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p ro d u ç ã o : - 1 D IR E C Ç Ã O N A C IO N A L DE C U LT U R A
: — S E R V IÇ O N A C IO N A L
PI DE M U S E U S E A N T IG U ID A D E S
A v . Ho C h i M in , 1233, M a p u to
c o o rd e n a ç ã o : Q j i P A U LO SOARES
fo to g r a fia s : 5 JOSÉ C A B R A L
J SÉ RG IO S A N T IM A N O
desenho R?
na c a p a : W M ALA N G ATAN A
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g r á fic o : »T J Ú L IO N A V A R R O HAROLD 8.
Oj BR IG HA M YOUNG U N IV W S IT Y
c o m p o s iç ã o , /
a c a b a m e n to : I | IM P R E N S A N A C IO N A L PROVO. UTAH
m o n ta g e m ||
im p re s s ã o : j' li T IP O G R A F IA A C A D É M IC A
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Sumário
valorização da música e canção tradicional
— Paulo Soares
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MACUOTE (4) a m úsica co m eç av a n a to n alid ad e d e F á M aior
(sust.) p a ssa n d o p a r a Si M aior, com p assa g en s ém
Sol sustenido M enor, atin g in d o à s vezes, Mi Maior,
p a ra depois, n u m a c a d ê n c ia em Dó sustenido M aior
voltar a F á sustenido M aior. Portanto, variaçõ es p er
feitam ente cabíveis dentro d a h arm onia tonal tra
dicional.
A o rg an ização m elódica e harm ónica d estas o b ras
E stas diversificações d e nom es têm íntim a relação exige um conhecim ento prático profundo pois n ão
com o som de c a d a flauta, surgindo conforme o podem os esq u e cer q u e c a d a instrum entista tem a p e
núm ero e q u alid ad e d e sons em itidos. nas d u a s a cinco n o tas tocadas ac resc en tad as d as
P a ra a afin ação do instrum ento e determ inação cantadas e q u e o conjunto dos vinte e cinco toca-
d a s notas, a s flautas são d o ta d a s d e anéis no bocal, dores-cantores é q u e constrói a arq u ite ctu ra poli-
um ou m esm o dois, q u e n a m aior p arte d es casos fónica q u e eclode n a execução. O ritmo b aseia-se
são aju stad o s com alc a trã o ou cera, m atérias que num com passo tern ário com posto, v aria n d o no meio
os colam e não deixam p a ssa r o a r entre os aros p a ra um tern ário sim ples m as com a s acen tu açõ es
e a p a re d e interior do tubo. Os instrum entos e seus por vezes alte rn a d a s, m ais ou m enos à b a s e d e dois
com ponentes obedecem a determ inado p a d rã o a c ú s com passos p o r tem po forte.
tico. As dim ensões do interior do tubo e d a em bo No p a n o ra m a g eral d a o b ra tem os u m a «cadenza»
c a d u ra d ependem d a intenção d e conseguir d eter c a n ta d a q u e la n ç a o tem a e a le tra q u e aco m p an h a
m inado timbre. a obra. Só neste m om ento existe m ensagem atrav és
As m ed id as q u e registam os a partir de c a d a do texto. À p a rte e sta s «cadenzas» estão os «inter
flauta o b se rv a d a (n a Ilha d e M oçam bique e em lúdios orquestrais» com a s características já refe
Tete) n ão podem considerar-se precisas, particu lar ridas.
mente no q u e diz respeito à la rg u ra e a ltu ra interior A distribuição dos elem entos do conjunto faz-se
do tubo. P a ra um rigoroso registo tornar-se-ia n e a partir do tim bre d e c a d a flauta. O «pico-pico» é
cessário ac o m p a n h ar o fabrico d e c a d a um dos o elem ento m ed iad o r ou seja, a q u e le q u e com unica
instrum entos e a resp ectiv a afinação. com to d as a s flautas fazendo com q u e toquem acer-
O conjunto orquestral d a s flautas Nyanga é re- tadam ente.
gide por leis harm ónicas m uito próxim as d as oci «Se ele faltar (n a o rq u estra) a s outras flautas não
dentais. No caso observado, n a Ilha d e M oçam bique po d erão tocar bem ». E sta observação colhida em
Tete ap lica-se certam ente à s Nyanga de outras re
giões, n o m ead am en te a s o b serv ad as n a Ilha de
M oçam bique.
No caso do g rupo d e M oatize re g istad o em Tete,
a ap ren d izag em d e um instrum ento com eça pela
seguinte ordem: «natuevera», «ngandam o», «pico-
-pico» e «pecho». «Se o aprendiz conseguir tocar o
pico-pico, o n g a n d a m o e o m ag u n te pequenos, po
d e rá to car tam bém os grandes», já q u e a m aneira
d e to car é a m esm a. «Primeiro ap re n d e -se a soprar
e q u a n d o isso já e stá sabido, a p ren d e-se a cantar.
