-nos a decisões de projeto seguras,
diminuindo os estágios e custos de testes.
A Figura 18 traz a simulação de um processo metalúrgico com as cores indicando o perfil de velo-
cidades de um fluido ao longo da peça. Sem construir a peça, seu comportamento dinâmico pode ser
obtido e seu projeto realizado de maneira mais segura.

Figura 18 – Fluido Perfil de velocidades de um fluido em uma peça


Fonte: Ipt ([2017])12.

Outro exemplo interessante de simulação computacional aparece na Figura 19, em que a permeabili-
dade de um reservatório do pré-sal é modelada e estudada, sem a necessidade de realizar caríssimos
experimentos no local.

UNIDADE VIII 217


Figura 19 – Permeabilidade de um reservatório
Fonte: USP ([2017])13.

O ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e Computacionais) da USP realiza trabalho notável na


área de simulação. Para saber mais sobre esse grupo, visite o site: <http://jornal.usp.br/universidade/
tecnicas-de-simulacao-computacional-vao-ajudar-extracao-no-pre-sal/>.

Assim terminamos esta breve exposição sobre as Engenharias Mecânica, Mecatrônica, Aeronáutica e
Naval. Como você notou, a abrangência dessas áreas permite que a vida da espécie humana seja cada
vez melhor, mas há uma preocupação sempre presente com o esgotamento de recursos e a poluição
do nosso planeta.

218 Engenharia mecânica


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Podemos incluir como especializações da Engenharia Mecânica as Engenharias:


a) Civil e Elétrica.
b) Naval e Química.
c) Química e Elétrica.
d) Aeronáutica e elétrica.
e) Naval e Aeronáutica.

2. A revolução industrial, ocorrida na Inglaterra, no início do século XIX, deveu-se à (ao):


a) Primeira Guerra Mundial.
b) Desenvolvimento das máquinas a vapor.
c) Desenvolvimento dos motores elétricos.
d) Conflito entre a Europa Ocidental e Oriental.
e) Conflito entre patentes de cientistas.

3. Alvin Toffler considera que a segunda onda de desenvolvimento econômico da espécie


humana é:
a) A revolução agrícola.
b) A revolução industrial.
c) A Internet das coisas.
d) A revolução da informação.
e) A indústria 4.0.

4. As pesquisas sobre carros sem motorista:


a) Estão no âmbito da ficção científica.
b) Foram desenvolvidas por Henry Ford.
c) Foram desenvolvidas por Sadi Carnot.
d) Estão bem desenvolvidas, com alguns experimentos bem sucedidos.
e) Constituem problema tecnologicamente bem resolvido.

219
5. A automatização da lavoura permite:
a) Plantação controlada eletronicamente.
b) Controle da umidade relativa do ar.
c) Controle de temperatura nas valas de plantio.
d) Controle do índice pluviométrico.
e) Controle de preços de mercado.

6. Para o estudo da aerodinâmica em aviões, um conhecimento indispensável é sobre:


a) Circuitos elétricos.
b) Materiais de construção.
c) Mecânica dos fluidos.
d) Eletrodinâmica.
e) Eletromagnetismo.

7. Considere que, em uma aeronave, a pressão interna seja de 60kPa e a externa


seja de 20kPa. A força de pressão exercida em uma área de 3m2 da superfície
da aeronave vale:
a) 120 kN.
b) 80 kN.
c) 60 kN.
d) 20 kN.
e) 180 kN.

8. Uma pessoa de 80kg sobe uma escada de 5m de altura em 10s. A potência, em


watts, por ela consumida vale:
a) 40W.
b) 400W.
c) 80W.
d) 800W.
e) 200W.

220
9. Rebitagem é um processo de:
a) Conformação.
b) Usinagem.
c) Fundição.
d) Corte.
e) Junção.

10. Torneamento e frenagem são processos de:


a) Conformação.
b) Usinagem.
c) Fundição.
d) Corte.
e) Junção.

11. Cisalhamento é um processo de:


a) Conformação.
b) Usinagem.
c) Fundição.
d) Corte.
e) Junção.

221
LIVRO

Introdução à Engenharia Mecânica


Autor: Jonathan Wickert, Kemper Lewis
Editora: CENGAGE Learning Brasil
Sinopse: este livro traz uma abordagem introdutória ao campo da Engenharia
Mecânica e proporciona aos estudantes uma visão de como os engenheiros
devem projetar máquinas e equipamentos, os quais contribuem para o avanço
de nossa sociedade. Equilibrando habilidades de resolução de problemas, aná-
lise e execução de projetos, aplicações ao mundo real e à tecnologia prática, o
livro oferece uma base contínua para o estudo futuro na engenharia mecânica.

