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DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS ATRAVÉS DA

INTERPOLAÇÃO E EXTRAPOLAÇÃO DE DADOS TABELADOS NA


REGIÃO DE SATURAÇÃO

Edvaldo Angelo
eangelo@usp.br

José R. Simões-Moreira
jrsimoes@usp.br

SISEA – Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos


Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da USP
Av. Prof. Mello Moraes, 2231
05508-900 – São Paulo – SP

Resumo. O presente trabalho apresenta um estudo sobre a obtenção das propriedades termodinâmicas: pressão de saturação,
volume específico, entalpia específica e entropia específica, através da interpolação e extrapolação de dados tabelados para a
região de saturação líquido-vapor.São avaliados os desvios e discutidos as melhores funções de ajuste para cada uma das
propriedades termodinâmicas para a região de saturação líquido-vapor, região de líquido metaestável e vapor superaquecido.

Palavras chave: Propriedades termodinâmicas, interpolação, extrapolação, equações de estado, saturação.

1. Introdução

A maneira usual de determinação das propriedades termodinâmicas é através da resolução de equações de estado.
As equações de estado são expressões matemáticas que relacionam as propriedades pressão, volume específico e
temperatura. Contudo, nunca são abrangentes o suficiente para calcular as propriedades desejadas para todos os tipos de
fluidos e condições, assim, podemos dizer que as mesmas são especializadas para determinadas classes de substâncias e
faixas de temperaturas e pressões. A medida que se deseje obter acuidade cada vez maior para as estimativas das
propriedades, são necessárias equações de estado mais complexas, como por exemplo a equação de Lee Kesler – veja
Lee e Kesler (1975), todavia, a solução destas equações não é explícita, o que demanda o emprego de robustos métodos
numéricos para solução de equações não lineares. O que se deve salientar é que quando da determinação de um estado
termodinâmico isolado, perfazendo apenas uma única condição, a resolução da equação de estado em si não representa
um esforço computacional muito grande. Todavia, quando é necessária a determinação das propriedades
termodinâmicas para uma dada região de um escoamento por exemplo, onde as rotinas de cálculo de propriedades são
chamadas centenas, em muitos casos milhares de vezes, como parte da solução completa em conjunto com as equações
de conservação (conservação de massa, conservação da quantidade de movimento e conservação de energia) o tempo
computacional pode ser muito incrementado, até o ponto de tornar inviável a simulação numérica desse escoamento.
A proposta aqui apresentada é uma alternativa a esse dispendioso método de obtenção de propriedades. Como
informação inicial deve ser fornecida uma tabela de dados na região de saturação. A tabela de dados pode ser fruto de
dados experimentais ou da solução prévia de uma equação de estado. Aparentemente quando é mencionado que a tabela
de dados é gerada por solução de uma equação de estado, é possível ter a impressão de que incorre-se em uma
contradição, o que não é verdade. A confecção da tabela por solução de uma equação de estado é feita numa etapa
anterior ao cálculo do escoamento e é realizada apenas uma única vez. A partir de então, os dados que se desejam obter
serão calculados por simples interpolações e extrapolações. Como será exposto a diante, os métodos de interpolação e
extrapolação são explícitos, ou seja, de obtenção direta e imediata. Uma das grandes vantagens do método é a
possibilidade de simulação de novos compostos e misturas azeotrópicas, o que flexibiliza assim o código computacional
e não restringe sua utilização àquelas substâncias e intervalos onde a equação de estado fornece bons resultados.
O item dois trata da obtenção das propriedades na região de saturação, o item três demonstra o modelo para
cálculo das propriedades na região de líquido metaestável e região de vapor superaquecido. No item quatro são
apresentadas as conclusões.

