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OS PURITANOS

Origem, identificação, reprodução social e declínio de um grupo


da Aristocracia Portuguesa do Antigo Regime (1630-1800)

Miguel de Araújo Proença

Dissertação de Mestrado em
História Moderna e dos Descobrimentos

Outubro, 2015
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção
do grau de Mestre em História Moderna e dos Descobrimentos, realizada sob a
orientação científica do Professor Doutor Jorge Pedreira
Declaro que esta Dissertação é o resultado da minha investigação pessoal e
independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.

O Candidato,

Lisboa, 30 de Outubro de 2015

Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a
designar.

O Orientador,
À avó
Ag r a d e c i m e n t o s

- §-

À minha família - em especial à mãe - o meu mais sincero agradecimento pela presença
constante em todos os momentos da minha vida!

À Maria Guedes - a quem se deve, em muito, a apresentação deste trabalho - pelo apoio,
disponibilidade, paciência e graça, o meu muito obrigado!

Aos meus amigos, principalmente àqueles que mais saíram prejudicados com as minhas
ausências e afastamentos, agradeço o facto de serem os melhores do mundo e de não
terem desistido de mim, mesmo quando começaram a acreditar que eu já tinha desistido
deles (ou quando estavam simplesmente fartos de me ouvir falar dos Puritanos)!

Aos professores doutores Ana Isabel Buescu, Alexandra Pelúcia, Jorge Pedreira e Pedro
Cardim, o meu muito obrigado por tudo o que aprendi - e pela generosidade com que
foram partilhando o seu conhecimento comigo - nos seminários no âmbito do Mestrado
em História Moderna e dos Descobrimentos.

Last but not least (and again...), ao orientador do presente trabalho, o Professor Doutor
Jorge Pedreira, que me apresentou os Puritanos e aceitou acompanhar-me neste grande e
desafiante projecto, deixo o meu mais profundo agradecimento.
OS PURITANOS
Origem, identificação, reprodução social e declínio de um grupo
da Aristocracia Portuguesa do Antigo Regime (1630-1800)

THE PORTUGUESE PURITANS


Origin, identification, social reproduction and decline o f a
Portuguese Aristocracy group from the Ancien Régime (1630-1800)

Miguel de Araújo Proença

RESUMO

A presente dissertação tem como objectivo a produção de uma base historiográfica sobre
o grupo dos Puritanos em Portugal, capaz de explicar o enquadramento da sua origem na
sociedade do Antigo Regime, identificar os seus membros e a sua forma de reprodução
social e, por fim, o seu declínio, tanto enquanto grupo social, como ao nível do seu
discurso, apresentando como exemplo a Casa aristocrática, reputada como puritana, dos
marqueses de Alegrete, condes de Vilar Maior.

O período de análise sobre o qual incidirá esta dissertação está compreendido entre o ano
de criação da Confraria (de Nobreza) dos Escravos do Santíssimo Sacramento da
Freguesia de Santa Engrácia, 1630, e o ano de 1800, último ano do século XVIII.

PALAVRAS-CHAVE: Puritanos; Aristocracia; Limpeza de sangue; Antigo Regime


abstr ac t

This dissertation aims to create an historiographical basis to the study of the Portuguese
Puritans’ group, in order to explain its origins in the Portuguese Ancien Régime society,
who were its members and its social reproduction model, and, finally, its decline, not only
at a social group level but also in terms of discourse, presenting as an example the
Portuguese aristocratic house of the marquises of Alegrete, counts of Vilar Maior.

The period of analysis is comprehended between the year of the creation of Santa
Engrácia Parish’s Brotherhood (of nobility) of the Slaves of the Blesses Sacrament
(1630), and 1800, the last year of the 18th century.

KEYWORDS: Portuguese Puritans; Aristocracy; Cleanliness of blood; Ancien Régime


ÍNDICE

- §-

In t r o d u ç ã o ............................................................................................................................1
Preâmbulo............................................................................................................................1
Abordagem metodológica.................................................................................................. 4
Fontes................................................................................................................................... 8
Estado da Arte................................................................................................................... 12
P a r t e 1 - Co m p o s iç ã o do Lu g a r .....................................................................................17
1. O Rei: o epicentro do poder.......................................................................................17
2. Os cortesãos: os títulos e os ofícios maiores da Casa R eal.................................... 22
3. Os puritanismos: o sangue e as nobrezas................................................................ 29
4. A classe provável dos Puritanos.............................................................................. 36
Pa r t e 2 - O s P URITANOS..................................................................................................... 43
1. O Alvará Puritano..................................................................................................... 43
2. O Relatório do Monsieur de Torcy...........................................................................49
3. A dignidade real..........................................................................................................54
4. Proposta de identificação de um grupo................................................................... 62
5. O Modelo de reprodução social................................................................................ 71
6. As inconsistências e incoerências............................................................................ 79
7. O Processo dos Távoras ou o engano puritano....................................................... 86
8. Alguns contributos..................................................................................................... 92
P a r t e 3 - Um a f a m í l i a PURITANA: o s M o u r a r ia s ............................................................ 99
1. A Casa “imaginada” dos Mourarias.........................................................................99
2. A Mouraria dos Cunhas..........................................................................................104
3. A Mouraria dos Alegretes.......................................................................................108
4. A reprodução social dos Mourarias....................................................................... 114
Co n c l u s õ e s e D e s a f io s ....................................................................................................119
Fo n t e s e B i b l i o g r a f i a .....................................................................................................125
ANEXOS.............................................................................................................................. 139
Li s t a de Ab r e v i a t u r a s

- §-

ANTT - Arquivo Nacional da Torre do Tombo

BNF - Bibliothèque Nationale de France

BNP - Biblioteca Nacional de Portugal


Na última aula de História do ano, o Velho Joe Hunt,
que conduzira os alunos letárgicos por Tudors e
Stuarts, vitorianos e eduardinos, pelo Nascimento do
Império e o seu Subsequente Declínio, convidou-nos
a olhar para trás, para todos aqueles séculos e tentar
tirar conclusões.
«Talvez possamos começar com a pergunta
aparentemente simples: O que é a História? Alguma
ideia, Webster?»
«A História são as mentiras dos vencedores»,
respondi com demasiada rapidez.
«Pois, receava que o dissesse. Sim, desde que se
lembre de que são também as ilusões dos vencidos.
[■■■]
«Finn!»
« “A História é essa certeza que se produz no ponto
em que as imperfeições da memória se cruzam com
as insuficiências da documentação. "»

Julian Barnes, O sentido do fim


INTRO DUÇÃO

- §-

Preâmbulo

E não póde haver duvida para aquella conta, de que


havemos precisamente de descender de quantos
naquelle tempo havia em Portugal, e de muitos
Estrangeiros. Agora se todos elles erão puros, tem
muita rasão os Puritanos; mas como naquelle tempo
não havia Santo Officio, nem Mesa de Consciencia,
não sei quem nos hade passar essas certidões? O
certo é que no principio do nosso Reino havia Mouros
convertidos, havia Christãos, e havia Judeos 1

Num dos raros retratos da família real que saem fora da propaganda política que
marcou o período do Antigo Regime em Portugal - intimamente ligada à consolidação
do poder real, numa primeira fase relacionada com a legitimação da dinastia brigantina e
numa segunda com a necessidade de afirmação do poder da coroa face aos demais poderes
da sociedade portuguesa - podemos observar o rei D. João V a ser servido de uma chávena
de chocolate quente pelo infante D. Miguel, seu meio-irmão e 1.° marquês de Arronches,
numa composição onde se identificam mais cinco personagens, incluindo o próprio
pintor2 . Transformada numa fonte de grande interesse histórico pela recente historiografia
que reclama a inexistência de retratos artísticos sobre cenas de costumes de época com
personagens reais, tão importantes ao recente ramo da história que se centra,
precisamente, no estudo do quotidiano e da vida privada, versando sobre assuntos tão
vastos e diferentes como a sociabilização, a infância ou a alimentação, esta miniatura

1 Alexandre de Gusmão, Collecção de varios escritos ineditos politicos e literários. Porto: Na Typografya
de Faria Guimarães, 1841, p. 83.
2 Veja-se o Anexo 1 à presente Dissertação.

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Os Puritanos

produzida por Alessandro Castriotto, em 1720, em óleo sobre marfim, desafia-nos


também a questionar quem seriam estes homens aceites na mais exclusiva esfera privada
dos reis. Se é certo que grande parte dos validos e ministros deste período foram já muito
estudados, como o conde de Castelo Melhor ou, e até o melhor exemplo, o marquês de
Pombal, a verdade é que a grande maioria dos homens que influenciaram práticas e
políticas durante o Antigo Regime continuam a ser de conhecimento exclusivo de todos
quantos se debruçam sobre este período específico da história de Portugal, com nomes
que não ficaram gravados na memória colectiva de um povo, mas que foram sobejamente
conhecidos e reconhecidos pelos seus contemporâneos. Nesta cena específica, para além
dos já referidos rei e marquês de Arronches, o qual se supõe estar acompanhado do seu
filho D. Pedro Henrique de Bragança que viria mais tarde a ser o 1.° duque de Lafões, o
rei faz-se acompanhar do 1.° marquês de Angeja e do 2.° marquês de Alegrete, para além
de um clérigo, o Padre Chevalier, preceptor da criança e confessor da família real.

Não será assim de estranhar que tenhamos querido começar esta dissertação com
esta imagem que é tão rara como, no que respeita ao estudo dos Puritanos, provocadora,
uma vez que as Casas de Lafões/ Arronches, Angeja e Alegrete se encontravam no restrito
grupo da aristocracia reputado por puritano, aumentando assim o interesse, como
referido, de os encontrarmos também no restrito grupo que privava com o rei, um facto
que longe de representar uma coincidência, vem confirmar o interesse do estudo deste
grupo enquanto detentor de influência junto do rei e, através dele, das principais estruturas
do aparelho governativo do reino.

Mas como tantas outras histórias de que se compõe a História, também a realidade
dos Puritanos portugueses, adjectivo que importa introduzir para que a confusão com os
seus homónimos ingleses seja evitada, não foi pública o suficiente para ficar perpetuada
nos anais da história, contribuindo mais para o seu estudo a sua extinção do que a sua
criação.

Assim, em 5 de Outubro de 1768 o rei D. José, através do seu valido Sebastião


José de Carvalho e Melo, então conde de Oeiras, faz aprovar um Alvará que pela sua
natureza se revestiu de um carácter secretíssimo, não passando «a Tribunal algum, nem á
Chancellaria», antes ficando «occulto nos lugares mais recônditos dos Archivos do
Conselho de Estado, e da Secretaria de Estado, dos quaes não sahirá, nem se comunicará

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Introdução

a pessoa alguma, que não seja das que nelle se achão declaradas»3, cujo objectivo era pôr
fim à pretensão puritana de algumas famílias da nobreza portuguesa materializada num
esquema de reprodução social exclusivo e sectário que, na opinião do monarca, criava no
seio da sua nobreza «sedições, e discordias»4, algo que, enquanto «Protector da mesma
Nobreza»5, não considerava ser aceitável.

Este Alvará, em conjunto com o Parecer do Conselho de Estado e com a Consulta


da Mesa do Desembargo do Paço que o precederam, datados, respectivamente, de 3 de
Outubro e de 23 de Setembro de 1768, constitui uma fonte ímpar sobre a história deste
grupo da aristocracia portuguesa, que terá sido instituído pela alteração dos estatutos da
Confraria (da nobreza) dos Escravos do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Santa
Engrácia em 20 de Dezembro de 1663. Esta fora criada para expiar o desacato ao
Santíssimo Sacramento ocorrido na Igreja da mesma freguesia, em 19 de Maio de 1630,
o primeiro de vários registados em Lisboa no século XVII e que se mostraram capazes de
confirmar o crescendo do sentimento anti-judaico experimentado pela sociedade
portuguesa do Antigo Regime6.

Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos


entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei
josefina como principal objectivo acabar com a distinção - na primeira nobreza da Corte
portuguesa - que esta prática promovia, forçando os herdeiros das casas ditas puritanas
a realizar casamentos fora do grupo, mantendo inalterado o principio regalista de que
seria o rei «a unica fonte de Nobreza da qual sómente podem emanar as honras, as
graduações, e as qualificações para os seus Vassalos»7.

Apesar de a historiografia mais recente já referir, com alguma frequência, a


existência deste grupo8, a verdade é que não existe qualquer estudo sistemático do mesmo
que possa servir de ponto de partida para todos os que, no futuro, desejem aprofundar este
tema, tanto segundo uma perspectiva de relações clientelares capazes de produzir
impactos ao nível das políticas seguidas pelo governo central, como segundo uma

3 António Delgado da Delgado (org.), Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza (Anno de 1763
a 1790). Lisboa: Typ. de Luiz Correa da Cunha, 1844, p. 184.
4 Ibidem, p. 181.
5 Ibidem, p. 183.
6 Avaliado, entre outros, pelas numerosas obras de cariz anti-judaico publicadas em Portugal nesse tempo,
cf. Jorge Martins, O Senhor Roubado. A Inquisição e a Questão Judaica. Lisboa: Europress, 2002, pp. 33­
34.
7 Ibidem, p. 189.
8 Vejam-se os exemplos descritos no Estado da Arte da presente dissertação.

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Os Puritanos

perspectiva de análise das estruturas sociais do Antigo Regime que assentam, em grande
parte, no pressuposto da afirmação de uma aristocracia sólida e cristalizada9 , que a
identificação do grupo dos Puritanos pode vir questionar, sugerindo antes a existência de
uma aristocracia dividida, muito susceptível a rumores capazes de produzir, no seu seio,
distinções não oficiais, mas fracturantes.

A presente dissertação tem como obj ectivo a produção de uma base historiográfica
sobre o grupo dos Puritanos católicos em Portugal, capaz de explicar o enquadramento
da sua origem na sociedade do Antigo Regime, identificar os seus membros e a sua forma
de reprodução social e, por fim, o seu declínio, tanto enquanto grupo social como ao nível
do seu discurso. O período de análise sobre o qual incidirá esta dissertação está
compreendido entre o ano de criação da Confraria (de Nobreza) dos Escravos do
Santíssimo Sacramento da Freguesia de Santa Engrácia, 1630, e o ano de 1800, último
ano do século XVIII.

Abordagem metodológica

Pode-se assim representar o mundo social em forma


de um espaço (a várias dimensões) contruído na base
de princípios de diferenciação ou de distribuição
constituídos pelo conjunto das propriedades que
actuam no universo social considerado, quer dizer,
apropriadas a conferir, ao detentor delas, força ou
poder neste universo.10

Propomos, então, a divisão da presente dissertação em três partes: uma primeira


dedicada ao estudo do nascimento na sociedade portuguesa de uma consciência e discurso
puritanos capazes de criar uma identidade materializada num grupo social; uma segunda
contendo uma proposta de identificação desse grupo, centrando-se nos critérios de

9 Termo utilizado por Nuno Gonçalo Monteiro para justificar, no período em análise, a manutenção do
número de casas titulares na ordem da meia centena, in Elites e Poder: entre o Antigo Regime e o
Liberalismo. Lisboa: ICS - Imprensa de Ciências Sociais, 2012, pp. 86.
10 Pierre Bourdieu, O Poder Simbólico. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 136.

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Introdução

pertença que encontramos nas fontes coevas, bem como nos casamentos que o mesmo
realiza e na forma como estes confirmam, ou não, a existência de um ideal puritano; e,
finalmente, uma terceira parte que incidirá sobre estudo de uma das mais reputadas casas
puritanas, os Mourarias - a Casa dos marqueses de Alegrete, condes de Vilar Maior -,
por forma a tentar comprovar, para uma casa aristocrática portuguesa específica, o reflexo
de uma realidade puritana no discurso dos seus membros e, se possível, no seu acesso
aos mais elevados cargos e ofício de governo do reino.

São recorrentes as referências à complexidade e multidimensionalidade das


perspectivas de análise na construção de uma abordagem historiográfica capaz de
reproduzir, com exactidão, outros tempos e culturas. No caso particular do estudo dos
Puritanos, a complexidade advém directamente da sua origem estar intimamente
relacionada com a intersecção de várias dimensões da realidade social do Antigo Regime,
algumas destas amplamente estudadas. De facto, não se poderá falar de um único e
exclusivo processo de construção de um grupo social, antes de uma multiplicidade de
processos, não directamente relacionados, capazes de criar, dentro do grupo em
construção, uma consciência promotora de distinções e hierarquias internas, paralelas às
próprias ordenações régias, e, muitas vezes, mais eficazes na atribuição de capital
simbólico e social aos seus principais agentes, Na análise destes processo, adoptaremos
como orientação a proposta teórica apresentada por Bourdieu11.

Na primeira parte da dissertação tentaremos perceber o momento, ou momentos,


em que esta consciência puritana começou a revelar-se capaz de produzir efeitos ao nível
da alteração das classificações sociais não oficiais, sabendo que tal resultou,
principalmente, de três processos distintos: a curialização da nobreza; o Édito de
Expulsão e o consequente baptismo de milhares de judeus com vista ao pontual
cumprimento do mesmo; e a generalização dos estatutos de limpeza de nobreza e de
sangue nas principais instituições e corporações do Antigo Regime, enquanto
consequência dos dois pontos anteriores. Assumimos, então, que o processo de
curialização - ou domesticação - da nobreza acabou por promover no seu seio uma
necessidade de produção de critérios de distinção capazes de salvaguardar a sua
autonomia face a um poder régio que alargava o seu campo de acção, assumindo-se o rei

11 Ibidem, nomeadamente pp. 135-161.

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Os Puritanos

já não como um primus inter pares, mas antes como um senhor dos senhores12.
Assumimos igualmente que o clima de desconfiança vivido na sociedade portuguesa,
assente em rumores, provocado por um processo ineficaz de conversão dos judeus
baptizados, acabou por possibilitar a introdução de um critério eficaz de distinção entre
as antigas linhagens (fidalguia), que ganham um novo fôlego depois da Restauração, e a
nobreza titular nascida dos serviços prestados no primeiro grande momento dos
Descobrimentos Portugueses, permitindo-nos questionar se uma consciência puritana13
não poderia também ser considerada uma consciência identitária portuguesa, por
oposição a uma estrangeira, como é sugerido por, entre outros, Alexandre de Gusmão14.

A segunda parte da dissertação centrar-se-á, então, na tentativa de identificação


deste grupo, tendo como ponto de partida a única fonte que tenta sistematizar a origem e
fundamento do puritanismo dos principais protagonistas da Corte portuguesa de finais do
século XVII15, testando-a e percebendo a sua aderência à realidade que pretende relatar,
confrontando-a, nomeadamente, com outras fontes coevas. Deste modo, procurar-se-á
identificar um ou mais critérios para a definição e avaliação do nível de adesão ao
puritanismo de uma determinada casa aristocrática. Além dos titulares, incluiremos os
detentores dos ofícios maiores (ou mores) da Casa Real, tantas vezes excluídos das
análises do grupo da aristocracia não obstante a clara assunção do ofício maior palatino
como um título nobiliárquico de uma casa, juntos comummente designados Primeira
Nobreza de Corte16. Definido o grupo sobre o qual incidirá a análise, procederemos ao
estudo dos casamentos que realizaram, testando se o facto pelo qual se tornaram
conhecidos, o de apenas casarem dentro do grupo, pode ser considerado verdadeiro. Por
fim, tentaremos concluir sobre a existência ou não de uma consciência puritana neste

12 José Adelino Maltez, «O Estado e as Instituições». In João José Alves Dias (coord.), «Do Renascimento
à Crise Dinástica», vol. V da Nova História de Portugal (dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques).
Lisboa: Editorial Presença, 1998, p. 386.
13 Termo também sugerido por Nuno Gonçalo Monteiro, in O Crepúsculo dos Grandes: A casa e o
património da aristocracia em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003, p. 141.
14In Collecção..., «Juízo, e calculo em geral sobre a Genealogia dos que erão tidos por Puritanos; pelo qual
fica destruida a errada opinião, que elles concebião da absoluta desinfectação de parentesco dos seus
ascendentes com os Judeos», pp. 81-85.
15 Referimo-nos ao Relatório do Monsieur de Torcy, de 1684. Joaquim Veríssimo Serrão, Uma Relação do
reino de Portugal em 1684. Coimbra: [s.n.], 1960.
16 Tanto pela transmissão, como pela dignidade que conferia. Refira-se, a título de exemplo, o esforço
encetado pelo duque de Cadaval D. Nuno para que o seu filho, D. Jaime, fosse nomeado estribeiro-mor e a
forma como este ofício palatino foi incorporado na própria designação do duque novo que passou,
nomeadamente, a assinar duque estribeiro-mor.

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Introdução

grupo da aristocracia portuguesa, identificando tanto as suas características, como as suas


inconsistências e incoerências.

Por fim, na terceira parte da dissertação, analisaremos a casa dos marqueses de


Alegrete, condes de Vilar Maior, também conhecidos como os Mourarias, com um
especial enfoque na sua influência durante o período em análise, nomeadamente através
da identificação dos principais cargos e ofícios que os seus membros ocupavam, tentando
identificar a existência de um discurso puritano e o seu reflexo na realidade desta Casa
aristocrática portuguesa. A escolha desta Casa, como exemplo, deve-se, por um lado, ao
peso que a Mouraria assume na definição simbólica do grupo dos Puritanos11, e por
outro, devido às conclusões a que chegou Nuno Monteiro relativamente às casas mais
procuradas pela aristocracia portuguesa para casamento dos seus filhos, no qual a casa
dos marqueses de Alegrete ocupa uma posição cimeira dentro do que designou o pólo
puritano18.

Importa ainda, por fim, referir um conceito ao qual faremos inúmeras e recorrentes
menções ao longo desta dissertação: o conceito de Casa, sempre escrita com letra
maiúscula para que seja entendida na sua dimensão nobiliárquica, ou seja, enquanto
habitat de uma família19, identificável «pela posse de certos bens vinculados, de uma
comenda, de um senhorio, de um ofício palatino e/ ou de um título nobiliárquico»20, que
surge, no Antigo Regime, «como uma entidade institucional e simbolicamente
consagrada, cuja reprodução repousava em mecanismos de autoridade e em noções de
dever»21, conceito essencial na tentativa de perscrutar um ideal subjacente a uma
dimensão puritana das políticas de reprodução social das Casas aristocráticas
portuguesas.

17 No já citado compêndio legislativo referente aos Puritanos, o único nome referido como estando por
detrás da formação do grupo é o do jesuíta Nuno da Cunha que «governava a casa da Mouraria [...] e tinha
ao mesmo tempo na Corte, e no Santo Ofício a influencia que lhe dava seu irmão o Inquizidor Manoel da
Cunha, Bispo, Capellão Mór, e Arcebispo Eleito de Lisboa», sendo ainda irmão de D. Mariana de
Mendonça, casada com o primeiro conde de Vilar Maior, e «um dos padres que mais autorizaram por êsse
tempo a Companhia de Jesus em Portugal». Assim, parece-nos razoável assumir o peso que a Mouraria
assume na própria definição simbólica do grupo, uma casa incluída no dote de D. Mariana de Mendonça
aquando do seu casamento, que passou a ser a residência dos marqueses de Alegrete, motivo pelo qual
passaram a ser conhecidos como os “Mourarias”, in António Delgado da Silva (org.), Supplemento..., p.
188.
18 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 141.
19 Norbert Elias, A Sociedade de Corte. Lisboa: Editorial Estampa, 1995, pp. 19-40.
20 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 86.
21 Ibidem, p. 99.

Pág. 7
Os Puritanos

Fontes

Meu irmão do meu coração. Principio a escrever-vos


de mão alhea porque vos assim mo mandaes para
poderdes entender o que vos digo, e eu tambem
reconheço que a minha letra se vai pondo tão ma
como me da a entender a fraqueza que sinto no
braço22

A realidade dos Puritanos, por estar intimamente relacionada com um aspecto


mais privado das políticas de reprodução social das Casas aristocráticas portuguesas,
apesar de, como veremos, se encontrar enformado por uma adesão a um ideal puritano
indiscutivelmente presente na sociedade portuguesa, ainda que não praticado de uma
forma tão radical, escapa à maior parte da documentação oficial do período ao qual se
refere. Aliás, uma das grandes dificuldades encontradas prende-se, justamente, com a
datação do início da utilização do termo Puritanos para descrever este grupo da
aristocracia portuguesa, sendo, no entanto, claro o facto de este termo não poder ser
considerado de índole oficial23 uma vez que não o encontramos definido, por exemplo,
no Vocabulario Portuguez e L a tin o ., de 1720, do Pe. Raphael Bluteau24 O texto do
Alvará2 5 reflecte a opinião de D. Luís da Cunha que atribui a utilização do termo aos
próprios, confessando não saber «como familias tão catholicas, quais são as de que quero
falar tomassem o nome que o usurpador de Inglaterra, digo Oliver Cromwel deo de
puritanos aos que seguirão a sua infame seita»26. De qualquer forma, as fontes mais

22 BNP, Arquivo Tarouca, 163, Carta de 11 de Setembro de 1730 do 2.° marquês de Alegrete, Fernando
Teles da Silva, ao seu irmão João Gomes da Silva, 4.° conde de Tarouca por casamento.
23 O próprio compêndio de legislação relativo ao tema refere que «impuzerão o nome de Puritanismo», in
António Delgado da Silva (org.), Supplem ento., p. 187.
24 A referência a «Puritânio», no entanto, existe como sendo «o nome de certos Calviniitas de Inglaterra, os
quaes pretendem que a doutrina que profeiiaõ he a verdadeyra, & pura doutrina. Os Puritânos saõ inimigos
mortaes dos Catholicos», in Raphael Bluteau, Vocabulario portuguez e latino, áulico, anatomico, comico,
critico, chimico, dogmatico, dialetico,., & Autorizado com exemplos dos melhores excriptores
portuguezes, e latinos; e offerecido a elrey de Portugal D. João V. Lisboa: Na Officina de Pascoal da Sylva,
1720, p. 834.
25 António Delgado da Silva (org.), Supplem ento., pp. 182 e 187.
26 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas de D. Luís da Cunha e Marco António de Azevedo Coutinho
(prefácio de António Baião). Coimbra: Imprensa da Universidade, 1930, p. 198.

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Introdução

antigas27 que referem a existência de um grupo denominado Puritanos, na sociedade


portuguesa, datam do início do século XVIII, nomeadamente pela mão de D. Luís da
Cunha (1662-1749), Alexandre de Gusmão (1695-1753) e de Frei João de S. José de
Queiroz (1711-1764), seguindo a cronologia do seu nascimento28.

No entanto, a mais completa fonte documental que nos apresenta este grupo, ainda
apenas enquanto «maisons que n’ont point de desfauts et qui’ls appellent limpas»29, é
Uma Relação do reino de Portugal em 1684, cuja autoria foi inicialmente atribuída ao
conde de La Vauguyon, sendo posteriormente proposto, por Joaquim Veríssimo Serrão,
Jean-Baptiste Colbert (1665-1746), marquês de Torcy - de apenas 20 anos e sobrinho do
seu homónimo e promotor da doutrina mercantilista - como seu verdadeiro autor. A este
documento dedicaremos um ponto da presente Dissertação (Parte 2 - Ponto 2),
cumprindo-nos salientar apenas a inexistência de uma referência ao nome Puritanos, que
julgamos ser posterior.

Este facto é também confirmado pelos relatos de estrangeiros que passaram por
Portugal, que assumem uma importância preponderante na prossecução do objectivo
desta dissertação dado que possibilitam perceber a imagem que o ideal, aqui também
materializado num ideário, puritano, deixou nestes homens e mulheres habituados a
outros credos e culturas30.

27 E também de referência, como encontramos menção em Diogo Ramada Curto, «As Práticas de Escrita».
In Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri (dir.), História da Expansão Portuguesa, Volume 3, O Brasil
na Balança do Império (1697-1808). Lisboa: Circulo de Leitores, 1998, p. 458.
28 Referimo-nos às seguintes fontes: D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas.; Alexandre de Gusmão,
C ollecção.; e Camilo Castelo Branco (introdução e notas), Memorias de Fr. João de S. Joseph Queiroz.
Porto: Typographia da Livraria Nacional, 1868.
29 SERRÃO, Joaquim Veríssimo (ed.) - Uma R ela çã o ., p. 78.
30 Baseámo-nos nos relatos dos estrangeiros publicados, tanto ao género de livros de viagens, como
epistolar, bem como em alguns trabalhos sobre a estadia de estrangeiros em Portugal, dos quais salientamos
as seguintes obras: Arthur William Costigan, Retratos de Portugal. Sociedade e Costumes (tradução,
prefácio e notas pode Augusto Reis Machado). Lisboa: Caleidoscópio, 2007; Marquis de Bombelles,
Journal d'un Ambassadeur de France au Portugal, 1786-1788 (edition etablie, anotee et precedee d ’une
introduction par Roger Kann). Paris: Presses Universitaires de France, 1979; Carla Sofia Veríssimo da
Costa, O património português visto pelos viajantes estrangeiros na 2.ametade do século XVIII. Lisboa:
[s.n.], 2004. Dissertação de Mestrado; Castelo Branco Chaves (Apresentação, Tradução e notas) - Portugal
nos séculos XVII & XVIII. Quatro Testemunhos. Lisboa: Lisóptima, 1989; Idem (Tradução, prefácio e
notas), O Portugal de D. João V visto por três forasteiros, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1983; Charles
Dumouriez, O Reino de Portugal em 1766. Lisboa: Caleidoscópio, 2007; Giuseppe Baretti, Cartas de
Portugal (traduzidas, prefaciadas e anotadas por Maria Eugénia de Montalvão Freitas Ponce de Leão).
Coimbra: Imprensa de Coimbra, 1970; Thomas Cox e Cox Macro, Relação do Reino de Portugal (1701).
Lisboa: Biblioteca Nacional, 2007; Giuseppe Gorani, Portugal. A Corte e o País nos anos de 1765 a 1767
(tradução, prefácio e notas de Castelo-Branco Chaves). Lisboa: Lisóptima Edições, 1989; Jacome Ratton,
Recordações de Jacome Ratton sobre ocorrências do seu tempo em Portugal de Maio de 1747 a Setembro
de 1810. Lisboa: Fenda Edições, 2007; James Murphy, Viagens em Portugal (tradução, prefácio e notas de
Castelo Branco Chaves). Lisboa: Livros Horizonte, 1988; Johan Brelin, De passagem pelo Brasil e

Pág. 9
Os Puritanos

Em relação à análise dos relatos e correspondência de estrangeiros - duas fontes


essenciais para uma mais cuidada análise de como eram vistos os portugueses, as suas
tradições e os seus costumes - são necessários cuidados acrescidos. Lembra-nos Castelo
Branco Chaves a importância que deverá ser dada, nesses relatos, aos motivos da sua
estada em Portugal enquanto forma de perceber a aderência do relatado à realidade,
sujeitando-os «a análise e a crítica», assumindo que muito do contido nesses relatos
poderia ser «propositadamente mentido»31. Já a correspondência enviada por
estrangeiros, de Portugal, que enquanto fonte histórica, e como refere Monteiro, «fornece
considerações apreciáveis»32, não devemos esquecer que levanta sempre inúmeras
dúvidas próprias do género epistolar em que se insere, sendo a questão mais discutida se
o destinatário seria assumido como o seu leitor último, ou se a escrita se dirigiria a um
público mais vasto, condicionando as referências a um carácter mais íntimo - e da esfera
do privado - da carta que as tenções e constrangimentos criados pela vivência de uma
Corte marcada por um constante escrutínio público de todas as acções veio promover33.

Esta será também a realidade das fontes biográficas e epistolares escritas por
portugueses. Numa das cartas enviadas ao seu marido, o morgado de Mateus que se
encontrava no Brasil, D. Leonor de Portugal refere que «me parece que se não venho, isto
digo só a Dom Luís (rasgue esta logo), se não efectuava o casamento»34, o que nos
evidencia uma importante característica deste tipo de fontes: até que ponto não estaremos
na presença de uma forma de construção de memória história, reconhecendo apenas a
história que os seus autores quiseram perpetuar, rasgando assim dos anais da História os
factos tal como os verdadeiramente observavam?

Portugal em 1756por Johan Brelin (tradução do original sueco por Carlos Pericão de Almeida e introdução
e comentário de Nils Hedberg). Lisboa: «Casa Portuguesa», 1955; Heinrich Friedrich Link, Notas de uma
viagem a Portugal e através de França e Espanha (tradução, introdução e notas de Fernando Clara). Lisboa:
Biblioteca Nacional, 2005; Pietro Francesco Viganego - Ao serviço secreto da França na Corte de D. João
V (introdução, tradução e notas de Fernando de Morais do Rosário e prefácio de Joaquim Veríssimo Serrão).
Lisboa: Lisóptima Edições - Biblioteca Nacional, 1994; William Beckford - Diário de William Beckford
em Portugal e Espanha (introdução e notas de Boyd Alexander e tradução e prefácio de João Gaspar
Simões). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1983; Edgar Prestage - «Memórias sôbre Portugal no reinado de D.
Pedro II». In Separata do Arquivo Histórico de Portugal, Lisboa, 1935.
31 Castelo Branco Chaves, Os livros de viagens em Portugal no Século XVIII e a sua projecção europeia.
Lisboa: Biblioteca Breve - Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1987, p. 13.
32 Nuno Gonçalo Monteiro, Meu pai e senhor muito do meu coração. Lisboa: ICS-Quetzal Editores, 2000,
p. 11.
33 Pedro Cardim, «A Casa Real e os órgãos centrais de governo no Portugal da segunda metade de
Siescentos». In Tempo: Rio de Janeiro, n. 13, [s.n.], p. 160.
34 Heloísa Liberalli Bellotto (transcrição, introdução e notas) - Nem o Tempo nem a Distância.
Correspondência entre o 4.°Morgado de Mateus e sua mulher, D. Leonor de Portugal (1757-1798). Lisboa:
Alêtheia Editores, 2007, p. 293.

Pág. 10
Introdução

Para a presente dissertação, as fontes com maior peso na reconstrução de uma


mentalidade que nem sempre se configura intuitiva aos nossos olhos, foram as
correspondências manuscritas do marquês de Alegrete35 e do conde de Tarouca36 que se
encontram no Arquivo Tarouca, na Biblioteca Nacional, e as publicadas do cavaleiro de
Oliveira37, bem como as Memórias Históricas de Tristão da Cunha e Ataíde, 1. ° Conde
de Povolide, esta já uma fonte de referência para quem pretende estudar os reinados de
D. Pedro II e D. João V38.

Uma das maiores limitações que sentimos relativamente às fontes manuscritas foi
a qualidade da caligrafia. Nos 23 volumes de correspondência do marquês de Alegrete
para o seu irmão, o conde de Tarouca, relativos ao período de 1710-1733, foram muitos
os momentos em que nos deparámos com folhas inundadas de palavras imperceptíveis.
Se o desabafo do marquês ao irmão, de 11 de Setembro de 1730, citado em epígrafe,
permite uma documentação factual desta dificuldade, a riqueza dos temas tratados e das
opiniões defendidas alimentam a frustração das limitações que sentimos na sua análise.

Por fim, cumpre-nos ainda referir o compêndio de legislação josefino/ pombalino


de 1768. Também lhe dedicaremos um ponto nesta dissertação (Parte 2, Ponto 2),
relevando apenas aqui a referência à origem das três versões que encontrámos
disponíveis. A primeira, e que seguimos neste trabalho, é o Supplemento á Collecção de
Legislação Portugueza (Anno de 1763 a 1790), de António Delgado da Silva39,
enquadrando este, desde logo, o carácter secretíssimo de que foi revestido, não podendo,
por isso, ser encontrado no corpo principal da mesma Collecção4 0 . As outras duas versões,
cópias manuscritas, poderão ser encontradas tanto na Biblioteca Nacional de Portugal41,
como no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no arquivo dos condes de Linhares42. A
primeira, julgamos tratar-se de uma cópia da segunda, dado que é um acervo documental,

35 BNP, Arquivo Tarouca, 163, 23 volumes.


36 BNP, Arquivo Tarouca, 270.
37 Consultámos Cavaleiro de Oliveira, Cartas Familiares, Historicas, Politicas, e Criticas. Discursos Serios
e Jocosos, Tomos I e II. Lisboa: Typographia de Silva, 1855; e, Cartas inéditas (1739-1741). Coimbra:
publicadas por A. Gonçalves Rodrigues, 1942.
38 Tristão da Cunha de Ataíde, 1 ° Conde de Povolide, Portugal, Lisboa e a Corte nos Reinados de D. Pedro
II e D. João V. Memórias Históricas de Tristão da Cunha de Ataíde, 1. ° Conde de Povolide (introdução de
António Vasconcelos de Saldanha e Carmen M. Radulet). Lisboa: Chaves Ferreira - Publicações, S.A.,
1990
39 António Delgado da Silva (org.) - Supplem ento.
40 António Delgado da Silva (org.) - Collecção da Legislação Portugueza desde a última Compilação das
Ordenações. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828.
41 BNP, COD. 6937, fols. 1-15.
42 ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, docs. 1-4.

Pág. 11
Os Puritanos

com o nome Puritanismo (incluindo também a legislação de 1773 que consagra o fim da
distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos), cujos 10 documentos correspondem aos
dez primeiros documentos que encontramos no arquivo dos Condes de Linhares, este
representando um compêndio de leis bem mais extenso43.

Estado da Arte

A tarefa das ciências humanas é explicar o social


complexificando-o e não simplificando-o através de
abstracções, enriquecendo-o de significações
actualizadas pelo labirinto indefinido das relações. E
preciso distinguir e classificar, sem dúvida; mas a
taxinomia tende antes de mais para a reunião e o
melhor ponto de vista é sempre aquele que permite
confrontar o maior número de fenómenos.44

No que diz respeito ao Estado da Arte, à excepção de Nuno Gonçalo Monteiro45


que dedica um capítulo do seu estudo aprofundado sobre a aristocracia portuguesa do
Antigo Regime ao «episódio puritano», centrando-se na evidência de ser o grupo mais
procurado para a realização de casamentos dentro da primeiro nobreza de Portugal, as
demais referências ao grupo, em estudos e trabalhos recentes, assentam precisamente
nesta obra, das quais Cluny46, Figueirôa-Rego47, Urbano48, Bonifácio49 e Pedreira e
Costa50, são bons exemplos. Releva esclarecer que em nenhuma destas obras encontramos
uma problematização da questão puritana na aristocracia portuguesa, antes o seu mero

43 Também será apenas neste compêndio que encontraremos todos os Termos em execução do Alvará de
Lei, encontrando nos outros dois apenas o do conde de Vilar Maior e a referência à existência de mais
quatro.
44 Jacques Revel, A invenção da sociedade. Lisboa: DIFEL - Difusão Editorial, 1990, p. 27.
45 Nuno Gonçalo Monteiro - O C repúsculo., pp. 129-141.
46 Isabel Cluny, O Conde de Tarouca e a Diplomacia na Epoca Moderna. Lisboa: Livros Horizonte, 2006.
47 João de Figueirôa-Rêgo, «A honta alheia por um fio». Os estatutos de limpeza de sangue nos espaços de
expressão ibérica (sécs. XVI-XVIII). [Lisboa]: Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e
Tecnologia, 2011.
48 Pedro Urbano, A Casa de Palmela. Lisboa: Livros Horizonte, 2008.
49 Maria de Fátima Bonifácio, Memórias do Duque de Palmela. [Lisboa]: Publicações Dom Quixote, 2011.
50 Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa, D. João VI. [s.l.]: Temas & Debates, 2009.

Pág. 12
Introdução

reconhecimento e/ ou o teste da mesma enquanto resposta e motivo de determinados


fenómenos sociais, esses sim em problematização.

É difícil precisar cronologicamente a data a partir da qual a realidade dos


Puritanos passou a fazer parte da historiografia portuguesa, sabendo que até ao citado
trabalho de Nuno Gonçalo Monteiro eram apenas apontados como um grupo da
aristocracia portuguesa que casava exclusivamente entre si - sempre com referência aos
textos que encontramos em D. Luís Cunha, Alexandre de Gusmão ou Frei João de S. José
de Queiroz - do qual faziam parte as Casas dos «marqueses de Alegrete, de Valença, de
Angej a e outras», mas sem precisar um critério capaz de reproduzir uma realidade comum
que fosse para além do orgulho no seu sangue51. O melhor exemplo, e não sabemos até
se não terá sido a primeira referência historiográfica aos Puritanos no século XX, é Lúcio
de Azevedo52, que revela conhecer, inclusivamente, a realidade da legislação josefina/
pombalina a este respeito, sabendo-se que a mesma, como referimos anteriormente, já se
encontrava publicada desde meados do século XIX.

Apesar de já em 1926, Ayres de Sá53 evidenciar o conhecimento tanto do grupo


dos Puritanos como, mais interessante ainda, do relatório do marquês de Torcy - num
texto inundado de premissas xenófobas que, acreditamos, em muito terão contribuído
para o facto de ter sido pouco divulgado posteriormente - parece-nos ser mais razoável
assumir que é com Joaquim Veríssimo Serrão e a publicação do mesmo relatório, em
1960, que a realidade dos Puritanos e dos seus critérios de reprodução social, se torna
acessível a todos os que desejassem estudá-los, o que, até ao citado estudo de Monteiro,
não aconteceu54.

Finalmente, e dada a complexidade inerente à realidade dos Puritanos, que


intersecta distintas vertentes historiográficas como a questão dos Judeus em Portugal55,

51 Esta é a descrição que encontramos em Jaime Cortesão, in Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid,
Parte I, Tomo I (1695-1735). Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, Instituto Rio-Branco,
[s.n.], p. 81, reproduzida ipsis verbis em Vitorino Magalhães Godinho, Estrutura da Antiga Sociedade
Portuguesa. Lisboa: Arcádia, 1980, pp. 214-215.
52 J. Lúcio de Azevedo, História dos Cristãos-Novos Portugueses. Lisboa: Clássica Editora, 1989.
Interessante é, no entanto, o facto de o grupo de os Puritanos não vir referido noutras obras suas,
nomeadamente in O Marquês de Pombal e a sua Epoca. Lisboa: Alfarrábio, 2009.
53 Ayres de Sá, «Dois livros contra o vôo das águias», in Anais das Bibliotecas e Arquivos, vol. VII, n. 25­
28, 1926, pp. 56-76.
54 Importa referir que, já em 1940, o Pe. Carlos da Silva Tarouca fazia referência ao trabalho de Ayres de
Sá, in «História da Raça. História da Família», in Separata da Revista «Brotéria», Lisboa, Vol. XXX,
Fascículos 1 e 2, 1940.
55 A título de exemplo: Emílio Manuel da Silva Corrêa, Judaísmo e Judeus na Legislação Portuguesa. Da
Medievalidade à Contemporaneidade. Lisboa: [s.n.], 2012. Dissertação de Mestrado; Giuseppe Marcocci

Pág. 13
Os Puritanos

os Estatutos de limpeza de sangue e nobreza56, o modus vivendi e operandi da aristocracia


portuguesa, bem como a sua relação - e a da sociedade que a enforma - com o rei57, e
ainda todos os estudos desenvolvidos sobre a dinâmica das casas aristocráticas
portuguesas, nomeadamente pelo Pe. Carlos da Silva Tarouca58 relativos à Casa dos
marqueses de Alegrete (os Mourarias), muitos foram os outros estudos historiográficos59
que consultámos para a concretização desta dissertação. Estranhamos, no entanto, a quase
ausência da realidade puritana dos inúmeros estudos e biografias sobre o marquês de
Pombal, sobretudo pelo carácter ideológico de que se revestiu a legislação puritana, que
se nos apresenta como um reflexo claro do que pensava e defendia Pombal60.

e José Pedro Paiva, História da Inquisição Portuguesa (1536-1821). Lisboa: A Esfera dos Livros, 2013;
Jorge Martins, O Senhor Roubado. A Inquisição e a Questão Judaica. Lisboa: Europress, 2002; Idem,
Portugal e os Judeus, Vol. I. Lisboa: Nova Vega, 2010; Maria Idalina Resina Rodrigues, «Literatura e Anti-
Semitismo. Séculos XVI e XVII». In Separata da Revista Brotéria. Lisboa: [s.n.], 1979.
56 Cujos trabalhos mais relevantes serão os de João de Figueirôa-Rêgo, «A honta alheia...»; Fernanda
Olival, As Ordens Militares e o Estado Moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789).
Lisboa: Estar, 2001; e Ana Isabel López-Salazar, Fernanda Olival e João de Figueirôa-Rêgo (coord.) -
Honra e Sociedade no mundo ibérico e ultramarino: Inquisição e Ordens Militares - séculos XVI-XIX.
Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2013.
57 Para além do já referido e citado trabalho de Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., referimos ainda,
do mesmo autor, Elites e p o d e r ., e D. José. Na sombra de Pombal. [Lisboa]: Temas e Debates, 2008, não
esquecendo Mafalda Soares da Cunha, A Casa de Bragança (1560-1640). Práticas senhoriais e redes
clientelares. Lisboa: Editorial Estampa, 2000, e Carlos da Silva Lopes, «Ensaio sobre a Nobreza
Portugueza», In Separata da «Nação Portuguesa», Série V (1929), Lisboa, bem como as principais
biografias publicadas dos reis de Portugal que tão bem desenvolvem a temática da sua relação com a
aristocracia, nomeadamente: Luís Adão da Fonseca, D. João II. [Lisboa]: Temas e Debates, 2011; João
Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel I (1469-1521). Um Príncipe do Renascimento. [Lisboa]: Temas e
Debates, 2011; Ana Isabel Buescu, D. João III (1502-1557). Lisboa: Temas e Debates, 2008; António de
Oliveira, D. Filipe III (1605-1665). [Lisboa]: Temas & Debates, 2008; Leonor Freire Costa e Mafalda
Soares da Cunha, D. João IV. Lisboa: Temas e Debates, 2008; Maria Paula Marçal Lourenço, D. Pedro II.
O Pacífico (1648-1706). [Lisboa]: Temas e Debates, 2009; Paulo Drumond Braga, D. Pedro II - Uma
Biografia. Lisboa: Tribuna da História, 2006; Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso VI:
[Lisboa]: Temas e Debates, 2008; Maria Beatriz Nizza da Silva, D. João V. [Lisboa]: Temas e Debates,
2009; Mário Domingues, D. João V, o homem e a sua época. Lisboa: Prefácio, 2005; e Luís de Oliveira,
D. Maria I. [Lisboa]: Temas e Debates, 2010.
58 Carlos da Silva Tarouca: «História da R a ç a .» ; - «A colecção Aguilar no Arquivo Tarouca. Cartas
inéditas de D. João II, D. Manuel, D. João III, Vasco da Gama, Tristão da Cunha». In Separata da Revista
«Brotéria», Vol. XXXIV, Fasc. 3 (1942), Lisboa; «Conselhos dum Ministro de D. Pedro II para seu filho,
Reitor da Universidade de Coimbra». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XXXVI, Fasc. 5 (1943),
Lisboa; «Os «Livros Genealógicos» de Diogo Gomes de Figueiredo. General da Artilharia, +1684». In
Separata da Revista «Brotéria», Vol. XLII, Fasc. 6 (1946), Lisboa; «A «Magna Charta» da história de
Tarouca (séculos XV-XVII)». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XLVI, Fasc. 6 (1948), Lisboa; e «O
Alferes-mor da Restauração». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XXXI, Fasc. VI. Lisboa: [s.e.], 1940
59 Para além dos que referiremos ao longo do trabalho, cumpre-nos evidenciar as quatro obras de referência
relativas à História de Portugal consultadas: João José Alves Dias (coord.), «Do Renascimento à...»;
António Manuel Hespanha (coord.), «O Antigo Regime (1620-1807)», Vol. 4 da História de Portugal (dir.
de José Mattoso). [Lisboa]: Editorial Estampa, 1998; Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), «A Idade
Moderna», Vol. 3 da História da Vida Privada em Portugal (dir. de José Mattoso). [Lisboa]: Temas e
Debates, 2011; e Rui Ramos (coord.), Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, História
de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2012.
60 Para além da já referida obra de J. Lúcio de Azevedo, analisámos Augustina Bessa-Luís, Sebastião José.
Lisboa: Guimarães Editores, 2003; Mário Domingues, Marquês de Pombal - o Homem e a Sua Epoca.
Lisboa: Prefácio, 2002; António Leite, «A Ideologia Pombalina». In Separata da Revista Brotéria, Vol.

Pág. 14
Introdução

Assim, julgamos poder concluir que o Estado da Arte relativo aos Puritanos
assenta, sobretudo, no capítulo que Nuno Monteiro dedica ao tema, salientando que,
apesar de não o desenvolver aprofundadamente, apresenta a maior parte das fontes a que
fizemos referência anteriormente, intuindo, a partir delas, aquela que seria a realidade do
grupo. Não será, então, de estranhar, que a presente dissertação acabe, necessariamente,
por estabelecer uma ponte com o trabalho desenvolvido por Monteiro, até porque surgem,
desde logo, como perguntas naturais da sua leitura: quem eram, qual a sua origem e como
se relacionavam os Puritanos com as demais Casas aristocráticas?

Torna-se, então, essencial a introdução da presente dissertação enquanto


continuação do trabalho desenvolvido por Monteiro, tentando explorar o «carácter
relativamente difuso»61 dos discurso e práticas puritanas, através do seu enquadramento
na sociedade coeva que, ainda que os criticasse, não deixou de reproduzir, ou tentar
reproduzir, os seus comportamentos, definindo-os, em muitas circunstâncias, como
modelo paradigmático.

114, Fasc. 5-6 (1982), Lisboa; António Lopes, Enigma Pombal. Lisboa: Roma Editora, 2002; Rui Manuel
de Figueiredo Marques, A Legislação Pombalina. Alguns aspectos fundamentais. [Lisboa]: Almedina,
2006; Kenneth Maxwell, O Marquês de Pombal. Lisboa: Editorial Presença, 2004; e Joaquim Veríssimo
Serrão, O Marquês de Pombal. O Homem, o Diplomata e o Estadista. Lisboa: [s.n.], 1987, apenas
encontrando referências directas a este grupo no trabalho de Maxwell.
61 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 141.

Pág. 15
Pa r t e 1 - Co m p o s i ç ã o do Lu g a r

- §-

1. O Rei: o epicentro do poder

Conde, a vida dos reis está nas mãos de Deus, e não


no poder dos homens, e contra o que Ele dispõe
importa pouco o que os homens ordenam.62

Na definição de uma metodologia que permitisse identificar, numa primeira fase,


e estudar, numa segunda, as cortes do Antigo Regime, poucos terão sido tão pertinazes
como Norbert Elias, na sua obra Sociedade de Corte. Captando a complexidade da Corte
através das múltiplas dimensões em que pode ser estruturada, assenta primeiramente o
seu estudo na identificação de um espaço63, onde revela uma harmonia com o afirmado,
no século XIII, por Afonso X, no seu célebre Las Siete Partidas, que define a Corte como
«el lugar donde está el rey y sus vasallos y sus oficiales con él»64 Assim, a Corte é o
espaço, habitat, de todos os que rodeiam o rei, que ao longo do Antigo Regime se vai
afirmando como o seu centro, sendo que a estes que o rodeiam, também com referência
à obra de Afonso X, «é oferecida a oportunidade e a honra de guardar o monarca»65.

No caso português, e para o período em apreço, a Corte deverá ser entendida como
um espaço em construção e que foi assumindo, ao longo do período, diferentes
configurações, não podendo ser esquecida a dimensão «polissémica» do termo,
«apresentando uma semântica algo imprecisa, sobretudo no que diz respeito aos limites
do universo social e institucional a que se reportava»66. De uma forma mais recorrente

62 D. Afonso VI, após ter sido afastado do trono, a D. Francisco de Sousa, cit. in Angela Barreto Xavier e
Pedro Cardim, D. Afonso VI, . , p. 287.
63 Norbert Elias, A Sociedade., p. 19-40.
64 Las Siete Partidas del Rey Don Alfonso el Sabio, cotejadas con varios codices antiguos por la Real
Academia de la Historia. Madrid: Imprensa Real, 1807, II, t.° 9, lei 27.
65 Jorge Osório «Erasmo, cortesia e piedade». In Espiritualidade e Corte em Portugal: Séculos X V Ia XVIII
(Anexo V da Revista da Faculdade de Letras). Porto: Instituto de Cultura Portuguesa, 1993, p. 9.
66 Pedro Cardim, «A Casa Real e os órgãos centrais de governo no Portugal da segunda metade de
seiscentos». In Tempo, Rio de Janeiro, n.° 13, p. 17.

Pág. 17
Os Puritanos

deste o reinado de D. Manuel67, mas oficialmente desde o de seu filho, o rei D. João III,
a Corte é Lisboa e Lisboa é a Corte68, o que pode ser confirmado não apenas pelo facto
de o presidente da Câmara do Senado de Lisboa ser considerado um ofício do “governo
do reino” de nomeação régia mas, sobretudo, pelo facto de a maior parte da nobreza viver
na cidade, num movimento que não pode ser perfeitamente datado, mas ainda assim
anterior à Restauração (1640)69, mas que desde então levou a que Lisboa devesse ser
entendida também enquanto sinónimo de Corte.

Assim a Corte poderá ser entendida como um espaço social, caracterizada por um
conjunto de forças em interacção, capazes de produzir relações geradoras de consensos e
conflitos, enquadradas numa realidade que, não as domando totalmente, as foi
domesticando, numa concepção corporativa da sociedade que tinha à cabeça o rei, que já
não era, como na época medieval, um primus inter pares, mas sim um senhor dos
senhores70, epicentro de todas as relações de Corte, mas ainda do seu espaço e das suas
emoções. É por mimetismo que a Corte se revela através do seu rei, o que, para um
período tão extenso de análise, deverá alertar para as alterações naturais que um novo rei
introduz numa dinâmica de Corte. Já no princípio do reinado de D. João III, ainda no
século XVI, dizia o pai de Luís da Silveira a seu filho, depois de informado da sua missão
diplomática a Madrid, «tolo aonde vas»71, num claro entendimento que a estima e
consideração do rei se promoviam exclusivamente na Corte. Mais ainda, e resultante do
trabalho desenvolvido por Senos, podemos acrescentar que a própria organização do
espaço cortesão durante o Antigo Regime observou estes mesmos princípios, tornando o
acesso à pessoa real o bem simbólico mais ambicionado numa Corte - e aquele que

67 De acordo com Joana Almeida Troni, «foi também neste reinado [D. Manuel I] que se determinou que a
Corte ficava sedeada em Lisboa, passando a cidade a estar associada à «caput regni» e começando a ser
visível na documentação coeva de século XVI esta ligação entre Lisboa e Corte.». In A Casa Real
Portuguesa ao Tempo de D. Pedro II (1668-1706). Lisboa: [s.n.], 2012. Tese de Doutoramento em História
Moderna, p. 47.
68 Ana Isabel Buescu, D. João I I I . , p. 20. Já Luís de Camões escreve sobre Lisboa que “Cabeça sou, &
throno soberano do bellicoso Reyno Lusitano”, Os Lusíadas, [...], Cant. 3.°, 8.a, 26, frase que foi
aproveitada, aquando das festas do casamento do rei D. Afonso VI, para ser exibida num arco triunfal
levantado na cidade de Lisboa a 29 de Agosto de 1666, fazendo referência à mesma cidade, cf. Angela
Xavier, Pedro Cardim e Fernando Bouza Alvarez, Festas que se fizeram pelo casamento do rei D. Afonso
VI. Lisboa: Quetzal Editores, 1996, p. 101.
69 Joana Almeida Troni refere que «Em 1640, Lisboa voltou a ser Corte», In A Casa R e a l., p. 15. Mafalda
Soares da Cunha e Nuno Gonçalo Monteiro referem ainda que «no final da Guerra da Restauração, por
volta de 1670, todos os titulares e a esmagadora maioria dos senhores de terras e demais primeira nobreza
residiam em Lisboa», cf. «As Grandes Casas». In Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), A Id a d e ., p. 207.
70 José Adelino Maltez, «O Estado e a s . » , p. 386.
71 Anedotas Portuguesas e memórias biográficas da corte quinhentista (introdução de Christopher C.
Lund). Coimbra: Livraria Almedina, 1980, p. 72.

Pág. 18
Parte 1 - Composição do Lugar

melhor define uma posição hierárquica efectiva72 -, criando um conjunto de espaços, as


antecâmaras, que separavam o rei do grosso dos cortesãos e que permitiam que o mesmo
encetasse uma política de distinção simbólica na Corte, através do acesso que concedia,
ou não, a esses mesmos espaços, observando-se uma realidade comparável com o
exemplo francês73, num processo que culminará, inevitavelmente, na criação de um
espaço privado74, ou seja, um espaço que se pretendia ausente de quaisquer considerações
de ordem política ou social.

Assim, e mais do que de uma não distinção entre um espaço público e um espaço
privado da pessoa régia, podemos falar de espaços de acesso exclusivo que definem
hierarquias e estimas pessoais do monarca, sem no entanto podermos esquecer que os
mesmos continuavam a ser espaços onde as questões de governo do reino eram tratados
a um nível indiscutivelmente exclusivo, mas que obrigavam a um entendimento público
de qualquer concepção de espaço privado, tal como o concebemos hoje em dia75. Também
para Madureira, e não apenas para a realidade do palácio real, a nova arquitectura
palaciana segue um modelo de «círculos concêntricos de privacidade»76, definindo
diferentes graduações de intimidade com o monarca, ou senhor da casa, «certamente
ligada a uma maior variedade de divisões e especializações funcionais»77, mas também
com um carácter eminentemente social78.

Nos seus consensos e conflitos, a Corte reage ao príncipe, no que poderá ser
entendido como uma reacção mimética à pessoa do rei, cujos constrangimentos causados
por um constante escrutínio público das suas acções vai promovendo, no acesso à sua
pessoa, um exclusivismo capaz de alterar, como vimos, a própria organização do espaço

72 Nuno Senor, O Paço da Ribeira. Lisboa: Editorial Notícias, 2002, p. 120.


73 Leia-se, para o exemplo francês, Norbert Elias, A Sociedade..., pp. 25-26.
74 Pedro Cardim, «A corte régia e o alargamento da esfera privada». In Nuno Gonçalo Monteiro (coord.),
A Id a d e ., pp. 160-161.
75 Nuno Senos, O P a ç o ., p. 120.
76 Nuno Luís Madureira, Cidade: Espaço e quotidiano (Lisboa 1740-1830). Lisboa: Livros Horizonte,
1992, p. 119.
11 Ibidem, p. 116.
78 João Rosado de Villa-Lobos e Vasconcelos, em O perfeito pedagogo na arte de educar a mocidade, de
1782, refere ainda que «quem tiver mais [do que uma casa (sala) para receber visitas], deve lembra-se, que
quanto mais interior for a casa, de todas as que podem receber visitas, tanto melhor será recebe-la no
interior; guardando tambem a este respeito a proporção do caracter das Pessoas; e mostrando por tudo isto
a distincção que faz do seu merecimento», cit. in Ibidem, p. 119. Esta realidade também não passou
despercebida aos estrangeiros que visitavam a corte, nomeadamente Charles Fréderic Merveilleux, que
descreve, com graça, o «penoso trajecto» do secretário de Estado entre o seu gabinete e os aposentos do
rei, confirmando que «Poucas são as pessoas que frequentam os aposentos particulares do rei; só os nobres
de alta estirpe ali podem ter acesso, e, mesmo esses, muito raramente», in Castelo Branco Chaves, O
Portugal de D. João V . , pp. 145-146 e 219.

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Os Puritanos

físico (habitat, para utilizarmos a expressão de Elias) em que se insere. Não obstante a
observação de dois critérios, a moral e o poder, enquanto os grandes geradores dos
consensos e conflitos referidos acima, o Antigo Regime demonstra ser um período onde
os elementos de continuidade são mais frequentes do que os de ruptura e onde,
principalmente, o conflito é entendido como a reacção a elementos de ruptura e não como
potenciador dos mesmos.

No centro desta discussão está a pessoa do rei e a sua capacidade de influenciar o


ambiente de Corte, tornando-se necessário aprofundar a relação da Corte com o rei,
nomeadamente através do seu enquadramento numa discussão mais abrangente que
engloba temas como a concepção corporativa da sociedade, o regalismo e o absolutismo
providencialista 7 9 . Estes deverão ser entendidos enquanto consequência de um «pacto
histórico» entre o príncipe e os seus vassalos, configurador de direitos e deveres para
ambas as partes. E é precisamente neste enquadramento jurídico, moral e teológico que,
não obstante a liberalidade régia permitir definir muitas das características do ambiente
cortesão, o rei continua a precisar negociar muitas das suas decisões e procurar consensos
e apoios na sua Corte, que não menos vezes lhe causam inúmeros constrangimentos80, o
que entendemos dever potenciar uma nova apreciação sobre o conceito de absolutismo
régio e não, simplisticamente, a negação de que tenha existido, partindo da redutora
formulação de um conceito abstracto sobre o termo.

Finalmente, e para um correcto entendimento sobre a realidade cortesã do Antigo


Regime, torna-se imperativo introduzir os conceitos de teias de relações8 1 de Elias ou a
interpretação sobre o conceito de redes de Cunha. Enquanto o primeiro defende o estudo
de uma sociedade a partir da identificação da rede de relações ou de funções que os
indivíduos desempenham, ou seja, no conjunto de laços invisíveis que estabelecem entre
si e que criam situações de interdependência, de tensão, de auto-regulação ou de poder82,
que se concretizava numa consciência da natureza do conjunto de relações que as Casas
aristocráticas estabeleciam entre si com vista à confirmação do seu «estado» e à
manutenção e aumento do seu prestígio e influência83, que virão mais tarde a aumentar

79 Angela Barreto Xavier e António Manuel Hespanha, «A Representação da Sociedade e do Poder». In


António Manuel Hespanha, «O A n tig o .» , pp. 113-140.
80 Pedro Cardim, «A Casa R e a l.» , pp. 26-27.
81 Norbert Elias, A Sociedade., p. 28.
82 Daniel Barreto [et al.], A contribuição de Norbert Elias para uma contemporânea teoria de redes sociais.
Recife: XII Simpósio Internacional Processo Civilizador, Civilização e Contemporaneidade, 2009, p. 4.
83 Norbert Elias, A Sociedade., p.28.

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Parte 1 - Composição do Lugar

os constrangimentos na forma afectiva como estas relações se concretizam, promovendo


o desencadeamento de um processo de diferenciação do espaço privado e do espaço
público84; a segunda, e para o exemplo português, defende o conceito de relações de
índole clientelar85, materializadas em redes que se interceptavam, «emergindo indivíduos,
grupos de indivíduos ou de parentelas que actuavam como pontes de comunicação» que
eram «mediadores de relações que permitiam ultrapassar - ou tão-só criar fluxos de
comunicação que encurtavam - as distâncias geográficas e sociais».86

Em ambos os casos, podemos concluir que este processo, denominado


curialização ou aristocratização da nobreza, esteve também ligado à instrumentalização
das relações sociais para outros fins que não os da mera sociabilização, com impactos ao
nível do aumento das possibilidades de acesso a pessoas e grupos de uma sociedade,
caracterizado pela diminuição das distâncias sociais entre indivíduos, motivo pelo qual,
para o presente estudo, resolvemo-nos pela inclusão no grupo da primeira nobreza de
Corte, para além dos titulares, dos detentores dos principais ofícios da Casa Real,
denominados maiores ou mores, que não poucas vezes se confundem, ou coincidem, com
os próprios titulares.

Também releva lembrar que esta realidade não foi estanque nem transversal ao
longo do período de análise e que oscilou entre períodos em que a Corte tentou moldar o
seu centro e de uma maior fragilidade da coroa, como foram os tempos iniciais do reinado
de D. João IV e de D. Pedro II e, claro, a deposição de dois reis, Filipe IV de Espanha e
D. Afonso VI, e entre períodos de clara afirmação do poder real face à sua Corte a partir
do final do reinado de D. Pedro II e nos reinados de D. João V e D. José, altura em que
se poderá falar de um poder central efectivo, independentemente do nome que se lhe dê.

É esta realidade cortesã que vai moldar e influenciar o comportamento dos


cortesãos, numa pluralidade de entendimentos sobre os modus operandi e vivendi em
Corte87, tendo sempre presente que, tanto nos momentos de maior poder e influência,
como nos de maior susceptibilidade, o rei foi sempre entendido e reconhecido como o

84 Pedro Cardim, «A corte ré g ia . », pp. 160-161.


85 Conceito que desenvolvemos no ponto seguinte.
86 Mafalda Soares da Cunha, A Casa de B ragança., p. 43.
87 Concretizados em discursos que não são sempre coerentes entre si, o que não devemos considerar uma
característica particular do período em análise, mas que neste período ganha particular relevância porque
se assiste a uma ausência de um enquadramento jurídico/ legal definidor de um modelo vigente, resultando
este modelo de um confronto doutrinário promovido pelos principais pensadores da época que, na sua
maioria, eram também eles cortesãos

Pág. 21
Os Puritanos

epicentro do poder político em torno do qual se desenvolveram todos os acontecimentos


e, posteriormente, todas as apreciações sobre as concepções de sociedade observadas no
Antigo Regime.

2. Os cortesãos: os títulos e os ofícios maiores da Casa Real

Antes quero morrer estimado no campo do que viver


malvisto na corte8

Segundo a proposta de Cardim, ao redor deste epicentro de poder, concretizado


na pessoa do rei, «nascia uma espécie de comunidade de crença, e a coesão dessa
comunidade dependia de um conjunto de sentimentos de fidelidade e de esperança,
sentimentos esses dotados de um inegável potencial político, pois eram capazes de gerar
confiança e criar consenso, eram capazes de organizar e de disciplinar, sem que tal
implicasse o recurso à coacção e a meios violentos para manter a ordem.»89

A afirmação da nobreza - e de um modo muito concreto, e após a fixação do rei e


da sua Corte em Lisboa, dos cortesãos - enquanto o grupo social mais capaz de assumir
os principais cargos e ofícios relacionados com o governo dos reinos foi sobretudo um
fenómeno europeu com a sua origem nas concepções clássicas de formas de governo
desenvolvidas, entre outros, por Aristóteles, Platão e Heródoto, que assentavam na
proposta de atribuição do poder ou do Estado (“Kratos”) aos melhores (“Aristos”),
considerados os mais aptos a desenvolver essa função.90

Salientamos o facto de esta concepção de forma de governo aristocrático poder


ser entendida na sua forma pura, tal como se verificava em algumas repúblicas italianas,
ou num modelo mais híbrido, em que se questiona o poder efectivo, ou simbólico, do
grupo, nomeadamente por oposição ao poder efectivo do rei, devidamente enquadrado

88 Cavaleiro de Oliveira, Cartas inéditas (1739-1741). Coimbra: Publicadas por A. Gonçalves Rodrigues,
1942, p. 146.
89 Pedro Cardim, O poder dos afectos. Ordem amorosa e dinâmica política no Portugal do Antigo Regime.
Lisboa: [s.n], 2000. Tese de Doutoramento, p. 16
90 Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, vol. 3, Lisboa/ São Paulo: Editorial Verbo, 1998.
Entrada: Aristocracia.

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Parte 1 - Composição do Lugar

numa outra forma de governo, que dele depende ou no qual se apoia, o que deu origem a
expressões como “nobreza aristocratizada” ou “aristocracia de corte”.

Conforme refere Nuno Monteiro, nos finais do Antigo Regime, e para a realidade
portuguesa, quando se fala de nobreza ou fidalguia, enquanto grupo, designam-se
exclusivamente os titulares, esclarecendo que «a nobreza, em geral, não constituía um
grupo corporativo com uma identidade forte, como a que eventualmente poderá ter
constituído a fidalguia no início do período moderno, pois foi sendo decisivamente
enfraquecida por um duplo processo de mutação: alargamento das fronteiras na base e
contracção do topo com a constituição da elite dos Grandes, através dos títulos e
distinções da monarquia»91. Ainda assim importa referir que o exclusivismo deste grupo
foi sendo desenhado durante o período em análise e que a titulação nobiliárquica, bem
como a distinção que alguns ofícios palatinos (entendidos numa óptica quasi vincular92)
conferiram a algumas famílias não titulares da 1 a nobreza de Corte, foram um factor de
distinção entre os demais membros da pequena e média nobreza, reduzindo o grupo a
meia centena de casas titulares e a mais uma dezena de casas de 1.a nobreza de Corte93,
fenómeno denominado cristalização.

Ao nível das semelhanças com outros países europeus, a realidade aristocrática


portuguesa encontra muitas afinidades, na construção e características das elites, com a
sociedade espanhola, nomeadamente no facto de a avaliação sobre a nobreza de uma Casa
ou pessoa assentar em questões de limpeza de sangue, uma característica relativa à qual
a união dinástica e a forte adesão comum ao catolicismo não são alheios, questão que
abordaremos em maior detalhe no ponto seguinte. Comum a ambas, e ainda curiosamente
à sociedade inglesa94, era a existência de um ideário de nobreza capaz de, por um lado,

91 Nuno Gonçalo Monteiro Monteiro, Elites e p o d e r ., p. 33.


92 Apesar de não se poder falar de rotinização do carisma para explicar este fenómeno, tal como definido
por Weber, é inegável que existiu, no período de análise, uma “rotinização de Casas”, sendo que uma parte
considerável dos ofícios maiores da Casa Real acabaram por torna-se “senhorios simbólicos” de algumas
casas aristocráticas, in Max Weber, Economia e Sociedade, vol. 2. São Paulo: Editora UnB e Imprensa
Oficial, 2004, pp. 323-408.
93 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e Poder..., pp. 86-89.
94 Baseámo-nos nos estudos de Laslett, Thompson, Cannadine e Neal, sobre a existência, ou não, de classes
na sociedade inglesa do Antigo Regime, dadas as inúmeras referências aos principais critérios de distinção
social observados neste período. Os estudos são: David Canadine «The Eighteenth Century: Class Without
Class Struggle». In Class in Britain. New Heaven e Londres: Yale University Press, 1998, pp. 24-56; Peter
Laslett, «A One-Class Society». In R. S. Neale (ed.), History and Class. Essencial Readings in Theory and
Interpretation. Oxford: Blackwell, 1983, pp. 196-221; R.S. Neale, «Class and Class Consciousness in Early
Nineteenth Century England: Three Classes or Five?». In History and Class. Essencial Readings in Theory
and Interpretation. Oxford, Blackwell, 1983, pp. 143-164; E. P. Thompson, «Eighteenth-Century English
Society: Class Struggle without Class?». In Social History, Vol. 3, No. 2 (1978), pp. 133-165.

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Os Puritanos

provocar uma divisão estrutural da sociedade em dois, os nobres e os plebeus95, e, por


outro, ser por vezes pouco clara na fronteira entre estas duas realidades, observando-se
nos dois países, e não obstante a cristalização do topo da hierarquia social, uma
mobilidade social que se acredita hoje ser muito superior ao que em tempos se julgou,
numa sociedade ainda assim profundamente marcada por um «very sharply delineated
system o f status which drew firm distinctions between persons and made some superior,
most inferior. There were various gradations, all authoritatively established and
generally recognized»96, lembrando que muitas destas graduações eram apenas
reconhecidas dentro do grupo social ao qual respeitavam.

Voltando à problemática do aparecimento em Portugal de uma «primeira nobreza


de corte»97, enformada pelo processo de curialização da nobreza, podemos afirmar que
foi no período brigantino que se assistiu ao aparecimento deste grupo, não obstante ser
este o culminar de um processo que já se vinha a observar desde os finais da dinastia dos
Avis, mas que com a ausência do rei, de Portugal, no período dos Habsburgos, acabou
por não possibilitar a criação de um espaço, a «Casa do Rei» ou «Corte», onde a nobreza
se reunisse em torno do seu monarca. Assim, e com a dinastia brigantina, o rei volta a
residir em Portugal, sendo que mantém a sua residência em Lisboa, possibilitando a
existência de um espaço onde se concentram todos aqueles que desejam, de certa forma,
exercer alguma influência no governo do reino, ou no próprio rei, ou beneficiar da
liberalidade régia98, tornando o exílio da Corte a maior desonra para um nobre.

Neste processo, que resultou na criação de uma elite cortesã, ou de uma nobreza
aristocratizada, cujo acesso privilegiado ao rei lhe permitiu, como refere Rudé, «exercer
uma desproporcionada influência sobre a vida dos seus próximos, quer na condição de
governantes, magistrados ou grandes proprietários, monopolizando os altos cargos do
Exército, da Igreja e do Estado, quer simplesmente pelo seu modo de viver ou estar na

95 Em estrito paralelo com a sociedade inglesa da Gentry e dos gentlemen e dos plebs e nobodies.
96 Peter Laslett, «A O ne-C lass.», p. 196.
97 Expressão que, de acordo com Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo Monteiro, ganhou «ampla
difusão» após a Restauração para designar «a principal elite da nova dinastia dos Braganças, parte dela
recrutada nos restauradores, outra mais antiga ou com diversas proveniências», in «As grandes casas» . ,
p. 207.
98 Se é verdade que tal seria já uma característica natural de uma corte, sabemos, de acordo com Pedro
Cardim, que «em meados de quinhentos boa parte da nobreza portugueza continuava a manter as suas
residências espalhadas pelo reino, não encarando a morada do rei de Portugal como um lugar aonde tinham
necessariamente de acorrer», in «A corte ré g ia . », p. 324.

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Parte 1 - Composição do Lugar

vida»99, a aristocracia surge, conforme vimos, como uma ordem (ou “classe”) social que
repartia, em alguns casos, o poder com a monarquia, criando por vezes «situações de
equilíbrio instável entre ambas as forças»100.

Outro dos fenómenos importantes no aparecimento deste grupo, e já referido


anteriormente, é o da sua cristalização ao longo do período de análise, sendo que para um
período de mais de 150 anos, o número de casas titulares se manteve praticamente
inalterado. Este fenómeno estaria intrinsecamente ligado à consolidação do poder dos
Braganças, não existindo, no entanto, qualquer referência a uma política arquitectada e
posta em prática pelos reis brigantinos. Ainda que não houvesse um “número mágico”
nas cabeças que suportaram a coroa, este fenómeno, de consistência transversal a todos
os reis entre D. Afonso VI e D. José, e de enorme disparidade face à realidade europeia e
ao reinado imediatamente seguinte, o da rainha D. Maria I, levanta-nos algumas questões
quanto à hipótese de mera coincidência, sobretudo porque nos parece salvaguardar tanto
a liberalidade régia de ser considerada exagerada101, como condicionar uma posição forte
conjunta da aristocracia contra o rei102. Adicionalmente, o facto de a cristalização ocorrer,
não por casas aristocráticas criadas, mas por variação de casas ao longo do período, leva-
nos a questionar se a criação de novas casas não estaria, de alguma forma, condicionada
à extinção de outras. A título de exemplo, refira-se o período entre 1701 e 1730, onde o
número total de casas titulares não registou qualquer variação face ao período anterior,
tendo, no entanto, sido criadas cinco novas casas e extintas outras cinco103.

É precisamente sobre o restrito grupo da aristocracia portuguesa que nos


debruçaremos ao longo deste trabalho, tendo optado por incluir não apenas a nobreza
titular mas ainda os detentores dos ofícios maiores do palácio real que entendemos, como

99 George Rudé, A Europa no Século XVIII. A Aristocracia e o Desafio Burguês. Lisboa: Gradiva, 1988, p.
111.
100 Ibidem. Ideia também desenvolvida, para o exemplo português, em Nuno Gonçalo Monteiro, «Poder
Senhorial, Estatuto Nobiliárquico e Aristocracia». In António Manuel Hespanha (coord.), «O Antigo
R e g im e » ., p. 301.
101 Facto referido, nomeadamente, por um “comentador” político no tempo de D. Pedro II que referia que
«Hoje ninguém se contenta com que o escudeiro se faça fidalgo, e o fidalgo ordinário melhorar-se à primeira
nobreza, mas sim que todos querem ser príncipes contra a vontade de Deus, que não lhes deu esse
nascimento, e contra as leis do reino, que não permitem que os homens cresçam com tanta desproporção.
Deve Vossa Alteza atalhar essas demasias como a maior ruína das repúblicas, fazendo estar cada um dentro
dos limites da sua esfera». ANTT, S. Vicente, Ms. 12, fols. 652-653, Junta sobre a obtenção de meios
extraordinários, Lisboa, 8/I/1683, cit. in Rafael Valladares, A Independência de Portugal. Guerra e
Restauração 1640-1680. [Liaboa]: A Esfera dos Livros, 2006, p.
102 O que não deverá ser, de todo, desvalorizado num século em que se assistiu, em Portugal, a duas
deposições de reis por parte da aristocracia portuguesa.
103 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e Poder..., pp. 144-146.

