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RESISTÊNCIA DE

AGRICULTURA PLANTAS A INSETOS


Inibidores de enzimas digestivas e a obtenção de plantas resistentes

1. Introdução ser obtidos de plantas, bactérias ou de


outra origem (Walker et al.,1997). Os
As pragas e os patógenos (fungos, inibidores de enzimas (α-amilases e de
bactérias e vírus) são responsáveis por proteinases) serão aqui descritos e es-
grandes perdas da agricultura, por cau- tudados, relacionando-se suas funções
sarem injúrias e doenças, além de se como compostos de defesas de plantas
alimentarem dos tecidos de plantas. As contra insetos e seu potencial como
perdas na produção da agricultura mun- ferramenta na obtenção de plantas
dial, devido ao ataque de pragas e resistentes a pragas.
doenças, chegam a 37%, sendo 13%
dessa perda causada por insetos (Ga- 2. Inibidores de α-Amilase
tehouse et al., 1992). As plantas possu-
em entretanto, um certo grau de resis- As α-amilases são enzimas mono-
tência a insetos e, há muitos anos, tem- méricas que constituem uma família de
se estudado a biossíntese e a regulação endoamilases e catalisam a hidrólise de
de compostos químicos de plantas as- ligações glicosídicas α-1,4 do amido,
sociados com essas defesas. Atualmen- glicogênio e outros carboidratos. Essas
te, sabe-se que esses defensivos são enzimas têm um papel importante no

Figura 1 – A) Feijões infestados por A. obtectus. B) Feijões danificados por


larvas de A. obtectus e C) Inseto adulto

encontrados em vários tecidos vegetais metabolismo de carboidratos em plan-


Octávio Luiz Franco1,2 e entre esses compostos estão incluí- tas, animais e outros organismos. Por
Francislete Rodrigues Melo1,2 dos antibióticos, alcalóides, terpenos e serem essenciais para o crescimento e
Maria Cristina Mattar da Silva1,2 proteínas. Entre as proteínas, estão o desenvolvimento de muitos insetos,
Maria Fátima Grossi de Sá1
incluídas enzimas tais como as quitina- especialmente daqueles que vivem em
1
Cenargen/Embrapa ses, as lectinas e os inibidores de enzi- sementes e grãos ricos em amido,
2
Universidade de Brasília, mas digestivas (Ryan, 1990). Atualmen- muitos estudos têm sido feitos no intui-
Depto. de Biologia Celular, Brasília, te, genes que conferem resistência a to de desvendar o funcionamento das
DF, Brasil.
fatimasa@cenargen.embrapa.br insetos podem ser introduzidos em α-amilases (Grossi de Sá & Chrislpeels,
plantas de interesse para reduzir sua 1997, Chrispells et al. 1988, Da Silva et
susceptibilidade. Esses genes podem al., 1999) e de descobrir proteínas com

