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Apresentação
Ao analisar a série composta pelos 23 álbuns fotográficos do acervo do Arquivo da
Escola Caetano de Campos (AECC), sob a guarda do Centro de Memória em Educação Mário
Covas, perceberam-se especificidades, recorrências e a potencialidade de refletir, a partir
desse significativo conjunto documental, sobre as características do álbum fotográfico e sobre
a série de elementos que o compõem. Além dessa questão, pretendeu-se estudar a função e a
composição do álbum fotográfico escolar.
Esse conjunto de álbuns pode ser dividido sob o critério de produção: profissional
e artesanal. Nesta pesquisa o foco foi a composição dos álbuns artesanais compostos nas
dependências da própria escola, por funcionários, professores e alunos. A escola promovia a
prática de composição de álbuns fotográficos e esses álbuns eram temáticos, englobando
variados assuntos e eventos: efemérides que a escola promovia e as promovidas na cidade de
São Paulo, nas quais a escola participava; aspectos da cultura escolar, como a puericultura;
unidades da escola, como o Jardim da Infância e iniciativas da comunidade escolar, como o
jornal produzido na escola.
A Escola Caetano de Campos, que teve seu nome alterado diversas vezes por
reformas educacionais e por demandas políticas, desenvolveu variadas práticas pedagógicas,
entre elas a criação e manutenção de um jornal escolar vinculado à Biblioteca Infantil do
Curso Primário do Instituo de Educação Caetano de Campos, denominação que a instituição
ostentava na década de 1930.
A Biblioteca Infantil do Curso Primário do Instituto de Educação, foi
reaberta, em caráter definitivo, em 1936. A professora Iracema Marques da
Silveira assumiu e reorganizou esta Biblioteca a convite da diretora
Carolina Ribeiro e ambas a transformaram em centro das atividades extra-
curriculares da escola primária. 1
Como também aponta Regina Pinheiro, o jornal Nosso Esforço Não fugia às
orientações gerais que fundamentavam este tipo de projeto, revelando a preocupação com a
linguagem considerada infantil. A prática da elaboração de jornais escolares não era, neste
período, uma inovação pedagógica. O que surpreende no caso do jornal Nosso Esforço é a sua
longevidade e a relação que se estabeleceu entre o jornal e os alunos.
Tomando como pressuposto que essa série documental mais ampla poderia ser a
dos álbuns de fotografias escolares, e, num recorte mais estrito, a série dos álbuns fotográficos
do AECC, buscou-se, neste estudo, perceber as relações entre essas dimensões, ou escalas.
Buscou-se, portanto, um álbum que, apesar de notadamente incluído na série documental de
álbuns fotográficos da Escola Caetano de Campos, apresentasse aspectos que o colocassem
numa posição diferenciada com relação à série, suscitando, assim, questões particularmente
instigantes.
A prática de composição de álbuns fotográficos na Escola Caetano de Campos
Apesar de ter sido criada em 1846, a partir das determinações do Ato Adicional de
12 de agosto de 1834, que conferia às províncias a atribuição de legislar sobre a instrução
pública, inclusive criando estabelecimentos próprios para tal fim, a Escola Normal da Capital
passou a ter notoriedade a partir de 1894, com a construção do novo prédio na Praça da
República, especialmente construído para sediá-la.
A iniciativa de compor álbuns fotográficos revela forte intenção e preocupação dos
envolvidos com a preservação da memória institucional. De acordo com o princípio de
produção, há duas possibilidades que são aplicáveis e verificáveis no que se refere aos álbuns
fotográficos da Escola Caetano de Campos: produzidos profissionalmente, por encomenda, ou
produzidos artesanalmente no âmbito da própria escola.
Os álbuns produzidos por empresas especialmente contratadas para esse fim
podem ser identificados pela impressão das legendas, das inscrições na capa e das molduras
das fotos. Neste grupo destacam-se os álbuns de professorandos, ou seja, os álbuns de
formatura. Desde o início da prática de registros fotográficos das solenidades de formatura há
o oferecimento direto aos interessados pelas fotos, ou seja, os alunos e seus familiares. Não
era, e ainda não é comum, a escola encomendar ou manter álbuns das formaturas. Esses
álbuns são geralmente revestidos de características rituais e pomposas, que determinam o
preço dos materiais e dos recursos empregados para sua consecução: a capa, as legendas
internas e as molduras das fotos impressas nas páginas, geralmente separadas por papel de
seda. Esse tipo de álbum também obedece a uma determinada ordem particular, na qual são
apresentados os dirigentes, os docentes e os alunos formandos, devidamente identificados em
legendas impressas.
Além deste tipo do qual o Acervo da Escola Caetano de Campos conta com alguns
exemplares doados por antigos alunos, há dois outros álbuns produzidos profissionalmente
que merecem destaque.
Em 1895, após um ano de instalação no novo prédio situado na Praça da
República, investiu-se na realização de um álbum fotográfico que apresentasse o prédio, as
instalações e as práticas escolares. O álbum apresentava o olhar oficial sobre a instituição.