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Os Puritanos

referido anteriormente, representar também eles o princípio de título nobiliárquico


associado - não obstante o facto de, muitos deles, pertencerem já a casas aristocráticas -
a um senhorio exclusivamente simbólico, materializado no que melhor define uma das
funções maiores da nobreza durante o Antigo Regime: o serviço ao rei.

Mas não seria esta a única característica identificadora do ethos aristocrático, para
utilizarmos o conceito de Monteiro que o “identifica [como sendo] um «sistema de
disposições incorporadas» legado por anteriores gerações, mas constantemente
potenciado e redefinido no contexto das práticas sociais para as quais se orienta”104, ou
seja, o modus operandi e o modus vivendi de um grupo social que, em muito, o orienta e
o define em termos de modelos de relacionamento e comportamento, devendo ainda ser
referidos a Casa, a liberalidade régia e o endividamento enquanto os pontos fundamentais
de análise da aristocracia portuguesa105, sendo a transversalidade deste modelo comum a
todos os que pertenciam a este grupo porque, conforme refere Elias, estamos «na presença
de um sistema social de ordens e valores a cujas exigências ninguém pode fugir, sob pena
de renunciar ao convívio com os seus semelhantes, de deixar de pertencer ao grupo
enquanto tal.»106

Importa ainda referir que o ethos da aristocracia de Corte do Antigo Regime era
também fortemente marcado pelo seu acesso a determinados direitos relativamente
exclusivos (privilégios), que operavam na sociedade como factores de distinção
susceptíveis de produzir desigualdades e de criar estruturas e hierarquias sociais, o que,
segundo Monteiro, estabeleciam a consagração de uma «taxonomia institucionalizada,
legitimada pela tradição» que «constituía o quadro de estruturação dos grupos sociais»107.
Berger acrescenta que os privilégios, bem como o poder e o prestígio, existem não apenas
enquanto factor de distinção susceptível de estratificação e hierarquização, mas ainda
como as principais recompensas da posição social108.

Assim não é demais relembrar que o acesso a determinados privilégios definia


uma correspondente posição social, e que esta se concretizava na obtenção de um status,
aqui entendido conforme a proposta de Mousnier, ou seja, «pelas diferenças de estima
social, de dignidade, de posição, de honra, de prestígio, verificadas entre os indivíduos e

104 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e P o d e r., p. 84.


105 Leia-se Ibidem, pp. 83-103.
106 Norbert Elias, A Sociedade., p. 42.
107 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 23.
108 Peter L. Berger, Perspectivas Sociológicas. Petrópolis: Editora Vozes, 2001, p.91.

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Parte 1 - Composição do Lugar

entre os grupos sociais (famílias, corpos, colégios, comunidades), e pelo seu


reconhecimento mútuo dessas diferenças numa dada sociedade», revelando-se em todas
as mais variadas formas de interacção social que condicionavam os comportamentos dos
homens «da aurora ao pôr do Sol, do nascimento à morte»109, sendo a manutenção desse
mesmo status, ou o seu engrandecimento, uma das mais visíveis características do ethos
aristocrático do Antigo Regime.

É neste enquadramento que os quatro pontos fundamentais acima referidos se


desenvolvem e se tornam características fundamentais e transversais a todos os membros
deste grupo, uma aristocracia que se reconhece enquanto uma «sociedade de “casas”»110,
representando estas não apenas uma família, mas um património definido também por
uma linhagem, uma disciplina, um senhorio, uma entourage de criados, comumente
designados simplesmente por família, e, claro, um edifício, contribuindo todos eles para
a definição e entendimento sobre o status que a Casa detinha por comparação com outras.

É precisamente na preservação, manutenção e aumento - ou, conforme referido


nas Ordenações Filipinas, «conservação e memória» e «accrescentamento»111 - deste
vasto património humano, cultural, económico e simbólico, que o endividamento aparece
como uma realidade comum à maioria das casas aristocráticas, uma vez que era o status
e não as receitas que definia os gastos de uma casa nobiliárquica no Antigo Regime,
encontrando-se todas elas condicionadas por um conjunto de «despesas impostas pela luta
pelo estatuto social e pelo prestígio»112. Mesmo após o terramoto de 1755, com tudo o
que exigiria em termos financeiros às Casas aristocráticas portuguesas, nomeadamente na
reconstrução dos seus palácios, foi suficiente para alterar esta circunstância, referindo
Brelin aquando da sua estada em Lisboa que «não obstante os prejuízos incontáveis que
os portugueses sofreram com o referido terramoto, nem por isso puseram de parte a sua
aristocrática maneira de ser, já tão enraizada, antes pelo contrário vivem presentemente
mais na opulência do que antes e por isso arriscam-se a ser depressa conduzidos à maior
pobreza»113, o que, conhecendo hoje a situação financeira destas Casas, seria mais uma
inevitabilidade do que um presságio.

Esta realidade, aliada a um discurso coevo assente na premissa de que uma

109 Roland Mousnier, As Hierarquias Sociais. Lisboa: Publicações Europa-América, 1974, pp. 12-13.
110 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e P o d e r., p.89.
111 De acordo com as Ordenações Filipinas, liv. IV, t.C., n.° 5, cit. in Ibidem, p. 93.
112 Norbert Elias, A Sociedade., p. 42.
113 Johan Brelin, De passagem p e lo ., p. 116.

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Os Puritanos

nobreza grande engrandecia o rei e nas «insistentes recomendações [na literatura


setecentista] para que os reis sejam liberais e generosos»114, ao qual se juntaria também,
inevitavelmente, o argumento de que o abandono dos seus senhorios tinha ocorrido no
âmbito do contrato que, desde tempos imemoriais, obrigava a nobreza a prestar consilium
et auxilium ao Príncipe, levou a que esta situação crónica de endividamento tivesse sido,
inicialmente, mitigada pela liberalidade régia, concretizada no monopólio e consequente
concentração da maioria das doações régias neste restrito grupo, todas elas enquanto
forma de remuneração115 dos serviços prestados à coroa através da assunção dos
principais cargos de governo e conselho. Como observado por um estrangeiro não
identificado que esteve em Lisboa em 1730, «os grandes de Portugal dividem-se em três
ordens: a primeira, dos duques, a segunda, dos marqueses, e a terceira, dos condes. Nelas
o Rei escolhe as pessoas que hão-de ocupar os principais cargos da corte, da guerra e dos
governos ultramarinos.»116

Se no ponto anterior tínhamos questionado o poder efectivo de uma coroa que se


afirma com o apoio de uma nobreza forte e influente, capaz, inclusivamente, de promover
a deposição e coroação de reis, percebemos que essa mesma coroa começou,
posteriormente, a afirmar-se através da dependência que estas grandes Casas
aristocráticas começaram a ter da liberalidade régia, que em muito as foi limitando na sua
capacidade de influenciar e condicionar efectivamente o poder do rei. Mas se é verdade
que o rei e a coroa - aqui entendidos também enquanto “proto-Estado” - começaram a
assumir um papel mais relevante na construção de um, como referiria Bourdieu,
«monopólio da violência simbólica legitima»117, podemos questionar-nos se não
existiram, dentro deste grupo, mecanismos que lhes permitissem definir hierarquias e
posições relativas de status assentes em critérios independentes dos benefícios e doações
da coroa, e até da vontade do próprio rei, assunto sobre o qual nos debruçaremos no ponto
seguinte.

114 Pedro Cardim, «A Casa R e a l.» , p. 53.


115 Importa salientar que a liberalidade régia se concretizaria, na linguagem da época, não numa
remuneração atribuída às casas aristocráticas, mas em doações que visavam premiar um bom serviço e não
remunerá-lo, uma vez que a remuneração, através de um salário, de um serviço prestado colidiria com o
ethos aristocrático, cf. Ibidem, p. 48.
116 C astelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V . , p. 51.
117 Pierre Bourdieu, O P o d e r., p. 149.

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Parte 1 - Composição do Lugar

3. Os puritanismos: o sangue e as nobrezas

Fez-me sorrir ver nas estantes de Mafra tantos livros


in-folio, in-quarto e in-oitavo, de genealogia. Oh
quantos lá existem! Estes livros são, talvez, o
alimento principal da bazófia insuportável dos
portugueses. 118
118

Os conceitos de puritanismo que pretendemos tratar neste ponto nem sempre


receberam esta designação, apesar de terem estado, deste sempre, intrinsecamente ligados
ao conceito de pureza, de origem remota e indiscutivelmente revestida de um cariz
religioso. Eram precisamente os puros de coração1 1 9 aqueles que seriam os eleitos para o
Paraíso, representando esta pureza, de alguma maneira, uma forma mais verdadeira e
genuína de viver que, do cristianismo ao hinduísmo e do ocidente ao oriente, acabou por
marcar sociedades e discursos, com inegável impacto nas suas estruturas e hierarquias.
Figueirôa-Rêgo vem lembrar-nos, precisamente, que dificilmente poderemos defender
que as questões de limpeza ou pureza são, ou foram, uma problemática específica do
período em análise, estando presentes nas sociedades antigas e intimamente ligadas à
prática da religião desde, pelo menos, o tempo de Abraão, comum às tradições judaica,
cristã e islâmica120, não obstante o facto de terem, durante o mesmo período de análise,
assumido contornos distintos no que aos regulamentos internos de grupos sociais diz
respeito.

Assim, quer falemos de puritanismos relacionados com o sangue ou com a


nobreza, convém evidenciar que ambos estão intrinsecamente relacionados entre si sendo
por vezes desafiante a sua distinção121 : ambos se transmitem de geração em geração e são
legitimados pela manutenção de um estado de pureza, que é o mesmo que dizer isentos

118 Giuseppe Baretti, Cartas de P ortugal., p. 194.


119Referência bíblica que encontramos, por exemplo, no Sermão da Montanha, em Mt 5, 8. Bíblia Sagrada.
Lisboa: Difusora Bíblica (Missionários Capuchinhos), 1991.
120 João de Figueirôa-Rêgo, «A Honra A lh eia .» , pp. 29-31.
121 Ideia também defendida por João Cordeiro Pereira, «A Estrutura Social e o seu Devir». In João José
Alves Dias, «Portugal do Renascimento à Crise Dinástica», Vol. 4 da Nova História de Portugal (dir. de
Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques). Lisboa: Editorial Presença, 1998.

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Os Puritanos

de qualquer mácula 1 2 2 . Verdade é que, não obstante os inúmeros tratados sobre pureza,
tanto de sangue como de linhagem, qualquer tentativa de uma abordagem linear e cabal
- ou até científica - desta realidade, sairá naturalmente frustrada, porque até a simples
assunção de que qualquer nobre seria, necessariamente, de puro-sangue (ou cristão-velho,
para utilizarmos a linguagem coeva) vem ser posta em causa no auge da adesão ao
puritanismo, tema central do presente estudo. Não obstante a constatação desta realidade
ao mesmo tempo complexa e desafiante, avançamos com as duas definições que mais se
encontram na literatura coeva sobre os mesmos puritanismos. Assim, a pureza de sangue
foi recorrentemente descrita utilizando uma fórmula comum similar a «sem raça de
mouro, judeu ou gente novamente convertida à nossa Santa Fé, e sem fama em
contrário»123 e a de nobreza, essencialmente baseada no princípio de que um nobre é
aquele que não tem qualquer ofício mecânico, assente no reconhecimento de que se
viveria à lei da nobreza, com bestas e criados, textos amplamente reproduzidos em
nobiliários e genealogias, mas apenas capazes de garantir o enquadramento na franja
muito duvidosa que separava os nobres do povo: para o desvanecimento desta
circunstância por vezes cinzenta, apenas uma ascendência de nobres cristãos-velhos
conhecidos que confirmasse inequivocamente uma origem pura e antiga da linhagem.

Ao debruçarmo-nos sobre os puritanismos presentes na sociedade portuguesa do


Antigo Regime importa perceber que não falamos de uma realidade exclusivamente
portuguesa: outras sociedades, ao longo do tempo, recriaram estruturas sociais com base
em critérios de distinção de sangue e nobreza ainda que nenhuma apresente as mesmas
características do modelo português, motivo pelo qual, neste ponto e no seguinte, nos
empenharemos em tentar perceber a forma como estes fenómenos conseguiram
reproduzir em Portugal uma realidade única e, mais ainda, se esta realidade era percebida
e entendida pelos contemporâneos como parte da sua identidade, tanto como resultado de
uma consciência colectiva, como por oposição a outras realidades estrangeiras.

Propomos como ponto de partida para um melhor entendimento do


enquadramento histórico destes puritanismos dois fenómenos observados na sociedade
portuguesa: o primeiro relacionado com as sucessivas tentativas de consolidação do poder

122 E por isso limpo, motivo pelo qual encontramos, indistintamente, a utilização dos termos limpeza e
pureza significando, na maior parte das vezes, o mesmo.
123 Reproduzimos o texto constante do regimento do Tribunal do Santo Ofício, de 1640, o primeiro a conter
uma menção a questões de pureza de sangue, cit. in Bruno Feitler, «Hierarquias e mobilidade na carreira
inquisitorial portuguesa: critérios de promoção». In Ana Isabel López-Salazar [et al.], Honra e Sociedade.,
p. 115.

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Parte 1 - Composição do Lugar

do rei, materializado, entre outros, na discricionariedade do rei em nobilitar, essencial à


legitimação da nobreza enquanto critério de distinção social; o segundo, a crescente
animosidade em relação a “nações estrangeiras”, abarcando este conceito de estrangeiros
pessoas não apenas de diferentes realidades geográficas, mas também, e sobretudo, de
diferentes credos, nomeadamente os judeus.

É com a subida de D. João I ao poder que se começa a observar um movimento


tendo como objectivo a consolidação do poder da coroa enquanto garante da estabilidade
da nova dinastia, trazendo consigo uma «nova nobreza» ávida de confirmação por parte
do novo centro do poder124, um fenómeno que podemos considerar, ainda assim, comum
a todas as crises dinásticas. Se parece ser consensual entre historiadores que, neste
período, a liberalidade régia se caracterizava pela «lógica de uma simbiose que garantia
à nobreza o seu engrandecimento e à realeza a sua segurança»125 - não sem os seus
sobressaltos, como a batalha de Alfarrobeira126 no reinado de D. Afonso V - é durante o
reinado de D. João II, contudo, que se observa uma alteração do paradigma da relação
entre a coroa e as grandes casas senhoriais, tendo sido este o último rei a matar alguém
com a as suas próprias mãos, sorte de que padeceu, em 1484, o duque de Viseu, D. Diogo,
tendo no ano anterior o duque de Bragança, D. Fernando II, sido também preso e degolado
em Évora127, cimentando-se a superioridade da coroa sobre os, outrora, seus pares.

No reinado de D. Manuel I, e graças ao grande empreendimento dos


descobrimentos que consagrou o rei como senhor inquestionável do território
ultramarino, observa-se a promoção de «uma política centralizadora», sustentada nos
rendimentos que dele advinham128, sendo esta realidade exponencialmente alavancada,
mais simbólica do que monetariamente, claro, com a incorporação pelo seu filho, o rei D.
João III, em 1551, das ordens religiosas militares e do seu vasto património, continental
e ultramarino, na coroa129. Não será, então, difícil perceber que grande parte deste
património foi investido na criação de uma rede de dependências que foram domesticando
a nobreza, no exacto sentido em que a foram tornando “da casa” do rei, perdendo a sua
autonomia senhorial, característica fundamental da nobreza feudal que povoou toda a

124 Rui Ramos [et al.], História d e . , pp. 135-151.


125 Ibidem, p. 160.
126Batalha ocorrida em Portugal, em 1449, entre o exército do rei D. Afonso V e do seu tio, D. Pedro, duque
de Coimbra, após este ter impedido o duque de Bragança de atravessar assuas terras.
127 Rui Ramos [et al.] - História d e . , pp. 201-203.
128 João Paulo Oliveira e Costa, D. M a n u e lI. , p. 193.
129 Fernanda Olival, As Ordens M ilitares., p. 4 e Ana Isabel Buescu,D. João I I I . , p. 236.

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Os Puritanos

época medieval. Por outro lado, o crescimento do aparelho do Estado e a necessidade de


os príncipes em se rodearem de pessoas da sua confiança começou a talhar uma nova
forma de ordenação social que contrapunha a ordem social estabelecida - que seriam
sempre os mesmos a ocupar os mesmos lugares - à rede de lealdades pessoais do rei que
promovia, necessariamente, o enobrecimento daqueles em quem confiava mas que não
detinham ainda a qualidade para ocuparem os mais altos lugares de governo, aos quais
Rudé chama burocratas130 mas que em Portugal foram conhecidos, sem que os termos
fossem institucionalizados, por ministros ou validos131.

É esta imagem de uma linhagem real que continuamente, ao longo do século XVI,
se empenha em garantir a sua supremacia face à nobreza do reino, que nos permite,
posteriormente, perceber que os séculos XVII e XVIII, não obstante todos os
constrangimentos de ordem política aos quais estiveram expostos os monarcas, foram
marcados por uma indiscutível centralização do poder político na pessoa do rei e que,
mesmo em momentos marcadamente aristocráticos, a legitimidade da acção de governo
da aristocracia foi sempre garantida pela pessoa real.

Importa também salientar que este processo de centralização do poder real


assentou muito mais numa política de dádiva, para usarmos a definição de Mauss132, do
que no recurso recorrente ao confronto e ao conflito e foi, curiosamente, esta opção
política que mais danos causou na antiga nobreza medieval portuguesa, uma vez que
resultou no aparecimento de uma nobreza de serviço - a par com a discricionariedade do
rei em nobilitar - levando a que, no seio da nobreza, se criassem mecanismos de distinção
que tentaram, e na maior parte conseguiram, estigmatizar linhagens recém-criadas, apesar
de fortemente patrocinadas pela coroa.

Partindo do pensamento tardo-medieval já referido relativo a uma concepção


corporativa de sociedade onde todos os seus membros encontravam a sua função (o seu
lugar) através de uma ancestral necessidade de ordenação, o conceito de nobreza começa,
então, por ser entendido como esta comunhão com uma realidade divina, a nobreza
teológica, resultado de um processo de imitação da vida de Cristo e dos Santos, evoluindo,

130 George Rudé, A Europa n o . , pp. 160-161.


131 Pedro Cardim, «A Casa R e a l.» , p. 43.
132Relembramos que, para Marcel Mauss, «a dádiva não retribuída torna ainda inferior aquele que a aceitou,
sobretudo quando é recebida sem espírito de retorno», sendo que «as sociedades progrediram na medida
em que elas próprias, os seus subgrupos e, enfim, os seus indivíduos, souberam estabilizar as suas relações,
dar, receber e, enfim, restituir». In Ensaio sobre a dádiva, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 185 e p. 204.

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Parte 1 - Composição do Lugar

no entanto, e de acordo com Oliveira133, para outros dois tipos de nobreza, a natural e a
civil, ambas resultado de uma “conquista” (ou recompensa de um esforço) e, a primeira,
assente numa linhagem.

Apesar do entendimento ideológico e, digamo-lo também, romântico, de nobreza


assentar sobre as qualidades e boas maneiras dos homens, o seu entendimento conceptual
na sociedade do Antigo Regime reflectia-se sobretudo, como já referido acima, na
identificação com um determinado estilo de vida ou, no caso particular de instituições
como as Universidades, a magistratura, o Tribunal do Santo Ofício ou as Ordens Militares
Religiosas, na confirmação, por provança, de que não se descendia de pessoa
«mecânica», também designado por limpeza de ofícios, obstáculo ainda assim
ultrapassável caso não se verificasse, podendo o rei intervir, como muitas vezes interveio,
garantindo a dispensa de provanças de limpeza mecânica desde que cessassem todos os
ofícios mecânicos tanto do habilitado como dos seus familiares134. Foi precisamente esta
manifestação da liberalidade régia na nobilitação que gerou na Corte portuguesa, entre a
nobreza dos ofícios e a de linhagem, discórdias e invejas, e que potenciou inúmeros
conflitos dentro de um grupo social cada vez mais heterogéneo, heterogeneidade essa que,
pensamos, a antiga nobreza portuguesa nunca demonstrou vontade de acolher, criando
antes entraves à sua integração.

Mas como refere Olival no seu grande estudo sobre os ingressos na Ordens
Militares Religiosas que julgamos poder ser, na sua essência, transponível para os demais
ingressos em instituições como o Tribunal do Santo Ofício, as Universidades, as
Misericórdias e grande parte das Confrarias, «as exigências [do ingresso] eram grandes
para todos os que eram alvo de inquérito: pureza de sangue, o que implicava não
descender de judeus, cristãos-novos e mouros; limpeza de ofícios, isto é não ter ofício
manual; nobreza, ou por outras palavras, ter um estilo de vida reputado como tal; não ser
herege, nem ter cometido crimes de lesa-majestade; não provir de gentios ou de
mulatos»135, sendo que aquele que maior influência teve na sociedade portuguesa do
Antigo Regime e que motivou muitos a sujeitarem-se ao processo de provanças como

133 Luiz da Silva Pereira de Oliveira, Privilegios da Nobreza, e Fidalguia de Portugal. Lisboa: Officina de
João Rodrigues Neves, 1806, pp. 1-14.
134 Fernanda Olival, As ordens M ilitares., p. 56, para o caso das Ordens Militares Religiosas.
135 Ibidem, p. 164.

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Os Puritanos

forma de atestar, antes de mais a sua qualidade136, foi a questão da limpeza de sangue157.

Parece existir, na historiografia recente, um entendimento comum quanto ao facto


de a origem da limpeza de sangue enquanto questão estruturante da sociedade portuguesa
do Antigo Regime ter a sua origem no Édito de expulsão dos judeus de D. Manuel I, de
1496, no âmbito das negociações de casamento do rei português com a infanta D. Isabel
de Espanha, filha dos reis católicos. Aliás, parece ser consensual a ideia de uma
«coexistência pacífica ao longo do período medieval das comunidades judaicas em
Portugal, que mantiveram a sua identidade e autonomia»138, cenário que se terá
deteriorado após o Édito e, sobretudo, pelo baptismo forçado dos judeus que foram
impedidos de sair de Portugal, não obstante, como sabemos, este ter sido seguido por uma
paz precária, sendo estes neófitos cristãos isentados de quaisquer inquirições sobre a sua
fé por um período de vinte anos. É possível que o criptojudaísmo, ao invés de um efectivo
processo de conversão, que esta acção indiscutivelmente promoveu fosse, desde início, o
objectivo do rei, saindo assim duplamente beneficiado: por um lado possibilitava o seu
casamento com aquela que, à data do casamento, era já a herdeira do trono espanhol; e
por outro a manutenção dos judeus em Portugal, agora entendidos como cristãos, com
tudo o que isso relevava para a coroa e reinos no que à importância desta comunidade,
para a economia portuguesa, dizia respeito. A realidade, no entanto, foi bastante diferente
e marcou indelevelmente a história de Portugal, com repercussões também ao nível da
estrutura da sociedade portuguesa.

Não será difícil compreender que o criptojudaísmo existiu e perpetuou-se na


sociedade portuguesa, até porque não existiu nenhum investimento verdadeiro na
conversão de todos estes judeus baptizados, podendo identificar-se que se este foi, de
facto, acontecendo ao longo do tempo, ter-se-á devido ao eventual acesso que estes novos
cristãos possam ter tido a casamentos com famílias cristãs-velhas139. No entanto, na

136 Rui Ramos [et. al], História d e . , p. 240.


137 Esta de contornos diferentes da limpeza mecânica, no que à acção do rei diz respeito, porque de acordo
com Fernanda Olival, «depois de 1681, não há na Chancelaria da Ordem de Cristo uma só carta de hábito
que assinale a dispensa de sangue, nem de modo explícito, nem camuflado». In As ordens m ilita re s., p.
289.
138 Rui Ramos [et. al.], História d e . , p. 236. Ideia também presente em Jorge Martins, Portugal e o s . , p.
11 e Emílio Manuel da Silva Corrêa, Judaísmo e Judeus na Legislação Portuguesa. Da Medievalidade à
Contemporaneidade. Lisboa: [s.n.], 2012. Dissertação de Mestrado, p. 13.
139 É interessante a análise de María Antonia Bel Bravo que, não obstante a sua opinião, deixa, desde logo,
antever um problema mais complexo, quando escreve: «Así pues, los cristianos «viejos» con sus exigencias
de limpieza, y los cristianos «nuevos» con su afán de conservar las tradiciones judaicas, como veremos,
hicieron todo lo posible por permanecer como dos grupos netamente separados, pero el matrimonio entre
ellos logró lo que ninguno de los dos grupos quería: la integración. Algunos tratadistas hablarán de

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Parte 1 - Composição do Lugar

memória colectiva ficou bem vincada uma imagem de uma conversão forçada e, por isso,
não verdadeira, permitindo-nos enquadrar a referência à fama ou reputação em todos os
estatutos de limpeza de sangue que vão povoar os acessos às principais instituições do
Portugal Moderno, tornando claro o entendimento de que os termos cristãos-novos,
homens de nação, gentes da nação hebraica, entre tantos outros, queriam dizer única e
exclusivamente judeus140.

Verdade é o facto de, entre os finais do século XVI e os princípios do século XVII,
os estatutos de limpeza de sangue terem assumido uma relevância face aos de mecânica,
contrariando o que se verificava no passado uma vez que parte da elite aristocrática
descendia, por bastardias reais, de judias, temendo sobretudo a ascensão de classes como
a dos letrados que podiam comprometer o seu acesso quase exclusivo aos ofícios maiores
do reino141, sendo disso exemplo a instituição dos estatutos de limpeza de sangue, por
exemplo, em 1577, na Misericórdia de Lisboa, em 1602 nas habilitações para a
magistratura142 e, finalmente, no Regimento da Inquisição de 1640, relativamente aos
ministros inquisitoriais143.

Directamente relacionado com o extremar das posições em relação aos cristãos-


novos parece ainda ter estado a política dos Habsburgos que permitiu que o seu peso
aumentasse na sociedade portuguesa, tendo os cristãos-novos tentado, inclusivamente,
negociar um “perdão geral” com a Coroa entre 1602 e 1604144, tendo em 1627 conseguido
obter importantes regalias da Coroa, ainda que sob certas limitações145. Apesar de a
Restauração dever ser devidamente enquadrada pela «grave crise económica que sofria
Portugal, o crescente mal-estar social e as sucessivas derrotas militares nos territórios do
ultramar», bem como por uma realidade política dual caracterizada pela ausência do rei
da Corte de Lisboa, a verdade é que se generalizou a ideia que «o reino estava infectado

«contaminación», pero a mi juicio sería más acertado hablar de integración. El matrimonio se concibe así
como la variable más sociológica de la población, puesto que entran en juego decisiones e intereses
particulares, determinadas estrategias culturales, sociales, patrimoniales, de parentesco, etc. encaminadas,
sobre todo, a la estabilidad y seguridad social.». In «Matrimonio versus ‘Estatutos de Limpieza de Sangre’
en la Espana Moderna». In Hispania Sacra, LXI, 123 (2009), pp. 106.
140 Juan Ignacio Pulido, Judeus e Inquisição no tempo dos Filipes. Lisboa: Campo da Comunicação, 2007,
p. 23.
141 João de Figueirôa-Rêgo, A honra a lh e ia ., p. 47.
142 Rui Ramos [et. al.], História d e . , p. 240.
143 Bruno Feitler, «Hierarquias e mobilidade na carreira inquisitorial portuguesa: critérios de promoção».
In Ana Isabel López-Salazar [et al.], Honra e Sociedade., p. 115.
144 Rui Ramos [et. al.], História d e . , pp. 288-289.
145 António de Oliveira, Movimentos Sociais e Poder em Portugal no Século XVII. Coimbra: Instituto de
História Económica e Social da Faculdade de Letras de Coimbra, 2002, p. 329.

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Os Puritanos

de judaizantes»146, e que a questão anti-judaica terá também contribuído para o desenrolar


da revolta contra os Habsburgos, facto ao qual acontecimentos como os motins dos
estudantes da Universidade de Coimbra e o desacato de Santa Engrácia (1630)147 não
foram indiferentes, mas ainda assim correlacionados entre si, porque conforme defende
Oliveira: «as épocas de crise económica amplificam a violência contra o judeu ou
criptojudeu»148.

Indiscutível é o facto destes puritanismos terem marcado profundamente a


realidade portuguesa dos séculos XVII e XVIII e de, como tão bem sintetizado por
Marcocci e Paiva, «ser tido por nobre, ter sangue limpo, ascender socialmente e alcançar
um estatuto honrado, eram objectivos partilhados pela generalidade dos indivíduos, a que
se chegava, por norma, após um percurso que se podia prolongar por mais do que uma
geração, que previa inquirições na genealogia familiar e, por vezes, a inspecção cruzada
de habilitações recebidas por diferentes instituições»149, aliado ao facto de que «ortodoxia
que o Santo Ofício tutelava já não visava somente um estado de plena e sincera adesão
aos preceitos da fé e respeito pela disciplina da Igreja, mas também um ideal de perfeição
social, o qual era partilhado pela maioria dos portugueses, por convicção ou mera
conveniência»150, algo transversal à sociedade portuguesa, e inegavelmente ligado a um
sentimento, consciente ou inconsciente, de identidade e de sentido de pertença a uma
cultura, tema que abordaremos no ponto seguinte.

4. A classe provável dos Puritanos

Quando eles assim casam, elas são as que casam


pior. 1151
51

146 Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição., p. 159.


147 A 4 de Março de 1630 os cristãos-novos são expulsos da Universidade de Coimbra, tendo-se iniciado
nesse dia e prologando-se durante uma semana um motim de estudantes. Relativamente ao Desacato de
Santa Engrácia, leia-se o ponto 3 do capítulo II.
148 António de Oliveira, Movimentos S o cia is., p. 320.
149 Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição., p. 245.
150 Idem, p. 243.
151 D. Pedro de Sousa, 1.° conde do Prado, sobre os fidalgos que aceitavam, por dinheiro, casar com
mulheres baixas, In Ditos portugueses dignos de memória. História íntima do século XVI anotada e
comentada por José H. Saraiva. Póvoa do Varzim: Publicações Europa-América, [s.n.], p. 293.

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Parte 1 - Composição do Lugar

É neste lugar, a Corte, entendido enquanto o espaço de interacção entre o rei e os


seus cortesãos, caracterizado pela existência de puritanismos de sangue e de nobreza, nos
quais a primeira nobreza de corte, títulos e ofícios maiores, assume um papel de maior
relevância, que assentaremos a nossa análise sobre um grupo específico. De acordo com
a proposta de Bourdieu que defende que um determinado grupo, ou classe, pode ser
estudado como tal mesmo que não seja um «grupo mobilizado para a luta» - introduzindo
o conceito de classe provável, ou seja, um «conjunto de agentes que oporá menos
obstáculos objectivos às acções de mobilização do que qualquer outro conjunto de
agentes»152 - propomos a razoabilidade de estudar um conjunto de indivíduos que
mantém uma prática social comum como um grupo, não obstante a possibilidade de
inexistência de um vínculo formal entre eles.153

Aliás, esta análise é sobretudo possível porque a realidade do Antigo Regime se


encontra enformada por um conjunto de juízos de valor sociais assentes, muitas vezes,
«em critérios mal definidos, mais ou menos vagos, frequentemente implícitos, e de que
os indivíduos têm consciência limitada»154, que fundamentam, como diria também
Mousnier, as diversas escalas de estratificação social, das quais, na sua perspectiva, a
mais importante será «a do estatuto social, que se define pelas diferenças de estima social,
de dignidade, de posição, de honra, de prestígio [ . ] e pelo reconhecimento mútuo dessas
diferenças numa dada sociedade»155.

A característica fundamental do grupo dos Puritanos, cujo estudo propomos


enquanto classe provável, prende-se com os esforços encetados nas suas políticas de
reprodução social com vista à preservação da pureza do sangue das suas Casa e linhagem.
Convém esclarecer que a novidade é introduzida pela impossibilidade biológica de
alteração de estado, inviabilizando qualquer mobilidade social, o que contraria o que
encontramos, por exemplo, em outras sociedades do Antigo Regime em que «são
necessárias, em média, três gerações para se mudar de ordem ou, por vezes, para mudar
de «estado» [e onde] a mobilidade social é limitada e controlada pela sociedade.»156

152 Pierre Bourdieu, O P o d e r., p. 137.


153 Devemos, no entanto, lembrar que muitas vezes o conceito de grupo é «tão ambíguo como
indispensável», dado que, como tão bem refere Peter Burke, é possível observar em todas as sociedades
relações que «incluem o sentido de solidariedade no seio de um determinado grupo, o seu sentido da
diferença em relação (e possível conflito com) aos outros grupos e o sentido da hierarquia, da posição
relativamente aos outros». Peter Burke, Sociologia e História. Porto: Edições Afrontamento, 1990, p. 56.
154 Roland Mousnier As hierarquias., p. 7.
155 Ibidem, pp. 12-15.
156 Ibidem, p. 20.

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Os Puritanos

Talvez por isso seja mais intuitiva a identificação de um grupo como o dos Puritanos com
o de uma sociedade de castas onde «a pureza religiosa provém da pureza do sangue [e] o
pertencer a uma casta é uma questão de raça»157, apesar de não podermos ir muito além
da identificação uma vez que «o sistema de castas não é um mecanismo»158 e como
sabemos os Puritanos foram acusados pelo marquês de Pombal de que «não só se
arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que
casavão nellas [Casas puritanas], ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os
defeitos que antes lhe attribuirão, erão de natureza, que permitisse esconderem-se na
escuridade dos princípios donde se derivavão, havendo destas expiações conhecidos
exemplos»159. Assim, e não seremos os primeiros a propô-lo, mais do que um sistema de
castas, podemos falar de um grupo cuja reprodução social se encontra orientada por um
princípio de casta160, mais constante no discurso do que na prática e que continua a ser
muito influenciada por uma matriz vincadamente aristocrática e muito condicionada pela
sua filial relação com o príncipe.

E se é verdade que um grupo destes dificilmente poderia ter “vingado” na


sociedade portuguesa do Antigo Regime sem o patrocínio real, nomeadamente durante o
reinado de D. Pedro II, considerado «um dos mais brilhantes da historia da aristocracia
portugueza, e talvez o do apogeu da sua influencia na vida nacional»161 - onde nos parece
poder verificar-se um aumento da influência do partido puritano na Corte dos reis de
Portugal - é para o reinado de D. João V que inúmeras referências passam a associar este
movimento a um sentido mais estrito do puritanismo, sendo também no século XVIII
onde encontramos inúmeras referências feitas por estrangeiros que passam pela Corte
portuguesa e que referem a existência deste grupo.

Com base nos principais relatos destes estrangeiros162, é a experiência da fé, pelos
portugueses, a característica mais comummente referida, acentuando, no entanto, que esta
religiosidade é superficial, fanática, supersticiosa, escrupulosa e violenta, sendo Gorani o
mais pertinaz ao identificar a contradição existente entre «os esforços empregados para

157 Ibidem, p. 23.


158 Ibidem, p. 25.
159 António Delgado da Silva (org.), Supplem ento., p. 189.
160 Conceito proposto pelo orientador da presente Dissertação, o Prof. Jorge Pedreira.
161 Zacharias d ’Aça, Um D. João de Castro de Capa e Espada. Estudo histórico sobre a aristocracia e a
sociedade portugueza no seculo XVIII. Lisboa: Imprensa de Libanio da Silva, 1900, pp. 22-23.
162 Baseámo-nos nos relatos dos estrangeiros publicados, tanto ao género de livros de viagens, como
epistolar, bem como em alguns trabalhos sobre a estadia de estrangeiros em Portugal, devidamente
identificados no ponto relativo às Fontes, na Introdução desta dissertação.

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Parte 1 - Composição do Lugar

converter maometanos, judeus e heréticos à religião católica romana»163 e a observância


dos efeitos que os estatutos de limpeza de sangue causavam na sociedade portuguesa,
nomeadamente quanto à violência do Auto de Fé, que, em Portugal, adquiria um estatuto
de festa visto «constituir para os portugueses um verdadeiro divertimento»164. A par desta
constatação está o facto de os portugueses serem anti-estrangeiros, porque «tudo o que é
estrangeiro lhes desagrada e indigna»165 e um «português considera qualquer estrangeiro
um herege»166, não obstante Lisboa estar cheia «de uma tal variedade de caras singulares,
que fazem o viajante duvidar se Lisboa fica na Europa» sendo «lícito prever que, daqui a
poucos séculos, não existirá uma gota de sangue português puro, porque terá sido todo
corrompido pelos judeus e negros, apesar do seu muito santo tribunal da Sagrada
Inquisição»167, levando a que lord Tyrawley comentasse, com tanto de graça como de
perspicácia, que os portugueses «se dividiam em Judeus e em Sebastianistas. Metade,
disse ele, espera a vinda do Messias e a restante a chegada de D. Sebastião.»168 Baretti,
no entanto, não se fica por aqui, acrescentando que «são poucas as famílias portuguesas
que se mantêm europeias puras e, com o andar do tempo, abastardar-se-ão todas»169,
promovendo, necessariamente, a discussão se a pureza, no discurso coevo, não estaria
também relacionada com um embrionário sentido de nacionalidade.

Ana Cristina Silva e António Manuel Hespanha, quando abordam a questão da


existência de uma identidade portuguesa no Antigo Regime, referem «que os Portugueses
não eram apenas isso; que eram também (e sobretudo) católicos, que eram (muito menos)
europeus, que eram hispânicos; que eram, depois, minhotos ou beirões; vassalos do rei
ou de um senhor; eclesiásticos, nobres ou plebeus; homens ou mulheres. E que, sendo
tudo isto, sem deixarem de ser portugueses, eram portugueses de uma maneira muito
menos nítida e unidimensional do que o que hoje supomos, à luz dos paradigmas de
distinção nacional (agora, em português) estabelecidos desde o século passado»170.
Omitiram, nesta definição, que os portugueses eram brancos, o que, desde sempre e não
se observando, originou suspeitas de mesclas com outras “raças”, como então se
chamavam, e que, não obstante os eventuais regionalismos (sotaques) que existissem,

163 Giuseppe Gorani, Portugal. A Corte e o . , p. 107.


164 Charles Fréderic de Merveilleux in Castelo Branco Chaves, O Portugal d e . , p. 168.
165 Ibidem, p. 149.
166 Heinrich Friedrich Link, Notas de u m a ., p. 135.
167 Giuseppe Baretti, Cartas de P ortugal., p. 158.
168 Cit. in James Murphy, Viagens e m ., p. 190.
169 Giuseppe Baretti, Cartas de P ortugal., p. 119.
170 In «A Identidade Portuguesa». In António Manuel Hespanha, «O A n tig o . », p. 19.

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Os Puritanos

partilhavam uma língua comum, capaz de distinguir efectivamente um português de um


estrangeiro, tanto pela fala, como, por exemplo, pelo nome próprio utilizado. Percebemos
então que, para o período de análise, a identidade portuguesa resultava da intersecção de
um conjunto de características, algumas exclusivas, como a língua e o nome próprio,
outras não, como a religião ou a cor de pele. É certo, e comprovamo-lo pelos relatos dos
estrangeiros que referimos acima, que estas características foram suficientes para definir
uma identidade portuguesa susceptível de análise por comparação/ oposição com outras,
não apenas europeias, mas existe da parte de historiadores e sociólogos um cuidado na
abordagem “interna” deste conceito, ou seja, enquanto identidade que nasce de uma
consciência colectiva, geográfica e socialmente transversal, e por isso, nacional.

Ainda assim, sabemos que a questão da identidade foi sendo forjada tanto «pelas
alterações políticas» como pelos «conflitos com os castelhanos»171, salientando Sobral
que a realidade portuguesa apresenta ainda «uma forte homogeneidade e expulsou ou
integrou - com violência - há muitos séculos etnias minoritárias, como os mouros e os
judeus»172. Assim, permitimo-nos questionar se correntes como o lusitanismo e o
sebastianismo - enquanto óptica mística, profética e mitológica das origem e destino do
povo português como povo eleito -, aos quais poderíamos acrescentar os puritanismos
tratados no ponto anterior, não foram, para a aristocracia portuguesa, a concretização de
uma necessidade de identificação com um sentimento puramente português, através da
criação de mecanismos de garantia da pureza das sociedade e “raça” portuguesas, com
impactos visíveis tanto na imagem que deixavam nos estrangeiros que visitavam Portugal,
como na definição das políticas e estruturas endógenas.

Principiámos o presente ponto com uma frase atribuída ao 1.° conde do Prado, D.
Pedro de Sousa, onde este deixa transparecer que, não obstante ser a maior obrigação de
um chefe de uma família fidalga o engrandecimento da sua Casa, este não deverá ser
obtido à custa do empobrecimento da qualidade sua linhagem173, o que somado ao
crescente sentimento anti-judaico e a «uma política, com alguns resultados, destinada a
promover os casamentos mistos entre fidalgos portugueses e castelhanos e, ainda, a

171 José Manuel Sobral, «A formação das nações e o nacionalismo: os paradigmas explicativos e o caso
português». In Análise Social, vol. XXXVII (165) (2003), pp. 1108-1109.
172 Idem, «Nações e Nacionalismo. Algumas teorias recentes sobre a sua génese e persistência na Europa
(Ocidental) e o caso português». In Inforgeo, 11 (1996), p. 31.
173 Um paradigma que se perdeu, de alguma forma, com as conquistas ultramarinas, como defende Ivone
Correia Alves, Gamas e Condes da Vidigueira: percursos e genealogias. Lisboa: Edições Colibri, 2001, p.
159.

Pág. 40
Parte 1 - Composição do Lugar

deslocação de muitos fidalgos portugueses para Madrid»174 nos tempos dos Habsburgos,
não será difícil enquadrar a realidade portuguesa que sai da Restauração, principalmente
em relação à sua nobreza, como extremamente sequiosa de um paradigma capaz de
marcar uma identidade indiscutivelmente portuguesa e inegavelmente pura e de se
afirmar face à muita nobreza portuguesa que se aliou, neste tempo, aos castelhanos, tendo
inclusivamente muitos deles permanecido em Madrid. Também interessantes são as
conclusões de Monteiro quando analisa o grupo dos Puritanos e conclui que, longe de
serem a maior e mais graduada nobreza do reino, é sobretudo composta por Casas
aristocráticas recém tituladas que se conseguem destacar ao apoiarem D. João IV175.

Terminamos salientando que, longe de querermos defender a existência ou não de


um sentido de nacionalidade portuguesa durante este período, a questão da identidade foi
sendo advogada recorrentemente pelos Puritanos numa tentativa de legitimação assente
na preservação da pureza dos “verdadeiros e imaculados” portugueses, não obstante o
cuidado em manter esta questão a um nível quase exclusivo da reprodução social das suas
Casas, numa tentativa de não constituir nunca, directamente, uma afronta ao poder real
que lhes custaria, como mais tarde confirmamos pela leitura do Alvará Puritano, uma
parte considerável do seu património, parecendo-nos inegável que a questão puritana, até
pelas imagens que deixou nos estrangeiros que passaram por Portugal, estará intimamente
relacionada com um entendimento de identidade capaz de justificar posições hierárquicas
privilegiadas no acesso aos principais benefícios resultantes da liberalidade régia.

174 Rui Ramos [et al.], História d e . , pp. 287-288.


175 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 133.

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Pa r t e 2 - O s P u r i t a n o s

- §-

1. O Alvará Puritano

A sua prosa não podia considerar-se um modelo de


elegância; pelo contrário, era um tanto pastosa e
pesada, mas continha ideias; boas ou más, erróneas
ou certas, vinha prenhe de ideias, coisa rara num
tempo em que os escritores e os poetas se
compraziam em discursos difusos e em versos ocos,
vazios de sinceridade e alheios a qualquer ideal
elevado}16

Foi Monteiro o primeiro a propor que os Puritanos fossem estudados a partir do


já referido Alvará de 1768177 - que marca o princípio da sua extinção enquanto tal -
proposta que seguimos no presente trabalho, não apenas por coerência historiográfica,
mas, sobretudo, porque acreditamos ser este a melhor justificação para a quase total
ausência de documentação sobre este grupo, bem como sobre a importância que lhe era
reconhecida na sociedade portuguesa do Antigo Regime, capaz de promover um
enquadramento legal contra a sua própria existência. Adicionalmente, não deixamos de
reconhecer a ironia subjacente ao facto de os documentos que tiveram como objectivo
apagar da história os Puritanos serem precisamente os mesmos propostos para
principiarem a imortalização da sua realidade nos anais da história portuguesa,
definitivamente não enquanto paradigma, mas inquestionavelmente enquanto facto.

No presente ponto debruçar-nos-emos, portanto, sobre o compêndio de legislação


pombalina produzido em 1768 com o objectivo específico de tratar o tema dos Puritanos,
tentando enformar o desenvolvimento desta segunda parte da dissertação a partir das

176 Mário Domingues, sobre o marquês de Pombal, in Marquês de P o m b a l., p. 33.


177 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 133.

Pág. 43
Os Puritanos

principais ideias e conclusões aí defendidas. Este compêndio inclui não apenas o Alvará
de 5 de Outubro de 1768 (“Alvará”), mas também o Parecer do Conselho de Estado
(“Parecer ”) e a Consulta da Mesa do Desembargo do Paço que o precedeu (“ Consulta”),
datados, respectivamente, de 3 de Outubro e de 23 de Setembro de 1768, e ainda o Termo
que fez o conde de Vilar Maior (“ Termo” em execução do Alvará, datado de 11 de
Outubro do mesmo ano 178 .

Não será de mais lembrar a complexidade política inerente ao período em análise:


se é verdade que para o Antigo Regime é o príncipe que assume o epicentro de todas as
relações de poder, enquanto cabeça de uma concepção corporativa da sociedade179, o
reinado de D. José poderá ser descrito por um centro bicéfalo, onde as fronteiras entre a
vontade do rei e a pena do marquês de Pombal são, na maioria das vezes, ténues e
imperceptíveis180 . Importante para o entendimento da legislação josefina/ pombalina está
o facto, sustentado por Pombal, «que a majestade não consistia somente na pessoa do rei,
mas também nas suas leis» 181, que importa ter presente de uma forma especial neste
estudo uma vez que, por um lado, nos permite intuir o empenho do ministro de D. José
em reflectir o seu ideário político através das suas leis e por outro, apercebermo-nos da
mudança que se está a operar na sociedade portuguesa, nomeadamente na substituição do
paradigma corporativo pelo regalismo, que se começa a operar no consulado
pombalino 182.

Talvez um dos aspectos mais desafiantes numa análise ao compêndio de


legislação pombalina relativo aos Puritanos seja o seu enquadramento temporal na acção
política do ministro de D. José. É certo que os dois vectores maiores desta mesma acção
política podem ser encontrados como fundamento do próprio Alvará, tanto a
“domesticação” da Nobreza - intimamente ligada à secularização do poder político -,
como, paralelamente, a tentativa de eliminar da sociedade portuguesa quaisquer
distinções entre cristãos meramente baseadas na duração temporal da sua conversão. Mas
se relativamente ao primeiro, o grande apogeu do controle da nobreza ocorre com o
Processo dos Távoras em finais da década de 50 do século XVIII (permanecendo muitos

178 Cf. Anexo 2. Doravante utilizaremos as referências a itálico, seguidas do número da página a que
respeitam, com base na versão de António Delgado da Silva (org.) - Supplem ento.
179 Angela Barreto Xavier e António Manuel Hespanha - «A Representação d a . , pp. 114-116.
180 Nuno Gonçalo Monteiro, D. J o s é ., pp. 9-12.
181 Rui Manuel de Figueiredo Marcos, A L egislação., p. 100.
182 Angela Barreto Xavier e António Manuel Hespanha, «A Representação d a . pp. 124-125. António Leite
defende também a ideia de «regalismo exacerbado», in António Leite, A Ideologia., p. 3.

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Parte 2 - Os Puritanos

aristocratas presos até à morte de D. José), já o segundo só é efectivado em 1773 com a


legislação contendo o fim da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos. Em 1768, e
não obstante encontrarmos em algumas colectâneas de legislação a assunção de que este
Alvará se enquadraria no segundo vector acima referido183, não encontramos vestígios de
uma motivação maior de Pombal, ou do rei, existindo apenas uma correlação temporal
com a publicação da Dedução Chronológica e Analítica (1767) e a criação da Real Mesa
Censória e a abolição dos róis de fintas, as listas relacionadas com o pagamento de
impostos dos cristãos-novos, em Abril e Maio de 1768184, respectivamente, ou com o
casamento não consumado do conde da Redinha, filho segundo de Pombal, com D. Isabel
Juliana de Sousa Coutinho, em Abril de 1768. Maxwell avança ainda com a hipótese da
legislação pombalina contra os Puritanos se enquadrar no âmbito «de um processo de
enobrecimento dos colaboradores de Pombal, recrutados entre mercadores e homens de
negócios que participavam nas empresas com apoios estaduais»185, o que dificilmente
poderia ser considerada uma questão de ingresso na aristocracia de Corte.

Voltando ao compêndio de legislação relativa aos Puritanos, este encontra-se


sustentado nos estatutos da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento da
Freguesia de Santa Engrácia que, como já referimos, tinha sido criada para expiar o
desacato ao Santíssimo Sacramento ocorrido na Igreja da mesma freguesia, em 19 de
Maio de 1630, sendo composta pela «primeira, e mais graduada Nobreza» 186. De acordo
com o texto do Alvará, estes estatutos teriam sido alterados, em 1663, passando a
incorporar, no seu capítulo 5.°, que «A Eleição [de novos membros] se fará nomeando
cada hum dos doze, huma pessoa para irmão, declarando debaixo dejuramento, que tem
recebido, que não se lhe falou na dita pessoa para a propor, e que a tem por Christão
Velho sem nunca se entender o contrario» 187, entendido este como sendo «sem fama ou

183 Nomeadamente, e como já referido, a colectânea em BNP, COD. 6937.


184 Jorge Martins, Portugal e o s . , p. 213.
185Para Kenneth Maxwell, tal poderia ser demonstrado pelo facto de um desses homens de negócio da praça
de Lisboa, Joaquim Inácio da Cruz, ter recebido, em 1768, «o título de Sobral e as propriedades a ele
vinculadas», o que julgamos tratar-se de um equívoco uma vez que Joaquim Inácio da Cruz só terá
adquirido terras na Vila de Sobral de Monte Agraço em 1770, datando a instituição deste morgado de 19
de Dezembro de 1776185. Adicionalmente, já desde 1763 que o seu irmão, José Francisco da Cruz, seria
Cavaleiro Fidalgo da Casa Real185, ao qual se seguirá Joaquim Inácio em 5 de Janeiro de 1769, esta data já
temporalmente correlacionável com a do Alvará185, sendo que à data, releva acrescentar, j á exercia os cargos
de Tesoureiro-mor do Erário Régio, Provedor da Junta do Comércio e Conselheiro da Fazenda Real.
Kenneth Maxwell, O Marquês d e . , p. 170 e Mário Eurico Lisboa, O Solar do Morgado da Alagoa. Os
irmãos Cruz e os significados de um património construído (segunda metade do século XVIII). Lisboa:
Edições Colibri, 2009, pp. 95-101.
186 Consulta, p. 188.
187 Alvará, p. 182.

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Os Puritanos

rumor em contrario verdadeira ou falsa», parecendo este acrescento resultar da


interpretação, resultante da tradição, da fórmula e não da sua redacção188. Este facto
parece confirmado também pela visão de Baretti que em 1760 escrevia que «a incessante
diligência da Inquisição em detectar judeus, fá-los redobrar as artes de se encobrirem e (o
que completa a desgraça) multiplica a superstição e fomenta a hipocrisia»189. Tentaremos
perceber a importância desta Confraria na sociedade portuguesa do Antigo Regime no
ponto 3.° da presente parte, cumprindo apenas referir os Estatutos enquanto
enquadramento e mote sobre o qual se desenvolve toda esta legislação contra o
puritanismo, uma linha de desenvolvimento de um raciocínio que nem sempre resulta
clara, confirmando-se aqui, mais uma vez, a vitória do pragmatismo sobre a coerência do
discurso na acção de Pombal.

Ainda assim, e parecendo confirmar uma coerência cronológica na acção de


Pombal, no texto da Consulta, identifica-se, sobretudo, uma linha de continuidade com o
texto da Dedução Chronológica e Analítica - publicado um ano antes por José Seabra da
Silva190 (cuja autoria é comummente aceite, pelo menos em parte, como sendo de Pombal)
- que defendia a existência de um «Sinédrio Jesuítico» que teria estado por detrás de todas
as grandes alterações políticas e sociais ocorridas em Portugal desde a entrada da
Companhia de Jesus no país, ainda no século XVI, tais como a união dinástica, a
Restauração e o afastamento do rei D. Afonso VI do poder, apenas para referirmos
algumas. Certo é que no compêndio pombalino dos Puritanos apenas um nome é referido:
o do jesuíta Nuno da Cunha191.

A proposta de apresentação de um jesuíta como um homem de Corte não é


inédita192. A sua presença constante nas principais cortes da Idade Moderna - na Europa

188 Consulta, p. 188. Nuno Gonçalo Monteiro refere ainda que esta fórmula se encontraria reproduzida
transversalmente na sociedade portuguesa, e que, a ser verdade, talvez o puritanismo exagerado se encontra
mais na forma da sua efectivação pelos responsáveis pela eleição do que, outra vez, da sua redacção. In
C repúsculo., p. 141.
189 Giuseppe Baretti, Cartas de P ortugal., p. 160.
190 José Seabra da Silva, Deducção Chronologica, e Analytica. Parte Primeira, na qual se manifestão pela
successiva serie de cada hum dos Reynados da Morarquia Portugueza, que decorrêrão desde o Governo
do Senhor Rey D. João III. até o presente, os horrorosos estragos, que a Companhia denominada de Jesus
fez em Portugal, e todos seus Dominios, por hum Plano, e Systema por ella inalteravelmente seguido desde
que entrou neste Reyno, até que foi delle proscripta, e expulsa pela justa, sabia, e providente Ley de 3. de
Setembro de 1759, 3 Volumes. Lisboa: Na Officina de Miguel Manescal da Costa, 1767-1768.
191 Consulta, p. 188. Na verdade são referidos mais três nomes, a saber: Mariana de Mendonça, Fernão
Teles da Silva e D. Manuel da Cunha, todos estes, no entanto, pela relação que tinham com o Pe. Nuno da
Cunha (respectivamente, irmã, cunhado e irmão).
192 Leia-se, por exemplo, Jonathan Wright, Os jesuítas: missões, mitos e histórias. Lisboa: Quetzal, 2005,
p. 16; Dauril Alden, The Making o f an Enterprise. The Society o f Jesus in Portugal, its Empire, and Beyond
1540-1750. Stanford: Stanford University Press, 1996, p. 229; ou Georg Schurhammer, Francisco Javier:

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Parte 2 - Os Puritanos

e fora dela - cedo instituiu o “saber estar” em Corteo parte integrante da formação de um
jesuíta, não obstante o facto, tão frequentemente observado, desse “saber estar” fazer já
parte da educação de muitos deles à data de entrada na Companhia. Um cunho
marcadamente aristocrático - que ganhou também uma dimensão aristocratizante - que
figuras como Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Francisco de Borja e Luís de Gonzaga,
só para referirmos alguns, vieram perpetuar.

É precisamente esta característica dual de muitos dos jesuítas (nobres e religiosos)


que leva a que se considere sempre as duas hipóteses na análise da influência que a
Companhia de Jesus teve no governo do reino durante este período, sendo certo que,
independentemente de resultar de uma acção individual de alguns padres ou de uma
política concertada da ordem religiosa, sempre foi associada ao todo, mesmo
comprovando-se que, em determinados momentos, este não foi coeso. Salientamos ainda
que muitos dos ofícios que alguns padres jesuítas foram assumindo junto da Casa Real
resultavam de estimas pessoais dos monarcas e não tanto de opções políticas favoráveis
à Companhia de Jesus, uma realidade à qual o Pe. Nuno da Cunha não foi alheio quando
afastado da Corte pela rainha regente D. Catarina de Gusmão, sendo substituído por outro
jesuíta com quem estava em conflito193, não obstante ser amplamente referido no texto da
Dedução, nomeadamente como o homem «cujas forças, e maquinações ficão bem
manifestas nos dous Reynados próximos precedentes [D. João IV e D. Afonso VI]; e que
neste [D. Pedro II], de que estou tratando, fez os estragos, que logo se verão com tanto
sentimento, como horror»194.

Talvez por este motivo resulte pouco clara ou forçada a ideia defendida acima
sobre a existência de um Sinédrio Jesuítico, não obstante a influência inegável que a
Companhia teve no período em análise, transversal a toda a sociedade, e que vem bem
descrita pelo francês Teófilo Daupineaut quando refere, para o reinado de D. Pedro II,
que « C ’est donc sur troispersonnes que repose le gourvernement du Portugal, le Roy, le
Duc de Cadaval, et le Marquis d ’Allegrette; sans parler ici des Jésuites»195. Mas terá
sido, sem dúvida, a publicação dessa obra de referência no discurso anti-jesuítico da época
que levou à inclusão do nome do Padre jesuíta Nuno da Cunha no Alvará, quanto mais

su viday su tiempo, trad. Félix de Areitio Ariznabarreta... [et al.]. Bilbao: Mensajero, 1992, Vol. II, p. 201,
para o exemplo de Francisco Xavier.
193 Francisco Rodrigues (S.J.), História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, 4 Tomos. Porto:
Livraria Apostolado da Imprensa, 1931-1944, pp. 509-510.
194 José Seabra da Silva, D edução., Divisão X, §. 395, p. 225.
195 Edgar Prestage, «Memórias s o b re . », p. 18.

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Os Puritanos

não fosse pela quantidade da sua correspondência e publicações que aparece enquanto
fundamento da teoria defendida por Pombal na mesma obra e, mais ainda, pela ligação
do Pe. Nuno da Cunha à Mouraria, um bastião do puritanismo 1 9 6 , tanto por ser a casa
onde terá nascido e onde cresceu, como enquanto cunhado que foi do primeiro conde de
Vilar Maior.

Mas o texto da Consulta consagra ainda outros ideais pombalinos que vão além
da mera oposição à acção da Companhia de Jesus em Portugal e no mundo, como o da
sujeição do príncipe à sua nobreza ou a promoção de uma nobreza enfraquecida incapaz
de cumprir a sua função de engrandecimento do “Estado” e do seu príncipe. Um ponto
também relevante no texto da Consulta é a assunção da prática do puritanismo -
«ordenada a semiar sizanias na mesma Nobreza, para levantar no meio della sedições, e
discórdias, e para denegri-la com injurias tão atrozes, e offensivas da paz publica de
Minha Corte, como da Magestade da Minha Corôa, da Authoridade do [sic] Meus
Tribunaes, e das causas por elles julgadas, cuja inviolavel observancia constitue hum dos
mais solidos fundamentos do socego dos Povos»197 - enquanto crime de lesa-majestade.
Se o texto da Consulta generaliza a acusação sobre a prática deste crime por todos os que
envolve na prática do puritanismo - jesuítas e Puritanos -, o Parecer, enquanto
documento de consulta do Conselho de Estado (que, acreditamos, ainda no tempo de
Pombal, seria mais permeável e sensível à questão dos Puritanos), não hesita em isentar
os actuais que «tem seguido o mesmo puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma
geral preocupação, que achárão estabelecida», sugerindo que o crime cometido pelos seus
antepassados fosse remetido a um «profundo silêncio» e que a benignidade do rei se
manifestasse na manutenção, pelos actuais, das suas Casas, sujeita ao cumprimento do
estabelecido no Alvará. Já o Alvará opta por não elaborar a questão da manutenção da
prática do crime de lesa-majestade pelos actuais Puritanos (mantendo inalterável, no
entanto, todo o discurso anti-jesuítico), insistindo, sobretudo, na ideia sobre a prevalência
da vontade do príncipe sobre a sua nobreza e o quanto a prática do puritanismo atenta
contra a mesma, ordenando que se cumpram seis acções relativamente a esta questão,
entre elas: a obrigação de todos os Puritanos em idade de casar que o fizessem, no espaço
de quatro meses, fora do grupo, perdendo as suas Casas, caso não cumprissem esta
decisão, todos os bens da Coroa e Ordens de que dispunham; a elaboração de novos

196 Ideia que defenderemos adiante, mas que poderá ser confirmada por ser uma das Casas mais procuradas
para casamentos por outras, de acordo com Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., pp. 132-133.
197 Alvará, pp. 181-182.

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Parte 2 - Os Puritanos

Estatutos da Confraria sem quaisquer laivos de puritanismo e, por fim; a manutenção do


secretismo do Alvará que deveria ser seguido da publicação de outro, público, onde se
impedisse a publicação de quaisquer textos resultantes dos processos de habilitações às
Ordens Militares Religiosas ou ao Santo Ofício que pudessem por em causa o julgamento
quanto à nobreza ou limpeza de sangue de qualquer pessoa198.

2. O Relatório do Monsieur de Torcy

Les fidalgues portugais sont persudés q u ’il n ’y a


point au monde de meilleur noblesse que la leur. On
ne leur parle dès leur infance que de la grandeur de
leurs maisons.199

Ainda hoje se encontra na Biblioteca Nacional de França, no Départment des


manuscripts, Recueil de copies de memóires diplomatiques, em francês, com a cota 7120,
um documento intitulado «Estat du royaume de Portugal faict à la fin de l ’année 1684»
(fol. 41). O conhecimento deste documento por parte dos historiadores portugueses data,
pelo menos, de 1827, com a publicação, pelo segundo visconde de Santarém, de um
resumo dos documentos com referência a Portugal presentes, entre outros, na actual
Biblioteca Nacional de França200. Um século depois, em 1926, Ayres de Sá publica um
artigo de cariz eminentemente rácico, num suplemento aos Anais das Bibliotecas e
Arquivos, sobre uma pretensão alemã relativa à aquisição de Angola e Moçambique a
Portugal, com uma referência à obra alemã Die Deutschen Kolomien, de 1913 mas que
teria sido reeditada por essa altura, onde se dizia dos portugueses, e da sua capacidade de
gestão dos territórios coloniais, que «a sua mistura com os indígenas africanos agravou
os sinais de degenerescencia que tem justificado a denominação de negros-brancos dada

198 Através da análise do compêndio de legislação presente em António Delgado da Silva (org.), Collecção
d a . , não conseguimos identificar a execução desta decisão resultante do Alvará que, sem dúvida, ajudaria
a uma mais clara associação deste compêndio de leis no fim da distinção entre cristãos-velhos e cristãos
novos.
199 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma R ela çã o ., p. 78.
200 Noticia dos Manuscriptos Pertencentes ao Direito Publico Externo Diplomatico de Portugal e á
Historia e Literatura do Mesmo Paiz que Existem na Bibliotheca Real de Paris e Outras da Mesma Capital,
e nos Archivos de França, examinados, e coligidos pelo Segundo Visconde de Santarém, Lisboa,
Typographia da Academia Real das Sciencias, 1827, pp. 60-64.

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Os Puritanos

aos portugueses em África»201. Este é, então, o mote para que, em nota de rodapé,
introduza a parte deste documento relativa ao f. 87 - Families des fidalgues de Portugal
- 1684 (apresentando-a em forma de resumo), onde discorre sobre os reparos das
principais linhagens portuguesas, acrescentando que a mesma teria sido «conhecida, mas
não publicada» pelo visconde de Santarém com vista à protecção da sua própria
ascendência202, concluindo «que, desde o século XVII, os títulos de barão a duque, em
Portugal, são um indício de judaismo e moirismo que desaparecerá, com esses títulos, se,
um dia, se levantar a questão semita».203

Quanto à autoria do referido documento, o visconde de Santarém refere-se ao


autor por «este Ministro», não concretizando quem seria ou se acreditava, como Ayres de
Sá, que era parte integrante do documento que, em termos de fólio, o precedia, ou seja,
as Memoires de Mr. le Comte de la Vaugoion sur ce qui s ’est passé pendant son
ambassade en Espagne en 1683 et 16832 0 4 , atribuindo por isso a sua autoria ao conde de
la Vauguyon205, não obstante o documento que se seguia ser da autoria de M. de
Guénegaud206, podendo, desde logo, ter sido levantada a dúvida sobre a sua autoria, o que
veio a acontecer posteriormente.

Também importa salientar a crítica que, em 1940, o padre Carlos da Silva Tarouca
faz ao texto de Ayres de Sá, centrando-se no resumo deste e por análise do texto original
presente na Biblioteca Nacional de França207. Finalmente, só em 1960 o texto original do
«Estat du royaume de Portugal faict à la fin de l ’année 1684» é integralmente publicado,

201 Ayres de Sá, «Dois liv ro s .» , pp. 56-76.


202 Indiscutível é o facto de, sobre o documento, o visconde de Santarém apenas referir que «São mui
notáveis as opiniões politicas deste Ministro a nosso respeito, e o interesse, que parecia tomar, em que
perdessemos a independencia, que conquistámos na glorioza guerra da Acclamação, triunfando
constantemente de Castella [ . ] Foi, sem duvida, em consequencia da errada opinião, que aquelle Ministro
fazia da Nação Portugueza, que elle ordenou o referido esboço Statistico-Politico, e talvez de accordo com
o Ministerio Hespanhol, para dispôr a França, no cazo de nova invazão de Castella em Portugal.», in Noticia
dos Manuscriptos Pertencentes., p. 60.
203 Ayres de Sá, «Dois liv ro s .» , p. 61. Salienta-se que, para o presente trabalho, o interesse deste texto se
centra exclusivamente no conhecimento que, desde o visconde de Santarém, se tem sobre o texto do «Estat
du royaume de Portugal faict à la fin de l ’année 1684» que ora analisamos, não representando o seu
conteúdo nada mais do que uma argumentação sobre questões rácicas, que voltavam a estar em voga no
tempo a que o texto se reporta.
204 BNF, Département des manuscrits, cota 7120, f. 1. Recueil de copies de mémoires diplomatiques, em
francês.
205 Que de acordo com Ayres de Sá, seria Antoine de Quélen de Stuer de Caussade, conde depois duque de
la Vauguyon (1703-1772), se bem este, como vemos, apenas nasceu em 1703 o que torna impossível ter
escrito um texto sobre a corte portuguesa em 1 6 8 4 . Assim, acreditamos tratar-se de André de Béthoulat,
conde de la Vauguyon e embaixador de França no período compreendido entre 1630 e 1693.
206 Mémoires sur le mariage de llnfante de Portugal, par M. de Guénegaud. BNF, Département des
manuscrits, cota 7120, f. 113. Recueil de copies de mémoires diplomatiques, em francês.
207 Carlos da Silva Tarouca, «História da R aça .» .

Pág. 50
Parte 2 - Os Puritanos

pela mão de Joaquim Veríssimo Serrão, altura a partir da qual podemos assumir que o
seu conteúdo passa a estar à disposição dos historiadores portugueses e entra,
definitivamente, para as fontes de historiografia portuguesa relativas ao reinado de D.
Pedro II.

É precisamente Serrão quem vem questionar a autoria do texto, concluindo que a


mesma deveria ser atribuída ao marquês de Torcy, Jean-Baptiste Colbert, aquando da sua
passagem por Portugal, em 1684, enquanto enviado extraordinário do rei Luís XIV de
França, para assistir nos eventuais problemas diplomáticos que a rejeição da infanta D.
Isabel pelo duque de Sabóia poderiam ter causado às relações entre os dois países208.
Certo é que, até ao grande estudo de Monteiro, amplamente referido neste trabalho, parece
não ter existido um interesse por parte dos historiadores portugueses em testar a hipótese
sugerida por este documento, ou seja, a da existência de uma característica fracturante no
seio da aristocracia portuguesa, capaz de influenciar relações e alianças, com claros
impactos ao nível da reprodução social das Casas aristocráticas.

Não é, no entanto, inédito o interesse dos estrangeiros que passavam por Portugal
pela estrutura da sociedade portuguesa, devendo ser esclarecido que se à maior parte dos
relatos de estrangeiros que hoje em dia conhecemos interessavam sobretudo os usos e
costumes dos portugueses - podendo discriminar, ou não, o caso particular dos Grandes
da Corte - para os diplomatas, o peso e a influência da aristocracia junto do rei e da Corte
(bem como as suas características mais distintivas) eram frequentemente observados nos
relatos que enviavam para os seus países de origem, levando, inclusivamente, à
preocupação de D. Luís da Cunha quando afirmava que quando chegava um estrangeiro
à Corte, «cada [Casa] (...) informa do bom da sua família, e do máo das outras: e assim
sabem, o que chamamos os podres de todas»209.

A parte do Relatório relativa às famílias fidalgas de Portugal encontra-se dividida,


também ela, em duas partes: uma primeira, que se centra num dos critérios de definição
de grandeza que influencia directamente a reprodução social do grupo, a limpeza das
Casas; e uma segunda parte em que divide a nobreza portuguesa em vinte e uma linhagens

208 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R ela çã o ., pp. 1-18.


209 D. Luís da Cunha, Instruções In éd ita s., p. 94. Salientamos que se tal afirmação nos ajuda a enquadrar
as fontes para a elaboração do Relatório, nada podemos concluir quanto ao facto de se ter baseado apenas
numa fonte ou, pelo contrário, ter cruzado fontes distintas que lhe permitissem elaborar um critério capaz,
nomeadamente, de ser critico em relação a muitas das informações que ia recolhendo na corte portuguesa.

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Os Puritanos

(identificadas pelo apelido) e, para cada, refere quem são os seus descendentes por
varonia e que reparos ou mesaliances2 1 0 podem ser atribuídos às mesmas.

De acordo com Torcy, podia imputar-se à nobreza portuguesa as mesmas


preocupações que se imputavam à mulher de César, que mais do que sê-lo, era importante
parecê-lo, motivo pelo qual os portugueses faziam uso indistinto dos apelidos dos seus
antepassados, tentando com isso ocultar qualquer defeito que outro apelido pudesse trazer
à sua Casa. Acrescenta ainda que estes defeitos tanto poderiam provir de mesaliances -
apesar de salvaguardar que, quando muito antigas, teriam menos influência - como de
sangue judeu ou mouro «qui ne s ’effacentjamais» e estes sim geradores de reparos nas
linhagens das principais famílias portuguesas.

Ao todo, Torcy elenca treze reparos que são identificáveis nas principais
linhagens portuguesas: Aragão, Azambuja, Bocanegra, Brandão, Caiada, Granada,
Zuzarte, Lucena, Lafetá, Pinheiro, Talaveira, Torres e Zurriga, nomes pelos quais,
acreditamos, seriam reconhecidos no período que ora estudamos. Adicionalmente,
identifica ainda, na descrição das principais famílias de Portugal, o de Bobadilha, sem
esquecer a menção ao reparo genérico de judeu. Deixaremos a proposta de identificação
do grupo para o ponto quatro deste capítulo, centrando-nos agora nestes reparos, tentando
estabelecer pontes entre o Alvará, os Estatutos da Confraria dos Escravos de Santa
Engrácia e as fontes utilizadas neste Relatório, incluindo a tentativa de identificação de
algum sentido crítico por parte do seu autor.

A primeira ponte deverá ser estabelecida com a única parte do texto dos Estatutos
da Confraria dos Puritanos que conhecemos que, no fundo, acaba por ser um reflexo do
quanto os puritanismos influenciavam transversalmente o dia-a-dia da sociedade do
Antigo Regime: «a fama, ou rumor em contrario, verdadeira ou falsa». Esta condição
poderá ser enquadrada no facto de, ainda que o rumor fosse entendido por
esclarecidamente falso, continuava por explicar o que lhe tinha dado origem, podendo
entender-se que onde há fumo, há fogo, e este motivador de um acção capaz de manchar
toda uma descendência, o que, em ambos os casos, seria considerado um atentado à sua

210 Assumiremos sempre a apresentação deste termo em francês, reconhecendo que o sentido que Torcy lhe
dava vai para além da sua tradução literal, “más alianças”, centrando-se sobretudo num conceito
amplamente tratado pela genealogia: os casamentos desiguais, que estavam relacionados com a realização
de um casamento abaixo da condição social de um dos nubentes.

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Parte 2 - Os Puritanos

nobreza, adquirindo assim o mesmo valor, tornando a verdade, ou a percepção dela, um


elemento de análise meramente circunstancial.

Outra ressalva que pode ser feita ao texto de Torcy, ainda que mais subtil, prende-
se não tanto com os reparos em si, mas com a origem da linhagem, o que não deverá ser
considerado como um pormenor, uma vez que muitos destes rumores escondiam também
invejas e maledicências que sempre foram utilizadas pela nobreza enquanto formas de
auto-regulação e defesa do grupo, concretizadas, nomeadamente, na sua participação
activa tanto na Mesa de Consciência e Ordens como no Tribunal do Santo Ofício. Assim,
e no que respeita às linhagens que perpetuaram estes reparos, podemos concluir que duas
delas, Aragão e Granada, descendiam de reis, cinco, Bobadilha, Bocanegra, Pinheiro,
Talaveira e Zuniga, de linhagens nobres, e as restantes sete, Azambuja, Brandão, Caiada,
Juzarte, Lucena, Lafetá e Torres, de mercadores ou heróis dos descobrimentos, em ambos
os casos de homens reconhecidamente enobrecidos.

Recorrente era também a associação de famílias oriundas de Espanha com o


judaísmo, como fica claro no texto do Relatório, quer quando refere «tous les Espanholes
qui viennent en Portugal sont ordinairement Juifs»211, a respeito do reparo Bocanegra,
ou a respeito do reparo Bobadilha «comme le nom de Bobadilla est un desfault en
Espagne, l ’alliance des Saldanhe est regardée en Portugal comme un desfault»212.

Parecem-nos, assim, saltar à vista duas primeiras conclusões sobre o relatório: a


primeira de que, confirmando o entendimento de Monteiro213, Torcy estaria de facto
muito bem informado sobre esta particularidade da nobreza portuguesa (o suficiente, pelo
menos, para a considerar digna de ser transmitida à Corte francesa); e a segunda,
resultante da primeira, de que o marquês de Pombal tinha razão quando referia que
«fazendo-se crer aos Estrangeiros, que vivem nesta Corte, que em Portugal só ha pureza
de sangue naquellas poucas Casas, ficão persuadidos, que a mesma Nobreza, se compõe
só daquelle pequeno numero de Familias Christãas velhas, e que todas as outras são
maculadas com sangue Hebreo»214, não deixando, por isso, de ser curioso o facto de uma

211 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R ela çã o ., p. 79.


212 Ibidem, p. 101. Não será de excluir a possibilidade desta posição anti-espanhola ser ainda um resquício
do período imediatamente anterior à Restauração que, entre outros, «conferiu um tom xenófobo a vários
dos livros que foram então publicados». Pedro Cardim, «Estatuto territorial e debate político em Portugal
e no mundo ibérico (séculos XVI-XVII). In Artur Teodoro de Matos, João Paulo Oliveira e Costa e Roberto
Carneiro (coord.), História. Portugal e Espanha. Amores e desamores, Vol. 1. [Lisboa]: Círculo de
Leitores, 2015, p. 395.
213 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 135.
214 Alvará, p. 182.

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Os Puritanos

importante parte da história deste grupo da aristocracia portuguesa ter sido perpetuada
nos anais da história justamente através dos relatos destes estrangeiros.

