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1824
A Constituição de 1824, primeira estabelecida após a Independência do Brasil,
fazia referência à educação apenas em seu último parágrafo, ao estabelecer que “a
instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”. Apesar da norma estabelecida na
Carta Magna, a operacionalização do ensino gratuito não ficou clara, e ao longo do
1
Texto disponível na íntegra em: https://pp.nexojornal.com.br/linha-do-tempo/2020/O-direito-%C3%A0-
educa%C3%A7%C3%A3o-no-Brasil
Primeiro Império legislações tornaram a educação primária uma responsabilidade das
províncias, o que desobrigou o Estado nacional a cuidar dessa oferta.
1891
A Constituição de 1891, a segunda brasileira e primeira do regime republicano,
tratou da educação apenas no artigo 72, parágrafo 6º, ao afirmar que “será leigo o
ensino ministrado nos estabelecimentos públicos”. O artigo 35 incumbiu ao Congresso
Nacional a tarefa de “criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados”,
mas, mais uma vez, não houve suporte para a organização de um sistema nacional, e
com isso a educação permaneceu estagnada. A principal preocupação do texto, dado
o contexto de fixação da República, era especificar a competência de legislação da
União e dos estados. Pouco avançou em termos de oferta e menos ainda na questão
do acesso à educação.
1934
A Constituição de 1934 foi a primeira a destinar um capítulo à educação e a
proclamá-la como um direito de todos. Ela manteve a gratuidade do ensino primário,
tornando-o obrigatório, e delimitou uma parte do orçamento da união, estados,
municípios e distrito federal a ser obrigatoriamente alocada para a manutenção e o
desenvolvimento dos sistemas educativos. Apresentou dispositivos que buscaram
organizar a educação nacional, propondo a criação de um plano nacional de educação
e a organização das redes de ensino nos estados. Foi a primeira vez que houve uma
preocupação em operar um sistema nacional articulado.
1937
Com o advento do Estado Novo, a fase ditatorial da Era Vargas, a
nova Constituição de 1937 apresentou mudanças que representaram um retrocesso
em relação ao que estabelecia a Carta anterior. Apesar de manter o tópico referente
à educação da Constituição de 1934, a nova legislação suprimiu trechos e relativizou
a oferta educacional, impactando fortemente o acesso à escola. Entre os trechos
alterados, destaca-se a questão da gratuidade, já que a nova redação do artigo 130
passou a afirmar que, apesar de o ensino primário ser obrigatório e gratuito, “a
gratuidade, porém, não exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais
necessitados; assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou
notoriamente não puderem alegar escassez de recursos, uma contribuição módica e
mensal para a caixa escolar”.
Outro ponto importante diz respeito ao reforço da centralização dos poderes da
União, uma vez que a competência de determinar as diretrizes da educação no país
ficou restrita ao governo central. Com isso, retrocedemos no que diz respeito à
organização federativa da educação e dificultamos o acesso à escola.
1946
Com o fim do Estado Novo, a Constituição de 1946 retomou aspectos trazidos
pela Carta de 1934, garantindo a existência dos sistemas estaduais de ensino. Sua
preocupação foi ampliar as atribuições do governo federal sem que para isso houvesse
sacrifício da iniciativa particular, dos estados e do Distrito Federal. O texto retomou
questões como a vinculação orçamentária mínima da União, dos estados e municípios
para a educação, além de ter dado ênfase à ideia de educação pública. O artigo 168
estabeleceu o ensino primário gratuito para todos e um ensino posterior ao primário
gratuito apenas para aqueles que provassem falta ou insuficiência de recursos.
1961
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (lei n. 4.024) teve como objetivo
especificar as responsabilidades dos entes federativos em relação à oferta
educacional, garantir a aplicação de orçamento da União e dos municípios com a
educação, tornar obrigatória a matrícula nos quatro anos iniciais de ensino e
regulamentar a base curricular do sistema educacional. A lei havia sido prevista pela
Constituição de 1946, mas sua tramitação na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal durou 15 anos devido a divergências políticas (Montalvão, 2010) entre os
grupos que participavam de sua formulação. Apesar das amplas discussões e
disputas, a LDB deu preferência à manutenção e ao desenvolvimento do sistema
público de ensino, ainda que previsse a cooperação com instituições privadas.
1967
Com o início da ditadura militar, houve a promulgação de uma nova Carta
Constitucional em janeiro de 1967. Mais uma vez, o principal alvo de alteração foi
relativo à oferta de ensino público, com interesse do governo em substituí-la
gradualmente por bolsas de estudo em instituições privadas.