2. Obtenção das propriedades na região de saturação

A interpolação é o ajuste de uma função para um conjunto conhecido de dados. Após o ajuste dessa função,
qualquer valor contido nesse intervalo pode ser calculado através da mesma. Suponha f ( x1 ) e f ( x 2 ) como valores
conhecidos da função f (x) , cuja expressão verdadeira é ignorada. Caso seja necessário calcular f ( x3 ) onde
x1  x3  x2 adota-se uma g (x) que, para o intervalo definido, tentará aproximar f (x) . O tipo de função habitualmente
adotada para g (x) é a função linear. Se por outro lado, desejar-se utilizar uma função de segundo grau para g (x) , além
de f ( x1 ) e f ( x 2 ) será necessário mais um valor, aqui denominado f ( x 4 ) , para o ajuste da função quadrática no
intervalo.
O modo de interpolação descrito nas últimas linhas é o modo tradicional, que não apresenta nada de novo e pode
ser encontrado em qualquer livro texto introdutório ao cálculo numérico. Porém, o que se pretende é, ao invés de apenas
utilizar funções lineares ou quadráticas, usar funções que aproximem o comportamento físico de f (x) , tentando assim
chegar a resultados mais próximos ao caso real. Entretanto, em alguns casos, como será visto adiante, a aproximação
linear ou a aproximação quadrática fornecem bons resultados.
Para todos os casos em estudo, parte-se do pressuposto que a temperatura sempre é conhecida. A primeira
propriedade em estudo é a pressão de saturação. Escolhemos a água como substância teste mas, qualquer substância ou
mistura poderiam ter sido analisadas. Uma tabela termodinâmica para o água na região de saturação foi retirada de
Keenan (1969) – veja Tab. (1), nessa tabela os intervalos de temperatura iniciais entre os dados apresentados são de
5C. Como forma de avaliação do desvio na obtenção da propriedade pelo método de interpolação foram interpolados
valores que constavam da tabela de dados originalmente adotada. Por exemplo, a Tab. (1) contém valores das
propriedades (pressão de saturação, volume específico do líquido e vapor saturados, entalpia específica do líquido e
vapor saturados, entropia específica do líquido e vapor saturados) para 5C, 10C, 15C, etc, foi assumido como
intervalo de interpolação a faixa entre x1 = 5C e x 2 = 15C e interpolada a propriedade desejada correspondente a
x3 = 10C (a temperatura média da faixa), o valor obtido pela interpolação foi comparado ao dado tabelado. Usando a
mesma tabela foram avaliados os desvios nos valores calculados para intervalos de interpolação de 20C e 40C,
sempre avaliando os desvios pela interpolação na média do intervalo de temperatura. Assim, se o intervalo de
interpolação for de 40C e estivermos interpolando o valor correspondente a temperatura de 50C – para qualquer
propriedade - os dados tabelados utilizados como base da interpolação serão respectivamente 30C e 70C. Para os
casos onde são necessários mais um dado base para interpolação, como é o caso da interpolação do tipo parabólica, foi
utilizado o valor exatamente superior ao segundo valor base, observando é claro, o incremento da faixa de interpolação,
no exemplo fornecido corresponderia a 110C.

Tabela 1. Propriedades na região de saturação da água para algumas temperaturas – fonte Keenan (1969).

T P L v hL hv sL sv
°C kPa m3/kg kJ/kg kJ/kg K
0,01 0,6113 0,001000 206,13 0,00 2501,3 0,0000 9,1562
5 0,8721 0,001000 147,12 20,98 2510,3 0,0761 9,0257
10 1,2276 0,001000 106,38 41,99 2519,7 0,151 8,9007
15 1,7051 0,001001 77,925 62,99 2528,9 0,2245 8,7813
20 2,3385 0,001002 57,790 83,94 2538,1 0,2966 8,6671
25 3,1691 0,001003 43,359 104,87 2547,2 0,3673 8,5579
30 4,2461 0,001004 32,893 125,77 2556,2 0,4369 8,4533

Na tabela T é a temperatura, P a pressão,  é o volume específico, h é a entalpia específica, s a entropia específica.


O subscrito “L” indica líquido saturado, “v” vapor saturado.