3. A dignidade real

Que! Algum barbadão? Diga o padre que sou rei; o


mais não importa. A dignidade real é a pia baptismal
dospeccados originaes.215

Escreve-nos Bourdieu que «o poder simbólico como poder de constituir o dado


pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do
mundo [...] só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário»216 . Este
foi, também, o poder detido pelos reis durante o período que abordamos. Poderíamos
discutir a efectividade deste poder e facilmente concluiríamos que esta não foi constante
e, como já referido, resultou, no caso português, da oscilação entre períodos aristocráticos
e absolutistas, onde nem um nem outro termo alguma vez chegaram a produzir os efeitos
que muitos tentaram, em vão, defender. A ideia central que pretendemos defender neste
ponto é a da importância do rei na sociedade do Antigo Regime enquanto, sobretudo,
legitimador, formal e informal, directa e indirectamente, de todo e qualquer «sistema
simbólico»217 que possa ser identificado, o que, para este trabalho se prende sobretudo
com a importância de garantir a manutenção de um rei puritano no topo da hierarquia
social.

Torcy, ao descrever o defeito de Granada, refere que «Muley Abul Hazen


vingtiesme Roy de Grenade eut deux fils bastards [...]. Ceux qui son descendants, outre
la tache de Maometisme [do seu pai], ont encore celle de Judaísme [da sua mãe]. Cette
dernière est la plus considerable»218 . No entanto, abaixo do Termo, encontramos uma
nota219 referindo que igualmente o teriam feito, entre outros, Fernando de Miranda, que

215 Resposta de D. João V a D. António Caetano de Sousa, reagindo aos “embaraços” deste. Camilo Castelo
Branco (introdução e notas), M em orias., p. 156.
216 Pierre Bourdieu, O P o d e r . , p. 11.
217 Ibidem, p.7.
218 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R ela çã o ., p. 79.
219 Salientamos o facto de na nota à versão do Termo presente no Supplemento á Collecção d e . , apenas
vir referido que «Identicos Termos assignárão em os dias seguintes o Ex.mo Marquez de Valença, e de

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Parte 2 - Os Puritanos

supomos ser Fernando de Miranda Henriques, 2.° conde de Sandomil, casado com
Violante Josefa de Melo, descendente de uma família a quem Torcy imputava o reparo
Granada, mas que não era, por esse via, impedido de ser identificado como puritano, o
que parece indicar uma desconsideração deste reparo enquanto tal, permitindo-nos
questionar se tal não se poderia dever à sua origem real, ideia que defenderemos no
próximo ponto220
220 .

Também em relação à Casa Real Portuguesa, conforme a reacção de D. João V ao


Pe. D. António Caetano de Sousa em epígrafe, existia um rumor que punha em causa a
intemporalidade da sua limpeza de sangue. Na sua obra História Genealógica da Casa
Real Portuguesa o Pe. D. António seguiu, na íntegra, as recomendações do rei
esclarecendo que «os filhos illegitimos dos Reys qualificam a nobreza de sua mãy na Real
ascendencia do pay»221 , acrescentando «naõ duvidará ninguem, que quando a mãy do
Senhor D. Affonso necessitasse de nobreza, poder tinha seu pay, e seu filho, para lhe
conferirem a mais superior origem»222 , continuando, no entanto, a sentir necessidade223
de confirmar quem seria, afinal, este Barbadão que veio a ser ascendente de reis, o que
fez com recurso a inúmeros nobiliários, concluindo que «concordaõ os Genealogicos ser
homem honrado, de bom, e civil nascimento»224 . A verdade é que o Barbadão povoou,
durante séculos, o espírito de todos os que desejavam, de alguma forma, criticar a Casa
de Bragança, berço também das mais importantes casas aristocráticas portuguesas, como
a dos duques do Cadaval ou a dos marqueses de Valença. Avô materno do primeiro duque
de Bragança, que era filho natural do rei D. João I e de D. Inês Pires, ficou este homem
para a história como embaraço de uma ascendência que se queria imaculada, apesar de
não se encontrarem referências claras ao motivo do mesmo, apenas a sombra de uma
cristã-novice não provada, não desmentida. Torcy, por exemplo, conclui que «il estoit
cordonnier de Veiros dans la province d’Alentéje»225 , não sabendo se pretendia apenas

Angeja, e outros Fidalgos», p. 191. Já na versão manuscrita que se encontra na BNP, o texto refere que
«Seguem-se outros Termos que assignarão o Ill.mo e Ex.mo D. Joze Miguel João de Portugal Marquez de
Vallença em Ex.am do Alvará de Ley de cinco do corrente mês de Outubro. E o Ill.mo e Ex.mo D. Pedro
de Noronha Marquez de Angeja, e do Monteiro Mor do Reyno Francisco de Mello, e de Fernando de
Miranda», BNP, COD. 6937, fol. 15. Já na Torre do Tombo encontrámos todos os Termos referidos no
documento da BNP, in ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, doc. 4.
220 Ideia idêntica não pode ser defendida, tout cours, para o reparo de Aragão dado que não existia nenhuma
Casa apenas com este reparo.
221 D. António Caetano de Sousa, História Genealógica., Tomo II, Livro III, p. 26.
222 Ibidem.
223 Confirmado pelo facto de dedicar 10 páginas ao assunto, Ibidem, pp. 26-36.
224 Ibidem, p. 27.
225 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R ela çã o ., p. 98.

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Os Puritanos

referir, como o fez para tantos outros, uma basse naissance ou se, e dada a «participação
fundamental nas actividades artesanais» dos judeus na sociedade portuguesa do século
XV226, nomeadamente como sapateiros, pretendeu subentender o que dificilmente muitos
correriam o risco de deixar por escrito: que o rei português descendia de um judeu.

Reconhecido é o esforço encetado por linhagistas e genealogistas no sentido de


preservar o sangue real limpo de qualquer mácula, fenómeno reproduzido pela nobreza
que inundava os livros de linhagens, os processos do Santo Ofício e as habilitações aos
hábitos das Ordens Religiosas Militares de termos como gente limpa, limpo de sangue,
limpo de toda a nação infecta2 2 7 ... Deste tipo de comentários não escapavam os reis, ou
melhor, as mães dos bastardos reais, não fosse dar-se o caso de se ter de recorrer, como
no passado, como bem lembrava ao marquês de Marialva o marquês de Saint Romain, a
um destes neófitos para perpetuar a continuidade da Casa Real228, motivo pelo qual a sua
legitimação esteve muitas vezes condicionada à pureza do sangue de suas mães.

Uma das ideias que defenderemos ao longo deste trabalho e que resulta mais de
uma sensibilidade do que de constatações inegáveis assentes em factos concretos, é a de
que a relação da sociedade do Antigo Regime, em particular da nobreza, com os
puritanismos atrás identificados, de sangue e de nobreza, existia enquanto alimento de
um mecanismo de defesa e legitimação229 de uma posição (hierarquia) num espaço social
que se queria estanque e imutável. Esta ideia permite-nos perceber, por um lado, o facto
de a adesão ao sentimento puritano não ter sido constante ao longo de todo o período,
existindo uma clara correlação temporal entre os períodos de maior pressão dos cristãos-
novos em Roma para obtenção de um perdão geral do Papa e a existência de desacatos ao
Santíssimo Sacramento, e a observação de posições mais conservadoras na Mesa de
Consciência e Ordens ou no Tribunal do Santo Ofício230; e por outro, na pressão exercida
sobre o rei - nomeadamente através de estruturas como as mesmas Mesa de Consciência
e Ordens e Tribunal do Santo Ofício, mas também, podemos supô-lo, de confrarias como
a dos Escravos de Santa Engrácia - na manutenção de um status quo social que, com a

226 Jorge Martins, Portugal e o s . , p. 131.


227 Maria Beatriz Niza da Silva, D. João V . , pp. 58-60.
228 Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I . , p. 85.
229 Para o caso português, António de Oliveira, M ovim entos., pp. 326. Já em René Rémond, Introdução à
História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias. Lisboa: Gradiva, 2009, p. 49, encontramos
a generalização desta ideia para todo o período do Antigo Regime, impossibilitando, por exemplo, a
ascensão social da Burguesia.
230 Cf., por exemplo, António de Oliveira, M ovim entos., pp. 320-340.

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Parte 2 - Os Puritanos

ascensão de cristãos-novos e de judeus, se via ameaçado, defendendo um contrato antigo


estabelecido entre o rei e os seus pares, obrigando-o à preservação da sua nobreza231.

No caso concreto da primeira nobreza de Corte parecem-nos existir dois vectores


maiores de análise na identificação da consolidação destes mecanismos de defesa e
legitimação de uma posição social. Um primeiro respeita ao próprio processo de
curialização que resulta na migração da principal nobreza do reino para Lisboa,
abdicando assim de parte da sua autonomia financeira e social, realidade que subsistia
somente por contraposição à concentração da maior parte dos bens da Coroa e Ordens
neste reduzido grupo de Casas, tornando indiscutível o facto de, à data do Alvará,
nenhuma destas estar em condições de arriscar perder uma parte substancial do seu
património. Este, aliás, poderá ter sido o motivo pelo qual todas as Casas puritanas
compareceram na secretaria de Estado, cumprindo o estabelecido no Alvará tão
cabalmente como lhes era exigido. Um segundo relacionado directamente com a forma
como se materializariam as questões puritanas no seio do restrito grupo da aristocracia e
do papel que terá tido a Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa
Engrácia na ordenação social, com impactos políticos e económicos, de cada uma destas
Casas no perímetro de preferências, tanto do rei como do restante universo da primeira
nobreza de Corte.

É precisamente na origem da criação desta confraria que todos estes elementos se


conjugam e ajudam a recriar uma realidade que, aos nossos olhos, nem sempre se revela
coerente e intuitiva. Em Oliveira encontramos a proposta de enquadramento do Desacato
de Santa Engrácia de 1630 num período extremamente favorável aos cristãos-novos232,
sendo que, não obstante datar-se de meados do século XVI a existência de uma maior
preocupação com questões de limpeza de sangue233, é a partir deste acontecimento que se
começa a perceber, na sociedade portuguesa, um maior empenho na identificação da
adesão ao ideal puritano como promotor da defesa contra os inimigos internos e externos,

231 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e P o d e r., pp. 83-86. É precisamente em relação a este segundo ponto
que o aparecimento da figura do primeiro-ministro no Antigo Regime deverá também ser analisada, não
excluindo a hipótese do facto que lhe dá origem poder ir muito além da mera existência de um rei fraco e
permeável, mas poder ser também entendido como um mecanismo do poder real para se ir libertando de
um conjunto de constrangimentos que limitavam a sua acção, algo apenas possível fazendo-se representar
por interposta pessoa.
232 António de Oliveira, M ovim entos., p. 329 ou Paulo Varela Gomes, Arquitectura, religião epolítica em
Portugal no século XVII: a planta centralizada. Porto: FAUP-Faculdade de Arquitectura, 2001, p. 237 e
273.
233 Fernando Dores Costa e Nuno Gonçalo Monteiro, 2.° Duque de Lafões - Uma Vida Singular no Século
das luzes. Lisboa: Edições Inapa, 2006, pp. 13-14.

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Os Puritanos

através «de uma devoção ao Santíssimo Sacramento caracterizada como orgulhosamente


portuguesa, aristocrática e militar»234.

Quando, quarenta e um anos mais tarde, em 10 de Maio, Lisboa acorda assolada


por mais um desacato ao Santíssimo Sacramento, desta vez ocorrido na Igreja de
Odivelas, o discurso anti-judaico já se tinha radicalizado, o que pode ser comprovado pela
obra de Roque Monteiro Paim que, ainda antes de descoberto o culpado, escrevia a
Perfídia Judaica onde defendia os motivos da presunção de culpa dos cristãos-novos em
qualquer desacato, «em rezaõ do sangue infecto que os gera, è da creaçaõ, è doutrina de
seus antepassados, è ascendentes, que sempre amaõ, è nunca esquecem»235.

É, então, no seio desta aristocracia, votada a ofícios e cargos, na Corte e no


estrangeiro, que se observa o crescimento de um sentimento puritano, que publicamente
se concretizaria também no papel desempenhado no desagravo destas ofensas ao
Santíssimo Sacramento, o que cumpria religiosamente, em São Vicente de Fora ou em
Odivelas, todos os anos pela altura da celebração da data dos desacatos.

Voltando ao desacato de Santa Engrácia, foi na noite de 15 para 16 de Janeiro de


1630 que alguém roubou da Igreja de Santa Engrácia, após arrombar a porta, «um cofre
de tartaruga, guarnecido de prata, em que estavam vinte e sete formas consagradas e uma
hóstia e, de outro vaso, doze formas e mais uma hóstia»236, fazendo acordar Lisboa
sobressaltada, e enquanto «uns gemiam, muitos gritavam e choravam, outros
lamentavam, mas todos pediam vingança contra o autor ou autores do sacrílego crime»237.
E a vingança chegava logo: no imediato em forma de desagravo «por meio de procissões,
jejuns, missas [...] e havia luto oficial»238, mas também era frequente a constituição de
confrarias ou a promoção da construção de conventos: a primeira para perpetuar a
lembrança do sacrílego crime e, não poucas vezes, para ficar encarregue da realização da
segunda. A constituição da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento foi, então,
uma das formas de desagravo encontradas, tendo o seu compromisso (ou estatutos) sido
assinado a 19 de Maio de 1630. Refere Lamas que o presidente era o rei, sendo que em

234 Paulo Varela Gomes, Arquitectura., p. 234.


235 Roque Monteiro Paim, Perfid[ia] judaica, Christus vindex munus prin[cipis], Ecclesia Lusitan[iae] ab
apostatis liberata : Discurso juridico, è p o litic o . Madrid, [s.n.], 1671, p. 2.
236 Jorge Martins, O Senhor R oubado., p.38.
237 Artur Lamas, O Desacato na Igreja de Santa Engrácia e as Insígnias dos Escravos do Santíssimo
Sacramento. Lisboa: Imprensa Nacional, 1905, p. 5.
238 Ibidem, p. 9.

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Parte 2 - Os Puritanos

Povolide encontramos uma referência relativa ao facto de as pessoas reais só passarem a


encabeçar a Confraria após a Restauração, já com D. João IV239 .

Lamas refere ainda que era composta por «cem fidalgos que se obrigavam,
debaixo de juramento, a não consentir que para ella entrasse quem tivesse raça, ou sequer
fama, de christão-novo»240 , uma fórmula que não conseguimos provar ter estado presente
desde a sua origem, sendo Monteiro quem esclarece que «a restrição da admissibilidade
aos cristãos-novos consta da generalidade dos compromissos das confrarias e irmandades,
não se revestindo de qualquer especificidade», não sendo posta de parte a possibilidade
de, posteriormente, ter existido um estreitamento sobre um entendimento mais puritano
capaz, como vimos, de criar conflitos internos no seio da primeira nobreza de Corte241 ,
sabendo que para a realidade de 1730 já era reconhecido na sociedade que o limite da
transmissão de qualquer reparo seria «até que se perca a memória»242 . O número de
fidalgos - títolos e não títolos243 - pelo contrário, parece-nos ter sido mantido, só sendo
possível entrar na Confraria por morte de um irmão, e por proposta de um outro, facto
testemunhado pelo mesmo conde de Povolide quando escreve que «Este ano me fez meu
Tio o Conde de Pontével irmão de S. Engracia e desde então até ao ano que escrevo, isto
é o de 1724, tenho sempre pago tudo.» 244

A importância desta Confraria percebemo-la também em Povolide que refere


várias vezes as cerimónias de desagravo que continuaram a ser realizadas ao longo, pelo
menos, do período em análise. Diz-nos ainda que, desde o Desacato, «todos os anos se
celebrou e celebra ua festa em desagravo do Santíssimo, com grande solinidade, e assiste
toda à Irmandade, de que doze são da mesma mesa cada ano»245 , sendo que, após a
Restauração, a mesma Irmandade terá passado a ser encimada pelas pessoas reaes, o que
lhe conferiu, como pretendemos defender neste ponto, uma dignidade que poderá suportar
a tese da sua relevância para o universo estudado. Existe apenas uma lista de confrades
de Santa Engrácia disponível246 , ainda que incompleta, para os anos de 1630 a 1737, da
qual foi possível extrair 476 nomes, que permitirão, a quem o deseje, tentar reproduzir a

239 Tristão da Cunha e Ataíde, 1.° Conde de Povolide, Memorias..., p. 354.


240 Artur Lamas, O D esacato., p. 10.
241 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., p. 141.
242 Castelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V . , p. 57.
243 Tristão da Cunha e Ataíde, 1.° Conde de Povolide, M em orias., p. 316.
244 Ibidem, p. 44.
245 Ibidem, p. 354.
246 BNP, COD. 170. Memória para a História das Irmandades e Confrarias da cidade de Lisboa.
Apresentamos a lista de nomes apresentados nesta Memória no Anexo 5 desta dissertação.

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Os Puritanos

realidade da Confraria num dado tempo, demonstrando, no entanto e com facilidade, que
a realidade da aristocracia se mostra insuficiente para explicar a realidade da mesma, uma
vez que do total analisado, os membros da família real, os títulos, os eclesiásticos
(cardeais, arcebispos, bispos, capelães-mor e clérigos) e os ofícios maiores da Casa Real
apenas explicam 209 (43,9%) do total referido acima. Para além disso, encontramos
nomes como o de António Cavide, Bartolomeu de Sousa Mexia, Diogo de Mendonça
Corte-Real, Francisco de Lucena247 e até Rui Fernandes de Almada248, que poderíamos
designar por burocratas intimamente ligados ao aparelho de estado, ajudando a perceber
a heterogeneidade de que se foi revestindo esta Confraria e o quanto estava também ligada
à realidade do Paço. É Monteiro que vem referir uma possível «monopolização puritana
da dita confraria»249, que poderá ser entendida pelo monopólio também dos seus cargos
mais elevados, o que esta relação não discrimina. No entanto, através dos conhecimentos
das esmolas realizadas pelo visconde de Vila Nova da Cerveira para a construção da nova
Igreja disponíveis na Torre do Tombo, conseguimos, para 18 anos (período entre 1690 e
1716), identificar quem seriam os Tesoureiros e Escrivães da Confraria250, propondo
então uma análise que nos permita validar a existência de um núcleo puritano ao comando
da mesma251.

Ao todo analisámos a relação de 20 confrades, num total de 33 registos, tentando


perceber se, de acordo com o relatório de Torcy, seriam Puritanos, ou se, não sendo, se
podia estabelecer uma qualquer relação de parentesco entre eles252. Dos vinte confrades,
apenas 8 (20%) seriam Puritanos: os marqueses de Angeja e Alegrete, os condes de S.
Vicente e Tarouca, o visconde de Vila Nova de Cerveira, o Capitão da Guarda Alemã, D.
Filipe de Sousa e o seu irmão, D. João de Sousa, Prior de Guimarães, e Aires de Sousa e
Castro. No entanto, quando analisadas as relações de parentesco em primeiro grau entre
eles, verificamos que este número aumenta para 15 (75%), ficando apenas de fora os
marqueses de Minas e de Fronteira, os condes de Assumar e Ribeira Grande e Luís de

247 António Cavide (?) foi Escrivão da Puridade de D. João IV; Bartolomeu de Sousa Mexia (1650-1720),
secretário de Estado de D. João V, Diogo de Mendonça Corte-Real (1658-1736), secretário das mercês de
D. Pedro II, secretário de Estado de D. João V e diplomata; e Francisco de Lucena (c. 1578 - 1643),
secretário de Estado de Filipe IV e D. João IV.
248 Que supomos ser descendente do seu homónimo, Rui Fernandes de Almada, de quem descendiam todas
as Casas com o reparo de Caiada.
249 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., p. 141.
250 ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira (Administração da Casa 1392-1842), Cx. 21, n.os 69-71,
73-85.
251 Análise que desenvolvemos, em maior detalhe, no Anexo 5 da presente dissertação.
252 Tanto por casamento em Casas puritanas como por relação de parentesco em primeiro grau com famílias
puritanas.

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Parte 2 - Os Puritanos

Saldanha da Gama. Conclusão idêntica observamos se analisarmos o número de vezes


que um determinado cargo é ocupado (uma vez um dado indivíduo poder ocupar, em anos
distintos, um cargo). No total identificamos 33 ocupações conhecidas de cargos, das quais
16 (42%) por Puritanos e 24 (73%) com relações de parentesco, permitindo-nos induzir,
apesar de a amostra ser reduzida, a existência de uma influência puritana na constituição
da mesa da Confraria de Escravos de Santa Engrácia, o que só poderíamos generalizar se
tivéssemos uma relação de confrades sistemática para um dado período específico.

Adicionalmente, sendo difícil propor uma hierarquia no que aos reparos


identificados para cada uma das Casas representadas por estes homens diz respeito,
podemos registar que, por exemplo, tanto os marqueses de Fronteira e Minas e o conde
de Assumar teriam os mesmos reparos, de Aragão, Bocanegra e Pinheiro, e ambos se
encontravam na mesma situação de “excluídos” de relações de parentesco com famílias
puritanas, apenas sendo possível visualizar na árvore genealógica proposta o marquês de
Minas pelo casamento de um neto seu com uma filha do conde dos Arcos, genro do filho
herdeiro do conde de S. Vicente.

Longe de conseguirmos provar uma influência exclusivamente puritana à cabeça


da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, até porque,
como refere Jacquinet «ao longo dos tempos, por ela passaram membros de casas tão
sonantes como as do Louriçal, Cadaval, Távora, Vila Nova de Cerveira, Angeja,
Lumiares, Barbacena e tantas outras»253, estando estas longe de reflectir uma realidade
exclusivamente puritana, inegável parecem ser as relações de parentesco entre os seus
maiores responsáveis, facto que poderá ser também explicado pela já estudada endogamia
no seio da primeira nobreza de Corte254. O que parece ser indiscutível é que, para o
período estudado, a cabeça silenciosa e por vezes até ausente de acções concretas de toda
esta sociedade (corpo) era o rei (e a sua dignidade), cuja acção legitimadora operava como
condição sine qua non a um sentido de pertença sobre o qual assentariam, posteriormente,
estruturas e hierarquias, muitas vezes apenas confirmada pelas excepções que
encontramos cada vez que tentamos demonstrar um qualquer movimento de índole
estritamente aristocrático.

253 Maria Luísa de Castro Vasconcelos Gonçalves Jacquinet, Em desagravo do Santíssimo Sacramento: o
“Conventinho Novo ”. Devoção, memória e património religioso. Lisboa: [s.n.], 2008. Dissertação de
Mestrado, p. 29.
254 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 129.

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Os Puritanos

4. Proposta de identificação de um grupo

O que entendo é que a maior parte das casas de


Hespanha está como as de Portugal, onde entra
Maria Pinheira ou Julianes (outros dizem Gilianes ou
mestre Gabriel, ou Duarte Brandão) ou casamentos
de Hespanha, como da casa de Moscoso e outras. E,
quando se não verifica judaismo, ha bastante com
que humilhar os que prezam de fazer com as allianças
grandes roda [...].255

Fomos, ao longo deste trabalho, fazendo inúmeras referências a Casas e homens


da aristocracia portuguesa sobre os quais se supõe terem sido reputados como Puritanos,
propondo-nos, neste ponto, a uma análise mais minuciosa dos membros deste grupo, com
todas as ressalvas que deverão ser inicialmente feitas. A primeira prende-se
necessariamente com o facto de o puritanismo, tal como nos é apresentado, não ser
imutável, ou seja, uma Casa podia perder o seu estatuto puritano ao adquirir um reparo
por casamento, não sendo ainda claro se os reparos poderiam, eles mesmos, ser
hierarquizados e se, conforme sugerido no Alvará, existiria a possibilidade de as Casas
puritanas «purificarem, porque as ditas familias associadas não só se arrogarão pureza
para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que casavão nellas,
ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os defeitos que antes lhe attribuirão,
erão de natureza, que permitisse esconderem-se na escuridade dos princípios donde se
derivavão, havendo destas expiações conhecidos exemplos.»256 Este facto leva-nos a ter
de precisar a geração exacta de uma determinada Casa aristocrática para testarmos a sua
condição de puritana, porque muitas foram perdendo o seu estatuto ao longo do tempo e
a outras, não obstante os reparos, encontramo-las associadas aos Puritanos, tornando
desafiante uma apreciação geral sobre uma determinada Casa ao longo do período em
análise. Acresce a este o facto de a realidade das Casas aristocráticas em Portugal não ser
estanque. Apesar da já citada cristalização da aristocracia, ao longo do período de análise
assistiu-se à extinção, incorporação e criação de Casas aristocráticas, o que numa análise

255 Camilo Castelo Branco (introdução e notas), Memorias. , p. 66.


256 Consulta, p. 189.

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Parte 2 - Os Puritanos

temporalmente transversal obriga, novamente, à eleição de critérios que garantam a


coerência temporal do estudo, questionando, por exemplo, qual a relevância de estudar a
Casa dos condes da Feira, puritana, quando os dois únicos titulares no período estudado,
o 7.° e o 8.° condes, irmãos, não asseguraram descendência varonil, perdendo a Casa o
título, deixando de existir um lastro para as suas políticas de reprodução social.

Uma segunda, directamente relacionada com esta, diz respeito à relação entre as
fontes. É indiscutível que, para o estudo dos Puritanos, nenhuma outra propõe, de uma
forma clara e criteriosa, um método para validar a pureza das Casas da primeira nobreza
de Corte como o Relatório de Torcy. No entanto, e como já referimos acima, muitas são
as outras fontes que indicam como puritanas, Casas às quais Torcy atribui alguns reparos,
tornando difícil perceber se a excepção se devia ao caso particular da Casa, e portanto
específico e excepcional, ou do reparo, beneficiando, por aí, todas as demais com o
mesmo reparo. Por outro lado, existem também Casas que, à falta de melhor informação,
poderiam ser consideradas puritanas, mas que a sua exclusão dos casamentos dentro
desse grupo nos alerta para outra das limitações deste estudo: até nos Puritanos, a limpeza
de sangue não seria o único critério de eleição presente na reprodução social de uma Casa
e, consoante o período e a situação de cada uma, poderá nem ter sido o mais relevante,
motivo que confirma outra das ideias subjacentes a este trabalho, ou seja, a de que os
Puritanos seriam, sobretudo, aristocratas e partilhavam com restante a aristocracia
portuguesa a maior parte dos seus critérios de eleição.

No seu Relatório (1684), Torcy identifica 43 linhagens, mantendo-se fiel ao


princípio da varonia segundo o qual apresenta 127 pessoas (que para a análise
correspondem, por aproximação, a Casas257), sendo que, para muitas, não refere se tinham
ou não reparos. Deste universo, 50 (39,4%) seriam puritanas, número que poderá estar
sobrestimado dado que considerámos, por simplismo, a não referência a reparos como a
sua não existência. Dos reparos elencados, aquele que aparece como mais frequente na
nobreza portuguesa é o de Pinheiro (conforme citação inicial) com 28 (22%) observações,
seguido do de Aragão (13%), do reparo genérico de judeu (9%) e o de Granada (8%). Já
nos menos observados temos o de Torres com apenas uma observação relativa ao 2.°

257 Esta consideração é, no entanto, simplista, dado que algumas das referências de Torcy são relativas a
religiosos o que nos remete imediatamente para uma definição forçada de existência de uma Casa nesta
circunstância particular.

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Os Puritanos

conde da Ponte, Garcia de Melo e Torres258, e com apenas duas observações o de Juzarte
(António de Saldanha e o 3.° conde da Ericeira), Lucena (João Furtado de Mendonça e o
3.° conde de Unhão) e Lafetá (D. João de Castro e Manuel de Sousa). Outro dado é o de
que, no universo das pessoas a quem eram apontados reparos, estas apresentam em média
1,4 reparos, número que, dada a política de casamentos endogâmica observada na
aristocracia portuguesa, nos leva a questionar se a questão puritana não poderá também
ser analisada a um nível mais lato, podendo falar-se também da existência de uma
consciência puritana, independente da circunstância ao nível de limpeza de sangue da
Casa.

Numa segunda análise à mesma lista, e para o universo que pretendemos estudar
neste trabalho, excluímos todas as pessoas que não eram titulares nem detinham qualquer
ofício maior da Casa Real, considerando apenas, a título excepcional, aquelas pessoas que
mais tarde viriam a ser encartadas (como os condes das Galveias, de Povolide, do Rio
Grande e de Valadares), ou cuja descendência directa viria a ser também titulada, como
é o caso de Luís Cesar e Menezes, pai do 1.° conde de Sabugosa, de D. Diogo de Faro e
Sousa, neto do 1.° conde do Vimieiro e pai do 2.° conde e de Fernando de Miranda
Henriques, avô do 1.° conde de Sandomil. Ao todo reduzimos para metade o número de
Casas analisadas, 68, sendo que destas, 54 de titulares, 7 de ofícios maiores não titulares
e as restantes 7, que descrevemos acima, de futuras Casas titulares, possibilitando-nos
confirmar que estamos, de facto, a olhar para todo o universo de análise definido, uma
vez que encontramos as (aproximadamente) 60 Casas que configurariam o universo da
aristocracia portuguesa (número estável para os 150 anos que intermedeiam os reinados
de D. João IV e D. Maria I) confirmando a proposta de Monteiro quando introduz a sua
cristalização, no Antigo Regime, como um fenómeno eminentemente português259.

Assim, e para a primeira nobreza de corte, os reparos identificados por Torcy mais
frequentes são o de Pinheiro (29%), seguido do de Aragão (18%), do de Bocanegra (13%)
e dos de Granada e ascendência genérica de judeu (ambos 9%). Por outro lado, os reparos
que teriam menos influência neste grupo seriam os de Bobadilha e Lafetá (sem
observações) e os de Juzarte, Lucena e Torres (com uma observação apenas). Esta

258 Torcy não refere o conde da Ponte como tendo o reparo Torres, mas como descreve o reparo e seria
indiscutível que o conde da Ponte provinha dessa linhagem, consideramo-lo, porque caso contrário Torcy
teria descrito um reparo que não se aplicaria a nenhuma casa nobre portuguesa. Entendimento diferente
teve Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 136.
259 Idem, Elites e P o d e r., p. 144-146.

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Parte 2 - Os Puritanos

realidade permite-nos introduzir uma das questões que julgamos ser basilar no que
respeita aos impactos produzidos, pela existência de puritanismos, na sociedade de corte
do Antigo Regime: se por um lado promoviam a exclusão de algumas Casas do universo
de reprodução social de outras, um dos temas centrais do presente trabalho, por outro, e
para as Casas em ascensão, a incidência de alguns destes reparos poderia ser uma forma
de aproximação e identificação com as Casas que os tinham, ou seja e a título de exemplo,
permitimo-nos questionar se uma Casa nobre com o reparo de Pinheiro, sendo
conceptualmente excluída de uma pertença ao grupo dos Puritanos, não veria facilitado
o seu acesso à reprodução social de outras Casas mais preeminentes pela existência de
uma ascendência comum conhecida, ainda que com mancha.

Para a realidade portuguesa de 1684, data do Relatório, apresentamos de seguida


uma proposta de constituição do grupo dos Puritanos que resulta de três níveis de análise
distintos: um primeiro que agrega todas as Casas puritanas identificadas por Torcy cuja
ausência de reparos foi também confirmada por nós; um segundo que elenca as Casas
identificadas por Torcy que desconsiderámos enquanto puritanas neste trabalho, ou
porque foram irrelevantes ao nível de identificação de políticas de reprodução social260
ou porque, ao contrário de Torcy, identificámos reparos por si desconhecidos ou
desconsiderados; e, finalmente, um terceiro nível relativo ou às Casas que em 1684 não
seriam titulares (mas que o serão mais tarde, motivo pelo qual acreditamos deverem ser
incluídas neste estudo), ou a eventuais reparos identificados por Torcy que não
conseguimos confirmar. Adicionalmente, e com o objectivo de facilitar a identificação
temporal das Casas, optámos por nomear cada uma pelo nome do seu título de maior
graduação no período ao qual fazemos referência, quer já existisse ou não, ordenando por
ordem de importância relativa do seu título maior e, dentro de cada classe, por ordem
alfabética.

Assim, o grupo de Puritanos, em 1684, seria constituído pelas seguintes Casas,


num total de 28:

1.° Nível Cadaval Lafões Alegrete Angeja Penalva


Ponte de Lima Valença Alvor Arcos Óbidos Redondo
Sandomil Valadares Fonte Arcada C. G. Alemã Armeiro-mor

260 Como a Casa dos condes da Feira já referida acima ou dos condes de Serém, com apenas um titular no
período de análise.

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Os Puritanos

2.° Nível Linhares Caparica261 Feira Ficalho Pontével


S. Vicente262 Serém Soure

3.° Nível263 Asseca Galveias Mesquitela V. N. Souto

Partindo desta realidade observada em 1684, e com base nos critérios de


identificação de reparos nas linhagens das Casas elegidos por Torcy, propusemo-nos
estudar a evolução do grupo de Puritanos para o período estudado, extrapolando,
primeiro, quais as Casas puritanas em 163 0264, e, depois, quais dessas Casas se teriam
mantido no grupo até à data do Alvará. Para tornar este estudo possível e viável, elegeram-
se 70 casas da primeira nobreza de corte que podem considerar-se um exemplo da
aristocracia portuguesa no período estudado, desconsiderando muitas outras casas que,
podendo ser importantes para perceber a aristocracia num momento específico dos 170
anos sobre os quais assenta esta análise, têm uma relevância negligenciável no nosso
estudo. Reconhecemos que esta análise poderá ser considerada limitada, mas não
conseguiríamos estudar um grupo, como o dos Puritanos, enquanto pertença de outro, a
primeira nobreza de corte, durante um dado período, se a base não fosse constante para a
maioria do período. Por outro lado, o estudo dos Puritanos assenta sobretudo na análise
dos seus critérios de reprodução social, pelo que se revela essencial garantir que as casas
analisadas asseguram uma continuidade ao longo do período de análise.

Assim, o grupo de Casas inicialmente puritanas, seriam as seguintes:

Aveiro Cadaval Lafões Abrantes 1265 Alegrete Alorna


Alvito Angeja Penalva Ponte de Lima Távora Valença
Almada Alvor Arcos Aveiras Bobadela Caparica

261 Tanto as Casas dos condes da Caparica e dos condes de Ficalho ainda não existiam em 1684, mas Torcy
refere que D. José de Menezes, ascendente comum a ambas e casado com uma filha do marquês de
Arronches, não teria reparo, o que não validamos, uma vez que D. José de Menezes era bisneto de D.
Madalena de Lancastre, neta de Madalena de Granada, tendo esse reparo por essa sua avó comum.
262 A referência de Torcy ao conde de S. Vicente enquanto puritano centra-se exclusivamente na pessoa de
Miguel Carlos de Távora, conde por casamento, irmão do conde de Alvor e por isso puritano, uma vez que
a ascendência da Casa de S. Vicente teria o reparo de Bocanegra.
263 Não vem referida por Torcy a linhagem da Casa dos Condes de Asseca, na qual não identificámos
qualquer reparo, mas cuja ascendência varonil não se cruzava com a dos grandes e estava muito ligada a
Espanha, motivo pelo qual acreditamos ter sido desconsiderada. Também excluídas da análise de Torcy
estão as Casas de Mesquitela e Vila Nova do Souto d ’El Rei.
264 Importa referir que apenas dez anos depois do início do período de análise assiste-se em Portugal à
Restauração onde a realidade da primeira nobreza de corte sofre uma alteração significativa, com a ascensão
de muitas Casas à grandeza e a manutenção de tantas outras em Espanha, sendo excluídas da nobreza
portuguesa. Por este facto, uniformizamos este grupo, centrando-nos nas Casas que se mantiveram em
Portugal, assumindo os títulos de que, posteriormente, vieram a ser encartadas.
265 Ramo da Casa dos marqueses de Fontes, condes de Penaguião.

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Parte 2 - Os Puritanos

Cunha Ficalho Galveias S. Lourenço Óbidos Povolide


Redondo Rib. Grande Sabugosa Sandomil Santiago Sarzedas 1
Sarzedas 2 Valadares Vila Flor Asseca Fonte Arcada Mesquitela
V. N. Souto C. G. Alemã Armeiro-mor

Uma primeira apreciação deste grupo permite-nos concluir que representa, no seio
da primeira nobreza de corte, uma realidade heterogénea: por um lado, e para 1630,
apenas 17 destas 40 Casas seriam já titulares; por outro, Casas como as dos viscondes de
Asseca, Mesquitela e Vila Nova do Souto d’El Rei nem sequer são referidas por Torcy,
permitindo-nos concluir que a sua inclusão no grupo que definimos acima dever-se-á ao
mesmo motivo pelo qual acabaram por ser excluídas de casamentos dentro do exclusivo
grupo da aristocracia portuguesa, ou seja, a inexistência de relações de parentesco com as
restantes Casas, muitas vezes só possíveis pela existência de uma ascendência comum.

À data do Alvará este grupo seria já muito mais reduzido, sendo composto apenas
por onze Casas, a saber:

Cadaval266 Lafões Alegrete Angeja Penalva267 Ponte de Lima


Valença Óbidos Sandomil268 C. G. Alemã Armeiro-mor

Seria, então, de esperar que fossem estas as Casas a comparecer na Secretaria de


Estado para, no âmbito do definido no Alvará, assinarem um Termo em como tinham
tomado conhecimento no que nele se estabelecia. No entanto, apenas terão sido chamados
a assinar o mesmo, o conde de Vila Maior (Alegrete e Penalva), o marquês de Valença, o
marquês de Angeja, o Monteiro-mor do Reino e Fernando de Miranda (Sandomil). À
excepção do Monteiro-mor, todos os restantes vêm referidos acima, tendo sido excluídos
da convocatória os duques de Cadaval e de Lafões, o marquês de Ponte de Lima, o conde
de Óbidos, D. Manuel de Sousa e o representante da Casa dos Armeiro-mor. Destes, a
Casa do duque de Cadaval, após o seu casamento com uma filha do conde de S. Vicente,
já não teria uma descendência puritana, dado o reparo de Bocanegra presente nesta Casa.
O duque de Lafões estava há muito exilado da corte por oposição ao marquês de Pombal,

266 Em 1768 era duque de Cadaval D. Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo, que tinha casado com Leonor
da Cunha, filha do 5.° conde de S. Vicente, com o reparo Bocanegra, deixando a sua descendência de poder
ser considerada puritana, de acordo com o critério de Torcy.
267 A filha H. do 1.° marquês de Penalva, que tinha morrido em 1758, tinha casado em 1748 com o seu
primo, o conde de Vilar Maior, pelo que ambos os títulos deverão ser considerados como, a partir de 1758,
representando apenas uma Casa.
268 Em 1768 era conde de Sandomil Francisco Xavier de Miranda Henriques, puritano, casado com Violante
Maria Josefa de Melo, neta paterna do 2.° marquês de Alegrete, mas com o reparo Granada pela mãe.

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Os Puritanos

estando, igualmente por oposição ao marquês, D. Manuel de Sousa (Capitão da Guarda


Alemã) e o conde de Óbidos presos por suspeita de envolvimento na tentativa de regicídio
que culminou no Processo e Tragédia dos Távoras. Já o marquês de Ponte de Lima, ainda
apenas 13.° visconde de Vila Nova de Cerveira, cujo pai morreu também na prisão para
onde tinha sido enviado a mando do marquês de Pombal, poderá não ter comparecido por
este mesmo motivo ou porque o seu filho era, à data, menor269.

Por fim, e no que respeita ao Armeiro-mor, mantemos o já referido em cima, ou


seja, que muito provavelmente nem um ofício maior na corte, nem a limpeza de sangue
por desconhecimento de reparos, serão, por si só, suficientes para garantir a pertença a
este grupo, pelo que, muito provavelmente, a sua inclusão não seja correcta. Por outro
lado, a presença da Casa do Monteiro-mor, que era filho do 4.° conde de Tarouca, na nota
de rodapé do Termo, leva-nos a precisar de aprofundar mais a questão já referida, e
também presente no Alvará, de se uma mancha podia ser limpa por uma política de
casamentos puritana, dado que esta Casa deteria, à data, o reparo de Azambuja.

Assim, e numa primeira fase270, tentámos definir o conceito de política de


casamentos puritana 2 7 1 e ver se conseguíamos identificá-la nas 70 Casas eleitas e para o
período de análise. Partindo, outra vez, do Relatório, e para a realidade posterior a
1684272, analisámos que Casas teriam mantido intacto o seu estatuto em questões de
pureza de sangue, ou seja, quais as políticas de casamento que não tinham adicionado
qualquer novo reparo às Casas analisadas273. As Casas não puritanas nas quais se
identifica uma política puritana de casamentos são as seguintes:

C. Melhor274 Marialva Tancos Távora Atouguia Sarzedas 1275

269 D. Tomás Xavier de Lima, filho do 1.° marquês de Ponte de Lima, nasceu em 1754, tendo apenas 14
anos em 1768. Casa apenas após a morte de D. José, em 1777, com 23 anos, em claro incumprimento do
Alvará, com uma filha do conde de Óbidos. Também desconhecemos o acesso aos bens da Coroa e Ordens
que esta Casa ainda teria, não sendo de descartar que, com a prisão do 12.° visconde, o mesmo acesso lhes
ter sido negado, motivo pelo qual não teriam qualquer interesse em comparecer na Secretaria de Estado
para assinar o Termo.
270 Sugerímos a consulta do Anexo 3 para uma visão mais “gráfica” desta análise.
271 Por política de casamentos puritana, e no que a este ponto diz respeito, considerámos apenas os
casamentos daqueles que vieram a ser chefes de Casa.
272 Considerando todo o período de análise remanescente, até ao último chefe de Casa vivo antes de 1800.
273 Como as conclusões de Torcy nem sempre são idênticas às nossas, no que aos reparos das Casas diz
respeito, optámos por considerar que estas teriam todos os reparos possíveis em 1684, os seus e os nossos,
apenas adicionando novos que fossem sendo, entretanto, incorporados por casamento.
274 A partir do 3.° conde de Castelo Melhor, Luís de Vasconcelos e Sousa, com a manutenção dos reparos
de Caiada e Granada durante o período de análise.
275 Linha varonil da Casa dos condes de Sarzedas que se extingue com a 4.a condessa, casada com um filho
do 1 ° conde de Alvor, cujo neto casa, posteriormente, com a nova herdeira da Casa, mantendo inalterada a
nova varonia da Casa dos condes de Sarzedas.

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Parte 2 - Os Puritanos

S. Vicente

Uma curiosidade desta análise é encontrarmos um trio de casas que podemos


designar do universo Távora: a dos marqueses de Távora, a dos condes de Atouguia e a
dos condes de S. Vicente. Todas elas garantiram, durante o período de análise, a
manutenção exclusiva do reparo de Bocanegra, não acrescendo mais nenhum através das
suas políticas de casamentos. Também a Casa dos Condes de Sarzedas (até à 4.a
condessa), manteve este princípio na sua política de reprodução social. A Casa dos
marqueses de Marialva mantém também apenas um reparo, o de Zuniga. A Casa dos
marqueses de Tancos, fruto de uma política de casamentos consecutivos na Casa dos
condes da Ribeira Grande, apenas aceita o reparo desta, de Pinheiro e, finalmente, na
Casa dos marqueses de Castelo Melhor, que desde o 3.° conde de Castelo Melhor não se
regista nenhum casamento com famílias não puritanas.

Também releva salientar que o facto de o presente estudo assentar sobre uma
análise sistémica de gerações, partido do último titular/ detentor do ofício vivo antes de
1800, até ao seu ascendente directo que estaria vivo em 1630, pela linhagem do título ou
do ofício, implica uma limitação que, neste caso, enviesa os resultados para a Casa dos
Monteiros-mores. Em 1768 o detentor do ofício seria Francisco José de Melo, que morre
em 1789, passando o ofício para o seu primo co-irmão D. Francisco José da Cunha de
Mendonça e Menezes, com perda de varonia e aquisição de mais um reparo, desta vez o
de Granada, passando este a ser considerado nesta análise276.

Mas seria o puritanismo um critério tal como Torcy o define, ou um modelo de


reprodução social? Podemos falar de hierarquia de reparos ou, de facto, um casamento
dentro do grupo ajudaria a limpar um reparo e a tornar uma Casa apta a ser considerada
puritana? Teriam Casas como a dos marqueses de Távora ou de Marialva alguma palavra
a dizer sobre a verdade do seu reparo, levando a que este fosse desvalorizado como tal,
permitindo assim o seu acesso ao exclusivo grupo dos Puritanos?

Por forma a melhor perceber estas hipóteses, resolvemos testar a retirada de alguns
dos reparos da realidade das Casas, criando um conceito em linha com o realizado
anteriormente, ou seja, o de Casa puritana em sentido lato. Os reparos que elegemos
foram os de Aragão e Granada, os reparos reais, e os de Azambuja (Monteiro-mor),

276 Curiosamente, o reparo de Granada é adquirido pela mesma linha das Casas dos condes de Caparica e
Ficalho, Casas onde Torcy não o identifica.

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Os Puritanos

Bocanegra (Távora) e Zuniga (Marialva). Ao todo testámos os cinco cenários base e as


26 combinações possíveis da desconsideração destes reparos (começando apenas por um
e depois consecutivamente até ao cenário em que os retiramos a todos), tendo chegado
aos seguintes resultados:

Aveiro Cadaval Abrantes 1277 Marialva Távora Alvor


Atouguia Caparica Ficalho S. Vicente Sabugosa Sandomil
Sarzedas 1 Valadares Monteiro-mor

Dos 31 cenários, apenas sete devolveram resultados, não acrescentando os demais


qualquer nova Casa ao grupo. Apesar de estarmos apenas num cenário hipotético, a
verdade é que os resultados parecem devolver, de facto, aquele que seria o topo da
hierarquia da aristocracia em Portugal, já incorporando, nomeadamente, o universo
Távora, com as Casas de Távora, Alvor, Atouguia e S. Vicente, o universo Santa Cruz,
com as Casas de Aveiro e Sabugosa, as Casas reputadas por Puritanos em Torcy às quais
encontrámos reparos, Caparica, Ficalho e Sandomil, a Casa dos marqueses de Marialva
e também as Casas onde observamos quase um exclusivo de casamentos Puritanos,
Valadares e Monteiros-mores.

Será difícil confirmar se um universo puritano existiria por oposição a estas


grandes Casas aristocráticas de Portugal, como a dos marqueses de Távora e de Marialva,
ou se, pelo contrário, foi obrigado a viver com elas e aceitar a sua integração no seu
modelo de reprodução social278. Inegável é que, no seu conjunto, em sentido estrito e lato,
não temos quaisquer dúvidas de estar diante das mais influentes Casas da primeira
nobreza de corte em Portugal, que encontraremos nos principais cargos de governo e ao
lado dos reis enquanto membros do seu conselho. Como exemplo, quando o 1.° duque de
Cadaval tem de eleger as Casas com quem se vai associar pelos casamentos dos seus
filhos, não é de estranhar que esta eleição recaia, precisamente, nas Casas de Abrantes,
Alegrete, Távora, Alvor e, obviamente, na Casa Real.

Outra curiosidade, fora do âmbito do presente trabalho, mas decorrente dele, é o


percurso realizado por outras Casas que inicialmente detinham poucos ou nenhuns
reparos e que terminam o período de análise com uma realidade completamente diferente.
Para estas, como já referimos acima, e na impossibilidade de acederem ao grupo dos

277 Da linha dos marqueses de Fontes, condes de Penaguião.


278 Apresentamos, no Anexo 4 à presente dissertação, algumas Notas relativas a estes reparos que
desconsiderámos.

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Parte 2 - Os Puritanos

Puritanos, podemos questionar se processo de aquisição de novos reparos funcionaria


como a possibilidade de uma maior identificação com os seus pares279, ou se, pelo
contrário, configuraria um processo de dérogeance social, um fenómeno ainda assim
pouco observado na sociedade portuguesa do Antigo Regime.

Propomos, então, como conclusão da nossa tentativa de identificação de um grupo


esta realidade dual dos Puritanos, percebendo que, muito provavelmente, o grupo seria
entendido no seu sentido estrito, que, ao longo do tempo, e face a eventuais provas ou até
circunstâncias da corte que forçavam novas alianças, se viu obrigado a um entendimento
mais lato do puritanismo, interessando demonstrar o impacto destes dois níveis de
puritanismo numa apreciação global das políticas de reprodução social destas Casas
aristocráticas, o que faremos no ponto seguinte.

5. O Modelo de reprodução social

Existem famílias cuja maior prosápia é a da pureza


do seu sangue ou seja, a de nunca ter havido nelas
cruzamentos com sangue moiro ou judeu. Disso se
glorificam, e tanto que não querem aliança com
família que não tenha igual prosápia, e é esta a razão
por que os portugueses se casam com parentes,
embora as dispensas de Roma lhe custem os olhos da
cara. Outras há, por tal forma obstinadas na
manutenção da pureza da sua casta, que preferem
extinguir-se a aliar-se com gente menos ilustre que a

Do capítulo anterior percebemos que a realidade do grupo dos Puritanos não


deverá ser considerada estática, podendo uma análise mais restrita prejudicar a qualidade
da informação que dela se tira, correndo-se ainda o risco de devolver resultados

279 Referimos os exemplos das Casas de Fronteira, Niza (pelos condes de Unhão), Bobadela, Lumiares, S.
Miguel, Penafiel, Pombeiro e Sande.
280 Castelo Branco Chaves, O Portugal d e . , pp. 63-64.

Pág. 71
Os Puritanos

enviesados e que não encontram qualquer reflexo na realidade que pretendem estudar.
Assim, e no que a políticas de reprodução social diz respeito, entendemos dividir a análise
no estudo de dois grupos seguindo os princípios enumerados anteriormente, ou seja, a
consideração de um grupo de Puritanos em sentido estrito - os que à data da publicação
do Alvará se manteriam Puritanos - mas também a análise de um grupo de Puritanos em
sentido lato, Casas que à data do Alvará já não poderiam, de acordo com o conceito de
puritanismo “biológico”281, ser consideradas puritanas, mas que ainda assim
continuavam a casar dentro do grupo e, algumas delas, a ser consideradas puritanas, como
nos apercebemos pelos relatos da época, bem como Casas que, não podendo ser
consideradas puritanas pelos reparos que tinham, demonstraram uma endogamia nos
casamentos dentro de um reduzido grupo de reparos. Fora do âmbito deste capítulo ficará
a análise da evolução do grupo dos Puritanos desde a data da criação da Confraria dos
Escravos de Santa Engrácia, tentando perceber em que momento do tempo poderão ter
algumas dessas Casas deixado de ser consideradas puritanas, tema que não
desenvolveremos, mas em relação ao qual, pontualmente, comentaremos a propósito de
alguns exemplos concretos282.

Para estes dois grupos dividimos a nossa análise em dois momentos temporais
distintos: um primeiro, desde o primeiro casamento de um filho do chefe da Casa
realizado após 1630 até à publicação do Alvará (1768), permitindo com isso perceber
como foram escolhidas as alianças matrimoniais dos filhos destas Casas aristocráticas
antes do Alvará; e um segundo desde a publicação do Alvará até ao último casamento
realizado por um filho da Casa até ao final do século XVIII, permitindo-nos aferir os
impactos reais, ao nível da reprodução social, do mesmo. Acresce a este o facto de termos
ainda dividido os casamentos puritanos de cada Casa em simplesmente puritanos (ou
puritanos em sentido estrito) se da análise que fizemos ao cônjuge não tivermos
encontrado qualquer reparo, e em casamentos puritanos em sentido lato, se da mesma
análise tivesse resultado um dos reparos que anteriormente incluímos numa definição

281 Usaremos este termo para designar o puritanismo entendido enquanto linhagem isenta de qualquer
reparo. Releva, no entanto, referir que para Jean-Louis Flandrin, «A raça, na medida em que era marcada
pelo patronímico, não constituía portanto uma realidade biológica, mas sim jurídica». In Famílias.
Parentesco, casa e sexualidade na sociedade antiga. Lisboa: Editorial Estampa, 1991, p. 22.
282 Referimo-nos às Casas dos marqueses de Abrantes (ramo Figueiró/ Vila Nova de Portimão), de Alorna
e do Alvito, dos condes de Almada, dos Arcos, de Aveiras, da Bobadela, da Cunha, das Galveias, de S.
Lourenço, de Povolide, do Redondo, da Ribeira Grande, de Santiago de Beduído, de Sarzedas (ramo
T ávora) e de Vila Flor, dos viscondes de Asseca, da Fonte Arcada e de Mesquitela e de Vila Nova do Souto
d ’El Rei e dos Armeiros-mores.

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Parte 2 - Os Puritanos

mais lata do conceito de puritanismo, a saber: Aragão, Azambuja, Bocanegra, Granada e


Zuniga283.

Quanto ao grupo dos Puritanos em sentido estrito, a análise recaiu nas seguintes
Casas aristocráticas284:

Lafões Alegrete Angeja Penalva Ponte de Lima Valença


Óbidos C. G. Alemã

Ao todo analisámos 129 casamentos, a maior parte deles - 101 - realizados antes
do Alvará, de acordo com a tabela seguinte:

Antes do Alvará Depois do Alvará


Puritanos
Puritanos Puritanos Puritanos Puritanos
(sentido estrito)
(sentido estrito) (sentido lato) (sentido estrito) (sentido lato)
Lafões 6/ 9 8/ 9 0/ 1 1/ 1
Alegrete 17 / 23 20 / 23 1/ 8 2/ 8
Angeja 4 / 15 8 / 15 0/ 5 2/5
Penalva285 11 / 13 12 / 13 n/a n/a
Ponte de Lima 10 / 14 10 / 14 2/6 3/ 6
Valença 5/ 5 5/ 5 2/3 2/3
Óbidos 8 / 15 12 / 15 2/3 2/3
C. G. Alemã 4/7 5/ 7 1/ 2 1/ 2
Total 65 / 101 80 / 101 8 / 28 13 / 28
% 64,4% 79,2% 28,6% 46,4%

No global, a maioria, 64,4%, foram registados, de facto, com Casas às quais não
identificámos qualquer reparo, aumentando este número para 79,2% se entendido o
conceito puritano num sentido lato. As Casas que registam mais casamentos, Alegrete,
Penalva e Ponte de Lima, são também aquelas onde a percentagem de casamentos
puritanos é maior, acima dos 70%, sendo que a única Casa com casamentos

283 Também relativamente a este ponto, importa referir que muitas das Casas em relação às quais não
encontramos quaisquer reparos, também não nos foi possível encontrar uma ligação óbvia das mesmas à
aristocracia portuguesa, tendo assumido que a mesma existia, o que representa uma simplificação do
conceito de puritano que temos vindo a utilizar neste trabalho, ou seja, de que seriam membros da
aristocracia portuguesa sem quaisquer reparos de sangue.
284 Optámos pela exclusão das Casas dos duques de Cadaval e dos condes de Sandomil por ambos os
titulares, em 1768, terem j á casado fora do universo puritano e a Casa dos Armeiros-mores por entendermos
que as suas alianças matrimoniais não se cruzaram com a dos Puritanos.
285 Com o casamento do 6.° conde de Vilar Maior com a herdeira da casa dos marqueses de Penalva, condes
de T arouca, os casamentos passam a ser considerados na Casa de Alegrete/ Vilar Maior.

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Os Puritanos

exclusivamente puritanos é a dos marqueses de Valença, que, no entanto, só realiza 5


casamentos neste período (o que compara, por exemplo, com 23 casamentos da Casa dos
marqueses de Alegrete, dos quais 17 no grupo puritano estrito). No extremo oposto temos
a Casa dos marqueses de Angeja com apenas 26,7% de casamentos puritanos e 53,3% de
casamentos puritanos em sentido lato, o que parece confirmar a possibilidade de distinção
entre Casa puritana, aquela à qual não são imputados quaisquer reparos, e Casa com um
modelo de reprodução puritano, enquanto uma Casa que realiza, ou se esforça por
realizar, a grande maioria dos seus casamentos dentro de um universo de Casas sem
reparos. Ainda assim, em comum e não obstante as demais políticas de reprodução social
seguidas, estas Casas têm o facto de terem casado os seus herdeiros dentro do grupo de
Casas sem quaisquer reparos, o que pode demonstrar uma valorização da preservação do
capital simbólico puritano da Casa, optando por outros critérios nos seus demais
casamentos.

Também em relação às excepções, considerando os casamentos em Casas


puritanas em sentido lato, destacam-se a Casa dos Monteiros-mores que casa quatro
vezes neste grupo, a dos marqueses de Marialva, três, e a dos condes de Valadares, com
dois casamentos. Quanto às Casas não puritanas, nenhuma parece evidenciar-se, sendo
as que apresentam maior número de casamentos, dois, são as dos marqueses de Cascais,
Niza, Minas e dos condes de Vale de Reis.

Outras duas tendências que observamos neste grupo de Casas, e que poderão
ajudar a enquadrar a relação do puritanismo com as demais preocupações aristocráticas
da época, são: por um lado, o facto de que sempre que casam fora do grupo de Casas sem
reparos, casam com herdeiros, existindo apenas a excepção do segundo casamento do 3.°
marquês de Angeja com uma filha do 3.° marquês de Marialva; por outro lado, a questão
dos secundogénitos também nos parece merecer uma análise mais detalhada. Se é verdade
que a utilização dos casamentos para equilibrar as finanças de uma Casa foi algo raro na
aristocracia portuguesa do Antigo Regime286, também é verdade que, neste ponto, os
secundogénitos poderiam ter saído beneficiados com esta prática uma vez que, estando
excluídos das disposições testamentárias da sua Casa, aumentariam por aí o incentivo,
por forma a garantir a sustentabilidade das Casas que criariam287. No entanto, não é esta

286 Piedade Braga Santos, Teresa Rodrigues e Margarida Sá Nogueira, Lisboa Setecentista Vista por
Estrangeiros. Lisboa: Livros Horizonte, 1996, p. 37; e Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo.., pp.77-81.
287 Sobre o importante papel destinado aos secundogénitos, leia-se Miguel Jasmins Rodrigues, Nobreza e
poderes: da Baixa Idade Média ao Império. Cascais: Patrimonia Historica, 2000, pp. 82-83.

Pág. 74
Parte 2 - Os Puritanos

a realidade que observamos. Dos catorze casamentos de secundogénitos que observamos


dentro deste grupo, todos os que não são em Casas puritanas são com herdeiras, sendo
que as Casas de Penalva, Ponte de Lima, Valença e Óbidos casam secundogénitos com
não herdeiras. A confirmar a conclusão chegada por Monteiro quanto à preeminência da
Casa dos marqueses de Alegrete no que à sua reprodução social diz respeito288, temos o
facto de não apenas ser a que regista mais casamentos de secundogénitos, quatro, como a
única que casa todos com herdeiras, duas de Casas puritanas, Penalva/ Tarouca e Ponte
de Lima/ Vila Nova de Cerveira, uma de uma Casa puritana em sentido lato, Casa dos
Senhores de Vila Verde de Ficalho (cujo trineto é feito conde de Ficalho) e, por fim, uma
com a herdeira da Casa dos marqueses de Niza, uma Casa não puritana. Se para esta
última, por não haver descendência, não podemos aferir da efectividade de uma prática
de limpeza de sangue por parte dos Puritanos, não podemos contestar a importância do
contributo da Casa dos marqueses de Alegrete na própria definição de puritanismo
português ao ir-se tornando, também, a linhagem varonil comum de outras Casas
aristocráticas portuguesas, ajudando ainda a enquadrar a opção tomada neste estudo de
inclusão do conceito de Casas puritanas em sentido lato na qual incluímos a Casa dos
condes de Ficalho que, ao casar na Mouraria, passa a ter mesma varonia das principais
Casas puritanas como a dos marqueses de Ponte de Lima ou de Penalva.

Não será de estranhar que esta realidade sofre uma alteração substancial após a
publicação do Alvará e até ao final do século. Não apenas o número de casamentos
puritanos se reduz para 28,6%, como mesmo entendidos em sentido lato não alcançam
os 50%, mesmo considerando que com a morte de D. José, Pombal é definitivamente
afastado do poder e deixa de ter qualquer influência na reprodução social das Casas
aristocráticas portuguesas. Se é verdade que, para a posteridade e enquanto confirmação
do puritanismo que se observava na aristocracia portuguesa, ficaram os casamentos
cruzados entre as Casas de Ponte de Lima e Óbidos289 logo após a morte de D. José, a
realidade da reprodução social deste grupo de Casas aristocráticas encontra-se já muito
diferente, identificando-se uma maior abertura a casar fora daquelas que foram, durante
mais de 100 anos, as Casas mais procuradas por esta elite aristocrática portuguesa290.

288 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., pp. 132-133.


289 Referimo-nos aos casamentos do 14.° visconde de Vila Nova de Cerveira com D. Maria José
Mascarenhas, filha do 3.° conde de Óbidos, e do casamento do filho deste, o futuro 4.° conde de Óbidos,
com D. José Maria Mascarenhas, com D. Helena Xavier de Lima, filha do primeiro.
290 Alguns bons exemplos disso são os casamentos nas Casas dos marqueses de Niza e de Tancos, e dos
condes de Castelo Melhor, da Ribeira Grande e do Redondo.

Pág. 75
Os Puritanos

Em relação ao grupo das Casas puritanas entendidas em sentido lato, a análise


recaiu nas seguintes:

Aveiro Cadaval Abrantes 1 Marialva Távora Alvor


Atouguia Caparica Ficalho S. Vicente Sabugosa Sandomil
Sarzedas 1 Valadares Monteiro-mor

Ao todo analisámos 252 casamentos, a maior parte deles - 220 - realizados antes
do Alvará:

Antes do Alvará Depois do Alvará


Puritanos
Puritanos Puritanos Puritanos Puritanos
(sentido estrito)
(sentido estrito) (sentido lato) (sentido estrito) (sentido lato)
Aveiro 5 / 13 10 / 13 0/ 0 0/ 0
Cadaval 10 / 15 15 / 15 1/ 3 3/ 3
Abrantes 1 5 / 17 14 / 17 0/ 0 0/ 0
Marialva 4 / 14 7 / 14 2/6 2/6
Távora 10 / 19 19 / 19 0/ 0 0/ 0
Alvor 2 / 15 9 / 15 0/ 0 0/ 0
Atouguia 8 / 15 11 / 15 0/ 0 0/ 0
Caparica 9 / 21 14 / 21 0/ 2 0/2
Ficalho 9 / 14 12 / 14 1/ 2 1/ 2
S. Vicente 6 / 15 10 / 15 0/ 4 0/4
Sabugosa 6 / 13 10 / 13 0/ 8 0/ 8
Sandomil 7/ 8 8/ 8 0/ 1 1/ 1
Sarzedas 1 9 / 18 14 / 18 n/a n/a
Valadares 6 / 10 9 / 10 0/ 3 2/3
Monteiro-mor 13 / 13 13 / 13 1/ 3 1/ 3
Total 109 / 220 175 / 220 5 / 32 10 /32
% 49,5% 79,5% 15,6% 31,3%

Em relação a estas Casas aristocráticas, e para o período anterior ao Alvará, a


realidade dos casamentos celebrados com o grupo de Puritanos em sentido estrito é
substancialmente diferente do referido acima, registando-se apenas 49,5% observações
dos 220 casamentos analisados. Se entendido o conceito de puritanismo em sentido lato,
estas Casas apresentam um número relativo de casamentos dentro do universo lato dos
Puritanos em linha com o que observámos acima (79,5%). Ainda assim, e para algumas
Casas, os resultados não deixam de ser elucidativos em relação à prática de endogamia

Pág. 76
Parte 2 - Os Puritanos

puritana, como são disso exemplo a Casa dos Monteiros-mores que casa exclusivamente
dentro do grupo dos Puritanos em sentido estrito. Já as Casas dos duques de Cadaval, dos
marqueses de Távora e dos condes de Sandomil, realizam todos os seus casamentos no
universo puritano em sentido lato, sendo que, conforme já referimos, a primeira apenas
foi desconsiderada do primeiro grupo que apresentámos neste ponto por o 4.° duque ter
casado com uma filha do 5.° conde de S. Vicente, o que encontra uma explicação pelo
facto desta ser sobrinha do conhecido e influente cardeal da Cunha291.

No entanto, e no que a excepções diz respeito, as considerações são diferentes das


referidas para a realidade dos Puritanos em sentido estrito. Não só nos apercebemos dos
inúmeros casamentos fora da realidade dos títulos e dos ofícios maiores, 13, como a Casa
dos marqueses de Távora assume um lugar de destaque registando 10 casamentos dentro
do grupo dos Puritanos em sentido estrito, para o qual muito contribui, indiscutivelmente,
a sua influência na Corte, comprovado pelos casamentos do 5.° conde de S. João da
Pesqueira e do 2.° conde de Alvor na Casa dos duques de Cadaval, mas também pelo facto
de as Casas que podemos designar do universo Távora fazerem parte, também, deste
grupo lato de Puritanos, como a Casa dos condes de Atouguia, Alvor, S. Vicente e de
Sarzedas, que são precisamente aquelas que manteriam um estatuto puritano ao longo
deste período se o reparo de Bocanegra fosse desconsiderado. Para além das Casas do
universo Távora, como Atouguia, com 6 casamentos e S. Vicente e Sarzedas com 4,
temos também a Casa dos marqueses de Abrantes com 5 casamentos dentro deste grupo
e a dos condes dos Arcos com 4. Esta última parece merecer-nos uma análise mais
profunda dado que, de acordo com Monteiro, terá sido uma das Casas mais escolhidas
para a realização de casamentos da aristocracia portuguesa292 e, como já referimos atrás,
seria uma das Casas puritanas em 1630. E assim parece ser, de facto, quando observamos
que a descendência do 3.° conde dos Arcos casou dentro do mais restrito grupo dos
Puritanos, sendo este um ascendente comum das Casas dos marqueses de Alegrete,
Penalva e Ponte de Lima, bem como dos marqueses de Távora, e ainda da dos condes de
Atouguia e Sandomil. O puritanismo, em sentido estrito, é perdido com o casamento do
4.° conde com uma filha do 1.° marquês de Távora, sendo que a sua descendência apenas

291 João Cosme de Távora (1715-1783), depois da Cunha, ficou conhecido como cardeal da Cunha. Era
filho do 4.° conde de S. Vicente e primo dos Távoras, apelido que deixou de usar após o Processo com o
mesmo nome. Foi bispo de Leiria e elevado a cardeal em 1770. Em 1777, após a morte de D. José, e não
obstante ter sido um dos homens mais próximos de Pombal, terá dito a Pombal: Vossa Senhoria não tem
mais nada a fazer neste lugar.
292 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., pp. 132-133.

Pág. 77
Os Puritanos

pontualmente e fora da 1.a nobreza de Corte consegue realizar casamentos puritanos,


representando uma alteração radical no seu modelo de reprodução social.

No que respeita às excepções fora da concepção puritana, estrita ou lata, nenhuma


Casa parece evidenciar-se, sendo que o maior número de observações se deve à realidade
das outras Casas - não titulares e sem ofícios maiores - o que nos deverá relembrar que,
apesar de estarmos muito próximo do que se considerava a 1.a nobreza de corte, haverá
sempre a possibilidade de algumas Casas influentes poderem ter sido postas de parte com
o critério utilizado no presente trabalho293. Ainda assim, fazemos referência às Casas dos
condes de Redondo e de Soure, com 3 casamentos, e a dos marqueses de Fronteira e dos
condes da Ribeira Grande, de Sarzedas, de Unhão e do Vimieiro, com 2 casamentos.

Para o período posterior ao Alvará, mantemos as mesmas conclusões a que


chegámos em relação às Casas puritanas - 16% de casamentos puritanos e 31% de
casamentos puritanos em sentido lato -, tendo em consideração que quatro destas Casas
aristocráticas tinham sido extintas em 1759 no âmbito do Processo dos Távoras (Aveiro,
Távora, Alvor, e Atouguia), que desconsiderámos uma Casa deste grupo por se ter
extinguido no ramo Menezes (Abrantes 1) e que outras quatro Casas não apresentam
qualquer casamento nesse período (Caparica, S. Vicente, Sabugosa e Sarzedas).

Assim, e para a realidade analisada antes do Alvará, um resumo possível poderá


ser apresentado de acordo com a seguinte tabela:

Puritanos Puritanos (lato)


Casas
N.° % N.° %
Puritanas 65 64,4 109 49,5
Estrito 34 33,7 19 8,6
Casa Real 1 1,0 3 1,4
Nobreza estrangeira 11 10,9 9 4,1
Outras Casas titulares294 11 10,9 29 13,2
Outras 8 7,9 49 22,3
Puritanas lato 15 14,9 66 30,0
Titulares e Ofícios maiores 13 12,9 53 24,1
Outras 2 2,0 13 5,9
Outras Casas 21 20,8 45 20,5
Titulares e Ofícios maiores 18 17,8 38 17,3
Outras 3 3 7 3,2
Total 101 100,0 220 100,0

293 Podemos, a título de exemplo, referir alguns secundogénitos dos Grandes que conseguiram “vingar” na
Corte, apesar de não terem sido titulados, bem como as famílias de homens muito influentes na corte, como
Gaspar de Faria Severim e Roque Monteiro Paim, cuja descendência casou no universo dos Grandes.
294 Casas aristocráticas que foram, pelos motivos enunciados anteriormente, desconsideradas desta análise.

Pág. 78
Parte 2 - Os Puritanos

Apesar de, como verificámos anteriormente, a maioria dos casamentos realizados


por ambos os grupos analisados ter seguido uma reprodução puritana, esta revela-se
incapaz, ainda assim, de explicar toda a realidade no que à reprodução social destas Casas,
neste período, diz respeito. Um facto indiscutivelmente interessante é o peso que as outras
Casas, não titulares e não detentoras de ofícios maiores, assumem nesta análise estatística.
A metodologia de análise, através do estudo exaustivo das genealogias de cada Casa,
permitindo perceber se “entroncavam” em qualquer ramo ao qual se imputasse um
reparo, levou a que: por um lado, conseguíssemos ser muito criteriosos em relação à
forma como avaliámos este grupo, permitindo a sua divisão também em Puritanos
(sentido lato e estrito) e não Puritanos; por outro, e apesar de ser a minoria, muitas foram
as vezes em que não nos foi possível confirmar todos os ramos e, por isso, algumas
conclusões poderão ser redutoras. Ainda assim, 13% dos casamentos do grupo dos
Puritanos e, mais expressivo, 31% dos casamentos do grupo dos Puritanos em sentido
lato, faz-se fora da nobreza titular e detentora dos principais ofícios da Casa Real.
Também interessante é o facto desta realidade ser mais expressiva para o grupo dos
Puritanos em sentido lato que, dos 109 casamentos que celebram com Puritanos, aqui
entendidos como Casas sem reparos, 45% são com Casas não titulares, o que nos permite
questionar a afirmação de Monteiro que refere que «os matrimónios com outras nobrezas
portuguesas correspondiam a “casar abaixo”»295, reabrindo a discussão sobre o
entendimento de Torcy sobre mesaliances e o quanto, a verdade, não nos poderá falar
exactamente do contrário, ou seja, que estes casamentos deverão ser considerados
enquanto garantes de um dado status de uma Casa aristocrática.

6. As inconsistências e incoerências

Se algum estrangeiro chega a Lisboa, e se introduz


com a nobreza, cada qual o informa do bom da sua
família, e do máo das outras; e assim sabem, o que
chamamos os podres de todas, seja com razão ou sem
ella [ . ] . 296

295 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., pp. 131.


296 D. Luís da Cunha, Instruções In é d ita s., p. 94.

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Os Puritanos

Já referimos anteriormente que acreditamos que o puritanismo observado na


reprodução social de algumas Casas aristocráticas portuguesas deverá ser analisado
enquanto seguindo um modelo de reprodução social sob um princípio de casta2 9 7 e não
enquanto consequência de um sistema de castas. Talvez por isso a primeira incoerência a
identificar deverá ser a nossa no que aos pressupostos deste trabalho diz respeito.

Como já referido, na proposta e análise do grupo dos Puritanos, tanto em sentido


estrito como em sentido lato, baseámo-nos numa abordagem estritamente biológica de
puritanismo, assente em estudos genealógicos que acreditamos terem sofrido alterações
ao longo do tempo, não apenas circunscrito ao período de análise, mas até à actualidade,
principalmente quando a inexactidão das fontes esteve directamente relacionada com a
vontade directa dos visados nas mesmas genealogias.

Outra questão, mais interessante, prende-se justamente com o próprio


entendimento sobre o puritanismo que os contemporâneos teriam, supondo que o mesmo,
em Casas distintas, poderia conter entendimentos diversos, como supomos pelo relato do
1.° conde de Povolide que, nas suas memórias pessoais, refere, no ajuste do seu casamento
com uma filha dos 2.os condes de S. Vicente - estes ainda Puritanos - ter falado «com
genealógicos amigos e verdadeiros»298, não obstante a sua Casa ter o reparo de Granada
pelo lado da sua mãe, descendente de Madalena de Granada, sabendo ainda que era
também confrade de Santa Engrácia, como já vimos anteriormente.

A este nível, também o exemplo dos Távoras nos parece paradigmático. Desde
que perdem o estatuto puritano, com o casamento do 1.° marquês com uma filha do 1.°
conde de Sarzedas, com o reparo Bocanegra, apenas realizam casamentos puritanos ou
noutras Casas com o mesmo reparo, sendo que identificamos esta política também, como
já referimos atrás, num conjunto de Casas que considerámos como sendo do universo
Távora, como Alvor, Atouguia e S. Vicente, que se mantém também durante todo o
período com apenas este reparo. É verdade que estas Casas nunca vêm referidas como
puritanas, no entanto, no referido estudo de Monteiro, são Casas que figuram nos lugares
cimeiros das mais procuradas e que praticam, ainda assim, uma política muito fechada
nos seus casamentos. Se é verdade que o reparo Bocanegra foi dos mais conhecidos e
com maior incidência na aristocracia portuguesa, também o é que «com o evoluir do

297 Conceito sugerido por Jorge Pedreira, orientador desta Dissertação.


298 Cit. in António Vasconcelos da Gama, «Introdução: Memórias Históricas de Tristão da Cunha de Ataíde,
1.° Conde de Povolide». In Tristão da Cunha de Ataíde, 1.° Conde de Povolide, Portugal..., p. 25.

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Parte 2 - Os Puritanos

tempo, o modo e o espírito dos Távoras haviam assumido certas feições e características
que suscitaram a atenção de contemporâneos e vindouros»299, levando a que, por um lado,
pudesse existir um incentivo puritano em desvalorizar esta linhagem, tema que
continuaremos no ponto seguinte, e por outro que este reparo se tornasse “atractivo” para
outras Casas pelo mero simbolismo da associação à Casa dos marqueses de Távora300.

Assim, parece-nos legítimo assumir que, mais do que uma questão estritamente
biológica, como num sistema de castas, os puritanismos de sangue foram,
fundamentalmente, um fenómeno social orientado por um princípio de casta, mas não
limitado pelo mesmo, ajudando a um melhor entendimento do referido no Alvará
relativamente à possibilidade de se limpar uma linhagem através da celebração de um
casamento dentro do grupo. Outra das questões que nos parece importante analisar é o
próprio entendimento de verdade e o quão difícil poderá revelar-se, nos nossos dias e com
a informação de que dispomos, a imagem que se teria de uma determinada Casa e a forma
como essa imagem seria transversal para o resto da aristocracia portuguesa, como nos
apercebemos pelas referências do marquês de Bombelles ao assunto, já depois da morte
de D. José, referindo que «Les maisons d ’Obidos et de Castelo Melhor sont rangées dans
la classe des families nommées puritaines»301, o que é uma surpresa porque a Casa dos
marqueses de Castelo Melhor teria os reparos de Caiada e Granada, sendo que não
acrescentaram mais nenhum reparo durante o período, tornando razoável, pelo menos, a
assunção que, seguindo uma política de casamentos puritana, se pudesse ganhar esse
estatuto ao olhos de, neste caso, um estrangeiro.

Não será assim de espantar a abertura do presente trabalho a uma realidade mais lata
do conceito de puritanismo enquanto modelo de reprodução social não exclusivamente
assente na sua vertente biológica, mas também, e tal como refere Monteiro, com critérios
que «só eram percebidos por dentro, ou por quem dominava certos segredos e os saberes
que os apoiavam»302, podendo até promover ideias difusas, como a do já citado marquês

299 João Bernardo Galvão-Telles e Lourenço Correia de Matos, «que os do nome de Tavora que de nos
descenderem nam haja de ser esquecido»: a sucessão dos condes de São Vicente no morgado dos Távoras.
Lisboa: LMT- Consultores em História e Património, 2012, p. 6.
300 Sugerimos esta possibilidade referindo-nos, claro, a Casas a quem a entrada no grupo dos Puritanos
estaria vedada, quer por existência de reparos, quer por linhagens menos ilustres, salientando que o reparo
não era uma marca de cristã-novice.
301 Marquis de Bombelles, Journal..., p. 136.
302 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo, p. 131.