222
WICKERT, J.; LEWIS, K. Introdução à Engenharia Mecânica. São Paulo: CENGAGE, 2016.

REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/Robert_Hooke#/media/File:Robert_Hooke_portrait.jpg>. Acesso
em: 27 nov. 2017.
2
Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cf/Thomas_Savery.gif>. Acesso em: 27 nov. 2017.
3
Em: <http://www.miniweb.com.br/ciencias/artigos/Imagens/carnot_sadi_001.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2017.
4
Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Alvin_Toffler>. Acesso em: 27 nov. 2017.
5
Em: <https://www.amazon.com.br/Terceira-Onda-Alvin-Tofler/dp/8501017973>. Acesso em: 27 nov. 2017.
6
Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4a/Nikolaus_August_Otto.png>. Acesso em: 27
nov. 2017.
7
Em: <http://2.bp.blogspot.com/-nKAcB9iiD4E/UTACWosEySI/AAAAAAAADEI/wsTnkFUbILc/s1600/08.
jpg>. Acesso em: 27 nov. 2017.
8
Em: <http://www.bmfundicao.com.br/2-2.php>. Acesso em: 27 nov. 2017.
9
Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/47/Huzas02.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2017.
10
Em: <https://i.ytimg.com/vi/u5QMiLkHm_Q/hqdefault.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2017.
11
Em: <https://www.mecanicaindustrial.com.br/wp-content/uploads/2012/05/solda-el%C3%A9trica.jpg>.
Acesso em: 27 nov. 2017.
12
Em: <http://www.ipt.br/banco_imagens/3026_maior.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2017.
13
Em: <http://jornal.usp.br/wp-content/uploads/20170405_02_pre-sal.png>. Acesso em: 27 nov. 2017.

223
1. E

2. B

3. B

4. D

5. A

6. C

7. A

8. B

9. E

10. B

11. A

224
225
226
Dr. José Roberto Castilho Piqueira

Engenharia da
Complexidade

PLANO DE ESTUDOS

Sistemas Abertos Emergência

Engenharia no Século XXI Não Linearidades Engenharia de Dados

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Descrever a maneira integrada de pensar a engenharia • Descrever o fenômeno da emergência e mostrar como
do ponto de vista da Teoria da Complexidade. tratá-lo em um projeto.
• Conceituar sistema aberto e seu projeto. • Mostrar como as ferramentas de “Big-Data” e Internet das
• Descrever as possíveis não linearidades e como cada uma coisas influenciam no projeto de um sistema.
delas altera o projeto de um sistema de Engenharia.
Engenharia
do Século XXI

• A metodologia de projeto em Engenharia, no


século XX, foi apoiada na disjunção.
• A computação teve um desenvolvimento
considerável nos últimos anos, permitindo
novas abordagens para projetos, aumentan-
do a precisão e previsibilidade dos cálculos.

Nesta última unidade, apresentaremos uma abor-


dagem de engenharia, a Engenharia da Comple-
xidade, considerando os pressupostos do pensa-
mento complexo apresentado por Edgar Morin
(Figura 1).
Os fundamentos principais desse enfoque:
projeto de sistemas abertos, emergência, inclusão
da aleatoriedade e incompletude Gödeliana são
contextualizados em exemplos reais de proble-
mas construtivos.
Para conceituar complexidade no contexto da
atividade de engenharia é necessário enfrentar o
Figura 1 – Edgar Morin

significado conotativo atribuído à palavra, ao longo Nessa fase, estão presentes fatores econômi-
dos anos. No dia a dia do engenheiro, complexo é cos, sociais, ambientais e financeiros, que de-
tudo que apresenta dificuldades especiais em rela- terminam a localização e o custo máximo per-
ção à concepção, ao projeto, à montagem e à ope- mitido e, uma vez definidos, dão a partida para
ração. Por exemplo, uma ponte ou uma via elevada as primeiras especificações da obra. Possíveis
é uma obra que pode ser de alta dificuldade. Sua esforços naturais a serem suportados, cargas
concepção inicia-se com necessidade de ligar dois permissíveis devidas ao tráfego e aos fatores
locais separados por algum fator geográfico que geométricos dão início aos cálculos. Esforços
impede ou dificulta o trânsito de pessoas e veículos. solicitantes e possíveis variações atmosféricas

