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Fundação Getulio Vargas

Escola de Relações Internacionais


Oficinas profissionais I, Comunicação e Expressão, Turma 1, 1º semestre de 2022
Prof. Juliana Cunha
Aluno: Maria Eugênia Virdes Pacca (C368711)
1ª avaliação: Resenha

RESENHA DO LIVRO “O Brasil contra a democracia: a ditadura, o golpe no Chile


e a Guerra Fria na América do Sul”

Maria Eugênia Virdes Pacca (FGV-SP)1

Resumo: O livro O Brasil contra a democracia: a ditadura, o golpe no Chile e a Guerra Fria
na América do Sul, baseado na grande pesquisa do jornalista Roberto Simon sobre o papel
brasileiro nas ditaduras da América do Sul no período da Guerra Fria, tem como objetivo
argumentar sobre uma ótica pouco averiguada: o papel fundamental do Brasil para a
implementação de governos anticomunistas motivado por diferentes motivos. Para isso, o autor
foca na ditadura Chilena e no papel brasileiro nela, mostrando o papel do Itamaraty e de outras
organizações e instituições brasileiras na época.
Palavras-chave: Chile; Guerra Fria; Diplomacia; Ditadura; América do Sul.

Abstract: The book O Brasil contra a democracia: a ditadura, o golpe no Chile e a Guerra
Fria na América do Sul, based on the extend research of the journalist Roberto Simon about the
brasilian role on the South American dictatorship in the Cold War period, aims to argue about a
not so investigated view: Brazil’s key role in the implementation of anti-communist
governments motivated by different reasons. To do that, the author focus on the Chilean
dictatorship and on the Brazilian role in it, showing the role of Itamaraty and of other Brazilian
organizations and institutions at the time.
Key-words: Chile; Cold War; Diplomacy; Dictatorship; South America.

O livro O Brasil contra a democracia: a ditadura, o golpe no Chile e a


Guerra Fria na América do Sul, escrito por Roberto Simon, jornalista e analista
internacional, e publicado pela Companhia Das Letras em 2021, tem como principal
objetivo, como mostra o título, abordar a grande influência exercida pelo Brasil na
América do Sul durante a Guerra Fria, focando no golpe de Pinochet no Chile. O livro é
dividido em três partes, nas quais o autor separa, cronologicamente, como a intervenção
brasileira ocorreu em diferentes fases da história da ditadura chilena. A obra consegue
articular, com êxito, uma visão pouco abordada até o momento sobre o papel do Brasil
na implementação de regimes anticomunistas na América do Sul, mostrando ao leitor
que o Brasil não foi apenas um fantoche estadunidense, teve grande destaque na época
motivados pelo medo da expansão do socialismo, que já estava em andamento na
região, fato que ameaçava a ditadura brasileira. É importante ressaltar que o livro é

