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nacional e, especificamente, do ensino médio: LDB n.º 4.024 de 1961, Lei n.º
5.692 de 1971, LDB n.º 9394 de 1996, Lei n.º 13.415 e Medida Provisória 746.
Como método, tem-se como aporte teórico-filosófico o materialismo histórico
dialético, por este possibilitar ir do abstrato ao concreto, procurando expressar
o movimento do real em diversas instâncias e diversos níveis de concreção
(MARX, 2008).
Palavras-chave: Ensino Médio Brasileiro. Reforma educacional. Golpe de
Estado.
Introdução
O presente artigo tem como tema central o Ensino Médio no Brasil e
as constantes reformas realizadas na história da educação brasileira. Tem-se
como objetivo apresentar este percurso histórico através das reformas realizadas
desde o período imperial, além de discutir a Reforma do Ensino Médio atual,
apresentando as alterações no texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) e sua intrínseca relação com o período histórico e as correlações
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração
mínima de três anos, terá como finalidades:
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no
ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade
a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensa-
mento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disci-
plina. (BRASIL, 1996).
Médio para mil e quatrocentas horas das quais mil devem ser implantadas no
prazo máximo de cinco anos a partir de 2 de março de 2017.
Sobre a organização curricular do Ensino Médio, a Reforma instituiu que
deverá ser feita pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento
- em sua terceira versão - que foi entregue, em abril de 2017, ao Conselho
Nacional de Educação para emissão de parecer. A BNCC elaborada sob os aus-
pícios da Pedagogia das Competências1 e a Lei em foco estão intimamente
relacionadas com um conjunto de reformas educacionais executadas no mundo,
principalmente nos países periféricos, assunto melhor desenvolvido no pró-
ximo subtópico deste texto.
Ainda sobre o currículo do Ensino Médio, a Reforma consolida a orga-
nização dos conhecimentos em áreas, eliminando a separação tradicional em
disciplinas de ensino, com seus conteúdos próprios. Nesse sentido, a mudança
baseia-se em conceitos como o de interdisciplinaridade, transdisciplinaridade,
etc., no entanto, conforme leitura prévia da BNCC, o que se efetiva é uma reti-
rada dos conteúdos históricos das disciplinas, uma redução das matérias de
formação crítica como filosofia, sociologia e história. Os conteúdos são subs-
tituídos, segundo a BNCC, pela necessidade de permitir que o aluno articule
conhecimentos para desenvolvimento de habilidades.
Dentre as maiores controvérsias acerca do texto da Lei 13.415, estava
a obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia. Na versão inicial do
texto da Medida provisória 746 não havia referência à obrigatoriedade do
ensino destas disciplinas. Devido às várias controvérsias, oposições e reivindi-
cações durante a tramitação da MP 746, o texto final apresentou a inclusão do
seguinte parágrafo: “§ 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de educação física,
arte, sociologia e filosofia (BRASIL, 2017). Observe-se que o texto não insere
1. O termo competência, segundo Nomeriano (2007), ganha forma em meados da década de 1970
e das mudanças ocorridas no mundo do trabalho, quando o modelo taylorista entra em crise. Ganha
força, neste contexto, a ideia de que os conhecimentos e a forma como são mobilizados são mais
importante que a formação, a qualificação do trabalhador. Assim, consolida-se o modelo de Pedagogia
das Competências, defendido por teóricos como Edgar Morin e, principalmente, Philippe Perrenoud.
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional
Comum Curricular e por itinerários formativos específicos, a serem
definidos pelos sistemas de ensino, com ênfase nas seguintes áreas de conhe-
cimento ou de atuação profissional:
I - linguagens;
II - matemática;
III - ciências da natureza;
IV - ciências humanas; e
V - formação técnica e profissional (BRASIL, 2017b).
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional
Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organi-
zados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a
relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino,
a saber:
[...]
Vale destacar que a MP 746 não é o primeiro documento que trata da con-
cepção de itinerários formativos. A Resolução CNE/CEB Nº 4, de 13 de julho
de 2010, que define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
Básica, já apontava para esta possibilidade ao tratar, em seu Art. 13. parágrafo
3º, sobre um percurso formativo aberto, flexível e variável, considerando os
interesses dos estudantes, considerando componentes escolares outros além
dos obrigatórios. Evidencia-se, então, que as mudanças da Lei 13.415 não são
pontuais, mas se inserem numa política nacional maior e com ela está articu-
lada. Leia-se a Resolução CNE/CEB Nº 4:
Conclusão
A crise da década de 1970 detona o receituário neoliberal: abertura de
mercado, privatizações, flexibilização das relações trabalhistas, políticas foca-
lizadas ao invés de políticas universais. Nesse contexto, o neoliberalismo
engendrou um processo de ofensiva em diversos países da América Latina.
No caso específico do Brasil, deu-se no governo Fernando Henrique Cardoso.
Nesse contexto do receituário neoliberal, as exigências por mudanças edu-
cacionais é imposta de fora pra dentro, vindas do exterior pelos organismos
multilaterais, como o Banco Mundial e o BIRD.
A LBD não é, então, produto das discussões e exigências dos movimentos
sociais, mas uma imposição atrelada ao contexto explicitado acima. Ao passo
que no governo de frente popular do Partido dos Trabalhadores (PT), deu-se
a expansão do ensino, a universalização do ensino fundamental, a construção
de escolas e universidades, a ampliação do acesso dos trabalhadores à educação
superior, mesmo em meio à queda na qualidade do ensino, incentivo à rede
privada pelo governo e sua massificação, do ensino à distância, expressando
uma contradição numa estrutura que, em si, é contraditória.
Referências
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de
dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
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<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/126992> Acesso
em: 30.07.2017a.
BRASIL. Medida provisória nº 746, de 22 de setembro de
2016. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg- getter/
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BRASIL. Resolução CNE/CEB Nº 4, de 13 de julho de 2010. Disponível em: <http://
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MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de Florestan
Fernandes. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
NOMERIANO, Aline Soares. A educação do trabalhador: a pedagogia das
competências e a crítica marxista. Maceió: EDUFAL, 2007.
Recebido: 30/05/2017
Aceito: 31/07/2017