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CARTILHA DE

COMBATE AO

RACISMO
INSTITUCIONAL
POR AÇÃO EDUCATIVA,
uma associada Abong.

Racismo institucional (é) um modo de


subordinar o direito e a democracia
às necessidades do racismo, fazendo
com que os primeiros inexistam ou
existam de forma precária, diante de
barreiras interpostas na vivência dos
grupos e indivíduos aprisionados pelos
esquemas de subordinação desse último.

Jurema Werneck

Em 2019, a Ação Educativa comemorou


20 anos do lançamento do Concurso
Negro e Educação, importante marco de
nosso compromisso com a promoção da
democracia e direitos humanos no Brasil
que tem seu ponto de partida as nossas
ações no campo da educação popular.

Tendo dentre seus principais objetivos


contribuir para a ampliação da discussão
teórica e metodológica pertinente à área
de estudos da população negra e suas
interfaces no campo da educação, a
iniciativa construída em parceria com a
ANPEd (Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação)
estreitou os contatos da organização com a da reflexão acerca das desigualdades
comunidade de pesquisadoras/es negras/os que, silenciosa ou ruidosamente, se
e deixou marcas profundas em todas as áreas instalam e se naturalizam no dia a dia das
e dimensões de nosso trabalho. organizações, exigindo escuta ativa, reflexão
permanente, capacidade de aprender e
Os princípios fundantes e aprendizados a necessária atualização das ações de
decorrentes do Concurso Negro e Educação identificação e combate às discriminações.
se expressam em nosso engajamento nas
lutas protagonizadas pelo movimento negro Esta publicação sistematiza essa
e nas diferentes frentes de resistência às experiência em curso e reflete sobre os
opressões e discriminações interseccionais desafios para a superação das práticas
que construímos com diversas outras discriminatórias no ambiente profissional,
organizações da sociedade civil ao longo de inclusive das organizações comprometidas
nossa história. com os direitos humanos. Ela só se tornou
possível graças a um intenso e valioso
O imperativo ético e moral de reconhecimento trabalho levado a cabo pelo Grupo de
das desigualdades raciais em nosso país que Referência de Enfrentamento e Prevenção
orientou a adoção de ações afirmativas em ao Racismo Institucional (GREPRI),
diferentes frentes – dentre elas as cotas raciais criado a partir desse processo. Composto
no ensino superior e concursos públicos e a por profissionais negros e negras da
alteração da LDB pelas leis 10.639/2003 organização, esse grupo tem como objetivo
e 11.645/2008 – não só resultou na fomentar reflexões sobre relações raciais,
incorporação dessas agendas como parte articulando com o acúmulo institucional
de nossa atuação pública, mas repercutiu nesse campo, bem como promover práticas
também internamente nos desafiando a de enfrentamento ao racismo institucional
identificar em que medida e com quais no âmbito da Ação Educativa.
características o racismo institucional poderia
estar presente no cotidiano da organização.

Com o apoio do Instituto Amma Psique, a


partir de 2017, nos propomos a construir
coletiva e cotidianamente vias para a
promoção da igualdade racial em todos os
níveis e contextos de nossa atuação a partir
do enfrentamento ao racismo institucional.
Esse direcionamento nos levou a formular
um processo focado no aprofundamento
POR ABONG
dedicadas de maneira inequívoca à justiça
social, à inclusão dos mais pobres, à defesa
de direitos e à promoção da igualdade. A
experiência da Ação Educativa, descrita
nessa publicação, é uma experiência ímpar
que problematiza as já complexas relações
Seguindo uma longa trajetória de luta pela raciais entre brancos/as e negros/as no
igualdade de gênero e raça em nosso país, Brasil e ratifica que as OSCs não podem
a Abong uniu forças com a Ação Educativa, conviver com essa disparidade em seu
uma de suas associadas, para a elaboração interior indefinidamente. Não devemos e
e produção da presente cartilha. O objetivo não podemos permitir que as organizações
está evidente. Muitas organizações da brasileiras convivam com um balcão
sociedade civil (OSCs) se alinham no imaginário entre seus/suas profissionais e
combate às desigualdades estruturais da ativistas (em sua maioria brancos/as) e as
sociedade brasileira, com especial atenção comunidades e movimentos com os quais
às propagadas exclusões de gênero e de mantêm relações de parceria e solidariedade
raça. No entanto, esse comprometimento (em sua maioria negros/as). Como já
não é capaz de dar a essas organizações sabemos, maior diversidade e inclusão
a capacidade de isolar os elementos entre as organizações só irá melhorar sua
estruturantes que produzem e reproduzem capacidade de incidência e o potencial
o machismo, o sexismo e o racismo em transformativo de seus projetos e ações. Por
todas as instituições, incluindo as OSCs, conduzir essa experiência e elaborar essa
independentemente de sua missão, reflexão, a Ação Educativa merece nossos
perfil, tamanho ou alcance. Ainda que se sinceros agradecimentos.
comprometam com a luta contra o racismo,
as organizações não são imunes ao seu Contudo, é importante destacar que esta
efeito nocivo e deletério em seu próprio não é uma experiência única. Eu mesmo,
interior. Reconhecer isso é um primeiro Athayde Motta, sou o diretor executivo de
passo importantíssimo e essa publicação uma tradicional organização brasileira, o
comprova que tal passo está sendo dado Ibase, que tomou, em 2017, a decisão inédita
por muitas organizações. de ter um homem negro e uma mulher negra
ocupando os cargos máximos de direção,
No entanto, permanece o desafio de algo que ainda é dolorosamente raro em
identificar, caracterizar e destruir as várias nosso país. E a Abong, que já teve iniciativas
formas de racismo institucional que, de similares no passado, continua a encarar de
maneira insidiosa, contaminam instituições frente esse desafio ao compor um Grupo de
Trabalho Antirracista, um grupo multirracial
APRESENTAÇÃO
de companheiras e companheiros que
foram fundamentais no debate de ideias
que tem como um de seus resultados
esta publicação. Assim, já podemos
dizer que não somos poucos e poucas e
podemos mostrar, com esta publicação,
que trabalhamos com afinco para sermos As organizações são um campo fecundo
muitos e muitas. para a reprodução das desigualdades
raciais. E isto ocorre marcado pelo
silêncio e neutralidade. As instituições
apregoam que “todos são iguais
perante a lei”; e asseguram que todos
têm a mesma oportunidade, basta
que a competência esteja garantida.
As desigualdades raciais persistentes
evidenciam que alguns são menos iguais
que outros. Mas sobre isso há um silêncio.