2.1. Pressão de saturação

A primeira propriedade em análise é a pressão de saturação. Dados experimentais demonstram que um gráfico de
ln P versus 1/ T produz geralmente uma linha que é quase uma reta. De acordo com essa característica, é factível
utilizar para a pressão de vapor uma equação do tipo:

B
ln P = A − (1)
T

Onde A e B são as constantes. O subscrito  indica que as propriedades são avaliadas na região de saturação.
Contudo, é possível também modificar a Eq. (1) através da introdução de mais uma constante C , obtendo:

B
ln P = A − (2)
T +C
10 100
Linear
Intervalo 10°C Intervalo 20°C Linear
Parabólica Parabólica
Equação 1
10
1 Equação 1
Antoine Antoine
1
0.1

0.1
 

 
0.01

0.01

0.001
0.001

0.0001
0.0001

0.00001 0.00001
0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
Tr Tr

1000
Intervalo 40°C Linear

100 Parabólica
Equação 1
Antoine
10

1
 

0.1

0.01

0.001

0.0001

0.00001
0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
Tr

Figura 1. Desvio percentual em módulo ( | | ) para pressão de saturação calculada linearmente, parabolicamente e
através da Eq. (1) e a equação de Antoine, com intervalos de interpolação de 10C, 20C, e 40C,
respectivamente.

A equação (2) é conhecida como equação de Antoine, e aproxima melhor a curva de saturação que a Eq. (1), mas,
mantidas as constantes invariáveis para uma faixa muito extensa de temperaturas, não representa fielmente o
comportamento real da curva de saturação. Na abordagem proposta, para cada intervalo de interpolação os valores das
“constantes” serão ajustados através do uso de dados tabelados, numa tentativa de melhorar a precisão da equação.
Rigorosamente, é possível dizer que seriam variáveis mantidas fixas para intervalos estabelecidos, e que são
dependentes apenas da temperatura: A = A(T ) , B = B(T ) , C = C(T ) . Os gráficos da Fig. (1) indicam o desvio
percentual em módulo da pressão de saturação quando comparados os dados obtidos pela interpolação linear e
parabólicas convencionais, ao ajuste local das constantes para o intervalo de interpolação usando a Eq. (1) e a Eq. (2)
em função da temperatura reduzida (Tr – o índice “r” significa que a propriedade foi normalizada através das
propriedades no ponto crítico, e passa a chamar-se reduzida).
Analisando os gráficos da Fig. (1) é possível chegar a algumas conclusões já esperadas e outras que revelam a
necessidade de prudência ao utilizar determinados tipos de interpolação. Para todos os métodos de avaliação da pressão
de saturação apresentados, o desvio aumenta com o aumento do intervalo de interpolação. Dependendo do tamanho
desse intervalo, o método de interpolação linear e o parabólico podem ser descartados como alternativas para avaliação
das propriedades termodinâmicas – para o caso da pressão de saturação, pois, apresentam erros acima de cem por cento
– como é o caso da interpolação parabólica para a temperatura de 20 C em intervalo de interpolação de 40C (106 %).
Contudo, o método de ajuste das constantes da Eq. (1) e da Eq. (2) é bastante satisfatório mesmo para intervalos de
interpolação elevados. O desvio máximo em módulo usando a equação de Antoine para o intervalo de interpolação de
40C não ultrapassa 0,14% (para temperaturas reduzidas até o valor de 0,885). Os resultados do desvio máximo (em
valor absoluto), desvio médio e desvio padrão são apresentados na Tab. (2) para a pressão de saturação e as outras
propriedades avaliados para cada uma das equações empregadas. As equações utilizadas para a estimativa das demais
propriedades na região de saturação são descritas nos próximos itens. Na Tab. (2) os itens sublinhados representam
mostram as equações preferenciais para interpolação de cada propriedade em estudo.

