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EXERCÍCIO EM GRUPO – ESTUDO DE CASO

DADOS ENCONTRADOS NOS AUTOS PROCESSUAIS


Do requerimento
Maria de Jesus, 62 anos, solteira, cuidadora de idosos, residente a Rua das Flores,
n. 10, requer ação de curatela em face de Olívia da Silva, 92 anos, viúva, residente a Rua
das Arvores, n. 20.

Dos fatos narrados


Maria de Jesus, a requerente, é cuidadora de Olívia da Silva, a requerida, há 07
anos, período em que vem cuidando das movimentações bancárias e pagamento das
contas e demais despesas da requerida. Além disso, é responsável pelo acompanhamento
médico e pelo atendimento das necessidades básicas da requerida, como alimentação e
necessidades fisiológicas.
Conforme laudo médico, a requerida é portadora de síndrome de imobilidade e
déficit cognitivo, isto é, é portadora de doença limitante, desse modo cabe à requerente a
responsabilidade de lhe fornecer todos os cuidados especiais de que necessita.
Ressalta-se que a requerida não possui parentes na cidade onde mora e todos os
familiares próximos vieram a falecer. Atualmente Sra. Olívia recebe aposentadoria no valor
de R$ 2670,00, cabendo à requerente administrá-lo. A requerida é proprietária do imóvel
onde mora.
A requerente é pessoa idônea, com saúde física e mental suficientes para exercer a
curatela. A esse fato, acrescenta-se que a requerente se encontra favoravelmente vinculada
à requerida, já que, como dito, é sua cuidadora há 07 anos. É, portanto, a pessoa mais
indicada para exercer a curatela da requerida. Tudo isso lhe permite ingressar com ação
judicial para a finalidade mencionada.
A requerente está ciente de que, caso venha assumir a curatela da requerida,
deverá prestar contas das despesas da requerida, inclusive se a requerida venha a ter
algum ganho financeiro.
Pelo exposto, pede curatela de urgência e definitiva.
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A partir das informações processuais, o Juiz solicitou esclarecimentos sobre a
alegação de que “a requerida não possui parentes na cidade onde mora e todos os
familiares próximos vieram a falecer” (sic), afim de confirmar a inexistência suposta de
parentes da requerida. A requerente apresentou certidões de óbito do marido, do filho e dos
irmãos da requerida, atestando a inexistência de familiares vivos.
Despacho do Juiz: determinou avaliação psicológica e social.
AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL
Visita domiciliar
A visita domiciliar foi realizada pela psicóloga do setor técnico do Judiciário. Ao
chegar à casa da requerida se verificou que se trata de imóvel localizado em esquina
movimentada da cidade. É uma casa de madeira, antiga e relativamente pequena
(aproximadamente 80m2), embora em um terreno de 200m 2, segundo a requerida. Há um
amplo espaço no fundo da casa, onde haviam muitas folhas caídas ao chão, de árvores
frutíferas que, segundo a requerente, “não dá fruta há anos” (sic).
Ao chegar no portão de casa notou-se que estava fechada com duas correntes e
dois cadeados. A campainha não funcionou. Após ser chamado o nome da requerida por
várias vezes, a requerida, Sra. Maria, foi quem apareceu e recebeu a profissional do
judiciário no portão. Foi possível perceber que a requerida se encontrava em um sofá em
frente à porta da sala, e estava interessada em saber quem havia chegado. Depois,
constatou-se que ela não conseguiu se aproximar porque os 3 degraus em frente a porta da
sala dificultavam sua aproximação. Percebeu-se que a requerida tem mobilidade
consideravelmente reduzida.
A psicóloga perita manifestou interesse em conversar com a requerida e conhecer
sua casa, sendo, então, convidada para entrar. Sra. Maria apresentou dificuldade para
retirar os cadeados e correntes do portão. Explicou que se trata de segurança, pois logo
abaixo da residência é um “lugar perigoso”, (sic) disse.
No interior da casa se observou que Sra. Olívia estava deitada em um sofá de 2
lugares. A sala possui outros dois sofás, rack, televisão e uma caixa de sapato com
medicamentos. Havia também uma foto antiga pendurada na parede, além de objetos
diversos: pentes, panos, linhas, tesoura. A casa tinha um “cheiro forte”, como se estivesse
fechada por muito tempo.
A requerente contou que há 10 anos cuida da Sra. Olívia. Disse que elas são
vizinhas há muito tempo, no entanto não sabe precisar quantos anos, supõe que seja mais
de 40 anos. Na época que a Olívia veio para cidade seu marido era vivo e tinha um filho,
que faleceu aos 45 anos de causa desconhecida, acredita que seja “infarto fulminante” (sic).
Resgatou entre vários papéis desordenados e guardados em grande baú junto com
pedaços de tecido, a certidão de óbito do filho de Sra. Olívia. De acordo com a requerente o
marido também faleceu de “infarto fulminante” (sic).
A psicóloga perita perguntou sobre a saúde da Sra. Olívia, sobre os “problemas de
saúde” dela. A requerente ficou confusa e disse que “não sabe bem o que ela tem”, mas
que ela tem "bactéria na cabeça”, “tem tontura e visão e toma gardenal” (sic).
E como é o dia a dia de cuidados com a Sra. Olívia, perguntou a psicóloga? A
requerente respondeu que ela dá muito trabalho: “não quer usar fralda, não come arroz e
feijão e macarrão, tem que ficar fazendo várias misturas para ela, joga fora a comida que eu
coloco, faz xixi e coco fora do lugar, não come nada, só bolacha”. Continuou, “eu coloquei
uma cadeira, tirei a tampa, coloquei uma escoro pra ela sentar, mas a Olivia senta na
beiradinha e faz coco tudo no chão, fora do penico, toca eu limpar” (sic).
__ Mas eu vi que ela é aposentada.
__ Sim, ela é e recebe ainda pensão do marido. Eu vou lá comprar uma cadeira
furada pra ela…ela tem o plano funerário também, eu vou lá ver essa cadeira pra ela.
A respeito da rotina das duas em casa, Sra. Maria contou que ficam em casa a
maior parte do tempo, porque “ela não pode se locomover sozinha” (sic). Ficam assistindo
televisão.
A psicóloga notou marcas roxas nos braços da requerida e perguntou o que eram.
“Não sei, ela deve ter batido”. Continuou o assunto, e perguntou a requerente sobre o
acompanhamento médico da Sra. Olívia. Sra. Maria respondeu que a leva no posto de
saúde e no pronto socorro e que na última vez foi detectado que ela está com problema no
coração e que ia passar no cardiologista.
__ Quando ela vai passar no cardiologista? perguntou a profissional do judiciário.
__ Ainda não marcou. A médica vai encaminhar.
__ Quando?
__ Não sei ainda. Vou lá ver.
__ Ela toma alguma medicação para o coração?
__ Não.
__ E como a Sra. faz para leva-la ao médico?
__ Minha filha tem carro e nos leva.
__ Sua Filha mora onde?
__ Mora do outro lado da cidade, mas tem que ser ela porque ambulância não vem
até aqui.
__ Estou compreendendo que a Sra. passa bastante tempo aqui. Onde mora?
__ Moro aqui.
__ O endereço que consta nos autos é outro.
__ Sim, lá eu morava, mas agora moro aqui.. é pertinho, ali na outra esquina.
__ E agora sua casa fica vazia? Não, minha família mora lá.
__ A casa é da Sra.? Não, é do dono, mas ele morreu, vamos entrar com processo
de usucapião.
__ Viu, eu fiquei toda atrapalhada quando veio a outra mulher aqui, respondi tudo
errado pra ela.
__ O que você disse de errado?
__ Minha cabeça anda atrapalhada. Eu tinha acordado cedo e tava na fila do
mercado e não consegui responder pra ela.
__ Entendi. Mas quando a Sra. precisa sair, ela fica com quem?
__ Como ela dorme muito, eu deixo ela dormindo.
Nesse momento, a Sra. Olívia, que, devido ao seu quadro de saúde praticamente
não fala, disse: __ Dorme pouco.
Continuou a psicóloga: __ Porque a Sra. resolveu entrar nesse momento com o
processo?
__ Porque veio uma mulher aqui e queria levar ela pro asilo e ela (apontando para a
idosa) me fez um pedido de que queria morrer na casa dela, nessa casa.
Sra. Olivia disse: Essa casa…que casa é essa? que lugar é esse? Papai… cadê
meu papai? Apontando para a foto na parede.
__ Então, ela me pediu isso, que queria morrer aqui, eu só estou atendendo ao
desejo dela.
Os outros cômodos da casa não são visitados, mas identificou-se que são
separados por degraus.
Exercício