Cida Bento

Comprometidas com o enfrentamento ao


racismo institucional, a Abong e a Ação
Educativa se uniram na construção desta
Cartilha de Enfrentamento ao Racismo
Institucional nas OSCs: orientações para o
reconhecimento e responsabilização. Isso
porque identificamos, como organizações
da sociedade civil (OSCs), que, embora
amplamente disseminada em nossa atuação
política e projetos socioeducacionais, a
construção permanente da luta antirracista
precisava avançar mais alguns passos. Era
preciso olhar para as nossas instituições e
práticas, depararmo-nos com os silêncios
que persistem em ocupar o nosso cotidiano.
Assim, engajadas e engajados na construção E foi a partir desta provocação que, em
de um ambiente seguro para os e as 2017, foi criado o Grupo de Referência de
profissionais negros e negras de nosso campo, Enfrentamento e Prevenção ao Racismo
dividimos com vocês, leitores e leitoras, a Institucional da Ação Educativa (GREPRI),
sistematização de uma experiência cuja um órgão democraticamente designado
edificação se iniciou ainda em 2017, na e investido pela Coordenação Executiva
Ação Educativa. dessa instituição para fomentar reflexões
sobre relações raciais, bem como promover
A Ação Educativa é uma organização do práticas de enfrentamento ao racismo
campo de defesa e promoção de direitos institucional entre os/as profissionais
humanos, fundada em 1994, com atuação nas da organização.
áreas de educação, cultura e juventude. Ao
longo desses mais de 25 anos de existência, Resgatar esse percurso, ainda que em
a instituição é reconhecida por sua expertise construção, com a liderança de mulheres
na elaboração de pesquisas, metodologias negras que compõem este grupo, não
e formações alinhadas com a construção de foi uma tarefa fácil, mas é exatamente
uma sociedade mais justa, democrática e por dimensionarmos os impactos do
essencialmente antirracista. E é justamente silenciamento e pelo nosso compromisso
por conta desse princípio que se tornou com a luta antirracista que nos implicamos
inevitável progredir no desenvolvimento de em partilhar e construir uma publicação que
uma reflexão interna sobre como as relações pudesse apontar caminhos e possibilidades,
raciais permeiam a vida de suas/seus suscitando o debate racial nas organizações.
colaboradoras/es negras/os. Acreditamos que a abordagem interseccional
das relações raciais nas organizações da
A falácia persistentemente disseminada sociedade civil é um importante indicador
de que vivemos em uma democracia racial de qualidade de sua atuação na sociedade
impõe a todas/os comprometidos/as com um em geral.
mundo mais igualitário – onde as diferenças
não sejam sinônimos de desigualdades – a O percurso a ser trilhado nas próximas
necessidade de reconhecer que o racismo páginas foi construído pelas lideranças
resulta em um processo de revisitação negras que compõem o GREPRI e por
permanente dos lugares sociais estabelecidos funcionárias/os comprometidos/as com a
no período colonial, um trauma histórico que agenda antirracista que nos antecederam.
afeta a todas as pessoas, especialmente as Cientes de que ainda se apresentam
negras, provocando inúmeros danos políticos, desafios a serem enfrentados na construção,
sociais, físicos e psíquicos. mobilização, monitoramento e investimento
da Ação Educativa no enfrentamento ao
racismo institucional, encaramos este instrumento como
basilar para continuidade do processo que conduzimos.
Não somente para pensar e fomentar a discussão sobre
racismo institucional em nosso dia a dia, mas também
para desenvolver e implementar protocolos, ações,
processos e regulamentos que considerem e incluam
representantes negras/os em todos os níveis hierárquicos,
tendo como horizonte a consolidação de um trabalho ainda
mais qualificado.

Agradecemos à Ação Educativa e à Abong a oportunidade


concedida a nós, profissionais negras, de propormos
um material que valorizasse a nossa produção de
conhecimento, enunciando novos futuros a partir das
nossas próprias construções, vivências e desafios.

Aqui escreveremos em ANA PAULA MAIA


primeira pessoa, desde
o centro, descolonizando
FABIANA SANTOS
o conhecimento, JULIANE CINTRA
propondo uma jornada MICHELE DAYANE
de reconhecimento e
reparação por meio da
RAQUEL LUANDA
mudança de estruturas
e do abandono de
privilégios, deslocando, Grupo de Referência
ainda que somente de Enfrentamento e
durante o período da Prevenção ao Racismo
leitura, o olhar sobre
os nossos corpos.
Institucional da Ação
Educativa - GREPRI
APRESENTAÇÃO

01
PG 16
PONTO DE PARTIDA

02
PG 20
PRIMEIROS PASSOS
O RACISMO NO MUNDO DO TRABALHO - O RETRATO
DAS INIQUIDADES RACIAIS E DE GÊNERO NA
04
PG 52
PARA AMPLIAR
NOSSOS
CONHECIMENTOS
SOCIEDADE BRASILEIRA

COMO AFIRMAR A IGUALDADE SEM NEGAR A LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS


DIFERENÇA? COMO AFIRMAR A DIFERENÇA ANTIRRACISTAS NO BRASIL
GARANTINDO A IGUALDADE? LINHA DO TEMPO

AÇÕES AFIRMATIVAS X IGUALDADE DE TODOS PERCURSOS DE AÇÕES E PUBLICAÇÕES


PERANTE A LEI DA AÇÃO EDUCATIVA NA LUTA E
ENFRENTAMENTO AO RACISMO
ABORDAR AS RELAÇÕES RACIAIS NÃO É APENAS
DISCUTIR A NEGRITUDE, MAS TAMBÉM A
BRANQUITUDE

03 PARA MULTIPLICAR
RECONHECER
REPARAR
05 REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
PG 37 MONITORAR
PG 65
01
PONTO DE
PARTIDA
CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 17
PONTO DE PARTIDA

Podemos afirmar que, nas últimas décadas, positivo em nossa sociedade: a diversidade,
houve conquistas nas políticas raciais e de que opera como precondição para a construção
gênero no país, contudo, ainda temos uma longa coletiva e democrática de uma sociedade fraterna,
caminhada para superação do racismo e do etnicamente múltipla, culturalmente plural,
sexismo em nossa sociedade, seja nas relações solidária, livre e justa.
familiares, na escola, nas mídias, no trabalho,
entre outros espaços e suas instituições. Há de se acreditar que é possível redimensionar
relações institucionais, interpessoais e estruturais.
Esta publicação resulta da experiência da Mirando esse horizonte, espera-se que as
Ação Educativa no (re)conhecimento das seguintes diretrizes contribuam para promover
relações raciais existentes na instituição discussões, semear propostas e colaborar, de
e na construção de estratégias para o fato, para o envolvimento de todos e todas no
enfrentamento ao racismo institucional. Seu enfrentamento e superação do racismo, e isso não
objetivo é contribuir com reflexões e ações como um projeto exclusivo de pessoas negras,
necessárias para a elaboração de outras mas de todos/as aqueles/as implicados/as com
possibilidades, em muitos outros cenários, no a luta pelos direitos humanos e justiça social.
universo das organizações da sociedade civil.
Ressaltamos que, para terem impacto, estas O convite está feito:
iniciativas deverão se basear no compromisso
institucional com o fomento, monitoramento e
avaliação das ações.
SEJAMOS TODOS E
A reprodução de iniquidades em função
das diferenças étnico-raciais, de gênero, de TODAS ANTIRRACISTAS!
classe, de orientação sexual, de crença e
de tantas outras ofuscam o que há de mais

