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REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO CURRÍCULO DE CIÊNCIAS

NA ESCOLA MUNICIPAL CHILE

Maria Margarida Pereira de Lima Gomes


Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Brasil

Maria do Carmo Martins


Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Brasil

Resumo

Apresenta-se um álbum de fotografias de uma escola, para registro de atividades


relacionadas ao currículo de Ciências, durante o período de 2013 a 2019. Os registros
mostram ações de integração entre a escola e um projeto de extensão universitária. A
organização do álbum se constitui num processo de compreensão do currículo de Ciências
num contexto escolar específico, possibilitando análises e reflexões no escopo da
materialidade da escola e do currículo da referida disciplina. São exploradas uma série de
26 fotografias procurando-se compreender elementos da dinamização do ensino de
Ciências e da formação de professores no contexto escolar. Procurou-se escolher retratos
de aspectos marcantes relacionados a experiências dos membros participantes do projeto
e das materialidades que produzem e são produzidas pela disciplina escolar. Teorizações
sobre as fotografias como artefatos históricos em diálogo com estudos sobre a história
das disciplinas escolares e ainda, das materialidades da escola, compõem o quadro teórico
a partir do qual as fotografias são analisadas para compor um relato histórico do currículo
de Ciências produzido a partir dessa relação entre escola e universidade.
Palavras-chaves: currículo de Ciências; materialidades da escola; fotografias

Abstract

Photographic records of the Science Curriculum at Escola Municipal Chile

A school photo album is presented to record activities related to the Science curriculum,
during the period from 2013 to 2019. The records show integration actions between the
school and a university extension project. The organization of the album constitutes a
process of understanding the Science curriculum in a specific school context, enabling
analyzes and reflections in the scope of the materiality of the school and the Science
curriculum. A series of 26 photographs is explored in an attempt to understand elements
of the dynamization of Science teaching and teacher training in the school context.
Portraits selected for that are about outstanding aspects related to the experiences of the
members participating in the project and the materialities that produce and are produced
by the Science school subject. Theorizations about photographs as historical artifacts and
studies on the history of school subjects and school materialities make up the theoretical
framework from which the photographs are analyzed to compose a historical account of
the Science curriculum produced from this relationship between school and university.
Key-words: Science curriculum; school materialities; photographs
Introdução

Neste artigo apresentamos o modo como vem sendo organizado um álbum de


fotografias tomadas na Escola Municipal Chile, localizada no município do Rio de
Janeiro, para registro de atividades relacionadas ao currículo de Ciências, durante o
período de 2013 a 2019.1 Os registros selecionados para o álbum são parte de ações de
extensão, em diálogo com as de ensino e pesquisa, construídas a partir de processos de
integração entre a referida escola e o Projeto Fundão Biologia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro. A construção do álbum vem se constituindo num processo de
compreensão do currículo de Ciências no contexto dessa instituição escolar específica,
possibilitando a análise desses registros fotográficos, no escopo da materialidade da
escola e do ensino de Ciências, com abordagem da história cultural da educação.2

Exploramos um conjunto de fotografias digitais selecionadas para a composição


do álbum sobre as atividades de ensino de Ciências desenvolvidas na EM Chile entre os
anos de 2013 e 2019. A integração dessa escola com a Universidade Federal do Rio de
Janeiro vem se dando a partir de ações promovidas com o Projeto Fundão Biologia –
UFRJ. Durante esse período aconteceram o planejamento e implementação do projeto
“Dinamizando saberes na formação de professores de Ciências: materiais didáticos e
atividades de ensino produzidos nos encontros entre a Universidade e a Escola” entre os
anos de 2013 e 2014 (GOMES, 2013b; OLIVEIRA & GOMES, 2016; OLIVEIRA et al.,
2016) e a continuidade de suas ações de formação docente nos anos que se seguiram até
2019 (GOMES, 2020; GOMES, MÁSQUIO e FONTES, 2020; FERREIRA E GOMES,
2020). A dinamização do ensino de Ciências e a formação dos professores no contexto
escolar constituem as finalidades que caracterizam a integração desses dois espaços
institucionais, a escola e a universidade. Durante todo o período, diversos acontecimentos
foram fotografados como uma forma de registro das ações desenvolvidas.3

Inspiradas no trabalho de Dussel (2019) que analisa um álbum de fotografias sobre


jogos infantis do final do século XIX na Argentina, buscamos organizar um álbum que
possa registrar a experiência de integração entre o ensino de Ciências escolar e a formação
de professores, prevista pelo Projeto Fundão Biologia - UFRJ, voltada para a dinamização
do currículo de Ciências da escola e a qualificação do trabalho docente, seja dos
estudantes que estavam em formação na universidade, seja dos professores escolares que
passaram a atuar no projeto.
O desafio de construção do álbum vem sendo enfrentado considerando-se o
currículo escolar de Ciências com base nos estudos de Ivor Goodson (1983, 1997, 1998,
2001) sobre as disciplinas escolares como construções históricas e sociais. Mas também
com apoio em diálogos com os trabalhos de Thomas Popkewitz (2001, 2010), o que vem
contribuindo para um olhar sobre o currículo disciplinar como produzido discursivamente
por processos de alquimia curricular. Além disso, Escolano Benito (2010; 2020), com
seus estudos sobre as materialidades da escola, contribui para a interpretação de como os
objetos e artefatos, neste caso específico com ênfase nos materiais didáticos do ensino de
Ciências, participam da alquimia curricular que produz a disciplina escolar Ciências.

As fotografias selecionadas para o álbum são parte de um conjunto de documentos


digitais guardados por professores e estudantes de Licenciatura em Ciências Biológicas
que atuaram na escola até 2019.4 Esses registros foram feitos em momentos que se
percebiam importantes para mostrar como o ensino de Ciências naquele contexto escolar
veio sendo produzido em meio a relações construídas com um projeto de extensão
universitária. Mas também foram registradas situações, ocorrências, episódios que os
integrantes das ações consideraram representativas do envolvimento e interesse pelos
conhecimentos da disciplina escolar Ciências por parte de alunos, professores e futuros
professores.

Para a análise, a organização do álbum possibilitou observar cada fotografia


selecionada. Assim, procuramos escolher aquelas que retratassem aspectos marcantes
relacionados a experiências dos membros participantes do projeto e ainda, das
materialidades que produzem e são produzidas pela disciplina escolar Ciências. Desse
modo, foram escolhidas fotografias cujo foco incide sobre imagens de diversos objetos
tais como fachadas do prédio escolar, pinturas murais, painéis, salas de aula, carteiras,
mesas, microscópios, modelos didáticos, jogos, vidrarias e armários. Além disso,
relacionados aos objetos, aparecem também imagens de atividades como aulas, oficinas
e feiras de Ciências.

O trabalho se organiza em cinco seções. Na primeira são apresentados os


pressupostos teóricos que vêm conduzindo a organização do álbum e a análise
interpretativa das fotografias. Em seguida, na segunda seção, são apontados elementos de
ordem metodológica no trabalho com os documentos fotográficos, definindo as escolhas
das fotografias para a montagem do álbum, bem como aspectos que permitem
compreender a seleção imagética para a construção de uma história sobre o currículo de
Ciências na EM Chile. As três seções que se seguem apresentam o álbum com: fotografias
que retratam alguns elementos relacionados ao edifício escolar e a murais pintados em
suas paredes; fotografias que registram os espaços escolares em que o currículo de
Ciências toma o seu lugar; fotografias sobre materiais didáticos diversos, incluindo os
painéis que ilustram o ensino de Ciências nas paredes dos espaços escolares; e fotografias
que mostram atividades de ensino de Ciências. Por fim, são tecidas as considerações
finais.