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função inibitória a essas enzimas o inibidor dimérico 0.53 é ativo
digestivas de insetos. As plantas contra as α-amilases de Bacillus
apresentam várias proteínas com amyloliquefasciens e contra α-ami-
essa função e, portanto, são deno- lases CMA, ZSA, AOA (Franco et
minadas inibidores de α-amilase. al., 1999). Esse inibidor, entretan-
Esses inibidores podem ser encon- to, apresentou baixa atividade con-
trados em cereais (Feng et al., 1996; tra a α-amilase do pâncreas de
Franco et al., 1999), em legumino- porco (PPA). O inibidor 0.53, jun-
sas (Ishimoto et al., 1996, Grossi de tamente com o 0.19 (Franco et al.,
Sá et al., 1997) e em outras famílias 1999) são os únicos fatores de
de vegetais. Estes inibidores podem resistência ativos contra o bruquí-
apresentar massa molecular de 5 deo A. obtectus descritos até o
kDa, 13 kDa (monômeros), 26 kDa momento.
(dímeros) e 50 kDa (tetrâmeros). O mecanismo de interação e
Entre os inibidores de α- amilase especificidade inibidor-amilase é
mais estudados estão os encontra- extremamente complexo e, embo-
dos no trigo (Triticum aestivum): 0.19 e Figura 2: Atividade inibitória de ra ainda totalmente não desvendado,
0.53, nomeados de acordo com sua 300 µg de 0.53 contra 6,0 UI de α- alguns avanços têm sido demonstrados
mobilidade eletroforética, e os inibido- amilases de pâncreas de porco nessa área. Recentemente, Grossi de Sá
res do feijão comum (Phaseolus vulga- (PPA), C. maculatus (CMA), Z. et al. (1997) mostraram que a inibição de
ris). No feijão, foi demonstrada a presen- subfasciatus (ZSA), A. obtectus ZSA, causada pelo α-AI2, é dependente
ça de dois inibidores de α-amilase, cha- (AOA) e Bacillus tanto do tempo quanto do pH. Em
mados α-AI1 e α-AI2, que diferem em amyloliquefasciens (BTA). Cada adição, La Jolo et al. (1991) demonstrou
suas especificidades contra diferentes α- UI equivale ao incremeto de 0,1 que a formação do complexo tem pH
amilases. Enquanto o α-AI1 inibe α- de absorbância a 530nm ótimo de 5,5 e inibem assim as α-
amilase de pâncreas de porco (PPA) amilases de alguns Coleópteros, os quais
assim como as α-amilases dos bruquíde- possuem um pH ácido em seu intestino
os Callosobruchus maculatus (CMA) e proteínas extraídas com uma solução de médio, e não inibem as α-amilases de
de Callosobruchus chinensis (CCA) (Ka- NaCl 0,15 M (1:5 p/v), seguido do fraci- Lepdópteros, que possuem um pH alca-
sahara et al., 1996), o inibidor α-AI2 onamento com sulfato de amônio (20- lino em seu intestino médio. Kasahara et
inibe as α-amilases do Zabrotes subfas- 40%). Essa fração foi, então, aplicada em al. (1996) sugeriram uma proporção
ciatus (ZSA) (Grossi de Sá and Chrispe- uma coluna HPLC semi-preparativa de estequiométrica de 2:1, onde uma única
els, 1997). Nenhum desses inibidores fase reversa (Vydac 218 TP 1022 C-18). molécula de inibidor α-AI1, através de
presentes em sementes de feijão teve O ensaio inibitório (Figura 2) feito de dois sítios de ligação independentes, se
efeito contra as α-amilases do bruquí- acordo com Bernfeld (1964) mostra que liga e inibe duas moléculas de amilase
deo Acanthoscelides obtectus (AOA). de PPA.
Três importantes bruquídeos-pestes Para melhor compreender a especi-
de grãos armazenados de feijão Z. subfas- Figura 3: Complexo entre α- ficidade da interação entre as α-amilases
ciatus, C. maculatus e A. obtectus (Figu- amilase de Zabrotes subfasciatus e os inibidores, estudos das estruturas
ra 1) são responsáveis por perdas subs- (ZSA) e inibidor 2 (AI-2). Os círculos moleculares vêm sendo realizados por
tanciais na agricultura do Brasil, América preenchidos (cor azul e cor verde) diferentes grupos. Utilizando-se dos da-
Latina e parte central da África. As larvas representam os resíduos envolvidos dos de cristalografia do complexo αAI-
desses bruquídeos penetram dentro da na interação entre ambas as 1/PPA (Bompard-Gilles et al., 1996) e da
semente apesar da presença de fatores moléculas. Os círculos cor-de-rosa α−amilase de Tenebrio molitor (TMA),
de resistência, tais como inibidores de α- representam as moléculas de água através de técnicas de modelagem mole-
amilase e proteinase. Isso pode ser ex- envolvidas na interface da interação cular, foi possível a obtenção de mode-
plicado pela teoria da co-evolução (Ehr- los estruturais que simulam a formação
lich & Raven, 1964) que sugere dos complexos encontrados na nature-
que a produção e o acúmulo za, tais como o inibidor α-
de uma toxina pela planta é AI2 a α-amilase de Z. subfas-
seguido por uma resposta do ciatus (αAI2/ZSA) (Figura
predador, tal como a detoxi- 3). Estruturas de complexos
ficação ou a excreção da to- imaginários, tais como αAI2-
xina. Esse fato capacitaria o PPA e αAI1-ZSA, também
inseto a se alimentar da plan- foram modeladas para possi-
ta alvo. bilitar análises comparativas
Com o intuito de identifi- quanto às diferenças de es-
car inibidores ativos e espe- pecificidade. A conclusão
cíficos contra as α-amilases dessas análises apontou al-
de tais bruquídeos, o inibi- guns aminoácidos que po-
dor 0.53 foi purificado a par- dem ser responsáveis por de-
tir de sementes de trigo (T. terminadas especificidades
aestivum) cv BR35. As se- (Da Silva et al., 1999). Nosso
mentes foram maceradas e as grupo tem trabalhado na