18 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 19


02
PRIMEIROS
PASSOS
PRIMEIROS PASSOS
Essas perguntas nos orientaram na elaboração de
diagnósticos, indicadores e protocolos, fortalecendo o
compromisso com a superação do racismo institucional
vivido cotidianamente pela população negra no Brasil.

Salientamos aqui que raça é uma categoria social,


relacional, discursiva e não biológica1. Ou seja, do ponto
Para que pudéssemos chegar à elaboração deste material, de vista científico, não existem “raças humanas”, mas há
foi necessário reconhecer institucionalmente que vivemos apenas uma raça humana. Do ponto de vista histórico, por
em uma sociedade – da qual nossas organizações fazem sua vez, ainda que práticas e políticas sustentadas sob
parte – estruturada na desigualdade entre negros/as a perspectiva do racismo científico sejam reproduzidas
e brancos/as. Reconhecer, ainda que seja incipiente, é nas mais diferentes esferas do cotidiano – pela qual a
certamente um passo importante a ser dado em direção hierarquização das diferenças fenotípicas2 estabelecem
à superação da discriminação racial. a “raça” branca como superior –, admitimos que somos
uma sociedade racializada, na qual raça define padrões de
Nossa ação inicia-se por meio de questões que socialização diferenciados, determinando trajetórias sociais
fundamentam nosso entendimento sobre conceitos de indivíduos em razão da sua aparência.
que organizam as relações sociais:
Dessa maneira, temos neste ponto condições de retomar a
definição de racismo sob a perspectiva da construção das
subjetividades3 de pessoas negras. Em outras palavras, no
dia a dia daqueles e daquelas racializados/as, o racismo
opera como trauma, um choque violento, caracterizado
pela ruptura com a sociedade, que desumaniza as pessoas
O que é racismo estrutural? negras por meio de microagressões constantes. Tira-se
Como isso se reflete no de tais sujeitos a possibilidade de conexão com qualquer
identidade, estima social ou compreensão de si mesmo que
nosso cotidiano? Como ele tenha construído. Como afirma Grada Kilomba em seu
minha instituição reproduz livro Memórias da Plantação: “(...) o trauma de pessoas
o racismo? O que é negras provém não apenas de eventos de base familiar,
interseccionalidade? como a psicanálise argumenta, mas sim do traumatizante
contato com a violenta barbaridade do mundo branco, que
O que é ser antirracista? é a irracionalidade do racismo que nos coloca sempre como

1. Cf. HALL, 2006.


2. As diferenças fenotípicas são aquelas características que podemos observar e distinguem as pessoas,
tais como cor da pele, olhos, texturas dos cabelos, entre outros.
3. Trata do campo de formação de valores e crenças dos indivíduos nas interações sociais, relaciona-se ao
campo do que singular nos sujeitos.

22 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 23


a/o “Outra/o”, como diferente, como incompatível, como não se expressa necessariamente em atos manifestos,
conflitante, como estranha/o e incomum”4. explícitos ou declarados de discriminação, como são
legalmente reconhecidos e punidos pela Constituição
Há também outras dimensões para se apreender os efeitos Brasileira. Ao contrário, instaura-se na implementação
do racismo e entender o que ele significa. Para além dos efetiva de políticas institucionais, gerando, de forma ampla,
impactos corporal e psíquico das subjetividades destes desigualdades e iniquidades.
indivíduos, existe uma perspectiva política e social que
aborda as limitações nas possibilidades de reprodução da O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI)7
vida com dignidade da população negra. Essa perspectiva definiu o racismo institucional como
explica o racismo enquanto um sistema de opressão que
nega direitos em todas as esferas da vida social, cultural, (...) o fracasso das instituições e organizações
nas instituições, no mercado de trabalho, na formação em prover um serviço profissional e adequado às
educacional, entre outros espaços. Como destaca Silvio pessoas em virtude de sua cor, cultura, origem
Almeida em sua obra Racismo Estrutural, o racismo racial ou étnica. Ele se manifesta em normas,
fornece o sentido, a lógica e a tecnologia para a reprodução práticas e comportamentos discriminatórios
das formas de desigualdade e violência que moldam a vida adotados no cotidiano do trabalho, os quais são
social contemporânea5. resultantes do preconceito racial, uma atitude que
combina estereótipos racistas, falta de atenção
Assim, encarado como uma tecnologia de poder que e ignorância. Em qualquer caso, o racismo
viabiliza incorporar as contradições dos processos institucional sempre coloca pessoas de grupos
discriminatórios e desvantagens impostas à população raciais ou étnicos discriminados em situação de
negra, o racismo também se expressa por meio das desvantagem no acesso a benefícios gerados pelo
instituições, por meio de seus mecanismos, regras e Estado e por demais instituições e organizações.8
padrões que, de forma direta ou indireta, impedem ou
dificultam a inclusão, a permanência e a ascensão de Sob outro prisma, e com vistas a sua superação, o
pessoas negras, além da inexistência de espaços para reconhecimento e o enfrentamento do racismo poderão
discussão e elaboração sobre as desigualdades raciais6. potencializar a construção de políticas públicas e
institucionais e novas ações para a promoção da
No que se refere tanto aos mecanismos de sua manutenção igualdade racial.
quanto especificamente às ações daqueles que cometem
os atos, o racismo opera de forma muito mais sofisticada
e, por conseguinte, menos identificável. Sendo assim,

7. Projeto de uma parceria que contou com a SEPPIR, o Ministério Público Federal, o Ministério da Saúde,
a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e o Departamento Britânico para o Desenvolvimento
4. KILOMBA, 2019, p.40.
Internacional e Redução da Pobreza (DFID), como agente financiador, e o Programa das Nações Unidas
5. Cf. ALMEIDA, 2019, p. 15.
para o Desenvolvimento (PNUD). O projeto teve como foco principal a saúde.
6. Cf. ALMEIDA, 2020.
8. PCRI, 2006, p. 22.