2.2. Volume específico

Para o volume específico do líquido saturado, além da avaliação dos resultados obtidos pela interpolação linear e
parabólica foi testada a equação modificada de Rackett (Rackett, 1970) – aqui abreviada como MRT – e acertado seus
parâmetros utilizando o mesmo procedimento empregado para a pressão de saturação quando do emprego da Eq. (1). A
equação modificada de Rackett é:

vL = v(1)  C (1−Tr ) −(1−Tr(1) ) 2 / 7


2/ 7
(3)

onde vL é o volume específico de interesse, v(1) é o volume específico de um dos dois pontos tabelados (digamos
ponto 1), Tr é a temperatura reduzida do ponto de interesse, Tr(1) é a temperatura reduzida de um dos dois pontos
tabelados (ponto 1) e a constante C é determinada a partir do segundo ponto da tabelado (digamos, ponto 2) quando
Tr = Tr(2 ) e v L = v L(2 ) .
Os métodos estudados para obtenção do volume específico do vapor saturado foram: ajuste de constantes da
equação de estado virial em séries de volume específico (truncada no terceiro termo), ajuste de constantes da equação
de estado virial em séries de pressão (truncada no terceiro termo), interpolação linear para razão temperatura-pressão,
interpolação parabólica para razão temperatura-pressão e finalmente através da utilização de uma equação empírica
descrita adiante.
A equação virial em séries de volume específico – mais detalhes sobre as equações viriais podem ser encontrados
em Reid et all (1987) , truncada no terceiro termo é:

P B (T ) C (T )
Z= =1+ + 2 (4)
R T  

Onde Z é o fator de compressibilidade, R é a constante particular da substância, B(T ) é o segundo coeficiente virial,
C(T) é o terceiro coeficiente virial. Os coeficientes viriais são função apenas da temperatura e tem por objetivo
introduzir a influência das forças moleculares. O denominado ajuste das constantes segue o procedimento apresentado
para a pressão, já detalhado no item 2.1.
A equação virial de estado em séries de pressão, truncada no terceiro termo é:

P
Z= = 1 + B(T ) P + C (T ) P 2 (5)
R T

O polinômio de interpolação para o volume específico do vapor saturado para a razão temperatura-pressão é o
seguinte:

vv = A0 + A1 ( T / P ) + A2 ( T / P )2 (6)

Onde Ai são as constantes a serem ajustadas no intervalo de interesse, usando três pontos tabelados.
Finalmente, a equação empírica ajustada no intervalo de interpolação é:

vv = A(T / P) + B T (7)

Novamente A e B são as constantes ajustadas no intervalo desejado.

2.3. Entalpia específica e entropia específica

A entalpia específica do líquido saturado, a entropia específica do líquido saturado foram calculadas utilizando a
interpolação linear e parabólica. Já no cálculo da entalpia do vapor saturado, além das interpolações convencionais, foi
utilizada a correlação de Watson (Thek e Stiel, 1966):
 1 − T (2) 
n
(1)  
h (2) = h   r
( 1)  (8)
LV LV
 1−T 
 r 
Onde hLV é a entalpia de vaporização, o subscrito 1 refere-se a um conjunto de dados conhecido da tabela de
propriedades termodinâmicas e 2 a um segundo conjunto de dados também conhecidos da mesma tabela, n é a constante
a ser ajustada no intervalo a partir desses dois pontos. Daí, a entalpia de vaporização do ponto de interesse pode ser
calculada. Com esse valor juntamente com a entalpia do líquido saturado, obtém-se entalpia do vapor saturado, ou seja,

hV = hLV + hL (9)

O cálculo da entropia específica do vapor saturado por razões de consistência teórica, deve usar a seguinte relação
termodinâmica exata:

hLV
sV = + sL (10)
T

Neste caso, o desvio obtido no cálculo da entropia específica do vapor saturado está relacionado ao método de
obtenção da entalpia de vaporização e da entalpia específica do líquido saturado.

Tabela 2. Valores dos desvios para as propriedades na região de saturação. Calculados utilizando os métodos de
interpolação investigados e comparados com valores tabelados.