Figura 2a – Elevado Paulo de Frontin Figura 2b – Avenida Santo Amaro

UNIDADE IX 229
proporcionam a definição dos materiais, vigas, Definir o traçado da via é o ponto de partida,
pilares, pavimentação e sustentação. problema que pode envolver complicadas questões
Em seguida vem o projeto executivo. Todos os econômicas, sociais e ambientais. Não basta o conhe-
materiais e custos de mão de obra são detalhados cimento geométrico para essa tarefa: o planejamento
para que a obra possa ser iniciada e comece a sair urbano, combinando tráfego de veículos e pessoas,
do mundo do papel. A construção é árdua e requer aliado ao atendimento das populações a serem des-
acompanhamento constante para sanar problemas locadas, são elementos essenciais nessa tarefa.
não previstos no projeto e que são inevitáveis du- Definido o traçado, há o projeto que envolve
rante o trabalho de implementação. Pronta e inau- alterações de uso do solo, com demolições, proce-
gurada, a ponte ou via elevada precisa ser mantida, dimentos de terraplenagem, definições de pisos e
com medições constantes usando sensores de po- bordas e o projeto executivo, prevendo o preparo
sição e de cargas. O resultado dessa monitoração dos materiais e máquinas, bem como os custos de
permite a prevenção e correção de falhas. mão de obra. Do papel para a realidade, tarefa di-
Recorrendo ao sentido habitual da palavra, fícil, com trabalho durante possíveis intempéries,
todos concordarão que conceber, projetar, cons- com alterações de circulação de veículos e pessoas
truir e manter uma ponte constitui um com- no entorno dos canteiros de obra.
plexo problema de engenharia. Outro possível Depois das inaugurações, discursos e cortes de
exemplo é o da concepção, projeto, construção fitas, há a operação e manutenção, com medições
e operação de uma avenida ligando dois bair- que podem ser sofisticadas e ações que podem
ros de uma cidade, com o intuito de melhorar a influenciar a rotina diária de motoristas e usuários
mobilidade urbana. de transporte individual e coletivo.

Figura 3 – Elevado João Goulart (São Paulo)


Fonte: 3Bp ([2017])3.

230 Engenharia da complexidade


Mais uma vez, usando a linguagem diária, con- O pensamento complexo aparece em um con-
ceber, projetar, construir e manter uma avenida é texto complementar ao da prática atual da enge-
tarefa de complexidade considerável. Essa ideia nharia cujos sucessos poderiam ser enumerados
de complexidade, explorada nos dois exemplos, em todas as áreas da atividade humana. Trata-se
carrega a carga semântica da disjunção, isto é, o de adicionar aos trabalhos três novos pontos de
problema complexo da implantação de uma pon- vista: as obras como sistemas abertos, a emergên-
te ou via elevada é visto como decomposto em cia de fenômenos resultantes das não linearidades
sequência de operações, realizadas por pessoas e o olhar Gödeliano (Kurt Gödel-1906-1978) (Fi-
diferentes que executam tarefas aparentemente gura 4) da incompletude.
estanques e sem conexão. Assim, passamos a entender a Engenharia da
A ponte ou via elevada são vistas e estudadas Complexidade como aquela que adiciona à visão
como sistemas fechados. Suas interações com o en- tradicional da disjunção e do fechamento dos sis-
torno são compreendidas de uma maneira proba- temas uma abordagem aberta, não linear e com a
bilista, como se fossem responsáveis pelo impon- incompletude em sua gênese. Apoia-se nas conquis-
derável, atribuindo-se a elas fatores de segurança tas e nos conhecimentos bem estabelecidos, mas
que, nem sempre, funcionam adequadamente. proporciona uma abordagem global e transdisci-
A queda do elevado Paulo de Frontin (Rio de plinar, trabalhando a noção de “sistema de sistemas”.
Janeiro) (Figura 2a) e o incêndio sob a ponte da
Avenida Santo Amaro (São Paulo) (Figura 2b) são
exemplos ilustrativos dessa falha de abordagem.
Da mesma maneira, a construção da avenida,
da qual a ponte ou via elevada podem fazer parte,
se for vista como sistema fechado, pode trazer
mais prejuízos do que benefícios. Basta olhar o
“Minhocão” de São Paulo (Figura 3) para enten-
der o estrago urbano causado por uma melhoria
de tráfego.

A queda do elevado Paulo de Frontin, ocorrida


em 20 de Novembro de 1971, no Rio de Janeiro,
foi um dos maiores desastres da engenharia
brasileira. Se quiser saber mais sobre o caso,
veja a excelente apresentação em: <https://
prezi.com/ytkzjnsut_c_/elevado-paulo-de-
frontin/>.

Figura 4 – Kurt Gödel


Fonte: Wikimédia ([2017]).

UNIDADE IX 231
Sistemas
Abertos

• A abordagem convencional dos projetos de


engenharia considera sistemas fechado e
logicamente disjuntos.
• A simulação computacional permite a ava-
liação de um grande número de cenários
diferentes de projeto.
• Com ferramentas computacionais cada vez
mais eficientes, a Termodinâmica pode ser
considerada nos projetos.