24 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 25


Vale dizer que o racismo opera em conjunto como O Racismo no mundo do trabalho
parte de um sistema que compreende outras formas de O retrato das iniquidades raciais
desumanização em favor da manutenção e hegemonia de
um ideal branco como referência ao universal.
e de gênero na sociedade brasileira

Por isso, reforçamos que, embora nos dediquemos


Conforme dados do IBGE de 2018
neste material a olhar para a dimensão racial, tão pouco
abandonamos as multiplicidades de diferenciais de
poder, normas e identidades que levam em conta as
relações de gênero, etnia, raça, classe, sexualidade,
idade, nacionalidade, entre outros, que coproduzem
singularidades nas dinâmicas de opressão. da população
56,10%
Brasieira declara-se
Sendo assim, uma abordagem interseccional9 se faz como preta ou parda
essencial, tendo em vista que precisamos avançar ainda
mais e entender que existem diferenças e hierarquizações
em inúmeras situações presentes no cotidiano profissional,
onde, por exemplo, para as mulheres negras, além da
violência da pobreza e da opressão de gênero, está também
presente, de forma indissociável, a violência do racismo.
No entanto, as configurações raciais
Nesse contexto, ser mulher negra produz uma forma de do mercado de trabalho demonstram que
vulnerabilidade e de discriminação diferenciadas tanto
daquelas sofridas por mulheres brancas quanto daquelas
sofridas por homens negros, quando pensamos na
intersecção de raça e gênero. Veremos, na próxima seção,
68,6% dos cargos gerenciais 29,9% pretos/as
alguns resultados de tal intersecção quando pensamos a são ocupados por ou pardos/as
vida de mulheres negras no mundo do trabalho. Brancos/as

9. O conceito de interseccionalidade usado na presente publicação considera as contribuições A ocupação informal também é maior entre negros/as
de Kimberlé Crenshaw, jurista e especialista da teoria crítica racial, que aponta que tal conceito
trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe
(pretos/as e pardos/as, 47,3%) do que entre brancos/as
e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições (34,6%).
relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a interseccionalidade trata
da forma como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos,
constituindo aspectos dinâmicos ou ativos de desempoderamento (CRENSHAW, 2002, p. 177
apud CARDOSO, 2012, p.56).

26 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 27


A desigualdade salarial pode também ser Nesse contexto, no ano de 2018, as mulheres negras
evidenciada quando a renda média é estratificada. receberam, em média, menos da metade dos salários dos
homens brancos (44,4%), que ocupam o topo da escala
de remuneração no país. Atrás deles estão as mulheres
brancas que possuem rendimentos superiores não apenas
Rendimento médio Rendimento médio aos das mulheres pretas ou pardas, como também aos
mensal de pessoas mensal de pessoas dos homens pretos ou pardos.11 Assim, vemos que,
BRANCAS PRETAS ou PARDAS quanto mais alto o salário, menor é a presença de negros
e negras ocupando estes cargos. Independentemente do
R$ R$ nível de escolaridade, pretos/as e pardos/as continuam

2.796,00 1.608,00 recebendo bem menos que os/as brancos/as no Brasil. No


ano da pesquisa, o rendimento médio mensal das pessoas
mil reais mil reais ocupadas brancas foi 73,9% superior ao das pretas ou
pardas. Os/as brancos/as com nível superior completo
ganhavam por hora 45% a mais do que os/as pretos/as
ou pardos/as com o mesmo nível de instrução.

O recorte em categorias de rendimento, segundo o tipo


de ocupação, revelou também que, tanto na ocupação
formal como na informal, as pessoas pretas ou pardas
Além disso, mesmo sendo maioria no Brasil, as pessoas receberam menos do que as brancas. A diferença salarial
negras, em 2018 representaram apenas 27,7% das pessoas entre os dois grupos é, de acordo com o IBGE, um padrão
com os maiores rendimentos; no entanto, no grupo com os que se repete ano a ano. Em 2018, a desigualdade de
menores rendimentos, representam 75,2% dos indivíduos. rendimento em favor da população branca ocorreu,
segundo a pesquisa, com intensidades distintas nas
grandes regiões brasileiras, mas se manteve maior tanto
MAIORES MENOS nos Estados que apresentaram os menores rendimentos
Rendimentos Rendimentos (Maranhão, Piauí e Ceará), quanto nos que registraram os
rendimentos mais elevados (Distrito Federal, São Paulo
e Rio de Janeiro). Além de ganharem menos, pessoas
pretas ou pardas representam cerca de dois terços da
população desocupada e 66,1% do grupo das pessoas
27,7% 75,2%
subutilizadas, que inclui, além dos/as desocupados/as,
os/as subocupados/as e a força de trabalho potencial.

11. Os dados fazem parte da pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça” publicada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2018).

28 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 29


Em relação à distribuição de renda, o obstante, os/as negros/as que possuem nível
levantamento mostra que a população negra superior recebem 96% da remuneração média
(preta e parda) representava 75,2% da dos/as brancos/as com nível superior.12 Ou seja,
camada mais pobre do país (formada pelos não há diferença de formação acadêmica que
10% com menos rendimentos) e, dentre os justifique as disparidades em relação aos salários
10% mais ricos, era apenas 27,7%. de trabalhadores/as brancos/as e negros/as.

No universo das organizações da sociedade Os dados apresentados configuram um retrato


civil, embora haja diferenças por campo de das iniquidades de raça e de gênero no mundo
atuação, podemos afirmar que as estruturais do trabalho. Portanto, é preciso ressaltar que o
desigualdades e iniquidades raciais e de racismo institucional ocasiona não apenas a falta
gênero também as atravessam. De acordo e/ou a precariedade de acesso aos serviços e
com o IPEA (2018), no ano de 2015, este direitos, mas, ao mesmo tempo, a perpetuação
setor abrangia 3% da população ocupada estruturante de desigualdades raciais e de gênero
no país e 9% dos/as ocupados/as no em nossa sociedade.
setor privado com carteira assinada. No
entanto, 63% dos/as ocupados/as eram Além disso, apesar desses dados e indicadores
brancos/as e somente 37% negros/as. expressarem iniquidades, não alcançam a
Além disto, as pessoas negras ocupavam, magnitude dos impactos causados pela experiência
majoritariamente, posições hierárquicas cotidiana do racismo nas subjetividades. Nesse
inferiores no espaço ocupacional. contexto, algumas questões e reflexões se colocam
quando pensamos em transformar tal cenário,
Para melhor análise dessas disparidades, tratadas a seguir.
também é importante abordar a relação
entre escolaridade e renda, a partir de
critérios raciais. Os dados demonstram
que a remuneração dos/as negros/as
que não possuem graduação é 88%
inferior à recebida por pessoas brancas
que apresentam a mesma condição. Não