10°C 20°C 40°C


P Linear 5 Parab. 5 Equação 1 5 Antoine 5 Linear 6 Parab. 3 Equação 1 6 Antoine 3 Linear 4 Parab. 2 Equação 1 4 Antoine 2

| | máx 5,39 1,67 0,0790 0,0179 20,1 13,6 0,304 0,0231 70,9 106 1,12 0,140

 médio 1,24 -0,228 -0,0245 0,0002 4,45 -1,88 -0,0844 0,0009 17,6 -14,7 -0,364 -0,0055
 1,32 0,376 0,0246 0,00420 4,87 3,08 0,0992 0,0096 17,5 23,9 0,343 0,0540

L Linear 5 Parab. 5 MRT 5 Linear 6 Parab. 4 MRT 6 Linear 4 Parab. 2 MRT 4

| | máx 0,104 0,0955 0,0922 6,84 0,116 0,239 7,88 5,85 0,191

 médio 0,0259 0,0267 0,0233 0,237 -0,00878 0,0365 2,85 0,248 0,0771
 0,283 0,0201 0,0208 0,891 0,0416 0,035 1,67 0,821 0,0482

v Linear 5 Parab. 5 Virial (vol.) 5 Linear 4 Parab. 4 Virial (vol.) 4 Linear 1 Parab. 1 Virial (vol.) 1

| | máx 0,0415 1,863 0,329 0,188 11,1 1,36 0,151 58,3 1,25

 médio 0,00867 0,336 0,0318 0,0256 2,14 0,133 0,0883 12,9 0,331
 0,00742 0,446 0,0491 0,0261 2,65 0,213 0,0411 14,3 0,301

v 5
Virial (press.) Parab. T/P 5 Empírica 4 Virial (press.) 4 Parab. T/P 4 Empírica 4 Virial (press.) 1 Parab. T/P 1 Empírica 1

| | máx 0,132 0,0467 0,0286 0,527 2,20 0,0810 0,748 1,60 0,255

 médio 0,0239 0,00736 0,0102 0,0978 0,0587 0,0355 0,323 0,111 0,141
 0,0220 0,00779 0,00778 0,0880 0,282 0,0219 0,203 0,226 0,0754

hL Linear 5 Parab. 5 Linear 4 Parab. 4 Linear 1 Parab. 1

| | máx 0,0715 0,0953 0,282 1,503 0,299 1,32

 médio 0,0108 0,00382 0,0404 0,0392 0,113 0,0886


 0,0127 0,0127 0,0432 0,192 0,0677 0,189

hv Linear 5 Parab. 5 Watson 5 Linear 4 Parab. 4 Watson 4 Linear 1 Parab. 1 Watson 1

| | máx 0,727 0,711 0,715 0,772 1,07 0,726 0,95 0,868 0,764

 médio 0,0294 0,0269 0,0243 0,0518 0,0523 0,0294 0,104 0,0649 0,0451
 0,107 0,115 0,107 0,113 0,177 0,108 0,133 0,158 0,107

sL Linear 5 Parab. 5 Linear 4 Parab. 4 Linear 1 Parab. 1

| | máx 0,788 0,0986 1,788 0,193 3,51 0,573

 médio 0,0506 0,00478 0,153 0,018 0,463 0,0909


 0,121 0,0131 0,303 0,0325 0,707 0,109

Valores de temperatura interpolados desde Tr = 0,430 até Tr = 1 - 0,839; 2 – 0,885; 3 – 0,893; 4 – 0,900; 5 – 0,909; 6 – 0,978
(1 , 2 , 3 , 4 , 5 e 6 são os sobrescritos da tabela acima)

3. Obtenção das propriedades na região de líquido metaestável e vapor superaquecido


A essa altura, todas as propriedades termodinâmicas relevantes, são obtidas a partir da temperatura de saturação,
usando dois, ou três pontos tabelados. Restam a serem determinadas, as propriedades do líquido metaestável e do vapor
superaquecido. Até agora, foi admitido que a temperatura era conhecida, o que para o caso de líquido metaestável não
será favorável, como veremos mais adiante. Desta forma, é considerado que a pressão metaestável é conhecida, e a
partir dela são obtidas todas as outras propriedades. Fazendo uma expansão em série de Taylor e truncando no 1 o termo,
a partir da saturação, podemos obter a seguinte expressão do volume específico do liquido metaestável, m:


 m =  L + (P − P )  (11)
P s , P = P

Supondo, também, um processo isoentrópico (dh = vdP) de expansão e que a entalpia do líquido e a pressão na
região de saturação são funções exclusivas da temperatura, é obtida a seguinte expressão:

d 2h
 m =  L + (P − Psat )  (12)
dP 2 P = P

Através do emprego das equações Eq. (1) e Eq. (4) em conjunto com a Eq. (8) é possível determinar o volume
específico do líquido metaestável. A entalpia pode ser obtida através da seguinte equação, integrada entre o estado
saturado e o estado metaestável:

hm Pm

 dh =  
hL P
m dP (13)

Finalmente a temperatura metaestável pode ser avaliada através da seguinte integral:

hm Tm

 dh =  C
hL T
P dT (14)

Onde C P é o calor específico a pressão constante do líquido saturado.