Disciplina escolar Ciências e sua materialidade

Ao analisar as fotografias de um álbum sobre jogos infantis do final do século


XIX, Dussel (2019) discute alguns pressupostos teóricos relevantes para se compreender
as fotografias como documentos históricos que vêm sendo cada vez mais investigados
como artefatos materiais com uma história social própria, tendo, portanto, um papel ativo
na produção de sentidos. Desse modo, a autora argumenta que as fotografias não podem
ser analisadas apenas como fontes de conhecimento que tratam a realidade de forma
completa e objetiva. Mais do que isso, as fotografias têm que ser concebidas a partir de
suas trajetórias materiais e afetivas que são constitutivas de sua vida como artefatos.

As fotografias impulsionaram os registros da vida e a construção de arquivos.


Dussel (2019) destaca que perspectivas que compreendem as fotografias como registros
objetivos da realidade vêm sendo cada vez mais problematizadas no campo da história da
educação que, por sua vez, valoriza tais fontes documentais compreendidas como
artefatos, com trajetórias materiais e afetivas, portadoras de sua própria história social e
que possuem papel ativo na produção de sentidos. Assim, esses artefatos precisam ser
analisados a partir de questões como: quem estava por trás da câmera ou do celular? Como
foi selecionada a cena da fotografia? Qual o seu foco? O que explica as fotos serem
guardadas? E porquê umas sobrevivem e outras não?

Inspiradas nas reflexões de Dussel (2019) a respeito das fotografias como fontes
históricas, procuramos refletir, sobre uma série de imagens fotográficas selecionadas para
compor o álbum, a partir de uma abordagem multissensorial que “permita indagar sobre
lo que dice y transmite uma imagem no solamente como texto sino también através de sus
silêncios y de su propria presencia, aun quando sea digital” (p. 53).5 Assim, a
historicidade das fotografias pode ser explorada em meio ao vínculo epistêmico e afetivo
dos investigadores com suas fontes. Nesse sentido, entendemos que não se trata apenas
de observar visualmente as fotografias, mas sim de construir um olhar que se apropria
também de outras possibilidades sensoriais como a escuta e o tato. Em outras palavras,
buscamos compreender tais fotografias em meio ao contexto em que foram produzidas
como registros das diversas atividades de formação de professores e dinamização do
ensino fomentadas pela relação entre uma escola e um projeto de extensão universitária.

Destarte, ao trabalharmos com um conjunto de fotografias, criando uma série com


os objetos, o registro das experiências favorecidas no projeto e a relação entre escola e
universidade, a narrativa histórica passa a ser construída com as fotografias e não somente
utilizando-se delas como ilustrações da experiência. Deste modo, a ideia de um álbum
neste artigo, corresponde à produção de um artefato, que conta com imagens fotográficas
e textos que a elas fazem referências, seja ampliando o conjunto das informações sobre
sua produção, seja como comentários e reflexões acerca delas.

Compartilhando ainda a perspectiva de Dussel (2019), é a partir de um conjunto


de fotografias, selecionadas para um álbum que apresenta recortes de uma história sobre
o currículo de Ciências, no contexto escolar e, em integração com um projeto de extensão
universitária, que levantamos as seguintes questões: (i) como vem se dando a dinâmica
do ensino das Ciências na escola? (ii) que materialidades são parte da construção dessa
dinâmica do ensino da disciplina escolar Ciências? (iii) como essas materialidades dão
forma às atividades de ensino de Ciências nesse contexto escolar específico?

Ao enfatizarmos o conhecimento da disciplina escolar Ciências, nos colocamos


em diálogo com os estudos históricos de currículo de Ivor Goodson (1983, 1997, 1998,
2001) sobre as disciplinas escolares e com trabalhos produzidos no contexto brasileiro
(FERREIRA, 2005, 2014 e GOMES, 2008, 2013). Tal disciplina escolar é observada
como uma produção resultante de mudanças e transformações que sócio-historicamente
se dão no interior de uma comunidade disciplinar. Tal comunidade agrega interesses
comuns de ensino e pesquisa relacionados ao que se considera o melhor e mais adequado
para o ensino de Ciências na escola, ao mesmo tempo que coloca ênfase em elementos
representativos da cultura científica. Tais modificações, que ocorrem em meio a embates
e contradições, se expressam na disciplina escolar, consolidando tradições que oscilam
entre finalidades acadêmicas, pedagógicas e utilitárias, ao mesmo tempo que produzem
inovações que a colocam em constante movimento. As tradições podem ser percebidas
em enfoques curriculares organizadores dos currículos de ciências tais como “a história
natural; a ecologia; a anatomia, a fisiologia e saúde humanas; a ciência e a
experimentação; a ciência e a tecnologia; e a vida cotidiana” que podem ser reconhecidos
em materiais didáticos destinados ao ensino dessa disciplina escolar (GOMES, 2013a, p.
483). As inovações podem ser, portanto, observadas nas transformações da disciplina em
relação à introdução de materiais educativos, de novos temas e novas finalidades para o
ensino escolar, na medida em que a disciplina vai se consolidando no ensino.

Essa concepção dialética da disciplina favorece os enfoques curriculares que


cobram sentido ao analisarmos as práticas curriculares por meio de suas materialidades,
com o foco na disciplina escolar Ciências. É nesse sentido que enfatizamos que, na
história da disciplina, a comunidade de especialistas vai construindo integradamente, em
meio a consensos e dissensos, conhecimentos escolares que envolvem finalidades,
atividades de ensino e, ainda, as suas materialidades. Assim, em meio a relações sociais
e políticas ocorridas no interior da comunidade disciplinar, resulta constituído o que se
quer como o melhor para o ensino de Ciências, redefinindo, inclusive, as finalidades para
o seu ensino.

Numa perspectiva sociocultural na área da história do currículo, mas também


propondo uma lente teórico-metodológica que permite a análise das práticas do ensino,
Thomas Popkewitz (2001, 2010) nos ajuda a compreender que esses elementos do
currículo podem ser pensados como parte de um sistema de pensamento que produz o
ensino da disciplina escolar Ciências, significando-o e produzindo normas e valores a seu
respeito. Tal sistema de pensamento é produzido por processos alquímicos de produção
do conhecimento escolar que ressignificam as tradições de ensino disciplinares,
estabelecendo o que deve ser considerado o ensino de Ciências adequado e ditando regras
sobre como os estudantes devem aprender e, também, como os professores devem ensinar
(FERREIRA, 2014).

Para esse autor é, portanto, a partir da alquimia curricular que as ciências de


referência (biologia, física, química, geociências) são atravessadas por ciências
pedagógicas, psicológicas e por aspectos relacionados à vida social como criticidade,
autonomia, valorização da formação escolar, democracia, cuidados com o meio ambiente.
E desse modo, pode-se compreender que o currículo de Ciências é produzido a partir de
processos alquímicos que transformam as ciências de referência em conhecimentos
escolares produzindo também os alunos e professores de Ciências. Assim, os
conhecimentos escolares se constituem em regras e padrões produzidos em meio a uma
comunidade discursiva, podendo este espaço ter aproximações com a proposição da
comunidade de especialistas e disciplinar como proposta por Goodson (1983, 1997, 1998,
2001).

