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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Este trabalho é parte de uma pesquisa em desenvolvimento que investiga a política de
arquivos a partir de indicadores de preservação e acesso ao patrimônio arquivístico das
universidades integrantes do Sistema de Gestão de Documentos e Arquivos da
administração pública federal, dentre os quais se encontram alguns indicadores do serviço
de arquivo da Universidade Federal de Uberlândia. Esta análise é importante, pois, são
comuns os relatos que denominam o arquivo desta ou daquela universidade como um
“arquivo morto”, contendo amontoados de documentos sem organização e em processo
de constante deterioração. Para realização desta etapa da pesquisa foi empreendida uma
revisão bibliográfica, cujo levantamento de dados se deu nas plataformas da Biblioteca
Brasileira de Teses e Dissertações do IBICT, na Base de Dados em Ciência da Informação
(BRAPCI) e Informação Arquivística, tendo como marco a lei 8.159, de 08 de janeiro de
1991. Paralelamente, foram levantadas informações como observador participante, tendo
em vista a atuação profissional de um dos autores em Arquivos. Finalmente, efetivou-se
uma análise documental, particularmente no Relatório de Diagnóstico Geral do Setor de
Arquivo Geral da Universidade Federal de Uberlândia, protocolado nesta instituição no
ano de 2016. Até o momento, a pesquisa tem evidenciado que, assim como em outros
sistemas de arquivo do país, diversas dificuldades estão relacionadas à governança do
Arquivo Nacional, no que tange aos serviços arquivísticos deste Sistema de Arquivos da
Administração Pública Federal, no qual as universidades federais estão contempladas.
ABSTRACT
This work is part of a research in progress that investigates the archives policy based on
indicators of preservation and access to the archival heritage of the universities that are
part of the Public Management System for Documents and Archives of the federal
administration, among which some indicators of the archive service of the Federal
University of Uberlândia. This analysis is important, as reports that call the archive of
this or university as an “archive”, containing unorganized piles of documents in a process
of constant deterioration are common. To carry out this stage of the research, a literature
review was undertaken, data collection took place on the platforms of the Brazilian
Library of Theses and Dissertations of the IBICT, in the Database on Information Science
(BRAPCI) and Archival Information, with the framework of law 8.159 , January 8, 1991.
At the same time, information was collected as a participant observer, in view of the
professional performance of one of the authors in Archives. Finally, a documental
analysis was carried out, particularly in the General Diagnosis Report of the General
Archive Sector of the Federal University of Uberlândia, filed at this institution in 2016.
So far, the search has shown that, as in other systems of The country's archive, several
difficulties are related to the governance of the National Archive, with regard to the
archival services of this Federal Public Administration Archives System, no federal
qualifications are contemplated.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo é parte de uma pesquisa de mestrado que tem como objetivo analisar a
política de arquivos sob a base de indicadores de preservação e acesso do patrimônio
arquivístico das universidades integrantes do Sistema de Gestão de Documentos e
Arquivos da administração pública federal. Sistema de arquivos criado em 2003 pelo
Decreto 4.915, de 12 de dezembro de 2003 (BRASIL, 2003), e que tem como finalidade
preservar e dar acesso aos documentos de arquivo dos órgãos e entidades do Poder
Executivo Federal (PEF).
Ademais, foi motivo para realização deste estudo as indagações de um dos
autores1 deste texto sobre o modelo de organização dos arquivos das universidades
públicas federais, tendo em vista sua observação do desenvolvimento das atividades do
1 Alex Fernandes de Oliveira atua como Arquivista há 5 anos no arquivo central da Universidade
Federal de Uberlândia, executando funções de classificação, avaliação e destinação final de documentos de
arquivo, o que viabilizou a aplicação do método de observação participante, como preconiza o autor ABIB
e et al (2013).
2 METODOLOGIA
Para a análise foram levantadas referências no campo das políticas públicas.
Especificamente, observou-se o âmbito da política setorial de arquivos e de patrimônio
2 Conforme Jardim (2011, p. 1583) são “unidades administrativas incumbidas das funções
arquivísticas nos diversos órgãos da administração pública, no âmbito dos quais se configuram como
atividade-meio [...]”.
3 Conforme Jardim (2011, p. 1583) “considera-se instituições arquivísticas públicas aquelas
organizações cuja atividade-fim é a gestão, recolhimento, preservação e acesso de documentos produzidos
por uma dada esfera governamental (ex.: o Arquivo Nacional, os arquivos estaduais e os arquivos
municipais.)”.
como a relação deste sistema como outros, que integram o Sistema Nacional de Arquivos
(SINAR), como os sistemas estaduais e municipais.