Pág. 81
Os Puritanos

de Bombelles, para quem o puritanismo se observava nas Casas «qui portent le rigorisme
beaucoup plus loin que celles des autres nobles portugais»303.

Certo é que muitos tentaram condicionar o futuro da sua linhagem a uma realidade
puritana, o que fez D. Filipe de Sousa, da Casa dos Capitães da Guarda Alemã, quando,
em 1666, impôs em testamento que a sucessão na ilustre casa do Calhariz ficasse vedada
a «pessoa alguma que tenha raça de nação infecta, mouro, judeu ou mourisco, nem pessoa
que seja casada com quem tenha alguma das ditas raças, e se depois da sucessão casar
com tal pessoa, por isso mesmo perca o dito morgado»304, e ainda António Teles da
Silva305 que, instituindo morgado e as condições do mesmo no seu testamento, esclarece
que: «aquele ou aquela que asi o não comprir, desde logo a hei por não nomeada, e nomeo
a pessoa que successiuamente da descendencia dos ditos meus irmaos lhe pertencer (...).
E o mesmo será cazando alguns dos sucessores do ditto morgado, macho ou femea, com
pessoa de Nação Hebrea, ou de outra alguma ceita, ou raça»306, reproduzindo a fórmula,
já enunciada atrás que povoou os estatutos das principais instituições do Antigo Regime,
como as universidades, as confrarias, as Ordens Religiosas Militares, o Tribunal do Santo
Ofício e a Casa Real. No entanto, e conforme constatámos pela leitura de alguns
testamentos da Casa puritana dos marqueses de Ponte de Lima, a mesma fórmula não
terá sido transposta para estes307, confirmando, por um lado, que se para algumas Casas
a prossecução de um modelo puritano na sua política de reprodução social foi promovida
por disposições testamentárias impostas que criaram constrangimentos na transmissão
dos seus morgados308, permitindo também perceber porque é que algumas Casas se
preocuparam mais com a questão puritana ao nível quase exclusivo dos herdeiros, outras
há que, não obstante serem reconhecidas como puritanas na sua reprodução social,
acabaram por não materializar esse modelo em quaisquer restrições testamentárias à
transmissão dos seus bens, confirmando assim que o próprio entendimento de modelo

303 Marquis de Bombelles, Journal..., p. 253.


304 ANTT, Casa Palmela, liv. 2, fols. 6 e 6v.
305 Irmão do 1 ° conde de Vilar Maior que beneficiou da sua fortuna, por morrer sem deixar descendência.
306 Virgínia Rau, «Fortunas ultramarinas e a nobreza portuguesa no século XVII». In Separata da Revista
Portuguesa de História, Tomo VIII. Coimbra: Instituto de estudos Históricos Doutor António de
Vasconcelos/ FL-UC, 1961, p. 25.
307 Analisámos os testamentos do visconde D. Tomás Teles da Silva, irmão do 3.° marquês de Alegrete,
ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 32, n.° 45 (1758) e das viscondessas D. Maria Ana Teresa
de Hohenlohe e D. Joana de Vasconcelos, ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 32, n.° 12
(1720) e Cx. 22, n.° 7 (1653), respectivamente.
308 Interessante será a leitura, por exemplo, da instituição do morgado dos Távoras onde se condicionava
também a transmissão do mesmo, não a questões puritanas de sangue, mas de linhagem, conforme citado
em João Bernardo Galvão-Telles e Lourenço Correia de Matos, «que os do n o m e ., pp. 13-14.

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Parte 2 - Os Puritanos

puritano - bem como sobre os instrumentos utilizados na manutenção de um estatuto


puritano - variava de Casa para Casa.

Mas, no discurso público puritano poucos terão sido tão incisivos como o já citado
neste trabalho, Roque Monteiro Paim na sua Perfídia Judaica...309, um discurso que
deverá ser enquadrado numa realidade de ascensão social feita à conta tanto de serviços
prestados à Coroa como ao Tribunal do Santo Ofício que, apenas em três gerações,
permitiram que esta família concentrasse um património elevado310 terminando com a
ascensão à grandeza da filha herdeira de Roque Monteiro Paim que casa com aquele que
vem a ser o 1.° conde de Alva. Conforme referem Xavier e Cardim, o acesso ao poder
«pelos fidalgos aclamadores só foi possível pela constituição de uma rede de
cumplicidades com extensões à magistratura e à alta administração»311, concretizando
que, entre estes, se encontrava Pedro Fernandes Monteiro, pai do referido Roque
Monteiro Paim e homem de confiança de D. João IV. Não obstante os rumores que
existiam à época de que a mãe de Pedro Fernandes Monteiro seria cristã-nova e dos
problemas que Martim Monteiro Paim, seu filho, enfrentou na Inquisição312, a influência
de Pedro Fernandes Monteiro na corte foi suficiente para garantir a manutenção do status
da sua família, com os seus filhos Roque Monteiro Paim a ascender ao Conselho Privado
do regente D. Pedro II e António Monteiro Paim a assumir funções de relevo no próprio
Tribunal do Santo Ofício, chegando a Deputado do Conselho Geral em 1700. Se é
verdade, e a história desta família parece comprová-lo, que «a Inquisição era, nesta fase,
importante estância de tutela da «pureza» dos indivíduos, famílias e sociedade»313, tal não
foi, no entanto, suficiente para garantir um modelo de reprodução social puritano, tal
como esperaríamos da descendência do autor da Perfídia Judaica, porque na sua ascensão
social, mais importante do que a pureza seria a grandeza da Casa com quem se aliava,
confirmando que este modelo de reprodução social, para todo o período de análise e para
a maior parte da população analisada, foi mais pragmático do que ideológico. Assim, não
só a «a Inquizição não era Guardanapo a que as Gentes se fossem alimpar»314, como
nunca o foi de facto para os Puritanos, porque os instrumentos de confirmação de pureza

309 Roque Monteiro Paim, Prefid[ia] Judaica, Christus VindexMunus Prin[cipis], Ecclesia Lusitan[iae].
Madrid: [s.n.], 1671.
310 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 270.
311 Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso V I . , p. 330.
312 Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição., pp. 191-192.
313 Ibidem, p. 192.
314 Alvará, p.182.

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Os Puritanos

de sangue, para estes, foram muito além de uma familiatura do Santo Ofício ou de um
hábito das Ordens Religiosas Militares.

Outro caso curioso é o do processo de habilitação de José do Couto Pestana ao


hábito da Ordem de Cristo, entre 1718 e 1721. Como tantos outros, a identificação do
defeito de mecânica na sua avó paterna que «Escolhia trigo por Sellario para os Padres da
Companhia» foi suficiente para que o mesmo fosse indeferido. No entanto, terá o mesmo
esclarecido a Mesa da Consciência que a sua avó paterna era também avó materna do 2.°
marquês de Valença e que este teria sido aprovado sem qualquer dispensa. Analisado o
caso, veio-se a demonstrar que, afinal, a avó comum colhia, de facto, trigo para os jesuítas,
algo que fazia, esclareceu-se, por caridade e não por salário315. O marquês a que nos
referimos, D. Francisco de Paula de Portugal e Castro, era filho natural do 7.° conde de
Vimioso316, cuja mulher morreu sem descendência, e de Antónia de Bulhões, «mulher
nobre» de acordo com o Pe. D. António Caetano de Sousa ou «de baixa condição» se
atendermos a Torcy317, com quem nunca se casou e cujo filho terá sido legitimado à hora
da morte, possibilitando a continuidade da Casa. Curioso será também o facto de tal
origem não ter comprometido o estatuto puritano que esta Casa detinha, assente num
exclusivismo dos casamentos celebrados, como já referimos anteriormente, tendo D.
Francisco de Paula ido casar à Mouraria, sendo posteriormente feito marquês por D. João
V. Para Torcy esta condição qualificaria seguramente a Casa dos marqueses de Valença
enquanto detentora de mesaliances, mas a história desta Casa aristocrática não se reduz a
este acontecimento e sabemos que tanto a família do seu bisavô paterno, D. Luís de
Portugal, 4.° conde de Vimioso, como da sua bisavó paterna, D. Joana de Castro e
Mendonça, tinham uma forte relação com o Tribunal do Santo Ofício, sendo muitos os
que ocuparam o lugar de deputado do Conselho Geral da mesma instituição318, o que,
conforme vimos atrás, reforçava a imagem de pureza associada à Casa que D. Francisco,
não obstante os constrangimentos que poderiam ter causado a circunstância do seu
nascimento, soube capitalizar, promovendo assim a imagem puritana que a sua Casa
teria.

315 Fernanda Olival, As Ordens M ilitares., p. 378.


316 D. Miguel de Portugal (1631-1687). Foi 7.° conde de Vimioso e casou com Maria Margarida de Castro
e Albuquerque, de quem não houve descendência.
317 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma R ela çã o ., p. 99.
318 Referimo-nos ao seu pai, o já referido 7.° conde do Vimioso, a D. João de Portugal e Castro, bispo de
Viseu, a D. Miguel de Castro e ao seu tio-avô, também D. Miguel de Castro, in Ana Isabel López-Salazar,
«Familia y parentesco en la Inquisición portuguesa: el caso del Consejo General (1569-1821)». In [et al.],
Honra e Sociedade., p. 152.

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Parte 2 - Os Puritanos

Mas talvez por ser um dos aristocratas portugueses do século XVIII com maior
número de cartas e diários estudados e publicados, é em D. João de Almeida Portugal, 2.°
marquês de Alorna, que encontramos uma grande incoerência de discurso, neste caso,
anti-puritano. Sabemos que esta Casa não seria puritana e que o próprio marquês terá
escrito, sobre o que considerava um excesso de procura matrimonial na Casa dos condes
de Óbidos, que «Não estava athe agora esta casa nos termos de ser tão procurada como
outras, por conta de hua quimera m.to ridicula, que não significa nada, e consestia, n’isso
a preocupação de m.ta gente»319, não obstante o facto de, na sua juventude, ter escrito a
seu pai, após os seus estudos em Paris, que «as companhias que aqui cultivo são a de
Tomás Lima [14.° visconde de Vila Nova], o [6.°] Conde de S. Lourenço, Manuel Teles
[da Silva, 6.° conde de Vilar Maior] e os filhos do Barão [do Alvito, D. Vasco José Lobo,
futuro 11.° barão, e D. Fernando José Lobo, 2.° marquês do Alvito por morte, sem
descendência, do irmão] em que sempre falamos nestas matérias porque todos são muito
aplicados». Também durante a sua prisão escreveu a sua mulher informando que «O rapaz
da caza de Obidos, he o que faz o nosso mayor apetite»320, permitindo-nos questionar que
tal não seria mais despeito do que convicção por sentir a sua Casa desconsiderada para
enlaces matrimoniais pelo grupo de poucas Casas que pareciam merecer o seu respeito
intelectual, até porque será o mesmo marquês de Alorna mais tarde, e já após a morte de
D. José, a defender a manutenção de um exclusivismo no grupo da nobreza, porque
apenas «a Nobreza antiga, isto é, a que vem desde o Senhor Rei D. Afonso V, ou mais de
trás» detém «um valor, para assim dizer, intrínseco neste Reino, e predem-no se ele deixa
de conservar a sua independência»321, num claro apelo à manutenção de um exclusivismo
aristocrático não assente num ideal puritano, antes entendido segundo uma lógica de
antiguidade da nobreza.

Ainda assim convém enquadrar estas posições numa realidade que o terá marcado
profundamente pelas dificuldades que sentiu para casar como queria os seus filhos, à
imagem do que teria acontecido consigo, pois escreve-lhe sua mãe a propósito do
planeamento do seu casamento, em 1745, referindo que o seu pai, «a não ser com esta [D.
Madalena de Lancastre], nem com as Távoras, nem com as Óbidos, nem com as

319 José Cassiano Neves, Miscelânea Curiosa. Lisboa: [s.n.], 1983, pp. 112-113.
320 Ibidem, p. 116.
321 Marquês de Alorna, Marquês de Alorna - Memórias Políticas (Apresentação de José Norton). Lisboa:
Tribuna, 2008, p. 109.

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Os Puritanos

Moirarias, porque as não há»322 , não aceitaria o casamento com outras Casas. Parece-nos
que a expressão «não há» deverá ser entendida como não há disponíveis, uma vez que a
mesma, noutra carta, concluía que os parentes da jovem Tarouca «não haviam de querer
arriscar a sua puritanice»323 com tal casamento, sendo que na continuação ainda
considerava como casamentos possíveis «as Óbido [e] as Mouraria»324 , acabando, como
sabemos, o jovem conde de Assumar a casar na Casa dos marqueses de Távora.

Não pretendemos neste ponto evidenciar as incoerências e inconsistências do


modelo de reprodução social puritano como uma característica exclusiva e identificadora
dos grupo e período em análise, antes demonstrar, através de alguns exemplos, que o
entendimento sobre o puritanismo não foi, como temos vindo a perceber ao longo deste
trabalho, estanque e imutável, dependendo muitas vezes de percepções sobre a realidade
que variaram não apenas de Casa para Casa aristocrática, mas também, acreditamos, ao
longo do tempo.

7. O Processo dos Távoras ou o engano puritano

Andava a fidalguia da nossa côrte por então tão


dividida de interesses, tão retalhada de facções, e tão
agitada pela ambição de logares, de preeminencias,
e de poderio, que ao principe, n ’este caso, seria muito
mais dificil o ignorar do que o saber, ainda que não
perguntasse.325
325

É por vezes difícil o entendimento do sucedido em Lisboa no ano de 1759 com a


morte, em praça pública, dos marqueses de Távora e dos seus dois filhos, o marquês novo
Luís Bernardo e o seu irmão José Maria, do duque de Aveiro e do conde de Atouguia,
bem como das consequências, para a aristocracia portuguesa, deste acontecimento.

322 Carta da marquesa de Alorna ao seu filho de 14 de Setembro de 1745 - ANTT, Casas de Fronteira e
Alorna, n.° 122, referida em nota de rodapé em Nuno Gonçalo Monteiro, Meu pai e..., p. 62
323 Cit. in Laura de Mello e Souza, «Fragmentos da vida nobre em Portugal». In Walnice Nogueira Galvão
e Nádia Batella Gotlib (organização), Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000, p.84.
324 Ibidem, pp. 84-85.
325 Zacharias d ’Aça, Um D. J o ã o ., p. 8.

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Parte 2 - Os Puritanos

Noventa anos antes, a mesma aristocracia, advogando que «tinha sido pela sua «graça»
que os Bragança se tinham tornado reis de Portugal»326, tinha patrocinado a conjura que
depôs o rei D. Afonso VI, anulando assim a influência que o conde de Castelo Melhor,
“um dos seus”, tinha junto do rei enquanto seu valido. Agora, pelo contrário, abstinha-se
de se defender, pecando pela reacção tardia para a qual terá indiscutivelmente contribuído
a rapidez do Processo e o crime de lesa-majestade que lhe deu origem. É certo que
Monteiro vem questionar até que ponto a condenação dos Távoras não seria mais do
interesse do próprio rei do que do marquês de Pombal327, o que não nos parece ser
particularmente relevante neste ponto porque ambos defendiam o poder real em
competição com a aristocracia, tendo ambos beneficiado largamente deste acontecimento.

A tomar por certa a afirmação do jovem conde de Assumar sobre a família de sua
mulher, em que este dizia «que basta o simples nome de Tavora para se fazerem
formidáveis em matéria de reputação e de valor»328, podemos perceber que esta família
estava longe de ser das mais queridas e aceites na Corte portuguesa mas, ainda assim,
convém relembrar que a sociedade que patrocinava a altivez dos Távoras, e que era em
grande medida também definida por ela, era a mesma sociedade que começou a colapsar
após o Processo que vitimou e encarcerou mais de oito chefes de Casas aristocráticas e
ainda aquela onde o puritanismo encontrava o seu lugar enquanto mecanismo de
construção e manutenção de elites, motivo pelo qual propomos a ideia de que a não
reacção da aristocracia se terá devido, também, a um engano.

Ainda assim, e mesmo que se tratasse de uma vendeta pessoal do rei, o motivo
pelo qual se mantiveram nas prisões da Junqueira, sem qualquer acusação formal nem
acesso a julgamento, o conde de Óbidos, o conde da Ribeira Grande, o visconde de Vila
Nova de Cerveira e, no meio do rol de nomes da lista inicial de presos directamente
relacionados com a família Távora (incluindo o conde de Atouguia e o marquês de
Alorna), D. Manuel de Sousa (Calhariz), ao qual se juntaram mais tarde os seus filhos,
mantém-se desconhecido329.

326 Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso V I . , pp. 134-135.


327 Nuno Gonçalo Monteiro, D. J o s é ., pp.135-166.
328 Idem (Selecção, Introdução e Notas), Meu Pai e . , p. 125.
329 O Processo dos Távoras (escrito sobre a direcção de A. Pedro Gil). Lisboa: Amigos do Livro, [s.n.], p.
31, e Luiz T. de Sampayo, Em volta do processo dos Távoras. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1929,
p. 12-13 e 27-28.

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Os Puritanos

Este facto assume uma maior curiosidade porque, conforme já referimos atrás, os
puritanos que se encontravam presos ficaram imediatamente excluídos do alcance do
Alvará porque, tomando por certo o testemunho de D. Luís da Cunha sobre o facto de a
mulher de D. Manuel de Sousa, a princesa Maria Ana de Holstein, viver «na ultima
indigencia, sem ter que comer nem quem a sirva»330, leva-nos a pressupor que o acesso
que todas estas Casas teriam ao seu património estaria muito limitado, senão
completamente interdito, pelo menos no que respeitava aos bens da Coroa e Ordens331,
não obstante as tentativas de Pombal em interferir com a reprodução social destas Casas.
Como nos relata o marquês de Alorna acerca da Casa dos condes de Óbidos e dos receios
sobre os impactos na sua: «se a ordem q’aquela caza recebeu, para não cuidar em
matrimonio ainda agora, tem algum fim que não podemos saber, que venha a tirar a
Condeça d’Obidos e a seu filho, a liberdade de fazerem n’essa materia o que quizerem,
será coiza rara, que a nossa corte não tem praticado com ninguem, e poderá cauzarnos
damno, pello empate a q’ nos vemos obrigados»332.

No entanto, a atenção da aristocracia já a teria captado Pombal anos antes do início


da sua carreira política, quando conheceu a viúva D. Teresa de Noronha Almada, neta do
3.° conde dos Arcos, e com ela fugiu para se casarem em segredo, tendo inclusive sido
perseguidos pelos seus primos, o 5.° conde dos Arcos e o 4.° marquês de Minas, para que
se desfizesse o enlace, o que não aconteceu333. O casal remeteu-se ao exílio em Soure,
onde permaneceu alguns anos, até que Sebastião José é chamado para servir o rei em
Londres. D. Teresa permanece em Portugal, morrendo em 1739, supõe-se, sem nunca se
ter reconciliado com a sua família. Bessa-Luís refere a pena que esta morte terá causado
a Sebastião José, ignorando se seria tão grande como a vergonha que passou na corte pelo
casamento e posterior reclusão em Soure até porque, de acordo com a mesma, «temia
tudo o que o podia embaraçar e despromover»334, o que não sendo o motivo da sua
animosidade para com os aristocratas portugueses, seguramente não terá promovido uma
melhor relação com os mesmos.

330 Luiz T. de Sampayo, Em volta d o . , p. 37.


331 Também confirmado por Monteiro, que refere que «em 1777, eram dadas como vagas 242 comendas
(pouco menos de metade do total), nelas se incluindo não apenas as das Casas extintas, mas ainda todas ou
a maior parte das que antes eram administradas por Casas como a dos duques de Lafões, dos marqueses de
Alorna e Valença, dos condes de Óbidos/ Sabugal, de São Lourenço, de São Miguel, e de Vila Nova, entre
muitas outras.». Rui Ramos [et al.], História d e . , p. 426.
332 Cit. in José Cassiano Neves, M iscelânea., p. 130.
333 Augustina Bessa-Luís, Sebastião J o s é ., p. 23.
334 Ibidem, p. 9.

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Parte 2 - Os Puritanos

Certo é que, em 1768, já o caminho trilhado por Pombal ia longo, não apenas no
controlo da aristocracia, mas também no das principais instituições que à data persistiam
enquanto garantes de uma sociedade que se queria, como temos comprovado, pura. A sua
influência nas Ordens Religiosas Militares começou a sentir-se logo em 1755 com a
instituição da dispensa régia à verificação da mecânica335, sob a forma de lei, a todos os
que investissem em 10 ou mais acções da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão.
Posteriormente reproduziu esta mesma fórmula aquando da criação das Companhia da
Agricultura e da Vinhas do Alto Douro e Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba336,
e desde sempre relacionado com a prossecução do seu objectivo de criação de uma elite
comercial337 capaz de manter a influência portuguesa no mapa das relações comerciais à
escala mundial338, através da tentativa de privilegiar o seu acesso ao exclusivo grupo da
nobreza339, mas que, mais do que isso, foi permitindo que o poder e a discricionariedade
do rei imperassem sobre quaisquer outros critérios de definição e legitimação das elites
(como as provanças), independentemente a sua origem.

Paralelamente, desde 1760 que Paulo de Carvalho, seu irmão, era cabeça do
Conselho Geral da Inquisição e o seu genro, o conde de São Paio, Gentil-homem da
câmara do infante D. Pedro, cuja primeira nomeação ocorre logo em 1759, confirmada
novamente em 1768340, dois annus horribilis para a aristocracia portuguesa. Também se
assiste, em 1768, à nomeação de Henrique José de Carvalho e Melo, filho de Pombal,
para Gentil-homem da Câmara do infante D. Pedro341, não podendo ser descartada a
hipótese da existência de uma movimentação da aristocracia em torno de D. Pedro, o que
aconteceria, precisamente, cem anos decorridos sobre a deposição de D. Afonso VI e a
da subida ao trono do seu irmão D. Pedro, fortemente patrocinadas pela aristocracia.

Assim, parece confirmar-se que, em 1768, a aristocracia já estaria, de facto,


controlada por Pombal, e que o Alvará surgiria no âmbito exclusivo do fim da distinção

335 Instituição da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão (6 de Junho de 1755), art.° 39.°, in António
Delgado da Silva (org.), Collecção da..., p. 387.
336 A Companhia da Agricultura e da Vinhas do Alto Douro em 1756 e a Companhia Geral de Pernambuco
e Paraíba em 1759.
337 Ou de uma Burguesia, cf. nos é sugerido em Teresa Bernardino, Sociedade e atitudes mentais em
Portugal (1777-1810). Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1986, p. 40.
338 Nuno Luís Madureira, Mercado e Privilégios: A Indústria Portuguesa entre 1750 e 1834. Lisboa:
Editorial Estampa, 1997, pp. 83-93; e Kenneth Maxwell, O M arquês., pp. 79-80.
339 Fernanda Olival, As Ordens Militares. , pp. 202-204.
340 Celestino José Fernandes da Silva, António José de São Payo, 1.° Conde de São Payo (1720-1803):
Donatário, Guerreiro e Homem de Corte. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2003.
Dissertação de Mestrado, pp. 169-170.
341 Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I I . , p.119.

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Os Puritanos

entre cristãos-novos e cristãos-velhos que se vai materializar cinco anos depois, em


1773342. Acresce a este facto que a 2 de Maio do mesmo ano de 1768 já outra acção tinha
sido tomada por Pombal no âmbito de garantir um poder real enquanto «única fonte da
qual sómente he que podem emanar as honras, as graduações, e as qualificações Civis»343
com o fim dos Róis de Fintas344 e da sua divulgação pública, impedindo assim que as
famílias de cristãos-novos que tivessem pago este imposto pudessem ser pesquisáveis por
terceiros. Mas se tal era verdade, por que razão sentiu Pombal a necessidade de voltar a
nomear o seu genro, o 1.° conde de São Paio, e nomear o seu filho como Gentis-Homens
da Câmara do infante D. Pedro, à data do Alvará? É possível supor que, não obstante os
muitos aristocratas que se encontravam presos e o controlo efectivo que Pombal j á detinha
sobre a nobreza de corte - nomeadamente na aristocracia, pelo apoio e confissões de
lealdade que foi recebendo de homens como o marquês de Tancos345 - continuaria a
sentir-se ameaçado ou de alguma forma posto em causa pelos demais membros da
aristocracia portuguesa que continuavam fora do seu alcance?

A resposta a estas perguntas julgamos poder encontra-las no famoso casamento


não consumado do filho segundo de Pombal, José Francisco de Carvalho e Daun, futuro
conde da Redinha e 3.° marquês de Pombal por morte sem descendência de seu irmão,
com Isabel Juliana Monteiro Paim de Sousa Coutinho346, bisneta paterna dos 10.os condes
de Redondo e do já referido Roque Monteiro Paim. O casamento ter-se-á realizado a 11
de Abril de 1768, contra a vontade expressa da noiva, porque numa carta de sua tia D.
Leonor de Portugal347 ao marido no Brasil, esta dizia «Eu vim a Lisboa por baixo de água
com grande trabalho (...). E me parece que se não venho, isto digo só a Dom Luís (rasgue
esta logo), se não efectuava este casamento»348. Se a obstinação da noiva, aliada à
ingenuidade e imbecilismo do noivo349, possibilitaram que a não consumação do

342 Kenneth Maxwell, O Marquês. , p. 170.


343 Alvará, p. 183.
344 Os róis de fintas eram listas que confirmavam o pagamento do imposto devido pelos cristãos-novos.
345 Luiz T. de Sampayo, Em volta d o . , p. 34.
346 Aparece referenciada com inúmeros nomes como D. Isabel Juliana Bazeliza José de Sousa, in Pedro
Urbano, A Casa P a lm ela ., p. 14, ou com os apelidos invertidos - Sousa Coutinho Monteiro Paim - in
Maria de Fátima Bonifácio, Memórias d o . , p.54 (nota de rodapé).
347 D. Leonor de Portugal (1722-1806) era irmã de D. Vicente de Sousa Coutinho, pai de Isabel Juliana, e
de Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, governador de Angola e pai do futuro conde de Linhares. Casou
com o morgado de Mateus, nomeado capitão-general e governador da Capitania de São Paulo, no Brasil.
348 Heloísa Liberalli Bellotto (transcrição, introdução e notas), Nem o T em p o ., p. 293.
349 O 1.° duque de Palmela refere que: «O marquês de Pombal havia sido infeliz nos seus filhos; e ( . ) [José
Francisco], sobre todos, era quase notoriamente imbecil, e foi conhecido por tal até ao termo da sua vida.
( . ) Pode portanto dizer-se, que ( . ) José Francisco de Daun foi o inconsciente cúmplice mais útil de minha
mãe.» in Maria de Fátima Bonifácio, Memórias d o . , 2011, pp. 63-64. Já Maria Amália Vaz de Carvalho
escreve que: «Nos primeiros tempos [de casamento] a propria ignorancia infantil do noivo - que só pena

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Parte 2 - Os Puritanos

casamento permanecesse no íntimo do casal, será difícil conceber que este


desconhecimento se tivesse mantido durante os seis meses que intermedeiam este
casamento e a publicação do Alvará350 .

Assim, tomando por certa a descrição de Carvalho de que «a côrte interessava-se,


como é de prever, n’esta lucta extravagante, original, em que o terrivel ministro apparecia
pela primeira vez mais ridiculo do que ameaçador»351 , permitindo-nos, pelo menos,
equacionar a existência de uma motivação pessoal de Pombal na promoção da legislação
contra os Puritanos. Certo é que a imagem que nos é transmitida pelo nome carinhoso
com que Pombal a tratava - Bichinho-de-Conta -, ainda que seja utilizado por alguns
para referir alguma simpatia pela sua nora352 , não encontram qualquer fundamento no seu
esforço de a manter presa num convento após o início do processo de nulidade do
casamento e onde permaneceu até à morte de D. José353 .

É certo que o núcleo puritano que ainda se mantinha na corte portuguesa se


encontrava já muito descaracterizado, mas a julgar pela obsessão de Pombal na associação
do grupo dos puritanos à Confraria dos Escravos de Santa Engrácia, assumindo que com
todas as mortes e prisões que decorreram desde 1759 muitos seriam os lugares vagos na
mesma e supondo que Pombal nunca nela teria sido admitido354 - lembrando ainda a

causa, e não indignação, pois era tão infeliz como ella - a auxiliou n ’este proposito difficil. // Nem aos paes
o pobre pequeno ousou revelar o mysterio humilhante do seu simulado matrimonio.», in Vida do Duque de
Palmela D. Pedro de Sousa Holstein, Volume I. Lisboa: Imprensa Nacional, 1898, p. 19. Por fim, Andrée
Mansuy-Diniz Silva, acerca de D. Isabel Juliana, diz: «Cependant, l ’union célébrée le 11 avril 1768 ne fut
jamais consommée: en dépit de toutes les pressions quotidiennement exercées sur elle, Isabel Juliana s’y
refusa avec une obstination que rien ni personne ne put ébranler [ . ] » , transcrevendo posteriormente uma
carta de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, primo de D. Isabel Juliana e futuro conde de Linhares, a seu pai,
D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, governador de Angola, onde este diz que a discórdia entre os
noivos «só se deveu à mesma natureza humana, que uniforme sempre em todos os seculos, jamais pode
consentir que uma alma grande e nobre e cheia de talentos, s’unisse e obedessece à outra fraca, estupida,
ignorante, e para a qual não podia olhar semm o maior desprezo.» in Portrait d ’un homme d ’Etat: D.
Rodrigo de Souza Coutinho (1755-1812). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 49 e 326,
respectivamente.
350 T anto mais que a recusa da noiva em casar era j á sobej amente conhecida porque j á um ano antes, a 8 de
Fevereiro de 1676, escrevia a mesma D. Leonor a seu marido dizendo: «a menina esteve com intento de ser
freira, eu ignorava isso ( . ) . Isto deu infinita aflição a minha Mãe, e como víamos que poderia ser tentação
e não devoção, e que lá este casamento muito nos servia e que não podia ter acerto melhor tentação, digo
que lhe dissessem não cassasse ainda ou coisa semelhante», o que fizeram, reagendando-o para após o
aniversário do noivo, mas que só aconteceu, como dissemos acima, um ano depois, in Heloísa Liberalli
Bellotto (transcrição, introdução e notas), Nem o T em p o ., p. 261.
351 Maria Amália Vaz de Carvalho, Vida d o . , p. 19
352 Augustina Bessa-Luís, Sebastião. , p. 245.
353 Maria de Fátima Bonifácio, Memórias d o . , pp. 64-65.
354 De acordo com Mário Domingues, «numa célebre Carta que a Portugal se escreveu e um grande de
Espanha, recentemente impressa, um panfleto datado de 25 de Fevereiro 1756» dizia-se que o pai de
Pombal «tinha publicado, sob nome suposto, um livro de genealogias, para nele instituir a sua ascendência
fidalga, motivo por que a nobreza de Sebastião José era mais do que duvidosa.», in Marquês d e . , p. 161.
Também Augustina refere «que Sebastião José era judeu dos quatro costados e, além disso, tendo por tio-

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Os Puritanos

importância que as comemorações do Desacato de Santa Engrácia sempre tiveram para a


nobreza portuguesa - será também legítimo questionar se a sua revolta, mais do que
contra o puritanismo aristocrático que dificilmente poderá ser advogado enquanto
promotor de divisões na aristocracia portuguesa entre cristãos-velhos e cristãos novos (até
porque um nobre, ainda mais titular ou detentor de um ofício maior da Casal Real, jamais
poderia ser um cristão-novo de acordo com os estatutos tanto das Ordens Religiosas
Militares como do Tribunal do Santo Ofício), não seria, sobretudo, relativa à exclusão
que o próprio sentiria de, enquanto nobre, titular, grande e detentor do mais influente
cargo palatino, continuar a ser excluído de um grupo que se ocupava a «injuriar a maior
parte da Nobreza desta Corte, e Provincias deste Reino» 355 , parte da nobreza essa que,
muito provavelmente, seria precisamente aquela que o apoiava, para além, claro está, da
sua recém-adquirida grandeza.

8. Alguns contributos

Estas noticias me fizeram cá uma bulha muito


grande, porque segundo o sistema daqueles senhores,
certamente tão injurioso a toda a nobreza não podia
esperar que se quisessem vir misturar com as nossas
impuridades, o que te posso segurar é, que se eles
guardavam sistema para si, a respeito de se não
misturarem conosco, também eu para mim o tinha
determinado para meu filho em observar o mesmo
sistema a respeito deles356

avô um certo «abade negro», de sengue preto ou mestiço [ . ] era coisa que corria ma voz do povo».
Augustina Bessa-Luís, Sebastião., p. 131.
355 Alvará, p. 189.
356 Carta do marquês do Lavradio a Paulo de Carvalho, de 1 de Maio de 1769, já depois do casamento dos
seus filhos nas Casas puritanas em cumprimento do Alvará de 1768, de acordo com Fabiano Vilaça Santos,
in A. Sérgio et al. (dir.), Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, v.3. Lisboa, Rio de Janeiro:
Editorial Enciclopédia, s.n., p. 169-70), cit. in «Mediações entre a fidalguia portuguesa e o Marquês de
Pombal: o exemplo da Casa de Lavradio». In Revista Brasileira de História. v. 24, n.° 48 (2004) São Paulo,
pp. 301-329.

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Parte 2 - Os Puritanos

Se a frase em epígrafe confirma, indiscutivelmente, a existência de uma fractura


na aristocracia portuguesa capaz de influenciar profundamente a forma como as Casas
aristocráticas se relacionaram entre si ao longo do Antigo Regime (avaliada pelas
políticas de reprodução social que seguiram), tal não poderá ser entendido como a
prevalência de dois modelos paradigmáticos de reprodução social: os Puritanos terão
garantido a preeminência do seu modelo face ao que, de acordo com o sugerido pelo
marquês do Lavradio, poderia ser entendido como um modelo anti-puritano. De facto, tal
como observámos anteriormente para o caso do marquês de Alorna, também Lavradio
referirá alguns anos após o Alvará, à condessa de S. Vicente, sua cunhada, que «do
Tarouca357 ainda que pouco mais conhecia que a sua figura, contudo devia-me tanta fé a
exemplar educação que naquela casa se dá aos filhos dela que sempre esperei dele o que
agora com tanto gosto todos me dizem (...)», confirmando-se assim o reconhecimento de
que as famílias aristocráticas aceitariam o critério puritano enquanto definidor de status
na já muito socialmente elevada aristocracia portuguesa.
Mas se a prática de um modelo puritano na política de reprodução social das Casas
foi, de facto, fracturante no seio da aristocracia portuguesa, não poderemos deixar de
referir o texto do Parecer onde se refere que os Puritanos «não tendo culpas pessoaes
daquella natureza, tem seguido o mesmo Puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma
geral preocupação, que achárão estabelecida», confirmando a ideia de que, não obstante
os fundamentos para a adesão a este modelo, os mesmos foram ao longo do período de
análise perdendo qualquer carácter religioso, se é que este alguma vez existiu. Aliás,
encontramos em Bourdieu uma possível explicação que vem confirmar a ideia do
Parecer, ou seja, que «o mundo social está assim povoado de instituições que ninguém
concebeu nem quis, cujos «responsáveis» aparentes não só não sabem dizer - nem mesmo
mais tarde graças à ilusão retrospectiva, como se «inventou a fórmula», - como também
se surpreendem que elas possam existir como existem, tão bem adaptadas a fins nunca
formulados expressamente pelos seus fundadores.»358
Pertinaz é a questão da existência de uma consciência puritana, levantada desde
logo por Monteiro, concluindo que esta poderia ser fundamentada por testemunhos da
época, envoltos, no entanto, num «carácter relativamente difuso»359. Até mais do que a

357 Lembramos que o «Tarouca» a que se referia era o seu genro, Fernando Teles da Silva, futuro 3.°
marquês de Penalva, com quem a sua filha tinha casado, em 1769, no âmbito da execução do Alvará.
358 Pierre Bourdieu, O p o d e r ., pp. 90-91.
359 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 141.

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Os Puritanos

sua relação com a limpeza de sangue, o tema mais difícil de perscrutar e promotor de um
discurso incontornavelmente difuso é a constante relação que identificámos entre
puritanismo e anti-estrangeirismo. Cortesão não hesita em classificar os puritanos como
racistas e casticistas3 6 0 , apesar de julgarmos exageradas as associações que estabelece,
nomeadamente, entre a Lei dos Tratamentos de D. João V, de 1739, e a vontade do rei
em levantar «entre as classes divisões estanques [ . ] para as transformar em castas»361,
ou então ao concluir que teria sido a prática do puritanismo a votar à vida celibatária os
filhos e filhas segundos das Casas aristocráticas, o que sabemos hoje ser uma prática
generalizada da aristocracia e não apenas dos Puritanos. Aliás, e dada a procura
matrimonial de que foram alvo, não nos espantaria que a realidade das famílias puritanas
fosse precisamente a inversa.
Curioso é, no entanto, o discurso de D. Luís da Cunha que, se por um lado critica
«certas famílias [que] se dizem puritanas para se não aliarem com outras», por outro alerta
para o facto de que «se não deverião consentir os cazamentos fora do Reino, pois não
vemos que algum francez, espanhol ou alemão vá buscar mulher em Portugal, antes
cuidão que nos fazem muita honrra em nos darem suas filhas»362, confirmando que um
entendimento casticista do puritanismo aristocrático seria, de facto, difuso e até
contraditório.
De qualquer forma, o marquês de Alorna escreverá, a respeito da existência de um
defeyto nas Casas de Óbidos, de Alegrete e Angeja, que o mesmo teria a sua origem
porque «hum dos Condes de Portalegre, cazou com hua filha de Garcia d’Almeida, filho
bastardo do segundo Conde de Abrantes, o qual foi tido em hua mulher Castelhana...»363,
confirmando que, não poucas vezes, a origem estrangeira da ascendência, principalmente
espanhola, era a confirmação da existência de um reparo. Neste ponto, a questão
espanhola não poderá ser diminuída uma vez que se assiste a inúmeros casamentos com
a nobreza estrangeira entre o grupo dos Puritanos (Cadaval, Lafões, Tarouca, Ponte de
Lima, Óbidos, Sousas, Aveiro, Caparica) que, inclusive, e para o caso dos Sousas,
capitães da Guarda Alemã, lhes mantiveram a pureza364, grande parte destes ao tempo de
D. Luís da Cunha, ajudando a enquadrar a sua opinião.

360 Jaime Cortesão, Alexandre d e . , p. 81.


361 Ibidem, p. 80.
362 D. Luís da Cunha, Instruções In é d ita s., p. 198.
363 José Cassiano Neves, M iscelânea,. pp. 112-113.
364 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 139.

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Parte 2 - Os Puritanos

Também convém relembrar que, não existindo “legalmente” judeus em Portugal


desde o Édito de Expulsão de D. Manuel I, um judeu não baptizado seria, por conseguinte,
estrangeiro, tal como refere Azevedo quando escreve sobre «a nódoa, se podia ser, que o
estrangeiro lançava sobre a nacionalidade em massa»365, sendo este, recorrentemente, o
argumento das fontes na atribuição de reparos ou nódoa às ascendências das famílias não
puritanas.

No entanto, o modelo puritano estaria condenado, como referiu a lei pombalina,


porque «vendo se por este modo até a mesma Nobreza daquelle partido chamado Puritano
em termos de acabar-se, porque coajuntando-se os seus Matrimonios a tão poucas Casas,
como he manifesto, com huma sujeição de Liberdade dos Matrimonios incompativel com
as Leis da Igreja, e do Reino, he preciso que venhão a perder, por huma parte com a falta
de Esposas, que necessariamente hade haver em hum tão reduzido numero de Familias,
pela outra parte com as custosas despezas das Dispensas Matrimoniaes nos primeiros
Gráos dos seus reciprocos, e mutuos parentescos»366.

É à luz desta realidade que o modelo de reprodução social puritano deverá ser
também entendido, percebendo que as suas incoerências e inconsistências, que é o
mesmo que dizer uma abordagem menos ideológica ou sectária367 de puritanismo, se
devem também aos constrangimentos para uma descendência, tal como evidenciados
acima, ou seja, a falta de noivos, o que reduziria a oferta matrimonial possível, e os
elevados custos com dispensas que em muito prejudicariam, como de facto
prejudicaram368, os patrimónios das suas Casas.

Não deixará, no entanto, de ser considerado relevante que a execução do Alvará


foi muito para além do mero cumprimento do disposto no mesmo, revestindo-se estes
casamentos de um carácter eminentemente político, continuando por explicar o porquê
de o filho de Fernando de Miranda Henriques, Luís, solteiro e com 41 anos à data do
Alvará, não ter casado no âmbito do mesmo, casando dez anos mais tarde, e já depois da
morte de D. José, com uma filha do 5.° conde de Valadares, neta do 2.° marquês de
Angeja. Quanto às Casas escolhidas para que se cumprisse pontualmente o disposto no

365 J. Lúcio de Azevedo, História d o s ., p. 341.


366 Consulta, p. 182
367 Não obstante o recurso ao termo seita para definir a prática do puritanismo que encontramos tanto na
Consulta, fol. 88, como na correspondência do 2.° marquês de Lavradio, cit. in Fabiano Vilaça Santos,
«M ediações.», pp. 316.
368 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 111.

Pág. 95
Os Puritanos

Alvará, a escolha recaiu sobre as Casas dos marqueses de Tancos e do Lavradio. Ao


primeiro podemos entendê-lo como remuneração pelo apoio que sempre consagrou a
Pombal, nomeadamente durante o Processo dos Távoras369, casando a filha herdeira dos
terceiros marqueses com o filho herdeiro do 3.° marquês de Valença. Já em relação ao
marquês do Lavradio, a questão parece-nos ligeiramente diferente. Em Agosto de 1767 o
marquês de Lavradio é nomeado governador do Brasil370 , após ter sido sugerido pelo rei
D. José para aio do seu neto homónimo, o que seria do desagrado do marquês371 . Em
Setembro de 68, Lavradio escrevia a Pombal referindo o seu desejo de voltar a Lisboa
para que pudesse cuidar da sua casa e da sua tão numerosa família372. Certo é que Pombal
não autorizou o seu regresso, mas interveio na reprodução social desta Casa, fazendo
casar duas filhas de Lavradio com os filhos herdeiros do marquês de Alegrete e de
Valença. Em 1771, Lavradio escreverá à condessa de S. Vicente, sua cunhada, referindo
que «como já não subsistia o que me embaraçava a procurar alianças naquela família que
eu nisso sinto não tinha dúvida contanto que nada se fizesse sem primeiro aprovação
particular do Marquês do Pombal, porque além do muito que lhe sou obrigado»373 .
Em ambos os casos acima observamos que, longe de se tratar de uma humilhação,
os casamentos não puritanos promovidos pela intervenção de Pombal vão ao encontro do
modelo endogâmico praticado pela aristocracia portuguesa, garantindo que todos estes se
celebram entre Casas marquesais. Esta era também a fórmula de D. Luís da Cunha, que
apoiava o crescimento da nobreza, criticando duramente «o mal, que estava tão arreigado
na má inclinação, que nos era natural e na soberba, com que nos queríamos distinguir
huns dos outros, não havendo algum, que não tenha tal ou qual parte do que achava aos
mais»374
374 .

Não será, então, de estranhar que o cumprimento do Alvará se fizesse “com


dignidade” 375 - fazendo com que, mais tarde, o mesmo Pombal se revolte com certas
acusações da marquesa de Lavradio, referindo «que pertence à calumnia com que me
pretendem malquistar com a senhora Marqueza do Lavradio: nada do que diz relação a

369 Luiz T. de Sampayo, Em volta d o . , p. 34.


370 D. José d ’Almeida, 6.° marquês de Lavradio, Vice-Reinado de D. L u izd'Almeida Portugal, 2. °Marquez
de Lavradio, 3. ° Vice-Rei do Brasil (Prefácio de Pedro Calmon). S. Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto
Alegre: Companhia Editora Nacional, 1942, p. 17.
371 Ibidem, p.5.
372 Ibidem, p. 17.
373Marquês do Lavradio (2.°) - Cartas do Rio de Janeiro - 1769-1776. Rio de Janeiro: Secretaria de Estado
de Educação e Cultura. Departamento de Cultura, 1978, p. 81.
374 D. Luís da Cunha, Instruções In é d ita s., p. 94.
375 Ainda assim convém recordar que o texto do Parecer remete para a «Benigníssima Clemencia» do rei,
p. 86.

Pág. 96
Parte 2 - Os Puritanos

este negocio se me faz novo: porque há muitos annos sabia o que agora ouvi: e muito
mais ainda em matérias de muito mais graves consequências»376, uma referência que
contradiz o agradecimento do marquês referido anteriormente, mas que é sintomático na
sociedade portuguesa após o afastamento de Pombal.
Apesar de ser um tema pouco tratado e conhecido, é de se supor que a relação da
aristocracia, que permanecia na Corte, com Pombal, podendo não ser um exemplo de
cumplicidade, seria, pelo menos, cordial, recusando-se assim uma ideia de constante
conflito e opressão. O próprio marquês de Lavradio escreverá ao seu genro, o conde de
Vila Verde, em 1777, pedindo-lhe que «ao senhor Marquês dará você um grande recado
meu que eu não escrevo agora a Sua Ex.a, porque sei quanto lhe custa o obrigá-lo a
responder, que basta que S. Ex.a conheça o meu profundo respeito, e a verdadeira amizade
que sempre lhe protesto», sendo este uma prova de que o conde de Vila Verde, filho do
marquês de Angeja, se “cruzaria” na Corte com Pombal.
Por fim, a desvalorização da linhagem em prol da Casa377, a par do premeio das
famílias nobres que arriscaram a sua vida na Restauração, permitiu que estas assumissem
o topo da hierarquia social, o que de outra forma não aconteceria num tão curto espaço
de tempo. Como tão bem notou Monteiro - sugerindo que «o estudo do fenómeno
puritano ajuda-nos a compreender melhor este aparente paradoxo»378 - o topo da
hierarquia social deixou de ser constituído pelas Casas elevadas há mais tempo à
grandeza, o que deverá ser sempre enformado por uma realidade onde «crescera a
ostentação dos puritanos no exclusivismo, ao mesmo passo que entre os agravados
borbulhava a tendência para a reacção.»379

376 Celestino José Fernandes da Silva, António José de, p. 139.


377 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 86.
378 Ibidem, p. 133.
379 J. Lúcio de Azevedo, História d o s ., p. 342.

Pág. 97
Pa r t e 3 - U m a fa m ília p u r it a n a : os Mo u r a r i a s

- §-

1. A Casa “imaginada” dos Mourarias

[...] porem lembraivos querido Irmão, de quantos


outros somos empenhados na Vossa Conservação, e
lembraivos com_piedade especial de que este pobre
tio velho já não poderá aturar mais sustos e
tormentos se os vir padecidos na Mouraria! ah
Mouraria Adorada! Emquanto nella vos não abraço
e sirvo, pondome de todo aparte ás Vossas Ordens,
para obedecervos [...] 380

Mais do que Cunhas, Teles, Silvas e Menezes, Vilares Maiores, Alegretes,


Taroucas e Penalvas, mais tarde também Britos, Limas, Melos e Gamas, Vilas Novas de
Cerveira, Pontes de Lima, Vidigueiras e Nizas, todos os nascidos e criados nas casas sitas
à Mouraria, foram, sobretudo, Mourarias (ou Moirarias). A presente parte desta
dissertação pretenderá demonstrar a incidência de uma consciência puritana nesta Casa
aristocrática portuguesa, não devendo, no entanto, desmerecer-se outras considerações
que a levavam ao topo da hierarquia no que à reprodução social dizia respeito381. A
Mouraria sempre foi, mais do que um palácio, uma Casa ou um habitat, uma escola capaz
de formar consciências e impor tendências no exclusivo grupo da primeira nobreza de
corte.

Refere Silva Miguel desconhecer a extensão do fenómeno de «identificação e


denominação dos titulares, feita por outros dos seus congéneres, pelo bairro onde se
situava o seu palácio»382, sendo os Mourarias, no entanto, o único exemplo que aponta.

380 BNP, Arquivo Tarouca., 270, Cartas do Conde de Tarouca para sua família e parentes. Carta do conde
de Tarouca ao seu sobrinho Nuno da Silva, de 25 de Agosto de 1734.
381 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo, pp. 132-133.
382 Pedro Silva Miguel, Descobrir a dimensão palaciana de Lisboa na primeira metade do século XVIII.
Titulares, a corte, vivências e sociabilidades, Vol. 1. Lisboa: [s.d.], 2012. Dissertação de Mestrado, p.55.

Pág. 99
Os Puritanos

De facto, e pelo que nos foi possível observar em todas as fontes analisadas para o
presente trabalho, esta identificação parece-nos única, uma vez que, por regra, as Casas
da primeira nobreza de corte eram conhecidas pelos senhorios dos seus títulos (Cadavais,
Angejas, Marialvas, Távoras, ...), ou pelos seus ofícios palatinos (copeiros-mores,
monteiros-mores, ...), ou até pelo nome de um dos seus senhorios (Calharizes, Mateus,
. ) . Certo é o facto de cada uma destas denominações estar associada a uma característica
identificadora da Casa, comum a todos os seus membros, mas que ainda assim nenhuma
outra conseguiu reproduzir tão eficazmente como a Casa dos marqueses de Alegrete. Isto
mesmo comprovamos pela carta do Cavaleiro de Oliveira a Nuno Teles da Silva, que
«esperando toda a fortuna da honra de conhecer a casa de Alegrete, encontrei toda a
disgraça na acçam de entrar na de Tarouca, e sendo tudo Mouraria obriga me a desordem
dos fados a que me queixe dos mesmos objectos que respeito, e que venero [ . ] » 383.

Importa relembrar que o conceito de Casa tem a sua origem associada,


inquestionavelmente, à noção de lar, ou seja, uma construção onde vive uma família e
onde convivem todos aqueles que, ou lá trabalham, ou, de um modo mais privado, com
ela se relacionam384, numa simbiose entre linhagem e património. Como tão bem refere
Monteiro, para o período do Antigo Regime, a «sociedade aristocrática portuguesa era,
em primeiro lugar, uma sociedade de “casas”»385 - materializada também num conjunto
de regras às quais estavam obrigados todos os seus membros (disciplina), cujos objectivos
principais seriam assegurar descendência que perpetuasse a Casa e favorecer o
acrescentamento do seu património. Neste sentido, era à Casa, ou mais concretamente ao
seu chefe, ou cabeça para usarmos a expressão do conde de Tarouca, que cabia decidir,
entre outros, o destino dos seus filhos, tanto no que respeita a políticas de reprodução
social, como em relação à sua educação.

Sendo o tema do presente trabalho o estudo dos Puritanos, saltará à vista o facto
de a família que melhor personifica uma adesão ao ideal puritano ser aquela que é
conhecida por Mourarias. Este facto não deixou de ser notado na altura, chegando,
inclusivamente, a ser utilizado por membros da família enquanto forma de distinção e,
não poucas vezes, de escárnio, salientando, quando acusados de uma ascendência não
mais pura do que a demais aristocracia portuguesa, que «o ser mouros só lhes convinha

383 Cavaleiro de Oliveira, Cartas in éd ita s., p. 239.


384 Norbert Elias desenvolveu estas diferentes realidades do conceito Casa dividindo-o em quatro
dimensões: casa-edifício, casa-linhagem, casa-grande e casa-corte, in A Sociedade d e . , pp. 31-38.
385 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e poder... , p. 89.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

por terem o seu palacio na Mouraria»386 . Revelar-se-á difícil documentar o início desta
identificação e o motivo pelo qual se desenvolveu de uma forma tão diferente, e sob
muitos aspectos tão mais carismática, do que a restante nobreza portuguesa, mas
apresentaremos neste capítulo aquela que consideramos ser uma proposta possível de
resposta.

Esta poderá ser encontrada em Madureira e nos seus trabalhos desenvolvidos


sobre a Lisboa setecentista, onde refere, a respeito dos palácios situados “às portas” de
Lisboa, em S. Sebastião da Pedreira, que o seu «relativo isolamento exprime o ostracismo
aristocrático e a manutenção do modo de vida tradicional da nobreza, sob os horizontes
da grande cidade», conseguindo manter uma casa senhorial reveladora do seu estatuto
sem abdicar de «estarem próximos do centro cosmopolita, com o que isso significa de
participação nas áreas de decisão política e económica, e nos indispensáveis contactos
sociais e culturais». Esta era, sem dúvida, uma posição privilegiada da primeira nobreza
de corte, uma vez que, de acordo com o mesmo estudo, os homens de negócio estariam
excluídos desta alternativa uma vez que «A azáfama da bolsa, da alfândega e da zona
ribeirinha, desaconselha veleidades aristocráticas», exceptuado, claro, e para o século
XVIII, homens como os Cruzes, os Bandeiras e os Quintelas.387

É certo que Madureira diz não existir, para o caso de Lisboa, «uma
correspondência linear entre anéis concêntricos definidos a partir de um centro e funções
económicas»388 , à qual podíamos acrescentar também funções sociais, mas Lisboa é a
Corte, e esta relação é intrínseca à própria dinâmica social da cidade pelo que a
identificação com um bairro teria como consequência a identificação com um espaço
específico dentro da corte: os Mourarias não tinham uma casa senhorial na corte, mas
eram identificados com a Mouraria, que, pouco a pouco, se foi tornando para esta Casa
o seu senhorio simbólico em Lisboa, ou seja, na Corte.

É sobre este senhorio simbólico que se edifica um “corpo” composto por todos
aqueles que lá tinham nascido e sido educados, que se desenvolve tendo por base uma
forte rede de fidelidades que obrigava os Mourarias à cabeça da Casa, conforme nos é
sugerido pela já citada correspondência do conde de Tarouca com a sua família, após a
morte do seu irmão. Apesar da natureza da identidade nobre do Antigo Regime nos levar

386 Camilo Castelo Branco (introdução e notas), M em orias., p. 66.


387 Nuno Luís Madureira, C idade., p. 90. Refere-se aos mais conceituados comerciantes da praça lisboeta
de meados do século XVIII.
388 Ibidem, pp. 101-102.

Pág. 101
Os Puritanos

a assumir que a cabeça do corpo da Mouraria recairia sobre o chefe da Casa dos
marqueses de Alegrete, esse não seria, contudo, um entendimento consensual entre os
membros do mesmo corpo, identificando-se uma separação entre a chefia da Casa “real”,
que recairia sobre o herdeiro, e a da Casa que designámos “imaginada”, assente numa
lógica de antiguidade e carisma389, confirmando que «em redor desse líder carismático
nascia uma espécie de comunidade de crença, e a coesão dessa comunidade dependia de
um conjunto de sentimentos de fidelidade e de esperança, sentimentos esses dotados de
um inegável potencial político, pois eram capazes de gerar confiança e criar consenso,
eram capazes de organizar e de disciplinar, sem que tal implicasse o recurso à coacção e
a meios violentos para manter a ordem.»390

À data da morte de Fernando Teles da Silva, 2.° marquês de Alegrete, em 1731, o


seu filho D. Tomás Teles da Silva, 12.° visconde de Vila Nova de Cerveira por casamento,
escreve ao tio, o conde de Tarouca, a sugerir que este passasse a ser «cabeça da familia
Mouraria», respondendo-lhe o tio: «meu Senhor e meu seguro amigo, eu não posso ser
cabeça de hum corpo, a quem profeço venerallo, e obedecerlhe; aspiro somente a ser fino
[sic], e quinto Irmão de quatro honradissimos homens391, os quais verão emquanto a vida
me durar a pureza do meu agradecimento a aquelle perfeyto Varão, que me encheo sempre
dos mais ternos, e mais cordeaes afagos»392. Na impossibilidade de comprovarmos esta
adesão a um sentido mais ideológico da experiência de pertença a uma Casa, por parte de
todos os membros da família Mouraria, tentaremos, nos próximos pontos desta parte do
trabalho, descobrir se existia, ou não, um modelo que possamos considerar transversal a
todos eles no que respeita às imagens deixadas junto dos seus contemporâneos.

Terminamos este ponto com uma referência à Casa “real” da Mouraria, um palácio
aumentado em finais do século XVII - no apogeu da influência política da Casa dos
marqueses de Alegrete - permitindo adicionar ao palácio antigo, o “Quarto Velho”, um
“Quarto Novo” mais digno da posição que ocupava na corte, ficando os dois ligados por
«um passadiço sobre o arco que substituíra em 1674 as velhas portas de S. Vicente. Esse

389 Seguimos a definição de carisma proposta em Max Weber, Economia e . , pp. 323-408.
390 Pedro Cardim, O poder d o s ., p. 16. Apesar de Cardim associar esta ideia à relação com o príncipe,
extrapolamo-la também para a realidade das Casas aristocráticas enquanto senhorios que, mesmo no Antigo
Regime, nunca deixaram de ser.
391 Referia-se, julgamos, aos quatro filhos varões do seu irmão, o 2.° marquês de Alegrete: Manuel Teles
da Silva, 4.° conde de Vilar Maior; D. Tomás Teles da Silva, 12.° visconde de Vila Nova de Cerveira por
casamento; Nuno da Silva Teles, eclesiástico; e António Teles da Silva, 2.° senhor de Vila Verde de Ficalho
por casamento.
392 BNP, Arquivo Tarouca, 270, Cartas do Conde de Tarouca para sua família e parentes. Carta do conde
de Tarouca ao seu sobrinho Nuno da Silva, de 25 de Agosto de 1734.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

passadiço acabava por ser para a família um testemunho do seu crescimento, e unia o seu
passado ao presente.»393 Ao estudar este palácio lisboeta, Silva Miguel contesta o
entendimento de que o novo palácio teria apenas contado com um andar acima do piso
térreo, avançando com a possibilidade deste ter ainda mais um andar (três ao todo),
descrevendo ainda todas as aquisições de casas vizinhas realizadas «para as Cazas serem
demolidas e a Rua ficar mais larga e o Pallacio dezafugado»394 Podemos enquadrar assim
o senhorio simbólico acima referido também numa sumptuosa construção digna de um
Grande de Portugal. Mas como Grande de Portugal que era, a construção não se realizou
sem dificuldades financeiras, tendo a sua finalização dependido da ajuda do seu primo,
D. Frei Luís da Silva, arcebispo de Évora395, que, em alvará de 31 de Julho de 1698,
escreverá que «Vendo nós que estava parada a obra das cazas do Marquez de Alegrete,
Manuel Tellez da Silua nosso primo, citas na Mouraria de Lisboa, e que elle a não podia
adiantar polas grandes obrigações, com que se achava, e desejando nos muito ver acabada
a ditta obra, nos deliberamos a tomalla por nossa conta, e assim mandamos continuar com
ella a nossa custa, mandando dar o dinheiro necessario para ella por mão de Manoel Leal
ourives do ouro, morador em Lixboa, segundo constará do seu livro, com o qual se foy
continuando the o prezente a ditta obra, e se vay continuando»396. Parece confirmar-se
assim que, muito provavelmente, a disciplina familiar dos Teles da Silva e o entendimento
da sua Casa enquanto um corpo, ao qual todos os seus membros estavam obrigados, seria
anterior à sua mudança para a Mouraria.

393 Pedro Silva Miguel, D escobrir., Vol. II, Anexos, p. 13. Veja-se o Anexo 6 para uma melhor imagem
da proposta de Silva Miguel relativamente ao que teria sido o palácio da Mouraria.
394 C.f. escritura de 24 de Maio de 1678, cit. in Ibidem, p.9.
395 Luís da Silva Teles (1626-1703), arcebispo, filho natural de Francisco da Silva (clérigo, deputado da
Inquisição de Lisboa) e de Margarida de Noronha. Era primo co-irmão do 1 ° marquês de Alegrete uma vez
que os pais eram irmãos. Apesar de ter ajudado amplamente o seu sobrinho na construção do palácio da
Mouraria, «abundam ecos do seu modo de vida simples e humilde, da sua preocupação em não fazer gastos
excessivos consigo, com os seus familiares e fâmulos, para assim poder ter meios para auxiliar os mais
pobres. Alimentava-se frugalmente, por norma só fazia uma refeição diária à mesa, vestia-se com suma
modéstia, chegando a usar vários anos a mesma murça, aparelhava os seus aposentos com magro e humilde
mobiliário.» José Pedro Paiva, D. Frei Luís da Silva e a gestão dos bens de uma mitra. O caso da diocese
de Lamego (1677-85). Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2001, Vol. II, p. 249.
396 Cit. in Carlos da Silva Tarouca, Conselhos d u m ., p. 4.

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Os Puritanos

2. A Mouraria dos Cunhas

O litígio terminou efectivamente nesse ano, como era


da vontade do rei, e os bens ficaram, por última e
definitiva decisão, na posse do colégio; nem outra
resolução se podia esperar do prelado elvense [D.
Manuel da Cunha], tão afeiçoado à Ordem ignaciana,
e irmão do P. Nuno da Cunha, um dos Padres que
mais autorizaram por êsse tempo a Companhia de
Jesus em Portugal. 397

A única coisa que sabemos quanto à relação dos Cunhas com o palácio da
Mouraria, o “Quarto Velho”, é que este seria propriedade de Simão da Cunha398, pai de
Mariana de Mendonça casada antes de 1641 com o 1.° conde de Vilar Maior, sendo parte
do dote de casamento desta, altura em que passa a incorporar o património da Casa de
Alegrete/ Vilar Maior, ainda que, em 1643, continuasse a ser morada de D. Manuel da
Cunha, bispo de Elvas e irmão da referida Mariana de Mendonça.

Simão da Cunha pertencia a um ramo secundogénito da antiga família dos Cunhas


- descendente, entre outros, de Tristão da Cunha, imortalizado pela sua embaixada a
Roma no reinado de D. Manuel I - origem de Casas como a dos condes da Cunha, de
Pontével e de Povolide, e de homens como D. Rodrigo da Cunha, arcebispo de Lisboa,
D. Luís da Cunha ou D. Nuno da Cunha e Ataíde, o conhecido e influente cardeal da
Cunha, sendo que, para o período em análise, ficarão também conotados com o grupo de
famílias que terão beneficiado do apoio que, de imediato, prestaram à causa
restauracionista3 9 9 , tendo ainda estado associados ao ofício maior de Trinchante da Casa
Real400.

397 Francisco Rodrigues (S.J.), História da C om panhia., p. 18.


398 De acordo com Silva Miguel, este foi «aforado em 4 de Janeiro de 1501 a Aires de Almada» e, «Por
sucessivas heranças a vendas [ . ] veio à posse de Simão da Cunha, pai de Mariana de Mendonça», in
Descobrir... (Anexos), p. 6.
399 Maria Paula Marçal Lourenço, D . Pedro II... , p. 21.
400 Apesar de existir o registo do mesmo ofício também ter sido exercido por Tomé de Sousa e por Diogo
de Brito Coutinho e pelos seus genro e neto, Manuel e José de Vasconcelos e Sousa, respectivamente.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

Não temos forma de comprovar há quantas gerações estaria a Mouraria na posse


destes Cunhas, nem se Simão da Cunha e a sua família alguma vez terão lá vivido,
supondo apenas que o poderão ter feito porque, como referimos acima, D. Manuel da
Cunha tinha os seus aposentos neste palácio, o que poderá ter acontecido posteriormente.
Apesar de provirem de ramos secundogénitos da grande e ilustre família dos Cunhas, o
ramo que ora retratamos esteve sempre ligado ao serviço da Casa Real, sendo Rui Gomes
da Cunha, pai de Simão da Cunha, Copeiro-mor dos reis D. João III e D. Sebastião, e
Simão da Cunha o Trinchante do rei Filipe II. Este casou com Luísa de Almeida, filha de
Simão Ferreira Palha que foi secretário de Estado na Índia, o suficiente para que Torcy
identificasse nesta família « quelque mésalliances.»401 , e deste casamento houve nove
filhos: D. Pedro da Cunha, que «foi Sr. Da Caza de seu Pay», herdando a Comenda de
Morufe da Ordem de Cristo, bem como o ofício de Trinchante a Casa Real402 ; Mariana
de Mendonça que casou, como vimos, com o 1.° conde de Vilar Maior; D. Manuel da
Cunha e Nuno da Cunha de quem falaremos de seguida; Tristão da Cunha, que morreu
na Índia; Catarina da Cunha e Isabel da Cunha, ambas freiras, a primeira na Anunciada e
a segunda na Madre de Deus; outro Pedro da Cunha, capucho; e, por fim, Joana da Cunha
que terá morrido menina.

Cumpre ainda salientar que, no que aos Cunhas e os seus diferentes ramos diz
respeito, pelo facto de uns usarem o título de representação de Dom e outros não e dos
nomes como Pedro, Nuno, Tristão e Simão se repetirem com frequência, não é raro
encontrarmos inúmeras confusões entre membros da família, da qual a mais frequente,
ainda assim, é a entre o Pe Nuno da Cunha (c. 1594 - c. 1668), da Companhia, filho de
Simão da Cunha; D. Nuno da Cunha e Ataíde (1664-1750), o famoso cardeal da Cunha;
e ainda o Pe. Nuno da Cunha (1705-1774), também da Companhia de Jesus, filho do 1.°
conde de Povolide.

Curiosa, no entanto, é a menção da Mouraria na Consulta, não ligada


directamente aos Alegretes, mas aos Cunhas. Diz-se na Consulta que o «padre Nuno da
Cunha governava a casa da Mouraria, tão despoticamente como consta de Documentos
Originaes que existem entre os seus papeis, por ser irmão de Dona Mariana de Mendonça,

401 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R ela çã o ., p. 90.


402 Este ofício, no entanto, permanecerá apenas mais uma geração neste ramo da família uma vez que o
filho de Pedro da Cunha, Simão, vendê-lo-á a D. António Alvares da Cunha, 17.° senhor da Tábua e pai do
embaixador D. Luís da Cunha, cf. Isabel Cluny, D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal.
Lisboa: Livros Horizonte, 1999, p. 22.

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Os Puritanos

mãe do primeiro conde de Villar-Maior, Fernão Telles da Silva, e tinha ao mesmo tempo
na Corte, e no Santo Officio a influencia que lhe dava seu irmão o Inquizidor Manoel da
Cunha, Bispo, Capellão Mór, e Arcebispo Eleito de Lisboa»403. O engano da Consulta na
identificação do 1.° conde de Vilar Maior enquanto filho de Mariana de Mendonça, com
quem era, no entanto, casado, poderá ser enquadrado no desabafo de Pombal ao conde de
São Paio, seu genro, quando refere que «eu nunca me apliquei a genealogias. He profissão
a que sempre tive grande aborrecimento, porque poucas vezes sucedeu fazer bem, e mais
ordinário he fazer muito mal»404, sendo que a identificação da Mouraria com o Padre
Nuno da Cunha é explícita.

Certo é que, tanto através do Padre Nuno da Cunha, como do seu irmão, o bispo
D. Manuel da Cunha, esta família gozou de muita influência durante os reinados de D.
João IV a D. Pedro II. Já nos referimos à proximidade temporal do Alvará com a Dedução
Chronologica e Analítica e entendemos que parte da aversão de Pombal ao Pe. Nuno da
Cunha terá vindo daí. De acordo com o texto da mesma, a Companhia de Jesus teria sido
responsável por todos os atentados ao poder real desde a sua fundação - e aqui não nos
enganemos, entendido na óptica de Pombal, ou seja, segundo uma perspectiva regalista -
, esclarecendo que «não ha Jesuitas Portuguezes, e Jesuitas Hespanhoes; porque huns, e
outros são na realidade os mesmos Jesuitas, que não conhecem outro Soberano, que não
seja o seu Geral; outra Nação, que não seja a sua própria Sociedade; porque pela
Profissão, que a ella os une, ficão logo desnaturalizados da Patria, dos Pays, e dos Parentes
(,..)»405, e defendendo que os mesmos operariam num Synedrio entendido como um
“contra-poder” que foi minando quaisquer tentativas de afirmação do poder do príncipe,
chegando até à deposição de reis, sendo que na de Afonso VI, concluirá, foram «guiados
pelo dito Nuno da Cunha, Chefe então do Synedrio dos ditos Regulares; como fica
mostrado, e como constou especificamente, pelo que toca á direcção do Congresso das
referidas Cortes.»406

É tão indiscutível a importância que o Pe. Nuno da Cunha teve na Restauração,


como questionável se tanto ele como a Companhia terão estado por detrás dos principais
acontecimentos da sociedade portuguesa do Antigo Regime. O que sabemos - e talvez

403 Consulta, p. 188.


404 Carta do 1.° marquês de Pombal ao seu genro António José de Sampaio e Melo, cit. in Celestino José
Fernandes da Silva, António José d e . , p. 17.
405 José Seabra da Silva, D edução., Primeira Parte, Divisão IX, p. 191.
406 Ibidem, Divisão XI, pp. 337-338.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

mais por aqui percebamos a obsessão de Pombal - é que o Pe. Nuno da Cunha foi, em
toda a sua essência, um curialista, defendendo «a supremacia do papado sobre os poderes
temporais, e a mediação do pontífice na outorga dos poderes dos príncipes»407, o que, na
deposição de D. Afonso VI, e não obstante acreditar que «era contra a sua religião votar
em coisas políticas» e que «sempre se devia recorrer a Sua Santidade», enquanto um dos
letrados escolhidos para decidir se se poderia ou não coroar D. Pedro II em vida de seu
irmão, apoiou a facção que defendia a manutenção do estatuto de príncipe regente, facção
essa na qual contou com o apoio do seu sobrinho, o conde de Vilar Maior, e do seu primo,
Tristão da Cunha408.

A Mouraria, vê-la-emos enquanto Casa reconhecida destes Cunhas, sendo, no


entanto, raras quaisquer menções por este nome, fazendo supor que esta associação terá
sido posterior, já sob a chancela dos Alegretes. De qualquer forma, escrevia o embaixador
D. Francisco de Sousa Coutinho409 sobre D. Manuel da Cunha, «que em sua casa tinha
grande auditório [...] até os homens de negócio, que é o que mais me espantou»410,
levando a crer que tanto os condes de Vilar Maior como os seus filhos muito terão
usufruído também desta realidade. Também a 15 de Junho de 1643 se assinava «à porta
da Mouraria, nos aposentos de D. Manuel da Cunha, bispo de Elvas e capelão-mor»411 o
contrato que punha fim à contenda entre o bispado de Elvas, agora com um novo bispo,
e a Companhia de Jesus, sobre a instalação de um novo colégio naquela cidade. Do lado
da Companhia, sem grande surpresa, assinaria o contrato o Pe. Nuno da Cunha, irmão do
recém-nomeado bispo, em representação do provincial Pe. António Mascarenhas.

Outra característica dos Cunhas está relacionada com a sua vocação para as letras,
porque, para além dos padres Nuno e Manuel, também o seu irmão Pedro «foy muito
perito nas lingoas Latina, Franceza, e Italiana, e naõ menos versado na Historia Sagrada,
e profana.»412 Já Arriaga questionava se não teria sido o 1.° marquês de Alegrete, sobrinho
neto destes irmãos Cunha, «o iniciador da importante livraria, cujos impressos ainda

407 Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso V I . , p. 264.


408 Tristão da Cunha e Ataíde, 1.° Conde de Povolide, M em orias., pp. 96-97.
409 Referência biográfica.
410 Cit. in Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha, D. João I V . , p. 266.
411 Francisco Rodrigues (S.J.), História da C om panhia., p. 18.
412 Diogo Barbosa de Machado, Bibliotheca Lusitana. Historia, Critica, e Cronologica. Na qual se
Compreende a Noticia dos Authores Portuguezes, e das Obras, que compuzeraõ desde o tempo da
promulgação da Ley da Graça até o tempo presente, Tomo III. Lisboa: Na Officina de Ignacio Rodrigues,
1752, p. 574.

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Os Puritanos

existem no antigo e arruinado palacio dos marquezes de Alegrete, á Mouraria»413, mas


podemos questionar se a mesma não seria anterior, datando precisamente desta altura.

Assim, parece inegável que a Mouraria, enquanto senhorio simbólico, foi sendo
construída ainda no tempo destes Cunhas, cuja influência na sociedade portuguesa do
Antigo Regime ficou como herança de uma família que a soube capitalizar e perpetuar
através da associação com esta casa, às portas da Mouraria.

3. A Mouraria dos Alegretes

( . ) do Tarouca ainda que pouco mais conhecia que


a sua figura, contudo devia-me tanta fé a exemplar
educação que naquela casa se dá aos filhos dela que
sempre esperei dele o que agora com tanto gosto
todos me dizem (...) 414

Se nos apercebemos de que a Mouraria enquanto senhorio simbólico foi sendo


construída no tempo dos Cunhas, foram indiscutivelmente os Alegretes - Teles da Silva
- que lhe conferiram uma posição privilegiada no espaço social, ou seja, e seguindo a
proposta de Bourdieu, pela posição relativa que esta Casa conseguiu adquirir em relação
às demais Casas da aristocracia portuguesa, posição essa entendida nas dimensões
económica, cultural, social e simbólica415. Importa salientar que a manutenção deste
estatuto, ou prestígio, durante todo o período de análise só foi possível devido a uma forte
cultura familiar assente na disciplina, lembrando que «o respeito pelas hierarquias no seio
da família, inculcado pela prática desde a infância, era garante do respeito pelas
hierarquias sociais “naturais e inevitáveis”»416, e também, porque não, pelas práticas
sociais, entendidas como “naturais e inevitáveis”, como um puritanismo capaz de
sustentar e justificar uma consciência puritana. Assim, neste ponto, propomo-nos

413 José de Arriaga, Catalogo dos Manuscriptos da Antiga Livraria dos Marquezes de Alegrete, dos Condes
de Tarouca e dos Marquezes de Penalva e pertencente à sua actual representante a Condessa de Tarouca.
Lisboa: Imprensa de João Romano Torres, 1898, p. v.
414 D. Luís de Almeida Portugal, 2.° marquês de Lavradio, sobre o genro, Fernando Teles da Silva, 3.°
marquês de Penalva, in Marquês do Lavradio (2.°), Cartas do R i o ., p. 55.
415 Pierre Bourdieu, O P o d e r., p. 137.
416 Jean-Louis Flandrin, F am ílias., p. 62.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

localizar a posição relativa da Casa dos marqueses de Alegrete no espaço social da


aristocracia portuguesa, tentando abordar a política seguida por esta Casa enquanto forma
de construção e perpetuação de uma elite ou, por outras palavras, enquanto justificação
da posição que ocupavam enquanto parte do «conjunto mais favorecido»417 de Casas no
que à procura por outras, nas suas políticas de reprodução social, diz respeito.

Em relação ao capital económico da Casa dos marqueses de Alegrete, não deixa


de ser curioso que o mesmo teve a sua origem numa fortuna ultramarina, não obstante
todos os constrangimentos que este tipo de enriquecimento, rápido e pouco nobilitante,
sempre causou à antiga nobreza portuguesa. Fernão Teles de Menezes, que veio a ser o
primeiro conde de Vilar Maior e o primeiro Teles da Silva a viver na Mouraria 418 , era um
filho segundo de Luís da Silva419 e de sua mulher Mariana de Lencastre e ganhou
protagonismo enquanto alferes-mor da Restauração420 . Excluído do testamento de seu pai
que beneficiou exclusivamente, sob a forma de morgado, o seu irmão João Gomes da
Silva, é pela morte sem descendência de seu irmão, António Teles da Silva, que a avultada
fortuna deste, avaliada em mais de 52 contos de reis, vai parar à Mouraria 421 .