Reconhecendo as diferenças teóricas entre as proposições de Ivor Goodson e


Thomas Popkewitz, a potente ideia de uma comunidade que constrói ou produz o
currículo de Ciências, por meio dos processos de alquimia curricular e da produção socio-
histórica da disciplina, nos referencia para as reflexões e análises aqui apresentadas,
especialmente ao destacarmos os objetos e artefatos, constituintes das materialidades do
ensino, como participantes ativos dessa alquimia, tornando-os importantes fontes para a
análise de práticas escolares pretéritas. São estes artefatos escolares, como “restos
arqueológicos”, que podem nos informar sobre os fazeres internos da escola, com seus
valores e tradições. As práticas docentes também podem assim ser compreendidas pelas
suas relações com a mobilização de materiais didáticos nas atividades escolares.

Escolano Benito (2010) e Martins (2019) todavia, destacam que é de extrema


importância a compreensão dos objetos e artefatos não apenas como vestígios materiais
do passado, mas articulá-los em relação às experiências de sociabilidade compartilhadas,
uma vez que nessa articulação é possível não apenas reconhecer os objetos e artefatos em
seus contextos mas, atribuir-lhes sentidos que favoreçam uma história da disciplina no
escopo da história da educação, proposição que vai ao encontro da abordagem de Dussel
(2019). Compreendendo as práticas educativas como indissociáveis de sua materialidade,
é de suma importância que, ao depositarmos nossos olhares sobre as práticas, nos
aproximemos dos objetos e artefatos, refletindo sobre como eles atuam como produtores
de sentidos, de que maneira mobilizam sensibilidades e, como podemos interpelar e
refletir sobre os significados das práticas culturais em que estão engendrados. Martins
(2019), enfatiza ainda que os objetos pedagógicos, como os utilizados no laboratório de
ciências ou as fotografias de sala de aula, precisam ser analisados como parte de um
sistema de razão, no qual se destacam os discursos e práticas legitimadas como corretas,
adequadas, boas ou puras para a educação dos sujeitos.

Tais perspectivas nos ajudam a pensar nos objetos e materialidades do ensino de


Ciências como parte de suas tradições curriculares, uma vez que imbricadas ao processo
de alquimia curricular, produzem, normas e valores sobre o que entendemos e
legitimamos como ensino de Ciências. Assim, para a análise aqui desenvolvida,
concebemos o currículo como constituído por normas, práticas e materialidades do ensino
que produzem e são produzidas por sistemas de pensamento que constituem o que se
considera adequado ou não para o ensino de Ciências, o melhor para formar alunos e
professores que socialmente participam das ações de ensinar e aprender. Nesse sentido,
tais normas, práticas e materialidades são discursivamente produzidas a partir de modos
de pensar como o ensino deve ocorrer nas práticas escolares do currículo de Ciências.

Currículo de Ciências na Escola Municipal Chile em registros fotográficos

Buscando compreender a produção dos conhecimentos escolares em Ciências a


partir de fotografias que registram experiências que integram escola e universidade,
analisamos como o currículo dessa disciplina veio sendo produzido em meio à integração
da EM Chile com o Projeto Fundão Biologia – UFRJ durante o período entre 2013 e 2019.
Para isso, levantamos duas questões que orientam a análise das fotografias: quais
materialidades selecionadas, mobilizadas, produzidas e analisadas vêm participando de
processos alquímicos que produzem o currículo de Ciências nessa escola? Como essas
materialidades dão forma ao currículo de Ciências nesse contexto escolar específico?

Os registros fotográficos foram feitos durante o período entre os anos de 2013 a


2019 com os seguintes objetivos: registro de atividades desenvolvidas; registro de
aspectos históricos das ações entre a escola e a universidade; relato e análise dos
processos de dinamização do ensino de Ciências na escola, dos processos de formação
docente em Ciências na escola e ainda de aspectos relativos à disciplina escolar Ciências.
As fotografias foram feitas com dois tipos de dispositivos, uma câmera fotográfica digital
Nikon COOLPIX e celulares diversos. A sua autoria pode ser creditada à coordenadora
das ações do Projeto Fundão Biologia – UFRJ na EM Chile, às professoras da referida
escola, aos bolsistas do projeto que lá atuaram e aos licenciandos que lá vivenciaram o
seu estágio supervisionado de prática de ensino.6

Para a construção do álbum sobre o currículo de Ciências na escola, consideramos


quatro conjuntos de fotografias: (i) fotografias que mostram elementos marcantes da
ambiência escolar; (ii) fotografias sobre os espaços escolares nos quais vem se dando o
ensino de Ciências; (iii) fotografias que retratam as materialidades adquiridas, produzidos
e mobilizadas para o ensino de Ciências; e (iv) fotografias mostrando essas materialidades
como parte das atividades de ensino de Ciências.
Já para as observações, reflexões e interpretações construídas no processo de
organização do álbum consideramos três elementos essenciais: a seleção das fotografias,
em relação ao contexto das atividades e ao espaço-tempo onde elas ocorrem; a ênfase
nas fotografias que referem-se às atividades de ensino de Ciências, pois com elas
problematizamos a disciplina e a especificidade dela no projeto; e o foco em fotografias
de objetos adquiridos, construídos e utilizados na produção das atividades desse ensino,
com vistas a ampliarmos o olhar sobre a cultura material escolar.

Fotografias: alguns elementos de uma história escolar

Iniciamos nesta seção a apresentação de alguns elementos constitutivos da


ambiência da escola a partir das fotografias 1, 2, 3, 4 e 5. Entre essas, nas fotografias 1 e
2 pode-se apreciar a parte da frente da escola nos indicando que é uma construção com
aparência de uma “casa”, um sobrado bem cuidado e devidamente nomeado, para que
seja compreendida a sua função educativa. Tal aparência se destaca pelo efeito do
conjunto de janelas envidraçadas pintadas de azul que contrasta com o branco do edifício,
mas, entre os dois pavimentos, destaca-se o seu nome, Escola Municipal Chile, além do
fato de ser uma escola pública, mantida pela Secretaria Municipal de Educação da
Prefeitura do Rio de Janeiro.