12. Cf. IPEA, 2018, p. 109.

30 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 31


Como afirmar a igualdade sem negar O principal debate em torno desta agenda está no
questionamento que ela traz ao ideário de igualdade de
a diferença? Como afirmar a diferença todos perante a lei e a ilusão da meritocracia14, apresentados
garantindo a igualdade? como horizontes em construção nas sociedades liberais mas
que se traduzem em abstrações que, como vimos na seção
A noção de equidade diz respeito à necessidade de anterior, não se sustentam na primeira análise dos dados.
se “tratar desigualmente os desiguais”, de modo a se Sejam nos países do centro ou das periferias geopolíticas,
alcançar a igualdade de oportunidades de sobrevivência, o que se identifica é que o acesso e a promoção de direitos
de desenvolvimento pessoal e social entre os membros humanos nunca foi plena, assim como os ideais de
de uma dada sociedade. Para isso, é fundamental igualdade e mérito que, em momentos distintos, por meio de
reconhecer as diferenças para não reproduzir exclusões estruturais voltadas a grupos sociais específicos,
desigualdades: “Temos o direito a ser iguais quando a culminaram numa universalidade que seguiu seu curso
nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser como um ideal inatingível.
diferentes quando nossa igualdade nos descaracteriza.
Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as O imaginário que define o Estado como responsável pela
diferenças e de uma diferença que não produza, alimente promoção de direitos tem servido para construir o mito dos
ou reproduza as desigualdades”.13 direitos, que aposta no papel da justiça como instância
última da proteção dos indivíduos, mas não reconhece a
O ponto de partida da compreensão do conceito de equidade distância entre a lei e a sua efetiva garantia, colaborando
é o reconhecimento da desigualdade entre as pessoas para a reprodução de estados de exceção, com restrição
e os grupos sociais e a certeza de que muitas dessas de direitos e concentração de poderes no interior de
desigualdades são injustas e devem ser superadas. estados democráticos. É por isso que as políticas de
ações afirmativas, de corte socioeconômico e racial, são
fundamentais para reduzir danos e lacunas provocadas
Ações afirmativas x igualdade pela exclusão promovida e/ou legitimada pelo Estado e
suas instituições.
de todos e todas perante a lei

Superar distorções sociais historicamente consolidadas


promovendo reparação a setores da população
notavelmente discriminados – esse é o principal objetivo
das políticas de ações afirmativas. Conquistadas sob luta
e pressão histórica dos movimentos negros, elas instituem
ações que criam condições igualitárias para populações
que apresentam oportunidades desiguais.

13. SANTOS, 2003, p. 56. 14. A ideia de que os sujeitos mais esforçados e dedicados conquistam seus objetivos a partir do trabalho,
sem considerar o impacto dos inúmeros contextos sociais, históricos, políticos e culturais.

32 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 33


Abordar as relações raciais não é
apenas discutir a negritude, mas
também a branquitude

O racismo não é um problema dos/as negros/as,


é um problema de humanidade. Sua
superação demanda ampla mobilização e
comprometimento social, sendo dever de todos e
todas atentar para o lugar que a população negra
tem ocupado. Neste contexto, “uma pessoa branca
deve pensar seu lugar de modo que entenda
os privilégios que acompanham a sua cor. Isso
é importante para que privilégios não sejam
naturalizados ou considerados apenas esforço
próprio”.15 Desta forma, além de reconhecer o
privilégio, sujeitos brancos devem se colocar
como antirracistas, isto é, estarem implicados
na desconstrução desses padrões que provocam
violências e desigualdades.

15. RIBEIRO, 2019, p. 32.

34 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL


03
PARA
MULTIPLICAR:
ORIENTAÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO
DE NOVAS E POTENTES POSSIBILIDADES
DE PREVENÇÃO, MONITORAMENTO
E ENFRENTAMENTO AO RACISMO
INSTITUCIONAL
As recomendações que se seguem pretendem viabilizar aspectos negativos e imorais –, seja este outro o “branco
a multiplicação de experiências antirracistas em outros racista”, cujo comportamento racista é declarado como
contextos institucionais. Mas antes de nos debruçarmos excepcional, característica de um desvio que deve ser
sobre os protocolos e medidas a serem adotadas, bem punido, seja o “negro melindrado”, que vê “o problema do
como seus indicadores, vale partilhar como chegamos até racismo” em todas as relações existentes.
aqui e assumirmos, antes de mais nada, o nosso primeiro
acordo: para alcançarmos a implementação de uma O mesmo processo se deu com as pessoas negras,
política de promoção da igualdade racial efetivamente que, muitas vezes para lidar com a tristeza e/ou
transformadora, nossas organizações devem estar medo provocados pelo trauma racial, afirmam não ter
comprometidas em conhecer os desafios que ainda se experienciado o racismo. Era o momento de admitir,
impõem e, ao mesmo tempo, buscar as potencialidades reconhecer a verdade, abandonar a negação.
para sua superação.
Para tal, era preciso renunciar à culpa, o principal alicerce
da negação. O resultado do processo de enfrentamento ao
Esse foi o nosso ponto de partida, afinal, depois de um
racismo institucional não é persecutório, o reconhecimento
processo iniciado em 2015, passaram-se cinco anos de
do racismo não resultará em acusações e/ou impedimentos
muitos aprendizados. O primeiro deles é que acertamos em
dos sujeitos envolvidos – cujos receios comumente derivam
buscar o suporte de organizações negras, como o Instituto
em práticas comuns ao racismo à brasileira, o famoso
Amma Psiqué e Negritude16, no início de nossa jornada.
“veja bem, você entendeu mal e isto não é racismo” – e
deslegitimar o racismo ou refutar sua existência já não
Tais profissionais foram fundamentais no processo de
devem mais encontrar espaço em nossas organizações.
construção de um percurso de conscientização e
responsabilização institucional17, pelo qual nos
No entanto, como bem enunciado por Grada Kilomba18,
defrontamos com a realidade profissional dos/as nossos/ as
a vergonha também é um obstáculo a ser superado,
colaboradores/as negros/as, admitindo o impacto nocivo
constrangimento oriundo da falha em não se atingir um
dos arranjos desiguais de poder, fruto do racismo, em
ideal de comportamento ou, ainda, por nos deparar com as
seu cotidiano.
nossas preconcepções sobre o que somos, o olhar negro
sobre as mesmas vivências pode ser paralisante. E é
Descartamos a separação comum à branquitude que encara
neste ponto que se encontram os maiores desafios. Após o
o racismo como uma questão do outro – em um processo de
diagnóstico da realidade e a implementação de instâncias
projeção daquilo que não se deseja admitir em função de seus
comprometidas com o enfrentamento ao racismo, o
cotidiano institucional e seu modo de operar muitas vezes
podem não dar conta de produzir respostas às demandas
16. O Instituto AMMA Psique e Negritude é uma organização não governamental cuja atuação é pautada pela
que se apresentam. É comum falhar-se no processo de
convicção de que o enfrentamento do racismo, da discriminação e do preconceito se faz necessariamente
por duas vias: politicamente e psiquicamenteativistas, comprometidas e familiarizadas com o enfrentamento implementação de protocolos e/ou monitoramento, mas
político, e que constatou que somente a via política não era suficiente. Desde então, o instituto tem buscado por
meio de formação e prática clínica, identificar, elaborar e desconstruir o racismo e seus efeitos psicossociais.
Mais informações em: http://www.ammapsique.org.br/quem-somos.html
17. Como sugerido por Grada Kilomba (2019), cujos escritos em Memória da Plantação nos inspiraram ao 18. KILOMBA, 2019, p. 45.
sistematizar nossa experiência e construir estas orientações de acordo com tal estrutura apresentada pela
autora que começa em negação - culpa - vergonha - reconhecimento - reparação (p. 11).