Por fim, q u a n d o se sa b e tocar e ca n ta r entra-se n a
ro d a p a r a a p re n d e r a dançar».
mim»
«É u m a v e rg o n h a p a r a vocês os m ais velhos q u e todas, de m an eira geral, fazem m enção ao
É u m a d esg raça» leão:
ou seja, cen su ra-se q u e os ad u lto s deixem a crian ça «Os leões lá n a terra
d esa m p a rad a , longe d a m ãe. E o can to r (criança) C om binaram com er u m a p essoa
fala n a prim eira pessoa, referindo os seus «irmãos», Ao p é do rio»
lá longe: Linguagem m etafórica, à m an eira tradicional ou,
«Eu choro, choro pelos m eus irm ãos o q u e nos p are c e m ais provável, referência directa
M as a m inha c a s a é m uito longe ao s q u e encarn am o «espírito do leão» (m acan-
l á m e cansei d e chorar» gando)? Sobre este ponto, n ão chegam os a conclu
sões por dificuldade em o bter u m a explicação clara
O can to r d esalen tad o , no final, dirige-se (n a se e convindente. Portanto, n ão av an çam o s ideias q u e
g u n d a p e sso a d o plural) e im perativam ente, a d e possam n ão p a ssa r d e especulações sobre um a s
term inados ouvintes; sunto q u e só in v estig ação d e m o ra d a p o d e rá escla
«Vós, os mais velhos recer. Q uerem os no entanto, salien tar q u e será
muito im portante ap ro fu n d ar o conhecim ento q u e
Escutai e s ta n o ssa história» tem os do «m acangando», u m a vez q u e ele p o d e
a c a b a n d o com u m a co n stata ção (n a prim eira p e s ser, tam bém , u m a chave p a r a a com preensão d a
soa): d a n ç a Nyanga. M ais u m a vez, ap o n tam o s a n eces
«Os m ais velhos sidade d e um estudo antropológico, exaustivo, feito
Dizem q u e eu n ã o consigo dorm ir por especialistas, q u e p erm ita ir g rad u alm en te a o
Por c a u s a do sabum ba» fundo d a questão. Tal n ão nos foi possível por
lim itações d e tem po. Só a convivência d iá ria com
Há, pois, dois polos im portantes n a canção: um as populações, no seu am biente, p o r larg o tem po,
sujeito, ou seja, a «criança», «eu», «nós», q u e é aco m p an h an d o to d as a s su a s m anifestações cultu
in terp retad o e assum ido pelo ca n to r e um voca- rais, p o d e rá fazer-nos e n tra r n o cam inho p a r a a
.tivo, «vós», «os m ais velhos», a q u em a c a n ç ã o se com preensão de m uitos porm enores q u e se nos afi
dirige. guram d e m om ento, contraditórios ou obscuros.
O u tras can çõ es recolhidas, n a Ilh a d e M oçam N ão e r a tam bém este, im ediatam ente, o objecto
b iq u e e m ais ta rd e n a re g iã o d e Tete, ap resen tam do estudo q u e levám os a cabo. As investigações
e stru tu ra sem elhante à q u e a c a b a m o s d e expôr. q u e se seguirem , p o d erão com pletar o q u e o ra d ei
P a ra term inar este b re v e estudo, direm os a in d a xam os escrito.
Mèl
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NOTAS
.Gruppenbildende und individuelle Musikinsrtumente in Mozam *
(*) «Dicionário de Cafre-Tetense português», traduzido por Padre bique» em «VII èm e Congrès International de Sciences Antro-
Victor José Courtois, S. J., Coimbra, Im prensa d a U niversidade, pologiques et Ethnologiques», volume VII M., 1964; .O s instru-
1900, pp. 41. imYnli°QKKmu,sl™ls de Moçambique» em «Geográfica». n.o 6,
(2) «Respostas ao Q uestionário Etnográfico», Gustavo de Bivar Pinto biqui»6 LX<<Alw 7 nÇa ° ° U Ù B l c ç u em tArte Popular de Moçam-
Lopes, encom enda d a C om panhia de M oçam bique, 1928, pp. 100.
(3) Margot Dias. Fragm ento citado n a E nciclopédia Verbo, volume 13, (<) Conjunto d a s F. P L M. A maior parte dos elementos « de
p ág in as 1031—1032. Sobre este assunto, e d a m esm a autora, ver: Tete, inclusive o chefe do grupo.
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