A fotografia 1 exemplifica que o edifício foi construído com janelas enfileiradas,


com ampla entrada de luz natural e predomínio de vidraças, porém ao longo do tempo
tais janelas foram sobrepostas por grades de proteção. Percebemos ainda que o edifício
sofreu alterações em sua climatização, com a instalação de aparelhos de ar condicionado.
Uma vez que ingressamos no terreno da escola, logo percebemos esse conjunto
harmonizado, uma vez que as janelas, pintadas de um azul celeste, produzem grande
efeito visual, em relação ao branco das paredes externas da escola e o fato de não haver
outra construção anexa a ela, permitindo olharmos o edifício em relação ao horizonte.
Fotografia 1 (09/09/2013): Parte frontal do edifício da escola

Fotografia 2 (29/10/2014): Entrada da escola

Quando olhamos, entretanto, a escola pelo lado de fora, a percepção de um edifício


amplo na rua onde se localiza, e sem uma vizinhança imediata, se torna mais acurada
(fotografia 2). Com esse registro fotográfico também somos informados do seu formato
arquitetônico, com dois blocos, ocupando uma substantiva parte da quadra urbana onde
se localiza, e conseguimos ver que a escola, em um dos lados, possui um terceiro piso.
Também se pode observar o muro que cerca esse edifício separando-o da rua e do bairro.
Ampliando e recortando essa imagem (fotografia 3), pode-se ver que o muro é coberto
por desenhos de grafite. Além disso, também se destacam um grupo de pessoas com
instrumentos musicais sendo tocados. A maioria veste a camiseta de uniforme escolar do
município do Rio de Janeiro e apenas uma pessoa não está uniformizada, e talvez essa
pessoa seja o professor desse grupo.
Fotografia 3: Recorte e ampliação da fotografia 2

Ao adentrar no prédio, é-se logo surpreendido por fragmentos de murais pintados


na parte superior de algumas paredes e tetos. São pinturas com imagens de crianças em
situações escolares (Fotografia 4). Esses painéis e alguns fragmentos foram ali pintados
por artistas famosos dos anos de 1930. A escola foi fundada em 03 de março de 1935
durante a gestão do prefeito Pedro Ernesto, tendo como Secretário de Educação o
intelectual Anísio Teixeira. Sendo uma obra criada no contexto de configuração do
sistema de educação do Distrito Federal, o edifício escolar foi presenteado com painéis
pintados por Di Cavalcante, Georgina de Albuquerque e Lucílio de Albuquerque. Muitas
dessas pinturas, tombadas pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), foram perdidas ao longo do tempo por desgastes físicos das paredes do prédio,
mas aquelas que restaram foram restauradas em 2008 (GOMES, 2013b).

Fotografia 4 (2014): Imagem de um dos painéis pintados nas paredes da escola


pintado por Emiliano Di Cavalcante em 19347

As pinturas murais internas e externas são de períodos distintos, mas chama a


atenção a sua permanência, tanto como um recurso histórico patrimonial da escola, como
é o caso da obra dos pintores consagrados (Fotografia 4), quanto a existência de uma
pintura mural contemporânea (Fotografias 5 e 6), em referência ao Ginásio Carioca de
Samba – Francisca Soares Fontoura de Oliveira. Em 2013, a escola tornou-se esse ginásio
temático voltado para a valorização da educação musical devido à tradição do bairro que
abriga a quadra de um dos mais tradicionais blocos carnavalescos da cidade do Rio de
Janeiro, o Cacique de Ramos (GOMES, 2013b).

Fotografias 5 e 6 (09/09/2013): O pátio da entrada da escola com o mural


pintado (autoria não identificada)

Nos dois murais retratados, e cujas fotografias foram selecionadas para esse artigo
(Fotografias 4, 5 e 6), destacam-se alegorias ligadas aos estudos, à passagem das crianças
pela escola e à vivência com a comunidade. Vemos neles a valorização da experiência da
aprendizagem da leitura e da vocação do samba. No primeiro, dos anos de 1930 são os
jovens estudantes que são retratados, em torno do livro, mas tendo por pano de fundo um
cenário natural fictício. Já no segundo painel da área externa, uma produção recente,
exalta-se a imagem do samba carioca, estilizado com a figura do sambista com o violão,
os percursionistas e a passista, também representados em uma paisagem natural fictícia,
mas com aspectos urbanos ao fundo.

Destaca-se ainda, no plano central da fotografia 5, que o pátio da escola é portador


de mesas, com o tabuleiro para jogos e bancos individuais, para quatro usuários. Tal
conjunto de fotografias mostram como nas paredes dessa instituição escolar estão
registradas imagens de diferentes temporalidades, que imprimem valores culturais aos
frequentadores, aludindo aos seus currículos que são marcados por valorização dos
registros históricos, artísticos e pedagógicos em suas paredes. As vocações da escola do
passado, como escola de primeiras letras, e do presente, com a vocação musical, denotam
elementos do currículo escolar de quando se iniciou a relação entre a escola e o Projeto
Fundão Biologia – UFRJ.

Esse projeto de extensão universitária vem desenvolvendo ações de formação


docente inicial e continuada desde os anos de 1980, se caracterizando fundamentalmente
pela valorização das dinâmicas de produção dos currículos de Ciências em contextos
escolares. Ao priorizar os currículos escolares, a integração entre a universidade e a escola
vem se dando com foco na produção, análise e utilização de materiais didáticos em meio
a processos de formação dos professores de Ciências e Biologia (GOMES, 2020). A EM
Chile é uma das instituições escolares que tem, desde 2013, integrado suas atividades de
ensino de Ciências ao Projeto Fundão Biologia – UFRJ.

Fotografias: os espaços escolares do ensino de Ciências

Apresentamos nesta seção as fotografias, 7, 8, 9 e 10, relacionadas aos espaços


físicos em que se dão as atividades de ensino de Ciências. Procuramos destacar nelas os
elementos que as compõem como espaços escolares gerais, mas também compreender e
exemplificar o que nos indicam de suas especificidades. Esses espaços são parte do
contexto escolar em que o projeto “Dinamizando saberes na formação de professores de
Ciências: materiais didáticos e atividades de ensino produzidos nos encontros entre a
Universidade e a Escola” foi proposto e implementado. Teve seu início com as ideias de
duas professoras de Ciências que almejavam a melhoria e valorização do ensino de
Ciências na escola8. As ações do projeto se deram entre os anos de 2013 e 2014 com a
integração entre a EM Chile e o Projeto Fundão Biologia – UFRJ com a finalidade de
dinamizar o ensino de Ciências e a formação de professores em Ciências (OLIVEIRA &
GOMES, 2016; OLIVEIRA et.al., 2016). E nos anos que se seguiram, a integração entre
a escola e o projeto continuou a partir da inserção de estudantes de Licenciatura em
Ciências Biológicas da UFRJ tanto em ações extensionistas como em atividades
relacionadas ao estágio supervisionado de prática de ensino da Licenciatura em Ciências
Biológicas da UFRJ (GOMES, 2020; GOMES, MÁSQUIO, FONTES, 2020).

As fotografias 7, 8, 9 e 10 trazem imagens de espaços nos quais o desenrolar das


atividades do projeto foi dando forma ao currículo de Ciências nessa escola e, portanto,
configurando-o em práticas do ensino alicerçadas nos modos de pensar sobre Ciências
que vêm sendo articulados alquimicamente nesse contexto escolar, mas também na
comunidade que fabrica discursivamente como deve ser o ensino de Ciência. Na
fotografia 7 pode ser observada a sala de aula escolhida inicialmente para se transformar
na sala de Ciências. É uma sala de aula comum, onde é possível observar as fileiras de
carteiras que dominam a sua organização. No canto esquerdo inferior da imagem também
se pode ver um pedaço de uma mesa maior destinada ao professor. Ao fundo, e no alto
da parede, há dois ventiladores e, entre eles, uma espécie de armário para guardar a
televisão. Abaixo deles nota-se a existência de cinco armários. Três desses, os azuis,
foram adquiridos com o objetivo de guardar e organizar os materiais destinados às
atividades de ensino. Na parede esquerda pode-se ver também um painel no qual estão
registradas algumas atividades relacionadas à disciplina “Iniciação à Ciência”, proposta
pelas professoras de Ciências no contexto das atividades do projeto em questão.