Nos exemplos apresentados anteriormente, fica cla-


ro o estabelecimento, a partir da fase de projeto, de
sistemas que consideram sua interação com o am-
biente como estática, refletida nos parâmetros físicos
e coeficientes de segurança estabelecidos de início.
Essa é uma metodologia que, ao longo da histó-
ria, tem sido aplicada com sucesso, mas que traba-
lha como se o sistema em estudo ou construção seja

232 Engenharia da complexidade


considerado fechado, limitando as possíveis alea- No exemplo da ponte ou via elevada, o novo
toriedades às margens de variação de parâmetros. tratamento a ser dado parte do princípio de que
As possibilidades proporcionadas pelo desen- o sistema a ser concebido deixa de ser a ponte ou
volvimento da computação, permitindo a mani- via elevada real e passa a ser um novo elemento
pulação rápida e precisa de grande quantidade de em que a realidade reside no elo entre o sistema e
dados coloca nas mãos da engenharia poderosas o meio ambiente, com a maior parte das interações
ferramentas de análise e síntese de sistemas em ní- podendo ser simuladas, permitindo decisões que
veis de detalhe antes não imagináveis. Além disso, levam em conta as incertezas como componentes
ferramentas e programas de simulação altamente do conjunto.
eficientes permitem trabalhar as mais variadas Como a ponte ou via elevada está posicionada
possibilidades de montagem e execução com ra- no contexto global da via da qual faz parte? Como
pidez e alto grau de previsibilidade (Figura 5). as intempéries podem mudar sua construção e
Isso nos aproxima do trabalho de concepção, operacionalidade? Como a operação da ponte afe-
projeto, execução e manutenção para um siste- tará a mobilidade urbana? Como o tráfego em volta
ma aberto e sujeito às leis da Termodinâmica, afetará seus parâmetros físicos? Como a emissão de
incluindo os efeitos dos processos dinâmicos de poluentes dos veículos afetará a saúde das popula-
diferentes escalas temporais. ções vizinhas? Como a área em volta se organizará?

Figura 5 – Simulador de voo de helicópteros

UNIDADE IX 233
Enfim, há uma infinidade de perguntas e ce- Mais uma vez, cenários diversos poderão ser
nários a serem simulados e analisados, trazendo simulados e estudados cuidadosamente, modelan-
melhor segurança decisória e acrescentando co- do o físico-químico, o biológico e o antropológico,
nhecimento à Engenharia. Além disso, o processa- levando o transdisciplinar ao nível de interação
mento dos dados, medidos continuamente pelos efetiva, aproximando possíveis aleatoriedades do
diversos tipos de sensores durante a construção e modelo do processo.
operação, permitirá cuidados preventivos e cor- Assim, a Engenharia da Complexidade
retivos de ampla eficiência. apresenta uma proposta multidimensional não
Da ponte para a indústria química. A implanta- totalitária e não doutrinária, que proporciona
ção da indústria de um certo produto começa por conexão flexível entre incerteza física e indeci-
uma criteriosa análise de sua adequação de bene- dibilidade teórica.
fícios e prejuízos para a população e para o meio Complementarmente, os princípios da Termo-
ambiente. Segue-se a escolha do local, problema a ser dinâmica não fazem apenas papel de condições
resolvido a partir de importantes questões ambien- de contorno complementares ou indesejáveis,
tais, econômicas, sociais e de segurança. O projeto passam a fazer parte integrante da concepção
envolverá a infraestrutura a ser construída para aco- dos projetos e obras representando importante
lher a planta, adequando-a a condições de pressão, abertura epistêmica.
umidade, temperatura e circulação de ar e água.
Esse é um projeto fortemente dependente do
processo a ser implantado, também de alta com-
plicação e passível de grande cuidado de produ-
ção, considerando o trabalhador interno e os cui- A Engenharia do século XXI passou a usar de
dados ergonômicos e de segurança que protejam maneira ampla e efetiva os conceitos de sistemas
a vida e proporcionem dignidade. abertos e de integração entre as partes de um
Com a fábrica em operação, para onde irão sistema.
os rejeitos? As normas de sustentabilidade serão Para saber mais sobre esse assunto, assista ao
respeitadas? A qualidade do ar e dos mananciais vídeo no link a seguir: <https://www.youtube.
serão preservadas? Todos esses fatores considera- com/watch?v=NFHsi_OA4dc>.
dos proporcionarão viabilidade econômica?

234 Engenharia da complexidade


Não Linearidades

• Ao se realizar um projeto, as não linearida-


des devem ser consideradas, pois podem ser
responsáveis por fenômenos inesperados.
• A Teoria da Informação permite analisar e
prever comportamentos complexos.
• O fenômeno da auto-organização está rela-
cionado com a emergência da vida.