Estados como Rio Grande do Norte, Espirito Santo, Pará, Sergipe, Rio Grande do
Sul, Bahia e São Paulo estabeleceram durante a década de 1980 no âmbito de seus órgãos
e entidades a organização de seus arquivos a partir de modelo de sistemas, sendo o sistema
do estado de São Paulo o único que foi efetivamente implementado (JARDIM, 2011 p.
1590).
Podemos dizer também que este processo culminou na criação do próprio Sistema
Nacional de Arquivos (SINAR), efetivamente implantado com a promulgação da lei
8.159, de 08 de janeiro de 1991, a Lei de Arquivos.
Ressalta-se que essa política perdeu força na própria UNESCO nesta mesma
época devido as características diversas dos estados federados em países
subdesenvolvidos.
lei de arquivos, tanto para mostrar suas benesses como também as consequências
negativas.
Pelo lado positivo, Assis et al (2016) demostrou que o sistema de arquivos do
estado de São Paulo possui uma boa adequação a política estadual de gestão documental,
demostrando em sua pesquisa que a instituição arquivística do estado tem instrumentos
para monitorar o atendimento as definições de sua política.
Criado pelo Decreto 22.789/1984, este sistema possui desde a década de 1980 a
produção e atualização de diagnósticos da situação arquivística de seus órgãos e uma
política de recolhimento que abarca grandes frações da documentação por eles
custodiados, como o “Programa de Gestão Documental Itinerante” que busca avaliar e
recolher a documentação acumulada até a década de 1940 (ASSIS e et al., 2016 p. 5).
Por outro lado, Cortes (1996) analisou os arquivos públicos estaduais nos
primeiros anos de promulgação da lei de arquivos e demostrou em sua pesquisa que não
existia política de recolhimentos periódicos nas instituições arquivísticas estaduais do
país, condição essencial para que os arquivos possam integrar o próprio SINAR.
Mais recentemente, Jardim (2018) levantou que apenas 1/3 dos ministérios do PEF
possuem arquivos permanentes, além de constatar também que há serias fragilidades no
procedimento de recolhimento de documentos neste sistema.
Jardim (1995, p. 40) já alertava desde a primeira metade da década de 1990 que
“o modelo de sistema proposto se mostra caracterizado por um alto grau de centralização,
aproximando-se mais dos modelos de estado unitário do que de federal”, o que contrasta
como o que Hochman e Faria analisam sobre um estado federado. Para estes autores “uma
característica central do federalismo é garantir simultaneamente a unidade e a
diversidade” (HOCHMAN E FARIA, 2013 p. 35).
Essas grandes diferenças entre os sistemas de arquivos país, tanto os estaduais
como dentro do próprio sistema de arquivos do PEF, evidenciam um contraste muito
acentuado sobre a unidade arquivística necessária para o funcionamento de um
mecanismo adequado de formação e acesso do patrimônio documental do país.
muita luta social e política. Pode-se dizer inclusive que a pesquisa começa a figurar no
caminho universitário apenas 15 anos mais tarde, com a implantação da Universidade do
Distrito Federal (UDF), em 1935.
Segundo Favero (2006, p. 25) “A UDF surge com uma vocação científica e
estruturante totalmente diferente das universidades existentes no país, inclusive da USP”,
pois foi fundada sob influência dos debates surgidos da criação da URJ, principalmente
na Associação Brasileira de Ciência (ABC) e na Associação Brasileira de Educação
(ABE), e que permearam a intelectualidade nacional e foram fundamentais para as bases
de constituição desta instituição.
Entretanto, imergida em um ambiente político extremamente conturbado, pelo
surgimento do Estado Novo de Getúlio Vargas, tendo neste momento a formação de um
regime autoritário no país, a UDF acabou sendo extinta e seus cursos incorporados à
Universidade Brasil (UB), criada com características diversas desta primeira.
Após a redemocratização, em 1946 começa a ressurgir as primeiras manifestações
de autonomia universitária, como constante no decreto-lei 8.393, de 17/12/1945, o qual
“concede autonomia administrativa, financeira, didática e disciplinar a UB, e dá outras
providências”. Desse período em diante, o país vê o surgimento de novas outras
instituições universitárias ao estilo da anteriormente citada UB, com previsão legal de
respeito a sua autonomia, mas que na prática são sempre suscetíveis as intemperes
políticas, como ocorre no período militar, em que tanto a liberdade acadêmica como o
próprio número de instituições criadas descressem consideravelmente.