1- Qual a impressão sobre as informações obtidas via processo?


R: A impressão foi que a Requerente Maria foi contraditória em diversos momentos
e negligente quanto aos cuidados com a Requerida Olivia.

2- Após discussão, o que o grupo considera pertinente objetivando o cumprimento


da determinação judicial?
R: Uma investigação aprofundada quanto as contradições relatadas pela
Requerente Maria durante a “visita domiciliar” através de uma avaliação psicológica.
E uma avaliação psicológica para Sra. Olívia para averiguar se de fato há
incapacidade por parte desta.

Exercício

1- A partir da leitura do procedimento “Visita Domiciliar”, qual foi a impressão do


grupo?
R: Tendo em vista a análise feita do procedimento “visita domiciliar”, a impressão foi
de que a Sra. Olívia vive em situações precárias, em ambiente sujo, sem suportes
adequados para sua locomoção, os cuidados com a sua saúde é negligenciado e
aparentemente vive em cárcere privado.

2- Quais procedimentos o grupo considera viáveis após esse primeiro contato?


R: Uma investigação aprofundada quanto as impressões relatas acima.

3- Construção de documento que responda a demanda judicial.


LAUDO PSICOLÓGICO

1 – Identificação

Nome: Maria de Jesus


Idade: 62 anos
Estado Civil: Solteira
Finalidade: Ação de curatela em face de Olívia da Silva

2 – Descrição da Demanda

Maria de Jesus (requerente), é cuidadora de Olívia da Silva (requerida) há 07 anos,


período em que vem cuidando das movimentações bancárias e pagamento das contas e
demais despesas da requerida. Além disso, é responsável pelo acompanhamento médico e
pelo atendimento das necessidades básicas da requerida, como alimentação e
necessidades fisiológicas.
Conforme laudo médico, a requerida é portadora de síndrome de imobilidade e
déficit cognitivo, isto é, é portadora de doença limitante, desse modo cabe à requerente a
responsabilidade de lhe fornecer todos os cuidados especiais de que necessita.
Ressalta-se que a requerida não possui parentes na cidade onde mora e todos os
familiares próximos vieram a falecer. Atualmente Sra. Olívia recebe aposentadoria no valor
de R$ 2670,00, cabendo à requerente administrá-lo. A requerida é proprietária do imóvel
onde mora.
Pelo exposto, a requerente Maria de Jesus ingressou com pedido de curatela de
urgência e definitiva.

3 – Métodos e Técnicas:

4 – Conclusão:

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