Sinais aleatórios espúrios, chamados generica-


mente de ruídos, parecem ser uma grande dificul-
dade para a boa operação de sistemas eletrônicos,
em comunicações e instrumentação.
A concepção de um projeto nessas áreas come-
ça pela especificação da relação sinal-ruído, i.e., de
quantas vezes o sinal é mais intenso do que o ruído.
Daí decorre o teorema fundamental da teoria
da informação: caso a relação sinal-ruído de uma
fonte de dados seja maior ou igual à capacidade
do canal, é sempre possível codificar os dados e
transmiti-los para um receptor, com pequena e
arbitrária taxa de erros.

UNIDADE IX 235
Além do conhecimento advindo da teoria da Outro fator a ser considerado no contexto da
informação, proposta por Claude Elwood Shannon Engenharia da Complexidade é o da auto-orga-
(1916-2001) (Figura 6), os engenheiros de eletrôni- nização do sistema constituído pela obra e seu
ca e comunicações se serviram amplamente da teo- entorno físico, biológico e humano. A interação
ria de processos estocástico, do eletromagnetismo e física, por mais complicada que seja, tem meto-
da teoria dos circuitos para desenvolverem dispo- dologias relativamente bem desenvolvidas para
sitivos de modulação e demodulação, responsáveis serem estudadas e contextualizadas.
pela prontidão e ubiquidade dos acessos à Internet. As interações biológicas podem trazer maio-
Originalmente, esses avanços foram obtidos res e mais inesperadas surpresas. Alterações am-
por projetos e dispositivos lineares, isto é, aque- bientais produzidas por uma ação de Engenharia
les que satisfazem o princípio da superposição: o podem implicar degradações de paisagens e pro-
efeito da soma é a soma dos efeitos. Essa é uma pagação de doenças. O fator mais relevante a ser
hipótese que, quando satisfeita, proporciona facili- incluído é, entretanto, o antropológico. Obras de
dade de projeto e precisão de operação. Entretanto engenharia são trabalhos humanos que devem
os componentes eletrônicos apresentam não li- visar à melhoria da vida no planeta, sob os mais
nearidades e superposição de efeitos nem sempre variados aspectos.
satisfeitas, fato que pode dificultar os projetos, mas Não se pode esquecer que seres humanos são
incrementá-los, se bem utilizado. dotados de consciência e discernimento, o que
Em meados dos anos 80, houve uma grande pode influenciar de maneira direta decisões de
movimentação no mundo da Física e da Engenha- concepção, projeto, implantação e operação de
ria Mecânica com origem na facilidade compu- um sistema e, principalmente, contextualizá-los
tacional de simular sistemas dinâmicos descritos às condições humanas de cada população.
por equações diferenciais não lineares, produzin-
do o chamado caos determinístico.
Entende-se por caos determinístico o com-
portamento aleatório de um sistema dinâmico
descrito por equações não lineares determinis-
tas, associado à emergência de comportamentos
sensíveis às condições iniciais. Está, então, criada
a dicotomia, sempre própria da complexidade: o
imprevisível dentro do previsível.
Alguns circuitos elétricos apresentando esse
fenômeno foram desenvolvidos, e os campos da
modulação e da criptografia ficaram enriquecidos
com essas novas possibilidades.
O caos determinístico e sua emergência fazem
parte integrante da Engenharia da Complexidade
em suas diversas atividades de concepção e proje-
to, aprimorando a acuidade dos modelos das inte-
rações e, na implantação e operação, permitindo a Figura 6 – Claude Elwood Shannon
visualização de uma variedade maior de cenários. Fonte: Wikimédia ([2017])5.

236 Engenharia da complexidade


De nada adianta construir estradas modernas
em locais em que as populações são tão caren-
tes que sequer gozam de mobilidade. Da mesma
forma, com a necessidade premente de água e • Ao considerar as não linearidades nos projetos,
energia para manutenção da vida, não faz sentido eles se tornam mais precisos e compatíveis
coibir o desenvolvimento de fontes alternativas com a realidade. Para saber mais sobre não
e de mecanismos de despoluição de mananciais. linearidades, leia o artigo do site: <http://www.
Interesses de grandes grupos econômicos podem scielo.br/pdf/trans/v17/v17a11.pdf>.
trabalhar contra a erradicação da fome no planeta, e • A auto-organização é um fenômeno natural
fanatismos bélicos e religiosos podem fomentar de- relacionado com a vida e seu desenvolvi-
senvolvimento de máquinas de destruição. O balan- mento. Para saber mais sobre auto-orga-
ço cultural, social e econômico é o ponto central da nização, leia o artigo do site: <http://www.
Engenharia da Complexidade que, além de transdis- scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
ciplinar, deve ser uma ferramenta de entendimento, d=S0103-40141998000200015>.
paz e qualidade de vida para todos.