António Teles da Silva, irmão mais novo de João Gomes da Silva e de Fernão
Teles de Menezes, acumulou uma fortuna considerável enquanto governador do Brasil,
entre 1642 e 1647, seguindo uma prática dos secundogénitos das Casas dos Grandes que
não votavam a sua vida ao Clero ou não eram beneficiados por um casamento com uma
herdeira, concretizada nos «vastos horizontes de possibilidades, em que o serviço del-rei
permitia, indirectamente e sem derrogar «fidalguia», amealhar na «mercancia» ou no
«prestamismo» o suficiente para se igualarem financeiramente aos seus «maiores» no
«regresso ao território metropolitano»422 . Foi precisamente no seu regresso ao território
metropolitano que o barco em que seguia António Teles da Silva naufragou, tendo este,
em testamento, designado o seu irmão Fernão Teles de Menezes como seu herdeiro
universal, não apenas da sua fazenda, mas também dos seus serviços, referindo que

417 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 133.


418 Até então, e desde o seu nascimento, terá vivido à rua da Oliveira, na freguesia da Trindade, numas casas
compradas, em 1589, pelo seu avô, João Gomes da Silva, cf. Carlos da Silva Tarouca, «O A lferes-m or.»,
p. 12.
419 De acordo com Virgína Rau, em nota de rodapé, «Alcaide-mor e comendador de Seia, governador da
Relação do Porto, Vedor da Fazenda, e do Conselho de Estado, serviu por algum tempo de mordomo-mor»,
in «Fortunas. », p. 5.
420 Leia-se Carlos da Silva Tarouca, «O A lferes-m or.», onde apresenta um estudo sobre a família de
Fernão Teles de Menezes.
421 Virgínia Rau, «F ortunas.», p. 11.
422 Ibidem, p. 5.

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Os Puritanos

«pesso a Sua Mag.de que a merce que me tinha feito de Conde de Villar Major, com o
mais que de sua grandeza espero a faça a meu irmão o Senhor Fernam Telles para que
iunto com o morgado que lhe deixo aia memoria de vassalos que com tanto amor o
seruião.»423 Ainda assim, é importante referir que a atribuição do título de conde de Vilar
Maior, em 1653, a Fernão Teles de Menezes, não se reduziu ao elencar de serviços do seu
irmão, mas também pelo que «obrou na aclamação, sendo um dos primeiros fidalgos que
mais se arriscaram aquele dia na sala dos Tudescos em companhia de António Teles da
Silva, seu irmão»424.

Conforme verificámos anteriormente, esta fortuna não terá sido suficiente, no


entanto, para permitir que a Mouraria estivesse isenta de problemas financeiros apenas
50 anos depois, tendo o marquês de Alegrete necessitado da ajuda do seu primo, Frei D.
Luís da Silva, para concluir as obras de acrescentamento do seu palácio, confirmando o
problema crónico que o endividamento representava para a aristocracia portuguesa,
motivo pelo qual «a segunda metade do reinado de D. João V foi assinalada por indícios
crescentes de dificuldades financeiras das grandes casas aristocráticas»425, ainda que se
tenha observado que a sua ascensão na preferência dos reis tenha sido acompanhada pelo
aumento de comendas das Ordens Religiosas Militares.426

No que respeita ao capital cultural desta família, tanto relativamente à educação


que conferia aos membros da sua casa, como testemunhámos pelo comentário inicial
deste ponto do marquês do Lavradio sobre o conde de Tarouca, como à sua erudição, pela
opinião do também erudito marquês de Alorna, que encontrava na Mouraria homens
«muito aplicados»427, vamo-nos apercebendo de que esta Casa foi cultivando, ao longo
do tempo, um gosto pela cultura do seu tempo, interesse esse que era reconhecido pelos
seus pares, referindo ainda Silva Tarouca o «índice deslumbrante» de títulos presentes na
biblioteca dos marqueses de Alegrete, com «edições de clássicos latinos, portugueses,
espanhóis e italianos»428.

423 Testamento de António Teles da Silva, de 19 de Julho de 1650, transcrito in Ibidem, p. 26.
424 Texto constante da atribuição do título de conde de Vilar Maior a Fernão Teles de Menezes, cit. in
Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha, D. João I V . , p. 40.
425 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 372.
426 A título de exemplo, se o 1.° conde de Vilar Maior detinha apena a Comenda de Albufeira, da Ordem de
Avis, o seu filho, 1.° marquês de Alegrete, acrescentou a Casa com as comendas de S. João de Moura,
também da Ordem de Avis, e de S. João de Alegrete, Lagares e Soure, da Ordem de Cristo.
427 Nuno Gonçalo Monteiro, Meu pai e. , p. 65.
428 Carlos da Silva Tarouca, Conselhos d u m ., p. 5.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

Este poderá também ser o motivo pelo qual não encontramos nenhum Teles da
Silva a exercer cargos ultramarinos, à excepção, claro, do já referido António Teles da
Silva, antes recorrentemente ligados ao serviço ao rei no Paço, nomeadamente enquanto
membros do Conselho de Estado, ou em representações diplomáticas, como os 1.° e 2.°
marqueses de Alegrete, o conde de Tarouca, ou ainda Tomás Teles da Silva, 12.° visconde
de Vila Nova de Cerveira por casamento. Certo é que este capital cultural sempre foi uma
característica dos Mourarias, o que confirmamos em Manuel Teles da Silva, 1.° marquês
de Alegrete, «chronista insigne do Senhor Rey D. Joam o 2. na língua latina, muito pura
e elegante»429 e um dos fundadores da Academia dos Generosos (1647-1716) e da
Academia das Conferências Discretas e Eruditas (1696-1705), tendo ainda participado na
elaboração dos Estatutos da Academia Real da História Portuguesa (1720-1760),
academias por onde passou também o seu filho Fernando Teles da Silva, 2.° marquês de
Alegrete430.

Mas é na corte que os Alegretes se impõem no consilium et auxilium ao príncipe,


tanto a um nível mais privado, enquanto seus gentis-homens da câmara, como no
Conselho de Estado, com uma grande influência nos reinados de D. Pedro II e D. João V.
São inúmeros os historiadores que referem Manuel Teles da Silva, 1.° marquês de
Alegrete, como um dos principais validos de D. Pedro II - a par do duque de Cadaval, D.
Nuno Álvares Pereira de Melo431 -, «considerado por um contemporaneo, talvez Teofilo
Daupineaut, numas curiosas memórias sobre Portugal no reinado de D. Pedro II, como o
único estadista dêsse tempo.»432 Esta influência ter-se-á mantido durante o reinado de D.
João V, tendo o 2.° marquês sido recomendado por D. Pedro II a seu filho, em 1706,
enquanto uma das pessoas «muyto capazes e convenientes» para o «assistirem no
Despacho»433, deixando-se ao início, segundo alguns, «influenciar e conduzir pelos
seus»434 conselhos, perpetuando-se esta relação durante toda a vida do 2.° marquês, que
sempre assistiu o rei como seu gentil-homem da câmara.

429 Fernando Portugal e Alfredo de Matos, Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa. Lisboa: [s.n.],
1974, p. 135.
430 Maria Paula Marçal Lourenço, D. Pedro II..., pp. 327-328.
431 Nomeadamente os seus biógrafos Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I . , p. 139 e Maria Paula Marçal
Lourenço, D . Pedro II... , p. 208.
432 Eduardo Brazão, O Conde de Tarouca em Londres (1709-1710). Lisboa: Imprensa Lucas & C.a, 1935,
p. 11.
433 Cit. in Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I . , p. 148.
434 João Ameal, D. João V e a sua época. Lisboa: Of. Gráf. Da C.M.L., 1952, p. 10.

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Os Puritanos

Esta foi a realidade partilhada por todos os membros da Casa até, imaginamos, à
subida de Pombal ao poder, concretizada por uma presença constante no Conselho de
Estado, actuando enquanto Vedores da Fazenda, Regedores da Casa da Suplicação e das
Justiças, Presidentes da Câmara de Lisboa e, no que a ofícios maiores da Casa Real diz
respeito, como vimos, enquanto gentis-homens da câmara de D. Pedro II, D. João V e D.
José, gozando assim, todos eles, de uma grande proximidade com o rei, revelada também
na confiança depositada nos membros desta família através da sua designação, entre
outros, enquanto embaixadores extraordinários de Portugal nas negociações dos
casamentos de D. Pedro II com Maria Sofia de Neuburg, filha do Eleitor Palatino Filipe
Guilherme, que valeu à Casa a elevação a marquesado, e de D. João V com D. Maria Ana
de Áustria, filha do imperador Leopoldo I.

Mas as disposições testamentárias de António Teles da Silva, que referimos


acima, exigiam ainda que «o ditto morgado não passe a outra familia nem appellido que
não seia Sylua» e que aquela pessoa que casar com «com pessoa de Nação Hebrea, ou de
outra alguma ceita, ou raça», «a hei por não nomeada, e nomeo a pessoa que
successiuamente de descendencia dos dittos meus irmãos lhe pertencer»435. Apercebemo-
nos, assim, de que a questão da limpeza de sangue nesta Casa, aqui entendida enquanto
capital simbólico, assumiu contornos que ultrapassavam a mera adesão a um ideal
puritano, mas obrigada à manutenção, geração após geração, das disposições
testamentárias para manutenção dos morgados definidas pelos seus maiores436. Não
sabemos até que ponto estas disposições limitaram efectivamente a transferência dos bens
herdados, mas acreditamos que poderão ter sido referidos enquanto justificativo das
políticas de reprodução social seguidas, com elevado impacto no carisma das Casas
aristocráticas portuguesas, o que estudaremos no ponto seguinte para o exemplo da
Mouraria. O que sabemos é a relação que esta Casa manteve com o Tribunal do Santo

435 Testamento de António Teles da Silva, de 19 de Julho de 1650, transcrito em RAU, Virgínia -
«F o rtu n as.», p. 25.
436 É importante, no entanto, não descartar a hipótese de simples disciplina em relação a disposições
testamentárias dos seus maiores, quer tivessem ou não impacto na transmissão do morgado, dado que, ao
nível do apelido, sempre mantiveram o uso do apelido Teles, advindo esta obrigação de uma disposição
testamentária de uma trisavó do 1 ° conde de Vilar Maior, Maria de Vilhena, que instituiu morgado em
1483, «desejamdo eu mujto, que seu nome [do seu marido, Fernão Teles de Menezes, 4.° senhor de Unhão]
para sempre em mjm e em aquelles, que delle e mym descemderam, nom aja de ser esquecido [ . ] [e] que
sempre aquelle ou aquella que for menistrador do dito moorgaado e bems delle possuir, se “chame
d ’allcunha Tellez”», in Carlos da Silva Tarouca, «O A lferes-m or.», pp. 9-10. Sabemos que o morgado foi
herdado, por varonia, pela Casa dos condes de Unhão, que sempre mantiveram o uso do apelido Teles de
Menezes, mas não deixamos de apontar que, mesmo este ramo secundogénito da descendência de Maria de
Vilhena, não deixou de fazer uso do mesmo apelido, não obstante ser esta família de varonia Silva.

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Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

Ofício durante este período, nomeadamente no envolvimento do 1.° marquês de Alegrete


no impedimento dos acusados pelo Tribunal saberem quem eram as testemunhas dos
processos em que estavam envolvidos. Apesar de Cluny referir, em relação ao 1.° marquês
de Alegrete, que «ao que parece a decisão de provar a limpeza de sangue, esteve
relacionada com a herança deixada pelo fundador do morgado, António Telles», a
verdade é que desde João Gomes da Silva, avô deste, até pelo menos ao 4.° marquês,
todos os chefes da Casa foram familiares do Santo Ofício437, ou seja, “institucionalmente”
considerados - ou publicamente reconhecidos - puros.

Concluímos com aquela que nos parece ser a confirmação da ideia de Bourdieu,
ou seja, que o capital simbólico existe enquanto resultado de um processo de capitalização
da importância relativa de um agente nas diversas dimensões do espaço social. Na
aristocracia portuguesa, o capital simbólico associado a um modelo puritano mostrou-se
capaz de definir uma prática exclusiva de um grupo de Casas que acumularam este
prestígio ou status enquanto definidor de um estatuto potenciador, ele próprio, de
prestígio ou status, noutras Casas, e tudo isto sem que possamos afirmar
contundentemente que resultou de um paradigma que estas Casas tenham tentado impor
à sociedade coeva. No entanto, parece-nos ter criado, indiscutivelmente, uma
«consciência puritana» nas mesmas, pelo menos entendida numa dimensão mais privada,
ou seja, enquanto princípio orientador das suas políticas de reprodução social.

Bourdieu diz-nos que «o mundo social está assim povoado de instituições que
ninguém concebeu nem quis, cujos «responsáveis» aparentes não só não sabem dizer -
nem mesmo mais tarde graças à ilusão retrospectiva, como se «inventou a fórmula», -
como também se surpreendem que elas possam existir como existem, tão bem adaptadas
a fins nunca formulados expressamente pelos seus fundadores»438, ideia importante e que
nos parece ser confirmada pelo texto do Parecer quando refere, para o caso dos puritanos,
que «os Descendentes dos sobreditos Reos de Lesa Magestade não tendo culpas pessoaes
daquella natureza, tem seguido o mesmo Puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma
geral preocupação, que achárão estabelecida»439, mas ainda assim estruturante no
entendimento que hoje temos da Mouraria.

437 Isabel Cluny, O Conde d e . , pp. 93-94.


438 Pierre Bourdieu, O P o d e r., pp. 90-91.
439 Parecer, p. 186.

Pág. 113
Os Puritanos

4. A reprodução social dos Mourarias

Em que se cazem dous Primos com Irmãoz que


descendem de Voz, há huma igualdade, e tem eles
ambos naquella qualidade de Vossos descendentes
tal merecimento, que nunca vos será necessario em
semelhantes occaziões avizar, e esperar resposta,
nem haverá conçelho humano que se voz der com
sinceridade, que não seja effectivamente mais elogio,
ainda do que Conçelho. 440

Em 19 de Julho de 1710, Fernando Teles da Silva, 2.° marquês de Alegrete,


escrevia ao seu irmão João Gomes da Silva, 4.° conde de Tarouca por casamento e
embaixador extraordinário em Utreque, informando que «João Soares descobriu no
testamento de António Teles uma cláusula em que manda que nos bens do morgado que
instituiu se façam benfeitorias e que tudo o que se fizer fique vinculado ao mesmo
morgado. Tenho comunicado este ponto com os principais Letrados e a todos parece que
tenho justiça em pretender por ele (...)»441. A referência a uma análise ao testamento de
António Teles vem confirmar que as regras de instituição dos morgados estavam
presentes nas dinâmicas das Casas aristocráticas do Antigo Regime em Portugal e que
eram conhecidas, levando-nos a supor que, ainda que não fossem entendidas enquanto
impositoras de uma política puritana numa determinada Casa, poderão ter sido assumidas
pelos chefes das Casas enquanto o motivo pelo qual prosseguiram com uma política
puritana de reprodução social.

A importância da Mouraria enquanto promotora de uma consciência puritana na


sociedade portuguesa pode ser observada pelo facto de registar mais casamentos
puritanos (para além de ser também das Casas que regista um maior número de
casamentos), sendo assim aquela que mais frequentemente aparece associada aos
casamentos de Casas puritanas. Um bom exemplo disto é o facto de, se analisadas as

440 BNP, Arquivo Tarouca, 270 - Carta de João Gomes da Silva, 4.° conde de Tarouca por casamento, para
o marquês de Angeja, datada de 22 de Abril de 1730, sobre o casamento da sua neta com o conde de Vale
de Reis.
441 BNP, Arquivo Tarouca, 163 - 1.° Volume (1710).

Pág. 114
Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

ascendências de todos os que tiveram de assinar o Termo, à excepção de Fernando de


Miranda, que como já referimos julgamos ser Fernando de Miranda Henriques, 2.° conde
de Sandomil, todos os restantes vão buscar à Mouraria um antepassado comum: Manuel
Teles da Silva, 1.° marquês de Alegrete. Até mesmo o 2.° conde de Sandomil, apesar de
não descender de Manuel Teles da Silva, era casado com Violante Josefa de Melo, esta
também descendente do 1.° marquês de Alegrete442.

Se anteriormente subscrevemos a existência de uma consciência puritana


enquanto inevitabilidade do seguimento de uma política de casamentos puritanos,
importa referir que esta não terá existido enquanto critério de desconsideração recorrente
das demais Casas aristocráticas. Na correspondência pessoal do 2.° marquês de Alegrete
para o seu irmão, o conde de Tarouca443, apercebemo-nos que a forma como são
comentadas as inúmeras alianças matrimoniais relatadas têm o seu enfoque mais em
questões de ordem económica - heranças de morgados e ofícios (o que julgamos ser uma
preocupação generalizável a toda a aristocracia) -, do que em questões de ordem puritana,
salientando que apenas identificamos estas últimas nas cartas do conde de Tarouca e no
que respeita aos casamentos da sua própria Casa.

Tal aconteceu na negociação do casamento de sua filha Luísa Josefa, ao recusar a


proposta de seu irmão de, não tendo por garantido o casamento com o filho o conde de
Vila Verde (futuro 1.° marquês de Angeja), manter o conde da Ribeira Grande “em
espera”, respondendo-lhe Tarouca «como heide eu depois de enjeitar tantos genros tomar
um que tão provavelmente hade dar a ocasião a sotaques e isto não são apreensões mal
[ . ] bem sabe o que me disse Luís Vieira e qual hé um sesudo que por gosto casa a filha
mais velha com acerto diplomático.»444 Desconhecemos a que «sotaques» capazes de
gerar «acertos diplomáticos» se referia Tarouca, sendo no entanto claro que o problema
se colocava também por ser o casamento com a filha mais velha que, em caso de falta de
sucessão varonil e dispensa da Lei Mental, seria a herdeira da Casa. Também à sua irmã,
Catarina de Menezes, escreverá, comentando o seu casamento na Casa dos capitães da
guarda alemã, «parece-me que as Memórias dos antecessores na sua caza devem ser muy

442 Não deixa também de ser curioso que o único antepassado comum de todas estas famílias é D. Tomás
de Noronha, 3.° conde dos Arcos, Casa puritana no início do nosso período de análise, mas que, pura e
simplesmente, não seguiu uma política puritana de casamentos.
443 Referimo-nos à correspondência constante em BNP, Arquivo Tarouca, 163, 23 Vols. contendo as cartas
do marquês do Alegrete (assinadas e muitas autografadas) para seu irmão o conde de T arouca. Nalgumas
encontram-se logos períodos de cifras. Abrange os anos de 1709-1732.
444 Cit. in Isabel Cluny, O Conde d e . , pp.185-188.

Pág. 115
Os Puritanos

obrigadas a V. Ex.a no esclarecido sangue que lhes ajuntou com esta Nora, além de
conservarlhes a pureza»445. Já numa carta ao marquês de Angeja, sobre o casamento de
uma neta de ambos, D. Joana Francisca de Noronha, com o conde de Vale de Reis,
também neto do marquês de Angeja, sugeria, como vimos no início deste ponto, que a
«igualdade» dos cônjuges era conferida por uma ascendência comum. Por aqui podemos
confirmar que o nível de conhecimento de Pombal sobre a realidade do puritanismo era
grande, porque, apesar do conde de Vale de Reis não ser puritano, ao ter casado na Casa
dos marqueses de Angeja, o seu filho adquiria esta «qualidade», confirmando que «as
ditas familias associadas não só se arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para
outros, de sorte que todos os que casavão nellas, ficavão tambem Puritanos»446.

Mas a crítica devotada a este modelo de reprodução social não assentava apenas
no facto de este se concretizar num modelo sectário, mas também porque «Vendo se por
este modo até a mesma Nobreza daquelle partido chamado Puritano em termos de acabar-
se, porque coajuntando-se os seus Matrimonios a tão poucas Casas, como he manifesto,
com huma sujeição de Liberdade dos Matrimonios incompativel com as Leis da Igreja, e
do Reino»447. Já para Tarouca, em carta à sua já referida filha na altura já marquesa de
Angeja, «Huma das cousas que estimei m.to nesta Vida, foy que cazarse Pedro com Neta
de meu Irmão de quem Vos fostes tão valida»448, referindo-se ao casamento do seu neto
e herdeiro da Casa dos marqueses de Angeja com Maria de Lorena, filha do 3.° marquês
de Alegrete, demonstrava um entendimento oposto.

Sendo desde sempre identificados com uma política de reprodução social


puritana, enquanto uma das «famílias cuja maior prosápia é a da pureza do seu sangue
[...] e tanto que não querem aliança com família que não tenha igual prosápia, e é esta a
razão por que os portugueses se casam com parentes, embora as dispensas de Roma lhes
custem os olhos da cara»449, facto confirmado tanto pelo Alvará, que chama a atenção
para «as custosas despezas das Dispensas Matrimoniaes nos primeiros Gráos dos seus
reciprocos, e mutuos Parentescos»450, como pela própria descendência da Mouraria
(cujos casamentos apresentamos de seguida), questionamos se a prática do puritanismo

445 BNP, Arquivo Tarouca, 270. Também cit. in Ibidem, p. 188.


446 Alvará, p. 189.
447 Alvará, p. 182.
448 BNP, Arquivo Tarouca, 270.
449 Castelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V . , p. 63-64.
450 Alvará, fol. 182

Pág. 116
Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

não terá sido um dos motivos para, não obstante a herança de António Teles da Silva, a
Casa se encontrar em dificuldades financeiras ainda no final do século XVII.

Exemplo da prática puritana de casamentos na Mouraria

Também através do discurso de Tarouca, acreditamos que um estudo mais


aprofundado de Casas puritanas, no que às suas políticas de reprodução social diz
respeito, não obstante a imagem que deixaram nos seus contemporâneos, poderá revelar
que a questão puritana se colocaria nestas de uma forma bem menos ideológica e clara
do que hoje julgamos, até porque a mesma nunca existiu enquanto seita, ou modelo
sectário, uma vez que se mostrou capaz de aceitar e incorporar excepções.

Para terminar, e tendo referido anteriormente que após o Alvará os laivos de


puritanismo já são muito exíguos na sociedade portuguesa, tal não quer dizer que não
observemos alguns casamentos que revivem um passado de sucessivas alianças
matrimoniais na já descaracterizada Mouraria, como são o casamento do 4.° marquês de
Valença com uma filha do 6.° conde de Vilar Maior451, ou de um neto deste com uma
filha do 4.° marquês de Angeja, ambos netos, graças à execução do Alvará, do 2.° conde
do Lavradio.

451 Apesar do filho herdeiro do 3.° marquês de Valença ter casado, no âmbito do Alvará, com a herdeira da
Casa dos marqueses de Tancos, a sua morte sem sucessão, ainda em vida de D. José, leva a que o seu irmão
se case, em 1778, com uma Mouraria, garantindo a manutenção do estatuto puritano da Casa.

Pág. 117
Co n c l u s õ e s e De s a f i o s

- §-

Todo o sangue he quasi de uma côr, e se algum se


acha mais claro, que outro, a saude o faz, e não a
nobreza.452

Pombal não estava enganado. Uma sociedade composta exclusivamente por


«Fidalgo[s] e Christão[s] velho[s] de tempo immemorial sem fama, ou rumor, em
contrario verdadeira ou falsa»453, não era reflexo de uma sociedade cristã, porque não
acolhia um dos pilares fundamentais do cristianismo: a conversão!

Este facto não passou despercebido aos inúmeros estrangeiros que estiveram em
Portugal, nomeadamente Gorani, que não deixa de comentar que «em Portugal, assim
como em Espanha, existia então um absurdíssimo preconceito, aliás em absoluta
contradição com todos os esforços empregados para converter maometanos, judeus e
heréticos à religião católica romana. Olhavam-se os prosélitos e os seus descendentes com
tão grande horror que equivalia a estas pessoas viverem à margem da sociedade. Eram
precisas quatro gerações na profissão da nova religião para levar uma família da mancha
desonrosa de ter outrora professado a religião de Moisés, de Maomé, de Lutero ou de
Calvino.»454

Mas enganava-se nas contas. No seio da mais alta e conceituada nobreza, o


puritanismo - materializado na política de reprodução social das suas Casas - impedia
toda e qualquer possibilidade de limpeza, associando um conjunto de famílias a reparos,
manchas, nódoas e notas que os impediam de se associar, em casamentos, com outras.

É difícil datar com precisão o início desta prática mais radical subjacente a uma
cultura de limpeza de sangue presente e instituída na sociedade portuguesa desde o século
XVI. O que sabemos, é que a mesma nobreza que a praticava não era a que tinha sido

452 Alexandre de Gusmão, Collecção de vá rio s. , pp. VI-VII.


453 Consulta, p. 187.
454 Giuseppe Gorani, Portugal. A Corte e o . , p. 107.

Pág. 119
Os Puritanos

titulada há mais tempo, nem a que detinha os títulos mais graduados. Assim, o
aparecimento dos Puritanos aparece no seio de uma nova aristocracia, amplamente
beneficiada pela Restauração, que patrocinou. Puritanas seriam assim, as Casas dos
duques de Cadaval e de Lafões, dos marqueses de Alegrete, Angeja, Penalva, Ponte de
Lima e Valença, dos condes de Óbidos e dos capitães da Guarda Alemã (também
conhecidos por Sousas do Calhariz). Mas a realidade que este grupo configurava na
sociedade portuguesa apresentou-se mais complexa e, sabemo-lo, não foram apenas estas
a ser conotadas com o puritanismo, nem a questão puritana nos parece poder reduzir-se
exclusivamente à identificação de quem seriam os Puritanos.

No desenvolvimento deste estudo deparámo-nos com um conjunto de Casas


aristocráticas que, apesar de terem reparos, foram aceites e incorporadas por este grupo,
cujos membros, conforme explícito no texto da Consulta, «não só se arrogarão pureza
para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que casavão nellas,
ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os defeitos que antes lhe attribuirão,
erão de natureza, que permitisse esconderem-se na escuridade dos princípios donde se
derivavão, havendo destas expiações conhecidos exemplos»455. Este facto levou-nos a
introduzir o conceito de Casa puritana em sentido estrito - para todas as famílias que não
apresentavam qualquer reparo conhecido - e em sentido lato - para todas as demais
famílias nas quais identificámos uma prática puritana na reprodução social das suas
Casas.

A conclusão à qual chegámos foi a de que, não apenas as Casas puritanas em


sentido estrito não seriam suficientes para explicar a realidade dos Puritanos, como a
própria prática de um modelo de reprodução social puritano, entendido em sentido estrito
ou lato, não seria um exclusivo dos Puritanos. Assim, podemos indiscutivelmente referir
o puritanismo enquanto um sistema estruturado e estruturante4 5 6 , seguindo a proposta de
Bourdieu, que é o mesmo que dizer, enquanto modelo transversal a toda a aristocracia,
quer a Puritanos, que o praticavam, quer a não Puritanos, que se sentiam excluídos desse
grupo ao qual, ainda assim, desejavam aliar-se. Comprova-se então que, quer falemos de
famílias puritanas, quer não457, a prática de uma política de reprodução social

455 Consulta, p. 189.


456 Pierre Bourdier, O P o d e r., pp. 6-7.
457 No grupo não puritano, os melhores exemplos são os do universo Távora: Casas de Távora, Alvor,
Atouguia e S. Vicente; o universo Santa Cruz: Casas de Aveiro e Sabugosa; e a Casa dos marqueses de
Marialva.

Pág. 120
Conclusões e Desafios

exclusivista, até no seio da aristocracia, foi considerada durante este período como uma
prática de elites e, por isso, promotora de uma consciência puritana.

Esta condição do puritanismo ajuda-nos a percebê-lo não como um fenómeno


religioso, mas sobretudo como um fenómeno social. E se a sua origem aparece
intrinsecamente ligada à criação de uma confraria de nobres para espiar o desacato de
Santa Engrácia, de 1630, a sua realidade não parece poder ser explicada pela evolução da
mesma, ao contrário do que defende a legislação josefina/ pombalina contra os Puritanos
e de acordo com o que conclui Monteiro, ou seja, que «a acusação feita à Confraria dos
Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, sem dúvida a mais importante
nos rituais da corte, não parece, de acordo com os testemunhos conhecidos, revestir-se de
qualquer fundamento»458.

É enquanto fenómeno social que a existência de um grupo como os Puritanos se


torna de mais difícil compreensão, não apenas aos nossos olhos, mas, sobretudo, aos olhos
dos seus contemporâneos. Mas se a prática do puritanismo, aos olhos dos Puritanos,
configurava uma forma de manter a mais alta nobreza pura de qualquer mácula de sangue
não genuinamente português - o que muitas vezes se confunde com esclarecidamente não
judeu e não espanhol -, não poderemos dizer que os seus maiores críticos quisessem uma
realidade diferente, defendendo D. Luís da Cunha que «se não deverião consentir os
cazamentos fora do Reino» porque «se algum estado necessita de que nelle se multiplique
a nobreza he o de Portugal»459.

Também no discurso do 4.° conde de Tarouca, João Gomes da Silva, identificamos


uma interpretação da prática puritana relacionada, não directamente com a inexistência
de reparos, mas sobretudo com a existência de uma ascendência comum. É verdade que,
ao contrário das demais famílias puritanas, os Mourarias conseguiram incorporar, de
uma forma exemplar, Casas não puritanas no seu universo de reprodução social, sendo
que nada conseguimos concluir quanto ao facto de o puritanismo nesta Casa, e nas suas
Casas de relação, se ter revestido de um carácter mais familiar, ou até consanguíneo, do
que nas demais.

A par deste fenómeno encontra-se a questão relativa à coerência e consistência do


discurso puritano e se seria transversal a todos os Puritanos. Aliás, o facto que

458 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 141.


459 D. Luís da Cunha, Escritos In éd ito s., p. 198.

Pág. 121
Os Puritanos

defendemos enquanto fundamento para a existência de uma consciência puritana é


exactamente o mesmo que advogamos para podermos estudar os Puritanos enquanto
grupo, ou seja, a existência de uma prática comum ao nível da reprodução social. Fora do
âmbito deste trabalho ficou a possibilidade de se testar, em diferentes momentos, a
possibilidade de os Puritanos se terem mobilizado, enquanto tal, na prossecução de algum
objectivo comum - também proposto por Monteiro quando refere que «não é impossível
que esta polarização tenha tido alguma tradução na política»460 - o que acreditamos poder
ser feito a partir da base historiográfica para o estudo do grupo que ora apresentamos.

Ainda assim, talvez seja, outra vez ao contrário do que é sugerido no Alvará, a
própria natureza não “política” dos Puritanos o principal motivo pelo qual o cumprimento
do Alvará terá sido suficiente para acabar com a sua prática de reprodução social. Apesar
dos «casamentos cruzados» entre as Casas de Óbidos e Ponte de Lima aquando da morte
de D. José, e de conseguirmos identificar uma tentativa de manutenção de uma política
de casamentos puritana ao nível, pelos menos, dos primogénitos nestas Casas, a realidade
era já bem diferente, podendo considerar-se que o Alvará foi bem sucedido, deixando esta
prática de, tanto quanto sabemos, causar quaisquer constrangimentos no seio da
aristocracia portuguesa, um grupo que também se preparava para uma grande mudança
no decurso do reinado de D. Maria I.

Terminamos com um sentido do dever cumprido, acreditando que esta dissertação


contribuirá, enquanto base historiográfica, para quem, como nós, se deixe interessar por
este tema. O tema transversalmente complexo que reveste a realidade dos Puritanos
possibilitará que a nossa proposta de identificação do grupo, bem como o poder e
influência que enquanto grupo detiveram no período de análise, seja testada a outros
níveis e, sobretudo, para reinados e períodos mais específicos, ajudando-nos a perceber
melhor o que motivava os Puritanos na prossecução de uma política de reprodução social
que aos nossos olhos, e aos dos seus contemporâneos, parece fruto de uma pura
obstinação, mas que ainda assim não só não os diminuiu, como ainda conseguiu
capitalizar a importância que detiveram ao longo de cinco reinados461.

Adicionalmente, e não obstante termo-nos centrado sobretudo na expressão do


puritanismo na aristocracia portuguesa, não devemos excluir a possibilidade de uma
adesão igualmente radical noutros grupos da sociedade portuguesa, o que configuraria,

460 Nuno Gonçalo Monteiro, O C repúsculo., p. 141.


461 Lembramos, a título de exemplo, Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa, D. João VI..., p.92.

Pág. 122
Conclusões e Desafios

indiscutivelmente, um tema interessante de ser estudado, até porque permitiria testar se


um modelo de reprodução social elitista, ou de alguma forma promotor e capaz de
suportar uma elite, seria aceite por modelo paradigmático pelos demais grupos da
sociedade e, por isso, reproduzido (ou reinventado) com o objectivo de promover e
definir, ele próprio, posições sociais hierárquicas superiores noutros grupos sociais.

Pág. 123
Fo n t e s e Bi b l i o g r a f i a

- §-

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Pág. 125
Os Puritanos

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presente, os horrorosos estragos, que a Companhia denominada de Jesus fez em
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seguido desde que entrou neste Reyno, até que foi delle proscripta, e expulsa pela
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An e x o s

- §-

ANEXO 1: D. João V bebendo chocolate (miniatura a óleo sobre marfim) [p. 1]

ANEXO 2: Compêndio de Legislação sobre os Puritanos [p. 3]

ANEXO 3: Retrato puritano da Aristocracia Portuguesa [p. 19]

ANEXO 4: Notas sobres os reparos “perdoados” ou “esclarecidos” [p. 95]

ANEXO 5: Alguns contributos para o estudo da Confraria dos Escravos do Santíssimo


Sacramento de Santa Engrácia [p. 107]

ANEXO 6: A casa “real” da Mouraria: o contributo de Pedro Silva Miguel [p. 131]

Pág. 139
A N EX O 1: D. João V bebendo chocolate | miniatura a óleo sobre marfim

Alessandro Castriotto, 1720 | Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

Proposta de identificação das personagens:

1. Infante D. Miguel (1699-1724), filho natural de D. Pedro II;


2. Fernando Teles da Silva (1662-1731), 2.° marquês de
Alegrete;
3. D. António Pedro de Noronha (1661-1731), 1.° marquês de
Angeja;
4. O pintor;
5. D. João V (1689-1750);
6. D. Pedro Henrique de Bragança (1718-1761), filho do infante
D. Miguel e futuro duque de Lafões;
7. Pe. Pedro Chevalier, perceptor da criança e confessor da
família real.

Fonte: FERREIRA, Paulo - Decifrar a Arte em Portugal, Barroco. [Lisboa]: Círculo de Leitores, 2014,
pp. 132-133.

Pág. 1
ANEXO 2: Compêndio de Legislação sobre os Puritanos

Termo que faz o Ill.mo e Ex.mo D. José Miguel João de Portugal, Marquez de Valença
em execução do Alvara de Ley de sinco do corrente mez de Outubro462

Alvará de 5 de Outubro de 1768463

(“Alvará dos Puritanos”)

[181] Eu ELRei Faço saber aos que este Alvará de Lei virem, que tendo chegado á Minha
Real Presença pela primeira vez o Compromisso, que em 20 de Dezembro de 1663 se
formou para Governo da Confraria da Nobreza, que antes se tinha levantado, para a
expiação do Desacato, que na noite de quinze, para dezasseis de Janeiro do anno de 1630,
se havia commetido no Sacrario da Freguezia de Santa Engrácia: Havendo mandado

462 ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, doc. 4.


463 Apresenta-se a versão constante no Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza do
Desembargador António Delgado da Silva. Pelo mesmo. Anno de 1763 a 1790, Lisboa, Na Typ. de Luiz
Correa da Cunha, 1844, pp. 181-185, por comparação com o presente na BNP, COD. 6937, fols. 1-15.

Pág. 3
Anexo 2

Consultar na Meza do Desembargo do Paço, com assistencia dos Procuradores Regios o


sobredito Compromisso: E fazendo ver, e ponderar muito seriamente no Conselho
d’Estado, o que sobre elle se Me consultou, foi uniformemente assentado por todos os
votos da sobredita Meza, e Conselho, que o referido Compromisso em lugar de conter em
si as pias regras com que a mesma Nobreza se devia unir nos exercicios de devoção, que
erão proprios de hum fim tão Santo, como o que havia feito o objecto da dita Confraria,
continha em si muito pelo contrario a base de huma associação ordenada a semiar sizanias
na mesma Nobreza, para levantar no meio della sedições, e discórdias, e para denegri-la
com injurias tão atrozes, e offensivas da paz publica de Minha Corte, como da Magestade
da Minha Corôa464, da Authoridade do [sic] Meus Tribunaes, e das causas465 por elles
julgadas, cuja inviolavel observancia constitue hum dos mais solidos fundamentos do
[182] socego dos Povos: E que assim se manifestava, logo que o referido Compromisso
se combinava com a historia do tempo em que foi machinado, vendo-se que foi feito em
uma conjunctura, na qual a feroz sociedade Jesuitica por huma parte se tinha arrojado o
despotico arbitrio de todas as disposições do Governo da Corte, e da Cidade, e pela outra
parte procurava concitar nella seduções, e perturbações da tranquilidade publica: Vendo-
se que assim para estes máos fins fora buscar (para illudir466 os Gremios dos Artifices de
Lisboa) os estratagemas da Liga de França, da mesma sorte para dividir, e perturbar a
armonia do Estado da Nobreza copiou ao vivo o outro infame Original de Puritanismo
que em Inglaterra se tinha levantado desde o anno de 1565 até ao de 1569, pretendendo
os inventores, e os sequazes delle persuadir aos Inglezes, que eram mais puros na Religião
do que todos os outros dos seus compatriotas; vendo-se que os referidos Jesuitas com o
mesmo intento inventárão, e copiarão tambem nesta Corte o outro Puritanismo de sangue
a que lhe derão por difinição - Fidalgo e Christão velho de tempo imemorial, sem fama,
ou rumor em contrario, verdadeira ou falsa. - Vendo se que isto foi na substancia o
mesmo que identicamente se escreveo no Capitulo 5.° do referido Compromisso pelas
fromaes palavras. E que a tem, isto he a pessoa, que houver de ser recebida na Confraria,
por Christão velho sem nunca se entender o contrario: Vendo se que assim ficou suspeito
e infamado todo o Estado da Nobreza, desde aquelle tempo, suppondo nella Hebreos o
mesmo Compromisso, publicando-o assim os sequazes delle, e da difinição que fez a sua
base, levantando, e sustentando os dois differentes partidos de Puritanos, e de Infectos,

464 No documento da BNP não aparece esta expressão: «como a Magestade da Minha Corôa», p. 2.
465 No documento da BNP aparece «couzas», p. 2.
466 No documento da BNP acresce «como iludio», p. 3.

Pág. 4
Compêndio de legislação sobre os Puritanos

que durárão desde então até agora, tratando dele os Genealogicos nos seus
necessariamente mal informados, e temerarios livros, praticando-se com desenvoltura o
mesmo nas convenções, e nos ajustes de casamentos, chegando a estabelecer se, por
máxima commum, que a Inquizição não era Guardanapo a que as Gentes se fossem
alimpar, e sustentando-se aquella sediciosa barbaridade com a afrontosa supposição de
inhabilidade, e exclusiva de tantas Casas da primeira Grandeza deste Reino, como forão
as que se virão privadas de entrarem no Serviço das Inquizições, e de darem filhas para
as outras Casas, não só da mesma Classe, mas ainda de outras de menos graduação, sem
reparar em que isto he o mesmo que ainda estão praticando os Hebreos, os quaes não
casão fora da Tribu de sua Geração: Vendo se por este modo até a mesma Nobreza
daquelle partido chamado Puritano em termos de acabar-se, porque coajuntando-se os
seus Matrimonios a tão poucas Casas, como he manifesto, com huma sujeição de
Liberdade dos Matrimonios incompativel com as Leis da Igreja, e do Reino, he preciso
que venhão a perder, por huma parte com a falta de Esposas, que necessariamente hade
haver em hum tão reduzido numero de Familias, pela outra parte com as custosas despezas
das Dispensas Matrimoniaes nos primeiros Gráos dos seus reciprocos, e mutuos
parentescos: E vendo-se em fim, que todo o corpo da dita Nobreza se acha assim
atrozmente injuriado no conceito Universal da Europa, porque fazendo-se crer aos
Estrangeiros, que vivem nesta Corte, que em Portugal só ha pureza de sangue naquellas
poucas Casas, ficão persuadidos, que a mesma Nobreza, se compõe só daquelle pequeno
numero de Familias Christãas velhas, e que todas as outras são maculadas com sangue
Hebreo. Representando-se-Me na sobredita Consulta, e Assento do Conselho de [183]
Estado; em consequecia de tudo o referido, que aos sobreditos inconvenientes accrescia,
para fazer indispensavel, a mais prompta e efficaz providencia applicada sem mais perda
de tempo: Primeiramente que em nenhum Reino ou Estado Catholico e Civil se permittio
até agora huma Associação, União, ou Conventiculo de certas Familias, ou Pessoas
particulares, que pela sua própria Authoridade, se atrevão a separar-se do Commum dos
seus Compatriotas, ainda quando claramente não conste, que he para lhes fazer injurias
tão atrozes como as que este partido Puritano tem por tantos annos accumulado, não só
contra o outro partido por elle, e pelos seus Sequazes pertendido Infecto, mas tambem
geralmente a todo o Corpo da mesma Nobreza de que são membros: Em segundo lugar,
que sendo Eu o Protector da mesma Nobreza, e da sua honra [muito mais precisa do que
a vida] não devo permitir, que na Minha corte se lhe faça a offensa de se lhe pòrem, e
darem pelo arbitrio particular, e temerario dos sobreditos Puritanos as referidas

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Anexo 2

inhabilidades, e exclusivas, sendo contrarias a todas as Leis Divinas, e humanas. Em


terceiro lugar, que sendo Eu tambem a única fonte da qual sómente he que podem emanar
as honras, as graduações, e as qualificações Civis para os Meus Vassallos, não poderia
permitir, depois de informado, sem lesão da Magestade da Minha Corôa, que entre os
mesmos Vassallos houvessem alguns que se atrevessem a qualificar, e graduar, pelo seu
proprio arbitrio, nem os que lho são iguaes na Classe de Graduação467, nem ainda
quaiquer dos outros nella inferior na graduação, usurpando assim temerariamente a
Suprema juriadicção da mesma Coroa, á qual são intransmissivelmente inherentes a
distribuição e regulação das Classes, e das honras dos Meus ditos Vassallos, e a protecção
do que entre elles se achão opprimidos: Concluindo finalmente a sobredita Consulta, e
Assento sobre ella tomada: Que fazendo se in dispensável que Eu arrancasse, sem mais
perda de tempo pelas suas raizes hum mal de tão preniciosas consequencias, não podia
haver para este fim outros meios, que não fossem os que vão abaixo declarados. E
conformando-Me com os pareceres da Consulta da mesma Meza do Desembargo do Paço,
e do mesmo Conselho d’Estado, Sou servido Ordenar o seguinte.

1.° Mando que todos os que são, e forem cabeças das Familias ate agora
chamadas Puritanas, logo que tiverem filhos em idade para poderem Casar, sejão
chamados á Secretaria de Estado: Que nella se lhes declare no Meu Real Nome, que Eu
reprovo e condemno todos os Casamentos ajustados, ou que se houverem de ajustar
dentro do Grémio dos mesmos chamados Puritanos.

2.° Item Mando, que todos os que são, e forem Cabeças de Familias chamadas
Puritanas que dentro do termo de quatro mezes premptorios, contínuos, e improrogaveis,
hajão de ajustar a casar os referidos seus filhos em qualquer das outras Familias, que elles
até agora excluirão, como não Puritanas desterrando-se para isto, como sou servido
desterrar, debaixo das penas ao diante declaradas, o outro horroroso absurdo, com que no
mesmo sedicioso espirito de Puritanismo se andavão excogitando (ainda entre os que o
não seguião) defeitos inventados, e quimericos para se injuriarem huns aos outros,
inhabilitando-se reciprocamente para os Matrimonios aquellas Familias, a que se tinhão
imputado estes, ou aquelles defeitos diversos dos que se atribuião aos que necessitavão
de Casarem seus filhos, e dizendo estes que não querião manchar a sua casa com outras
notas, além das que já tinhão [184]. E isto como se estivesse no arbitrio dos Genealogicos,

467 No documento da BNP vem «Classe da Grandeza».

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

ou dos outros particulares detractores anullarem as Sentenças de habilitações dos


Tribunaes do Santo Officio da Inquizição, e das Ordens Militares, ou sentirem mal delles,
sem levantarem huma sedição criminosa, e punivel por todas as Leis Divinas e humanas;
como se fossem necessario ser mais puro no sangue do que os Ministros dos Tribunaes
da Fé, e das Ordens Militares; e como se esta pertendida pureza podesse ter outros effeitos
que não fossem os das perturbações, e das discórdias que tem causado no Corpo da
Nobreza.

3.° Item. Determino, que não casando os sobreditos Puritanos os seus filhos
dentro dos quatro mezes acima declarados, depois de haverem sido para isso intimados,
fiquem pelo mesmo lapso de tempo irremissível, e effectivamente privados de todos os
Fóros, Dignidades, Honras, e Bens da Corôa, e Ordens, que tiverem, para delles mais não
gozarem de modo algum, qualquer que elle seja, revertendo todas as referidas Honras, e
Bens a incorporar-se na Minha Coroa, não obstante quaisquer Doações, que dellas e delles
tenhão os transgressores desta Lei, porque desde agora para então Hei por cassadas, e
abullidas e nullas, como se nunca houvessem existido: Primeiro a de haver algumas vidas,
se os sobreditos Transgressores della houvessem falecido sem deixarem descendentes.
Segundo o de requererem com Certidões no termo preciso de trinta dias, continua e
sucessivamente contados desde o dia da privação dos sobreditos Transgressores, os seus
Descendentes que lhe succederião por Direito, se elles mortos fossem, mostrando que tem
cumprido as disposições desta Lei no referido Termo, porque neste cazo lhes serão
restituídas as mesmas honras, e Bens, posto que já se achem incorporadas no Meu Fisco,
e Camara Real.

4.° Item. Àttendendo a que seria muito indecoroso fazer authenticamente


publica a injuria que á Minha Coroa, ou Corpo da Nobreza, e a toda a Nação se seguiria
de constar na Europa, que por tanto tempo se tolerárão neste Reino attentados e absurdos
tão estranhos na Sociedade Civil, e na União Christãa, como os referidos, Mandei que
tudo o acima determinado se reduzisse a este Alvará secretissimo, o qual não descerá a
Tribunal algum, nem á Chancellaria, mas antes pelo contrario ficara occulto nos lugares
mais reconditos dos Archivos do Conselho de Estado, e da Secretaria de Estado, dos quaes
não sahirá; nem se comunicará a pessoa alguma, que não seja das que nelle se achão
declaradas.

5.° Item. Mando que para a boa e decente execução de todo o que tenho deste
ordenado, sejão os sobreditos Cabeças de Familias Puritanas opportunamente chamados

Pág. 7
Anexo 2

a Secretaria d’Estado dos Negocios do Reino, e que nella lhes seja lido o presente Alvará,
desde a primeira até à última palavra, de sorte, que bem fiquem comprehendendo o
conteúdo nelle. E que sobre esta especifica, e segnificante intimação sejão obrigados
assignarem no mesmo acto termos, pelos quaes se dêem por notificados, se obriguem a
cumprir tudo o que fica acima ordenado, e promettão inviolavel segredo das intimações
que se lhes fizerem, e tudo isto debaixo das mesmas penas acima declaradas468.

6.° Item. Mando que para mais efficazmente obviar tambem aos temerarios
absurdos, com que até agora se attentou criminosa, e sediciosamente [185] contra as
Sentenças dos Tribunaes da Mesa da Consciencia e Ordens, e do Santo Officio da
Inquizição, attrevendo-se os Authores dos Livros Genealogicos, e os Interlocutores de
conversações malevolas a escreverem, e falarem mal da pureza de sangue das Familias
julgadas competentemente por limpas nos referidos Tribunaes, seja logo expedido outro
Alvará em termos decentes para se publicar, aos fins de se conhecer dos referidos Livros
Genealogicos, e dos que delles fazem reprovados usos para se cohibir a maledicencia dos
que por praticas infamão ignorante e barbaramente as sobreditas familias, com o pretexto
dos mesmos Livros, e de rumores vagos, e populares ordinariamente suscitados pelas
paixões daquelles que os inventão para os espalharem.

Este se cumprirá inteiramente como nelle se contém, sem duvida, ou embargo


algum. Valerá como Lei publicada na Chancellaria, posto que por ella não hade passar. E
Mando quês as Intimações passoaes acima ordenadas tenhão força de publicação, de
citação, e de bastante Audiencia das Partes para todos os effeitos de facto, e de Direito:
Que as matérias pertencentes á referida execução tenhão a natureza dos negocios de
Estado, e sejão expedidas na forma, que o Direito determina para tão importante negócio,
pelos Ministros privativos, que Eu fôr servido nomear nos casos occurrentes: E que este
tenha sempre, e em todo o tempo a mesma força e vigor, posto que o seu effeito haja de
durar mais de hum, e muitos annos, e não haja sido publicado na Chancellaria, não
obstante as Ordenações, que o contrario determinão, e quaesquer outras Leis, e
Disposições de Direito Pátrio, e Civil, e opiniões de Doutores, que da mesma sorte sejão
em contrario, porque todas, e todos, Hei por expressas em forma especifica para as
derrogar (como derrogo) para este effeito sómente, de Meu Motu Proprio, certa Sciencia,
Poder Real, Pleno, e Supremo, e nomeadamente o sobredito Compromisso; ordenando

468 No documento da BNP lê-se «estabelecidas».

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

que logo se lavre outro, que seja digno de huma Confraria, cujo objecto he tão devoto, e
pio, e da qual Eu sou Perpetuo Juiz, e Protector. Escripta no Palacio de Nossa Senhora da
Ajuda a 5 de Outubro de 1768 - Rei - Conde de Oeiras.

- §-

Parecer do Conselho d’Estado que precedeo este Alvará de 3 de Outubro de


1768469

[185] Na Real Presença de Sua Magestade se virão, e ponderárão em Conselho de Estado


assim o Compromisso da Confraria do Santissimo Sacramento da Freguezia de Santa
Engrácia datado de 20 de Dezembro de 1663, como a secretissima Consulta, que com o
assunto delle subio da Meza do Desembargo do Paço na data de 23 de Setembro proximo
preterido: E foi por todos os votos uniformemente assentado que se louvasse á sobredita
Mesa o judicioso zello, e o completo acerto, com que aconselhou o dito Senhor em hum
Negocio de tanta delicadeza, de tanta importancia, e de tanta urgencia: Que se lavrasse
logo Alvará por ella indicado, que a este se lhe desse a sua devida execução, sem mais
perda de tempo debaixo das penas declaradas da referida Consulta, pelo que pertence á
parte respectiva á total extinção, e abolição do Puritanismo, e a se obrigarem os Cabeças
das Casas, que na Inquisição, e na Misericórdia desta cidade o ficárão sustentando, e se
prevallecerão delle para as ruinas da honra, e da fazenda dos Vassalos de Sua Magestade
[186]: Estas Instituições pias da mesma Misericórdia que forão manifestas
constrangendo-os a casarem logo que tiverem idade os seus filhos nas outras casas, por
elles até agora excluídas, e injuriadas como infectas; que porem pelo que toca a outra
parte da mesma Consulta que diz respeito á sujeição com que os Chefes, e Corifeos do
mesmo Puritanismo submetterão a Soberana e temporal da Côroa destes Reinos á
Jurisdicção Ecclesiastica do Ordinário de Lisboa, para com a cooperação delle darem á
sua infame Associação as maiores forças, com que depois fizerão e ficárão fazendo no
Real Throno, e nas referidas Inquizição, e Misericórdia da mesma Cidade de Lisboa os

469 Apresenta-se a versão constante no Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza do


Desembargador António Delgado da Silva. Pelo mesmo. Anno de 1763 a 1790, Lisboa, Na Typ. de Luiz
Correa da Cunha, 1844, pp. 185-186.

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Anexo 2

estragos, que as Histórias referem, e os viventes virão ainda com igual horror: Se assentou
que este delicado ponto se conservasse por ora em profundo silencio, não só porque os
factos das referidas associação, e sujeição da Auctoridade Regia com hum tão abominavel
fim, manifesto pelo dito Compromisso, e os igualmente abominaveis effeitos, que delles
se seguirão, e ficarão seguindo até aos tempos visinhos contém atrocíssimos crimes de
Lesa Magestade de primeira cabeça, os quaes se não extinguirão com a morte, segundo o
Direito, mas tambem porque nesta certeza seriam de hum preneciosissimo exemplo, que
tratando-se do sobredito Alvará destes execrandos crimes, deixasse de condemnar as
memorias dos que os commetterão, e dos que os seguirão, impondo-se-lhes as penas que
as Leis determinão. E porque havendo-se inclinado a Benigníssima Clemencia do Mesmo
Senhor a conservar as casas daquelles que entre os Descendentes dos sobreditos Reos de
Lesa Magestade não tendo culpas pessoaes daquella natureza, tem seguido o mesmo
Puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma geral preocupação, que achárão
estabelecida, não pode haver para o fim desta Clementíssima Indulgencia outro meio, que
não seja o do referido profundo silêncio, quanto a esta parte. E sendo Sua Megestade
servido conformar-se com a referida Consulta e modificações, votos sobre ella dados no
presente Conselho d’Estado, mandou que de todo o sobredito se lavrasse o presente
Assento, e que immediatamente se procedesse á execução do nelle conteúdo. Palacio de
Nossa Senhora da Ajuda em Conselho de tres de Outubro de mil setecentos sessenta e
oito - F. Cardeal Patriarca - Dom João Arcebispo Regedor - Marquez d’Alvito - Conde
de Oeiras - Dom Luiz da Cunha - Francisco Xavier de Mendonça Furtado.

- §-

Consulta que precedeo o Conselho d’Estado de 23 de Setembro de 1768470

[186] Senhor - O Conde de Oeiras, Ministro e Secretario d’Estado participou a esta Mesa
a Ordem de Vossa Magestade, para que nella com assistencia dos dois Procuradores
Regios, se visse o Compromisso que até agora estava occulto na Irmandade do Santissimo

470 Apresenta-se a versão constante no Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza do


Desembargador António Delgado da Silva. Pelo mesmo. Anno de 1763 a 1790, Lisboa, Na Typ. de Luiz
Correa da Cunha, 1844, pp. 186-192.

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

Sacramento de Santa Engracia, de que Vossa Magestade he Perpetuo Juiz, e Protector, e


que sobre ella se lhe consultasse no mais delicado segredo, que he tão proprio de hum
Tribunal desde a sua origem do intimo Conselho de Vossa Magestade.

Não se pode, Senhor, nem comprehender toda a abominavel malicia que se


envolveo no dito Compromisso, sem o socorro da Historia do seculo, em que elle foi
machinado, nem ver-se sem horror, que se tomasse [187] hum tão sagrado pretexto para
se arruinar a Monarchia, a Nobreza, a honra, e a Fama; e como a Mesa deve propòr a
Vossa Magestade os meios que lhe parecer proporcionados para arrancar de uma vez as
raizes de hum tão grande mal, não pode dispensar-se de pòr diante dos olhos com o
subsidio da Historia o systema, e espírito machiavelico do referido Compromisso.

Depois que os Jesuitas impedirão neste Reino toda a introducção de Livros


Estrangeiros, e até das novas publicas da Europa, para a sua malignidade poder arruinar-
nos com toda a segurança, sem que conhecêssemos o mal que elles nos fazião, passarão
a copiar em distruição deste Reino, tudo o que os mais temerarios, e impios Facinorosos
tinhão praticado nas outras Monarchias do nosso Continente. Já se vio na primeira parte
da Dedução Chronologica, e Analitica, que desde a feliz Acclamação do Senhor Rei Dom
João 4.°, até ao tragico fim do Reinado do Senhor Dom Affonso 6.°, copiarão os ditos
Jesuitas nesta Corte e Reino identicamente os mesmos originaes do Fanatismo da Liga de
França, e das Hipocrisias do Imbusteiro Campanella, fazendo o papel deste impostor ao
vivo o Padre António Vieira, e as figuras do partido da dita Liga, as Irmandades de todos
os Gremios do Povo de Lisboa. Faltava-lhes fazer a mesma união fanatica do Estado da
Nobreza, e para isto forao copiar da mesma sorte ao vivo o outro original da Seita dos
Puritanos que se tinha alevantado em Inglaterra, segundo alguns Authores no anno de
1565, e segundo outros no de 1569, que persuadião que erão mais puros na Religião do
que todos os outros; que debaixo deste pretexto da maior pureza levantárão os maiores
tumultos em Inglaterra; e que ultimamente armárão a temeridade de Cromwel até ao ponto
de arruinar a Monarchia daquelles Reinos, e de cortar no anno de 1649 a cabeça ao seu
Rei Carlos 1.° em hum Cadafalso, como he publico em todas as Historias, e especialmente
na do Puritanismo de Inglaterra, escripto por Amecio Gari; e outros muitos, assim como
o Puritanismo de Portugal armou contra o Senhor Rei Dom Affonso 6.° a Seita, que lhe
roubou a Coroa, a Liberdade, e a Esposa.

A experiencia tinha mostrado aos Jesuitas que nada lhe ministrava tantas forças
como a maliciosa invenção das Associações, e uniões que tinhão estabelecido, debaixo

Pág. 11
Anexo 2

da sua direcção em tantas Confrarias dos Grémios da Plebe de Lisboa, e da ordem dos
Ministros da Toga. Guiados pois pelo mesmo espírito de união viciosa quando projectárão
a ruína do Senhor Rei Dom Affonso 6.° e da honra dos Vassalos deste Reino, com huma
infamia que durará nas Memorias funestas de Portugal até ao fim dos séculos, foi hum
dos seus principaes estratagemas, o com que machinárão no meio das Classes da Nobreza
aquelle horroroso monstro, ao qual impuzerão o nome de Puritanismo. Monstro que com
a mesma denominação, acabava em Inglaterra de cortar a cabeça a ElRei Carlos 1.°, e
derão por distinção (que ainda hoje dura com o referido nome) Fidalgo e Christão velho
de tempo immemorial sem fama, ou rumor, em contrario verdadeira ou falsa. Definição
que abortou a abominavel máxima, que a bondade do Cardeal da Cunha achou, e seguio
no cargo de inquizidor Geral, por haverem antecedentemente feito passar em provérbio
os machinadores da referida Seita - Que a Inquizição não era guardanapo a que as gentes
se fossem alimpar, máxima cujo maligno espirito manifesta que ella se ordenou a fazer a
mesma Inquizição hum monopolio dos ditos Puritanos, excluindo della os outros Fidalgos
[188] em que não concorressem aquellas esquisitas e inventadas circumstancias de serem
- Christãos velhos sem fama ou rumor em contrario veradeira ou falsa. Proseguindo pois
os ditos Jesuitas o referido plano malicioso de formarem huma união na Nobreza por elles
dirigida, e valendo-se para este effeito da authoridade com que o seu padre Nuno da
Cunha governava a casa da Mouraria, tão despoticamente como consta de Documentos
Originaes que existem entre os seus papeis, por ser irmão de Dona Mariana de Mendonça,
mãe do primeiro Conde de Villar-Maior, Fernão Telles da Silva, e tinha ao mesmo tempo
na Corte, e no Santo Officio a influencia que lhe dava seu irmão o Inquizidor Manoel da
Cunha, Bispo, Capellão Mór, e Arcebispo Eleito de Lisboa, tomando este, e os mais
Padres da sua feroz Sociedade, o sagrado pretexto da expiação do sacrilegio, que na noite
de 15 para 16 de Janeiro de 1630 se havia commetido na Igreja de Santa Engrácia,
publicárão trinta e três annos depois no de 1663 o Compromisso que desde então até agora
se ficou observando com dois absurdos tão manifestos, e dois extratagemas tão
extraordinários, e nocivos, como são os seguintes: O primeiro delles, foi o de
estabelecerem o referido Puritanismo por Lei do Capitulo 5.° nestas formaes palavras. “A
Eleição se fará nomeando cada hum dos doze, huma pessoa para irmão, declarando
debaixo de juramento, que tem recebido, que não se lhe falou na dita pessoa para a propor,
e que a tem por Christão Velho sem nunca se entender o contrario.” Palavras tão cheias
de diabolica malícia, tão incompativeis com huma Confraria composta da primeira, e mais
graduada Nobreza, com o Senhor Rei Dom Affonso seu Protector á testa, e tão injuriosas

Pág. 12
Compêndio de legislação sobre os Puritanos

ao corpo de huma tal Nobreza, em quanto supponhão judeos nella, como coherentes, e
conformes, com o maligno espírito das outras palavras da difinição do tal Puritanismo
acima copiadas que dizem sem fama ou rumor em contrario verdadeira ou falsa. E com
o mesmo projecto de Associação dos ditos chamados Puritanos, excluindo todas as outras
famílias desta Confraria de Nobreza, assim com as tinhão procurado excluir da
Inquizição, como com effeito consegurão com injuria de tantas casas de primeira
grandeza deste Reino.

O segundo dos ditos estratagemas, foi o de estabelecerem pelo termo escripto no


verso da carta de confirmação, e protecção do dito Monarcha que se iria pedir
confirmação ao Prelado, como foi com effeito pedida à Relação Ecclesiatica desta Corte,
a qual lhe defirio da maneira seguinte. - Accordão em Relação &c. que antes de outro
Despacho fação os supplicantes termo de sujeição ao Prelado, para se poder deferir -
Lisboa 20 de Março de 1604 - Diniz - Almeida - Paço - Barreto. Accordão que da mesma
sorte foi tão incompativel com uma Irmandade de Leigos, composta da primeira, e mais
gradoada Nobreza do Reino, e com a precedente confirmação, e Protecção Real do dito
Rei Dom Affonso, que era dos chamados supplicantes, expressos no referido Accordão
como demonstrativo de que esta sujeição, em que pelo referido Compromisso pozerão o
dito Senhor, e todo o corpo da sua Nobreza, subordinando-o á dita Relação Ecclesiatica,
foi o mesmo de que habilita-lo para a outra infame e abominavel causa da dissolução de
Matrimónio, cuja Sentença com horror de toda a Europa se proferio, poucos annos depois
de 1667.

Desde o tempo do dito Compromisso, he pois constante e notório a toda esta Corte,
que pelo meio daquelle maligno estratagema chamado [189] Puritanismo se forão as
familias, por elle assignadas, apropriando o arbitrio dos Matrimonios das outras familias
mais distinctas, e mais numerosas da mesma Corte. Ellegendo humas como Puritanas,
reprovando outras como infactas, e fazendo assim a poderosa união, que forão ampliando
com os casamentos de algumas daquellas mesmas famílias chamadas infectas, para as
trazerem á sua associação, debaixo do pretexto de as purificarem, porque as ditas familias
associadas não só se arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte
que todos os que casavão nellas, ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os
defeitos que antes lhe attribuirão, erão de natureza, que permitisse esconderem-se na
escuridade dos princípios donde se derivavão, havendo destas expiações conhecidos
exemplos.

Pág. 13
Anexo 2

Assim arruinarão os ditos Puritanos o Throno desta Monarchia, assim levantárão


sobre as ruinas delle a façanhosa Aristocracia, que durou todo o Reinado do Senhor Rei
Dom João 5.° com os estragos dos cabedaes, das forças, e da reputação desta Corôa, e dos
Vassallos della que ainda se estão fazendo presentes aos olhos dos que hoje vivemos. Este
he o monstro, que ainda se está nutrindo, e sustentando-se nas preocupações dos
descendentes dos authores daquelle fatal estratagema, animados e illudidos pelo que
ouvirão aos seus maiores, e pelo que lerão, e lêem nos escriptos que elles lhe deixarão em
abominavel Patrimonio. Este he o monstro que parece que de necessidade se deve
debilitar até o distruir inteiramente, sem delle ficarem os menores vestígios, e sem perda
de tempo por muitas razões claras.

A primeira porque em nenhum Estado Soberano que vive debaixo de hum


Governo Supremo, se permittio até agora huma Associação, união ou conventiculo de
certas pessoas particulares, como he o que constitue esta Seita chamada Puritanismo, e
que na realidade constitue, além do referido huma sedição punível pelas Leis de todas as
Nações Civilisadas, ainda quando não consta do mal com que as referidas pessoas se
separão pela sua authoridade própria do commum dos seus compatriotas.

A segunda razão he porque as referidas disposições de Direito se fazem muito


mais urgentemente indispensáveis, quando consta que a tal sedição, não só for ordenada,
e dirigida a dois males tão grandes, com os que já tem feito, e está ainda fazendo entre
nós: Isto he por uma parte conspirar contra a Coroa, e contra o publico socego com
tumultos, como já succedeo tão desgraçadamente: E por outra parte injuriar a maior parte
da Nobreza desta Corte, e Provincias deste Reino, pondo nella huma inhabilidade, e
dando-lhe huma exclusiva tão offensiva da honra, como contraria a todas as Leis Divinas,
e Humanas, como ainda agora se está praticando com publicidade escandalosa, que está
desafiando a Real Providencia.

A terceira razão he, porque sendo Vossa Magestade a única fonte de Nobreza da
qual sómente podem emanar as honras, as graduações, e as qualificações para os seus
Vassalos, não pode haver maior temeridade, nem barbaridade mais clara, e manifesta do
que pode haver entre os mesmos Vassallos alguns tão arrogantes que se atrevão a ser elles
árbitros da graduação, e da Nobreza dos que lhes são iguaes na classe da mesma Nobreza,
e ainda na linha de Vassallos, com huma notoria usurpação da Dignidade Regia, e
Jurisdição Suprema, ás quaes he inherente a distribuição das honras, e das classes para as
regular, e ordenar, como bem lhe parecer.

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Compêndio de legislação sobre os Puritanos

[190] A quarta razão he porque reduzindo-se os taes Puritanos a hum piqueno


numero, que quasi se conta pelos dedos, sendo tão numerosos os que elles publicão
maculados, segue-se que os Estrangeiros, que vêem isto na Corte, ficão persuadidos de
que a Nobreza se compõe de hum pequeno numero de Christãos Velhos, e que todos os
outros são judeos, accrescendo que os taes Puritanos se não esquecem de assim o
divulgarem com a propria jactancia.

Estas além de outras, são as razões que occorrem á Mesa para consultar a Vossa
Magestade a urgentíssima necessidade, que ha de inteiramente destruir este monstro sem
perda de tempo. Não deixou de lembrar á dita Meza para este fim, a providencia da Lei
de 23 de Novembro de 1616, em quanto comunicou perda de perdimento dos bens da
Côroa aos Donatários, que casarem sem expressa licença de Vossa Magestade, e a de
inhabilidade para nelles succederem aquelles, que não sendo donatarios esperassem se­
lo: parecendo, que seria bastante providencia negar Vossa Magestade as licenças aos dos
grémios, e união dos Puritanos na occasião em que qualquer delles possa pedi-la para
casar dentro do gremio. Porém lembrou ao mesmo tempo tempo, que esta providencia
nas presentes circumstancias não só seria inefficaz, mas poderia ser mais prejudicial, que
a dissimulação: Por quanto mostra a experiencia, que todas as vezes, que a males urgentes
de uniões, e sedições da natureza do Puritanismo, se senão applicão remedios promptos,
e efficazes, converte-se em maior mal o remedio paliativo, ou a providencia prolongada,
porque anima os espiritos inquietos, enchendo-os de vanglorias, e esperanças vãas de
futuros contingentes, que muitas vezes se vereficão lastimosamente para ressuscitarem as
sedições com maior furor, e para maior damno da Republica.

Entende pois a Meza que o único remedio prompto e efficaz para extinguir o
monstro do Puritanismo, sómente pode consistir em Vossa Magestade ser servido Mandar
declarar aos cabeças das familias Puritanas, que ou estiverem por casar, ou tiverem filhos
para casar, que tem determinado não approvar os seus casamentos dentro do gremio do
Puritanismo, e que justamente tem determinado, que com effeito casem logo dentro do
preciso termo de tres ou quatro mezes, aquelles que estiverem em idade de casar, e que
não casando dentro do termo preciso, serão privados das honras, e dignidades, que
tiverem, e serão por esse mesmo effeito privados dos bens de Coroa e Ordens, remedio
único para efficazmente, extinguir o Puritanismo, e castigo proporcionado aos que com
injuria da maior parte da Nobreza, e com offensa da Real Authoridade pertenderem
sustentar huma união tão disforme.

Pág. 15
Anexo 2

Não he Vossa Magestade ir impedir por este meio, nem ainda coarctar a liberdade
dos Matrimonios, antes he heito ampliar a dita liberdade dos Matrimonios, que os
Puritanos limitavão dentro do seu gremio, com tanta injuria da Nobreza, e com fins tão
reprovados, sem que ao mesmo tempo constranja a cada hum delles com certa, e
determinada pessoa, que he o que elles verdadeiramente practicavão e praticão. E porque
não parece conveniente fazer authenticamente a injuria da Corôa, da Nobreza, e da Nação,
que tem tolerado por tanto tempo este monstro, entende a mesma Meza, que Vossa
Magestade explicará com maior decencia, e dignidade as suas Reaes Ordens, sendo
servido Mandar declarar o sobredito por um Alvará secretissimo, que não desça ao
Tribunal, nem á Chancellaria, Mandando-o reservar, ou na Secretaria [191], ou no seu
Conselho d’Estado. A forma da execução do referido Alvará, pode ser, encarregando
Vossa Magestade a hum dos Ministros Secretario d’Estado, que em particular intime
áquelle, ou áquelles Puritanos, que estiverem nos termos de casar, obrigando-os a assignar
Termo pelo qual se dêem por notificados, e se obriguem a cumpri-lo como Vossa
Magestade Ordena.

Não pode persuadir-se a Meza que depois de intimadas as Reaes Ordens de Vossa
Magestade, haj a Puritano que se atreva a transgredi-las, não obedecendo no termo prefixo,
que elle deve ser assignado, porém quando tal suceda contra toda a esperança, pode
praticar-se a execução, ou por hum Decreto, em que Vossa Magestade por justos, e
particulares motivos, que lhe forem presentes, o declare incurso nas sobreditas penas, ou
pelo Juízo da Inconfidencia, remettendo-se-lhe da Secretaria d’Estado por hum Aviso o
Termo nella feito, e assignado para por elle proceder.

Finalmente parece á Meza, que Vossa Magestade deve ser servido abolir o
incompetente e sedicioso Compromisso da sobredita Irmandade, e mandar-lhes dar outro
novo para o seu governo. Lisboa 23 de Setembro de 1768. - Veiga - Castro - Pacheco -
Fonseca - Cordeiro.

- §-

Pág. 16
Compêndio de legislação sobre os Puritanos

Termo que faz o Illustrissimo e Excellentissimo Manoel Telles da Silva, Conde de


Villar Maior, em execução do Alvará de Lei de 5 do corrente mez de Outubro

[em nota de rodapé vem escrito: Identicos Termos assignárão em os dias seguintes
o Ex.mo Marquez de Valença, e de Angeja, e outros Fidalgos471]

[191] Aos onze dias do mez de Outubro do anno de mil setecentos sessenta e oito,
compareceo nesta Secretaria d’Estado dos Negocios do Reino, o Ill.mo e Ex.mo Manoel
Telles da Silva, Conde de Villar Maior, vindo a ella chamado por Ordem de ElRei Nosso
Senhor, em execução do seu Alvará de Lei, datado do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda
aos 5 deste dito mez, que está correndo, e sendo-lhe lido da primeira até á ultima palavra
em presença do Illustrissimo e Excellentissimo Conde de Oeiras, Ministro e Secretario
d’Estado, por mim Official da mesma Secretaria abaixo assignado, o sobredito Alvará,
em voz clara, e intelligivel: E sendo-lhe perguntado se havia distincta, e especificamente
comprehendido as disposições, Termos, e Comminações estabelecidas pela Lei do mesmo
Alvará, ou se o queria ler para ficar plenamente instruido no conteudo nelle: Respondeo
que tudo havia entendido no seu verdadeiro, e literal sentido; e que sendo obrigado, como
fiel e leal, e obediente Vassallo de Sua Magestade a respeitar, e executar religiosamente,
como justas e santas todas as Leis do dito Senhor, observaria esta prompta, e exactamente,
pelo que nella pertence á sua pessoa, casa, e familia. Em fé e certeza do que assignou este
Termo, com o mesmo Ministro e Secretario d’Estado, no mesmo dia, mez, e anno acima
escripto. - Conde de Oeiras - Conde de Villar Maior - E eu João [192] Gomes d’Araujo,
que sirvo de Official Maior da Sacretaria d’Estado o escrevi, e assignei - João Gomes de
Araújo.

Na Collec. do Conselheiro Trigoso.

- §-

471 No documento da BNP, a seguir ao Termo, vem o seguinte texto: «Seguem-se outros Termos que
assignarão o Ill.mo e Ex.mo D. Joze Miguel João de Portugal Marquez de Vallença em Ex.am do Alvará
de Ley de cinco do corrente mês de Outubro. E o Ill.mo e Ex.mo D. Pedro de Noronha Marquez de Angeja,
e do Monteiro Mor do Reyno Francisco de Mello, e de Fernando de Miranda». Estes Termos poderão ser
encontrados no ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, doc. 4.

Pág. 17
ANEXO 3: Retrato puritano da Aristocracia Portuguesa

Tentámos, ao longo desta dissertação, recriar a sociedade na qual vivia a


aristocracia portuguesa do Antigo Regime, como forma de melhor perceber o
enquadramento do grupo dos Puritanos, sendo Nuno Monteiro peremptório a concluir
sobre o «carácter relativamente difuso»472 dos testemunhos sobre a sua existência, que
são, ainda assim, contundentes no que à importância atribuída a estas Casas aristocráticas
diz respeito.

Mas como se viam e eram vistos os membros destas Casas? Como se definiriam
as suas estratégias de reprodução social concretizadas em subgrupos onde a probabilidade
de estabelecimentos de alianças era maior? Terá a prática endogâmica de casamentos pela
qual a aristocracia portuguesa ficou conhecida sido ainda mais exclusiva, criando
«sedições, e discórdias»473, como nos é sugerido pelo Alvará?

Para que pudéssemos estudar o fenómeno e impactos do puritanismo na


aristocracia portuguesa, começamos por ter de definir o grupo base que iríamos estudar.
Resolvemo-nos por estudar o grupo dos Grandes (que, no Antigo Regime, fazia
referência aos duques, marqueses, condes e o visconde de Vila Nova de Cerveira), ao
qual juntámos os demais títulos (viscondes e barões) e ainda, por considerarmos terem
sido entendidos numa óptica quasi vincular, também os ofícios maiores da Casa Real474.
No entanto, uma das questões que desde logo surge na definição de um grupo que se
pretende estudar durante um período de 170 anos, adicionando o facto do que se pretende
analisar ser a sua política de reprodução social, é a de que Casas analisar. Para tal foi
necessário garantir que as Casas eleitas foram capazes de promover uma política de
reprodução social (logo, tiveram descendência), tendo-se também desconsiderado todas
as Casas criadas após, ou imediatamente antes, do Alvará475.

472 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., p. 141.


473 Alvará, p. 181.
474 Para um melhor entendimento da importância dos ofícios maiores da Casa Real, leia-se Pedro Cardim,
O poder dos afectos. Ordem amorosa e dinâmica política no Portugal do Antigo Regime. Lisboa: [s.n],
2000. Dissertação de Doutoramento, pp. 477-521.
475 A título de exemplo, desconsideraram-se as Casas dos duques de Aveiro (ramo da Casa que ficou em
Espanha após a Restauração), o ramo da Casa dos marqueses de Gouveia, condes de Portalegre que se
extingue, as Casas dos condes de Figueiró, Pontével e Viana, apenas com um titular e as Casas dos condes
da Azambuja, Mesquitela (antigo), Redinha, dos viscondes de Anadia, Bahia, Lourinhã e dos barões de
Alverca e Mossâmedes, porque a sua data de criação é imediatamente anterior, ou posterior, ao Alvará.

Pág. 19
Anexo 3

Também em relação aos ofícios maiores da Casa Real, consideraram-se apenas


aqueles que foram considerados “ofícios de Casas”, que excluem, naturalmente, os
reservados a eclesiásticos, como o capelão-mor, o esmoler-mor e o sumilher da cortina,
mas ainda os ofícios de Mordomo-mor e Estribeiro-mor, e o de Camareiro-mor, que foi,
ao longo do tempo de análise, dando lugar aos camaristas - gentis-homens da câmara -
que assistiam a somana. Sem uso, ou relevância, no período em análise estariam os ofícios
de Caçador-mor e Guarda-mor.