1969
A Emenda Constitucional de 1969 (ou Constituição de 1969) foi editada pela
junta provisória do regime militar e, diferentemente de outras emendas, alterou todo o
texto constitucional, incorporando os chamados atos institucionais. Ela reiterou a
competência da União de estabelecer e executar planos nacionais de educação e
legislar sobre suas diretrizes e bases, além de ter estabelecido, em seu artigo 176, que
a oferta de ensino “é livre à iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e
financeiro dos Poderes Públicos, inclusive mediante bolsas de estudos”.
1971
A lei n. 5.692 de 1971, nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, modificou
a estrutura de ensino do país, unificando as antigas etapas primária e ginasial em um
único curso de primeiro grau. Com isso, tornou-se obrigatória a matrícula escolar dos
alunos com idades entre 7 e 14 anos, e a organização do sistema de ensino passou a
ser composta por um primeiro grau com duração de oito anos e um segundo grau
(equivalente ao atual ensino médio) de três anos.
1983
A Emenda Constitucional 24 estabeleceu a obrigatoriedade da aplicação anual
pela União de no mínimo 13% da renda resultante dos impostos para a manutenção e
o desenvolvimento do ensino. Aos estados, Distrito Federal e municípios a exigência
mínima passou a ser de 25%.
1988
Com o fim do período ditatorial, a nova Constituição emergiu em meio a uma
ampla discussão sobre a necessidade de maior descentralização administrativa
e garantia de direitos sociais. Por isso, a educação passou a ser enunciada como um
direito de todos e dever do Estado. A nova redação constitucional preocupou-se não
apenas com a especificação do sujeito que tinha direito ao ensino, mas também com
a obrigação estatal na prestação dos serviços educacionais.
A nova Constituição criou uma seção específica destinada exclusivamente à
educação, que estipula os seguintes princípios no artigo 206:
1989
A lei n. 7.853 dispôs sobre a integração social das pessoas com deficiência.
Apesar de ter versado sobre diversos direitos básicos, no que tange à educação
a lei estabeleceu: a educação especial como modalidade educativa; a inserção de
escolas especiais (públicas e privadas) no sistema educacional; a oferta obrigatória da
educação especial em estabelecimentos públicos de ensino; o acesso de alunos com
deficiência aos benefícios conferidos aos demais educandos; e a matrícula
compulsória de pessoas com deficiência em cursos regulares de instituições públicas
e particulares de ensino – quando verificada a possibilidade de integração dessas
pessoas.
1990
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) trouxe para o centro das
atenções as pessoas com idade até 17 anos, que passaram a ser vistas como sujeitos
de direitos, e reforçou que o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes
dependia da integração do direito à educação a outros direitos sociais, como a vida, a
saúde, a alimentação, o esporte, o lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, o
respeito mútuo, a liberdade e a convivência familiar e comunitária. Assim, o estatuto
reforçou a importância da cooperação entre a educação e outras áreas.
1994
A lei n. 10.098 estabeleceu normas gerais para a promoção da acessibilidade
das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de
barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, a reforma de edificações
públicas e privadas e outros critérios básicos para a garantia de acesso ao transporte
e a meios de comunicação. O texto promoveu mudanças na formação de profissionais
intérpretes de escrita em braile e linguagem de sinais, que passaram a ser atores
fundamentais para garantir a comunicação direta às pessoas com deficiência.
1995
A lei n. 9.131 alterou os artigos 6, 7, 8 e 9 da Lei de Diretrizes e Bases,
estabelecendo a existência do Conselho Nacional de Educação, suas atribuições e a
composição de suas Câmaras de Educação Básica e Educação Superior.
1996
Três legislações trouxeram mudanças significativas para a educação.
Por fim, a lei n. 9.424 dispôs sobre a criação do antigo Fundef (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério). O fundo foi criado com o objetivo de reunir recursos dos três níveis da
administração pública (governo federal, estados e municípios) para promover o
financiamento do ensino fundamental (primeira à oitava série), promovendo a
redistribuição de recursos provenientes de impostos municipais e estaduais
proporcionalmente ao número de matrículas em cada rede.
2001
Foi aprovado o Plano Nacional de Educação (lei n. 10.172), com duração de dez
anos, buscando conferir estabilidade às iniciativas governamentais na área da
educação.
2002
A lei n. 10.436 dispôs sobre a Língua Brasileira de Sinais. Em diálogo com a lei
n. 10.098/94, o texto trouxe em seu quarto parágrafo a exigência aos sistemas
educacionais federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal a inclusão do ensino
de Libras nos cursos de formação de educação especial e magistério.