Complexidade: Caminhos de Turing e Shannon


Existem dois conceitos matemáticos de me-
dida de complexidade: complexidade computa-
cional algorítmica (Turing) e de complexidade
Tenha sua dose extra de
computacional informacional (Shannon).
conhecimento assistindo ao
Esses conceitos, embora de origem em pensa- vídeo. Para acessar, use seu
mentos independentes, de naturezas diferentes, leitor de QR Code.
produziram conceitos matemáticos similares e
de grande utilidade para a computação e para a
engenharia modernas.

UNIDADE IX 237
Emergência

O projeto de engenharia deve visar à integração


dos fatores biológicos e antropológicos, associan-
do-os aos fatores físicos, levando a soluções que
respeitem os seres humanos e a sustentabilidade
do planeta.

Uma das discussões prediletas dos vendedores de


novos produtos e dos entusiastas das novidades
tem sido sobre as cidades inteligentes e sobre a
chamada Internet das coisas.
Fabricantes tradicionais de hardware e soft-
ware promovem simpósios, oferecem soluções
gratuitas para demonstração, financiam desen-
volvimento e publicações, visando liderar um
mercado aparentemente muito promissor.
Há soluções para a segurança de logradouros
e residências, para monitoração de acidentes, en-
chentes e multidões. Há até ministro encantado
com a possibilidade de ligar o liquidificador da
casa remotamente. O difícil será tomar o suco re-

238 Engenharia da complexidade


motamente, uma vez que o teletransporte das pes- Essa forma de pensamento melhora a eficácia
soas e das coisas ainda é ficção cinematográfica. das soluções, mas, como toda solução, é incom-
Esse é o jeito tradicional de olhar os proble- pleta, pois jamais poderemos ter um saber total:
mas de engenharia, pensando nos modelos físicos. “a totalidade é a não verdade”.
Cada sistema como sendo único, fechado e volta- Trata-se de enfrentar um emaranhado de
do para uma finalidade exclusiva. O pensamen- inter-relações e realimentações, a incerteza e a
to complexo aplicado às cidades inteligentes e à contradição usando as ferramentas conceituais
Internet das coisas começaria pelo pensamento já desenvolvidas e as novas, emergentes de dife-
antropológico, integrando o biológico e o físico. rentes e inovadoras linhas de raciocínio. Conciliar
Uma cidade inteligente começa pela cultura e pelo unidade e diversidade, continuidade e rupturas é
conforto e qualidade de vida da população que a tarefa do pensamento complexo que, semelhante
ocupa, sendo, portanto, um sistema de sistemas, aos sistemas lógicos, é incompleto.
definido e concebido caso a caso.
Pensando no território brasileiro, não há como
achar que tornar São Paulo inteligente seja colocar
semáforos sincronizados nos grandes corredores
de tráfego ou monitorar as áreas de enchente. Há
muitos problemas anteriores: déficit habitacional, É inegável a importância da Antropologia em
pobreza, concentração de populações em áreas de qualquer ramo da atividade humana. Para
infraestrutura precária, crianças fora das escolas, saber mais sobre o assunto, leia o excelente
criminalidade e tantos outros. artigo de Verlan Valle Gaspar Neto, que pode ser
A Engenharia da Complexidade contém em encontrado no site: <http://www.ufjf.br/maea/
sua proposta a integração de todos esses fatores, files/2009/10/relevancia1.pdf>.
formando os chamados sistemas de sistemas.

UNIDADE IX 239
Engenharia de Dados

Dada a rapidez de processamento e a capacida-


de de memória, cada vez mais surpreendente, a
Engenharia de Dados emerge como a Engenha-
ria do século XXI.

Diante do novo panorama da Engenharia no século


XXI, parece que as diversas modalidades, uma vez
unidas em estudos integrados, tornam imprescindí-
vel o projeto e a concepção de bancos de dados, não
no sentido convencional de acúmulo de “bits”, mas
no sentido de seu bom uso e de facilidade de acesso.
Assim, desenvolvem-se, diariamente, novas
técnicas relacionadas com a modelagem de ban-
cos de dados e administração de recursos de ar-
mazenamento e gerenciamento de dados, reque-
rendo conhecimento de “hardware” e “software”
de sistemas computacionais, com toda a gama
possível de capacidades.
Surge, então, a Engenharia de Dados, com a
finalidade de conceber, especificar, analisar, de-
senvolver, implementar, adaptar e manter sistemas
de bancos de dados (Figura 7) voltados às ne-
cessidades de instituições de pesquisa ou ensino,