Assim definimos o grupo como sendo composto por um total de 68 Casas


aristocráticas (sendo que duas delas, Abrantes e Sarzedas, consideradas em dois ramos
distintos476). Nestas, e partindo do último chefe de Casa vivo antes de 1800, analisámos
até seis gerações (como objectivo de chegar ao titular vivo em 1630) da sua ascendência,
tentando identificar, de acordo com a informação fornecida no já muito referido Relatório
do marquês de Torcy, quais seriam os reparos da sua linhagem. Para tal, recorremos aos
índices disponíveis no sítio Geneall.net que julgamos fidedigno (porque não só identifica
as fontes da informação, como o nosso objecto de análise são as Casas titulares estudadas
pelo Pe. D. António Caetano de Sousa, trabalho que se encontra reflectido no referido
sítio) e, sobretudo, facilitou uma tarefa que, de outra forma, se revelaria muito mais difícil.

Importa salientar que a atribuição de um dado reparo a uma Casa aristocrática não
quererá dizer que essa Casa o tenha mantido durante todo o período, mas que chegou ao
final do período com esse reparo. Este simplismo assumiu-se, não apenas porque seria
praticamente impossível fazê-lo de outra forma, mas também porque a questão puritana
se coloca, sobretudo, pela existência do Alvará de 1768, permitindo-nos perceber a
realidade dos reparos das Casas aristocráticas por essa data. Por outro lado, o objecto de
estudo do presente trabalho é o grupo dos Puritanos, pelo que a manutenção do estado de
uma Casa aristocrática sem reparos ao longo do período de análise é, por si só, uma forma
de confirmar a sua adesão a um ideal puritano.

Na Tabela 1, apresentamos os resultados a que chegámos. Assim, e para a


aristocracia portuguesa, tal como a definimos, os reparos mais observados eram o de
Pinheiro (41/70), Bocanegra (36/70), Granada (34/70) e Aragão (24/70). Os menos
observados eram o de Lafetá (1/70) e os de Brandão, Juzarte e Torres (4/70). Também
podemos acrescentar que, em média, as Casas aristocráticas portuguesas apresentavam,

476 Na Casa dos marqueses de Abrantes considerámos os ramos dos condes de Penaguião e dos condes de
Vila Nova de Portimão, e na Casa de Sarzedas, nas varonias Silveira e Távora.

Pág. 20
Retrato puritano

no final do Antigo Regime, 3 reparos (que comparam com os 1,4 à data do Relatório de
Torcy, ou seja, 1684) sendo a realidade sem reparos conhecidos composta por apenas 9
Casas.

Posteriormente, atribuímos a cada reparo uma cor e elaborámos, para cada Casa,
uma árvore de costados, partindo, como referimos, do último chefe da Casa vivo anterior
a 1800 e, no caso das Casas extintas a essa data, do último chefe da Casa. Na tabela 2
apresentamos o resumo das árvores de costados que apresentamos a seguir, chamando a
atenção para o facto da 1.a geração dizer sempre respeito ao titular mais recente.

Não sabemos se este retrato corresponderá à forma como as Casas aristocráticas


portuguesas se viam umas às outras, mas a verdade é que parece permitir-nos identificar,
claramente, as Casas aristocráticas que investiram em políticas de reprodução social
puritanas, mesmo tendo já elas próprias reparos.

Foi, precisamente, este o motivo que nos levou a propor a análise do grupo
também em sentido lato uma vez que em Casas que mantiveram, durante todo o período,
o mesmo reparo, e assumindo por verdade a prática endogâmica de casamentos da
aristocracia portuguesa, a coincidência ou a casuística parecem ser justificações fracas
para tal, numa realidade onde a prática do puritanismo foi, como vimos, associada a honra
e prestígio.

Pág. 21
Anexo 3

Tabela 1 - A incidência dos reparos nas Casas aristocráticas portuguesas


(à data do último titular vivo, antes de 1800)

A zam buja

T a la v e ira

B obad illa
G ranada
1

B ran dão

P inheiro

Total de
R eparos
J u zarte
A ragão
I 1
Casa

C aiada

Z un iga
T o rres
L afetá
Aveiro/ Gouveia/ Santa Cruz x x 2
Cadaval/ Ferreira/ Tentúgal x 1
Lafôes/ Arronches/ Miranda 0
A brantes/ Fontes/ Penaguião x x 2
A brantes/ V.N. Portimão/ Penaguião x x x x x x 6
Alegrete/ Vilar Maior 0
Alorna/ Castelo Novo/ Assumar x x x x 4
Alvito/ Oriola/ Alvito/ Alvito x x x 3
Angeja/ Vila Verde
Cascais/ M onsanto/ Coudeis-móres x x x 3
Castelo Melhor/ Calheta/ Castelo Melhor/ Repost. x x
Fronteira/ Torre/ Coculim x x x x x 5
Lavradio/ Avintes x x x x 4
Loulé/ Vale de Reis x x x
Louriçal/ Ericeira x x x x x 5
Marialva/ Cantanhede x 1
M inas/ Prado x x x x x 5
Niza/ Vidigueira x x x x 4
Niza/ Vidigueira/ Unhão x x x x x x x 7
Penalva/ Tarouca 0
Pombal/ Oeiras x x 2
Ponte de Lima/ Vila Nova de Cerveira 0
Tancos/ Atalaia x x 2
Távora/ S. João da Pesqueira x 1
Valença/ Aguiar/ Vimioso
Almada/ Mestres-s alas x x x 3
Alva x x
Alvor x 1
Arcos x x x x x x x x 8
Atouguia x 1
Aveiras x x x 3
Bobadela x x x x x x x 7
Caparica x 1
Co culim x x x x 4
Cunha x x x 3
Ega x x x x 4
Ficalho x 1
Galveias x 1
Lousã x x x 3
Lumiares/ Ilha do Príncipe x x x x x x
S. Lourenço/ Sabugosa x x x 3
S. Miguel x x x x x x x x 8
Óbidos/ Sabugal/ Palma
Penafiel x x x x x x x 7
Pombeiro x x x x x x x x x
Sande/ Ponte x x x x x x x x 8
Povolide x x x x x 5
Redondo x x x 3
Resende/ Almirantes x x x x x 5
Ribeira Grande/ Vila Franca x x
São Paio x x x x x x x 7
Sabugosa x x
Sandomil x 1
Santiado de Beduído x x x 3
Sarzedas 1 x 1
Sarzedas 2 x x x 3
Soure x x x x 4
Valadares x x
S. Vicente x 1
Vila Flor/ Copeiros-móres x x x x 4
Vimieiro x x x x x 5
Asseca x x x x x x
Barbacena x x x x x x
Fonte da Arcada x x x x 4
M esquitela/ Ilha Grande de Joanes x x x x x x x 7
Vila Nova de Souto d'El Rei x x x x 4
Capitães da Guarda Alemã 0
Armeiros-móres 0
Monteiros-móres x x 2
Porteiros-móres x x x x x x x 7

Pág. 22
Retrato puritano
Tabela 2 - Análise dos reparos das Casas aristocráticas portuguesas477
Gerações consideradas
Reparos: Casa: 1.a 2." 3 .a 4." 5." 6."
A veiro/ Gouveia/ Santa Cruz s.r. s.r.
A ragão Cadaval/ Ferreira/ T entúgal s.r. s.r. s.r. s.r. n.c.
Azam buja Lafões/ A rron ch es/ M iranda s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
Bocanegra A b ra n te s/ F o n tes/ Penaguião s.r.
Brandão A b ra n te s/ V.N. Portimão/ Penaguião » • • • • • • • • • • • ••
Caiada A legrete/ Vilar M aior s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
Granada A lorna/ Castelo N ovo/ A ssu m ar • • • • • • s.r. n.c. n.c.
Juzarte A lvito/ Oriola/ A lvito/ Alvito » • • • » • • s.r.
Lucena A ngeja/ Vila Verde s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. n.c.
Lafetá C ascais/ M on san to / Coudeis-m ores • • • • • • n.c. n.c.
Pinheiro Castelo M elhor/ Calheta/ Castelo M elhor/ Re • • • • • • • s.r.
Talaveira Fronteira/ Torre/ Coculim » • • • • • • • • • •• ••
Torres Lavradio/ A vintes » • • • •• •• •• om
Z uniga Loulé/ Vale de Reis M* •• •• •• • •
Judeu Louriçal/ Ericeira •••• ••• •• •• •• •
Bobadilla M arialva/ C antanhede • • • • • ft
M inas/ Prado • •• • • • • • • • •
Niza/ Vidigueira • • • • • • •
Niza/ Vidigueira/ U nhão • • • • • • • •mo
Penalva/ Tarouca s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
Pom bal/ Oeiras M M »• »• • •
P onte de Lima/ Vila N ova de Cerveira s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
T an co s/ A talaia •• •• •• •• •• M
Távora/ S. João d a Pesqueira s.r. s.r.
Valença/ A guiar/ Vimioso s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
A lm ada/ M estres-salas M ** é • s.r. n.c.
A lva * n.c. n.c. n.c. n.c. n.c.
A lvor s.r. s.r. s.r. n.c.
A rcos M ••• M • • • s.r. s.r.
A touguia
Aveiras • * • • s.r. s.r.
Bobadela M • • • • • n.c. n.c.
Caparica s.r. s.r.
Coculim » • • • • • • • • • M
Cunha »• »• s.r. s.r. s.r.
Eg a » ••• ** *M
Ficalho • • • • • s.r.
Galveias • • • s.r. s.r. n.c.
Lousã • • • • • •
Lumiares/ Ilha do Príncipe • • • • • • • • •
/
S. Lourenço/ Sabugosa Alferes-mores • • • • • s.r.
S. M iguel M • •
O bidos/ Sabugal/ Palma s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
Penafiel • • • •> it • •• M • •
Pombeiro •• • • • •
Sande/ Ponte » • 1 M M * ••• ••• ••• n.c.
Povolide • • s.r. s.r.
R edondo • • • • s.r. s.r.
R esende/ A lmirantes • •• • •• •• •• •• •
Ribeira Grande/ Vila Franca • • • • • s.r.
São Paio • • » ••• •• ••• • •• ••• •• •
S abugosa/ Alferes-m ores •• • • s.r. s.r.
Sandomil s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
Santiado de Beduído • • M • • s.r. s.r.
Sarzedas 1 s.r. n.c.
Sarzedas 2 » • • • » • s.r.
Soure • i • • » s.r.
Valadares • s.r.
S. Vicente
Vila Flor/ Copeiros-mores » •• * • » s.r. s.r.
Vimieiro • • • •• s.r.
A sse c a s.r. s.r. s.r. n.c.
B arbacena • • • • • • • • • •
F onte A rcada • • s.r. s.r. s.r. s.r.
M esquitela/ Ilha G rande de Joanes • • » ••• s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
Vila N ova de Souto d'El Rei • •• • • s.r. s.r. s.r. s.r.
Capitães da G uarda Alemã s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
Armeiros-mores s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r.
M onteiros-m ores
Porteiros-mores » • • • • n.c.
n.c. - Geração não considerada
s.r. - Sem reparos

477 A primeira geração analisada respeita ao último titular chefe da Casa vivo antes de 1800, representando a 2.a geração a do seu
pai, e daí em diante, excepção feita quanto este herda a Casa de um ramo feminino, tendo-se, nesse caso, optado por seguir a
linhagem da Casa em detrimento da varonil.

Pág. 23
Anexo 3
Casa dos duques de Aveiro/ marqueses de Gouveia/ condes de Santa Cruz
• •
D. João Mascarenhas
D. Martinho
Mascarenhas, 4.° C.
Santa Cruz
D. Beatriz Mascarenhas,
3.a C. Santa Cruz
D. João Mascarenhas,
5.° C. Santa Cruz
Manrique de Silva, 1.° M.
Gouveia
Juliana de Lancastre •
D. Maria de Lancastre
D. Martinho
Mascarenhas, 3.° M.
Gouveia
O Teresa de Moscoso
Osório
D. José M ascarenhas da
Silva de Lancastre, 8.°
D. Aveiro
•• António Luis de Tavora,
2.° C.
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
D. Arcângela Maria de
Portugal
António Luis de Tavora,
2.° M.
D. Rodrigo Lobo da
Silveira, 1.° C.
D. Maria Inácia de
Menezes
D. Maria Antónia de
Vasconcelos e Menezes
Inácia Rosa de Tavora
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
D. Leonor de Mendoça
Leonor Teresa Rosa de
Sousa
D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro
Isabel de Castro
D. Martinho
Mascarenhas, 6.° M.
Gouveia
•• Luis Álvares de Tavora,
1.° C. Távora
António Luis de Tavora,
2.° C.
Marta de Vilhena
Francisco de Tavora, 1.°
C. Alvor
D. Miguel de Noronha,
4.° C.
D. Arcângela Maria de
Portugal
D. Inácia de Menezes e
Vasconcelos
Bernardo António Filipe
Neri de Tavora, 2.° C.
António Luis de Tavora,
2.° C.
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
D. Arcângela Maria de
Portugal
Inês Catarina de Tavora
D. Rodrigo Lobo da
Silveira, 1.° C.
D. Maria Inácia de
Menezes
D. Maria Antónia de
Vasconcelos e Menezes
Leonor Tomásia de
Tavora e Lorena
D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Jo an a de Lorena
Margarida de Lorena

Pág. 24
Retrato puritano
Casa dos duques de Cadaval/ marqueses de Ferreira/ condes de Tentúgal

D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Jaime Álvares Pereira
de Melo, 3.° D. Cadaval

Margarida de Lorena
D. Nuno Caetano Álvares
Pereira de Melo, 4.° D.
Henriqueta de Lorena
D. Miguel Caetano
Álvares Pereira de Melo,
° D. Cadaval
M iguel Carlos de Tavora
Manuel Carlos de
Tavora, 4.° C.
Maria Caetana da
Cunha, 2.a C. S. V icente
Miguel Carlos da Cunha
Silveira e Tavora, 5.° C.
D. M arcos de Noronha,
4.° C.
D. Isabel de Noronha
Maria Josefa de Tavora
Leonor da Cunha •
D. Luis Peregrino de
Ataíde, 8.° C.
D. Jerónimo de A taíde,
9.° C.
to D. Margarida de Vilhena
D. Rosa Leonarda de
Ataíde
António Luis de Tavora,
2.° M.
Mariana Teresa de
Tavora
Leonor Teresa Rosa de
Sousa

Pág. 25
Anexo 3
Casa dos duques de Lafões/ marqueses de Arronches/ condes de Miranda do Corvo
P
Rei D. Pedro II
D. M iguel de Bragança
Ana Arm anda de Vergé
D. João Carlos de
Bragança, 2.° D. Lafões
Príncipe Carlos José de
Ligne
Luísa Casim ira de
Sousa, 6.a C. Miranda
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
D. Leonor de Mendoça
Diogo Lopes de Sousa,
4.° C. Miranda
D. A ntónio Mascarenhas

D. Mariana de Castro
Isabel de Castro
Mariana Francisca de
Sousa Tavares, 2.a M.
Arronches
D. Francisco
Mascarenhas
D. João M ascarenhas
D. Margarida de V ilhena
D. Margarida de Vilhena
D. Francisco de C astelo-
Branco, 2.° C.
D. Beatriz de M enezes,
3.a C.
D. Luisa Coutinho

Pág. 26
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Abrantes e de Fontes/ condes de Penaguião
• •

D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pim entel
D. Rodrigo de Melo
Margarida de Lorena
D. Maria Margarida de
Lorena, 4.a M. Abrantes
D. Francisco de Sá de
M enezes, 2.° C.
Penaguião
D. João Rodrigues de Sá
e Menezes, 3.° C.
Penaguião
• ' D. Joana de Castro
D. Francisco de Sá e
M enezes, 1.° M. Fontes
D. Luis de Ataíde, 5.° C.
Luisa Maria de Faro
D. Filipa de Vilhena
D. Rodrigo A nes de Sá
Alm eida e Menezes, 1.°
M. Abrantes
•• D. Lourenço de
Lancastre
D. Rodrigo de Lancastre •
Inês de Noronha
D. Joana Luisa de
Lancastre
João da Silva Telo de
M enezes, 1.° C. Aveiras
Inês Teresa de Noronha
Maria de Castro
D. A na Maria Catarina
Henriqueta de Lorena,
3.a M. Abrantes
•• D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Isabel Luísa V icência
de Lorena
Henriqueta de Lorena

Pág. 27
Anexo 3
Casa dos marqueses de Abrantes/ condes de Figueiró e Vila Nova de Portimão
• • • • •
António Luis de Tavora,
2.° C.
Francisco de Tavora, 1.°
C. Alvor
D. Arcângela Maria de
Portugal
Bernardo António Filipe
Neri de Tavora, 2.° C.
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
Inês Catarina de Tavora
D. Maria Inácia de
M enezes
Manuel Rafael de Tavora
D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Joana de Lorena
Margarida de Lorena
D. José Maria de
Lancastre e Tavora, 6.° D. Pedro de Lancastre,
C. Vila Nova 2.° C. Figueiró
• •• D. Luis de Lancastre, 4.° ••
C. Vila Nova
mom D. Madalena Lancastre
D. Pedro de Lancastre, ••
5.° C. V ila Nova
••• D. Estevão de Menezes
Madalena de Noronha
D. Helena de Noronha
D. Isabel de Lancastre e
Menezes
•••• D. Francisco de S á e
Menezes, 1.° M. Fontes
D. Rodrigo Anes de Sá
Alm eida e M enezes, 1.°
M. Abrantes
•• D. Joana de Lancastre
D. Maria Sofia de
Lancastre
•• D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
D. Isabel Luísa V icência
de Lorena
D. Maria Angélica de
Lorena
D. Pedro de Lancastre
da Silveira de C astelo- D. Rodrigo de Lancastre
Branco S á e Menezes, D. João de Lancastre
5.° M. Abrantes Inês Teresa de Noronha
•••••• D. Pedro Baltazar de
Alm eida de Lancastre
•• D. Pedro de Alm eida
D. Maria Teresa Antónia •
de Portugal
Luísa Antónia de
Portugal
D. José de Lancastre
Saldanha
•••• Luis de Saldanha
Aires de Saldanha de •
M enezes e Sousa
Violantes de Mendonça
Inês Josefa de Tavora
••• Juan de Saldanha de
Sousa
Luisa Inês de Tavora ••
omm Inês Antónia de Tavora
D. Maria da Conceição
de Lancastre
••••• D. Henrique Henriques
D. Jorge Henriques
Maria Luísa de Menezes

D. António Henriques
•• D. António de Almeida,
2.° C. Avintes
D. M adalena de Bourbon ••
•• D. Maria Antónia de
Bourbon
D. Leonor Henriques de
Faria Pereira
•• Josefa Francisca

Pág. 28
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Alegrete/ condes de Vilar Maior
P
Fernão Teles de
M enezes, 1.° C. V ilar
Maior
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Mariana de Mendonça
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
D. Nuno Mascarenhas
Costa
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz de M enezes,
3.a C. Sabugal
Manuel Teles da Silva,
3.° M. Alegrete
D. M arcos de Noronha
D. Tomás de Noronha,
3.° C.
D. Maria Henriques
D. Helena de Noronha
D. Luis de Lima Brito e
Nogueira, 1.° C.
D. Madalena de B rito e
Bourbon
V itória de Cardaillac
Fernão Teles da Silva,
4.° M. A legrete
D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Eugénia Rosa de
Lorena
Margarida de Lorena
Manuel Teles da Silva,
6.° C. V ila r M aior
Fernão Teles de
M enezes, 1.° C. V ilar
Maior
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Mariana de Mendonça
João Gom es da Silva
D. Nuno Mascarenhas
Costa
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz de M enezes,
3.a C. Sabugal
Maria Josefa de
Menezes
D. Duarte Luis de
M enezes, 3.° C. Tarouca

D. Estevão de M enezes
D. Luisa de Castro
D. Joana Rosa de
Menezes, 4.a C. Tarouca

D. M arcos de Noronha
D. Tomás de Noronha,
3.° C.
D. Maria Henriques
D. Helena de Noronha
D. Luis de Lima Brito e
Nogueira, 1.° C.
D. Madalena de Brito e
Bourbon
V itória de Cardaillac

Pág. 29
Anexo 3
Casa dos marqueses de Alorna e Castelo Novo/ condes de Assumar
• • •
D. Pedro de Alm eida, 1.°
C. A ssum ar
D. João de Alm eida, 2.°
C. A ssum ar
D. Fernando
M ascarenhas, 1.° C.
Torre
D. Margarida André de ••
Noronha
'• • D. Maria de Noronha
D. Pedro José de
Alm eida, 1.° M. Alorna
• • D. Fernando
M ascarenhas, 1.° C.
Torre
D. João M ascarenhas, ••
1.° M. Fronteira
• • D. Maria de Noronha
D. Isabel de Castro •
• • D. Francisco de Sá de
M enezes, 2.° C.
Penaguião
D. Madalena de Castro
D. Joana de Castro
D. João de Alm eida
Portugal, 2.° M. Alorna
• •• D. Pedro de Lancastre,
2.° C. Figueiró
D. Luis de Lancastre, 4.( ••
C. V ila Nova
••• D. Madalena Lancastre

D. Maria Josefa da ••
Nazaré de Lancastre
••• D. Estevão de Menezes
Madalena de Noronha

D. Helena de Noronha

Pág. 30
Retrato puritano
Casa dos marqueses, condes e barões do Alvito/ condes de Oriola
• • •
D. João Lobo, 6.° B.
Alvito
D. Luis Lobo, 1.° C.
O riola
D. M adalena de
L an castre
D. V a s c o Lobo, 2. ° C.
O riola
D. F ra n c is c o da G am a,
4.° C. V idig ueira
D. E u frá s ia M aria de •
Tavora
Leonor C o u tin h o
D. José A n tó n io
F ra n c is c o Lobo da
Silveira, 1.° M. Alvito
••• Rui F ernandes de
A lm a da
C ristovão de A lm a d a
M adalena de L an castre
Inês M argarida José de
L an castre
••• D. Luís de A lm a d a
D. F ilipa M aria de M elo
D. Luísa de M enezes
D. Fernando José Lobo
da S ilre ira Q uaresm a,
2.° M. Alvito
••• D. V a s c o M ascarenhas,
1.° C. Ó bidos
D. Fernando M artins
M ascarenhas, 2.° C.
Ó bidos
D. João M a scarenhas
D. Joana F ra n c is c a de
V ilhe na
D. B e a triz M ascarenhas,
3.a C. S a n ta Cruz

D. Teresa de A s s is
M a scarenhas
D. N u no M a s carenhas
C o sta
D. João M a s carenhas
C a s te lo -B ra n c o da
C osta, 2.° C. P a lm a
D. B e a triz de M enezes,
3.a C. S a bugal
D. B e a triz M a scarenhas
C a s te lo -B ra n c o da
C osta, 4 .a C. Sabugal,
3 .a C. P a lm a
D. F ra n c is c o
M a s carenhas
D. Joana de C a stro
D. M argarida de V ilh e n a
D. José A n tó n io P lá c id o
Lobo da S ilre ira
Q uaresm a , 3.° M. Alvito
• • D. D iogo de M enezes
D. José de M enezes de
Tavora
M aria de O liveira
D. D iogo M enezes de •
Tavora
H enrique de S o usa
Tavares da Silva, 1.° M.
A rronches
B rite s F ra n c is c a de
M endoça
D. M ariana de C a stro
D. José de M enezes da
S ilveira de C a s tro e
Tavora
M aria B a rba ra Josefa
B reyne r
D. M aria B á rba ra de
M enezes
Luísa G onzaga

Pág. 31
Anexo 3
Casa dos marqueses de Angeja/ condes de Vila Verde
P
D. A ntónio de Noronha,
1.° C. V ila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de Menezes
D. A ntónio de Noronha,
2.° M. Angeja
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Isabel Maria A ntónia de
Mendonça
D. Mariana de Castro
D. Pedro José de
Noronha Cam ões, 3.° M.
A ngeja
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
João Gom es da Silva
D. Luisa Coutinho
Luisa Josefa de
Menezes
D. Estevão de Menezes
D. Joana Rosa de
M enezes, 4.a C. Tarouca

D. Helena de Noronha
D. José Xavier de
Noronha Camões
Albuquerque Sousa
Moniz, 4.° M. Angeja
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
D. Luisa Coutinho
Manuel Teles da Silva,
3.° M. Alegrete
D. Tomás de Noronha,
3.° C.
D. Helena de Noronha
D. Madalena de Brito e
Bourbon
Maria de Lorena
D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Eugénia Rosa de
Lorena
Margarida de Lorena

Pág. 32
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Cascais/ condes de Monsanto/ Coudeis-mores

D. Álvaro Pires de
Castro, 1.° M. Cascais
D. Luís Álvares de •
Castro, 2.° M. Cascais
D. Bárbara Estefânia de
Lara
D. Manuel José de •
Castro Noronha de
Sousa Ataíde, 3.° M.
Cascais
• • D. A ntónio Luis de
Menezes, 1.° M.
Marialva
D. Maria Joana Coutinho •
D. Catarina Coutinho
D. Luís José Leonardo
de Castro Noronha
Ataíde e Sousa, 4.° M.
Cascais
• • D. A ntónio de Noronha,
1.° C. V ila Verde
D. Pedro A ntónio de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de Menezes
D. Luisa de Noronha
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Isabel Maria A ntónia de
Mendonça
D. Mariana de Castro

Pág. 33
Anexo 3
Casa dos marqueses de Castelo Melhor/ condes da Calheta e Castelo Melhor/ Reposteiros-mores
••
Luis de S ousa Ribeiro de
V a sconcelos
João Rodrigues de
V a sconcelos e Sousa,
2.° C. Castelo Melhor
• Maria de Moura e Tavora
Luis de V asconcelos e
Sousa, 3.° C. Castelo
Melhor
Sim ão G onçalves da
Camara, 3.° C. Calheta
Mariana de Lancastre
V a sconcelos e Camara
Margarida de M enezes
V a sconcelos
A fonso de V a sconcelos
e S o usa Cunha Camara
Faro e Veiga, 5.° C.
Calheta
Bernardim de Távora e
Sousa, R.P.
G uiom ar de Tavora
Sousa Faro e Veiga
D. Estevão de Faro, 2.°
C. Faro
D. Leonor M ascarenhas
D. G uiom ar de Castro
José de V asconcelos e
S o usa C am inha Camara
Faro e Veiga, 1.° M.
C astelo Melhor
E m ília de Rohan
A n tónio José de
V a sconcelos e S ousa
Cam ara C am inha Faro e
Veiga, 2.° M. C astelo
M elhor
D. A n tónio de Noronha,
1.° C. V ila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de M enezes
D. A n tónio de Noronha,
2.° M. Angeja
D iogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
D. Leonor de Mendoça
Isabel Maria A n tónia de
M endonça
D. A n tónio M ascarenhas
D. Mariana de Castro
Isabel de Castro
D. Maria R osa Q uitéria
de Noronha
Fernão Teles de
Menezes, 1.° C. V ilar
Maior
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Mariana de Mendonça
João G om es da Silva

D. Nuno M ascarenhas
Costa
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz de Menezes,
3.a C. Sabugal
Luisa Josefa de
Menezes
D. Duarte Luis de
Menezes, 3.° C. Tarouca

D. Estevão de M enezes
D. L uisa de Castro
D. Joana R osa de
M enezes, 4.a C. Tarouca
D. Tom ás de Noronha,
3.° C.
D. Helena de Noronha
D. M adalena de Brito e
Bourbon

Pág. 34
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Fronteira/ condes da Torre e Coculim
• • • •
D. F erna nd o
M a s c a re n h a s , 1 .° C.
Torre
D. Jo ã o M a s c a re n h a s ,
1.° M . F ronteira
D. M a ria d e N oron ha
D. F erna nd o
M a s c a re n h a s , 2 .° M .
F ronteira
D. F ra n c is c o d e S á d e
M e n e z e s , 2 .° C.
Pe n a g u iã o
D. M a d a le n a d e C a stro
D. Joa n a d e C a stro
D. Jo ã o M a sca re n h a s, •
3 .° M . F ronteira
D. Lu is de A ta íd e , 5 .° C.
A to u g u ia
D. Je ró n im o d e A ta íd e ,
6 .° C. A to u g u ia
D. F ilip a d e V ilh e n a
D. Joa n a L e on or d e
T o le d o e M e n e ze s
D. F erna nd o d e
M e n e ze s
D. Le on or M a ria d e
M e n e ze s
D. Joa n a d e T o le d o d a
C am ara
D. J o s é Luis
M a s c a re n h a s , 5 .° M .
F ronteira
D. F ra n c is c o Lu is de
L a n ca stre
D. P e d ro d e L a nca stre,
2 .° C. F igu eiró
F ilip a d e M e n d o n ça
D. Lu is d e La n ca stre , 4 .°
C. V ila N ova
••• D. Lu is da S ilveira, 3 .° C.
••
D. M a d a le n a d e
L a n ca stre
•• D. M a ria d e V ilh e n a
D. H e le n a Jo se fe N a za ré
d e L a n ca stre
D. D ua rte Lu is de
M e n e z e s , 3 .° C . T a ro u ca
D. E ste vã o d e M e n e ze s
D. L u isa d e C a stro
M a d a le n a T e re s a d e
N oron ha
D. T o m á s d e N oronha,
3 .° C.
D. H e le n a d e N oron ha
D. M a d a le n a d e B rito e
Bourbon
D. J oã o Jo s é Luis
M a s c a re n h a s Barreto,
6 .° M . F ronteira
Joã o R od rig ue s de
V a s c o n c e lo s e S o usa ,
2 .° C.
Lu is d e V a s c o n c e lo s e
S o u s a , 3 .° C.
•• M a ria n a d e L a n ca stre
V a s c o n c e lo s e C am ara
A fo n s o d e V a s c o n c e lo s
e S o u s a C u n h a C am ara
Faro e V e ig a , 5 .° C.
•• Be rn ard im d e T avora e
S ousa
G u io m a r d e Tavora
S o u s a Faro e V e ig a
D. Le on or M a s c a re n h a s
J o s é d e V a s c o n c e lo s e
S o u s a C a m in h a C a m a ra
Faro e V e ig a , 1 .° M.
•• E m ilie S o p h ro n ie P e lag ie
d e R ohan
M a ria n a J o se fa d e
V a s c o n c e lo s e S o u s a
•• D. A n tó n io d e N oronha,
1.° C. V ila V e rd e
D. P e dro A n tó n io d e
N oron ha , 1.° M . A n g e ja
D. M a ria d e M e n e ze s
D. A n tó n io d e N oronha,
2.° M . A n g e ja
H e n riq u e d e S o u sa
Tavares da S ilva, 1 .° M.
A rro n ch e s
Isabel M a ria A n tó n ia de
M e n d o n ça
D. M a ria n a d e C a stro
D. M a ria R o sa Q u ité ria
d e N oron ha
M a n ue l T e le s d a Silva,
1.° M . A le g re te
Joã o G o m e s d a Silva
D. L u isa C o u tin h o
L u isa Jose fa d e
M e n e ze s
D. E ste vã o d e M e n e ze s
D. Joa n a R o s a d e
M e n e z e s , 4.a C. T aro u ca
D. H e le n a d e N oron ha

Pág. 35
Anexo 3
Casa dos marqueses de Lavradio/ condes de Avintes
• • • •
D. Luís de Almeida, 1.°
C. Avintes
D. António de Almeida,
2.° C. Avintes
••
•• D. Isabel de Castro
D. Luís de Alm eida
Portugal, 3.° C. Avintes
D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Maria A ntónia de
Bourbon
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. António de Almeida
Soares Portugal, 1.° M.
Lavradio
D. Diogo de Lima Brito e
Nogueira, 7.° V.
D. João Fernandes de
Lima V asconcelos de
Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Joana de
Vasconcelos
D. Joana Josefa Antónia
de Lima
D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Vitória de Bourbon
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. Luís de A lm eida
Soares Portugal, 2.° M.
Lavradio
•• • D. Martinho
M ascarenhas, 4 .° C.
Santa Cruz
D. João Mascarenhas,
5.° C. Santa Cruz
Juliana de Lancastre
D. Martinho
M ascarenhas, 3.° M.
Gouveia
Teresa de Moscoso
Osório
D. Francisca das
Chagas Mascarenhas
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
António Luis de Tavora,
2.° M. de Tavora
D. Maria Inácia de
Menezes
In ácia R osa de Tavora
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Leonor Teresa R osa de
Sousa
D. Mariana de Castro
D. António M áxim o de
Alm eida Portugal, 3.° M.
••O» António Luis de Tavora,
2.° C.
Miguel Carlos de Tavora
D. Arcângela M aria de
Portugal
Manuel Carlos de
Tavora, 4.° C. S. Vicente

João N unes da Cunha,


1.° C. S. Vicente
Maria Caetana da
Cunha, 2.a C. S. Vicente
V
D. Isabel de Bourbon
Miguel Carlos da Cunha
Silveira e Tavora, 5.° C.
S. Vicente
D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Marcos de Noronha,
4.° C.
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. Isabel de Noronha
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
Maria Josefa de Tavora
D. Maria Inácia de
Menezes
Maria Ana Teresa R ita
da Cunha
D. Jerónimo de Ataíde,
6.° C.
D. Luis Peregrino de
Ataíde, 8.° C.
D. Leonor M aria de
Menezes
D. Jerónimo de Ataíde,
9.° C.
D. João Mascarenhas
D. Margarida de Vilhena
D. Beatriz de Menezes,
3.a C.
D. R osa Leonarda de
Ataíde
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
António Luis de Tavora,
2.° M.
D. Maria Inácia de
Menezes
M ariana Teresa de
Tavora
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Leonor Teresa R osa de
Sousa
D. Mariana de Castro

Pág. 36
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Loulé/ condes de Vale de Reis
• • •
Nuno de Mendoça, 2.°
C. Vale de Reis
Lourenço de Mendoça e
Moura, 3.° C. Vale de
Reis
Luisa de Castro e Moura
Nuno Manuel de
Mendoça, 4.° C. Vale de

Manuel de Sousa da
Silva e Menezes
Maria Madalena de •
Mendonça
Joana Francisca de
Mendonça
Lourenço Filipe Nery de
Mendoça e Moura, 5.° C.
Vale de Reis
D. António de Noronha,
1.° C. Vila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de Menezes
D. Leonor de Maria
Antónia de Noronha
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Isabel Mana Antónia de
Mendonça
D. Mariana de Castro
Nuno José de Mendoça
e Moura, 6.° C. Vale de
Reis
D. António de Noronha,
1.° C. Vila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de Menezes
D. António de Noronha,
2.° M. Angeja
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Isabel Maria Antónia de
Mendonça
D. Mariana de Castro
D. Joana Francisca de
Noronha
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
João Gomes da Silva
D. Luisa Coutinho
Luisa Josefa d
Menezes
D. Estevão de Menezes
D. Joana Rosa de
Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Helena de Noronha
Agostinho Domingos
José de Mendoça Rolim
de Moura Baireto, 1.° M.
Loulé
D. António de Noronha,
1.° C. Vila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de Menezes
D. Diogo de Noronha
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Isabel Maria Antónia de
Mendonça
D. Mariana de Castro
D. Pedro José de
Alcântara de Menezes
Noronha Coutinho, 4.°
M. Marialva
D. António Luis de
Menezes, 1.° M.
Marialva
D. Pedro António de •
Menezes, 2.° M.
Marialva
D. Catarina Coutinho
D. Joaquina Maria
Madalena da Conceição
de Menezes, 3.a M.
Marialva
D. Rodrigo de Menezes
D. Catarina Coutinho
D. Guiomar de Menezes
D. Ana José Mónica de •
Menezes e Noronha
D. Vasco Mascarenhas,
1.° C. Óbidos
D. Fernando Martins
Mascarenhas, 2.° C.
Óbidos
D. Joana Francisca de
Vilhena
D. Manuel Mascarenhas,
3.° C.Óbidos
D. João Mascarenhas
Castelo-Branco da
Costa, 2.° C. Palma
D. Beatriz Mascarenhas
Castelo-Branco da
Costa, 4.a C. Sabugal,
3.a C. Palma
D. Joana de Castro
D. Eugénia de Assis
Mascarenhas
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
Manuel Teles da Silva,
3.° M. Alegrete
D. Helena de Noronha
Helena Josefa de Lorena
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
D. Eugénia Rosa de
Lorena
Margarida de Lorena

Pág. 37
Anexo 3
Casa dos marqueses de Louriçal/ condes da Ericeira
• • • •
D. Henrique de Menezes
D. Luis de Menezes
D. Margarida de Lima
D. Francisco Xaver de •
Menezes, 4.° C. Ericeira
D. Fernando de
Menezes, 2.° C . Ericeira
D. Joana Josefa de ••
Menezes, 3.a C . Ericeira
Leonor Filipa de Noronha
D. Luis Carlos Inácio ••
Xaver de Menezes, 1.°
M. Louriçal
D. Rodrigo Lobo da
Silveira, 1.° C.
D. Luis da Silveira, 2.° C.
D. Maria Antónia de
Vasconcelos e Menezes
D. Joana Madalena de
Noronha
João Gomes da Silva
Mariana da Silva e
Lancastre
D. Joana de Tavora
D. Henrique de Menezes
e Toledo, 3.° M. Louriçal
Rodrigo da Camara, 3.°
C.
D. Manuel Luis Baltazar
da Camara, 1.° C.
D. Maria Coutinho
D. José Rodrigo da
Camara, 2.° C.
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C.
Mécia de Mendoça
D. Leonor de Mendoça
D. Ana Xavier de Rohan
Constança Emília,
princesa de Rohan-
Soubise
D. Luis Eusébio Maria
de Menezes Silveira, 4.
M. Louriçal
O N N Manuel da Cunha
Tristão A ntónio da
Cunha
Francisca Joana de
Albuquerque
Manuel Inácio da Cunha
e Menezes
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
Leonor Tomásia de
Tavora
D. Maria Inácia de
Menezes
D. José Félix da Cunha
e Menezes
D. Diogo de Menezes
D. José de Menezes de
Tavora
Maria de Oliveira
D. Teresa Josefa de
Menezes
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
B rites Francisca de
Mendoça
D. Mariana de Castro
D. Maria da Glória da
Cunha e Menezes
D. Luis de Menezes
D. Francisco Xavier de
Menezes, 4.° C. Ericeira
D. Joana Josefa de
Menezes, 3.a C. Ericeira
D. Luis Carlos Inácio
Xavier de Menezes, 1.°
M. Louriçal
D. Luis da Silveira, 2.° C.
D. Joana Madalena de
Noronha
Mariana da Silva e
Lancastre
D. Constança Xavier de
Menezes
D. Manuel Luis Baltazar
da Camara, 1.° C.
D. José Rodrigo da •
Camara, 2.° C.
Mécia de Mendoça
D. Ana Xavier de Rohan
Constança Emília,
princesa de Rohan-
Soubise

Pág. 38
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Marialva/ condes da Cantanhede

D. A n tó n io de N o ro n h a ,
1.° C . V ila V e rd e
D. P e d ro A n tó n io d e
N oron ha , 1 .° M . A n g e ja
D. M a ria d e M e n e z e s
D. D io g o d e N o ro n h a
D iog o L o p e s d e S o u s a ,
2 .° C. M ira n d a
H e n riq u e de S o u s a
T avares d a S ilva, 1 .° M.
A rro n c h e s
D. L e o n o r de M e n d o ç a
Is a b e l M a ria A n tó n ia de
M endonça
D. A n tó n io M a s c a re n h a s

D. M a ria n a d e C a s tro
Isa b e l de C a s tro
D. P e d ro J o s é de
A lc â n ta ra d e M e n e z e s
N o ro n h a C o u tin h o , 4 .°
M . M a rialv a
D. P e d ro d e M e n e z e s ,
2 .° C. C a n ta n h e d e
D. A n tó n io L u is de
M e n e z e s , 1 .° M .
M arialva
D. C o n s ta n ç a de
G usm ão
D. P e d ro A n tó n io d e
M e n e z e s , 2 .° M .
M arialva
D. M a n u e l C o u tin h o
D. C a ta rin a C o u tin h o
D. M a ria d e F a ro
D. J o a q u in a M a ria
M a d a le n a d a C o n c e iç ã o
d e M e n e z e s , 3.a M .
M arialva
• D. P e d ro d e M e n e z e s ,
2 .° C. C a n ta n h e d e
D. R o d rig o de M e n e z e s •
D. C o n s ta n ç a de
G usm ão
D. C a ta rin a C o u tin h o
D. A n tó n io Lu is d e
M e n e z e s , 1 .° M .
M arialva
D. G u io m a r d e M e n e z e s •
D. C a ta rin a C o u tin h o
D. D io g o J o s é V ito de
M e n e z e s N oron ha
C o u tin h o , 5 .° M.
D. F e rn ã o M a rtin s
M a s c a re n h a s
D. V a s c o M a s c a re n h a s ,
1.° C.
D. M a ria d e L a n c a s tre
D. F e rn a n d o M a rtin s
M a s c a re n h a s , 2 .° C.
D. Jo ã o M a s c a re n h a s
D. J o a n a F ra n c is c a d e
V ilh e n a
D. B e a triz M a s c a re n h a s ,
3.a C.
D. M a n u e l M a s c a re n h a s ,
3 .° C.
D. N u n o M a s c a re n h a s
C o s ta
D. J o ã o M a s c a re n h a s
C a s te lo -B ra n c o da
C o s ta , 2 .° C . P a lm a
D. B e a triz d e M e n e z e s ,
3.a C.
D. B e a triz M a s c a re n h a s
C a s te lo -B ra n c o d a
C o s ta , 3.a C . P a lm a e 4.a
C. S a bu ga l
D. F ra n c is c o
M a s c a re n h a s
D. J o a n a de C a s tro
D. M a rg a rid a de V ilh e n a
D. E u g é n ia d e A s s is
M a s c a re n h a s
M a n u e l T e le s da S ilva,
1.° M . A le g re te
F e rn a n d o T e le s d a Silva,
2 .° M . A le g re te
D. L u is a C o u tin h o
M a n u e l T e le s d a S ilva,
3 .° M . A le g re te
D. T o m á s de N oron ha ,
3 .° C.
D. H e le n a d e N o ron ha
D. M a d a le n a d e B rito e
Bo urbo n
H e le n a J o s e fa d e L o re n a
D. F ra n c is c o de M elo,
3 .° M . F e rre ira
D. N u n o Á lv a re s P e re ira
de M e lo , 1 .° D. C adaval
Jo a n a P im e n te l
D. E u g é n ia R o s a de
Lo re n a
M a rg a rid a d e Lo re n a

Pág. 39
Anexo 3
Casa dos marqueses de Minas/ condes do Prado
• • • • •
D. M a rc o s d e N o ro n h a
D. T o m á s d e N o ro n h a ,
3 .° C.
D. M a ria H e n riq u e s
D. M a rc o s d e N oron ha ,
4 .° C.
D. L u is d e L im a B rito e
N o g u e ira , 1 .° C.
D. M a d a le n a d e B rito e
B o urbo n
V ic to ire d e C a rd a illa c
D. A fo n s o d e N o ro n h a
A n tó n io L u is d e Tavora,
2 .° C.
L u is Á lv a re s d e Tavora,
1 .° M . T avora
D. A r c â n g e la M a ria de
P o rtu g a l
M a ria J o s e fa d e T avora
D. R o d rig o Lo b o d a
S ilve ira , 1 .° C.
D. M a ria In á c ia d e
M enezes
D. M a ria A n tó n ia de
V a s c o n c e lo s e M e n e z e s
D. L o u re n ç o J o s é da s
B ro ta s d e L a n c a s tre e
N o ro n h a
D. R o d rig o de L a n c a s tre
D. L o u re n ç o d e
L a n c a s tre
In ês T e re s a d e N o ro n h a
D. R o d rig o d e L a n c a s tre
•• D. A n tó n io L u is de
M e n e z e s , 1 .° M .
M a ria lva
D. Isa be l d e M e n e z e s •
D. C a ta rin a C o u tin h o
D. G u io m a r M a ria
F ra n c is c a d e L a n c a s tre
•• D. R o d rig o de M e n e z e s
D. R o d rig o de M e n e z e s
D. C o n s ta n ç a de
G usm ão
D. V ic ê n c ia d e M e n e z e s

D. A n tó n io L u is de
M e n e z e s , 1 .° M .
M a ria lva
D. G u io m a r d e M e n e z e s •
D. C a ta rin a C o u tin h o
D. Jo ã o F ra n c is c o
B e n e d ito de S o u s a e
L a n c a s tre , 7 .° M . M in a s
D. A n tó n io L u is de
S o u s a , 2 .° M . M in a s
D. Jo ã o d e S o u s a , 3 .°
M . M in a s
D. M a ria M a d a le n a d e
N o ro n h a
D. A n tó n io C a e ta n o Lu is ••
d e S o u s a , 4 .° M . M in a s

F ra n c is c a M a d a le n a de
N e u fville
D. J o ã o de S o u s a
D. T o m á s d e N o ro n h a ,
3 .° C.
D. M a rc o s d e N oron ha ,
4 .° C.
D. M a d a le n a d e B rito e
B o urbo n
D. L u is a d e N o ro n h a
Lu is Á lv a re s d e Tavora,
1.° M . T avora
M a ria J o s e fa d e T avora
D. M a ria In á c ia d e
M enezes
D. M a ria F ra n c is c a
A n tó n ia d a P ie d a d e d e
S o u s a , 5.a M . M in a s
F e rn a n d o T e le s d a Silva,
2 .° M . A le g re te
M a n u e l T e le s da S ilva,
3 .° M . A le g re te
D. H e le n a d e N o ro n h a
F e rn ã o T e le s d a Silva,
4 .° M . A le g re te
D. N u n o Á lv a re s P e re ira
d e M e lo , 1 .° D. C adaval
D. E u g é n ia R o s a de
Lo re n a
M a rg a rid a d e Lo ren a
Joa na d e M en e ze s
M a n u e l T e le s d a S ilva,
1 .° M . A le g re te
J o ã o G o m e s d a S ilva
D. L u is a C o u tin h o
M a ria J o s e fa d e
M enezes
D. E s te v ã o d e M e n e z e s
D. Jo a n a R o s a d e
M e n e z e s , 4.a C . T a ro u c a

D. H e le n a d e N o ro n h a

Pág. 40
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Niza/ condes da Vidigueira
• • • •
Fernão Teles de
M enezes, 1.° C. V ila r
M aior
M anuel Teles da Silva,
1.° M . A legrete
M ariana de M endon ça
Fernando Teles da Silva,
2.° M. A legrete
D. Nuno M a s carenhas
C o sta
D. Luisa C o utinho
D. B e a triz de M e n e ze s,
3. a C. Sabugal
M anuel T eles da Silva,
3.° M. A legrete
D. M arcos de Noronha
D. T om ás de Noronha,
3 .° C.
D. M aria Henriques
D. H e lena de Noronha
D. Luis de Lim a B rito e
N ogueira, 1.° C.
D. M adalena de B rito e
Bourbon
V itó ria de C a rda illac
Nuno da Silva Teles

D. F ra n c is c o de M elo,
3 .° M . Ferreira
D. Nuno Álvares P ereira
de M elo, 1.° D. C a d a ^ l
J oan a P im e n te l
D. E u génia R osa de
Lorena
M argarida de Lorena
D. V a s c o José da
G am a, 5.° M. N iza
D. F ra n c is c o da G a m a ,
4.° C. V idig ueira
D. V a s c o Luis da G am a ,
1.° M. N iza
Leonor C o utinho
D. F ra n c is c o Luís
B a lta z a r da G a m a , 2.°
M. Niza
S im ã o G o n ç a l^ s da
C am ara, 3.° C.
Inês de Noronha •
M argarida de M enezes
V a s c o n c e lo s
D . V a s c o José Luís da
G am a, 3.° M. N iza
D. Fernão M artins
M ascarenhas
D. V a s c o M a s c a re n h a s ,
1.° C. Ó bidos
D. M aria de Lan c a s tre
D. B rite s de V ilhe na
D. João M a s carenhas
D. Joana F ra n c is c a de
V ilh e n a
D. B e a triz M a s c a re n h a s,
3.a C . S a n ta Cruz

D . M aria Josefa da
G am a, 4.a M. N iza
D. Á lvaro P ire s de
C a s tro , 1.° M . C a s c a is
D . Luís Á lvares de ••
C a s tro , 2 .° M . C a s c a is
•• D. B árbara E s te fâ n ia de
Lara
D. B árbara Is a b e l de
Lara
D. A n tó n io Luis de
M e n e z e s , 1.° M.
M arialva
D . M aria Joana C o utinho •
D. C a tarin a C o utinho

Pág. 41
Anexo 3
Casa dos marqueses de Niza/ condes da Vidigueira e Unhão
• • • • • •
Rodrigo Teles de
M enezes, 2.° C. Unhão
Fernão Teles de •••
M enezes e Castro, 3.°
C. Unhão
D. Joana Luisa de
Lancastre
Rodrigo X aver Teles de
M enezes C astro e
Silveira, 4.° C. Unhão
D. Martinho
M ascarenhas, 4.° C.
Santa Cruz
D. M aria de Lancastre
Juliana de Lancastre
João X aver Fernão Teles
de Menezes, 5.° C.
Unhão
António Luis de Tavora,
2.° C.
Miguel Carlos de Tavora
D. Arcângela Maria de
Portugal
V itó ria de Távora
João Nunes da Cunha,
1.° C.
M aria Caetana da
Cunha, 2.a C. S. Vicente

D. Isabel de Bourbon
D. Rodrigo X aver Teles
de C astro da Gama, 6.°
M. Niza
D. V a sco Luis da Gama,
1.° M. Niza
D. Francisco Luís
Baltazar da Gama, 2.°
M. Niza
Inês de Noronha
D. V a sco José Luís d
Gama, 3.° M. Niza
D. V a sco Mascarenhas,
1.° C.
D. Brites de V ilhena
D. Joana Francisca de
V ilhena
D. M aria Josefa da
Gama, 4.a M. Niza
D. Álvaro Pires de
Castro, 1.° M. Cascais
D. Luís Álvares de
Castro, 2.° M. Cascais
•O D. Bárbara Estefânia de
Lara
D. Bárbara Isabel de
Lara
D. António Luis de
M enezes, 1.° M.
Marialva
D. M aria Joana Coutinho •
D. Catarina Coutinho
D. Eugénia Maria Teles
de C astro da Gama, 7.a
M. Niza
• ••••• Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
D. Luisa Coutinho
D. Tomás Teles da Silva
D. Tomás de Noronha,
3.° C.
D. H elena de Noronha
D. M adalena de Brito e
Bourbon
D. Tomás Xavier de Lima
Nogueira Teles da Silva,
1.° M.
D. João Fernandes de
Lim a V asconcelos de
Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Tomás de Lima
Vasconcelos e Menezes
de Brito Nogueira, 11.°
V.
D. Vitória de Bourbon
D. Maria Xavier de Lima
e Hohenlohe, 12.a V.
Maria A n a Teresa de
Hohenloe
D. M aria A na Josefa
Xaver de Lima
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
Manuel Teles da Silva,
3.° M. Alegrete
D. Helena de Noronha
Fernão Teles da Silva,
4.° M. Alegrete
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
D. Eugénia Rosa de
Lorena
Margarida de Lorena
Eugénia Maria Josefa de
Bragança
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
João Gomes da Silva
D. Luisa Coutinho
Maria Josefa de
Menezes
D. Estevão de Menezes
D. Joana Rosa de
M enezes, 4.a C. Tarouca

D. Helena de Noronha

Pág. 42
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Penalva/ condes de Tarouca

Fernão Te le s de
M e n eze s, 1 .° C. V ila r
M a io r
M anuel Teles da Silva,
1 .° M. A le gre te
M ariana de M e n do nça
F e rnando Te le s da Silva,
2.° M. A le gre te
D. N u no M a sca re n h a s
C o sta
D. L uisa C o utin h o
D. B e a triz de M en eze s,
3.a C. S ab u ga l
M anuel Te le s da Silva,
3 .° M. A le g re te
D. M a rco s de N oronha
D. To m á s de Noronha,
3 .° C.
D. M a ria H e nriq ue s
D. H e le na de N oronha
D. Luis de L im a B rito e
Nogueira, 1 .° C.
D. M a d ale n a de B rito e
Bourbon
V itó ria de C a rd a illa c
M a n ue l Te le s da Silva,
6 .° C. V ila r M a io r
D. F ra n c is c o de Melo,
3 .° M. Ferreira
D. N u no Á lva res Pereira
de Melo, 1 .° D. Cadaval
Joana P im e nte l
D. E ug é nia R osa de
Lorena
M arg arid a de Lorena
F e rnando Te le s da Silva,
3.° M. Penalva
Fernão Te le s de
M e n eze s, 1.° C. V ila r
M a io r
M anuel Teles da Silva,
1 .° M. A le gre te
M ariana de M e n do nça
João G o m e s da Silva
D. N u no M a sca re n h a s
C o sta
D. L uisa C o utin h o
D. B e a triz de M en eze s,
3.a C. S abugal
E stevão de M e n eze s, 1 °
M. Penalva
D. D uarte Luis de
M e n eze s, 3 .° C. Ta ro uca
D. E stevão de M e n eze s
D. L uisa de C a stro
D. Joana R o sa de
M e n eze s, 4.a C. T arouca

D. T o m á s de Noronha,
3 .° C.
D. H e le na de N oronha
D. M a d ale n a de B rito e
Bourbon
E ug é nia de M e n e ze s da
Silva, 2.a M. Penalva
M anuel Te le s da Silva,
1 .° M. A le gre te
F e rnando Te le s da Silva,
2 .° M. A le gre te
D. L uisa C outin h o
M a n ue l Te le s da Silva,
3 .° M. A le gre te
D. T o m á s de Noronha,
3 .° C.
D. H e le na de N oronha
D. M a d ale n a de B rito e
Bourbon
M arg arid a A n a A rm a n da
de Lorena
D. F ra n c is c o de Melo,
3 .° M. Ferreira
D. N u no Á lva res P ereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana P im e nte l
D. E ug é nia R o sa de
Lorena
M argarida de Lorena

Pág. 43
Anexo 3
Casa dos marqueses de Pombal/ condes de Oeiras
• •
S ebastião de Carvalho
S ebastião de Carvalho •
Maria de Braga e
Figueiredo
S ebastião de Carvalho e
Melo
G aspar Leitão Coelho
Luisa de Melo
Joana de M esquita
Manuel de Carvalho e •
Ataíde
G aspar da Costa
G onçalo da Costa
Coutinho
Leonor de Vilhena
Leonor Maria de Ataíde
D. João de Ataíde
D. Isabel de Ataíde
Catarina de S á e Sousa
S ebastião José de
Carvalho e Melo, 1.° M.
Pombal
A ntónio José de A lm ada
e Melo
João de A lm ada e Melo
Úrsula de V asconcelos
Teresa Luisa de
Mendonça e Melo
Francisco de Mendonça
Furtado
M aior Luisa de
Mendonça
D. Maria de Melo
Henrique José de
Carvalho e Melo, 2.° M.
Pombal
•• Leonor E rnestina de
Daun

Pág. 44
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Ponte de Lima/ viscondes de Vila Nova de Cerveira
P
Fernão Teles de
M enezes, 1.° C. V ila r
M aior
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Mariana de Mendonça
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
D. Nuno Mascarenhas
Costa
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz de M enezes,
3.a C. Sabugal
D. Tomás Teles da Silva
D. Tomás de Noronha,
3.° C. A rcos
D. Helena de Noronha
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. Tomás Xavier de Lima
Nogueira Teles da Silva,
1.° M. Ponte de Lima

D. Lourenço de Lima
Brito Nogueira, 6.° V.
V ila Nova de Cerveira
D. Diogo de Lima Brito e
Nogueira, 7.° V. Vila
Nova de Cerveira
Luísa de Tavora
D. João Fernandes de
Lima V asconcelos de
Brito e Nogueira, 10.° V.
V ila Nova de Cerveira
D. João Luis de
V ascon celos e Menezes
D. Joana de
V asconcelos
Maria Cabral de Noronha
D. Tomás de Lima
V asconcelos e M enezes
de Brito Nogueira, 11.°
V. V ila Nova de Cerveira

D. Tomás de Noronha,
3.° C. A rcos
D. V itória de Bourbon
D. M adalena de Brito e
Bourbon
D. Maria Xavier de Lima
e Hohenlohe, 12.a V. V ila
Nova de Cerveira
Maria Ana Teresa de
Hohenlohe

Pág. 45
Anexo 3
Casa dos marqueses de Tancos/ condes da Atalaia
• •
D. Manuel Luis B altazar
da Camara, 2.° C. Vila
Franca
D. Rodrigo da Camara,
3.° C. V ila Franca
Leonor Enriquez de
Villena
D. Manuel Luis B altaza r
da Camara, 1.° C.
Ribeira Grande
• D. Francisco da Gam a,
4.° C. Vidigueira
D. Maria Coutinho •
Leonor Coutinho
D. José Rodrigo da
Camara, 2.° C. Ribeira
Grande
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
M écia de Mendoça
D. Leonor de Mendoça
D. Duarte Rodrigo da
Camara
C onstança Emília,
P rincesa de Rohan-
Soubise
D. Domingas Manoel de
Noronha, 3.a M. Tancos
•• D. Pedro Manoel, 2.° C.
Atalaia
D. Álvaro Manoel ••
•• D. Maria de Ataíde
D. Luis Manoel de •
Tavora, 4.° C. A talaia
•• Álvaro P ires de Tavora
Inês de Lim a e Tavora
D. Maria de Lim a
D. João Manuel de
Noronha, 1.° M. Tancos
•• D. Rodrigo da Camara,
3.° C. V ila Franca
D. Manuel Luis B altazar
da Camara, 1.° C.
Ribeira Grande
• D. Maria Coutinho
D. Francisca Leonor de •
Mendonça
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Mécia de Mendoça
D. Leonor de Mendoça
D. C onstança Manoel,
2.a M. Tancos
•• D. Rodrigo da Camara,
3.° C. V ila Franca
D. Manuel Luis B altazar
da Camara, 1.° C.
Ribeira Grande
• D. Maria Coutinho
D. José Rodrigo da
Camara, 2.° C. Ribeira
Grande
• Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Mécia de Mendoça
D. Leonor de Mendoça
D. M écia de Rohan
C onstança Emília,
P rincesa de Rohan-
Soubise

Pág. 46
Retrato puritano
Casa dos marqueses de Távora/ condes da S. João da Pesqueira

Luis Álvares de Tavora,


1.° C. S ão João da
Pesqueira
A n tónio Luis de Tavora,
2.° C. S ã o João da
Pesqueira
M arta de V ilhena
F rancisco de Tavora, 1 °
C. Alvor
D. Miguel de Noronha,
4.° C. Linhares
D. A rcâng ela Maria de
Portugal
D. Inácia de M enezes e
V a sconcelos
Bernardo A n tónio Filipe
Neri de Tavora, 2.° C. de
Alvor
A n tónio Luis de Tavora,
2.° C. S ão João da
Pesqueira
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
D. A rcâng ela M aria de
Portugal
Inês Catarina de Tavora
' D. Rodrigo Lobo da
S il^ ir a , 1.° C. Sarzedas
D. M aria Inácia de
M enezes
D. M aria A n tónia de
V a sc o n c e lo s e M enezes
F ra n cisco de A s s is de
Tavora, 3.° C. Alvor
D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. C a d a ^ l
Joana Pim entel
D. Joana de Lorena
M argarida de Lorena
Luis Bernardo de Tavora,
4.° M. Tavora
A n tónio Luis de Tavora,
2.° C. S ão João da
Pesqueira
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
D. A rcâng ela M aria de
Portugal
A n tónio Luis de Tavora,
2.° M. de Tavora
D. Rodrigo Lobo da
S il^ ir a , 1.° C. Sarzedas
D. M aria Inácia de
M enezes
D. M aria A n tónia de
V a sc o n c e lo s e M enezes
Luis Bernardo Álvares de
Tavora, 5.° C. S. João da
P esqueira
D iogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Henrique de S ousa
Tavares da Silva, 1.° M.
A rronches
D. Leonor de Mendoça
Leonor Teresa R o sa de
Sousa
D. A n tónio M ascarenhas

D. M ariana de Castro
Isabel de Castro
Leonor Tom ásia de
Lorena e Tavora, 3.a M.
D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. C a d a ^ l
J o a n a P im e n te l
D. A n a d e L o re n a
M a rg a rid a d e L o re n a

Pág. 47
Anexo 3
Casa dos marqueses de Valença/ condes de Vimioso
P
D. Luis de Portugal, 4.°
C. V im ioso
D. A fonso de Portugal,
1.° M. A guiar
D. Joana de C astro
M endonça
D. Miguel de Portugal,
7.° C. V im ioso
D. Cristovão de Moura,
1.° M. C astelo Rodrigo
D. Maria de Mendonça
Margarida Côrte-Real
D. Francisco de Paula
de Portugal e Castro, 2.°
M. Valença
A gostinho Pestana
A ntónia de Bulhões
A ntónia Ferreira
D. José M iguel João de
Portugal e C astro, 3.° M.
Valença
Fernão Teles de
M enezes, 1.° C. V ilar
M aior
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Mariana de Mendonça
Francisca Rosa de
M enezes Coutinho
D. Nuno M ascarenhas
C osta
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz de Menezes,
3.a C. Sabugal
D. Afonso Miguel de
Portugal e Castro, 4.° M.
V alença
Fernão Teles de
M enezes, 1.° C. V ilar
Maior
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
M ariana de Mendonça
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
D. Nuno M ascarenhas
Costa
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz de Menezes,
3.a C. Sabugal
Manuel Teles da Silva,
3.° M. Alegrete
D. M arcos de Noronha
D. Tomás de Noronha,
3.° C.
D. Maria Henriques
D. Helena de Noronha
D. Luis de Lima Brito e
Nogueira, 1.° C.
D. Madalena de Brito e
Bourbon
V itória de Cardaillac
Luisa de Lorena
D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Eugénia Rosa de
Lorena
Margarida de Lorena

Pág. 48
Retrato puritano
Casa dos condes de Almada/ Mestres-salas da Casa Real

D. Luis de A lm ada
D. Lourenço de Alm ada,
1.° M estre-sala
D. Luisa de M enezes
D. Luis José de Alm ada, •
2.° M estre-sala
D. João de A lm eida
D. Catarina Henriques
D. V iolante Henriques
D. Antão de Alm ada, 4.°
M.S.
D. João de A lm eida
D. Luis de Alm eida
D. V iolante Henriques
D. V iolante de Portugal
Dinis de Melo e Castro,
1.° C. Galveias
Maria Josefa de Melo •
Côrte-Real
Ângela Maria da Silveira
D. Lourenço José
Boaventura de Alm ada,
1.° C. Alm ada
••• D. Luis de Alm ada
D. Lourenço de Alm ada,
1.° M estre-sala
D. Luisa de Menezes
D. Luis José de Alm ada, •
2.° M estre-sala
D. João de A lm eida
D. Catarina Henriques
D. V iolante Henriques
D. Lourenço de Alm ada,
3.° M estre-sala
M anuel da Cunha
Tristão A ntónio da
Cunha
Francisca Joana de
Albuquerque
F rancisca Josefa de
Tavora
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
Leonor Tom ásia de
Tavora
D. Maria Inácia de
Menezes
D. V iolante Josefa de •
A lm ada Henriques
A ntónio de Mendonça
Furtado
Tristão de Mendoça e
Albuquerque
Filipa de Tavora
Lourenço (ou Luis) de
Mendonça Furtado e
Albuquerque
• D. Lourenço de Alm ada,
1.° M estre-sala
D. V iolante de Alm ada •
Henriques
D. Catarina Henriques
Maria da Penha de
França de Mendonça
D. Inês Joana de V ilhena

Pág. 49
Anexo 3
Casa dos condes de Alva

Fernão de Sousa
Tom é de Sousa
D. Maria de Castro
D. Fernão de Sousa de
Castelo-Branco, 10.° C.
Redondo
D. João de C astelo-
Branco
D. Francisca de
Menezes
D. Cecília de M enezes
Coutinho
D. Rodrigo de Sousa
C outinho Castelo-Branco
e Menezes
D. Rodrigo Lobo da
Silveira, 1.° C. Sarzedas
D. Luisa Sim oa de •
Portugal
D. Maria A ntónia de
V asconcelos e M enezes
D. V icente Roque de
S ousa Coutinho de
M enezes Monteiro Paim
Martim Fernandes
Monteiro
Pedro Fernandes
Monteiro
Isabel Vaz
Roque Monteiro Paim
Roque Álvares
C onstança Paim
Leonor Rodrigues Paim
Maria A ntónia de São
Boaventura M enezes
Monteiro Paim
irm ã da m u lh er do 1.° C. Pantaleão de Sá e Melo
Alva, D. João de Ataíde
e Sousa, s.g.
Lourenço de Melo da
Silva de M esquita
Joana de Lima
Joana Francisca de
Menezes
Miguel Brandão da Silva
Bernarda M icaela da
Silva
Isabel de Madureira
D. Luís de Sousa
C outinho, 3.° C. Alva
Luisa Isabel de Canilliac

Pág. 50
Retrato puritano
Casa dos condes de Alvor

Luis Álvares de Tavora,


1.° C. São João da
Pesqueira
António Luis de Tavora
2.° C. São João da
Pesqueira
Marta de Vilhena
Francisco de Tavora, 1 °
C. Alvor
D. Miguel de Noronha,
4.° C. Linhares
D. Arcângela Maria de
Portugal
D. Inácia de M enezes e
V asconcelos
Bernardo A ntónio Filipe
Neri de Tavora, 2.° C. de
Alvor
A ntónio Luis de Tavora,
2.° C. São João da
Pesqueira
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
D. Arcângela Maria de
Portugal
Inês Catarina de Tavora
D. Rodrigo Lobo da
Silveira, 1.° C. Sarzedas
D. Maria Inácia de
Menezes
D. Maria A ntónia de
V asconcelos e Menezes
Francisco de A ssis de
Tavora, 3.° C. Alvor
D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Joana de Lorena
Margarida de Lorena

Pág. 51
Anexo 3
Casa dos condes dos Arcos
•• •••
D. António de Noronha,
1.° C. Vila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de Menezes
D. Diogo de Noronha
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Isabel Mana Antónia de
Mendonça
D. Mariana de Castro
D. Pedro José de
Alcântara de Menezes
Noronha Coutinho, 4.°
M. Marialva
D. António Luis de
Menezes, 1.° M.
Marialva
D. Pedro António de •
Menezes, 2.° M.
Marialva
D. Catarina Coutinho
D. Joaquina Maria
Madalena da Conceição
de Menezes, 3.a M.
Marialva
D. Rodrigo de Menezes
D. Catarina Coutinho
D. Guiomar de Menezes
D. Manuel José de
Noronha e Menezes
D. Vasco Mascarenhas,
1.° C.
D. Fernando Martins
Mascarenhas, 2.° C.
D. Joana Francisca de
Vilhena
D. Manuel Mascarenhas,
3.° C.
D. João Mascarenhas
Castelo-Branco da
Costa, 2.° C. Palma
D. Beatriz Mascarenhas
Castelo-Branco da
Costa, 3.a C. Palma e 4.a
C. Sabugal
D. Joana de Castro
D. Eugénia de Assis
Mascarenhas
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
Manuel Teles da Silva,
3.° M. Alegrete
D. Helena de Noronha
Helena Josefa de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira


de Melo, 1.° D. Cadaval
D. Eugénia Rosa de
Lorena
Margarida de Lorena
D. Marcos de Noronha e
Brito, 8.° C. Arcos
— • • • • • D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Marcos de Noronha,
4.° C. Arcos
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. Tomás de Noronha,
5.° C. Arcos
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
Maria Josefa de Tavora
D. Maria Inácia de
Menezes
D. Marcos José de
Noronha e Brito, 6.° C.
Arcos
D. Pedro de Almeida, 1.°
C. Assumar
D. João de Almeida, 2.°
C. Assumar
•• D. Margarida André de
Noronha
D. Madalena Bruna de
Castro
•• D. João Mascarenhas,
1.° M. Fronteira
D. Isabel de Castro
•C« ••
D. Madalena de Castro
D. Juliana Xaver de
Lancastre, 7.a C. Arcos
Francisco Nuno Álvares
Botelho, 1.° C. S. Miguel
Álvaro José Botelho de
Tavora, 2.° C. S. Miguel
Cecília de Tavora
Tomás José Botelho de
Tavora, 3.° C. São
Miguel
D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Antónia Luisa de
Bourbon
D. Madalena de Brito e
Bourbon
Maria Xavier de
Lancastre
Rodrigo Teles de
Menezes, 2.° C. Unhão
Fernão Teles de
Menezes e Castro, 3.°
C. Unhão
D. Joana Luisa de
Lancastre
Juliana Xavier de
Lancastre
D. Martinho
Mascarenhas, 4.° C.
Santa C r ^
D. Maria de Lancastre
Juliana de Lancastre

Pág. 52
Retrato puritano
Casa dos condes de Atouguia

D. Luis de Ataíde, 5.° C.


Atouguia
D. Jerónimo de Ataíde,
6.° C. Atouguia
D. Filipa de Vilhena
D. Luis Peregrino de
Ataíde, 8.° C. Atouguia
• ~ D. Fernando de
Menezes
D. Leonor Maria de
Menezes
D. Joana de Toledo da
Camara
D. Jerónimo de Ataíde,
9.° C. Atouguia
D. Francisco
Mascarenhas
D. João Mascarenhas
D. Margarida de Vilhena
D. Margarida de Vilhena
D. Francisco de Castelo-
Branco, 2.° C. Sabugal
D. Beatriz de Menezes,
3.a C. Sabugal
D. Luisa Coutinho
D. Luis Pedro Peregrino
de Carvalho e Menezes
de Ataíde, 10.° C.
Atouguia
António Luis de Tavora,
2.° C. São João da
Pesqueira
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
D. Arcângela Maria de
Portugal
A ntónio Luis de Tavora,
2.° M. de Tavora
D. Rodrigo Lobo da
Silveira, 1.° C. Sarzedas
D. Maria Inácia de
Menezes
D. Maria A ntónia de
Vasconcelos e Menezes

Mariana Teresa de
Tavora
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
D. Leonor de Mendoça
Leonor Teresa Rosa de
Sousa
D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro

Isabel de Castro
D. Jerónimo de Carvalho
e Menezes de Ataíde,
11.° C. Atouguia
• D. Vasco Mascarenhas,
1.° C. Óbidos
D. Fernando Martins
Mascarenhas, 2.° C.
Óbidos
D. João Mascarenhas
D. Joana Francisca de
Vilhena
D. Beatriz Mascarenhas,
3.a C. Santa Cruz
D. Clara de A ssis
Mascarenhas
D. João Mascarenhas
D. Nuno Mascarenhas
D. Maria da Costa
D. João Mascarenhas
Castelo-Branco da
Costa, 2.° C. Palma
D. Francisco de Castelo-
Branco, 2.° C. Sabugal
D. Beatriz de Menezes,
3.a C. Sabugal
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz Mascarenhas
Castelo-Branco da
Costa, 4.a C. Sabugal
D. Nuno Mascarenhas
D. Francisco
Mascarenhas
Isabel de Castro
D. Joana de Castro
D. João Mascarenhas
D. Margarida de Vilhena
D. Maria da Costa

Pág. 53
Anexo 3
Casa dos condes de Aveiras
• •
D. Manuel Luis Baltazar
da Camara, 2.° C. V ila
Franca
D. Rodrigo da Camara,
3.° C. V ila Franca
Leonor Enriquez de
V illena
D. Manuel Luis Baltazar
da Camara, 1.° C.
Ribeira Grande
• D. Francisco da Gama,
4.° C. Vidigueira
D. Maria Coutinho •
Leonor Coutinho
D. José Rodrigo da
Camara, 2.° C. Ribeira
Grande
• Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
M écia de Mendonça
D. Leonor de Mendoça
D. Duarte Rodrigo da
Camara
C onstança Emília,
princesa de Rohan-
Soubise
D. Francisco da Silva
Telo e M enezes, 6.° C.
Aveiras
•• » João da Silva Telo de
Menezes, 1.° C. Aveiras
Luis da Silva Telo de
M enezes, 2.° C. Aveiras
Maria de Castro
João da Silva Telo de
M enezes, 3.° C. Aveiras
D. Álvaro Pires de
Castro, 1.° M. C ascais
D. Joana Inês de •
Portugal
•• D. Maria de Portugal
Luis da Silva Telo e
Menezes, 4.° C. Aveiras
•• D. João da Costa, 1.° C.
de Soure
D. Juliana de Noronha

D. Francisca de Noronha
Inês Joaquina da Silva,
5.a C. Aveiras
•• Francisco de Tavora, 1 °
C. Alvor
Maria Inácia de Tavora
Inês Catarina de Tavora

Pág. 54
Retrato puritano
Casa dos condes da Bobadela
• • • • • •
Bernardim Freire de
Andrade
Manuel Freire de
Andrade
Luisa de Faria
Bernardim Freire de
Andrade
Joana de Brito
José António Freire de
Andrade, 2.° C.
Bobadela
to Henrique Pereira de
Berredo
Ambrósio Pereira de
Berredo
D. Maria de Menezes
Joana Vicência de
Menezes
Dinis de Melo e Castro,
1.° C. Galveias
Maria Lobo da Silveira
Ângela Maria da Silveira
Gomes Freire de
Andrade, 3.° C.
Bobadela
— t• • D. Luís de Almeida, 1.°
C. Avintes
D. António de Almeida,
2.° C. Avintes
•• D. Isabel de Castro
D. João de Almeida
•to D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Maria Antónia de
Bourbon
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. Fernando de Almeida
e Silva
Henrique Jacques Silva
Fernando Jaques da
Silva
Isabel Moniz Pereira
Joana Cecília de
Noronha
•• António Lobo de
Saldanha
Sebastiana de Noronha
Lobo
•• Joana Maria de Alcáçova
D. Antónia Xavier de
Lencastre de Almeida e
Bourbon
'•••< • Pedro Sanches de
Farinha
Rodrigo Sanches
Farinha e Baena
Luisa Baena
Isabel Teresa de
Lancastre Baena
Sanches de Farinha
João Rodrigues de
Vasconcelos e Sousa,
2.° C. Castelo Melhor
Manuel de Vasconcelos
e Sousa
Mariana de Lancastre
Vasconcelos e Camara
Mariana Josefa Benta de
Lancastre
Diogo de Brito Coutinho
Isabel de Sousa
Coutinho
Ana de Sousa de Lima

Pág. 55
Anexo 3
Casa dos condes de Caparica

D. João de Menezes
D. Diogo de Menezes
Madalena de Tavora
D. José de M enezes de
Tavora
Luis Francisco de
Oliveira e Miranda
Maria de Oliveira
Luisa de Tavora
D. Diogo M enezes de
Tavora
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
A rronches
D. Leonor de Mendoça
Brites Francisca de
M endoça
D. A ntónio Mascarenhas

D. Mariana de Castro
Isabel de Castro
D. José de M enezes da
Silveira de Castro e
Tavora
Maria Bárbara Josefa
Breyner
D. Francisco Xavier de
M enezes da Silveira e
Castro, 1.° C. Caparica
• Luísa G onzaga de
Rappach

Pág. 56
Retrato puritano
Casa dos condes de Coculim

D. Fernando
M ascarenhas, 1.° C.
Torre
D. João M ascarenhas, ••
1.° M. Fronteira
• • D. Maria de Noronha
D. Francisco
M ascarenhas, 1.° C.
Coculim
• • D. Francisco de Sá de
M enezes, 2.° C.
Penaguião
D. Madalena de Castro
D. Joana de Castro
D. Filipe M ascarenhas, •
2.° C. Coculim
• • D. V asco Luis da Gama,
1.° M. Niza
D. Francisco Luís
B a lta za r da Gama, 2.°
M. Niza
Inês de Noronha
D. Maria Josefa de
Noronha
• • D. Fernando
M ascarenhas, 1.° C.
Torre
D. Helena da Silveira e ••
Noronha
• • D. Maria de Noronha
D. Francisco
M ascarenhas, 3.° C.
C oculim
• • D. Rodrigo Lobo da
Silveira, 1.° C. Sarzedas
D. Luis da Silveira, 2. C.
Sarzedas
D. Maria A ntónia de
V ascon celos e Menezes
D. Catarina Úrsula de
Lancastre
João Gom es da Silva