Fotografia 7 (início de 2014): Sala de Ciências

A mesma sala é registrada em momentos diferentes nas fotografias 8 e 9,


mostrando as transformações em sua organização espacial. A presença de mesas de
trabalho coletivo, para pequenos grupos, indica uma transformação causada pela
aquisição desses novos materiais que fazem parte dos modos de se compreender o
currículo de Ciências em meio às proposições elaboradas entre a escola e o projeto de
extensão. O trabalho em grupos tem sua valorização relacionada a tradições curriculares
valorizadas na disciplina escolar Ciências por atividades práticas e experimentais. Com
isso, podemos interpretar nessas fotografias algumas proximidades do currículo escolar
com uma cultura científica. A sala de Ciências passa por uma transformação de sua
organização, de carteiras para trabalho individual a mesas que permitem os trabalhos
escolares em grupo, com possibilidades de mobilizar tarefas desenvolvidas coletivamente
a partir de materiais diversos como vidrarias, modelos, cartolinas, canetas, etc.

Fotografia 8 (final de 2014): Sala de Ciências

É também interessante ressaltar na fotografia 8 o mesmo painel que aparece na


fotografia 7, mas apresentando outras ilustrações e também remodelado. Por essas
imagens fotográficas, percebemos que na sala de aula há uma profusão de equipamentos
para uso pedagógico e, também, que a prática de utilizar as paredes como espaços
expositivos das atividades pedagógicas realizadas por estudantes tem se mantido nessa
escola ao longo dos anos.

Fotografia 9 (2019): Sala de Ciências9


Podemos explorar ainda alguns elementos de uma outra sala de aula na fotografia
10. É um espaço destinado a aulas de música, apresentando em suas paredes violões
pendurados. No entanto, nota-se que uma oficina de Ciências (fotografia 11) está
ocorrendo com a participação de dois professores em formação e um grupo de alunos
como parte das atividades de uma Feira de Ciências. Desde 2013, a escola tem realizado
anualmente Feiras de Ciências para a socialização de trabalhos produzidos pelos alunos
com orientação dos estudantes de Licenciatura. Além disso, nesses eventos também são
promovidas oficinas e palestras com a participação de grupos de pesquisa e extensão da
universidade.

As Feiras de Ciências são eventos que podem ocorrer tanto dentro como fora dos
muros escolares, mas são sempre espaços para o incentivo a estudantes de nível básico a
produzirem e apresentarem trabalhos sobre essa área disciplinar. A finalidade principal
desses eventos é valorizar atividades pedagógicas com a participação de professores e
estudantes, “dando oportunidade para o envolvimento com apresentações de trabalhos,
interesse pela pesquisa, socialização do conhecimento, troca de informações, além de
promover a interação entre os participantes e a comunidade escolar, e valorizar a escola
pública como espaço de divulgação da ciência”. Nesse sentido, as Feiras de Ciências
podem ser espaços de valorização da educação científica nas escolas (Candito, Menezes
e Rodrigues, 2021, p. 9 e 10).

Fotografia 10 (2019): Sala de Música10


Fotografia 11: Recorte e ampliação da fotografia 10

No caso das Feiras de Ciências organizadas na EM Chile vale ressaltar a sua forte
relação com o currículo de Ciências pois os trabalhos apresentados pelos estudantes da
escola são planejados e produzidos no contexto da sala de aula como trabalhos
relacionados às atividades de ensino dessa disciplina escolar. Em outras palavras, os
trabalhos são produzidos durante as aulas dessa disciplina escolar. Ademais, também é
importante ressaltar que são orientados por estudantes do curso de Licenciatura em
Ciências Biológicas da UFRJ. Tal envolvimento dos estudantes em formação docente se
configura como parte da integração entre a escola e a universidade.

Compreendemos assim essa sala de aula de música (fotografias 10 e 11) integrada


ao currículo de Ciências da escola em momentos específicos como é o caso da Feira de
Ciências, um evento no qual todo o corpo social da escola é atravessado pelas
experiências das Ciências em meio às produções tanto de alunos da escola como de
estudantes de Licenciatura em Ciências Biológicas. Registra-se ainda que tomadas em
seu conjunto, as fotografias apresentam uma escola que adapta seus espaços físicos, em
função de suas atividades educativas e, que tal adaptação, mais do que qualquer alteração
arquitetônica, se faz justamente pelos artefatos distribuídos nestes espaços físicos, pela
forma como os sujeitos escolares, professores e estudantes, neles se movimentam e deles
se utilizam. Assim, concordamos com Escolano Benito (2020), que as coisas em sua
materialidade pertencem, inquestionavelmente, à experiência. Perceber, portanto, os
artefatos e os objetos em sua semântica (própria ou ressignificada), requer uma operação
intelectual, que ultrapasse a exposição positivista, para compreendermos melhor a escola,
o ensino, as diferentes práticas que nela se desenvolvem. É neste sentido que passamos a
abordar os materiais pedagógicos.
Fotografias: materiais didáticos para o ensino de Ciências

Começamos esta seção ainda nos remetendo a Escolano Benito (2020), que nos
chama atenção para a inteligência das coisas. Ele afirma: “Algunos materiales escolares
tienen una semántica bien acreditada. No solo se concibieron y usaron para instrumentar
acciones de enseñanza y aprendizaje sino que comportaban una determinada e intuible
“inteligencia”. En otros objetos las significaciones pueden ser menos visibles, pero en
estos que aquí se presentan son manifiestos los atributos culturales que acompañan a su
mera fisicalidad, lo que requiere un análisis “intelectual” de los materiales” (p. 797).11
Neste sentido, as fotografias selecionadas para compor o álbum fotográfico, com vistas a
dialogarmos sobre os materiais didáticos, se dividem em dois tipos, uma parte delas
registrando os objetos aos quais foram atribuídas finalidades na educação científica,
especialmente consagrando os processos de produção do conhecimento científico nos
processos de ensino. Alguns são oriundos da indústria de produtos pedagógicos,
“equipam” a escola, mas exigem o modo adequado para seu manuseio e trazem implícito
a sua valorização como objeto, e aludem ao modo encontrado pela escola, para a guarda
e a proteção desses equipamentos. Na outra parte, aparecem os produtos pedagógicos,
que são fabricados na própria escola, ressignificando a prática educativa das Ciências,
como é o caso dos painéis, que neste álbum não são concebidos apenas como registros de
atividades, mas como materiais educativos com finalidades didáticas.