2003
Com vistas a preencher uma lacuna deixada pela Lei de Diretrizes e Bases em
sua versão promulgada em 1996, a lei n. 10.639, de 9 de janeiro, estabeleceu diretrizes
para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática da
história e cultura afro-brasileira, resgatando os direitos educacionais das comunidades
quilombolas e de toda a população de origem africana.
2005
A lei n. 11.114 tornou obrigatório o início do ensino fundamental aos 6 anos de
idade.
2006
Em complementação à legislação de 2005, a lei n. 11.247 alterou a redação da
Lei de Diretrizes e Bases, ampliando o ensino fundamental para nove anos, com
matrícula obrigatória dos alunos a partir dos 6 anos de idade.
Nesse mesmo ano foi feita a Emenda Constitucional 53, a maior já feita na
Constituição no que tange à questão educacional. Ao todo foram oito alterações em
matérias como:
2008
A lei n. 11.645 complementou a lei n. 10.639 de 2003, determinando a inclusão
no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática da história e
cultura afro-brasileira e também indígena.
2009
A Emenda Constitucional 59 expandiu o proposto pela lei n. 11.247/2006,
tornando o ensino obrigatório para todas as crianças e jovens com idade entre 4 e 17
anos.
2013
Foi aprovado o Estatuto da Juventude (lei n. 12.852), que promoveu uma
trajetória de inclusão, liberdade e participação das juventudes na sociedade. Em seus
artigos 7 a 13 e também no artigo 18, o texto reforçou o compromisso com programas
que garantam a democratização do acesso e da permanência dos jovens nas escolas
em todas as modalidades e também o acesso ao ensino superior, fazendo respeitar
as ações afirmativas de acordo com a legislação vigente.
O estatuto trouxe ainda uma forte preocupação com a educação inclusiva e com
a diversidade, requerendo ações efetivas para enfrentar as desigualdades e
discriminações étnico-raciais, de orientação sexual e de gênero. Além disso,
estabeleceu a participação dos jovens nos processos de gestão democrática nas
escolas e universidades.
No mesmo ano, a lei n. 12.796 adequou a Lei de Diretrizes e Bases à extensão
da escolaridade obrigatória para a faixa dos 4 aos 17 anos (já prevista pela Emenda
Constitucional 59), além de acrescentar o olhar para a diversidade étnico-racial e
substituir o conceito de “educandos com necessidades especiais” por “educandos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação”.
2014
Foi aprovada a lei n. 13.005 sobre o Plano Nacional de Educação, dando
sequência ao processo iniciado em 2001, com a lei n. 10.172.
I – a erradicação do analfabetismo;
2015
A lei n. 13.234 estabeleceu que o poder público deveria instituir um cadastro
nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculados na educação
básica e na educação superior, com o objetivo de fomentar a execução de políticas
públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialidades desses alunos.
2017
A lei n. 13.415 alterou a Lei de Diretrizes e Bases, estabelecendo carga mínima
anual de 800 horas para o ensino fundamental e ensino médio, distribuídas em 200
dias letivos. O texto definiu que o aumento da carga horária se daria de forma
gradativa, de forma que no prazo de cinco anos o ensino médio passasse a ser
composto por 1.400 horas. Também instituiu, no âmbito do Ministério da Educação, a
política de fomento às escolas de ensino médio em tempo integral.
2018
A lei n. 13.716 alterou a LDB para assegurar atendimento educacional ao aluno
da educação básica internado para tratamento de saúde em regime hospitalar ou
domiciliar por tempo prolongado. Além disso, a lei n. 13.632 passou a dispor sobre a
educação e aprendizagem ao longo da vida, assegurando que “a educação de jovens
e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos
nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a
educação e a aprendizagem ao longo da vida”.
2019
A lei n. 13.845 alterou a redação do Estatuto da Criança e do Adolescente a fim
de garantir vagas no mesmo estabelecimento de ensino a irmãos que frequentem a
mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
2020
O Congresso Nacional passou a discutir a renovação do Fundeb (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação), ativo por determinação legal desde 2007 e com previsão
para expirar em 31 de dezembro de 2020. Se as mudanças forem aprovadas, o fundo
deve se tornar permanente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JACOMELI, Mara Regina Martins. A lei 5.692 de 1971 e a presença dos preceitos
liberais e escolanovistas: os estudos sociais e a formação da cidadania. Revista
HISTEDBR On-Line, v. 10, n. 39, p. 76-90, 2010.
SOUZA, Mércia Cardoso de; SANTANA, Jacira Maria Augusto Moreira Pavão. O
direito à educação no ordenamento constitucional brasileiro. Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XIII, n. 74, 2010.