1
Aluno do primeiro ano do curso de graduação em Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.
Contato: mage.v.pacca@gmail.com.
jornalístico, baseado em anos de pesquisa feitas por Simon, portanto não apresenta
escrita acadêmica. Dessa forma, Simon não apresenta os fatos e seus argumentos de
forma sucinta, trazendo fatos e explicações de forma extensa, até repetindo,
ocasionalmente, episódios e dispersando o leitor de seus principais argumentos.
Na primeira parte da obra, Roberto Simon concentra-se em como o governo
brasileiro começou, a partir da vitória de Salvador Allende, a influenciar e financiar, de
certa forma, o golpe contra o então presidente. Com a eleição de Allende, “o governo
Médici passou a ver o país vizinho como uma ameaça direta à segurança nacional.”
(SIMON, 2021, p.17), já que o chileno implementou a Unidade Popular do Chile, se
afastando do Brasil e se aproximando de Fidel Castro. O autor mostra que a América do
Sul, no período de tal eleição, passava por um momento sensível em que o socialismo
também estava presente em outras nações da região, como na Bolívia, no Uruguai e
Peru, o que elevava as preocupações dos militares brasileiros. Simon dá grande ênfase à
visão de grande preocupação brasileira sobre o “vírus chileno”, que recebia grande
atenção de esquerdistas por todo mundo, chamado de “experimento chileno”, e que
poderia incentivar diversos países ao seu redor.
Ao decorrer da segunda parte, há ênfase no período do golpe contra Allende em
1973 e, principalmente, em como a diplomacia brasileira foi essencial para sua
concretização. O autor enfoca como o Itamaraty e outras organizações brasileiras
trabalharam junto com empresários brasileiros para conceder o total apoio ao golpe de
Pinochet, contrapondo as visões mais comuns sobre o período: de que o Brasil apenas
obedecia às ordens de Washington e de que havia “uma operação conjunta e articulada
entre Estados Unidos e Brasil para derrubar Allende.” (SIMON, 2021, p.22) O
jornalista, mostrando diversas de suas pesquisas, argumenta como os diplomatas
brasileiros articulavam seus objetivos no apoio ao golpe e como era essencial a
participação do Itamaraty do esquema de repressão dentro e fora do país, onde
conseguiam informações privilegiadas, não só sobre o golpe chileno, mas também sobre
brasileiros refugiados no Chile.
Na parte final, o foco é em como sucedeu o apoio brasileiro ao Chile ao longo da
consolidação da ditadura, primeiro de maneira total e diminuindo posteriormente,
quando Geisel decide reduzir a proximidade com o outro país ao começar uma abertura
ao governo civil, continuada pelo governo de Figueiredo. Roberto Simon foca, nesta
parte do livro, em como, com as mudanças dos governos Médici para Geisel e,
posteriormente, Figueiredo afetaram a relação entre Brasil e Chile, já que os objetivos
dos que sucederam Médici eram bem mais distantes dos de Pinochet. Ele conclui que,
com o declínio da ditadura, os governos já não queriam mais se associar com a ditadura
chilena e, mesmo com esforços do Itamaraty para reparar as relações com o Chile: “A
vontade do presidente, os cálculos do Itamaraty ou as mudanças geopolíticas na
América do Sul não bastavam para fechar o ciclo que se iniciara com a eleição de
Allende, em 1970.” (SIMON, 2021, p.358)
O livro analisado é um livro extremamente completo e extenso, apresenta
linguagem jornalística baseada em anos de pesquisa de Roberto Simon, justificando o
fato de o autor não focar em argumentar diretamente sobre o assunto principal que quer
abordar, como acontece em textos acadêmicos. O autor acaba exagerando, muitas vezes,
na quantidade de evidências que utiliza para embasar seu argumento, fugindo da
explicação do fato em si e focando em pequenos detalhes desnecessários ao leitor, que
não modificam o entendimento do assunto e a qualidade do argumento.
Em sua Citronela 2CV, o também brasileiro Marco Aurélio Garcia,
pesquisador da Faculdade de Economia do Chile que galgara espaço
no MIR - e, futuramente, seria figura central na política externa
brasileira -, dirigia até seu escritório, no Centro de Estudos
Socioeconômicos, ao lado do La Moneda, na esperança de receber
ordens sobre como ‘resistir ao facismo’”. (SIMON, 2021, p.199).
Mesmo com uma escrita muito descritiva que dificulta o entendimento do leitor
do ponto principal que o autor quer mobilizar, o livro O Brasil contra a Democracia é
altamente recomendável a quem busca entender profundamente o papel brasileiro na
América do Sul durante a Guerra Fria por um novo ângulo. O livro apresenta linguagem
de fácil entendimento, viés jornalístico e ampla análise feita através das diversas
pesquisas do escritor, ou seja, ele ampara toda sua argumentação em diferentes estudos,
fazendo com que o leitor consiga ter, ao fim da obra, bom entendimento sobre a visão
do autor sobre o papel do Brasil durante a Guerra Fria.

Referências bibliográficas:

SIMON, Roberto. O Brasil contra a democracia: a ditadura, o golpe no Chile e a


Guerra Fria na América do Sul. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. 

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