240 Engenharia da complexidade


indústrias ou empresas de diversos ramos cujas
demandas por sistemas de bancos de dados pas-
sam a ser cada dia mais expressivas.
Além disso, é essencial o estabelecimento de
uma visão crítica das atuais técnicas e métodos
relacionados com a tecnologia de bancos de da-
dos e com condições de apresentar e conduzir
mudanças que proporcionarão bens e serviços
com uma elevada qualidade.
Para tanto, novos requisitos são necessários para
os novos profissionais dessa atividade: conhecimen-
to abrangente das atividades inerentes à engenharia
e administração de bancos de dados (interdiscipli-
naridade); postura ética como cidadão e profissio-
nal, sustentada pela consciência de uma responsa-
bilidade no contexto amplo e individual, uma vez
que terão acesso a informações de todos os níveis.
Aparece, então, a grande importância da ho-
nestidade e retidão de comportamento. Dados
privilegiados de pessoas físicas e jurídicas passa-
rão a ser de mais fácil acesso, bem como informa-
ções relativas a ações governamentais. Tratá-los
com conhecimento técnico e responsabilidade
faz parte da Engenharia de Dados.
Assim terminamos nossa viagem que come-
çou na Pré-História, passou pela Antiguidade,
pelo Renascimento, pelo século XX, chegando
ao século XXI com recursos tecnológicos quase
ilimitados, mas com necessidade premente de
conservar nosso planeta.

Clusters e Grids são as ferramentas computa-


cionais do século XXI. Para entendê-las, leia o
excelente artigo de Taís Appel Colvero e Marco
Antonio Ribeiro Dantas, que pode ser encontra-
do no site: <http://www.sirc.unifra.br/arquivos/
edicoes/2004/Artigo18.pdf>.
Figura 7 – Um “cluster” computacional

UNIDADE IX 241
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. As principais fases de um projeto de engenharia são:


a) Concepção, projeto funcional, projeto executivo.
b) Concepção, projeto funcional, construção.
c) Concepção, construção, projeto executivo.
d) Construção, projeto funcional, projeto executivo.
e) Projeto executivo, manutenção e demolição.

2. A queda do elevado Paulo de Frontin poderia ser evitada se o projeto previsse:


a) Existência de ventos na região.
b) Uso de escavadeiras controladas por computador.
c) Integração entre equipes de projeto e de obras.
d) Integração entre a prefeitura e a empreiteira.
e) Não existência de empreiteiras.

3. O conceito de sistema aberto:


a) Não pode ser aplicado à construção civil.
b) É um conceito próprio da Engenharia Mecânica.
c) É incompatível com a Engenharia Química.
d) Só vale para circuitos elétricos.
e) Permite incluir a segunda lei da Termodinâmica.

4. A simulação computacional permite:


a) Prever o comportamento de sistemas sem construí-los.
b) Construir pontes controladas por computador.
c) Controlar a concentração de CO2 durante a execução das obras.
d) Emitir relatórios de trabalho dos operários.
e) Controlar agentes poluidores na indústria química.

242
5. Sinais semelhantes a ruídos, sem fontes de ruídos ocorrem em:
a) Robots industriais lineares.
b) Circuitos elétricos não lineares.
c) Circuitos elétricos lineares.
d) Sistemas de comunicação lineares.
e) Linhas de transmissão lineares.

6. Caos determinístico ocorre em:


a) Sistemas lineares de grande porte.
b) Todos os sistemas de grande porte.
c) Sistemas não lineares
d) Sistemas lineares de troca de calor.
e) Todos os sistemas de troca de calor.

7. Os fatores antropológicos em um projeto de engenharia


a) Já estão levados em conta nos fatores biológicos.
b) São irrelevantes.
c) Têm influência apenas na construção civil.
d) São objeto apenas da Engenharia de Produção.
e) Devem ser considerados em conjunto com os fatores físico-químicos e biológicos.

8. Em uma cidade inteligente:


a) Todos os semáforos são interligados em rede.
b) As enchentes são monitoradas.
c) A cultura e o conforto da população são fatores essenciais
d) O laser é fator secundário.
e) Os postos de trabalho devem ser distantes das moradias.

9. O profissional de Engenharia de Dados deve:


a) Ser responsável pela segurança das informações.
b) Desenvolver métodos para controlar as tensões das fontes.
c) Projetar o controle de processos de uma fábrica.
d) Projetar os circuitos de memória.
e) Projetar os dispositivos de roteamento de uma rede.