As fotografias 12 e 13 mostram armários situados na sala de Ciências (fotografias


7, 8 e 9) que foram adquiridos ao longo do primeiro ano dos trabalhos de dinamização do
ensino de Ciências na escola. No interior do armário retratado na figura 12 é possível
observar uma diversidade de materiais que também foram comprados e que remetem a
referências científicas laboratoriais. Temos assim provetas, “beckers”, “erlenmeyrs”,
balões de fundo chato, tubos de ensaio, pipetas, garrafas térmicas, garrafas de álcool,
bicos de Bunsen e vários outros que em seu conjunto evidenciam um movimento de
transformar a sala de Ciências num espaço representativo das práticas pedagógicas de
ensino de Ciências. Desse modo, esses materiais podem ser percebidos como
representações de uma cultura escolar especificamente relacionada à disciplina escolar
com suas tradições de valorização de práticas ativas e experimentais de ensino. Tais
materialidades compõem um cenário dessa disciplina, assim como expõem suas formas
pedagógicas de ensinar.
Compreendemos esses materiais de laboratório como representantes de uma
tradição de ensino, a experimentação, constituída social e historicamente e, portanto,
sendo também produzida pela alquimia curricular (POPKEWITZ, 2001). Em tal
processo, as práticas curriculares de Ciências tomam forma numa sala específica, a sala
de Ciências, que não é um laboratório, mas que guarda suas marcas. Assim, nessa sala se
dão experiências tanto relacionadas à vida cotidiana dos estudantes como àquelas que
remetem ao fazer laboratorial científico. Goodson (1997) discute essas tensões, entre
visões de ensino de Ciências mais voltado para a “ciência das coisas comuns” e aquela
mais voltada para uma formação acadêmica laboratorial, durante o século XIX na
Inglaterra. Com elementos bem diferentes, no Brasil, a disciplina Ciências também
apresenta marcas dessas tensões que mesclam finalidades de ensino acadêmicas,
pedagógicas e utilitárias desde a sua emergência nos currículos escolares durante os anos
de 1930 (MARANDINO, SELLES e FERREIRA, 2009).

Além disso, no Brasil, essa disciplina também sofreu transformações


significativas produzidas em meio às proposições do movimento de renovação do ensino
de Ciências12. Esse movimento promoveu o ensino experimental durante os anos de
1960/1970 que, de acordo com Ferreira (2014), contribuiu para aproximar o ensino
escolar das ciências de referência. Nesse processo, a experimentação foi se tornando uma
tradição valorizada discursivamente, o que pode ser observado nos materiais guardados
nos armários da fotografia 12. Nessa imagem chama a atenção como as vidrarias são
dispostas organizadamente dentro do armário da sala de Ciências para utilização nas aulas
de experimentação. Consideramos que muitos materiais adquiridos e utilizados durante
as atividades de ensino de Ciências da EM Chile fazem parte dessa tradição que também
constitui fortemente essa disciplina escolar.
Fotografia 12 (24/07/2014) Fotografia 13 (2019)

Por outro lado, na mesma Sala de Ciências também podem ser observados dois
armários brancos de portas transparentes (fotografia 13). Nestes pode-se perceber a
presença de modelos pedagógicos do corpo humano, da molécula de DNA, de uma célula,
de um vírus e ainda de representações de processos celulares como a mitose e a meiose.
Parte desses materiais são industriais, mas a outra parte é formada por materiais
produzidos em atividades docentes e discentes de ensino de Ciências. São objetos que
resultam dos processos alquímicos de ensinar e aprender formando tanto os estudantes
como os professores.

Percebemos esses armários como exemplos das transformações pedagógicas que


a sala de Ciências (fotografias 7, 8, 9) veio sofrendo ao longo do período entre 2013 e
2019. Isto porque consideramos que essa sala continuou mantendo as características de
um espaço pedagógico como tantos outros da escola, mas passou a abrigar nesses
armários um conjunto de objetos característicos de práticas escolares relacionadas a
tradições curriculares da disciplina escolar Ciências. As fotografias 14, 15 e 16 trazem
imagens de alguns dos objetos guardados nesses armários: modelos de dissecção e de
crânios de animais, além de um microscópio.
Fotografia 14 (2014) Fotografia 15 (05/11/2014)

Fotografia 16 (2014)

Esses objetos fizeram parte de uma lista de aquisições planejada quando da


elaboração do projeto “Dinamizando saberes na formação de professores de Ciências:
materiais didáticos e atividades de ensino produzidos nos encontros entre a Universidade
e a Escola”, a partir do qual as professoras de Ciências foram desenvolvendo atividades
para o ensino dessa disciplina escolar integradas ao Projeto Fundão Biologia - UFRJ. O
foco principal desse projeto era a dinamização do ensino promovida pela produção,
análise e utilização de materiais didáticos e atividades práticas e experimentais. Tanto nas
fotografias 15 como na 16 já se pode observar esses objetos sendo utilizados por
estudantes, o que denota seu papel intrínseco às atividades pedagógicas relacionadas às
dinâmicas próprias do currículo da disciplina. Assim, na fotografia 16, por exemplo,
temos o microscópio servindo de base para uma atividade de observação.

O microscópio pode ser considerado como um dos instrumentos científicos mais


significativos na modernização tanto do campo das Ciências Biológicas como também do
ensino escolar da Biologia. Ao discutirem os significados curriculares do microscópio no
ensino de Biologia do Colégio Pedro II no período entre 1960/1970, Oliveira e Gomes
(2020) argumentam que esse instrumento foi o centro da produção de atividades práticas
experimentais relacionadas ao que se considerava como a melhor forma de ensinar
Biologia. Nesse sentido, é interessante perceber como esse objeto aparece representado
nessa fotografia da EM Chile em 2014 (fotografia 16) reafirmando valores já consagrados
pela comunidade disciplinar de Ciências e Biologia e ligados ao campo científico de
referência. Cabe destacar aqui que o próprio ato de registrar tal interação entre a aluna e
o microscópio também pode ser considerado como parte desse lugar ocupado pelo
microscópio nos currículos de Ciências. Em outras palavras, esse artefato foi adquirido,
utilizado e registrado em imagem como uma materialidade que é parte da disciplina
escolar Ciências.

Outras materialidades que chamam a atenção nas fotografias tomadas durante esse
período na escola são os painéis elaborados para a divulgação e socialização das
atividades produzidas em meio ao currículo d disciplina. Tais atividades são registradas
a partir de desenhos, fotografias, imagens recortadas e até roteiros impressos de atividades
desenvolvidas para o ensino. Podemos observar tais produções nas fotografias 17, 18, 19
e 20. Elas mostram como as Ciências foram registradas tanto em painéis no interior da
sala de Ciências como também nos corredores da escola.

Fotografia 17 (2014) Fotografia 18 (sem data)

O painel da sala de Ciências aparece nas fotografias 7 e 8, se destacando como


uma das primeiras mudanças que a sala sofre ao ser designada desse modo. Podemos ver
que nas fotografias 17 e 18, o referido painel aparece ilustrado de duas maneiras distintas.
As ilustrações da fotografia 17 são imagens de vidrarias de laboratório e microscópios e
também desenhos de cientistas trabalhando. Já na fotografia 18 são expostos, além de
gravuras de vidrarias, os roteiros didáticos de atividades experimentais característicos das
aulas práticas da referida disciplina. Esses painéis foram organizados pelas professoras e
bolsistas do projeto com o objetivo de tematizar a sala de Ciências, divulgando as
atividades de uma disciplina eletiva intitulada “Iniciação à Ciência”. Esta disciplina fazia
parte de um conjunto de atividades oferecidas à tarde com o objetivo de agregar
estudantes interessados em estudar Ciências.

Mas a tematização das Ciências não se limitou ao espaço da referida sala, como
indicam as fotografias 19 e 20 que mostram outros painéis localizados em espaços de
circulação da escola. Ao observar essas fotografias podemos notar a divulgação da sala
de Ciências na fotografia 19, com imagens de materiais e atividades que mostram para a
comunidade escolar como a sala de aula foi transformada em sala de Ciências. Já a
fotografia 20 é uma divulgação da Feira de Ciências ocorrida em 05 de novembro de
2014.

