Você está na página 1de 5

intransitivos ou transitivos.

Os verbos intransitivos requerem apenas um


argumento, o sujeito, ao passo que os verbos transitivos, além do
sujeito, requerem ainda um objeto direto (OD), um objeto indireto (OI)
ou ambos. Vejamos alguns exemplos a seguir:
Disciplina: Normas Gramaticais da Língua Portuguesa
Docente: Vítor Henrique Santos da Silva
- “Pedro dormiu.” (intransitivo)
- “Maria comeu um bolo.” (transitivo direto)
A regência
- “João precisa de ajuda.” (transitivo indireto)
- “Ana deu um livro a Miguel.” (transitivo direto e indireto)
“Em geral, as palavras de uma oração são interdependentes, isto é,
relacionam- se entre si para formar um todo significativo. [...] Essa relação
necessária que se estabelece entre duas palavras, uma das quais serve de Relevante notar que um único verbo pode ser empregado com
complemento a outra, é o que se chama regência. A palavra dependente
denomina-se regida, e o termo a que ela se subordina, regente.” (CUNHA; transitividades diferentes em contexto distintos, daí a importância de
CINTRA, 2017, p. 530, grifos dos autores)
conhecê-las e de empregá-las adequadamente a depender do que se
pretende dizer.
De acordo com Cunha e Cintra (2017, p. 530), as relações de
Dá-se o nome de regência verbal à ligação do verbo com seu(s)
regência podem ser indicadas:
complemento(s), ligação essa que pode ocorrer diretamente, quando o
a) pela ordem por que se dispõem os termos na oração; objeto é direto, ou indiretamente, por meio de preposição, quando o
b) pelas preposições, cuja função é justamente a de ligar palavras
estabelecendo entre elas um nexo de dependência; objeto é indireto.
c) pelas conjunções subordinativas, quando se trata de um período composto. Um mesmo verbo pode apresentar mais de uma regência, e isso
pode ou não ter implicações de sentido (op. cit., p. 532):
Regência verbal

- A diferença de regência pode implicar uma mudança de sentido:


Segundo Cunha e Cintra, os verbos nocionais (que exprimem
aspirar o ar de montanha e aspirar a um alto cargo;
ações, processos, fenômenos naturais, desejos etc.) podem ser
- É possível haver uma diferença de regência, mas não de sentido: Ex.: Assisti a algumas touradas. (A. F. Schmidt, AP, 175.)
meditar num assunto e meditar sobre um assunto; Ex.: Trata-se de um filme que eu assistia. (C. Lispector, AV, 32.)

- E pode haver uma diferença de sentido com a mesma regência: - Com sentido de acompanhar, ajudar, pode-se usar tanto com objeto

carecer de dinheiro (precisar de) e carecer de dinheiro (estar com falta direto quanto com objeto indireto:

de). Ex.: Deus bom, que assiste os coitados. (C. dos Anjos, DR, 129.)
Ex.: Só esta manhã é que tivemos o doutor no Pomar; veio assistir à filha do
Manuel Calmeiro. (F. Namora, NM, 216-217.)
Para verificar a regência de um verbo, um dicionário deve ser
consultado; de preferência, um dicionário especializado, como o Chamar
Dicionário Prático de Regência Verbal, de Celso Pedro Luft. - Quando com sentido de fazer vir, convocar, emprega-se com objeto
Vejamos, a seguir, a regência de alguns verbos que costumam direto:
gerar dúvidas às pessoas. Ex.: O presidente do banco chamou-o para uma conversa penosa. (C.
Drummond de Andrade, CA, 139.)
- Com sentido de invocar, emprega-se com objeto indireto, encabeçado
Aspirar: pela preposição por:
- É transitivo direto quando significa respirar: Ex.: As tias chamavam por Santa Bárbara e por São Jerônimo. (O. Lara
Ex.: Aspirando o frescor do seu vestido... (C. Pessanha, C, 82.) Resende, PM, 97.)
- Com o sentido de dar nome, apelidar, emprega-se com de maneiras
- É transitivo indireto quando significa desejar:
variadas: OD + predicativo; OD + de + predicativo; OI + predicativo; e
Ex.: Aspiramos a tuna terra pacífica. (C. Drummond de Andrade, OC, 830.)
OI + de + predicativo.
Ex.: O povo chamava-o maluco. (J. Lins do Rego, U, 127.)
Assistir:
Ex.: Chamaram-no de mentiroso, de ingrato e de vítima. (C. Drummond de
- A tradição gramatical recomenda que, quando com sentido de estar
Andrade, CB, 71.)
presente, presenciar, o complemento deste verbo deve ser indireto, Ex.: Chama-lhe amizade, se preferires. (R Namora, RT, 173.)
encabeçado pela preposição a. No entanto, na linguagem brasileira do Ex.: Chamava-lhe sempre de miúdo. (Luandino Vieira, L, 22.)
dia a dia, o objeto direto, nessa acepção, é preferido pelos falantes:
- Com sentido de dar sinal para que venha, emprega-se - Com o sentido de dar resposta, emprega-se com objeto indireto:
instrasitivamente: Ex.: O Faustino teve de responder às próprias perguntas. (M. Torga, CM, 24.)
Ex.: — Chamou? pergunta-me o guarda. - Como verbo que indica a resposta dada:
— Não chamei. (V. Ferreira, NN, 78.)
Ex.: Nenhum escritor comum, igualmente, responderia isso. (C. Drummond
de Andrade, CB, 72.)
Esquecer - Com o sentido de dar resposta a alguém ou alguma coisa, emprega-se
- Com sentido de sair da lembrança, pode-se empregar com objeto com objeto direto e indireto:
direto ou com objeto indireto introduzido pela preposição de, se Ex.: Respondi-lhe que já tinha lido a receita em qualquer parte. (J. Cardoso
Pires, D, 295.)
pronominal: - Com o sentido de replicar, emprega-se com objeto direto ou
Ex.: Esqueci um ramo de flores no sobretudo. (C. Drummond de Andrade, R, intrasitivamente:
9.)
Ex.: Diabo: o Barbaças esquecia-se de deixar as rações na manjedoura. (F. Ex.: À linguagem do deputado o jovem médico respondeu com igual
Namora, TJ, 325.) franqueza. (Machado de Assis, OC, II, 60.)
- Outras duas construções com esse sentido também são usadas na Ex.: Respondia sem revolta ou renúncia na voz. (M. Torga, CM, 14.)