243
LIVRO

Introdução à engenharia: Modelagem e solução de problemas


Autor: Jay B. Brockman
Editora: LTC – Rio de Janeiro - 2010
Sinopse: introdução à Engenharia - Modelagem e Solução de Problemas mostra
como os profissionais resolvem problemas no dia a dia, provendo os engenheiros
do conhecimento essencial que precisam para ter sucesso. Brockman utiliza os
conceitos básicos de matérias como matemática, ciência e física para resolver
os problemas que surgem no exercício da profissão - desde a estabilidade de
uma plataforma off-shore de petróleo à maneira mais eficiente de fornecer água
a comunidades carentes.
Os capítulos da primeira parte deste livro discutem a representação e a resolução
de problemas, abrangendo engenharia e sociedade e organização e representa-
ção de sistemas de engenharia. Já a segunda parte trata dos projetos baseados
em modelos matemáticos da engenharia, usando para isso leis da natureza
e modelos teóricos, análise de dados e modelos empíricos e modelagem da
relação entre os componentes de um sistema (estruturas leves), entre outras
ferramentas. Por fim, o pacote computacional MATLAB é o assunto da terceira
parte, com a apresentação das ferramentas necessárias para implementar os
modelos apresentados na segunda parte desta obra.
O livro possui quatro apêndices como adição ao já completo conteúdo do
livro, disponibilizando ao estudante orientação para método de resolução de
problemas, taxonomia de Bloom, sociedades de engenharia norte-americanas
e sistemas de unidades.

244
MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. 5. ed. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005.

BERTALANFFY. L. V. General System Theory: Foundations, Development, Applications. New York: George
Braziller Inc., 1968.

KONDEPUDI, D.; PRIGOGINE, I. Modern Thermodynamics: From Heat Engines to Dissipative Structures.
2. ed. Susex – UK: John Wiley and Sons Ltda., 2015.

REFERÊNCIAS ON-LINE

Em: <https://3.bp.blogspot.com/-f8cmJYYXaGI/U8-HDVVwUbI/AAAAAAAACio/nmyKNORW0Bs/s1600/
1

viaduto+paulo+de+frontin.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2017.


2
Em: <https://i.ytimg.com/vi/YhkqjcX60DY/maxresdefault.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2017.
3
Em: <https://3.bp.blogspot.com/-YGUW1Kh-Ea4/V2y9_K-pxoI/AAAAAAAAj3g/CJvl7JAxMFU95GG-
lC7ZCEAZ0Za3NgpbwCLcB/s1600/minhocao05.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2017.
4
Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c1/1925_kurt_g%C3%B6del.
png/200px-1925_kurt_g%C3%B6del.png>. Acesso em: 27 nov. 2017.
5
Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/99/ClaudeShannon_MFO3807.jpg>. Acesso em:
27 nov. 2017.

245
1. A

2. C

3. E

4. A

5. B

6. C

7. E

8. C

9. A

246
247
248
249
250
251
252
253
254
255
CONCLUSÃO

Neste material, procuramos trabalhar os assuntos ligados à Engenharia,


estabelecendo conexões entre suas diversas atividades e conquistas, para
que o estudante tenha uma visão geral, atualizada e contextualizada da
atividade que exercerá no futuro.
Iniciamos, na Unidade I, com noções de como as atividades de trans-
formação e uso dos recursos naturais permitiram à espécie humana sua
sobrevivência e evolução. O cuidado com as habitações, a manufatura de
ferramentas e armas foram os primeiros sinais do surgimento da ativida-
de de engenharia. Ainda na Unidade I, mostramos como na antiguidade
(Grécia, Egito e Roma) a construção se desenvolveu como arte e como
tecnologia, com o surgimento de teatros, arenas, monumentos, sistemas
de distribuição de água e estradas, marcando o construtor como novo
protagonista da sociedade.
Na Unidade II, tratamos do surgimento das primeiras Escolas de Enge-
nharias no mundo e no Brasil, durante os séculos XVII, XVIII e XIX, e
como o Positivismo transformou a Engenharia em um prolongamento
tecnológico da ciência.
Na Unidade III, discutimos as grandes conquistas da Engenharia, que
mudaram o mundo no século XX, relacionando-as com as modalidades
de trabalho emergentes.
As Unidades IV, V, VI, VII e VIII foram dedicadas às engenharias Civil,
Elétrica, Química, Produção e Mecânica, respectivamente. A apresentação
de todas elas seguiu o mesmo esquema, mostrando as áreas de atuação,
pequenos problemas e tendências à modernização do trabalho.
Na última unidade, tratamos da Engenharia do século XXI (Complexidade)
que, nos dias de hoje, integra as modalidades e usa de maneira expressiva
os recursos computacionais disponíveis. Foi uma jornada de conhecimento
e descobertas, sempre enfatizando a necessidade de usar racionalmente os
recursos disponíveis, respeitar a vida e a sustentabilidade do planeta.

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