Fotografia 19 (05/11/2014) Fotografia 20 (24/10/2014)

O registro fotográfico desses painéis nos indica como se tornou relevante mostrar
o quanto as atividades de Ciências saíram dos espaços das salas de aula, passando a fazer
parte do currículo escolar como um todo. Isto também foi evidenciado nas fotografias 10
e 11, de uma atividade da Feira de Ciências ocorrendo numa sala de música. Nesse sentido
é interessante destacar que a organização do álbum aqui apresentado vem elucidando
aspectos interessantes que mostram como os limites da organização disciplinar do
currículo escolar podem ser subvertidos em meio a um dinâmica curricular proposta por
uma disciplina como a de Ciências.
Fotografias: as materialidades produzindo o ensino de Ciências

A seleção da série de fotografias para o álbum mostrada até aqui contribui para
um olhar sobre a forma escolar com que o currículo da disciplina foi se dinamizando
durante os anos entre 2013 e 2019. A fotografias 21, 22, 23, 24, 25 e 26 que apresentamos
nesta seção nos levam a explorar mais imagens que retratam essa dinamização. São
registros em que os objetos materiais do ensino de Ciências aparecem em situações de
ensinar e aprender com base em atividades práticas e experimentais. Uma aluna
manuseando vidrarias e mostrando o resultado de um experimento de extração de DNA
de morango está no foco, que nos chama a atenção, da fotografia 21. É uma atividade
ocorrida em uma das aulas de Ciências em que os objetos de vidro se parecem com os de
um laboratório científico. Assim, na execução dessa experiência notamos os sentidos que
esses objetos tomam como parte de uma cultura científica escolarizada.

Fotografia 21 (28/12/2014)

A atividade está ocorrendo na sala de Ciências, uma sala de aula comum da escola
que vai se transformando à medida que vai sendo habitada por objetos e atividades
relacionados ao currículo de Ciências. Mas é importante notar nessa fotografia o roteiro
da atividade, uma folha de papel em cima da mesa. Este é um material com orientações,
problematizações e exercícios que acompanham toda a atividade e que é parte da tradição
experimental que caracteriza a disciplina escolar.
As atividades práticas estão também relatadas nas fotografias 22 e 23 que retratam
materialidades produzidas por alunos para a Feira de Ciências. Nestas imagens podemos
observar uma atividade experimental e um modelo. Em ambos os casos o que chama a
atenção são os materiais utilizados para a produção de atividades elaboradas pelos
próprios alunos. Na fotografia 22 vemos um experimento, explorando o conceito de
pressão atmosférica, montado com objetos caseiros como uma garrafa, um prato, uma
vela e água colorida com tinta azul. Neste caso, ao analisarmos a imagem podemos
interpretar as transformações que determinados aspectos ligados a uma cultura de
natureza científica podem sofrer nas dinâmicas curriculares de ensinar e aprender
Ciências na escola.

Fotografia 22 (05/11/2014) Fotografia 23 (05/11/2014)

Por outro lado, a fotografia 23 mostra um modelo de isopor com a representação


da anatomia do aparelho respiratório humano que é parte de uma exposição oral feita
pelos alunos sobre aspectos da anatomia e fisiologia da respiração. Essa representação
elaborada pelos alunos exemplifica mais uma das formas escolares que os objetos
adquirem no contexto do currículo de Ciências escolar, evidenciando também como os
objetos cotidianos vão transmutando as práticas do ensino dessa disciplina.

Numa série final de três fotografias, 24, 25 e 26, o foco é em atividades de aulas
ocorridas na propalada sala. Pode-se ver assim os materiais didáticos que são parte dessas
aulas. Na fotografia 24, os estudantes estão ocupados em observar um caixa de insetos,
organizada por eles. Essa observação é parte de uma aula sobre esses animais. Observar,
descrever, comparar são ações valorizadas pelos modos de ensinar e escolarizar as
Ciências que refletem elementos de uma cultura científica que é parte dos conhecimentos
que constituem o currículo de Ciências na escola.
Fotografia 24 (2019) Figura 25 (2019)

Já na fotografia 25, a atividade da aula gira em torno de um modelo da anatomia


interna de uma ave. Além do modelo, é possível também identificar a presença de um
caderno, além dos roteiros impressos para os alunos acompanharem a explicação da
professora. As mãos desta aparecem em movimento no lado esquerdo da foto o que nos
indica que está elaborando uma explicação sobre os objetos situados na mesa circundada
pelos alunos. Num olhar mais atento, é possível entender que as materialidades e tanto as
mãos da professora como dos estudantes fazem parte de uma dinâmica pedagógica que,
de acordo com Popkewitz (2001; 2010), constitui um sistema de pensamento que delimita
como deve ser o ensino de Ciências, associando ao caráter de renovação do ensino, a
dinâmica da disciplina e as suas finalidades naquele contexto.

Por fim, na fotografia 26 trazemos a sala de Ciências dominada por uma aula de
Ciências. É possível reconhecer na sala alguns elementos já mostrados em outras
fotografias como, por exemplo, o armário com portas transparentes ao fundo, o painel na
parede ao lado direito e ainda as mesas coletivas ocupadas pelos alunos. No momento
retratado, estes estão atentos ao professor que está acompanhado de uma adestradora de
falcões. Ela tem na mão um falcão.
Fotografia 26 (2019)

A partir dessas três fotografias é possível compreender as aulas nessa sala a partir
de diversos elementos tradicionais dos currículos de Ciências: as coleções com seus
exemplares, os modelos que representam aspectos importantes do que se quer ensinar
sobre os seres vivos e os próprios seres vivos, como é o caso da presença do falcão na
fotografia 26. Todos esses elementos compõem uma cena da disciplina Ciência em que
há uma mescla de tradições acadêmicas, pedagógica e utilitárias como argumentadas por
Goodson (1983, 1997, 1998, 2001).

Ainda sobre esta fotografia, ressaltamos que o professor é um estudante de


Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRJ que está apresentando a sua regência de
aula como parte das atividades de formação do componente curricular prática de ensino
e estágio supervisionado das Ciências Biológicas.13 A EM Chile vem acolhendo em seu
cotidiano escolar estudantes para desenvolverem seu estágio supervisionado curricular
em Ciências orientados pelos professores de Ciências da escola e supervisionados por
professores de prática de ensino da universidade. Assim, toda a ambiência da atividade
registrada nessa fotografia representa de forma potente os processos de integração entre
escola e universidade voltados para a formação de professores e a dinamização do
currículo de Ciências na escola.
Considerações finais

Ao longo das seções deste artigo, buscamos apresentar as fotografias selecionadas


para compor uma série sobre o currículo de Ciências produzido num contexto de
integração entre uma escola e um projeto de extensão universitário voltado para a
dinamização do ensino e para a formação de professores. A série de 26 fotografias é
tratada como um álbum em que procuramos promover observações, descrições e análises
acerca das dinâmicas escolares produzidas em meio a essa integração entre a escola e a
universidade. E desse modo, trabalhamos com as fotografias como documentos
históricos, tidas como registros que podem ser analisadas em sua materialidade.