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ticas e metalo-proteinases. O sistema de
classificação baseou-se numa compara-
ção entre sítios ativos, mecanismos de
ação e estrutura tridimensional das pro-
teinases (Neurath, 1996). Os insetos ob-
têm muitos dos aminoácidos essenciais
utilizando proteinases extracelulares que
atuam no lúmem do intestino deles. As
mais bem estudadas são as proteinase
serínicas, muito frequentes em várias
classes de insetos e que se assemelham
à tripsina e à quimotripsina de mamífe-
ros (Applebaum et al., 1985). As protei-
nases cisteínicas também são enzimas
digestivas importantes para os insetos,
como os Coleópteros C. maculatus e A.
obtectus (Xavier-Filho et al., 1992).
Muitas famílias de plantas possuem
inibidores de proteinases encontradas
Figura 4: Inibidores de protease serínica (PFSI) var. “Fogo na Serra” extraído de em seus órgãos reprodutivos, órgãos de
P. vulgaris, mostrando elementos essenciais para catálise. Os círculos pontilhados reserva e tecidos vegetativos. A maioria
referem-se a representação das forças de Van der Waals. Carvalho et al., (1996) desses inibidores são moléculas peque-
nas, estáveis, abundantes e fáceis de
purificar, podendo atuar como proteínas
obtenção e expressão de inibidores mu- ções peptídicas internas, e exopeptida- de reserva, como reguladores de enzi-
tantes com função inseticida. ses quando hidrolizam ligações N-termi- mas endógenas e podem também estar
nais ou C-terminais. As endopeptidases envolvidos nos processos de defesa de
3. Inibidores de são também conhecidas como proteina- plantas contra o ataque de pragas e/ou
Proteinases ses. As proteinases são classificadas, de patógenos (Walker et al., 1997). O me-
acordo com a União Internacional de canismo pelo qual os inibidores de pro-
As proteinases são denominadas en- Bioquímica, em quatro grandes classes: teinases interferem no processo digesti-
dopeptidases quando hidrolizam liga- proteinases serínicas; cisteínicas; aspár- vo dos insetos se deve à diminuição da

TABELA 2. Plantas transgênicas expressando genes para inibidores de proteinases


PLANTA GENES INSETO

Tabaco CpTI Heliothis virescens


Pot PI II Lepdoptera
CpTI Heliothis virescens
NaPI Helicoverpa punctigera
Batata CpTI Lacanobia oleracea
Tomate Pot PI I, Pot PI II Helicoverpa armigera
Teleogryllus commodus
Arroz Pot PI II, CpTI Sesamia inferens
Chilo suppressalis
Morango CpTI Otiorhynchus sulcatus
Alface Pot PI II T. commodus
Canola OC-I Coleoptera
CII Lepdoptera, Diptera
Maçã CpTI Cydia pomenella
Álamo OC-I Chrysomela tremulae
CII Lepdoptera
CII = inibidor de protease serínica de soja; CpTI = inibidor de tripsina de feijão-de-corda; NaPI = inibidor de protease
de Nicotiana alata; OC I = inibidor de cisteína de arroz; Pot PI I = inibidor de proteinase I de batata; Pot PI II =
inibidor de proteinase II de batata

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Tabela 1: Plantas resistentes a insetos obtidas pela expressão de inibidores de α-amilase

PLANTAS GENE FONTE INSETO-ALVO AUTORES

Pisum sativum α-AI Phaseolus vulgaris C. maculatus Shade et al. (1994)


C. chinensis
Pisum sativum α-AI Phaseolus vulgaris B. pisorum Schroeder et al. (1995)
Vigna angustifolia α-AI Phaseolus vulgaris C. chinensis Ishimoto et al. (1996)
C. maculatus
C. analis
Tabaco α--AI Triticum aestivum A. ipsilon Gatehouse et al. (1998)
Spodoptera ssp.