38 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 39


RECONHECER
não podemos e, sobretudo, não devemos desistir. É preciso
retomar os processos e seguir compreendendo que esta
jornada exige mudanças das estruturas, das agendas e
das dinâmicas institucionais e, embora não seja simples, Por onde começar? - Ações
identificamos um caminho possível para que todas as
nossas organizações comprometidas com a defesa e
necessárias para promoção da
promoção de direitos humanos possam reconstruir e equidade racial nas instituições
ressignificar seu modo de operar e, por consequência, sua
história, legitimando institucionalmente as medidas a serem
adotadas por meio de fomento, avaliação e monitoramento
das ações realizadas. Ecoa dentro de muitos brasileiros uma
voz muito forte que grita: “não somos
Nas próximas seções, apresentamos três percursos racistas, os racistas são os outros,
fundamentais do enfrentamento ao racismo institucional: americanos e sul-africanos brancos”.
reconhecer, reparar e monitorar.
Kabengele Munanga

Na frase citada acima, extraída do texto Teoria


Social e Relações Raciais no Brasil Contemporâneo,
o antropólogo nos provoca a pensarmos em
quantas vezes escutamos algo semelhante quando
a discussão sobre o racismo é pautada. Fala-se,
por vezes, em exagero ou vitimismo por parte das
pessoas negras. O fato é que as reflexões acima nos
trazem um breve recorte do cenário de dificuldades
e desconfortos que cercam a palavra racismo.

Para o sujeito branco, esse reconhecimento


geralmente está ligado à culpa ou à vergonha,
temendo se identificar ou ser identificado como
alguém que se beneficia e contribui com a
manutenção de um sistema constituído a partir da
negação dos direitos da população negra. No entanto,
uma vez que tal indivíduo avança em sua percepção
de que “não existe racismo sem racistas”, ele se
entende como alguém que é produtor de opressões,

40 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 41


assumindo assim um compromisso com a autorreflexão Qual a proporção de pessoas negras
e reconhecimento do seu lugar no enfrentamento às e brancas em sua instituição? E como
relações raciais. fica essa proporção no caso dos cargos
de liderança?
O reconhecimento do racismo em suas múltiplas expressões
e reatualizações, embora seja um importante passo Há ações afirmativas para inclusão,
inicial, não é o suficiente para sua superação. Afinal, como permanência e mobilidade de negros
enfrentar um problema tão grande? Diante de tamanha e mulheres?
complexidade, nem sempre as organizações se consideram
aptas para diagnosticar e intervir, com vistas a impedir
Há, na instituição, algum comitê
que o racismo e o sexismo continuem operando na rotina
de diversidade ou um projeto para
institucional. Todavia, é necessário enfrentar esta realidade
com o compromisso institucional para a construção de promoção de equidade?
ações que possam ser eficazes. O diagnóstico desponta
como crucial e um questionário é ferramenta simples, porém Há espaço na sua instituição para
importante, nesta etapa do processo. encaminhamentos de situações de
assédio a grupos vulneráveis?
A reparação, fase seguinte, implica necessariamente em
ações, que devem ser tomadas por meio de diagnósticos, A inclusão de negros e negras em
envolvendo toda a organização mas também priorizando o cargos de liderança é suficiente para
cuidado, a escuta e a liderança de pessoas negras. o processo de desmantelamento do
racismo institucional?
Assim, sugerimos que, junto com o coletivo institucional,
comece-se refletindo sobre as seguintes questões:

O que a instituição está fazendo As respostas a esses questionamentos poderão revelar


ativamente para prevenir e enfrentar um retrato das relações raciais forjadas nos espaços
o racismo? institucionais. Desta forma, irão delinear roteiros/pistas
potentes para as organizações que pretendam trilhar
os complexos e longos caminhos que podem levar à
Quais as interpretações dos
superação do racismo institucional e à construção de ações
profissionais sobre as relações necessárias para o estabelecimento de um ambiente seguro,
raciais estabelecidas na instituição? especialmente para os/as funcionários/as negros/as.

As temáticas raciais e de gênero Ainda, é importante ressaltarmos que as elaborações e


estão presentes nas ações interpretações dos/as profissionais sobre as relações raciais
realizadas com o público externo e e de gênero existentes nas instituições são fundamentais
nos projetos institucionais? para a elaboração dos planos de ação.

CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 43


REPARAR Assim, nosso processo até aqui nos permitiu identificar
alguns pontos importantes a serem destacados para
Recomendações para constituição termos em mente durante a leitura das recomendações e
indicadores de combate do racismo institucional:
de organizações antirracistas

Para darmos início ao que, como dissemos A sensibilização dos/as profissionais e o


anteriormente, decidimos nomear aqui como processo de educação continuada sobre
“processo de reparação”, é então necessário modificar a temática deverão ser momentos de
a pergunta feita inicialmente. Agora, não mais grande investimento;
perguntamos “minha instituição é racista?” e sim “o
que eu e minha instituição devemos fazer para superar As recomendações para superação
o racismo?”. Essa mudança desloca o lugar moral do racismo institucional, evidenciadas
para posicionar os/as profissionais e a organização da no diagnóstico das relações raciais e
qual fazem parte a um lugar de comprometimento com construídas por cada instituição, serão os
a luta antirracista. principais eixos temáticos que orientarão
a elaboração de seu plano de ação;
Reparação, então, significa a negociação
do reconhecimento. O indivíduo negocia Para trazer transparência ao processo,
a realidade. Nesse sentido, esse último assim como conferir-lhe legitimidade,
estado é o ato de reparar o mal causado pelo deverão ser criados momentos coletivos,
racismo através da mudança de estruturas, pactuados com a gestão, para a prestação
agendas, espaços, posições, dinâmicas, de contas dos resultados alcançados em
relações subjetivas, vocabulário, ou seja, curto, médio e longo prazo;
através do abandono de privilégios.19
Os desafios identificados e as
É longa e difícil a jornada do reconhecimento à potencialidades vislumbradas deverão
reparação, uma vez que o processo de reconhecimento nortear as recomendações elaboradas
parte do desconforto do sujeito branco em perceber-se para a promoção da igualdade racial.
como sujeito racializado. O reconhecimento do racismo
institucional é também o reconhecimento do sujeito
branco enquanto raça, enquanto grupo, afastando-se
assim de sua individualidade e universalidade – “eu
também sou o outro”.