língua atual, ainda que não recomendadas pelos gramáticos: esquecer


sem pronome reflexivo + objeto introduzido por de; e esquecer-se + Visar

que + oração. Com o sentido de pôr o visto (em algum documento), emprega-se com
Ex.: Ah, sim, esqueci de confessar quando a vi. (N. Pinon, SA, 155.) objeto direto:
Ex.: — Toma esta chave, e não te esqueças que o seu poder é sobrenatural. Ex.: Visar um passaporte.
(G. Amado, TL, 5.) - Com o sentido de ter por objetivo, emprega-se com objeto indireto
- Esquecer-se ainda admite uma construção em que o elemento introduzido pela preposição a:
esquecido figura como sujeito, e não como objeto: Ex.: Não visava a lucros e, sim, ajudar o próximo. (J. Amado, MG, 80-81.)
Ex.: E o pior é que me esqueceu tudo, valha-me Deus! (J. Régio, SM, 303.) - Também com o sentido de ter por objetivo, pode aparecer com objeto
direto, como a seguir:
Responder
Ex.: O balde de água fria visava também uma finalidade concreta. (M. Torga, - Com sentido de habituado, o complemento é encabeçado pela
V, 214.) preposição a:
Ex.: O ataque visava cortar a retaguarda da linha de frente. (E. da Cunha, OC, Ex.: Guilherme está adaptado à nova escola.
II, 399.) - Com sentido de transformado a partir de o complemento é
- Embora a construção com objeto direto seja condenada por alguns encabeçado pela preposição de:
gramáticos quando o complemento é não oracional, essa forma é aceita Ex.: O filme foi adaptado do livro francês “Madame Bovary”.
para complementos oracionais (especificamente, oração reduzida de
infinitivo). Certeza
- Com sentido de estar certo de algo, o complemento é encabeçado pela
Regência Nominal preposição de:
Ex.: Tenho certeza de que ele virá.
À ligação do substantivo, do adjetivo e do advérbio com seu(s)
complemento(s), dá-se o nome de regência nominal. Esse Desconfiado
complemento, costumam afirmar os gramáticos, complementa ou - O complemento é encabeçado pela preposição de:
completa a ideia de seu termo regente. Ex.: Estás desconfiado de que ele mente?
O termo regido dessa relação costuma ser conhecido também
como complemento nominal, cuja ligação com o termo regente é Impressão
sempre feita por meio de uma preposição. - O complemento é encabeçado pela preposição de:
A seguir, encontramos a regência recomendada para algumas Ex.: Tenho a impressão de que você esteja equivocado.
palavras que geralmente causam confusão aos usuários do português
brasileiro. Junto
- Com o sentido de ao lado de, perto de, o complemento vem
Adaptado encabeçado pelas preposições a ou de:
Ex.: O castelo fica junto ao rio. / O castelo fica junto do rio.
Ex.: O anexo 4 fica junta à torre norte. / O anexo 4 fica junto da torre norte. FERNANDES, M. Exercícios de Regência Verbal. Toda Matéria, 2021.
Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-de-
regencia-verbal/. Acesso em: 17 de ago. de 2021.
MUNDO Escrito. Regência Nominal: Os Erros Mais Frequentes na
Exercícios Revisão de Textos. Mundo Escrito, 2020. Disponível em:
https://mundoescrito.com.br/regencia-nominal/. Acesso em: 17 de ago.
de 2021.
1. (FEI) Assinale a alternativa em que haja erro de regência verbal:
a) Deu-lhe um belo presente de aniversário. VALADARES, P. Junto a, junto de ou junto com – qual a forma
correta? Clube do português, 2021. Disponível em:
b) Levei-o para o médico esta manhã. https://clubedoportugues.com.br/junto-a-junto-de-ou-junto-com/.
c) Gostamos deste novo filme. Acesso em: 17 de ago. de 2021.

d) Fui no cinema ontem.


e) O lenço caiu no chão.

2. (Fiocruz) Assinale a frase onde a regência do verbo assistir está


errada.
a) Assistimos um belo espetáculo de dança a semana passada.
b) Não assisti à missa.
c) Os médicos assistiram os doentes durante a epidemia.
d) O técnico assistiu os jogadores.

Referências

CUNHA, C. F.; CINTRA, L. F. L. Nova Gramática do Português


Contemporâneo. 7 ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2017.

Você também pode gostar