assimilação de nutrientes. Quando inse- Raios-X. A Figura 4 exemplifica esse ligam reversivelmente às proteinases.
tos são submetidos a uma dieta artificial mecanismo, usando o modelo estrutural Por meio de estudos de cristalografia, foi
que contenha inibidores específicos para do inibidor de Tripsina e Quimotripsina determinado que as cistatinas são forma-
a principal classe de proteinases de seus (PFSI) de sementes de P. vulgaris (Car- das por uma longa α-hélice central en-
intestinos, estes têm seu crescimento e valho et al., 1996) complexado com a volvida por cinco folhas β−antiparalelas.
desenvolvimento retardados, bem como enzima α-Quimotripsina. O modelo ilus- Na extremidade das folhas β, uma alça
podem apresentar índices de mortalida- tra a orientação do sítio reativo (P1), em forma de grampo, formada pela
de bastante significantes (McManus & correspondente ao aminoácido (Fenila- sequência altamente conservada em to-
Burgess 1995). O número de inibido- lanina) em relação aos demais elemen- das as cistatinas (QVVAG) é exposta.
res de proteinases de plantas identifica- tos necessários para a catálise enzimáti- Essa sequência corresponde ao sítio de
dos e isolados é grande, sendo os inibi- ca. Esses elementos são constituídos ligação da cistatina à proteinase (papaí-
dores de proteinases serínicas e cisteíni- pela tríade catalítica, a região específica na). Em regiões paralelas a esta alça,
cas os que apresentam melhor caracteri- S1 e a fenda oxiânica. A tríade catalítica existe outra alça, também em forma de
zação. representa a base para a interação e é grampo, e uma projeção do segmento N-
Os inibidores de proteinases seríni- formada pelos aminoácidos (Ácido As- terminal. Várias pontes de hidrogênio
cas foram encontrados inicialmente em pártico, Histidina e Serina). A região são estabelecidas e a ligação é canônica,
órgãos de reserva de plantas, tais como específica S1, formada por aminoácidos ou seja, ocorre de maneira similar à
sementes e tubérculos, mas, posterior- de enzima que determinam a especifici- ligação do substrato à proteinase. Entre-
mente, foram detectados em folhas e dade e a interação com os demais ami- tanto, como a cistatina não se liga dire-
frutos (Xavier-Filho, 1992). A maioria noácidos que estão ao redor de uma tamente a resíduos do sítio catalítico da
dos inibidores de proteinases serínicas fenda oxiânica, que é constituída por proteinase, e a mesma não sofre a cliva-
reagem com suas enzimas cognatas atra- resíduos, que podem formar pontes de gem que o substrato natural da enzima
vés de um mecanismo semelhante ao hidrogênio com o átomo de oxigênio sofreria (Bode e Huber, 1992).
que ocorre na ligação entre enzima e (carregado negativamente) do carbono
substrato (Grutter et al., 1990). Esse carbonil (C1) do inibidor. 6. Plantas Transformadas com
grupo de inibidores “canônicos” com- Os inibidores de proteinases cisteíni- Genes de Inibidores de
preendem, geralmente, proteínas pe- cas, também conhecidos como cistati- α-amilase e protease.
quenas com 29 a 190 resíduos de amino- nas, são um grupo de proteínas que se
ácidos e todas elas possuem uma alça ligam às proteinases cisteínicas inibindo A transferência de genes pode ser
ligante exposta (Bode & Huber, 1992). A sua atividade. Em animais, existem três considerado um passo crucial no desen-
formação do complexo enzima-inibidor famílias de cistatinas classificadas de volvimento de plantas resistentes a inse-
ocorre rapidamente, mas a sua dissocia- acordo com sua massa molecular, núme- tos. Nesse sentido, os inibidores de α-
ção é lenta e resulta na enzima livre e em ro de pontes dissulfeto, localização sub- amilase e de proteinase apresentam gran-
um inibidor clivado, o qual sofre desna- celular e estrutura primária. São elas: de potencial por reduzirem ou impedi-
turação. Os elementos envolvidos nas família das cistatinas I , cistatinas II e rem a atividade das enzimas digestivas
interações entre as cadeias do inibidor e kininogenios (Ryan et al., 1998). Em dos insetos, causando-lhes desnutrição
as da proteinase são pontes de hidrogê- plantas as cistatinas de arroz (oryzacista- e redução do desenvolvimento larval.
nio, forças de Van der Waals e pontes tinas) são as mais bem caracterizadas. As Dependendo dos níveis de expressão,
dissulfeto, entre outras. A formação do cistatinas de plantas podem ser classifi- os inibidores podem causar a morte das
complexo enzima-inibidor envolve ain- cadas dentro da família de fitocistatinas larvas dos insetos. A proteção eficiente
da a formação de uma ligação peptídica (Abe et al., 1987). Muitas fitocistatinas contra insetos em plantas transformadas
(sítio reativo, P1) no inibidor e a presen- têm suas sequências de aminoácidos demanda que os inibidores sejam acu-
ça de alguns elementos essenciais no conhecidas e em todas essas sequências mulados em células vegetais em um
sítio ativo da enzima. Omecanismo da encontra-se uma região altamente con- nível maior do que em plantas não
catálise é comum para as proteinases em servada no sítio de ligação (Gln, Val, Val, transformadas (Augustyniak et al., 1997).
geral e a estrutura foi bastante estudada Ala e Gly). Assim como os inibidores de A introdução de genes que codificam
por meio de técnicas de Difração de proteinases serínicas, as cistatinas se inibidores de α-amilase em culturas eco-

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nomicamente importantes tem sido utiliza- REFERÊNCIAS
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