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A (In)sustentabilidade Ambiental e a Importância de uma Alimentação

Consciente

A conferência do dia 16 de maio de 2023 realizada na Sala de Sessões da ESFF pelo Dr. Hélder
Spínola, da Universidade da Madeira, teve como tema a (In)sustentabilidade na Alimentação,
centrando-se na equação da (In)sustentabilidade Ambiental: Consumo de recursos + Emissão
de poluição = Degradação ambiental.

A alimentação tem um papel fundamental na nossa pegada ecológica. Surpreendentemente,


cerca de 29% da pegada ecológica está relacionada com a nossa escolha alimentar. Tanto o
consumo de carne quanto o consumo de peixe contribuem significativamente para o aumento
da nossa pegada ecológica. No caso da carne, os impactes estão relacionados com o uso de
terrenos para pastagem e agricultura intensiva e com emissões de carbono e metano e
consumo excessivo de água vindo de toda a atividade pecuária. Já o consumo excessivo e
apanha intensiva de peixe afeta os ecossistemas marinhos, como os recifes de coral e outras
áreas de pesca.

Além disso, a produção alimentar também gera uma grande perda de biodiversidade e
destruição de habitats pela ocupação de áreas naturais para fins de criação de pastos, terrenos
agrícolas ou, por exemplo, para produção de biocombustíveis a partir do óleo de palma, que
levou à destruição de florestas tropicais na Indonésia.

Os impactes destes e de outros problemas não se restringem apenas a uma região, mas têm
consequências globais, afetando ecossistemas em diferentes partes do mundo, como a
Amazónia e a China. As decisões e ações tomadas numa região podem gerar consequências no
lado oposto do globo.

Com base nestes dados, podemos afirmar que vivemos numa aldeia global, onde a poluição é
um problema comum a todos, em todos os sítios do mundo. Cerca de 90% do consumo de
energia na Madeira e 80% globalmente ainda dependem de combustíveis fósseis. Esta
dependência causa danos graves à saúde humana, sendo a poluição do ar responsável por 100
milhões de mortes anualmente, incluindo 5000 em Portugal, e ao ambiente, causando o
aumento do efeito de estufa (consequentemente, aquecimento global e alterações climáticas),
entre outros efeitos.

A poluição também afeta diretamente a qualidade dos alimentos que consumimos. Foi
detetada a presença de microplásticos no sangue humano. Estes chegam ao nosso corpo
através do peixe, sal e água que consumimos. Cada pessoa consome, aproximadamente, o
equivalente a um cartão de crédito de plástico por semana.
Assim, é possível dizer que se estabelece uma “pescadinha de rabo na boca”: a nossa
alimentação promove a degradação do ambiente que, por sua vez, faz diminuir a qualidade da
nossa alimentação.

Diante deste cenário preocupante, foram sugeridas medidas para reduzir a pegada ecológica
relacionada à alimentação. Preferir produtos locais reduz o transporte e a necessidade de
conservação dos alimentos. Diminuir o consumo de carne e peixe para apenas 5% da nossa
alimentação (como sugere a roda da alimentação mediterrânica) pode ter um impacto
significativo, não só no ambiente, como na nossa saúde. Diversificar a alimentação também
pode ser uma solução, visto que gera menos pressão sobre determinados recursos. No
entanto, mudanças de hábitos culturais são imperativos para que isso se torne uma realidade,
pois a nossa alimentação é, sobretudo, uma marca cultural e tradicional.

Outras recomendações incluem optar por produtos de agricultura biológica, evitar embalagens
excessivas, utilizar sacos de pano reutilizáveis, reciclar e reduzir o desperdício alimentar. É
alarmante saber que mais de 50% dos alimentos produzidos são desperdiçados. Portanto, é
essencial não colocar mais no prato do que realmente vamos comer1, não comprar em
excesso e gerir adequadamente os alimentos, prestando atenção aos prazos de validade.

A conferência concluiu que é fundamental procurarmos praticar uma alimentação com mais
consciência ambiental. Isso envolve a adoção de normas, valores, conceitos, conhecimentos,
hábitos, práticas, estilos de vida e modelos de organização social e económica partilhados. Só
assim será possível mitigar os problemas ambientais e garantir um futuro sustentável para as
próximas gerações.

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