19. KILOMBA, 2019, p.46.

44 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 45


1
A seguir, apresentamos orientações construídas a partir dos Investir na sensibilização
acúmulos que os processos partilhados anteriormente nos e na formação sobre a temática
trouxeram com base em quatro eixos de ação: (1) investir
na sensibilização e na formação sobre a temática; (2) criar Reconheça a instituição como espaço de
e fortalecer dispositivos para acolhimento, discussão e reprodução de racismo e do sexismo;
encaminhamento de questões e/ou conflitos relativos a
Organize fóruns de sensibilização para a temática;
racismo e sexismo; (3) criar políticas de ação afirmativa; (4)
Invista na educação continuada sobre relações
incorporar transversalmente as temáticas de raça, gênero e
raciais e de gênero;
orientação sexual nos projetos institucionais de forma efetiva.
Invista em fóruns permanentes de
diálogo multirracial;

Amplie o conhecimento de autores/as e intelectuais


negros/as como referenciais para a elaboração e
realização de projetos, internos e externos;

Institua a branquitude como campo de


estudos/pesquisas;

Produza ou amplie o conhecimento sobre o racismo


institucional, suas expressões e consequências;

Abra espaços de debate público com a


participação de representantes de outras
organizações da sociedade civil.

2
Criar e fortalecer dispositivos para acolhimento,
discussão e encaminhamento de questões e/ou
conflitos relativos a racismo e sexismo
Construa instâncias internas mistas – que
contemplem as diversidades de raça, gênero,
orientação sexual, etária – para serem responsáveis
pelo processo;

Crie instâncias de acolhimento e ouvidoria ativa de


casos de racismo e outras formas de assédio.

46 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 47


MONITORAMENTO
3 Criar políticas de ação afirmativa

Transversalize as categorias raça e gênero nas Como saber se estamos


ações e projetos realizados pela instituição;
no caminho certo?
Amplie a representatividade negra, de gênero e de
orientação sexual em todos os setores da instituição;

Garanta cotas raciais para contratação e mobilidade


Como possibilidade de estruturação e
de pessoas negras, em todos os níveis hierárquicos
acompanhamento das ações, apresentamos a seguir
da instituição;
alguns indicadores de processo e de resultado que
Adote ações afirmativas que visem a paridade racial, podem auxiliar no acompanhamento das ações de
de orientação sexual e identidade de gênero, no enfrentamento ao racismo institucional.
percentual de profissionais contratados/as;

Valorize a diversidade de conhecimento e a bagagem


cultural, extrapolando critérios acadêmicos, para a
contratação e mobilidade de profissionais.

4 Incorporar transversalmente as temáticas


raça, gênero e orientação sexual nos projetos
institucionais de forma efetiva

Realize diagnósticos das relações raciais existentes


na instituição por meio de estudos e pesquisas
quantitativos e qualitativos;

Crie espaços de pactuação coletiva das ações a


serem realizadas na instituição;

Estimule a participação de pessoas brancas nas


ações de superação do racismo;

Invista na continuidade das ações;

Crie as condições necessárias para a permanência


do processo: fomento, monitoramento e avaliação
das ações.

48 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 49


INDICADORES PARA MONITORAMENTO
E AVALIAÇÃO DAS AÇÕES

Atividades de formação sobre as temáticas Metas e objetivos institucionais direcionados ao


raça e gênero na sociedade brasileira. enfrentamento ao racismo institucional.
Espaços específicos para acolhimento, Projetos com inclusão das categorias raça e gênero.
denúncia e encaminhamentos de situações
Ações para ampliação do percentual de profissionais,
de racismo e sexismo.
baseados em raça e gênero.
Indicadores Periodicidade de fóruns/ações para avaliar
de processo a existência de discriminação
Periodicidade de pesquisas sobre perfil da equipe.

na instituição. Ações direcionadas a inclusão, permanência e promoção


da diversidade e da equidade racial e de gênero.
Encaminhamento de casos de assédio
à ouvidoria. Ações de incentivo à qualificação de mulheres negras.

Atividades realizadas pelo grupo de


referência instituído.

Equipe qualificada e atuante nas Monitoramento das metas e objetivos institucionais


questões referentes a raça e gênero. direcionados ao enfrentamento do racismo institucional
por parte da gestão da instituição.
Inclusão do debate racial e de gênero
Incorporação do enfrentamento ao racismo na
nas formações realizadas para o
missão institucional.
público externo.
Raça e gênero como temas transversais a todos os projetos
Funcionamento da ouvidoria como um
da instituição.
canal seguro para o encaminhamento das
denúncias de racismo e assédios. Mapeamento do perfil dos funcionários com recorte racial

Indicadores Organização de ações de prevenção e


e de gênero.

de resultados enfrentamento ao racismo institucional Correção das disparidades de cargos considerando as


efetivadas com periodicidade em diálogo categorias de raça e gênero na instituição em alinhamento
com o calendário institucional. com os dados atualizados do Censo.

Previsão orçamentária para garantia Adoção de critérios de acesso, permanência e mobilidade


e qualidade das ações do grupo baseados na promoção da diversidade e da equidade racial
de referência. e de gênero, especialmente para cargos de gestão
e liderança.
Funcionamento de espaços coletivos
de produção de conhecimento sobre o Estruturação de política institucional de incentivo a
racismo e o sexismo dentro da instituição. qualificação e ocupação de cargos de gestão por mulheres
negras na instituição.

