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A competição antilhana e a crise da segunda metade do século XVII

Hanson, Carl. “Recessão e recuperação nas colônias (I parte)”. In: Hanson, Carl.
Economia e sociedade no Portugal barroco, 1668-1703. Lisboa: Dom Quixote, 1986,
p. 229-260.
V. Alteza tem alfândegas, tem consulados, tem almoxarifes, tem esta[n]cos, tem
Mestrados, tem Reais de agoa, sizas, portos secos e molhados, bens confiscados, e as
rendas da Coroa, e outras miudezas, q. os Reys paçados não tinhão: e elles forão Ricos,
e V. Alteza pobre.

(Pe. António Vieira, S. J. , circa 1675)


Fonte: Schwartz, Stuart. Segredos internos. Engenhos e escravos na sociedade colonial. 1988. P. 152.
• Crise econômica da primeira metade do XVII
 Guerra dos 30 Anos
 Devastação e penúria: más colheitas (clima)

• Fim da União Ibérica (1640)


 Estado de guerra, e não reconhecimento diplomático
 Ataques aos navios brasileiros, 1647-48
 Companhia Geral do Comércio do Brasil: 1649
– Sistema de frotas
– Monopólio: farinha, bacalhau, azeite e vinho; pau-brasil
– Cobrança de impostos: açúcar, algodão e tabaco

 Imposto para o dote de D. Catarina de Bragança (1662)

 Paz com Espanha (1668) e com holandeses (1669): impostos


• 1670-1690 – recessão geral na Europa

 níveis dos preços desceram acentuadamente, até 1680

 insuficiência de metais preciosos

 falta de capital

 guerras circunscritas: pilhagens

 queda do crescimento demográfico

 epidemias

 “pequena idade do gelo”: produção de alimentos


• Portugal
 Déficit na balança de pagamentos
 1688, dificuldades em pagar soldos atrasados dos militares
 Dívidas dos tratados com Inglaterra (aliança de casamento de 1662) e Holanda
(tratado de 1669)
• O Açúcar e a crise econômica

 Retardamento do embarque, prejudicando a qualidade do açúcar


 Progressivo crescimento da concorrência antilhana
 Baixa do preço do açúcar e fumo
 Alta dos preços da importação europeia
 Declínio da prata espanhola
 1680: fundação de Sacramento
 Crise monetária no Brasil e Angola: comerciantes de Lisboa e Porto preferem ser
pagos em moeda, e não em açúcar
 Década 1680: varíola em Angola e febre amarela no Brasil
• A percepção da crise:

• (...) Este ano deixaram de moer muitos engenhos, e no seguinte haverá muito poucos
deles que se possam fornecer. Aconselham os mais prudentes que se vista algodão, se
coma mandioca, e que na grande falta que há de armas se torne aos arcos e frechas,
com que brevemente tornaremos ao primitivo estado dos Índios, e os Portugueses
seremos brasis... (Carta do Pe. Antonio Vieira para Diogo Marchão Temudo, 13 de
julho de 1689. In: João Adolfo Hansen, org., Cartas do Brasil, p. 583)

• (...) vai esta frota mais carregada de queixas que de caixas (...) (Carta do Pe. Antonio
Vieira a Roque da Costa Barreto, 23 de junho de 1683)

• Assim que com estas duas sangrias tão continuadas se tem debilitado de sorte este
grande corpo, que por falta de dinheiro nem os naturais têm quem lhes compres os seus
gêneros, nem com que comprar as fábricas tão custosas e necessárias para eles; e será
força que não só se diminua mas pare e cesse totalmente a cultura; e que sejam estas
terras, tão opulentas e tão férteis para si e para o Reino, as mais estéreis, sem falar no
caso da guerra, de que o dinheiro é o nervo. (Carta do Pe. Antonio Vieira ao duque de
Cadaval, 1º de julho de 1692).
• (...) Angola ardendo em peste de bexigas e quase despovoada. Esta costa novamente
infestada de corsários, que tomaram o nosso provincial, e na terra muitas doenças com
freqüentes e arrebatadas mortes: tudo lástimas e desenganos (...). (Carta do Pe. Antonio
Vieira ao conde de Castanheira, 20 de junho de 1685).

• Morreram mais, das pessoas conhecidas nessa corte, o tenente-general e cinco ou seis
desembargadores (...). A maior perda foi a do nosso arcebispo, com que ficam estas
ovelhas sem pastor (...). Em um e outro Colégio morreram doze religiosos da
Companhia, e os demais todos caíram uma e mais vezes (...) (Carta do Pe. Antonio
Vieira ao conde de Castanheira, 1º de julho de 1686)
• Vieira: a percepção da crise, mesmo antes da saída dos holandeses: “Meos para Portugal
se fazer opulento e poderoso”, de 1643.

• 1) necessidade de eficiência na administração dos recursos existentes


 Compra criteriosa de mercadorias
 Soldados bem treinados e uso de mercenários
 Admissão de católicos ingleses nas colônias

• 2) expansão e aperfeiçoamento da construção naval portuguesa


 Controle de tonelagem mínima e armamento
 Escravos usados na construção naval
 Ferro de SP para prover artilharia
 No final, aumento das exportações navais

• 3) liberalização das restrições contra os cristãos-novos


 Perdão geral = retorno de capitais
• 4) maior exploração das riquezas minerais das colônias
 Minas de ouro de São Paulo e rio Zambeze
 Proventos financiariam armamentos de navios e a criação de companhias de
mercadores

• 5) redução das hostilidades com os adversários de Portugal


 Pessimista com as chances de Portugal derrotar Espanha e Holanda

• Reação mercantilista:

• D. Luis de Meneses, 3º conde da Ericeira


 1675, vedor da Fazenda = superintendente das oficinas e fábricas do reino
 Suicídio, 1690
• Tentativa de promover a indústria têxtil (lã e seda): protecionismo, busca de artífices no
exterior

• Expansão econômica:
 Sal
 Azeite
 Vinho
 Desvalorização da moeda
 Embargo inglês aos vinhos franceses

• Leis suntuárias: importação de luxo


• 1688, desvalorização da moeda, 20%
• Exploração: mineração, metalurgia e construção
• Ações concretas:

• Exploração em busca de metais preciosos, a partir de 1670


 Nomeação de Afonso Furtado para governador geral (1671-75)
 Ouro de Paranaguá
 D. Rodrigo de Castelo Branco, 1673-1682

• Expansão do tabaco: 1674, Junta da Administração do Tabaco


• Colônia do Sacramento e a prata de Potosi
• Cultura de especiarias
 (...) com a chegada do governador da Índia, Antônio Pais de Sande, à árvore da
canela se tem acrescentado outras cinco, com que esta nova lavoura irá muito por
diante (...). (Carta do Pe. Antonio Vieira a Roque da Costa Barreto, 24 de julho de
1682)
• Comércio de escravos da Guiné: estanco perdido em 1640, parcial em 1693,
integral em 1696, perdido para França em 1701.
Schwartz, p. 167 .
• Bibliografia:

• Hansen, João Adolfo (org.). Cartas do Brasil. São Paulo: Hedra, 2003.
• Hanson, Carl. Economia e sociedade no Portugal barroco, 1668-1703. Lisboa: Dom
Quixote, 1986
• Schwartz, Stuart, e Pécora, Alcir (orgs.). O panegírico fúnebre a D. Afonso Furtado, de
Juan Lopes Sierra (Bahia, 1676). São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

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