Para a determinação das propriedades do vapor superaquecido admitiremos conhecida a temperatura e a pressão
para o estado de interesse. A extrapolação dos dados tabelados será feita através do ajuste de constantes da equação de
estado virial em séries de volume específico, truncada no segundo termo. Essa equação, que já foi utilizada para
estimativa do volume específico do vapor saturado, representa bem o comportamento de moléculas não polares
respeitando alguns limites de pressão e temperatura (não muito próximo do ponto crítico).

P B (T )
Z= = 1+ (15)
R T 

Primeiro, um polinômio do segundo grau ajusta o segundo coeficiente para três dados tabelados na região de
saturação, isto é, obtém-se B(T) com a equação acima aplicada na linha de saturação para dados tabelados que englobe a
temperatura de interesse. Posteriormente, o volume específico do vapor superaquecido é calculado usando a mesma
equação, para a pressão e temperatura de interesse e com o segundo coeficiente virial ajustado pelo processo descrito.
A entalpia do vapor superaquecido pode ser estimada fazendo uso teoria das propriedades residuais. O valor de uma
propriedade residual é a diferença entre a propriedade real e a propriedade calculada como se a substância em estudo
tivesse comportamento de gás perfeito à mesma temperatura. Para a entalpia usando a equação de estado virial truncada
acima, Eq. (11), é obtida a seguinte expressão para o cálculo da entalpia do vapor superaquecido:

 B dB 
hR = R  T 2   −   , (16)
 T dT 

onde o sobrescrito superior "R" indica que a propriedade é uma propriedade residual.

4. Conclusões
A interpolação e extrapolação de dados para obtenção das propriedades termodinâmicas é um método alternativo a
solução de equações de estado complexas. Apresenta inúmeras vantagens, entre elas, a forma direta com que os cálculos
são realizados, dispensando métodos iterativos, tornando o processo de avaliação das propriedades muito mais rápido.
Possibilitando portanto, o emprego desse método em códigos computacionais que utilizam a rotina de cálculo de
propriedades muitas vezes. Outra grande vantagem é que o método necessita apenas de uma tabela na região de
saturação líquido-vapor para obtenção das propriedades incluindo a região de líquido metaestável e vapor
superaquecido. Devido a esse fato é possível o cálculo de propriedades para quaisquer substâncias ou misturas. Os
testes revelaram que se o intervalo entre os dados tabelados for relativamente pequeno os erros associados a
interpolação também de valor muito baixo.

5. Agradecimentos

Os autores agradecem o suporte financeiro dado a este projeto pela FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo, bem como o suporte financeiro pessoal ao primeiro autor.

6. Referências

Abbott, M. M., Van Ness, H. C., “Termodinâmica”, McGrawHill.


Keenan, J. H., 1969, “Steam Tables: Thermodynamics properties of water including vapor liquid and solid phases”,
John Wiley.
Lee, B. I., Kesler, M., 1975, “A Generalized Thermodynamic Correlation Based on Three-Parameter Corresponding
State”, AIChE, Vol. 21(3), pp. 510-27.
Racket, H. G., 1970, J. Chem. Eng. Data, Vol.15, pp. 514, citado pelo Reid et all. (1987), pp. 67.
Reid, R. C., Plausnitz, J. M. e Poling, B. E., 1987, "The Properties of Gases & Liquids", 4th Ed., Ed McGraw Hill.
Thek, R. E. e Stiel, L. I., 1966, AIChE J., Vol. 12, pp. 599, citado pelo Reid et all. (1987), pp. 228.

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