Mariana da Silva e
Lancastre
D. Joana de Tavora

D. Joaquim
M ascarenhas, 4.° C.
• • D. Pedro de Lancastre,
2.° C. Figueiró
D. Luis de Lancastre, 4.° ••
C. V ila Nova
••• D. Madalena Lancastre

D. Teresa M adalena de ••
Lancastre
••• D. Estevão de Menezes
Madalena de Noronha

D. Helena de Noronha

Pág. 57
Anexo 3
Casa dos condes da Cunha/ Trinchantes da Casa Real
• • •
D. Aires da Cunha
D. Pedro da Cunha
M aior Afonso
D. Lourenço da Cunha
Rui Pereira da Silva
Maria da Silva
Isabel da Silva
D. A ntónio Álvares da
Cunha, Trinchante
Luís Carneiro
Fradique Carneiro
D. Leonor de Aragão
Isabel de Aragão •
Francisco Pais
M elícia Pais
Isabel Ferreira
D. Pedro Álvares da
Cunha, Trinchante
D. Cristovão Manoel de
Vilhena
D. Francisco Manoel de
V ilhena
Francisca de Castro
D. Cristovão Manoel de
V ilhena
Manuel de Abreu
Pessanha
Beatriz da Silva de
M enezes
D. Filipa da Silva
D. Maria Manoel de
Vilhena
G aspar Gil Severim
Joana de Faria
Juliana de Faria
D. José V asques Álvares
da Cunha, 2.° C. Cunha
••• D. A ntónio de Menezes
S otom aior
D. A ntónio de Menezes
D. Cecília de Mendonça
D. A ntónio de Menezes
G onçalo Gom es da Silva
Mariana da Silva
Francisca da Silva
D. Maria Teresa de
Vilhena
Henrique Jaques de
Magalhães
Pedro Jaques de
Magalhães, 1.° V. Fonte
A rcada
V iolante de Vilhena
A ntónia M adalena de
Vilhena
A ntónio Correia Baharem
Maria V icência de
V ilhena
A ntónia Henriques

Pág. 58
Retrato puritano
Casa dos condes da Ega
• • • •
A ntónio de Saldanha
A ires de Saldanha de
Albuquerque
D. Joana da Silva
João de Saldanha de
A lbuquerque
••• Luis de Saldanha
Isabel da Silva ••
Maria da Silva
A ires de Saldanha
Albuquerque e Castro
••• D. Álvaro Coutinho
D. Pedro Coutinho
Joana da Silva
D. Catarina de Noronha
A ntónio de M atos de
Noronha
Mariana de Noronha
Catarina da Silva
M anuel de Saldanha de
Albuquerque e Castro,
1.° C. Ega
••• D. João Mascarenhas
D. Martinho
M ascarenhas, 4.° C.
Santa Cruz
D. B eatriz M ascarenhas,
3.a C. Santa Cruz
D. João M ascarenhas,
5.° C. Santa Cruz
Manrique de Silva, 1.° M.
Gouveia
Juliana de Lancastre •
D. Maria de Lancastre
D. Maria Leonor de
Lancastre e M oscoso
Teresa de M oscoso
Osório
Aires José Maria de
Saldanha de
Albuquerque Coutinho
M atos e Noronha, 2.° C.
Ega
D. Luis de Alm ada
D. Lourenço de Alm ada,
1.° Mestre-sala
D. Luisa de Menezes
D. Luis José de Alm ada, •
2.° Mestre-sala
D. João de Alm eida
D. Catarina Henriques
D. V iolante Henriques
D. Ana Ludovina de
A lm ada Portugal
D. João de Alm eida
D. Luis de Alm eida, o
M anteigas
D. V iolante Henriques
D. Violante de Portugal
Dinis de Melo e Castro,
Maria Josefa de Melo
Côrte-Real
 ngela Maria da Silveira

Pág. 59
Anexo 3
Casa dos condes de Ficalho

Manuel Teles da Silva,


1.° M. Alegrete
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
D. Luisa Coutinho
António Teles da Silva
D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Helena de Noronha
D. Madalena de Brito e
Bourbon
Francisco José de Melo
Pedro de Melo
Francisco de Melo
Teresa Maria de
Mendonça
Teresa Josefa Tavora de
Melo
D. Diogo de Menezes
D. Inês Tomásia de
Tavora
Maria de Oliveira
António José de Mello
Breyner e Meneses
D. Diogo de Menezes
D. José de Menezes de
Tavora
Maria de Oliveira
D. Diogo Menezes de •
Tavora
Henrique de Sousa
Tavares da S il^ , 1.° M.
Arronches
Brites Francisca de
Mendoça
D. Mariana de Castro
D. Isabel Josefa de
Breyner e Menezes, 1.a
C. Ficalho
Maria Bárbara Josefá
Breyner
Francisco José de Mello
Breyner Teles da Silva,
2.° C. Ficalho
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Fernando Teles da S il^ ,
2.° M. Alegrete
D. Luisa Coutinho
D. Tomás Teles da Silva
D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Helena de Noronha
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. Tomás Xaver de Lima
Nogueira Teles da Silva,
1.° M. Ponte de Lima
D. João Fernandes de
Lima Vasconcelos de
Brito e Nogueira, 10.° V.
Vila N o ^ de C ernira
D. Tomás de Lima
Vasconcelos e Menezes
de Brito Nogueira, 11.°
V. Vila Nova de Cerveira

D. Vitória de Bourbon
D. Maria Xaver de Lima
e Hohenlohe, 12.a V. Vila
Nova de Cerveira
Maria Ana Teresa de
Hohenlohe
D. Maria Margarida
Josefa Xaver de Lima
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
Manuel Teles da Silva,
3.° M. Alegrete
D. Helena de Noronha
Fernão Teles da Silva,
4.° M. Alegrete
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
D. Eugénia Rosa de
Lorena
Margarida de Lorena
Eugénia Maria Josefa de
Bragança
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
João Gomes da Silva
D. Luisa Coutinho
Maria Josefa de
Menez es
D. Estevão de Menezes
D. Joana Rosa de
Menezes, 4.a C. Tarouca
D. Helena de Noronha

Pág. 60
Retrato puritano
Casa dos condes das Galveias

D. João de Alm eida


D. Luis de Alm eida, o
Manteigas
D. Violante Henriques
D. João Teotónio de
A lm eida Portugal
Dinis de Melo e Castro,
1.° C. Galveias
Maria Josefa de Melo •
Côrte-Real
Ângela Maria da Silveira
D. A ntónio José de
Alm eida Beja e Noronha
D. A ntónio Luis de Beja
e Noronha
D. Teresa A ntónia de
Melo Castro e Beja
Egas Coelho da Cunha
Isabel Coelho e Castro
V icência da Silva
D. João de Alm eida de
Melo e C astro, 5.° C.
Galveias
Dinis de Melo e Castro,
1.° C. Galveias
André de Melo e Castro,
4.° C. Galveias
Ângela Maria da Silveira
Francisco de Melo e
Castro, o Encam isado
N
Violante Joaquina de
Melo e Castro
Manuel da Silva Pereira
Maria Joaquina Xavier da
Silva
Micaela A ntónia da Silva

Pág. 61
Anexo 3
Casa dos condes da Lousã
• • •
D. Lourenço de
Lancastre
D. Rodrigo de Lancastre •
Inês de Noronha
D. João de Lancastre
João da Silva Telo de
Menezes, 1.° C. Aveiras
Inês Teresa de Noronha
Maria de Castro
D. Rodrigo de Lancastre
• • D. Pedro de Almeida
D. Maria Teresa Antónia ••
de Portugal
•• Miguel de Quadros e
Tavora
Luisa Antónia de
Portugal
Catarina de Portugal
D. João de Lancastre,
1.° C. Lousã
Manuel Correia de
Lacerda
Francisco Correia de
Lacerda
D. Francisca de Aragão
João Correia de Lacerda •
António Gonçalves da
Camara
Isabel Maria de Castro
Maria de Castro
Isabel Francisca Xavier
de Castro
Diogo Carneiro Fontoura
Luisa Catarina Fontoura
Catarina de Fontoura
D. Luis António de
Lancastre Basto
Baharem, 2.° C. Lousã
Luis Gomes de Basto
António de Basto Pereira

Bernardina de Torres de
Luis António de Basto
Baharem
Jerónimo Correia
Baharem
António Correia Baharem

D. Maria de Alcáçova
Carneiro
Paula Maria de
Alcáçovas Baharem
Miguel de Vasconcelos
Maria de Brito
Catarina Lobo
Mariana Joaquina de
Basto Baharem
D. João de Almeida
D. Luis de Almeida, o
Manteigas
D. Violante Henriques
D. João Teotónio de
Almeida Portugal
Dinis de Melo e Castro,
1.° C. Galveias
Maria Josefa de Melo
Côrte-Real
Ângela Maria da Silveira
D. Violante Josefa de
Portugal
D. António Luis de Beja
e Noronha
D. Teresa Antónia de
Melo Castro e Beja
Isabel Coelho e Castro

Pág. 62
Retrato puritano
Casa dos condes de Lumiares e Ilha do Príncipe
• • • • • •
João R odrigues de
V a sco n ce lo s e Sousa,
2.° C. C aste lo M elhor
Luis de V a sco n ce lo s e
S ousa, 3.° C. C astelo
M elhor
M ariana de Lancastre
V a sco n ce lo s e Cam ara
Bernardo de Tavora de
V a scon celo s e Sousa
Bernardim de Távora e
S ousa, R.P.
G uio m ar de Tavora
S o usa Faro e Veiga
D. Leonor M ascarenhas
L u is José de Portugal da
G a m a e V a scon celo s
D. Paulo da Gam a
D. Luis de Portugal
D. M aria de Portugal
D. M aria M adalena de
Portugal
D. D iogo de A lm eida
D. Inês da Silva
D. Luisa M aria da Silva
José F rancisco Portugal
da G a m a e V a s c o n c e lo s
D. Rodrigo da Camara,
3.° C. V ila Franca
D. M anuel Luis B a ltaza r
da Cam ara, 1 .° C.
R ibeira Grande
• D. M aria C outinho
D. José Rodrigo da
Cam ara, 2.° C. Ribeira
G rande
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
M écia de M endoça
D. Leonor de M endoça
D. In ácia A g ostin ha
Xavier de Rohan
C on stan ça Em ília,
P rincesa de Rohan-
Soubise
H. M aria do Resgate
C arneiro P ortugal da
G a m a V a s c o n c e lo s
S o us a Faro, 3.a C.
Lum iares
Luis Carneiro de Sousa,
1.° C. Ilha do Príncipe
F rancisco Carneiro de
S ousa, 2.° C. Ilha do
Príncipe
D. M ariana de Faro e
S ousa
A n tó nio Carneiro de ••
S ousa, 3.° C. Ilha do
Príncipe
D. F rancisco de Sousa,
1.° M. Minas
D. E u fá s ia Filipa de
Lima
D. E u fá s ia Filipa de
Noronha
C arlos Carneiro de •••
S o usa e Faro, 5.° C. Ilha
do Principe, 1 .° C.
Lum iares
• ••• D. M iguel Luis de
M enezes, 1.° C.
Valadares
D. C arlos de Noronha,
2.° C. Valadares
D. M adalena M aria de
Lancastre e Abranches
D. M adalena de
Lancastre
Luis da C unha A taíde
Maria T eresa de
Lancastre
D. G uio m ar de Lancastre
H. M adalena Gertrudes
Carneiro de S o us a e
Faro, 2.a C. Lum iares
A n tó nio de Melo e
C astro
M anuel de M elo e C astro

C aetano de Melo e
C astro
F rancisca M adalena de
C astro
A n a V icê n cia de
N oronha
Luis Carneiro de Sousa,
1.° C. Ilha do Príncipe
F rancisco Carneiro de
S ousa, 2.° C. Ilha do
Príncipe
D. M ariana de Faro e
S ousa
M ariana de Faro ••
D. F rancisco de Sousa,
1.° M. Minas
D. E u fá s ia Filipa de
Lima
D. E u fá s ia Filipa de
Noronha
•••

Pág. 63
Anexo 3
Casa dos condes de S. Lourenço e Sabugosa/ Alferes-mores
• • •
D. António de Noronha,
1.° C. V ila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de Menezes
D. António de Noronha,
2.° M. Angeja
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
D. Leonor de Mendoça
Isabel Maria A ntónia de
Mendonça
D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro
Isabel de Castro
D. João José Ausberto
de Noronha
Fernão Teles de
Menezes, 1.° C. V ilar
Maior
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Mariana de Mendonça
João Gomes da Silva
D. Nuno Mascarenhas
Costa
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz de Menezes,
3.a C. Sabugal
Luisa Josefa de
Menezes
D. Duarte Luis de
Menezes, 3.° C. Tarouca
D. Estevão de Menezes
D. Luisa de Castro
D. Joana Rosa de
Menezes, 4.a C. Tarouca
D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Helena de Noronha
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. António Maria de
Melo da Silva César de
Menezes, 7.° C. S.
Lourenço
António de Melo
Martim Afonso de Melo
Margarida da Silva
Luis de Melo da Silva,
3.° C. S. Lourenço
Pedro da Silva, 1.° C.
São Lourenço
Madalena da Silva, 2.a C.
São Lourenço
Luisa da Silva Pereira
Rodrigo de Melo da
Silva, 5.° C. S. Lourenço
Bernardim de Távora e
Sousa, R.P.
Filipa de Faro
D. Estevão de Faro, 2.°
C. Faro
D. Leonor Mascarenhas
D. G uiom ar de Castro
Ana de Melo da Silva
César de Menezes, 6.a
S. Lourenço
Vasco Fernandes César
de Menezes, Alféres-mor
Luis César de Menezes, O
Alféres-mor
D. Maria Madalena de
Lancastre
V asco Fernandes César,
1.° C. Sabugosa
D. Rodrigo de Lancastre
D. Mariana de Lancastre
Inês Teresa de Noronha
H. Mariana Rosa de
Lancastre, 3. a C.
Sabugosa
D. Martinho
Mascarenhas, 4.° C.
Santa Cruz
D. João Mascarenhas,
5.° C. Santa Cruz
Juliana de Lancastre
D. Juliana Francisca de
Lancastre
Teresa de Moscoso
Osório

Pág. 64
Retrato puritano
Casa dos condes de S. Miguel
• • • • • • •
F ra n c is c o N u n o Á lva re s
B o te lh o , 1 .° S . M ig ue l
Á lva ro J o s é B o te lh o de
T avora, 2 .° S. M ig u e l
C e c ília d e T avora
T o m á s J o s é B o te lh o de
Tavora, 3 .° S. M ig u e l
D. T o m á s de N oron ha ,
3 .° C. A rc o s
D. A n tó n ia L u is a de
B o urbo n
D. M a d a le n a d e B rito e
Bo urbo n
Á lv a ro J o s é Xavier
B o te lh o , 4 .° C . S. M ig u e l
•••••• R od rig o T e le s de
M e n e z e s , 2 .° C. U n h ã o
F e rn ã o T e le s de •••
M e n e z e s e C a stro , 3 .°
C. U n h ã o
D. Jo a n a L u isa d e
L a n c a s tre
J u lia n a X avier de
L a n c a s tre
D. M a rtin h o
M a s c a re n h a s , 4 .° C.
S a n ta C ruz
D. M a ria d e L a n c a s tre
J u lia n a de L a n c a s tre
F e rn a n d o X avier B o te lh o
d e Tavora, 5 .° C . S.
M ig ue l
•• •••• D. T o m á s de N oron ha ,
3 .° C . A rc o s
D. L u is a d o P ila r de
N o ron ha
D. P e d ro d e A lm e id a , 1.°
C. A s s u m a r
D. Jo ã o d e A lm e id a , 2.°
• • D. M a rg a rid a A n d ré de
N o ron ha
D. M a d a le n a B ru n a de •O#
C a s tro
D. Joã o M a s c a re n h a s ,
1.° M . F ro n te ira
D. Isa be l de C a s tro •••
#€)# D. M a d a le n a d e C a s tro
Á lv a ro J o rg e B o te lh o de
S ousa e M enezes
N o ro n h a C o rre ia de
L a cerd a, 6 .° C. S.
M ig ue l
F ra n c is c o C o rre ia de
La ce rd a
M a n u e l C o rre ia de
La ce rd a
Isabel M a ria d e C a s tro
Luís F ra n c is c o C o rreia
d e La ce rd a
Luís G o m e s C o ro n e l de
S á e M enezes
L u ísa M a ria A n tó n ia d e
P o rtu g a l C oron el d e S á e

D. M a ria d e Po rtug al
M a n u e l J oa qu im C o rreia ••
de La c e rd a
F ra n c is c o C o rre ia de
La ce rd a
Joã o C o rre ia d e La ce rd a ••
Isabel M a ria d e C a s tro
Isa be l F ra n c is c a Xavier
D iog o C a rn e iro F o n to u ra
L u ísa C a ta rin a F o n to u ra
C a ta rin a d e F o n to u ra
A n a Is a be l d e P o rtu g a l
C o rre ia de La c e rd a
C oron el d e S á e
M enezes
R od rig o (ou R ui) de
S o u s a da S ilva
A lc o fo ra d o
F ra n c is c o d e S o u s a da
H e le n a da S ilva d e
S e a b ra
Rui (ou R o d rig o ) de
S o u s a d a S ilva
A lc o fo ra d o
M a n u e l d e S o u s a de
A lm e id a
A n tó n ia G a b rie la de
A lm e id a
V io la n te E n g rá c ia d e S á
B e rn a rd a G a b rie la de
V ilh e n a e S o u s a
M ig u e l B ra n d ã o da S ilva
J e ró n im o B ra n d ã o da
Isabel de M a d u re ira
Isa be l F ra n c is c a Lo be ra
e S ilva
P e dro M a rin h o de Lobe ra

P a tro n ilh a de A n d ra d e e
B e n ita de A n d ra d e
S o to m a y o r

Pág. 65
Anexo 3
Casa dos condes de Óbidos, Palma e Sabugal

D . V a s c o M ascarenhas,
1 .° C . Ó bidos
D. Fernando M artins
M ascarenhas, 2.° C.
Ó bidos
D. João M ascarenhas
D. Joana F ra n c is c a de
V ilhena
D . B e a triz M ascarenhas,
3.a C. S a nta Cruz
D. M anuel M ascarenhas,
3.° C .Ó bidos

D. N uno M ascarenhas
C o sta
D. João M ascarenhas
C a stelo-B ranco da
C o s ta , 2 .° C . Palm a
D. F ra n c is c o de C a stelo-
Branco , 2.° C . S abugal
D. Beatriz de M enezes,
3.a C . S abugal
D. L uisa Coutinho
D. B e a triz M ascarenhas
C a stelo-B ranco da
C o s ta , 4.a C. S a bugal,
3.a C. Palm a
D. F ra n c is c o
M ascarenhas
D. Joana de Castro
D. M argarida de V ilhe na
D. José M aria de A s s is
M ascarenhas, 4.° C.
Óbidos
M anuel Teles da Silva,
1 .° M . A legrete
Fernando Teles da Silva,
2.° M . A legrete
D . L uisa Coutinho
M anuel Teles da Silva,
3.° M . A legrete
D . Tom ás de N oronha,
3.° C. A rcos
D. Helena de Noronha
D. M adalena de B rito e
Bourbon
Fernão Teles da Silva,
4.° M. A legrete
D. F ra n c is c o de M elo,
3.° M . Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de M elo, 1.° D. Cadaval
Joana P im e nte l
D. E u génia R o sa de
M argarida de Lorena
H elena Josefa de
M enezes
Fernão Teles de
M enezes, 1.° C . V ila r
M aior
M anuel Teles da Silva,
1 .° M . A legrete
M ariana de M endonça
João G o m e s da Silva
D . Nuno M ascarenhas
C o sta
D . L uisa Coutinho
D. Beatriz de M enezes,
3.a C . S abugal
M aria Josefa de
M enezes
D. Duarte L uis de
M enezes, 3.° C . Tarouca
D. E stevão de M enezes
D . L uisa de C astro
D . Joana R o sa de
M e nezes, 4.a C . Tarouca
D . Tom ás de N oronha,
3.° C. A rcos
D. H e le n a d e N o ro n h a
D. M adalena de B rito e
Bourbon

Pág. 66
Retrato puritano
Casa dos condes de Penafiel/ Correios-mores
• • • • •
João Gomes da Mata
Coronel, Correio-mór
Luís Gomes da Mata,
Correio-mór
Filipa Barbosa
Duarte de Sousa
Coutinho da Mata
Lopo de Sousa Coutinho

Violante de Castro
D. Joana de Castro
Luis Vitório de Sousa
Coutinho da Mata,
Correio-mór
Isabella Caffaro
José António da Mata de
Sousa Coutinho, Correio-
mór
•• • Ambrósio de Aguiar
Coutinho
António Luis Coutinho da
Camara, Almotacé-mór

Filipa de Menezes
João Gonçalves da
Camara Coutinho,
Almotacé-mór
Luis da Silva Telo de
Menezes, 2.° C. Aveiras
Constança de Portugal
•• D. Joana Inês de
Portugal
Joana Catarina de
Menezes
D. Luis de Almada
D. Lourenço de Almada,
1.° Mestre-sala
D. Luisa de Menezes
D. Luisa de Menezes
D. João de Almeida
D. Catarina Henriques
D. Violante Henriques
Manuel José de Mata de
Sousa Coutinho, 1.° C.
Penafiel
•••••• D. Francisco Gonçalves
da Câmara
D. Luis Gonçalves da
Câmara
D. Filipa Coutinho
D. Gastão José da
Câmara Coutinho
Diogo de Saldanha de
Sande
Isabel de Noronha
D. Catarina Pereira
D. Luis José da Camara
Coutinho
• •• D. Pedro de Almeida, 1.°
C. Assumar
D. Maria Benta de
Noronha
• • D. Fernando
Mascarenhas, 1.° C.
Torre
D. Margarida André de
Noronha
D. Maria de Noronha
D. Catarina da Camara •
Nuno de Mendoça, 2.°
C. Vale de Reis
Lourenço de Mendoça e •
Moura, 3.° C. Vale de
Reis
• Luisa de Castro e Moura

Nuno Manuel de
Mendoça, 4.° C. Vale de
Reis
Manuel de Sousa da
Silva e Menezes
Maria Madalena de
Mendonça
Joana Francisca de
Mendonça
Isabel Maria de Mendoça
e Moura
D. António de Noronha,
1.° C. Vila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de Menezes
D. Leonor de Maria
Antónia de Noronha
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Is a b e l M a ria A n tó n ia de
M endonça
D . M a ria n a d e C a s tr o

Pág. 67
Anexo 3
Casa dos condes de Pombeiro
• • • • • • • •
D. A n tó nio de C astelo-
Branco da Cunha
D. Pedro de C astelo-
Branco da Cunha, 1 .° C.
Pom beiro

D. A n tó nio de C astelo-
Branco e Cunha, 2.° C.
Pombeiro
Luísa Ponce de Leão
D. Lu is de C astelo-
B ranco e Cunha, 4.° C.
Pom beiro
M artim A lo n so de Melo
Luis de Melo da Silva,
3.° C. S. Lourenço
M adalena da Silva, 2.a C.
São Lourenço
Leonor Maria de Faro
Bernardim de Távora e
S ousa, R.P.

D. Leonor M ascarenhas
D. A n tó nio Joaquim
C aste lo-B ran co Correia e
C unha, 5.° C. Pombeiro
••O D. T om ás de N oronha,
3.° C. Arcos
D. Bernardo de Noronha
D. M adalena de Brito e
Bourbon
D. F rancisco José de
A lm ad a
C ristovão de A lm ad a
Maria A n tó nia de
A lm ad a
D. Filipa M aria de Melo
D. Pelágia Teresa
A g os tin ho de A lm ada
Luis de V a sco n ce lo s e
S ousa, 3.° C. C astelo
M elhor
Afon so de V a scon celo s
e S o usa C unha Cam ara
Faro e V eiga, 5.° C.
C alheta
G uio m ar de Tavora
S o usa Faro e Veiga
G uio m ar F rancisca de
V a scon celo s e Sousa
Em ília de Rohan
D. M aria Rita de C astelo
B ranco Correia da
C unha, 6.a C. Pombeiro
Rodrigo Teles de
M enezes, 2.° C. Unhão
Fernão Teles de •••
M enezes e C astro, 3.°
C. Unhão
D. Joana Luisa de
Lancastre
Rodrigo Xavier Teles de
M enezes C astro e
Silveira, 4.° C. Unhão
D. M artinho
M ascarenhas, 4.° C.
S a nta Cruz
D. M aria de Lancastre
Juliana de Lancastre
João Xavier Fernão Teles
de M enezes, 5.° C.
U nhão
A n tó nio Luis de Tavora,
2.° C.
M iguel C arlos de Tavora
D. Arcân ge la M aria de
Portugal
V itó ria de Távora
João N unes da Cunha,
1.° C
Maria C aetana da
Cunha, 2.a C. S. V ice nte

D. Isabel de Bourbon
D. A n a V itó ria Xavier
Teles
D. V a s c o Luis da Gama,
1.° M. Niza
D. F rancisco Luís
B a ltaz a r da G am a, 2.°
M. N iza
Inês de Noronha
D. V a s c o José Luís da
G am a, 3.° M. Niza
D. V a s c o M ascarenhas,
1.° C.
D. Brites de V ilhe na
D. Joana F rancisca de
Vilhena
D. M aria Josefa da
G am a, 4.a M. Niza
D. Álvaro Pires de
Castro, 1.° M. C ascais
D. Luís Álvares de
C astro, 2.° M. C ascais
D. Bárbara Estefânia de
Lara
D. Bárbara Isabel de
Lara
D. A n tó nio Luis de
M enezes, 1.° M.
Marialva
D. M aria Joana Coutinho •
D. C atarina Coutinho

Pág. 68
Retrato puritano
Casa dos condes da Ponte/ [marquês de Sande]
• • • • • • •
João de S alda nh a da
G am a
Luis de S alda nh a da •••
G am a
••• M argarida de V ilh en a
João de S alda nh a da
G am a
•mm F ra n cisco de M e lo e
T o rre s, 1 .° M . S ande
M adalena C a zem ira de
M e n do nça de M ello e
Torres
Leonor de M en do nça
Manuel de S alda nh a da
G am a
••••• V a s c o Fernandes C é sar
de M en eze s, A lféres-m or

Luis C é sa r de M e n eze s,
A lf.M .
D . M a ria M a dalena de
Lan castre
Joana B ernarda de
N oronha e L a n ca stre
•• D. Lourenço de
Lancastre
D . R odrigo de Lan castre
Inês de N oronha
D . M ariana de Lan castre
João da S ilva Telo de
M enezes, 1.° C. Aveiras
Inês Te re sa de N oronha
M aria de C a stro
João de S alda nh a da
G am a M elo Torres
G uedes Brito, 6.° C.
•€>•••••• A m b ró sio de A guiar
C outin h o
A n tó n io Luis C o utin h o da
Cam ara, A lm o ta cé -m ó r

F ilipa de M e n eze s
João G onçalves da
C a m a ra C o utin h o,
A lm o tacé -m ó r
Luis da S ilva Telo de
M en eze s, 2.° C. Aveiras
C o n s ta n ç a de P o rtu g a l
•• D . Joana Inês de
P ortugal
Lourenço G onçalves da
C a m a ra C o utin h o,
A lm .M .
•I D . Luis de A lm a da
D . L ourenço de A lm a da ,
1 .° M e stre -sa la
D. L uisa de M enezes
D . L uisa de M enezes
D . João de A lm e id a
D. C atarina Henriques
D . V io la n te Henriques
F ra n cisca Joana Josefa
da C a m a ra
••• D . Luis de A lm a da
D . L ourenço de A lm a da ,
1 .° M e stre -sa la
D. L uisa de M enezes
D. Luis José de A lm ada, •
2.° M e stre -sa la
D . João de A lm e id a
D . C a tarina Henriques
D . V io la n te Henriques
D . Leonor Josefa d
Tavora
•• M a n ue l da Cunha

T ristã o A ntó nio da


Cunha
F ra n cisca Joana de
A lbuquerque
Fra n cisca Josefa de
Tavora
Luis Á lvares de Tavora,
1.° M . Tavora
Leonor To m á sia de
D. M aria Inácia de
M e n eze s

Pág. 69
Anexo 3
Casa dos condes de Povolide
• • • •
T ristão da C unha e
A taíde
Luis da C unha A taíde
A n tó n ia de V a sco n ce lo s
T ristão da C unha A taíde,
1 .° C. Povolide
D. Álvaro C outinho da
Cam ara
D . G uiom ar de Lancastre
D. M aria de Lancastre
Lu is V a squ es da C unha
Ataíde, 2.° C. Povolide
A n tó n io Luis de Tavora,
2.° C. São João da
Pesqueira
M iguel C arlos de Tavora
D. A rcâ n g e la M aria de
Portugal
A rcân ge la M aria de
Vilhe na
João Nunes da Cunha,
1.° C. São V ice nte
M aria C aetana da
Cunha, 2 a C. S. V ice n te
D. Isabel de Bourbon
J o s é da C unha Grã
Ataíde e Melo, 3.° C.
Povolide
D. M iguel Luis de
M enezes, 1 .° C.
V aladares
D. C arlos de Noronha,
2.° C. V aladares
D. M adalena M aria de
La ncastre e A b ra nch es
D. M iguel Luis de
M enezes, 3.° C.
V aladares
Luis da C unha A taíde
M aria T eresa de
Lancastre
D. G uio m ar de Lancastre
D. H elena de C aste lo
Bran co
Manuel Teles da Silva,
1.° M. A legrete
Fernando T eles da Silva,
2.° M. A le grete
D. Luisa C outinho
M aria de C aste lo-B ran co
D. T om ás de Noronha,
3.° C. A rco s
D. H elena de Noronha
D. M adalena de Brito e
Bourbon
Luis José da C unha Grã
A taíd e e M elo, 4 .° C.
Povolide
D. M anuel Luis B altazar
da Cam ara, 1.° C.
R ibeira Grande
D. José R odrigo da
C am ara, 2.° C. Ribeira
Grande
M écia de M endonça
D. Duarte R odrigo da
Cam ara
C on sta n ça Em ília,
p rince sa de Rohan-
Soubise
D. F rancisco da Silva
Telo e M enezes, 6.° C.
Aveiras
João da Silva Telo de
M enezes, 3.° C. Aveiras
Luis da Silva Telo e
M enezes, 4 .° C. Aveiras
D. Juliana de Noronha
Inês Joaquina da Silva,
5.a C. Aveiras
F rancisco de Tavora, 1 °
C. Alvor
M aria In ácia de Tavora
Inês C atarin a de Tavora
D. M aria R oberta da
S ilva T elo de M enezes
Fernando Teles da Silva,
2.° M. A le grete
M anuel Teles da Silva,
3.° M. A legrete
D. H elena de Noronha
Nuno da Silva Teles
D. Nuno Álvares Pereira
de M elo, 1 .° D. Cadaval
D. Eugénia R osa de
Lorena
M argarida de Lorena
D. Bárbara Josefa Maria
Xavier da G am a
D. F rancisco Luís
Ba ltaza r da G am a, 2.°
M. N iza
D. V a s c o José Luís da
G am a, 3.° M. N iza
D. Brites de Vilhe na
D. M aria Josefa da
G am a, 4 a M. N iza
D. Luís Álvares de
C astro, 2.° M. C ascais
D. Bárbara Isabel de
Lara
D. M aria Joana C outinho

Pág. 70
Retrato puritano
Casa dos condes de Redondo
• • •
Fernão de S ou sa
T o m é de S o u sa
D. M a ria de C a stro
D. F ernão de S o u s a de
C a ste lo -B ra n co C o utin h o
e M en eze s, 10.° C.
R e do n do
D. Jo ã o de C a stelo -
B ra n co
D. F ra n c is c a de
M e n eze s
D. C e cília de M e n eze s
C o utin h o
T o m é de S o u sa
C o utin h o C a ste lo -B ra n co
e M en eze s, 11.° C.
R e do n do
•• Luis Lobo da Silveira
D. R odrigo Lobo da
Silveira, 1.° C. S arze d a s
D. Joana de Lim a
D. L uisa S im o a de
P ortugal
M iguel de Noronha, 4.°
C. Linhares
D. M a ria A n tó n ia de
V a s c o n c e lo s e M e n eze s
D. Inácia de M e n e ze s e
V a s c o n c e lo s
D. Fernando de S o u sa
C o u tin h o C a ste lo -B ra n co
e M en eze s, 12.° C.
R e do n do
D. Je ró nim o de A taíde,
6.° C. A to u gu ia
D. Luis P ereg rin o de
A taíde, 8.° C. A to u gu ia
D. Leo no r M a ria de
M e n eze s
D. Jeró nim o de Ataíde,
9.° C. A to u gu ia
D. Jo ã o M a sca re n h a s
D. M argarida de V ilh e n a
D. B ea triz M asca ren h as,
3.a C. S a n ta Cruz
D. M a d ale n a Inês
V ic ê n c ia de V ilh en a
Luis Á lvares de Tavora,
1.° M. Tavora
A n tó n io Luis de Tavora,
2.° M. de Tavora
D. M a ria Inácia de
M e n eze s
M ariana Te re sa de
Tavora
Henrique de S o u sa
Tavares da Silva, 1.° M.
A rro n che s
Leonor Te re sa R osa de
S o u sa
D. M ariana de C astro
D. T o m é Xavier de S o u sa
C o utin h o de C a stelo -
B ra nco e M en eze s, 13.°
• •• D. D iogo de M e n eze s
D. Jo sé de M e n e ze s de
Tavora
M a ria de O liveira
D. D iogo M e n e ze s de
Tavora
Diogo L opes de S ou sa ,
2.° C. M iranda
H enrique de S o u sa
Tavares da Silva, 1.° M.
A rro n che s
D. Leonor de M e n do ça
B rite s F ra n c is c a de
M e n do ça
D. A n tó n io M a sca ren h as

D. M ariana de C a stro
Isabel de C a stro
D. M aria A n tó n ia da
C o n ce içã o B re yn e r de
M e n eze s
• M aria B arba ra Jo sefa
B re yn e r

Pág. 71
Anexo 3
Casa dos condes de Resende/ almirantes
• • • •
D. Sim ão de Castro
D. João de Castro,
A lm irante
•• D. Bernarda de Menezes
D. Francisco de Castro, •
A lm irante
•• D. Francisco Luis de
Lancastre
D. Mariana de Lancastre •
•• Filipa de Mendonça
D. Luís Inocêncio de
Castro, A lm irante
•• Luis de Melo
Cristóvão de Melo

D. G uiom ar Coutinho
Francisca Josefa de
V ilhena
Lourenço Pires de
Carvalho
Mécia de Vilhena •
Madalena de Vilhena
D. A ntónio José de
Castro, 1.° C. Resende
•••• João Rodrigues de
V asconcelos e Sousa,
2.° C. C astelo M elhor
Sim ão de V ascon celos e •
Sousa
Mariana de Lancastre
V asconcelos e Camara
Pedro de V asconcelos e •
Sousa
João Gom es da Silva
Joana de Tavora
D. Joana de Tavora
Joana Cecília de
Lancastre
João Rodrigues de
V asconcelos e Sousa,
2.° C. C astelo M elhor
Luis de V ascon celos e •
Sousa, 3.° C. Castelo
Melhor
Mariana de Lancastre
V asconcelos e Camara
M ariana de Lancastre •
Bernardim de Távora e
Sousa, R.P.
G uiom ar de Tavora
Sousa Faro e Veiga
D. Leonor Mascarenhas
D. José Luis de Castro,
2.° C. Resende
••••• M iguel Carlos de Tavora
Manuel Carlos de
Tavora, 4.° C.
Maria Caetana da
Cunha, 2.a C. S. V icente

Teresa Xavier da Cunha


e Tavora
D. M arcos de Noronha,
4.° C.
D. Isabel de Noronha
Maria Josefa de Tavora

Pág. 72
Retrato puritano
Casa dos condes da Ribeira Grande e Vila Franca

D. R o d rig o d a C a m a ra ,
3 .° C. V ila F ra n ca
D . M a n u e l Lu is B a lta z a r
da C a m a ra , 1 .° C .
R ib e ira G ra n d e
• D. M a ria C o u tin h o
D . J o s é R o d rig o da
C a m a ra , 2 .° C . R ib e ira
G ran de
• D iog o L o p e s d e S o u s a ,
2 .° C . M ira n d a
M é c ia d e M e n d o ç a
D. L e o n o r de M e n d o ç a
D. L u is M a n u e l da
C am ara , 3 .° C. R ib e ira
G ran de
• C o n s ta n ç a E m ília d e
R ohan
D. G u id o A u g u s to da
C a m a ra e A ta íd e , 5 .° C.
R ib e ira G ra n d e
•• D. J e ró n im o d e A ta íd e ,
6 .° C . A to u g u ia
D . L u is P e re g rin o de
A ta íd e , 8 .° C. A to u g u ia
D. L e o n o r M a ria de
M enezes
D. J e ró n im o de A ta íd e ,
9 .° C . A to u g u ia
D. Joã o M a s c a re n h a s
D . M a rg a rid a d e V ilh e n a
D. B e a triz d e M e n e z e s ,
3.a C . S a b u g a l
D . L e o n o r T e re s a M a ria
d e A ta íd e de M e n e z e s
Lu is Á lv a re s d e Tavora,
1 .° M . Tavora
A n tó n io L u is d e T avo ra ,
2 .° M . d e Tavora
D. M a ria In á c ia de
M enezes
M a ria n a T e re s a d e
Tavora
H e n riq u e d e S o u s a
T avares d a S ilv a , 1 .° M .
A rro n c h e s
Le o n o r T e re s a R o sa de
S ousa
D . M a ria n a d e C a s tro
D . L u is A n tó n io J o s é
M a ria d a C a m a ra , 6 .° C .
R ib e ira G ra n d e
•• D . M a n u e l Lu is B a lta z a r
d a C a m a ra , 1 .° C .
R ib e ira G ran de
D . J o s é R o d rig o da
C a m a ra , 2 .° C . R ib e ira
G ran de
M é c ia d e M e n d o ç a
D . L u is M a n u e l da
C a m a ra , 3 .° C . R ib e ira
G ran de
C o n s ta n ç a E m ília d e
R ohan
D . J o s é d a C a m a ra , 4 .°
C . R ib e ira G ra n d e
•• D. L u is P e re g rin o de
A ta íd e , 8 .° C. A to u g u ia
D. J e ró n im o d e A ta íd e ,
9 .° C . A to u g u ia
D. M a rg a rid a de V ilh e n a
D . L e o n o r T e re s a M a ria
d e A ta íd e d e M e n e z e s
A n tó n io L u is d e T avo ra ,
2 .° M . d e Tavora
M a ria n a T e re s a de
T avora
Le on or T e re s a R o s a de
Sousa
D. J o a n a T o m á s ia da
C a m a ra
A n tó n io L u is d e T avo ra ,
2 .° C. S ã o J o ã o d a
P e s q u e ira
F ra n c is c o d e T avo ra , 1 °
C . A lvo r
D. A rc â n g e la M a ria de
P o rtu g a l
B e rn a rd o A n tó n io F ilip e
N e ri d e T avo ra , 2 .° C . d e
A lvo r
Lu is Á lv a re s d e Tavora,
1 .° M . Tavora
In ê s C a ta rin a de T avora
D. M a ria In á c ia de
M enezes
M a rg a rid a F ra n c is c a d e
Lorena
D. F ra n c is c o de M e lo ,
3 .° M . F erreira
D . N u n o Á lv a re s P e re ira
de M e lo , 1 .° D . C ad ava l
Joa n a P im e n te l
D . Jo a n a d e Lo ren a
M a rg a rid a d e Lorena

Pág. 73
Anexo 3
Casa dos condes de São Paio
• • • • • •
Manuel de São Paio
Francisco de São Paio
Filipa de Castro
Manuel A ntónio de São •
Paio
••• Febo Moniz de Torres e
Lusignan
Leonor de Torres e •••
Lusignan
Filipa Coutinho
Francisco José de
Sam paio e Castro
• ••• Fernão de Saldanha
João de Saldanha de
Sousa
D. Joana de Noronha
Joana A ntónia de Tavora •
Luis Francisco de
Oliveira e Miranda
Inês A ntónia de Tavora
Luisa de Tavora
Manuel A ntónio de São
Paio
D. Luís de A lm eida, 1.°
C. A vn te s
D. A ntónio de Alm eida, ••
2.° C. A vn te s
•• D. Isabel de Castro
D. Jerónima de Bourbon
•• D. Tomás de Noronha,
3.° C. A rcos
D. Maria A ntónia de
Bourbon
D. Madalena de Brito e
Bourbon
A ntónio de São Paio
Melo e Castro Moniz
Torres de Lusignan, 1.°
C . São Paio
••••••• D. Luís de A lm eida, 1.°
C. A vn te s
D. A ntónio de Alm eida, ••
2.° C. A vn te s
•• D. Isabel de Castro
D. Luís de Alm eida
Portugal, 3.° C. A vn te s
•• D. Tomás de Noronha,
3.° C. A rcos
D. Maria A ntónia de
Bourbon
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. V itória Josefa de
Bourbon
D. Diogo de Lima Brito e
Nogueira, 7.° V.
D. João Fernandes de
Lima V ascon celos de
Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Joana de
V asconcelos
D. Joana Josefa A ntónia
de Lima
D. Tomás de Noronha,
3.° C. A rcos
D. V itória de Bourbon
D. Madalena de Brito e
Bourbon

Pág. 74
Retrato puritano
Casa dos condes de Sabugosa/ Alferes-mores
• •
V asco Fernandes César
Luis C ésar de M enezes,
Alféres-m or
D. A na de Menezes
V asco Fernandes C ésar
de Menezes, A lféres-m or
M anuel de Melo,
Monteiro-m or
Vicência Henriques
G uiom ar Henriques
Luis C ésar de M enezes,
A lféres-m or
D. João Mascarenhas
D. Maria M adalena de
Lancastre
D. Beatriz M ascarenhas,
3.a C. Santa Cruz
V asco Fernandes César,
1.° C. Sabugosa
D. Rodrigo de Lancastre
D. Mariana de Lancastre
Inês Teresa de Noronha
H. Mariana Rosa de
Lancastre, 3.a C.
Sabugosa
D. João M ascarenhas
D. Martinho
M ascarenhas, 4.° C.
Santa Cruz
D. Beatriz M ascarenhas,
3.a C. Santa Cruz

D. João M ascarenhas,
5.° C. Santa Cruz
M anrique de Silva, 1 .° M.
Gouveia
Juliana de Lancastre
D. Maria de Lancastre
D. Juliana Francisca de
Lancastre
Teresa de M oscoso
Osório

Pág. 75
Anexo 3
Casa dos condes de Sandomil

Fernão de M iranda
H enriques
S im ã o de M iranda
H enriques
M aria de M enezes
Fernão de M iranda
H enriques
João S a le m a
Lou ren ça S a lem a
Is a b e l B arradas
Luis de M iranda
H enriques
F ra n c is c o de M elo
P e d ro de M elo
D. C a ta rin a de C a stro
H elena M anoel de
M endonça
T ris tã o de M endonça
Furtado
T eresa M aria de
M endonça
H elena M anoel
Fernando X a v e r de
M iranda Henriques, 2.°
C. S a ndom il
S im ã o M a scarenhas
P e d ro M a s carenhas
D. F ilipa de M endonça
Fernão M a s carenhas
P edro V a z Côrte-R eal
Helena H enriques
Inês de Noronha
M adalena de Bourbon
D. Tom ás de Noronha,
3 .° C. A rc o s
D. A n tó n ia L uisa de
Bourbon
D. M adalena de B rito e
Bourbon
Luis José Xavier de
M iranda H enriques
M ascarenhas, 3.° C.
S a ndom il
Fernão T eles de
M enezes, 1.° C. V ila r
M aior
M anuel Teles da Silva,
1.° M. A legrete
M ariana de M endonça
Fernando T eles da Silva,
2.° M. A legrete
D. N uno M a s carenhas
C o sta
D. Luisa C o utinho
D. B e a triz de M enezes,
3.a C. S a b u g a l
A n tó n io Teles da Silva
D. Tom ás de Noronha,
3 .° C. A rc o s
D. Helena de Noronha
D. M adalena de B rito e
Bourbon
V io la n te M aria Josefa de
M elo
F ra n c is c o de M elo
P e d ro de M elo
D. C a ta rin a de C a stro
F ra n c is c o de M elo
T ris tã o de M endonça
Furtado
T eresa M aria de
M endonça
H elena M anoel
Teresa Josefa Tavora de
M elo
D. D iogo de M enezes
D. Inês T o m á s ia de
Tavora
M a ria d e O l i ^ i r a

Pág. 76
Retrato puritano
Casa dos condes de Santiago de Beduído/ Aposentadores-mores
• •
M anuel de S o usa da
Silva, 2.° A p osentador-
m ór
Lourenço de S o usa da
Silva, 3.° A p osentador-
m ór
A n a de Tavora
A le ix o de S o usa da Silva
e M e n e ze s, 4.°
A posentador-m ór
D. Álvaro de M enezes
D. Luisa de M enezes
D. V iola nte de Ataíde
Lourenço de S ousa
M e n e ze s, 1.° C.
S antiago
Henrique Henriques de
Miranda
Luís de Miranda
Henriques
B riolanja Henriques
Luisa de Tavora
Pedro G uedes
Joana de Távora
Luisa de Tavora
A le ix o de S o usa da Silva
e M e n e z e s , 2.° C.
Santiago
Nuno de M endoça, 1.°
C. V a le de Reis
Lourenço de M endoça •
G uiom ar da Silva Teles
de M enezes
Nuno de M endoça, 2.°
C . V a le de R eis
D. Francisco Luis de
Noronha e Albuquerque
D. M aria de Ataíde
D. C atarina de V ilhe na e
S ousa
Luisa M aria de M endoça
e Tavora
A n tónio de M oura Teles
R ui de Moura Teles
D. Luisa de Noronha
Luisa de C astro e Moura

D. Francisco Rolim de
Moura
D. Luisa de Castro
D. Cecília Henriques
Nuno A le ixo de S ousa
da Silva, 4.° C. S antiago
D. Fernando
M ascarenhas, 1.° C.
Torre
D. João M ascarenhas, ••
1.° M. Fronteira
D. M aria de Noronha
D. Fernando
M ascarenhas, 2.° M.
Fronteira
• • D. Francisco de S á de
M enezes, 2.° C.
Penaguião
D. M adalena de Castro
D. Joana de Castro
D. Leonor M aria Josefa •
de M enezes
D. Luis de Ataíde, 5.° C.
A touguia
D. Jerónim o de Ataíde,
6.° C. A tougu ia
D. Filipa de V ilhena
D. Joana Leonor de
Toledo e M enezes
D. Fernando de
M enezes
D. Leonor M aria de
M enezes
D. Joana de Toledo da
Cam ara

Pág. 77
Anexo 3
Casa dos condes de Sarzedas 1 (ramo principal extinto)

D. Luis Lobo da Silveira


D. Rodrigo Lobo da
Silveira, 1.° C. Sarzedas
D. Joana de Lima
D. Luis da Silveira, 2.° C. •
Sarzedas
D. Miguel de Noronha,
4.° C. Linhares
D. Maria A ntónia de
V asconcelos e Menezes
D. Inácia de M enezes e
V asconcelos
D. Rodrigo da Silveira,
3.° C. Sarzedas
Luís da Silva
João Gom es da Silva
D. Mariana de Lancastre
Mariana da Silva e
Lancastre
D. João de Menezes
Joana de Távora
Francisca de Tavora
D. Teresa M arcelina da
Silveira, 4.a C. Sarzedas
D. Tomás de Noronha,
3.° C. A rcos
D. M arcos de Noronha,
4.° C. A rcos
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. Inácia de Noronha
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
Maria Josefa de Tavora
D. Maria Inácia de
Menezes

Pág. 78
Retrato puritano
Casa dos condes de Sarzedas 2 (ramo secundogénito)
• •
Luis Álvares de Tavora,
1.° C. São João da
Pesqueira
António Luis de Tavora,
2.° C. São João da
Pesqueira
Marta de Vilhena
Francisco de Tavora, 1 °
C. Alvor
D. Miguel de Noronha,
4.° C. Linhares
D. Arcângela Maria de
Portugal
D. Inácia de Menezes e
Vasconcelos
Bernardo António Filipe
Neri de Tavora, 2.° C. de
Alvor
António Luis de Tavora,
2.° C. São João da
Pesqueira
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
D. Arcângela Maria de
Portugal
Inês Catarina de Tavora
D. Rodrigo Lobo da
Silveira, 1.° C. Sarzedas
D. Maria Inácia de
Menezes
D. Maria Antónia de
Vasconcelos e Menezes
Nuno Gaspar de Tavora
D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Jaime Álvares Pereira
de Melo, 3.° D. Cadaval

Margarida de Lorena
D. Joana de Lorena
Henriqueta de Lorena
D. Bernardo José Maria
da Silveira e Lorena, 5.°
C. Sarzedas
••• D. Luis Lobo da Silveira
D. Fernando Lobo da
Silveira
D. Joana de Lima
D. Luis Baltazar da •
Silveira
Francisco de Sá de
Menezes
Joana Maria de Tavora
Leitão
Ana de Andrade
D. Brás Baltazar da
Silveira
• • D. Francisco de Sousa,
1.° M. Minas
D. Luisa Bernarda de
Menezes
• • D. Eufrásia Filipa de
Noronha
D. Maria Inácia da • ••
Silveira
••• Aleixo de Sousa da Silva
e Menezes, 4.°
Aposentador-mór
Lourenço de Sousa •
Menezes, 1.° C.
Santiago
• Luisa de Tavora
Aleixo de Sousa da Silva
e Menezes, 2.° C.
Santiago
Nuno de Mendoça, 2.°
C. Vale de Reis
Luisa Maria de Mendoça •
e Tavora
Luisa de Castro e Moura
Joana Inês Vicência de
Menezes
• • D. João Mascarenhas,
1.° M. Fronteira
D. Fernando • •
Mascarenhas, 2.° M.
Fronteira
• • D. Madalena de Castro
D. Leonor Maria Josefa •
de Menezes
• • D. Jerónimo de Ataíde,
6.° C. Atouguia
D. J o a n a L e o n o r de •
T o le d o e M e n e z e s
D . L e o n o r M a ria d e
M enezes

Pág. 79
Anexo 3
Casa dos condes de Soure
• • •
D. Gil Eanes da Costa
D. João da Costa, 1.° C.
Soure
D. Francisca de
V asconcelos
D. Gil Eanes da Costa,
2.° C. Soure
D. Pedro de Noronha e
S ousa
D. Francisca de Noronha

Juliana de Noronha
D. João da C osta, 3.° C.
Soure
•• João da Silva Telo de
M enezes, 1.° C. Aveiras
Luis da Silva Telo de
M enezes, 2.° C. Aveiras
Maria de Castro
Maria Lourenço de
Portugal
D. Álvaro Pires de
Castro, 1.° M. C ascais
D. Joana Inês de •
Portugal
D. Maria de Portugal
D. Henrique da Costa
Carvalho e Sousa, 4.° C.
Soure
• •• Lourenço Pires de
Carvalho
Henrique de Carvalho de •
S ousa Patalim
M adalena de Vilhena
Luisa Francisca de
Tavora
•• Helena de Távora
D. José A ntónio
Francisco da Costa, 6.°
C. Soure
• •• D. Rodrigo da Camara,
3.° C. V ila Franca
D. Manuel Luis Baltazar
da Camara, 1.° C.
Ribeira Grande
• D. Maria Coutinho
D. José Rodrigo da
Camara, 2.° C. Ribeira
Grande
• Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
M écia de Mendoça
D. Leonor de Mendoça
D. A ntónia Maria de
Rohan
C onstança Emília de
Rohan

Pág. 80
Retrato puritano
Casa dos condes de Valadares

D. Miguel Luis de
Menezes, 1.° C.
Valadares
D. Carlos de Noronha,
2.° C. Valadares
D. Madalena Maria de
Lancastre e Abranches
D. Miguel Luis de
Menezes, 3.° C.
Valadares
Luis da Cunha Ataíde
Maria Teresa de
Lancastre
D. Guiomar de Lancastre
D. Álvaro de Noronha
Castelo Branco, 5.° C.
Valadares
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Fernando Teles da Silva,
2.° M. Alegrete
D. Luisa Coutinho
Maria de Castelo-Branco

D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Helena de Noronha
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. José Luis de
Menezes Castelo
Branco e Abranches, 6.°
C. Valadares
D. António de Noronha,
1.° C. Vila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de M enezes
D. António de Noronha,
2.° M. Angeja
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Isabel Maria A ntónia de
Mendonça
D. Mariana de Castro
D. Teresa Josefa de
Noronha
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
João Gomes da Silva
D. Luisa Coutinho
Luisa Josefa de
Menezes
D. Estevão de M enezes
D. Joana Rosa de
Menezes, 4.a C. Tarouca
D. Helena de Noronha
D. Álvaro de Noronha
Abranches Castelo
Branco, 7.° C. Valadares
•• D. António de Noronha,
1.° C. Vila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de M enezes
D. António de Noronha,
2.° M. Angeja
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Isabel Maria A ntónia de
Mendonça
D. Mariana de Castro
D. Pedro José de
Noronha Camões, 3.° M.
Angeja
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
João Gomes da Silva
D. Luisa Coutinho
Luisa Josefa de
Menezes
D. Estevão de M enezes
D. Joana Rosa de
Menezes, 4.a C. Tarouca
D. Helena de Noronha
Luisa Josefa Maria Rita
Antónia Fausta de
Noronha
• D. António de Noronha,
1.° C. Vila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de M enezes
D. Diogo de Noronha
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Isabel Maria A ntónia de
Mendonça
D. Mariana de Castro
D. Francisca Rita de
Menezes
D. António Luis de
Menezes, 1.° M.
Marialva
D. Pedro António de
Menezes, 2.° M.
Marialva
D. Catarina Coutinho
D. Joaquina Maria
Madalena da Conceição
de Menezes, 3.a M.
Marialva
D. Rodrigo de M enezes
D. Catarina Coutinho
D. Guiomar de Menezes

Pág. 81
Anexo 3
Casa dos condes de S. Vicente

António Luis de Tavora,


2.° C. São João da
Pesqueira
Miguel Carlos de Tavora
D. Arcângela Maria de
Portugal
Manuel Carlos de
Tavora, 4.° C. São
Vicente
João Nunes da Cunha,
1.° C. São Vicente
Maria Caetana da
Cunha, 2.a C. São
Vicente
D. Isabel de Bourbon
Miguel Carlos da Cunha
Silveira e Tavora, 5.° C.
S. Vicente
D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Marcos de Noronha,
4.° C. Arcos
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. Isabel de Noronha
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
Maria Josefa de Tavora
D. Maria Inácia de
Menezes
Manuel Carlos da Cunha •
e Tavora, 6.° C. S.
Vicente
D. Jerónimo de Ataíde,
6.° C. Atouguia
D. Luis Peregrino de
Ataíde, 8.° C. Atouguia
D. Leonor Maria de
Menezes
D. Jerónimo de Ataíde,
9.° C. Atouguia
D. João Mascarenhas
D. Margarida de Vilhena
D. Beatriz de Menezes,
3.a C. Sabugal
D. Rosa Leonarda de
Ataíde
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
António Luis de Tavora,
2.° M. de Tavora
D. Maria Inácia de
Menezes
Mariana Teresa de
Tavora
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Leonor Teresa Rosa de
Sousa
D. Mariana de Castro
Miguel Carlos da Cunha
da Silveira e Lorena, 7.°
C. S. Vicente
• D. Francisco de Melo,
3.° M. Ferreira
D. Nuno Álvares Pereira
de Melo, 1.° D. Cadaval
Joana Pimentel
D. Jaime Álvares Pereira
de Melo, 3.° D. Cadaval

Margarida de Lorena
D. Luisa Caetana de
Lorena
Henriqueta de Lorena

Pág. 82
Retrato puritano
Casa dos condes de Vila Flor/ Copeiros-mores
• • •
M artim de S o u sa de
M en eze s, 3.° C opeiro-
m ór
Luis de S o usa de
M enezes, 4 .° C opeiro-
m ór
M aria de S o usa
C outinho
M artim de S o u sa de
M en eze s, 3.° C. de V ila
Flor
D. S a nch o M anoel de
V ilh e n a , 1.° C. V ila Flor
D. M aria A n a M anoel de
Noronha
A n a de Noronha
Luis M anoel de S o usa e
M en eze s, 4 .° C. V ila
Flor
• Salvad or C orreia Sá
M artim C orreia de S á e
Benevides V e la s c o , 1.°
V. A s s e c a
Joana C ata rin a R am irez
de V e la s c o
M aria A n tó n ia da Silva
D. D iogo de A lm e id a
D. Â n ge la de Melo
D. Luisa M aria da Silva
A n tó n io F rancisco de
P a u la M anoel de S o usa
e M en eze s, 5.° C. V ila
Flor
D. Jorge Henriques
D. H enrique Henriques
C ata rin a Brandão
D. Jorge Henriques
Brás P e re ira de M iranda
M aria Luisa de M enezes

Juliana (ou Joana) de


M enezes
D . A n tó n ia C aetana
Henriques
D. Luís de A lm eid a, 1.°
C. A vintes
D. A n tó n io de A lm eid a,
2.° C. A v n te s
•• D. Isabel de C astro
D. M adalena de B ourbon
D. T om ás de N oronha,
3.° C. A rcos
D. M aria A n tó n ia de
Bourbon
D. M adalena de Brito e
Bourbon
A n tó n io de S o usa
M anoel de M enezes
Severim de N oronha, 6.°
C. V ila Flor
D. Luis Lobo da Silveira
D. Fernando Lobo da
Silveira
D. Joana de Lim a
D. Luis B a lta z a r da
Silveira
F ra n cisco de Sá de
M enezes
Joana M aria de Tavora
Leitão
A n a de A ndrade
D. A n tó n io In ácio X a ver
da Silveira
D. F ra n cisco de S ousa,
1.° M. M inas
D. Luisa B e rn ard a de
M enezes
D. E u fá s ia Filipa de
Noronha
D. M aria T om ás ia Xavier •••
da Silveira
M artim de S o u sa de
M en eze s, 3.° C opeiro-
m ór
Luis de S o usa de
M enezes, 4 .° C opeiro-
m ór
M aria de S o usa
C outinho
M artim de S o u sa de
M en eze s, 3.° C. de V ila
Flor
• D. S a nch o M anoel de
V ilh e n a , 1.° C. V ila Flor
D. M aria A n a M anoel de
Noronha
A n a de Noronha
M ariana Joaquina de
M en do ça Severim de
Noronha
• P e dro da C unha
T ristão da C unha
H elena de M endonça
Luísa M aria de
M endonça
P e dro de Melo
Joana Luísa de
M endonça
T eresa M aria de
M endonça

Pág. 83
Anexo 3
Casa dos condes de Vimieiro
• • • • •
D. Francisco de Faro,
1.° C. V im ieiro
D. Sancho de Faro
•• Mariana de Sousa da
Guerra
D. Diogo de Faro e •
Sousa
Isabel de Luna y
Carcamo
D. Sancho de Faro, 2.°
C. Vim ieiro
• • G aspar de Faria Severim
Francisca Maria de
M enezes
D. Mariana de Noronha
D. Diogo de Faro e
Sousa, 3.° C. V im ieiro
D. Pedro Manoel, 2.° C.
Atalaia
D. Álvaro Manoel ••
•• D. Maria de Ataíde
D. Luis Manoel de •
Tavora, 4.° C. A talaia
•• Álvaro Pires de Tavora
Inês de Lim a e Tavora
D. Maria de Lima
D. Teresa Josefa de
Mendonça
•• D. Rodrigo da Camara,
3.° C. Vila Franca
D. Manuel Luis Baltazar
da Camara, 1.° C.
Ribeira Grande
• D. Maria Coutinho
D. Francisca Leonor de •
Mendonça
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
M écia de Mendoça
D. Leonor de M endoça
D. João de Faro e
Sousa, 5.° C. V im ieiro
D. Diogo de M enezes
D. José de M enezes de
Tavora
Maria de Oliveira
D. Diogo M enezes de
Tavora
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Brites Francisca de
Mendoça
D. Mariana de Castro
D. Maria Josefa de
Menezes
Maria Barbara Josefa
Breyner

Pág. 84
Retrato puritano
Casa dos viscondes de Asseca/ Almotacés-mores

Salvador Correia Sá
Martim Correia de Sá e
Benevides Velasco, 1.°
V. Asseca
Joana Catarina Ramirez
de Velasco
Diogo Correia de Sá e
Benevides Velasco, 3.°
V. Asseca
D. Diogo de Almeida
D. Angela de Melo
D. Luisa Maria da Silva
Luis José Correia de Sá
Velasco e Benevides
•• Luis César de Menezes,
Alféres-m or
Vasco Fernandes César
de Menezes, Alféres-mor
Vicência Henriques
Luis César de Menezes,
Alféres-mor
O D. João Mascarenhas
D. Maria Madalena de
Lancastre
D. Beatriz Mascarenhas,
3.a C. Santa Cruz

Inês Isabel Virgínia da


Hungria de Lancastre
D. Rodrigo de Lancastre
D. Mariana de Lancastre
Inês Teresa de Noronha
Salvador Correia de Sá
Benevides Velasco da
Camara, 5.° V. Asseca
• momm Am brósio de Aguiar
Coutinho
António Luis Coutinho da
Camara, Alm otacé-m ór
Filipa de Menezes
João Gonçalves da
Camara Coutinho,
Alm otacé-m ór
Luis da Silva Telo de
Menezes, 2.° C. Aveiras
Constança de Portugal
D. Joana Inês de
Portugal
Lourenço Gonçalves da ••
Camara Coutinho,
Alm.M.
D. Luis de Almada
D. Lourenço de Almada,
1.° Mestre-sala
D. Luisa de Menezes
D. Luisa de Menezes
D. João de Almeida
D. Catarina Henriques
D. Violante Henriques
Francisca Joana Josefa
da Camara
D. Luis de Almada
D. Lourenço de Almada,
1.° Mestre-sala
D. Luisa de Menezes
D. Luis José de Almada, •
2.° Mestre-sala
D. João de Almeida
D. Catarina Henriques
D. Violante Henriques
D. Leonor Josefa de
Tavora
Manuel da Cunha
Tristão António da
Cunha
Francisca Joana de
Albuquerque
Francisca Josefa de
Tavora
Luis Álvares de Tavora,
1.° M. Tavora
Leonor Tomásia de
Tavora
D. Maria Inácia de
Menezes

Pág. 85
Anexo 3
Casa dos viscondes de Barbacena
• • • • •
Jorge F urta d o de
M e ndon ça
A fo n s o F urta d o de
C a s tro do Rio e
M e n d o n ç a , 1 .° V .
B a rb a c e n a
M ariana de V ilh e n a
J orge F u rta d o de O
M e n d o n ç a , 2 .° V .
B a rb a ce n a
Jo ã o Furtado de
M e ndon ça
M aria F ra n c is c a de
Tavora
M adalena de Tavora
Luis Xavier F urta d o de
M e n d o n ç a , 4 .° V .
B a rb a c e n a
A n a Luísa H ohenlohe
F ra n c is c o V ic e n te
F u rta d o de C a s tro do Rio
de M e n d o ç a , 5 .° V .
B a rb a c e n a
Luis C a rne iro de S o u s a ,
1.° C. Ilha do P rín c ip e
F ra n c is c o C a rne iro de
S o u s a , 2 .° C . Ilha do
P ríncipe
D . M ariana de F aro e
Sousa
Inês F ra n c is c a Xavier de ••
N o ron ha
D . F ra n c is c o de S o u s a ,
1.° M . M inas
D. E u frá s ia F ilip a de
Lim a
# 0# D . E u frá s ia F ilip a de
Noronha
Luis A n tó n io F urta d o de • •
C a s tro do Rio de
M e n d o n ça e Faro, 6.° V.
B a rb a ce n a
N uno de M e n d o ç a , 2.°
C . V a le de Reis
Lou ren ço de M e n doça e
M oura, 3.° C. V a le de
Reis
Luisa de C a s tro e M oura
N u no M a n u e l de
M e n d o ç a , 4 .° C . V a le de
Reis
M a n u e l de S o u s a da
S ilva e M enezes
M aria M adalena de
M e ndon ça
J oan a F ra n c is c a de
M e ndon ça
M aria A n tó n ia G e rtru d e s
de M endoça
D . A n tó n io de N o ron ha,
1.° C . V ila V e rde
D . P e dro A n tó n io de
Noronha, 1.° M. A n g e ja
D . M aria de M enezes
D . Leo n o r de M aria
A n tó n ia de N o ron ha
D iogo Lopes de S o u s a ,
2.° C . M iranda
H enrique de S o u s a
Tavares da S ilv a , 1.° M .
A rro n c h e s
D . Leo nor de M endoça
Is a b e l M aria A n tó n ia de
M e ndon ça
D . A n tó n io M a s c a re n h a s

D. Mariana de Castro
Isabel de Castro

Pág. 86
Retrato puritano
Casa dos viscondes de Fonte Arcada
• ••
Henrique Jaques de
Magalhães
Pedro Jaques de
Magalhães, 1.° V. Fonte
Arcada
V iolante de Vilhena
Henrique Jaques de
Magalhães
M anuel Dias de Andrade

Luisa Freire de Andrade


Brites da Silva
João Jaques de
Magalhães
João Lobo Brandão
Lourença Henriques
Isabel Henriques de
Menezes
A ntónio Jaques de
Magalhães, 3.° V. Fonte
Arcada
D. A ntónio de Menezes
Sotom aior
D. A ntónio de Menezes
D. Cecília de Mendonça
D. António de Menezes
Gonçalo G om es da Silva

Mariana da Silva
Francisca da Silva
D. Mariana Inácia de
Menez es
Henrique Jaques de
Magalhães
Pedro Jaques de
M agalhães, 1.° V . Fonte
Arcada
Violante de Vilhena
A ntónia Madalena de
Vilhena
António Correia Baharem
Maria V icência de
Vilhena
Antónia Henriques
João António Jaques de
Magalhães, 4.° V. Fonte
Arcada
D. Tomás de Noronha,
3.° C . Arcos
D. José de Noronha
D. Pedro de Almeida, 1.°
C. A ssum ar
D. João de Almeida, 2.°
C. A ssum ar
D. Margarida André de
Noronha
Madalena Bruna de • •
Castro
D. João M ascarenhas,
1.° M. Fronteira
D. Isabel de Castro
D. Madalena de Castro
D . Antónia Mariana de
Noronha
• • M anuel Ribeiro Soares
Diogo Luis Ribeiro
Soares
Mariana Francisca da
Silva
Joaquim Manuel Ribeiro
Soares de Castilho
A ntónio de Eça de
Castro
Isabel Senhorinha de
Castro
D. Catarina de Tavora
Mariana Isabel das
Montanhas Ribeiro
Soares de Castilho
• • D. Fernando Lobo da
Silveira
D. Luis Baltazar da
Silveira
Joana Maria de Tavora
Leitão
D. Teresa Bárbara de
Menezes
••• D. Francisco de Sousa,
1.° M. Minas
D. Luisa Bernarda de
Menezes
D. Eufrásia Filipa de
Noronha
• •
Pág. 87
Anexo 3
Casa dos viscondes de Mesquitela/ barões da Ilha Grande de Joanes e Mullingar
• • • • • • •
G o n ç a lo d e S o u s a d e
M acedo
A n tó n io d e S o u s a de
M a c e d o , 1 .° B. M u llin g a r
M a rg a rid a M o re ira
L u ís G o n ç a lo d e S o u s a
de M a c e d o , 1 .° B. Ilha
G ra n d e d e J o a n e s
M a ria n n e Le M e rc ie r
A n tó n io d e S o u s a de
M a c e d o , 2 .° B. Ilha
G ra n d e d e J o a n e s
J o ã o F u rta d o de
M endonça
F ra n c is c o F u rta d o de
M endonça
M a d a le n a de Tavora
M a ria n a d e Távora
V a s c o P ire s F a lc ã o
 n g e la T avares
M a ria T h e m u d o
L u ís d e S o u s a de
M a c e d o , 1 .° V .
M e s q u ite la
M a n u e l M a c h a d o de
M ira n d a
G re g ó rio F e rre ira d e E ç a
J e ró n im a F e rre ira d e E ç a

M a n u e l F e rre ira de E ç a
F r a n c is c o d e B a rro s de
V a s c o n c e lo s
M a rg a rid a L u is a de
V ilh e n a C o u tin h o e
A la rc ã o
D . P a u la de V ilh e n a de
A la rc ã o
C a ta rin a M a rg a rid a de
Tavora
A n tó n io d e E ç a de
C a s tro
F r a n c is c a B e n ta de
A lm a d a
D . C a ta rin a d e T avora
M a ria J o s é d e S o u s a de
M a c e d o , 2 .a V .
M e s q u ite la
F r a n c is c o d e S ã o P a io
M a n u e l A n tó n io d e S ã o
P a io
Le on or d e T o rre s e
L u sign an
F r a n c is c o J o s é de
S a m p a io e C a s tro
J o ã o d e S a ld a n h a de
S ousa
J o a n a A n tó n ia de T avora

In ês A n tó n ia d e Tavora
M a n u e l A n tó n io d e S ã o
P a io
D. Lu ís d e A lm e id a , 1.°
C. A v in te s
D . A n tó n io de A lm e id a , ••
2 .° C . A v in te s
•• D. Isa be l d e C a s tro
D . J e ró n im a de Bo urbo n
•• D. T o m á s de N oron ha ,
3 .° C. A rc o s
D . M a ria A n tó n ia de
B o urbo n
D. M a d a le n a d e B rito e
Bo urbo n
J o a n a A n tó n ia de S ã o
P a io e L im a
D. Lu ís d e A lm e id a , 1.°
C. A v in te s
D . A n tó n io de A lm e id a , ••
2 .° C . A v in te s
•• D. Isa be l d e C a s tro
D . Lu ís d e A lm e id a
P o rtu g a l, 3 .° C. A v in te s
•• D. T o m á s de N oron ha ,
3 .° C. A rc o s
D . M a ria A n tó n ia de
B o urbo n
D. M a d a le n a d e B rito e
Bo urbo n
D . V itó ria J o s e fa de
Bo urbo n
•• D. D io g o de L im a B rito e
N og ue ira , 7 .° V .
D . J o ã o F e rn a n d e s de
L im a V a s c o n c e lo s de
B rito e N og ue ira , 1 0 .° V.

D . J o a n a de
V a s c o n c e lo s
D . J o a n a J o s e fa A n tó n ia
de Lim a
D . T o m á s de N oron ha ,
3 .° C. A rc o s
D . V itó ria d e Bo urbo n
D . M a d a le n a d e B rito e
B o urbo n

Pág. 88
Retrato puritano
Casa dos viscondes de Vila Nova do Souto d’El Rei

António José de Almada


e Melo
João de Almada e Melo

Úrsula de Vasconcelos
António José de Almada
de Melo
Francisco de Mendonça
Furtado
Maior Luisa de
Mendonça
D. Maria de Melo
D. João de Almada de
Melo
André Velho de Azevedo

Francisco da Cunha da
Silva
Maria de Sousa Barbosa
Maria Josefa de Lima da
Cunha Velho
Fernão Leite Barbosa
Engrácia Catarina
Barbosa
Vicencia Bárbara Peixoto
D. António José de
Almada de Melo, 2.° V.
V. N. de Souto de El-Rei
D. Rodrigo de Lancastre
D. João de Lancastre
Inês Teresa de Noronha
D. Rodrigo de Lancastre
D. Pedro de Almeida
D. Maria Teresa Antónia
de Portugal
•• Luisa Antónia de
Portugal
D. Ana Joaquina de
Lancastre e Moscoso
Francisco Correia de
Lacerda
João Correia de Lacerda •
Isabel Maria de Castro
Isabel Francisca Xavier
de Castro
Diogo Carneiro Fontoura
Luisa Catarina Fontoura
Catarina de Fontoura
D. João José Francisco
de Almada Melo Velho e
Lencastre, 3.° V. V. N.
de Souto de El-Rei
D. Rodrigo de Lancastre
D. João de Lancastre
Inês Teresa de Noronha
D. Rodrigo de Lancastre
•O# D. Pedro de Almeida
D. Maria Teresa Antónia
de Portugal
•• Luisa Antónia de
Portugal
D. António de Lancastre
•O # Francisco Correia de
Lacerda
João Correia de Lacerda •
Isabel Maria de Castro
Isabel Francisca Xavier
de Castro
Diogo Carneiro Fontoura
Luisa Catarina Fontoura
Catarina de Fontoura
D. Francisca Felizarda
de Lancastre da
Fonseca e Camões
Luis Lopes de Carvalho
Gonçalo Lopes de
Carvalho
Ana da Silva de Almeida
Tadeu Luis António
Lopes de Carvalho
Gonçalo Peixoto da Silva
de Almeida
Guiomar Bernarda de
Alarcão e Silva
Paula Maria Cardoso de
Alarcão
Guiomar Anacleta de
Carvalho Fonseca e
Camões
•• D. João Manuel de
Menezes
D. Francisco Furtado de
Mendonça
•• Francisca Furtado de
Mendonça
D. Francisca Rosa de
Menezes
João de Valadares
Carneiro
Mariana Luisa de
Valadares
Margarida Machado da
Silva Menezes
Soutomaior

Pág. 89
Anexo 3
Casa dos Capitães da Guarda Alemã
P
D. A ntónio de Sousa
D. Francisco de Sousa,
Cap. G uarda A lem ã
Leonor de M elo
D. Filipe de S ousa, Cap.
G uarda A lem ã
D. João de A lm eida
D. Helena de Portugal
D. V iolante Henriques
D. Manuel de Sousa,
Cap. G uarda A lem ã
Fernão Teles de
M enezes, 1 .° C. V ila r
M aior
Manuel Teles da Silva,
1.° M. A legrete
M ariana de Mendonça
Catarina de M enezes
D. Nuno M ascarenhas
Costa
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz M ascarenhas,
3.a C. S anta Cruz
D. A lexandre de Sousa
Holstein
Maria A na Leopoldina,
princesa de Holstein

Pág. 90
Retrato puritano
Casa dos Armeiros-mores
s.r.
D. Álvaro da Costa, o
Queimado
D. A ntónio da Costa
Maria Manoel
D. Luís da Costa
Luís de Goes Perdigão
Madalena de Mendonça
Margarida de Eça
D. A ntónio Estevão da
C osta
D. G onçalo da Costa
D. Pedro da Costa
M ariana Henriques
D. Maria de Noronha
D. Francisco de Noronha
D. Violante de Noronha
Maria de Azevedo
D. A ntónio José da
Costa
D. Jorge de Melo
D. Pedro José de Melo
Madalena de Távora
D. A ntónio José de Melo

D. Álvaro da Costa, o
Queimado
D. Maria de Mendonça
Maria Manoel
D. M adalena Luísa de
Mendonça
Luís de Miranda
Henriques
Pedro G uedes de
Miranda
Joana de Távora
Joana de Mendonça
Pedro Guedes
Maria Josefa de
Mendonça
Luisa de Tavora
D. José Francisco da
Costa de Sousa e
Albuquerque
D. A ntónio de Melo
D. Jorge de Melo
Francisca Henriques
D. Luís José de Melo
Pedro Guedes
Madalena de Távora
Luisa de Tavora
D. Cristóvão de Melo
Maria Arnau
D. A na Rosa de Melo
Rosa de Alm eida

Pág. 91
Anexo 3
Casa dos Monteiros-mores
• •
D. Diogo de Menezes
D. José de Menezes de
Tavora
Maria de Oliveira
D. Carlos José Bento de
Menezes
Diogo Lopes de Sousa,
2.° C. Miranda
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
D. Leonor de Mendoça
Brites Francisca de
Mendoça
D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro
Isabel de Castro
D. Pedro José da Cunha
de Mendonça e
Menezes
Pedro da Cunha
Tristão da Cunha
Helena de Mendonça
Pedro da Cunha de
Mendonça
Pedro de Melo
Joana Luísa de
Mendonça
Teresa Maria de
Mendonça
Brites Josefa da Cunha e
Menezes
D. Diogo de Menezes
D. José de Menezes de
Tavora
Maria de Oliveira
D. Luisa Josefa de •
Menezes
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Brites Francisca de
Mendoça
D. Mariana de Castro
D. Francisco José da
Cunha de Mendonça e
Menezes, Monteiro-mór
•• Fernão Teles de
Menezes, 1.° C. Vilar
Maior
Manuel Teles da Silva,
1.° M. Alegrete
Mariana de Mendonça
João Gomes da Silva
D. Nuno Mascarenhas
Costa
D. Luisa Coutinho
D. Beatriz de Menezes,
3.a C. Sabugal
Fernão Teles da Silva,
Monteiro-mór
D. Duarte Luis de
Menezes, 3.° C. Tarouca
D. Estevão de Menezes
D. Luisa de Castro
D. Joana Rosa de
Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Helena de Noronha
D. Madalena de Brito e
Bourbon
Joana Catarina de Melo
Francisco de Melo,
Monteiro-mór
Garcia de Melo,
Monteiro-mór
Luisa de Mendonça
Francisco de Melo,
Monteiro-mór
D. Francisco
Mascarenhas
D. Isabel de Castro
D. Margarida de Vilhena
Maria Josefa de Melo
D. António de Noronha,
1.° C. Vila Verde
D. Pedro António de
Noronha, 1.° M. Angeja
D. Maria de Menezes
D . C a ta r in a d e N o ro n h a
Henrique de Sousa
Tavares da Silva, 1.° M.
Arronches
Is a b e l M a ria A n tó n ia de
M endonça
D . M a ria n a d e C a s tr o

Pág. 92
Retrato puritano
Casa dos Porteiros-mores
• • • • • •
Luís de Melo, Porteiro-
mór
Manuel de Melo, Porteiro-
mór
D. Guiomar Coutinho
José de Melo e Sousa,
Porteiro-mór
Álvaro de Sousa
Francisca de Vilhena
Leonor de Vilhena
Manuel António de
Sousa e Melo, Porteiro-
mór
D. Tomás de Noronha,
3.° C. Arcos
D. Bernardo de Noronha
D. Madalena de Brito e
Bourbon
D. Madalena Teresa de
Bourbon
Rui Fernandes de
Almada
Cristovão de Almada !•
Madalena de Lancastre
Maria Antónia de
Almada
••• D. Luís de Almada
D. Filipa Maria de Melo
D. Luísa de Menezes
Vitória Xavier de Melo
••••••• Rodrigo Teles de
Menezes, 2.° C. Unhão
Fernão Teles de •••
Menezes e Castro, 3.°
C. Unhão
••• D. Joana Luisa de
Lancastre
Rodrigo Xavier Teles de
Menezes Castro e
Silveira, 4.° C. Unhão
••••• D. João Mascarenhas
D. Martinho
Mascarenhas, 4.° C.
Santa Cruz
D. Beatriz Mascarenhas,
3.a C. Santa Cruz
D. Maria de Lancastre
Manrique de Silva, 1.° M.
Gouveia
Juliana de Lancastre !•
D. Maria de Lancastre
Maria Teresa Ana Josefa
Caetana Teles de
Menezes
•••••• Luis Álvares de Tavora,
1.° C. São João da
Pesqueira
António Luis de Tavora,
2.° C. São João da
Pesqueira
Marta de Vilhena
Miguel Carlos de Tavora
D. Miguel de Noronha,
4.° C. Linhares
D. Arcângela Maria de
Portugal
D. Inácia de Menezes e
Vasconcelos
Vitória de Távora
João Nunes da Cunha,
1.° C. São Vicente
Maria Caetana da
Cunha, 2.a C. São
Vicente
' D. Isabel de Bourbon

Pág. 93
ANEXO 4: Notas sobres os reparos “perdoados” ou “esclarecidos

Optámos por, no presente anexo, explorar apenas os reparos que não parecem ter
impedido, tanto casamentos de algumas Casas dentro do grupo dos Puritanos, como
políticas de reprodução social puritanas quando excluído o reparo da Casa. Assim,
descreveremos abaixo, sucintamente, a história conhecida dos cinco reparos que
considerámos para a introdução do conceito de Puritanos, em sentido lato.