Com a reforma administrativa do estado, a partir da década de 1990 as instituições
privadas passaram a conquistar espaço neste mercado, o que não favoreceu sua expansão
para as diversas comunidades do país, tendo em vista os altos custos para criação e
manutenção destas instituições em regiões não atrativas para a iniciativa privada.
Como consequência, o tema sobre o acesso a estas instituições permeou a
sociedade, sendo que somente no início da década de 2000 o Ministério da Educação
elaborou o Plano Nacional de Educação (PNE 2001 – 2010), que segundo Roncaglio
(2016, p. 5) estabelecia “metas que exigiam o aumento dos investimentos nessa área e
buscavam a ampliação do número de estudantes atendidos em todos os níveis da educação
superior”.
Em primeiro momento, este plano buscava interiorizar estas instituições no país.
Posteriormente, foi lançando o Programa de Apoio a reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (REUNI), programa iniciado em 2003 (MINISTÉRIO DA
de trabalho neste serviço de arquivo que conduza a seleção dos documentos de cunho
permanente/histórico.
Outra possível causa de não atendimento a política de arquivos está relacionada a
grande quantidade de documentos que já poderiam ser eliminados por este serviço. O
relatório traz que a partir dos instrumentos de classificação e temporalidade, em meio ao
quantitativo total de documentos custodiados por este setor, cerca de 23,55% possuíam
prazo de vigência esgotados, ou seja, documentos possíveis de eliminação (MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA, 2014).
Este trabalho não era realizado pois até então não havia a aplicação dos
instrumentos arquivísticos de classificação e avaliação na documentação acumulada, as
denominadas tabelas de temporalidade e destinação final de documentos de arquivo.
Segundo Bellotto (2006, p 38) “Elas é quem ditam a destruição racional de documentos
rotineiros, segundo os diferentes prazos nelas fixados”.
Desde então, e partir da institucionalização das bases para a classificação e
avaliação dos documentos desta universidade, pela Portaria da Reitoria n.1.324/2019,
esse serviço de arquivo tem estabelecido rotinas de seleção dos documentos acumulados
em seu deposito de arquivos, seja para a guarda permanente ou para eliminação dos
destituídos de valor, conforme é estabelecido no inciso III do art. IX do Decreto 10.148,
de 02 de dezembro de 2019.
Art. 9 [...]
III - orientar as unidades administrativas do seu órgão ou entidade,
analisar, avaliar e selecionar o conjunto de documentos produzidos e
acumulados pela administração pública federal, tendo em vista a
identificação dos documentos para guarda permanente e a eliminação
dos documentos destituídos de valor;
[...]
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Jardim (2018, p. 43) “governança arquivística […] compreende
necessariamente ações transversais ao contexto arquivístico com um forte dinamismo
relacional com outras agências, políticas e programas no campo da informação estatal
[...]”. Nesse sentido, os resultados obtidos até o presente momento com a revisão
bibliográfica, a observação participante e a análise documental, permitiram algumas
inferências preliminares.
Inicialmente, estes dados indicam que não há uma inter-relação do Arquivo
Nacional com outras agências de transparência do estado, o que poderia favorecer a
disseminação e valorização da política de arquivos no cenário político nacional.
Percebeu-se também que há um descompasso arquivístico entre estas instituições, sendo
esse desacerto não restrito apenas as universidades. Este aspecto parece se configurar
como um sintoma de algumas carências na política de arquivos, visto que há grande déficit
de profissionais dessa área, no âmbito deste sistema como um todo. Outro aspecto é que,
até o momento, o sistema não possui métodos de fiscalização de suas determinações e,
portanto, não vê oficialmente esse dado como um problema.
O Decreto 4.915/2003, que dispõe sobre o Sistema de Gestão de Documentos
Arquivos da administração pública federal, traz como finalidade:
condução central e coesa do Arquivo Nacional sobre os serviços de arquivo dos órgãos
integrantes deste sistema. O que contrasta com o próprio declínio deste formato de
política, que até década de 1980 era incentivado pela UNESCO, mas perdeu força nesta
mesma época devido as características diversas dos estados federados em países
subdesenvolvidos.
Assim como o serviço de arquivo observado, percebeu-se pela literatura analisada
que os problemas referentes a preservação e acesso ao patrimônio arquivístico de outros
serviços de arquivo, seja da administração pública federal ou dos estaduais, também tem
muito a ver com a fraca gestão da autoridade arquivística daquele ente.
Seria necessário municiar o debate sobre a importância do fortalecimento destas
instituições com mais dados referentes aos serviços de arquivos das instituições que
compõem estes sistemas. Aspecto o qual este artigo pretende contribuir, tendo em vista a
importância das universidades federais para o Sistema Nacional de Arquivos.
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