Numa perspectiva comparativa, foi realizado um segundo álbum fotográfico com a mesma
lógica, em 1908. Percebe-se, portanto, o cuidado atribuído ao tratamento da imagem da
Escola Caetano de Campos.
No que se refere aos álbuns produzidos artesanalmente no âmbito da escola,
possivelmente pelas próprias professoras e por outros servidores, interroga-se acerca das
condições de sua produção e das motivações que a nortearam.
Dentre os 23 álbuns componentes do acervo, 5 deles foram produzidos
artesanalmente de modo amador: Álbum de Comemoração do IV Centenário de São Paulo
[1954], Álbum Biblioteca Infantil [1940], Álbum Jardim da Infância – Cinqüentenário [1896-
1946], Álbum Jardim da Infância e o Álbum Jornal Nosso Esforço.
Em contraposição aos álbuns produzidos profissionalmente, esses são
caracterizados pela utilização de álbuns comuns, comprados em papelarias e armarinhos ou
confeccionado em páginas avulsas posteriormente encadernadas, nos quais era possível fixar
fotografias, textos, jornais e outros suportes de memória de acordo com os objetivos de quem
os compunha. O álbum apresenta assim, “tábulas brancas” nas quais serão inscritas memórias,
impressões, objetos, imagens, de acordo com o olhar de quem o produz, com o objetivo de
sua produção e as escolhas concretizadas na sua organização. Originalmente, album é um
termo latino: denominava as tábuas nas quais eram impressas as decisões dos pretores, a lista
dos senadores, etc. As legendas eram inscritas cursivamente a mão nas próprias páginas do
álbum ou datilografadas e coladas embaixo das fotografias. As molduras eram desenhadas
imitando os clichês tipográficos dos álbuns profissionais e recorrendo aos dotes artísticos de
docentes e alunos.
Como exemplo dessas características, além do álbum do Jornal Nosso Esforço,
objeto de análise deste estudo, pode-se apontar o Álbum de Comemoração do IV Centenário
de São Paulo. Esta comemoração teve a participação direta de vários setores da sociedade. A
Escola Caetano de Campos esteve presente nos desfiles pelas ruas da cidade, em solenidades
organizadas em seu próprio prédio e em praças. Esses momentos históricos foram registrados
fotograficamente e organizados em um álbum artesanalmente produzido, pois suas legendas
são escritas à mão, e as fotos, coladas em suas páginas e margeadas por molduras desenhadas.
Outra experiência com a composição de séries no âmbito da Escola Caetano de
Campos são os chamados Dossiês Temáticos, confeccionados durante anos pelos alunos sob a
orientação da bibliotecária Iracema da Silveira. A motivação para sua produção parece ter
sido o objetivo de auxiliar os alunos na realização das pesquisas escolares requeridas pelos
professores. São centenas de dossiês que também hoje fazem parte do acervo da Escola
Caetano de Campos.
Fontes documentais
Acervo fotográfico do Arquivo Histórico da Escola Caetano de Campos do Centro de
Referência em Educação – Mário Covas
Álbum fotográfico do Jornal Nosso Esforço (Caixa 17) - Acervo fotográfico do Arquivo
Histórico da Escola Caetano de Campos do Centro de Referência em Educação – Mário
Covas
Regulamento da Biblioteca Infantil Caetano de Campos, Curso Primário (anexo), aprovado
pela Diretoria do Instituto de Educação Caetano de Campos, elaborado pela bibliotecária
adjunta Iracema M. da Silveira. 1943. Acervo do Arquivo Histórico da Escola Caetano de
Campos do Centro de Referência em Educação – Mário Covas
Jornal Nosso Esforço. Órgão do Curso Primário do Instituto de Educação Caetano de Campos.
Ano XXVII. São Paulo. Março/Abril/Maio/Junho 1963. No. 1 a 4. Acervo do Arquivo
Histórico da Escola Caetano de Campos do Centro de Referência em Educação – Mário
Covas
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São Paulo: Editora SENAC São Paulo: Edições SEC SP, 2008.
1
PINHEIRO, Ana Regina. A imprensa escolar e o estudo das práticas pedagógicas: o jornal ‘Nosso Esforço’ e
o contexto escolar do Curso Primário do Instituto de Educação (1936-1939). São Paulo: Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 2000. [Dissertação Mestrado]. P. 47.
2
Idem, p. 50.
3
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. 2. ed. rev. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
4
SILVA, Armando. Álbum de família: a imagem de nós mesmos. Trad. Sandra Martha Dolinsk. São Paulo:
Senac São Paulo; Edições SESC SP, 2008
5
SILVA, Armando. Op. Cit. 2008. p. 41.
6
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1982.
7
GINZBURG, Op. Cit. 2007, p. 152.
8
CERTEAU, Michel de. Op. Cit. 1982.
9
CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano: 1 artes de fazer. Trad. de Ephraim F. Alves e Lúcia Endlich
Orth, Petrópolis/RJ: Vozes, 1994.
10
CERTEAU, Michel de. Op. Cit,, 1994. pp. 265-266.
11
CERTEAU, op. Cit. 1994, p. 262.
12
PINHEIRO, Ana Regina. Op. Cit, 2000, p. 21.
13
KOSSOY, B. Op. Cit. 2001.