Assim, o álbum apresenta elementos que focam nas materialidades de uma


história recente da disciplina Ciências produzida entre a EM Chile e o Projeto Fundão
Biologia-UFRJ em meio a ações de extensão, ensino e pesquisa. Tais ações se
corporificam pelas relações de formação construídas entre professores da escola,
licenciandos e professores universitários que juntos organizam as dinâmicas de ensinar
Ciências e de formar professores para essa disciplina escolar. Tais dinâmicas envolvem
parte da comunidade disciplinar, empenhada em definir sentidos e significados para a
formação docente e para o currículo escolar. Os efeitos materiais dessas relações são
evidenciados nas fotografias selecionadas e interpretadas, principalmente na sala de
Ciências, que vai sofrendo transformações materiais e agregando valores e
conhecimentos relacionados à disciplina escolar Ciências. Além disso, tais efeitos são
ainda disseminados para outros espaços da escola.

Compreendemos o currículo de Ciências produzido entre a EM Chile e o Projeto


Fundão Biologia – UFRJ como uma produção específica desse contexto a partir de olhares
teóricos sobre a historicidade dessa disciplina escolar com suas tradições de ensino e suas
materialidades construídas por sua comunidade disciplinar. O álbum de fotografias,
registro de uma experiência duradora, é apresentado com o intuito de perceber os sentidos
da experiência na formação dos estudantes de licenciatura, na discussão sobre o currículo
planejado na escola e na organização de práticas de ensino, inspiradas na nossa
compreensão sobre a alquimia curricular como proposta por Popkewitz (2001).

No caso do currículo de Ciências desta escola, entendemos que ele é parte das
construções culturais, sociais e históricas já arquitetadas por uma comunidade disciplinar
que ao longo de sua história vai produzindo formas de ensinar Ciências. Tais formas de
ensinar podem assim ser compreendidas como o resultado de processos de alquimia
curricular que produzem a disciplina, seus modos de ensinar, seus materiais didáticos e
seus alunos e professores.

Nessa perspectiva, voltamos nossas reflexões para as materialidades adquiridas,


produzidas e utilizadas durante o período entre 2013 e 2019 nos processos de produção
curricular do ensino de Ciências da EM Chile, argumentando que elas permitem perceber
os valores e conhecimentos agregados nesse período por essa parceria entre escola e
universidade. São essas materialidades que, a partir dos registros fotográficos contribuem
para dar destaque à importância dessas práticas, não apenas como formas de qualificar o
ensino, mas de perceber qual ensino e quais saberes são valorizados, e especialmente,
como a disciplina é pensada e realizada, no escopo das tradições disciplinares.

Notas

1. O trabalho é o resultado dos estudos desenvolvidos a partir do projeto “Currículo de Ciências na Escola
Municipal Chile: apontamentos para um olhar sócio-histórico sobre o ensino, os materiais didáticos e a
formação docente”, em estágio de pesquisa sênior (pós doutorado) realizado na UNICAMP - Universidade
Estadual de Campinas.

2. Inicialmente o projeto de pós doutoramento propunha um estudo sobre o currículo de Ciências a partir
dos materiais didáticos produzidos, mobilizados e analisados na EM Chile por professores e futuros
professores, procurando-se organizar um acervo desses materiais na escola. No entanto, o fechamento das
escolas e das universidades em 2020, provocado pela pandemia da Covid 19, nos levou a refletir sobre
outras possibilidades de produção de um olhar investigativo sobre essas materialidades. Passamos assim a
nos debruçar sobre os arquivos de fotografias digitais, produzidos ao longo do período do estudo, para a
organização de um álbum que nos possibilitasse analisar os registros fotográficos elaborados por
professores, bolsistas e licenciandos.

3. Com apoio do Programa “Apoio à Melhoria do Ensino em Escolas da Rede Pública Sediadas no Estado
do Rio de Janeiro” da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro pelo Edital FAPERJ No. 34/2013;
e dos Programas Institucionais de Bolsas de Extensão e Iniciação Artística e Cultural da UFRJ (PIBEX,
PROFAEX e PIBIAC)

4. São documentos esparsos, que foram produzidos com distintas funções no registro das atividades e, que
passam a fazer parte de um pequeno acervo visando a memória do projeto, bem como a análise que se
oferece nesse artigo.

5. (...) que “permita indagar sobre o que diz e transmite uma imagem não somente como texto, mas também
através de seus silêncios e de sua própria presença, ainda que seja digital” (tradução nossa).

6. A coordenadora das atividades de extensão na escola é a primeira autora deste trabalho.

7. Informação retirada da placa da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro que divulga o Projeto Educativo
2008: A presença da Arte Brasileira nas Escolas Municipais do Rio de Janeiro.

8. Professoras Vanessa Stefano Masquio e Viviane Paiva Fontes.

9. Pedro Antonio dos Santos Bonfim Gonçalves, retratado nesta fotografia, desenvolveu suas atividades
de estágio supervisionado de Prática de Ensino em Ciências Biológicas na EM Chile durante o ano de
2019.
10 Adriano da Silveira Ramos da Silva e Mirian Bittencourt Sathler Figueiredo, retratados nesta fotografia,
participaram das atividades de extensão na EM Chile como bolsistas PROFAEX/UFRJ e PIBIC/UFRJ.

11 “Alguns materiais escolares têm uma semântica bem estabelecida. Eles não somente foram concebidos
e usados para instrumentar ações de ensino e aprendizagem, como também carregavam uma determinada e
intuitiva “inteligência”. Em outros objetos as significações podem ser menos visíveis, porém nestes que
aqui se apresentam são manifestos os atributos culturais que acompanham a sua mera fisicalidade, o que
requer uma análise “intelectual” dos materiais” (tradução nossa).

12. O movimento de renovação do ensino de Ciências no Brasil ocorreu fortemente influenciado pelas
mudanças curriculares das disciplinas científicas nos Estados Unidos, como resultado do lançamento do
primeiro satélite artificial, em 1957, pela União Soviética. Três instituições nacionais participaram desse
movimento: o Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC); a Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento do Ensino de Ciências (FUNBEC); e o Projeto Nacional para a Melhoria do Ensino de
Ciências (PREMEN). E também foram criados os Centros de Ciências em seis cidades do país que
promoveram projetos idealizadores de materiais didáticos e atualização de professores (Krasilchik, 1978,
1995; Barra & Lorenz, 1986).

13 A fotografia retrata a atividade de regência de aula de Aron Barbosa de Oliveira.

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and an alternative possibility. Journal of Teacher Education, v. 61, n. 5, p. 413-421,
Nov. 2010.

Correspondência

Maria Margarida Pereira de Lima Gomes


Doutorado em Educação pela UFF – Universidade Federal Fluminense; Pós-Doutorado
pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas; Programa de Pós-Graduação em
Educação/UFRJ; PROFBIO/UFRJ; NEC/UFRJ – Laboratório do Núcleo de Estudos de
Currículo; Projeto Fundão Biologia – UFRJ.
Email: margaridaplgomes@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8609-3898

Maria do Carmo Martins


Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas; Pós-Doutorado pela
University of Brighton – Reino Unido e pela Universidad del Valle, Colômbia; Membro
do Grupo de Trabalho Permanente Autoritarismo y Educación e da Rede Iberoamericana
de História da Educação em Ciências.
Email: carminhapousa@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2029-1285

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