Transversal, no entanto, a todos os reparos, é que os mesmos foram


permanecendo na memória colectiva das Casas aristocráticas portuguesas desde a data da
sua passagem a Portugal478, sendo transmitidos de geração em geração. É natural que
tenham ganho destaque a partir do século XVII, mas seriam já conhecidos e comentados
anteriormente, pelo que deverão estar sempre mais associados a um “senso comum” do
grupo da aristocracia, do que relacionadas com os famosos tições cujo impacto nestas
Casas não conseguimos perceber.

Importa também salientar que Torcy não segue um racional de Casa no elencar
dos reparos, uma vez que o que analisa é o chefe da Casa seguindo um critério de
linhagem, querendo isto dizer que o que analisa é se este, e apenas este, detém algum
reparo, ignorando recorrentemente o facto de a realidade da sua descendência poder já
ser diferente por casamentos entretanto contraídos. Isto pode explicar porque é que à data
do Relatório os herdeiros de muitas Casas pudessem já ser associados a muitos outros
reparos que Torcy, no entanto, desconsidera.

Também já referimos anteriormente a origem dos reparos, restando-nos apenas


acrescentar que a maioria dela assentava em rumores não documentados. A excepção
encontramo-la, por exemplo, no reparo de Brandão, ficando imortalizada nos arquivos
da Mesa de Consciência e Ordens a dispensa de sangue concedida por D. Afonso V a
Duarte Brandão para que este pudesse ostentar o hábito da Ordem de Cristo, sendo esta
mancha, também por este motivo, nomeado como «une des plus considerables de
Portugal»479. Nunca terá sido, como durante muito tempo se pensou, cavaleiro da ordem
da Jarreteira em Inglaterra, mas beneficiou amplamente da protecção do rei inglês, tendo

478 Julgamos ser este uma característica fundamental dos reparos, ou seja, o facto de virem de fora de
Portugal e estarem, muitas vezes, relacionadas com alianças com famílias estrangeiras, maioritariamente
espanholas.
479 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma Relação do Reino de Portugal em 1684. Coimbra: 1960, p. 80.

Pág. 95
Anexo 4

obtido o título de representação por Sir ao ser nomeado para “guarda do rei”480, uma
posição normalmente ocupada por cavaleiros (knrghts). Aos seus pares dirá, com
sabedoria, «E eu sou Duarte Brandão, que, por força de armas, ganhei nobreza para mim
e meus descendentes, como os de que vós, Senhores, vindes para si e para vós. E quem
isto contradisser adiante-se.»481 Se o não fizeram na altura, não terão poupado a sua
descendência.

Também curiosos são os casos dos reparos de Caiada e Lafetá. Ambos com
rumores fundados em mães desconhecidas associadas a mercadores ricos. Se Isabel
Caiada era suspeita de ser judia, em estudos recentes sobre Rui Fernandes de Almada
nem se consegue confirmar que tenha sido, de facto, mãe dos seus filhos482. Também o
conde João Francisco Lafetá, ou Affaitati, natural de Cremona, poderá ter tido de lidar
com uma animosidade face ao seu sucesso enquanto grande mercador483 (apesar de Torcy
referir «petit»), acrescido do facto de não ser português. Certo é que a suspeita de cristã-
novice sobre a mãe, ou mães, dos seus filhos sempre existiu, sabendo que a família se
teve de esforçar por dissipá-la, podendo ser encontrada na Coleccção Pombalina da BNP
um documento intitulado «Discurso histórico juridico sobre a pureza de sangue dos
Lafetás.»484

Por fim, cumprirá falar no reparo mais observado na aristocracia portuguesa:


Pinheiro. É conhecida a importância que esta família teve no século XVI, sendo
ascendência comum de dois dos títulos mais influentes da corte de D. João III, os
condados do Prado e da Castanheira, ao qual poderemos juntar as carreiras de Tomé de
Sousa ou Martim Afonso de Sousa485, podendo ter sido, sem dúvida, este o motivo de
invejas e rumores. Braamcamp Freire é, no entanto, contundente quando diz: «agora

480 Cecil Roth, «Sir Edward Brampton, alias Duarte Brandão: Governor of Guernesey, 1482-1485». In Sep.
Report and transactions o f La Société Guernesiaise, Vol. XVI, pt. II. Guernsey: La Société Guernesiaise,
The Guille-Allès Library, 1957, pp. 160-170, p. 165. Tradução literal de Knight o f the Body, também
conhecidos por Esquires in Ordinary o f the King's Body ou, simplesmente, Esquires o f the Body.
481 Ditos portugueses dignos de memória. História íntima do século XVI anotada e comentada por José H.
Saraiva. Póvoa do Varzim: Publicações Europa-América, s.d., p. 237.
482 Maria do Rosário de Sampaio Themudo Barata, Rui Fernandes de Almada. Diplomata Português do
Século XVI. Lisboa: Instituto de Alta Cultura, Centro de Estudos Históricos, 1971, p. 21.
483 Baseámo-nos no estudo de Nunziatella Alessandrini, Os italianos de 1500 a 1680: das hegemonias
florentinas às genovesas, Vol I. Lisboa: [s.n.], 2009. Tese de Doutoramento em História Moderna. Esta
refere que «a profunda influência do conde Affaitati no mercado português é nitidamente evidenciada por
Lope Hurtado, embaixador espanhol em Lisboa, que escreve: “Acá no puden hazer cosa buena sin ele”»,
p. 139.
484 BNP, Pombalina, Ms. 688, fls. 261-270 e 342-361
485 Alexandra Pelúcia, Martim Afonso de Sousa e a sua linhagem: trajectórias de uma elite no império de
D. João III e D. Sebastião. Lisboa: CHAM, 2009, P. 315

Pág. 96
Notas sobre os reparos

saber-se se a mulher de Pero Esteves [o pai de Maria Pinheiro] era ou não Judia, isso é
averiguação em que não me meto»486. Certo é que seria o reparo observado em quase um
quarto dos 127 homens referidos por Torcy, número que ascende a 60% quando só
considerados os titulares e os ofícios maiores no final do século XVIII, podendo assim
ser apelidado o grande reparo da aristocracia portuguesa. Numa sátira ao conde da
Castanheira, dir-se-á:

Mestre João sacerdote,


de Barcelos natural,
houve de uma moira tal
um filho de boa sorte.

Pero Esteves se chamou;


honradamente vivia;
por amores se casou
com uma formosa Judia.

Dêste, pois nada se esconde,


nasceu Maria Pinheira,
mãe da mãe daquele Conde
e sua avó verdadeira. (ou noutra variante, Que é o Conde da Castanheira.) 487

De seguida apresentamos os cinco reparos de acordo com a nossa proposta de


entendimento de um grupo Puritano entendido em sentido lato. Na sequência do exercício
que realizámos, ao desconsiderarmos reparos ao conjunto das Casas da aristocracia
portuguesa, novas Casas surgiriam como Puritanas, apresentando os resultados na tabela
abaixo:

Reparos desconsiderados488 Puritanos (sentido lato)


Bocanegra • Cadaval/ Ferreira/ Tentúgal
• Távora/ S. João da Pesqueira/ Alvor
• Atouguia
• S. Vicente

486 Anselmo Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, Liv. I. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1922, p. 227.
487 Ibidem, p. 226.
488 Qualquer outra combinação destes cinco reparos, num total de 26 possíveis, não devolveu nenhum
resultado.

Pág. 97
Anexo 4

Reparos desconsiderados488 Puritanos (sentido lato)


• Sarzedas 1
Granada • Caparica
• Ficalho
• Sandomil
Zuniga • Marialva/ Cantanhede
Azambuja e Bocanegra • Aveiro/ Gouveia/ Santa Cruz
Azambuja e Granada • Sabugosa
• Monteiros-mores
Bocanegra e Granada • Abrantes/ Fontes/ Penaguião
Granada e Zuniga • Valadares

Assim, a história destes reparos será:

1. ARAGÃO

De acordo com Torcy, «D. Juan d’Arragon, père de Ferdinand le Catholique, eut
des bastards d’une jeune nommée la Blanca Coneja. Ceux qui en descendent sont regardés
comme /88/ estant de race juive»489.

O reparo passou a Portugal através de Leonor de Milão e Aragão que casou com
D. Nuno Manoel, senhor de Salvaterra de Magos e almotacé-mor do rei D. Manuel I,
sendo perpetuado pela sua descendência. Esta Leonor de Milão e Aragão era filha
bastarda de Afonso de Aragão, 1.° duque de Villahermosa e de Maria Junquers, sendo
Afonso de Aragão ele próprio também filho bastardo do rei João II e de Leonor Escobar.
É precisamente nesta sucessão de bastardos que se identifica uma confusão de gerações,
porque Torcy refere que seria pela mulher de quem o rei João II teve bastardos que o
reparo teria chegado a Portugal, o que representa uma interpretação distinta dos
genealogistas portugueses.

Ao contrário de outros reparos cujas referências coevas não encontramos além


das de Torcy, o de Aragão vem tratado pelo Pe. D. António Caetano de Sousa nas suas
Provas da História Genealógica da Casa Real Portugueza, onde se empenha em

489 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma Relaçao..., p. 79.

Pág. 98
Notas sobre os reparos

desconstruir os rumores que existiam sobre Leonor de Milão e Aragão, «Donzella nobre
Catalãa, que ele estimou muito, e a quem entregou o cuidado dos seus filhos»490 e não
uma «mulher ordinaria, e de nascimento escuro, como alguns mal instruidos
entenderaõ»491. Este esclarecimento, que se estende por várias páginas com recurso a
textos e estudos genealógicos estrangeiros, vem confirmar que este seria um reparo com
importância na aristocracia portuguesa e sobre o qual, terá achado o padre D. António,
valeria a pena desvanecer quaisquer dúvidas quanto ao facto de não ser verdade.

Em relação a seu marido, D. Afonso mestre de Calatrava, escreve que «era filho
delRey D. Joaõ II. de Aragaõ, havido em D. Leonor de Escovar,filha de Affonso
Rodrigues, Alcaide môr da terra delRey D. Joaõ de Navarra, em Castella, da Casa de
Escovar, de quem procedem ilustres Casas»492, permitindo-nos concluir sobre Torcy se
ter, de facto, enganado na sua descrição.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. José de Lancastre, 3.° conde de Figueiró;


■ D. Luís de Lancastre, 4.° conde de Vila Nova de Portimão;
■ D. António de Almeida, 2.° conde de Avintes;
■ D. Miguel de Almeida, governador da Índia;
■ Francisco Barreto de Menezes;
■ Francisco Nuno Álvares Botelho, 1.° conde de S. Miguel;
■ Francisco Carneiro de Sousa, 2.° conde da Ilha do Príncipe;
■ Bernardim de Távora e Sousa, governador de Angola;
■ Nuno de Mendonça, 2.° conde de Vale de Reis;
■ Lourenço de Mendonça e Moura, 3.° conde de Vale de Reis;
■ D. Rodrigo de Moura Teles, arcebispo de Braga, Primaz de Espanha;
■ D. Fernando Mascarenhas, 2.° marquês de Fronteira, 3.° conde da Torre;
■ D. Francisco Mascarenhas, 1.° conde de Coculim;
■ D. Luís Manuel de Távora, 4.° conde da Atalaia;
■ D. António Luís de Sousa, 2.° marquês de Minas.

490 D. António Caetano de Sousa, Historia Genealogica da Casa Real Portugueza, Livro XII, Primeira
Parte pp. 424-425.
491 Ibidem, pp. 428-429.
492 Ibidem, pp. 431.

Pág. 99
Anexo 4

Apenas não nos foi possível confirmar o reparo em Francisco Álvares Botelho, 1.°
conde de S. Miguel, que não descenderia de Leonor de Milão e Aragão, salientando-se
que, inversamente, não aparece referido como tendo este reparo D. João de Almeida, 2.°
conde de Assumar, o que estranhamos dado que o teria por sua mãe, Margarida André de
Noronha, filha de D. Fernando Mascarenhas, 1.° conde da Torre.

2. AZAMBUJA

Luciano de Sousa, biógrafo de Diogo d’Azambuja, comenta com tanto de graça


como de verdade, que «como frequentemente acontece, os genealogistas depois de
reunirem uma enorme massa de nomes e de informações truncadas para reconstruir
fidalgamente, até aos ultimos confins da história, a ascendencia de Diogo d’Azambuja,
não conseguem acertar-lhe com o nome dos paes nem com a data de nascimento
d’elle.»493 Esta realidade poderia ser transposta para todas as suspeitas de cristã-novice
pois como já referimos, era o desconhecido, muitas vezes aliado à inveja de carreiras
rápidas e bem-sucedidas, o principal motor dos rumores que corporizavam estes reparos.

Torcy refere que Diogo d’Azambuja «eust deux bastardos d’une femme inconnue
nommée Leonor Botelha qui soit soupçonée de Judaisme.»494 Sabemos apenas que foi
Cavaleiro da Ordem de Avis e que teve uma vida longa, sendo que em 1508, já quase
octogenário, é mandado regressar à pátria - das suas inúmeras incursões expansionistas
- pelo rei D. Manuel I, sobre o que terá comentado «que o Rei o achara moço para
conquistar a cidade e velho para a defender»495. Em Portugal, foi feito membro do
conselho do rei e vedor-mor da artilharia, morrendo dez anos depois, com 86 anos.

Nunca casou, tendo filhos de uma mulher, Leonor Botelho, com quem, defendem
alguns genealogistas, se terá casado após o fim da obrigação de verificação do celibato
por parte de membros da ordem. Desconhece-se, no entanto, a ascendência de Leonor
Botelho, inclusivamente se seria ou não cristã-nova, sabendo apenas que posteriormente
Monterroyo defendeu que teria casado não com esta Leonor, mas com Leonor Velha,

493 Luciano de Sousa, Diogo d'Azambuja. Lisboa: Imprensa Nacional, 1892, p. 8.


494 SERRÃO, Joaquim Veríssimo (ed.) - Uma Relaçao..., p. 79.
495 Cit. in Luciano de Sousa, D io g o ., p. 9.

Pág. 100
Notas sobre os reparos

irmã de Fernão Velho, comendador de Almorol496, contradições que muitas vezes são
indicadoras de suspeitas de cristã-novice.

Apesar de Sousa apenas identificar duas filhas, Cecília e Catarina, e defender que
a primeira teria «sido legitimada, ainda por João II, em 1486» levando em dote, quando
casou, o morgado de seu pai, encontramos referência, nos índices do Geneall, a um filho,
António, também com descendência. De qualquer forma, podemos concluir, face ao
desconhecimento da linhagem de Diogo d’Azambuja, que a sua descendência terá sido
amplamente beneficiada pelo estatuto, social e económico, alcançado por este e que, por
aí, entrou na ascendência de algumas das principais Casas aristocráticas portuguesas.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. João Mascarenhas, 5.° conde de Santa Cruz;


■ Garcia de Melo, monteiro-mor;
■ João da Silva, 2.° marquês de Gouveia.

D. Miguel de Noronha, 2.° duque de Linhares, não é referido por Torcy, apesar de
ser primo co-irmão do marquês de Gouveia, referindo um duque de Linhares, talvez o 1.°,
como não tendo reparos.

3. BOCANEGRA

Este será um dos mais conceituados reparos, reflexo também da importância que
as Casas que o tinham foram ganhando ao longo do período de análise pelo seu
investimento nas suas políticas de reprodução social: se para uns foi motivo de
maledicência, para outros foi a possibilidade de se ligarem, ancestralmente, ao reputado
núcleo de famílias que se relacionavam com os Távoras, das quais as Casas dos marqueses
de Fontes e de Fronteira e dos condes de S. Miguel, Atouguia, Alvor e Sarzedas497 são
bons exemplos.

496 Ibidem, p. 59
497 Relembramos que foi, precisamente, pelo casamento do 1 ° marquês de T ávora com uma filha do 1 °
conde de Sarzedas que este reparo entrou na Casa dos marqueses de Távora.

Pág. 101
Anexo 4

Torcy refere que «Francisco Idasques, appellé Bocca Negra, passa en Portugal
avec Caterine, femme du Roy D. João tròisieme. On dit qu’il étoit cuisinier de cette
princesse, comme tous les Espagnols qui viennent en Portugal sont ordinairement Juifs
on l’acusoit aussi de l’être»498. Podemos comprovar por este texto que os fundamentos
que consubstanciavam muitas destas suspeitas de judaísmo na ascendência destas Casas
eram fracos e pobres e estavam longe de poderem ser comprovados factualmente. Ao
falar da Casa da rainha D. Catarina de Áustria, Buesco escreve que «Quando entrara em
Portugal, naturalmente a sua casa era sobretudo composta por castelhanos», lembrando
que «o protagonismo de certas famílias que a acompanharam - como os Bocanegra,
Velasquez e Aguilar - revelou-se marcado»499, o que mais uma vez parece confirmar a
prática do puritanismo enquanto reacção à importância que Casas recém-criadas, de
ascendência desconhecida, e também de Casas estrangeiras, principalmente espanholas,
foram adquirindo na sociedade de corte portuguesa.

No seu estudo sobre a Casa da rainha D. Catarina, Sousa identifica um «Francisco


Velasquez, camareiro, casado com Dona Cecília Boca Negra, também camareira»500 que
julgamos terem sido os pais de Maria Bocanegra, casada com D. António de Lima, cuja
neta D. Joana de Lima casou com D. Luís Lobo da Silveira e foram pais do 1.° conde de
Sarzedas, Casa a partir da qual o reparo se propagou. Importa salientar que Sousa apenas
os identifica como pais de «Filipe Boca Negra, pajem»501 e que muitas vezes o pai de
Maria Bocanegra vem referido como Juan Velasquez de Aguillar, sendo que o cozinheiro
que a rainha D. Catarina trouxe de Espanha no seu séquito se chamava João, o Galego.
De qualquer forma, a ser verdade, explicaria a opção pelo apelido da sua filha e o bom
casamento que realizou, sabendo-se ainda que existia, no séquito de D. Catarina, uma
Maria Boca Negra, moça de câmara, que recebia 2.500 reis e tinha o domínio intermédio
da escrita502.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ Francisco Nuno Álvares Botelho, 1.° conde de S. Miguel;

498 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma Relação..., 79.


499 Ana Isabel Buescu, Catarina de Austria (1507-1578), Infanta de Tordesilhas, Rainha de Portugal.
Lisboa: A Esfera dos Livros, 2007, p. 259.
500 Maria José Azevedo Santos, Assina quem sabe e lê quem pode. Leitura, transcrição e estudo de um rol
de moradias da Casa da Rainha D. Catarina de Austria (1526). Coimbra: Imprensa da Universidade de
Coimbra, 2004, p. 26.
501 Ibidem.
502 Ibidem, p. 123. Para a posterioridade, no entanto, ficou a imagem de que os Távoras descendiam de um
cozinheiro Bocanegra.

Pág. 102
Notas sobre os reparos

■ D. Luís Peregrino de Ataíde, 8.° conde de Atouguia;


■ D. Fernando Mascarenhas, 2.° marquês de Fronteira;
■ D. Francisco Mascarenhas, 1.° conde de Coculim;
■ D. João Rodrigo de Sá Menezes, 2.° marquês de Fontes;
■ D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes, 3.° marquês de Fontes;
■ D. Luís da Silveira, 2.° conde de Sarzedas;
■ D. Miguel da Silveira, alcaide da Guarda;
■ António Luís de Távora, 2.° marquês de Távora.

Torcy não refere, no entanto, o 3.° conde da Ericeira, D. Luís de Menezes, que
teria este reparo pela mãe, D. Margarida de Lima, o 2.° marquês de Minas, D. António
Luís de Sousa, pelo lado da sua mãe, D. Eufrásia Filipa de Noronha, neta de D. Joana de
Lima, e a Casa dos condes de S. Vicente - através do seu herdeiro, o 3.° conde -, que
adquiriria este reparo pelo casamento do 2.° conde por casamento, Miguel Carlos de
Távora, sem reparos, com Maria Caetana da Cunha, herdeira da Casa dos condes de S.
Vicente e neta paterna de D. Francisca de Lima.

4. Granada

Tal como a maior parte dos reparos que ora identificamos, também o de Granada
foi comentado no seu tempo, sendo este o único a ter a particularidade de juntar não
apenas a mancha de judaísmo, mas também de mourismo, apesar de, como refere Torcy,
a de judaísmo ser considerada «la plus considerable»503. Já para a corte da rainha D.
Catarina, mulher de D. João III, existem relatos de reacções menos positivas à
permanência de D. Madalena de Granada, camareira da rainha, e que foi quem trouxe o
reparo para Portugal. Buescu relata um conflito que existiu entre esta e D. Maria de
Menezes, filha de João Rodrigues de Sá de Menezes, sobre uma questão de precedências
no serviço à rainha que acabou com a dispensa de D. Maria de Menezes no seu serviço.
A rainha terá comunicado isto ao pai da jovem, lembrando-lhe que «D. Madalena de
Granada era filha de rei», que lhe terá respondido «Esses reis senhora, trazemos nós cá

503 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma Relaçao..., p. 80.

Pág. 103
Anexo 4

pelas nossas estrebarias», sendo que, depois da rainha ripostar, lhe terá ainda respondido
«Vossa Alteza fala-me como estrangeira»504.

D. Madalena era filha de Juan de Granada, meio-irmão deBoabdil, o último rei


de Granada, que à data da conquista pelos reis católicos foiagraciadocom títulos de
nobreza e serviu os reis católicos505. D. Madalena vem para Portugal, como dissemos, no
séquito da rainha D. Catarina, e casou com D. Luís de Lancastre, 1.° comendador-mor de
Avis, filho de D. Jorge, duque de Coimbra e neto, por bastardia, do rei D. João II. Sabemos
também que, no exercício da sua função de camareira, recebia 6.750 reis, possuindo
também o domínio da escrita506, reflexo da educação fidalga de que terá beneficiado após
o acolhimento dos reis católicos.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. Veríssimo, de Lancastre, arcebispo de Braga e Grande Inquisidor;


■ D. José de Lancastre, 3.° conde de Figueiró;
■ D. Luís de Lancastre, 4.° conde de Vila Nova de Portimão;
■ D. João de Lancastre, governador de Angola e do Brasil;
■ D. Lourenço de Lancastre, vedor do infante;
■ D. Francisco de Castro, 17.° almirante de Portugal;
■ Tristão da Cunha, 1.° conde de Povolide;
■ D. Luís Manuel de Távora, 4.° conde da Atalaia;
■ Fernão Teles de Menezes e Castro, 3.° conde de Unhão;
■ D. Vasco Lobo, 2.° conde de Oriola e 9.° barão do Alvito.

Destes apenas não conseguimos confirmar o reparo no 4.° conde da Atalaia.


Também não refere o 3.° conde de Castelo Melhor, Luís de Vasconcelos e Sousa, nem o
2.° marquês de Nisa, D. Francisco Luís Baltazar da Gama, ambos descendentes de D.
Madalena de Granada pelo casamento de uma filha desta, D. Maria de Lancastre, com
João Gonçalves da Câmara, o 2.° conde da Calheta. Esta confusão poderá ter-se dado
porque o terceiro conde também casa com uma D. Maria de Lancastre, com este reparo,
de quem, no entanto, não tem descendência.

504 Ana Isabel Buescu, Catarina de Áustria, pp. 222-223.


505 Ibidem, p. 223.
506 Maria José Azevedo Santos, Assina quem s a b e ., p. 121.

Pág. 104
Notas sobre os reparos

5. Zuniga

Ao contrário dos reparos que descrevemos anteriormente, não conseguimos


encontrar para este, além das referências de Torcy, qualquer informação que nos ajudasse
a enquadrar a existência do mesmo. Diz-nos Torcy que «Inez de Zuniga étoit bastarde du
Marquis de Mirabel, et d’anne de Crasto soupçonée d’estre Juive ou mourisque. le
Marquis de Marialve a cette tache, parce que son trisajeul épousa cette Inez»507.

Certo é que se no Pe. D. António Caetano de Sousa nada encontramos sequer em


relação à bastardia, em Felgueiras Gayo esse facto já vem referido, confirmando este que
«D. Inês de Zuniga filha B. de D. Fradique de Zuniga Sotomaior de Alconchel, e de D.
Ana de Castro Montanhesa filha de D. João de Castro, e de D. Maria Gonçalves»508.

Para Sousa, no entanto, a história é diferente. Sem qualquer referência à bastardia


ou a questões de limpeza de sangue, conclui apenas que era «Anna de Castro, filha de
João Serrano, natural de Avila, Mordomo do Bispo de Placencia, e de Maria de Castro,
Camareira da Duqueza de Bejar»509, não evidenciando qualquer rumor ou suspeita de
cristã-novice.

Inês de Zuniga seria mãe de D. António de Menezes, pai do 2.° conde de


Cantanhede e avó de D. António Luís de Menezes, 1.° marquês de Marialva, e também
mãe de D. Joana de Menezes, casada com D. João de Azevedo, almirante de Portugal.

Assim, e de acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. Francisco de Castro, 17.° almirante de Portugal;


■ D. Pedro António de Menezes, 2.° marquês de Marialva;
■ D. José de Menezes, 1.° conde de Viana.

507 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma Relação..., p. 82.


508 Manuel José da Costa Felgueiras Gayo, Nobiliário de Familias de Portugal. Braga: Oficinas Gráficas
da «PAX», 1938, Tomo VI, p.703
509 D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portugueza. Lisboa: Na oficina
Sylviana, da Academia Real, 1738, p. 160

Pág. 105
ANEXO 5: Alguns contributos para o estudo da Confraria dos Escravos
do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia

1. Transcrição da Memória para a História das Irmandades e Confrarias da cidade de Lisboa510

Ano Relação de Confrades

1630 "Nos abaixo assinados juramos aos Santos Evangelhos em que pomos as mãos de servir a Nosso Senhor nesta Confraria intitulada
Escravos do Santíssimo Sacramento, e guardaremos o compromisso que para ella se fez inteiramente como nelle se contem e nunca em
tempo algum [notaremos] que se extinga nem diminua; antes procuraremos ampliá-lo em serviço de Nosso Senhor e lhe pedimos nos
receba por seus Escravos iluminados para o servirmos este anno e os mais que nos nomearem com toda a prefeição em consideração do
desacato que os sacrílegos ereges apóstatas fizeram nesta Igreja [...] de 15 para 16 de Janeiro deste anno de seiscentos e trinta, e de como
a si o prometemos e juramos assinando este termo que fez nosso Irmão D. António da Silva que serve de Escrivão em Lisboa na Igreja
de Santa Engrácia em 19 de Mayo de 1630.

Neste anno o Conde dos Arcos foi eleito Luís da SIlva."

1633 "Em 15 de Janeiro de 1633 foi eleito Pedro da Cunha por morte de Simão de Mello.

510 BNP, COD. 170, fls. 23-32. [Extrato] Livro da Criação dos Irmãos da Confraria intitulada do Santíssimo Sacramento cita na Igreja de Santa Engrácia. Em dia do Espírito
Santo que foi a 19 de Mayo de 1630.

Pág. 107
Anexo 5

Ano Relação de Confrades

Em 18 de Janeiro de 1633 foram eleitos o Governador Conde de Castro [Daire], e Manuel da Cunha, Inquisidor, D. António Pereira,
Presidente do Desembargo do Paço, e Pedro da Cunha e o Alcaide-mor de Sintra, e Henrique Correia da Silva e o conde D. Diogo da
Silva e Jorge de Mello e D. Álvaro da Costa e o conde de Castelo Novo e Fernão de Sousa e António Telles.

Escrivão Manuel da Cunha; Tesoureiro: Fernão de Sousa; Procurador: António Teles; Escravo dos Escravos: D. António da Silva"

1634 "Em 18 de Janeiro de 1634 foram eleitos o Príncipe Nosso Senhor o Inquisidor Geral D. Francisco de Castro, o Conde de
Miranda, e Tristão de Mendonça Furtado, e D. Lourenço de CastelloBranco, D. António de Alcáçova, D. Álvaro de Abranches, Martim
Correa da Silva, o conde de Castelo Novo D. Fernão Mascarenhas, D. Antão de Almada, Lourenço Pires Carvalho, o conde de Atouguia.

Escrivão: conde de Miranda; Tesoureiro: conde de Atouguia; Procurador: D. Álvaro de Abranches; Escravo dos Escravos: D. António
da Silva."

1635 "Em 18 de Janeiro de 1635 foram eleitos a Sr.a Princesa Margarida o conde de Cantanhede, o Barão de Alvito, Tomé de Sousa, D.
João de CastelloBranco, Francisco de Mendonça, D. Tomás de Noronha, Luís da Cunha, D. Luís de Almada, Luís da Silva, D. Manuel
de Castro.

Escrivão: conde de Cantanhede; Tesoureiro: D. Tomás de Noronha; Procurador das demandas: Francisco de Mendonça Furtado;
Superintendente dos foros: D. João de Castelo Branco andador com o título de Escravo dos Escravos do Santíssimo Sacramento na
forma do Compromisso D. António da Silva."

1636 "Em 18 de Janeiro de 1636 foram eleitos o arcebispo de Évora, o Arcebispo de Lisboa, António de Mendonça, Comissário da Cruzada,
Diogo de Sousa, Deputado do Santo Ofício, D. João Lobo de Faro, Fernão Martins Freire, Senhor de Bobadela, o Marques de Porto
Seguro, Tristão da Cunha de Menezes, Ruy Fernandes de Almada, Provedor da Casa da Índia, D. Francsico de Menezes, D. Álvaro de
Portugal.

Pág. 108
Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

Escrivão: António de Mendonça; Tesoureiro: Diogo de Sousa; Procurador das Demandas: Fernão Martins Freire; Contador e Tesoureiro
das Obras: D. António da Silva"

1637 "Em 18 de Janeiro de 1637 foram eleitos D. António Luís de Menezes, D. João de Castelo-Branco, João da Silva Tello, Luís Francisco
de Oliveira, Luís de Saldanha, D. Lucas de Portugal, Francisco Moniz, D. Francisco de Faro, D. João de Almeyda, Gaspar de Sousa,
Ayres de Saldanha, o conde de Penaguião.

Escrivão: D. João da Silva Tello de Menezes; Tesoureiro: D. António Luís de Menezes; Procurador: D. João de Almeida; e para Andador
D. António da Silva."

1638 "Em o anno de 1638 falta o acento dos eleitos, e tem o juramento , no qual assinam João da Silva Tello de Menezes, que era Escrivão,
o Marques que entendo ser de Porto Seguro, o conde de Santa Cruz, D. António de Almeyda, o conde de Villa Franca, Francisco Soares,
Lourenço da Silva, Ruy Lourenço de Távora, D. Pedro de Almeyda, António de Saldanha, o conde de S. Miguel, João de Saldanha da
Gama, o conde de Linhares.

Escrivão: conde de Vila Franca; Tesoureiro: Francisco Soares; Procurador: António de Saldanha"

1639 "No anno de 1639 em 18 de Janeiro se achou serem falecidos dos cento três irmãos e em seu lugar foram eleitos, o Marques de Gouveia,
e D. João de Sáa porem não elenca quaes foram os que morreram e se escolheram para servirem nesste anno da primeira Mesa os que
se achavam nesta cidade, o conde de S. João, o conde Capitão, D. Gonçalo Coutinho, D. António da Silva, e da segunda para
cumprimento dos doze Álvaro Pires de Távora, D. Jeónimo de Ataíde, D. João Mascarenhas, Fernão Cabral, e João Gomes da Silva.

Escrivão: Jerónimo de Ataíde; Tesoureiro: Álvaro Pires Távora; Procurador: D. João Mascarenhas; para correr com as obras D. Fernão
Cabral Chanceler-mor"

Pág. 109
Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1640 "Em 18 de Janeiro de 1640 se elegeo em lugar do conde de Atouguia que Deus perdoe foi eleito seu filho o conde de Atouguia. Seu
filho D. Jerónimo de Ataíde e se elegeram da Mesa mais antiga D. Miguel de Almeyda, o conde de Vila Nova, António Tavares, e o
conde de Odemira, Fernão Telles, D. Pedro de Alcáçova, António Luís de Távora, conde de S. João, estes da terceira Mesa de 1632 e
da de 1633 D. António Pereira, António Telles, o conde da Castanheira, Jorge de Mello.

Escrivão: D. Miguel de Almeida; Tesoureiro: o conde de Vila Nova; Procurador: António Teles; Escravo dos Escravos: António de
Alcáçova."

1641 "Em 18 de Janeiro de 1641 por se acharem falecidos cinco irmãos a saber: o conde de Castelo Novo, D. Lourenço Coutinho, D. Álvaro
de Portugal, D. Gonçalo Coutinho, Álvaro Pires de Távora e de se haver de eleger em lugar do Príncipe de Castela ao Príncipe Nosso
Senhor e se fez assim e foram eleitos: o Príncipe de Portugal no dito lugar o marquês de Ferreira, D. Pedro de Menezes, D. Luís de
Almeyda, o Monteiro-mor e dos velhos serviram o visconde, o conde dos Arcos, Gonçalo Pires Carvalho, D: Álvaro da Costa,
Capellão mor, Pedro da Cunha, Pedro da Cunha, Pedro Cunha Vedor.

Escrivão: D. Álvaro da Costa, capellão mor; Tesoureiro: Gonçalo Pires Carvalho; Procurador: D. Luís de Almeyda; Escravo: Jorge de
Mello."

1642 "Em 18 de Janeiro de 1642 eram falecidos o Conde de Odemira, o Marquês de Villa Real, Tristão de Mendonça, Lourenço Pires Carvalho
- entraram o Conde de Unhão, Estevão da Cunha, Cristóvão de Távora, Francisco de Lucena, o Conde de Vimioso, Sebastião César, o
Conde da Torre, Ruy de Moura Telles.

Em 9 de Março de 1642 por morte de Cristóvão de Távora foi eleito o Conde de Valle de Reis.

Em 3 de Agosto do anno em lugar de Dom Lourenço de Castelo-Branco foi eleito Martim Affonso de Lucena.

Pág. 110
Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

Nota lateral: Ausentes em Castella D. Francisco de Menezes, Luís da Silva e se [...] os seus lugares reputandos dos ditos e da Princesa
Margarida."

1643 Em 1643 eram falecidos o Arcebispo de Lisboa, António Tavares, Dom Álvaro da Costa capelão-mor, conde de Unhão, conde de Basto
- E por estarem ausentes e seus bens confiscados o Marques de Castelo Rodrigo, o Marques de Porto Seguro, o Conde de Linhares.
Foram eleitos António Telles, D. António de Lencastre, o Barão do Alvito, Luís César, Francisco de Mello, Tristão da Cunha, Pedro
Vieira da Silva, Dom João de Castro, e para completar o numero de cento, o Conde de Castelo Melhor, Luís de Mello, o Conde de
Redondo.

1644 "Em 18 de 1644 eram falecidos Francisco de Mendonça, Francisco de Lucena, o Arcebispo de Évora D. João Coutinho.

Em de do dito mes e anno se fez hum acento de privarem do lugar a Martim Afonso de Lucena pella infamia em que encorreo por seu
Rey e [...] e em seu lugar foi eleito António Cavide.

Em 6 de Novembro de 1644 se fez mesa por ser falecido o Conde de Cantanhede. Em 2 de Dezembro do dito anno era falecido D. Antão
de Almada."

1645 Em 18 de Janeiro de 1645 eram falecidos João de Saldanha da Gama, Ayres de Saldanha, D. António Pereira e Lourenço da Silva.

1646 Em 1646 a 18 de Janeiro eram falecidos o Marques de Ferreira, Henrique Correa da Silva, D. Pedro de Alcáçova e Jerónimo de Mello
é ausente provido no Bispado de Astorga D. Bernardo de Ataíde.

1647 Em 18 de Janeiro de 1617 eram falecidos o Bispo Conde, Gonçalo Pires Carvalho, e Fernão Cabral. Neste anno de 1647 foi eleito por
aclamação o Infante D. Affonso depois Rey.

Pág. 111
Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1648 Em 18 de Janeiro de 1648 D. João de Castelo Branco, D. Carlos de Noronha, o Conde dos Arcos, o Conde de Alegrete, o Conde de
Penaguião, o Conde de Cantanhede e D. João de Castro. Em 31 de Agosto de 1648 era falecido João Gomes da Silva foi eleito o Conde
do Prado.

1649 Em 9 de Novembro de 1649 era falecido o visconde. Em 1649 foi eleito o Infante D. Pedro.

1650 Em 18 de Janeiro de 1650 por impedimentos que houve se juntaram a 27 de Agosto e se achou serem falecidos no anno passado Marques
de Aguiar, o Bispo do Brasil, o Conde de Feira, o Bispo do Algarve, o Conde de Serem e Tomé de Sousa.

1651 Em 18 de Janeiro de 1651 eram falecidos Fernão Martins Freire, Tristão da Cunha, Francisco Soares. Escusou-se da Irmandade D. Pedro
de Lencastre.

1652 Em 18 de 1652 eram falecidos Conde de Santa Cruz, o Conde João da Silva Tello, o Conde de Unhão, o Monteiro-mor Francisco de
Melo, António Teles de Silva, D. Leão de Noronha e D. António da Silva.

1653 Em 18 de Janeiro de 1653 eram falecidos o Marquês de Montalvão, Pedro de Mendonça, o Reposteiro-mor, D. Rodrigo de Mello, o
Inquisidor Geral.

1654 Em 1654 faleceu o Príncipe Nosso Senhor e o Conde de S. João

1655 Em 1655 faleceram o Barão de Alvito, o Estribeiro-mor Pedro Guedes e António de Saldanha.

1656 Em 1656 eram falecidos Tristão da Cunha de Ataíde, Domingos Dias Preto, o Conde de Vimioso, Francisco Moniz, o Conde de Redondo.

1657 Em 1657 eram falecidos D. João Lobo de Faro, o Conde Capitão, o Conde de Sarzedas, o Conde de Abrantes e S. Majestade [..]

1658 Em 1658 eram falecidos Pedro da Silva de Faria, D. Francisco de Almeida, Fernando de Castro, Pedro da Cunha, D. Rodrigo de Lencastre
D. António de Alcáçova.

1659 Em 18 de Janeiro de 1659 eram falecidos nove irmãos e não os nomeia senão os que elegem - no dito anno faleceo D. João de Lencastre
e D. Manuel de Eça.

Pág. 112
Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

1660 Em data do anno de 1660 era falecido D. João de Meneses e se houve por morto a D. Fernando Teles de Faro por se passar para Castela
- neste anno faleceram D. Álvaro de Abranches e o Conde da Feira, e elegeram os irmãos em 6 de Julho.

1661 Em data do anno de 1661 era falecido D. Luís de Almada e tinham passado para Castela o Duque de Aveiro e em seu lugar foi eleito o
duque de Cadaval e D. António de Lencastre.

1662 Em 18 de Janeiro de 1662 eram falecidos D. Nuno de Ataíde, o Conde de Odemira, D. João de Almeyda, Francisco de S. Payo.

1663 Em 18 de Janeiro de 1663 eram falecidos D. Pedro de Meneses, Bispo eleito do Porto, Estevão da Cunha, Bispo eleito de Miranda e
Luís da Silva Telles.

1664 Em 18 de Janeiro de 1664 eram falecidos D. Francisco de Noronha, João Rodrigues de Sousa, o Conde de Redondo - em 1664 faleceo
o Conde de Soure a 22 de Janeiro.

1665 Em 18 de Janeiro de 1665 eram falecidos D. João de Sousa da Silveira e Pedro Severim de Noronha.

1666 Em 18 de Janeiro de 1666 eram falecidos o Conde de Atouguia, D. Rodrigo da Cunha, Jorge de Mello.

1667 Em 18 de Janeiro de 1667 eram falecidos o Conde de Villa Nova, Martim Fonseca da Silva, Gaspar de Faria Severim, António de Sousa
Tavares, Luís César, Pedro César de Meneses. Neste anno faleceo o Marques de Sande em Setembro.

1668 Em 1668 não faltou irmão para a eleição de 18 de Janeiro. Depois faleceo o Conde de Santa Cruz D. João Mascarenhas em Fevereiro, a
16, sahio eleito João da Silva Tello filho do conde de Aveyras e tomou posse a 20 de Setembro.

1669 Em 1669 faleceram Luís de Saldanha, D. Diogo de Meneses e Francisco Correa da Silva - em este anno faleceu o Conde da Castanheira.

1670 Em 18 de Janeiro de 1670 eram falecidos o Conde de S. Vicente vice-rei da India, o Conde Dos Arcos, Manuel de Sousa da Silva, o
Bispo de Targa, Luís de Sousa Copeiro-mor. Luís de Sousa foi eleito no lugar do Bispo de Targa e o Conde da Ericeira D. Luís de
Meneses.

1671 Em 18 de Janeiro de 1671 era falecido D. Fradique da Câmara. Neste anno foi eleito Miguel Carlos de Távora. Neste anno em Outubro
a 16 se fez eleição pela morte do Conde de S. Lourenço.

Pág. 113
Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1672 Em 18 de Janeiro de 1672 eram falecidos o Conde de Avintes, o Bispo de Lisboa, Luís de Mello Porteiro-mór. Neste anno faleco João
de Saldanha e se fez eleição a 16 de Julho.

1673 Em 18 de Janeiro de 1673 eram falecidos Sebastião César de Meneses, Luís da Cunha de Ataíde, o Conde de Vila Franca D. Rodrigo
da Câmara, o Conde de Aveiras Luís da Silva e o Marques de Távora Luís Alvares.

1674 Em 18 de Janeiro de 1674 eram falecidos o Conde da Ribeira, D. Affonso de Faro, Jorge Furtado. Nesta eleição foi [...] o Conde de
Soure eleito.

1675 Em 18 de Janeiro de 1675 eram falecidos o Marques de Cascaes, o Marques de Minas, o Visconde de Asseca, Christóvão de Mello, D.
Pedro Mascarenhas, Francisco de Faria Almotacé-mor, Luis Freire, Conde de Vila Verde, Fernão Mascarenhas, Francisco Mendonça -
em 28 de Novembro do dito ano por morte do Marques de Marialva foi eleito seu filho.

1676 Em 18 de Janeiro de 1676 eram falecidos o Arcebispo de Lisboa D. António de Mendonça, D. Rodrigo de Menezes, o conde de S. Tiago,
Antão de Faria, D. João de Castro, o Conde de Pombeiro.

1677 Em 18 de Janeiro de 1677 eram falecidos Pedro Vieira da Silva, Bispo de Leiria, o Conde de Santa Cruz, D. Francisco Rolim, Rui de
Moura Teles, Marques de Nisa.

1678 Em 18 de Janeiro de 1678 eram falecidos o Marques de Fontes, o Conde de Vila Flor, D Pedro da Costa. Em 4 de Julho faleceu D.
Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos, como se vê do acento de 10 do dito mês e anno.

1679 Em 18 de Janeiro de 1679 eram falecidos D. Diogo Sousa, Arcebispo de Évora, Gil Vaz Lobo Freire, Luís de Saldanha de Albuquerque,
D. Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos, Francisco de Miranda Henriques, Rui Fernandes de Almada e Rui de Figueiredo.

1680 Em 18 de Janeiro de 1680 não era falecido nenhum.

1681 Em 18 de Janeiro de 1681 era falecido Salvador Correia de Sá, e a cinco se lhe elegeo outro no lugar que elle tinha. Depois na eleição
de 18 do dito mês se acharam vagos os seguintes, o Conde de Soure, D. João de Sousa Prior do Crato, D. Pedro de Almeyda, Viso Rey
da India, Tristão da Cunha Mestre de Campo General de Trás os Montes, Alexandre de Sousa Freire.

1682 Em 18 de Janeiro de 1682 eram falecidos Simão de Vasconcelos e Sousa, Marques de Fronteira, o Conde de Vimioso

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

1683 Em 18 de Janeiro de 1683 era falecido António de Sousa de Macedo

1684 Em 18 de Janeiro de 1684 era falecido D. Pedro de Almeyda

1685 Em 18 de Janeiro de 1685 eram falecidos Manuel de Magalhães de Meneses, o [Capitão?] da Guarda Martim Afonso de Melo, D. Lucas
de Portugal.

1686 Em 18 de Janeiro de 1686 não era falecido nenhum.

1688 Em 18 de Janeiro de 1688 eram falecidos o Conde de S. Miguel, o Conde de Unhão, D. João da Gama e o Conde de Figueiró.

1689 Em 18 de Janeiro de 1689 eram falecidos Francisco Barreto, D. Ignácio Mascarenhas

1690 Em o anno de 1690 falta acento da eleição e está o do juramento feito a 18 de Março do dito anno - em o dito dia ficaram [...] oficiais
[...].
1691 Em o anno de 1691 também falta acento e está o do juramento feito a 3 de Abril do dito anno, e a eleição dos oficiais a 20 do dito mês.

1692 Em o anno de 1692 também falta acento do dia 18 de Janeiro, e tem o juramento e a eleição dos oficiais, e huma declaração a 22 de
Setembro em que diz que no anno passado não fizera acento o que para as eleições futuras faria grande confusão. Declara os que foram
eleitos e que vagara um lugar e que entrara em um lugar vago o Sr. Infante D. Francisco.

1693 Em 18 de Janeiro de 1693 eram falecidos o Cardeal de Lencastre, o Conde de Val de Reys, D. Miguel da Silveira, Pedro de Melo, D.
Diogo Fernandes de Almeida. Neste anno foi eleito o Duque de Cadaval D. Luís

1694 Em 1694 falta de acento tem o pb juramento e de oficiais.

1695 Em o anno de 1695, não fala mais que na eleição e não de que se provesse lugar vago

1696 Em 18 de Janeiro de 1696 eram falecidos Manuel de Melo Prior do Crato e D. Marcos de Noronha

1697 Em 1697 a 18 de Janeiro eram falecidos D. Diogo de Almeyda, o Conde de Pontével e o Conde de Pombeiro. E foi eleito o Sr. Infante
D. António.

Pág. 115
Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1698 Em 18 de Janeiro de 1698 eram falecidos D. João de Castro Teles, D. Manuel de Sousa, Diogo de Mendonça Furtado. Neste anno foi
eleito o Inf. D. Manuel e o Cardeal da Cunha.

1699 Em 18 de Janeiro de 1699 eram falecidos Manuel de Melo de Castro, João de Vasconcelos e Sousa Deão da Sé de Lisboa, Henrique
Correa da Silva, D. Diogo de Faro, nesta anno entraram o Marques de Cascaes D. Manuel de Castro o conde de Atalaya D. João Meneses.
Neste anno a 20 de Novembro era falecido Ayres de Sousa e Castro.

1700 No anno de 1700 a 18 de Janeiro se não fez acento depois houve quem o declarou e faleceram o conde da Ericeira D. Fernando de
Menezes, João de Melo da Silva, o Conde da Feira

1701 Em 18 de Janeiro de 1701 não houve lugares vagos.

1702 Em 18 de Janeiro de 1702 eram falecidos o Cardeal de Sousa, Simão da Cunha.

1703 Em 18 de Janeiro de 1703 eram falecidos António Luís Conde Almotacé-mor, o Conde da Ponte Garcia de Melo

1704 Em 18 de Janeiro de 1704 eram falecidos D. João de Sousa, Nuno da Silva Teles, Bernardim de Távora, Pedro Sanches Farinha, D.
Nuno Álvares de Portugal e o Conde de Vila Nova.

1705 Em 18 de Janeiro de 1705 eram falecidos o Conde de Vila Flor, D. Cristóvão Manoel e D. Bernardo de Noronha.

1706 Em 18 de Janeiro de 1706 eram falecidos José de Vasconcelos, Deão de Lisboa, o Conde Barão, o Inquisidor Geral D. Jorge de Lencastre.
Neste anno por acento de 28 de Novembro era falecido D. Manoel da Câmara.

1707 Em 18 de Janeiro de 1707 eram falecidos Garcia de Melo Monteiro-mor, o Conde de Sarzedas, D. Luis da Silveira, D. Pedro de Sousa.
Nesta eleição por El Rey Nosso Senhor passar a ser Protetor da Irmandade se proveu o seu lugar. Em 5 de Julho do mesmo ano era
falecido o conde de Redondo e se proveu o seu lugar no Secretário Diogo de Mendonça Corte-Real. Em 20 de Novembro do dito anno
era falecido o Conde de Val de Reys Lourenço de Mendonça e foi provido no seu lugar D. Rodrigo de Melo, filho do duque.

1708 Em 18 de Janeiro de 1708 eram falecidos D. João de Lencastre, o Marques de Nisa, Mendo Foyos Pereira.

1709 Em 1709 não se acha o acento de 18 de Janeiro mas outros de oficiais.

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

1710 Também não tem acento

1711 Em 18 de Janeiro de 1711 eram falecidos o Conde de Alvor, o Conde da Castanheira, o Arcebispo de Lisboa D. João de Sousa. Em 15
de Abril do dito anno se [ . ] o lugar de D. Francisco de Sousa.

1712 Em 18 de Janeiro de 1712 era falecido o Marquês de Marialva

1713 Em 18 de Janeiro de 1713 eram falecidos Francisco de Melo Monteiro-mor, o Conde de Atouguia, D. Fernando de Almeida

1714 Em 18 de Janeiro de 1714 eram falecidos o marquês de Arronches, o Conde de Viana, D. Rodrigo de Mello, filho do duque, Cristovão
de Almada, Manuel Galvão. Neste anno entrou o o Principe Nosso Senhor na Irmandade. Era o Sr. D. Pedro que já era falecido a 14 de
Novembro do dito ano em entrou no seu lugar o Sr. D. José.

1715 Em 18 de Janeiro de 1715 eram falecidos o Conde de Valadares D. Miguel Luís de Menezes, D. Felipe de Sousa, João Furtado de
Mendonça, Diogo Luís Ribeiro Soares. Nesta mesma foi eleito o Infante D. Miguel filho de El Rey D. Pedro. Em 11 de Julho do dito
anno era falecido Luís de Miranda e foi provido o seu lugar

1716 Em 18 de Janeiro de 1716 eram falecidos o Bispo do Algrave, o Arcebispo de Évora, o Conde de Avintes, D. Lourenço de Lencastre.
Nesta ocasião foi provido o Sr. D. José filho de El Rey D. Pedro

1717 Em 18 de Janeiro de 1717 eram falecidos D. Francisco da Silveira, Álvaro da Silveira, D. Luís Manoel

1718 Em 18 de Janeiro de 1718 eram falecidos o Bispo de Coimbra D. António de Vasconcelos. Em 6 de Abril do dito ano era falecido o
Conde dos Arcos D. Marcos de Noronha

1719 Em 18 de Janeiro de 1719 eram falecidos D. João Rolim de Moura, o Conde de S. Lourenço, Bernardo de Vasconcelos, o Conde
Meirinho-Mor

1720 Em 18 de Janeiro de 1720 era falecido Francisco de Melo

1721 Em 18 de Janeiro de 1721 eram falecidos o Conde de Castellomilhor, o Marquês de Cascaes, o Marquês de Távora, Luís César de
Meneses, Bartolomeu de Sousa Mexia

Pág. 117
Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1722 Em 18 de Janeiro de 1722 eram falecidos Luís de Saldanha da Ganam Marquês de Minas

1723 Falta o asento de dia 18 de Janeiro, e esta o termo do juramento feito a 22 de Março do dito ano.

1724 Em 18 de Janeiro de 1724 eram falecidos o Marquês de Gouveia D. Martinho Mascarenhas, o Conde da Ribeira D. Luís Manuel da
Câmara. E já a 17 do dito mês e anno se tinha feito eleição do lugar do Infante D. Miguel por ser falecido

1729 Está em falta e a 11 de Março se fez eleição do lugar de D. Lourenço de Almada por ser falecido

1730 A 18 de Janeiro eram falecidos o marquês de Fronteira D. Fernando Mascarenhas D. João Mascarenhas

1731 Em 18 de Janeiro de 1731 eram falecidos o Conde de Avintes D. Luís de Almeida, o Conde de Sarzedas D. Rodrigo da Silveira, Pedro
Sanches Farinha Francisco de Almada

1732 Falta o asento da eleição e tem o termo feito em 26 de Janeiro do anno

1734 Está em falta o acento. Porem a 16 de Janeiro foi provido o lugar de José Pedro da Câmara

2. Relações familiares dos Tesoureiros e Escrivães da Confraria dos Escravos de Santa Engrácia (1690 - 1716)

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

25-11­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Francisco de Monteiro-mór do Reino. Teria o reparo de
1690 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Melo (n. 1659). Azambuja pelo avô paterno. A avó
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da materna, Luísa de Mendonça, era irmã de
Cerveira/ Irmandade dos escravos do Helena de Mendonça, casada com o
Administração Santíssimo Sacramento de Santa Trinchante da Casa Real Pedro da Cunha,
da Casa 1392- irmão da 1.a condessa de Vilar Maior. Do

511 Não procedemos à validação das fontes, tendo apenas consultado, online, os descritivos de cada uma delas, que continham as informações que precisávamos para a elaboração
desta relação.

Pág. 118
Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

1842/ Caixa 21/ Engrácia, da esmola que deu para lado da mãe descendia da Casa puritana
N.° 74512 obras da igreja nova. dos Senhores de Palma (Mascarenhas).
Casa duas vezes: a primeira com uma filha
do 1.° marquês de Alegrete; e a segunda
com uma filha do 1.° marquês de Angeja.

Escrivão: Não refere n.a.

31-05­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: D. Francisco Almirante de Portugal. Teria os reparos de
1691 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila de Castro (n. c. 1650, m. Pinheiro e Zuniga pelo pai e Granada e
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1693). Pinheiro pela mãe. Era primo dos condes
Cerveira/ Irmandade dos escravos do de Figueiró e de Vila Nova de Portimão e
Administração Santíssimo Sacramento de Santa casado com uma filha do porteiro-mór. O
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para filho H. casa na Casa dos condes de
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. Castelo Melhor, com uma sobrinha do 6.°
N.° 79 conde da Calheta, casado com uma filha do
1.° marquês de Angeja.

Escrivão: Luís Saldanha Do Conselho da Guerra. Teria os reparos


da Gama (n. c. 1640, m. de Caiada, Torres e Bobadilha. Casa com
1721) uma filha do 1.° marquês de Sande, irmã do
2.° conde da Ponte. Não tem qualquer
relação familiar com famílias puritanas.

08-01­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Aires de Deputado da Junta dos Três Estados. Não
1693 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Sousa de Castro (n. c. teria reparos, apenas identificadas as
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1660, m. 1699) mesmas bastardias que o marquês de
Cerveira/ Irmandade dos escravos do Arronches. Casa com uma filha de um filho

512 Todas as fontes poderão ser identificadas, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, pela cota: Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. e n.° (neste caso, Cx. 21, n.° 74), ou
pelo Código de Referência PT/TT/VNC/B/Cx. e n.° (neste caso PT/TT/VNC/B/21074).

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Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Administração Santíssimo Sacramento de Santa segundo do 2.° conde de Castelo Melhor,


da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para com os reparos de Caiada e Granada. De
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. famílias puritanas, casa na Casa dos condes
N.° 73 de Castelo Melhor.

Escrivão: Não refere

30-05­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Luís Igual ao descrito como Escrivão em 1691
1699 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Saldanha da Gama (n. c.
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1640, m. 1721)
Cerveira/ Irmandade dos escravos do
Escrivão: Aires de Sousa Igual ao descrito como Tesoureiro em 1693
Administração Santíssimo Sacramento de Santa
e Castro (n. c. 1660, m.
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
1699)
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
N.° 85

10-03­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Luís Igual ao descrito como Escrivão em 1691.
1700 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Saldanha da Gama (n. c.
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1640, m. 1721)
Cerveira/ Irmandade dos escravos do
Escrivão: conde de 3.° Conde de Aveiras. Teria, pelo lado da
Administração Santíssimo Sacramento de Santa
Aveiras (3.°), João da mãe, os reparos de Pinheiro e Talaveira,
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
Silva Telo de Menezes sendo neto materno do 1.° marquês de
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
(n. 1648, m. depois de Cascais. Casa com uma filha do conde de
N.° 83
1726) Soure e o seu filho H. casa, em 1700, com
uma filha do 1.° conde de Alvor.

02-09­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: marquês de 1.° Marquês de Abrantes, 3.° marquês de
1700 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Fontes (3.°), D. Fontes, 7.° conde de Penaguião e
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Francisco Anes de Sá camareiro-mór. Teria os reparos de

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Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte50 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Cerveira/ Irmandade dos escravos do Almeida e Menezes (n. Bocanegra pela via paterna e de Granada
Administração Santíssimo Sacramento de Santa 1676,m. 1733) pela materna. Casa com uma filha do 1.°
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para duque de Cadaval, assim como dois dos
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. seus filhos.
N.° 84
Escrivão: conde de Vila 2.° Conde de Vila Verde, 1.° marquês de
Verde (2.°), D. Pedro Angeja. Puritano. Casa com uma filha do
António de Noronha (n. 1.° marquês de Arronches. O filho H. casa
1661, m. 1731) com uma filha do 4.° conde de Tarouca.

30-12­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde de 3.° Conde de Vilar Maior, 2.° marquês de
1701 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Vilar Maior52 (3.°), Alegrete, gentil-homem da câmara do rei.
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Fernando Teles da Silva Puritano. Casa com uma filha do 3.° conde
Cerveira/ Irmandade dos escravos do (n. 1662, m. 1731) dos Arcos e o seu filho H. casa com uma
Administração Santíssimo Sacramento de Santa filha do 1.° duque de Cadaval.
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
Escrivão: Miguel Puritano. Casa com a H. da Casa dos
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
Carlos53 de Távora, 2.° condes de S. Vicente, com o reparo
N.° 81
conde de S. Vicente (n. Bocanegra, sendo feito 2.° conde de S.
1641, m. 1726) Vicente, motivo pelo qual a sua
descendência deixa de ser puritana.

ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: D. João de 2.° Conde de Assumar. Teria os reparos de
Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Almeida54, 2.° conde de Aragão, Bocanegra e Pinheiro pela via

52 Acreditamos ser este o conde de Vilar Maior em 1701, dado que o seu pai, o 1.° marquês de Alegrete (1641-1709), ainda estaria vivo nesta data, motivo pelo qual é referido
o título menos graduado da Casa, utilizado pelo seu filho H.
53 Vem apenas referido como “Miguel Carlos”, que assumimos ser Miguel Carlos de Távora, 2.° conde de S. Vicente por casamento, e irmão do 1.° marquês de Távora e do 1.°
conde de Alvor.
54 Em 1704 existiam dois “D. João de Almeida” que poderiam ser este Tesoureira: o 2.° conde de Assumar, e o irmão do 3.° conde de Avintes e de D. Tomás de Almeida, 1.°
cardeal patriarca de Lisboa. Não é fácil a opção entre um deles porque, por um lado, estranhamos que o 2.° conde de Assumar não se apresente como tal (dado que terá sido

Pág. 121
Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

30-07­ Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Assumar (n. 1663, m. materna. Casou com uma filha do 1.°
1704 Cerveira/ Irmandade dos escravos do 1733) marquês de Fronteira e não tem qualquer
Administração Santíssimo Sacramento de Santa relação com famílias puritanas.
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
Escrivão: conde da 2.° Conde da Ribeira Grande. Teria o
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
Ribeira Grande (2.°), D. reparo de Pinheiro pela sua avó materna.
N.° 69
José Rodrigo da Câmara Casou com uma princesa estrangeira e o
(n. 1665, m. 1724) seu filho H. casa com uma filha do 9.°
conde de Atouguia, com o reparo de
Bocanegra, mas ligada à casa dos Távoras,
não tendo no entanto qualquer relação de
parentesco com famílias puritanas.

12-11­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: D. Filipe de Capitão da Guarda Alemã. Puritano. Casa
1705 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Sousa (Calhariz) (n. com uma filha do 1.° marquês de Alegrete e
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1666,m. 1714) o seu filho H. com uma princesa de
Cerveira/ Irmandade dos escravos do Holstein-Beck.
Administração Santíssimo Sacramento de Santa
Escrivão: conde de Puritano. Casa com a filha H. da Casa dos
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
Tarouca (4.°), João condes de Tarouca, pelo que é feito 4.°
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
Gomes da Silva (n. 1671, conde de Tarouca. É filho do 1.° marquês
N.° 70
m. 1738) de Alegrete e irmão do 2.° marquês, já
identificado nesta Relação.

30-10­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde de 4.° Conde de Vale de Reis. Teria os reparos
1707 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Vale de Reis (4.°516), de Aragão e Pinheiro, o primeiro pelo avô
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Nuno Manuel de paterno e o segundo pelo materno. Casa em

encartado do título em 1694, de acordo com os índices do ANTT), e por outro, a idade de apenas 29 anos de D. João de Almeida (Avintes). Por estar em desacordo com os
demais, pesa mais a idade como motivo de exclusão, pelo que interpretamos D. João de Almeida como sendo o 2.° conde de Assumar, que aparece como escrivão em 1714.
516 O 3.° conde de Vale de Reis, e pai do 4.° conde, teria morrido quatro dias antes da data deste Conhecimento do pagamento realizado pelo visconde de Vila Nova de Cerveira.

Pág. 122
Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Cerveira/ Irmandade dos escravos do Mendonça (n. 1670, m. 1700 com uma filha do 1.° marquês de
Administração Santíssimo Sacramento de Santa 1732) Angeja, casando o seu filho H. na mesma
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para casa, com uma filha do 2.° marquês.
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
Escrivão: conde de 3.° Conde de Avintes. Teria os reparos de
N.° 78
Avintes (3.°), D. Luís de Aragão e Pinheiro pelo avô paterno, sendo
Almeida Portugal (n. neto materno do 3.° conde de Arcos, sendo
1669, m. 1730) sobrinho, por essa via, do 10.° visconde de
Vila Nova de Cerveira e do 2.° marquês de
Alegrete. Casa com uma sobrinha, filha do
10.° visconde de Vila Nova de Cerveira.

30-12­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde da 5.° Conde da Calheta e reposteiro-mór.
1708 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Calheta (5.°), Afonso de Teria os reparos de Caiada pelo avô
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Vasconcelos e Sousa paterno e de Granada pela avó paterna.
Cerveira/ Irmandade dos escravos do Cunha Câmara Faro e Casa com uma estrangeira e o seu filho H.
Administração Santíssimo Sacramento de Santa Veiga (n. 1664, m. 1734) casa com uma filha do 2.° marquês de
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Angeja.
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
Escrivão: visconde de Puritano. Casa com uma estrangeira. Não
N.° 78
Vila Nova de Cerveira tendo descendência varonil, a sua filha H.
(11.°), D. Tomás de Lima casa com um filho segundo do 2.° marquês
Vasconcelos e Menezes de Alegrete.
de Brito Nogueira (n.
1674)

06-01­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde da Igual ao descrito como Tesoureiro em
1709 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Calheta (5.°), Afonso de 1708.
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Vasconcelos e Sousa

Pág. 123
Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Cerveira/ Irmandade dos escravos do Cunha Câmara Faro e


Administração Santíssimo Sacramento de Santa Veiga (n. 1664, m. 1734)
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
Escrivão: visconde de Igual ao descrito como Escrivão em 1708.
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
Vila Nova de Cerveira
N.° 77
(11.°), D. Tomás de Lima
Vasconcelos e Menezes
de Brito Nogueira (n.
1674)

30-12­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: marquês de 2.° marquês de Minas. Teria os reparos de
1711 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Minas517 (2.°), D. Aragão, Bocanegra e Pinheiro. O filho H.
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da António Luís de Sousa casa com uma estrangeira e o neto H. casa,
Cerveira/ Irmandade dos escravos do (n. 1644, m. 1721) logo em 1712, com uma filha do 4.° conde
Administração Santíssimo Sacramento de Santa dos Arcos.
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
Escrivão: marquês de 2.° Marquês de Fronteira. Teria os reparos
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
Fronteira (2.°), D. de Aragão, Bocanegra e Pinheiro. Casa
N.° 75
Fernando Mascarenhas com uma filha do 9.° conde de Atouguia e a
(n. 1655, m. 1729) sua família não tem qualquer relação de
parentesco com famílias puritanas.

28-11­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde de Igual ao descrito como Tesoureiro em
1712 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Vilar Maior (3.°), 1701.
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Fernando Teles da Silva
Cerveira/ Irmandade dos escravos do (n. 1662, m. 1731)
Administração Santíssimo Sacramento de Santa
Escrivão: conde da Igual ao descrito como Escrivão em 1704.
da Casa 1392-
Ribeira Grande (2.°), D.

517 Vem referido que quem assina o documento não é o marquês de Minas, mas o conde de Vilar Maior.

Pág. 124
Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

1842/ Caixa 21/ Engrácia, da esmola que deu para José Rodrigo da Câmara
N.° 76 obras da igreja nova. (n. 1665, m. 1724)

28-05­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Tesoureiro: Igual ao descrito como Tesoureiro em
1713 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila D. Filipe de Sousa 1705.
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da (Calhariz) (n. 1666, m.
Cerveira/ Irmandade dos escravos do 1714)
Administração Santíssimo Sacramento de Santa
Escrivão: não refere.
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
N.° 71

05-05­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: D. João de Puritano. Eclesiástico e irmão de D. Filipe
1714 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Sousa, prior de de Sousa (Calhariz).
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Guimarães
Cerveira/ Irmandade dos escravos do
Escrivão: Tesoureiro: D. Igual ao descrito como Tesoureiro em
Administração Santíssimo Sacramento de Santa
João de Almeida, 2.° 1704.
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
conde de Assumar (n.
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
1663,m. 1733)
N.° 71

21-11­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde da Igual ao descrito como Tesoureiro em
1716 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Calheta (5.°), Afonso de 1708.
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Vasconcelos e Sousa
Cerveira/ Irmandade dos escravos do Cunha Câmara Faro e
Administração Santíssimo Sacramento de Santa Veiga (n. 1664, m. 1734)
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
Escrivão: Escrivão: Igual ao descrito como Escrivão em 1708.
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
visconde de Vila Nova
N.° 82
de Cerveira (11.°), D.

Pág. 125
Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Tomás de Lima
Vasconcelos e Menezes
de Brito Nogueira (n.
1674)

11-12­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde da Igual ao descrito como Tesoureiro em
1716 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Calheta (5.°), Afonso de 1708.
Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Vasconcelos e Sousa
Cerveira/ Irmandade dos escravos do Cunha Câmara Faro e
Administração Santíssimo Sacramento de Santa Veiga (n. 1664, m. 1734)
da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para
Escrivão: Escrivão: Igual ao descrito como Escrivão em 1708.
1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova.
visconde de Vila Nova
N.° 80
de Cerveira (11.°), D.
Tomás de Lima
Vasconcelos e Menezes
de Brito Nogueira (n.
1674)

3. Resumo e análise quantitativa das Relações

N.° de vezes Relação


N. Puritan
0 Nome Título/ Ofício que ocupa familiar com Reparos
o
um cargo puritanos

1 Francisco de Melo Monteiro-mór 1 Não Sim Azambuja

Pág. 126
Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

N.° de vezes Relação


N. Puritan
0 Nome Título/ Ofício que ocupa familiar com Reparos
o
um cargo puritanos

2 D. Francisco de Castro Almirante de Portugal 1 Não Sim Granada, Pinheiro e


Zuniga

3 Caiada, Torres e
Luís de Saldanha da Gama Conselheiro da Guerra 3 Não Não Bobadilha

4 Aires de Sousa de Castro Deputado da Junta 2 Sim Sim Não tem

5 João da Silva Telo de Menezes 3.° Conde de Aveiras 1 Não Sim Pinheiro e Talaveira

6 Francisco de Sá Almeida e
Menezes 1.° Marquês de Abrantes 1 Não Sim Bocanegra e Granada

7 D. Pedro António de Noronha 1.° Marquês de Angeja 1 Sim Sim Não tem

8 Fernando Teles da Silva 2.° Marquês de Alegrete 2 Sim Sim Não tem

9 Miguel Carlos de Távora 2.° Conde de S. Vicente 1 Sim Sim Não tem

10 D. Filipe de Sousa Capitão da Guarda Alemã 2 Sim Sim Não tem

11 João Gomes da Silva 4.° Conde de Tarouca 1 Sim Sim Não tem

12 Aragão, Bocanegra e
D. João de Almeida 2.° Conde de Assumar 2 Não Não Pinheiro

13 D. José Rodrigo da Câmara 2.° Conde da Ribeira Grande 2 Não Não Pinheiro

14 Nuno Manuel de Mendonça 4.° Conde de Vale de Reis 1 Não Sim Aragão e Pinheiro

15 D. Luís de Almeida Portugal 3.° Conde de Avintes 1 Não Sim Aragão e Pinheiro

Pág. 127
Anexo 5

N.° de vezes Relação


N. Puritan
0 Nome Título/ Ofício que ocupa familiar com Reparos
o
um cargo puritanos

16 Afonso de Vasconcelos e
Sousa 5.° Conde da Calheta 4 Não Sim Caiada e Granada

17 D. Tomás de Lima Brito 12.° Visconde de Vila Nova de


Nogueira Cerveira 4 Sim Sim Não tem

18 Aragão, Bocanegra e
D. António Luís de Sousa 2.° Marquês Minas 1 Não Não Pinheiro

19 Aragão, Bocanegra e
D. Fernando Mascarenhas 2.° Marquês de Fronteira 1 Não Não Pinheiro

20 D. João de Sousa Prior de Guimarães 1 Sim Sim Não tem

33

Conclusões: % Valor Total

N.° de puritanos 40,00% 8 20

Relações com puritanos 75,00% 15 20

N.° de vezes que um cargo é ocupado por um puritano 42,42% 14 33

N.° de vezes que um cargo é ocupado por alguém com relações


com puritanos 72,73% 24 33

Pág. 128
Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

4. Árvore genealógica com as Relações

Pág. 129
ANEXO 6: A casa “real” da Mouraria: o contributo de Pedro Silva
Miguel518

Há muito ainda por


estudar sobre o impacto do
Terramoto de 1755 na vida
palaciana lisboeta, sabendo-
se apenas que, dado o nível
de endividamento das
Figura 1- F achada Sul do palácio da M ouraria («Q uarto novo») nos an o s 40 do século XX fam ílias aristocráticas
portuguesas, e na impossibilidade de reconstruirem os seus palácios, muitas «passaram a habitar
palácios que funcionavam até então como segunda residência e que se situavam nos arredores
da cidade»519, das quais os Mourarias serão também exemplo.

Sobre os vestígios do outrora imponente palácio da Mouraria, extrapolou-se que este


teria tido mais um andar - através na desproporcionalidade do edifício principal face ao arco
que o unia ao «Quarto velho» - tendo sido Pedro Silva Miguel o primeiro a sugerir, através da
observação de uma gravura de Lisboa, da autoria do gravador Zuzarte, a existência de, não
apenas um, mas dois andares acima do corpo principal do palácio, que terá sobrevivido ao
Terramoto.

518 A presente descrição baseia-se no trabalho desenvolvido por Pedro Silva Miguel, Descobrir a dimensão
palaciana de Lisboa na primeira metade do século XVIII. Titulares, a Corte, vivências e sociabilidades, Vol. II.
Lisboa: [s.n.], 2012. Dissertação de Mestrado em História Moderna, pp. 6-13. As fontes e imagens utilizadas
poderão, também, ser encontradas no mesmo estudo.
519 Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo, «As Grandes Casas», In, Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), «A
Idade Moderna...», p. 209.

Pág. 131
Anexo 6

Por entre as ruas estreitas da Mouraria erguer-se-ia, assim, um imponente palácio, casa
de uma reputada família da Corte portuguesa e símbolo de poder e prestígio de uma Casa
aristocrática que tão bem o soube capitalizar, aliando-o a um modelo de reprodução social que,
apesar de amplamente criticado, foi sendo silenciosamente procurado e seguido pela demais
aristocracia portuguesa.

Pág. 132

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