50 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 51


04
PARA AMPLIAR
NOSSOS
CONHECIMENTOS
Legislação e políticas públicas
antirracistas no brasil - linha do tempo

1951 1988 1989


Em 3 de julho de 1951, o Congresso A Constituição de 1988, no artigo A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 198920, define os crimes de preconceito
Nacional aprovou a Lei nº 1.390, 3º, em seu inciso IV, estabelece de cor e raça e estabelece penalidades para situações de discriminação: em
que ficou conhecida como Lei como objetivo “promover o bem ambiente de trabalho público ou privado, como ter acesso negado a empregos,
Afonso Arinos, a qual criminalizava de todos, sem preconceitos de cargos, serviço militar, ou sofrer tratamento diferenciado; em locais públicos,
a discriminação por raça ou cor. A origem, raça, sexo, cor, idade como ser impedido de adentrar em transporte público, edifícios públicos,
promulgação dessa lei foi motivada e quaisquer outras formas de clubes, restaurantes etc. Essa lei também estabelece punições para “práticas
por uma situação de discriminação discriminação”. O Artigo 4º, de incitação à discriminação ou preconceito de raça, cor”, criminalizando,
sofrida por uma bailarina norte- inciso VII, define que “as relações inclusive, a fabricação, comercialização e distribuição de propagandas de
americana, Katherine Dunham, internacionais brasileiras se incitação a essas modalidades de preconceito. Essa é a lei que prevê o crime
impedida de se hospedar num hotel regem pelo repúdio ao terrorismo de racismo, isto é, a discriminação racial praticada contra uma coletividade.
em São Paulo em razão de sua cor, e ao racismo”. Essa lei tornou o racismo crime imprescritível e inafiançável.
o que repercutiu mal à época na
imprensa internacional.

1997
A Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997, promoveu alterações na legislação O crime de injúria racial está previsto no artigo 140, parágrafo 3º do Código
antirracista. À Lei nº 7.716, acrescentou a punição à discriminação e à Penal, e ocorre quando se ofende a dignidade por meio de elementos de
incitação à discriminação por etnia, religião ou procedência nacional, “raça”, cor, etnia, religião, condição de pessoas idosas e portadores de
além do preconceito de raça e cor anteriormente previsto. Ao artigo 140 do deficiência. Nesse caso, diferente do racismo, o/a autor/a não atinge uma
Decreto-Lei nº 2.848, acresceu na especificação de injúria “elementos coletividade, e sim a uma determinada pessoa, no caso, a vítima. A sanção
referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem”. Mais tarde, a Lei nº 10.741, prevista é a detenção de um a seis meses ou multa. É possível o pagamento
de 2003, ampliou a definição, incluindo “a condição de pessoa idosa ou de fiança.
portadora de deficiência”.

O crime de racismo, de acordo com a Lei n.º 7.716/89, ocorre quando as


ofensas praticadas atingem toda uma coletividade, ofendendo-os por sua
“raça”, etnia, religião ou origem. A sanção prevista é a reclusão de um a três
anos e multa e é inafiançável.
20. Conhecida como Lei Caó, a norma é originária do PL 52/88, de autoria do ex-deputado Federal Carlos
Alberto Caó de Oliveira. O ex-parlamentar, falecido em fevereiro de 2018, foi militante do movimento negro
e jornalista, tendo participado, inclusive, da Assembleia Constituinte que redigiu a CF/88.

54 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 55


2001 2003 2005
Em 2001, ocorreu a III Conferência Nesse contexto, temos a criação No ano de 2005 foi criado no Brasil o Programa de Combate ao Racismo
Mundial contra o Racismo, a em 2003 no Brasil da Secretaria Institucional (PCRI). O programa tem como foco principal a saúde e é fruto
Discriminação Racial, a Xenofobia e Especial de Políticas e Promoção de uma parceria que contou com a SEPPIR, o Ministério Público Federal, o
as Formas Conexas de Intolerância. da Igualdade Racial (SEPPIR). Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e o
Na chamada Conferência de Durban, Também em 2003, a Lei nº Departamento Britânico para o Desenvolvimento Internacional e Redução
reafirmou-se a importância de 10.639 modificou a Lei de da Pobreza (DFID), como agente financiador, e o Programa das Nações
discussão do racismo, assim como a Diretrizes de Base da Educação, Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), como agência responsável pela
construção de políticas públicas. No introduzindo a obrigatoriedade do administração dos recursos alocados para o programa. O PCRI tem como
Brasil, influenciou diversas áreas, ensino de história e cultura afro- principais objetivos: apoiar o setor público para combater e prevenir o racismo
entre elas, o Censo do Instituto brasileira e africana nas escolas institucional; e fortalecer a participação das organizações da sociedade civil no
Brasileiro de Geografia e Estatística de ensino fundamental. debate da agenda de políticas públicas.
(IBGE), que passou a utilizar o critério
de autodeclaração de cor/raça.

2009 2010
Em 13 de maio de 2009, por meio Em 20 de julho de 2010, a Lei de mensagens e páginas da internet. A Lei nº 12.735, de 30 de novembro
da Portaria nº 992, o Ministério da nº 12.288 instituiu o Estatuto de 2012, prevê a “a cessação das respectivas transmissões radiofônicas,
Saúde instituiu a Política Nacional da Igualdade Racial, “destinado televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio” por incitações ao
de Saúde Integral da População a garantir à população negra preconceito racial.
Negra. Entre as diretrizes dessa a efetivação da igualdade de
política, estão: a inclusão dos temas oportunidades, a defesa dos O Estatuto da Igualdade Racial, além de atualizar e ampliar o alcance das
Racismo e Saúde da População direitos étnicos individuais, leis antirracistas anteriores, tem uma dimensão propositiva de embasar
Negra nos processos de formação coletivos e difusos e o combate juridicamente políticas públicas direcionadas a diminuir as desigualdades
e educação permanentes dos/as à discriminação e às demais raciais no acesso a bens, serviços e oportunidades. Nesse escopo, estão as
trabalhadores/ as da saúde e no formas de intolerância étnica”. ações afirmativas, como a Lei de Cotas, Lei nº 12.711/2012, que reserva vagas
exercício do controle social da saúde; Esse estatuto modificou as leis nos cursos de graduação das universidades federais para estudantes de
e o reconhecimento de seus saberes e anteriores, atualizando-as. Incluiu escolas públicas, negros, indígenas e quilombolas, e a Lei nº 12.990/14, que
práticas de saúde, incluindo aqueles na lei nº 7.716, por exemplo, estabelece cotas para negros e pardos em concursos federais.
preservados pelas religiões de a possibilidade de interdição
matrizes africanas.
21. CRI. Articulação para o Combate ao Racismo Institucional. Identificação e abordagem do racismo
institucional. Brasília: CRI, 2006.

56 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 57


Percursos de ações e publicações
da ação educativa na luta e
enfrentamento ao racismo

1999 2004 2006 2007


CONCURSO NEGRO PARA ENTENDER O NEGRO CONCURSO NEGRO IGUALDADE ÉTNICO-RACIAL
E EDUCAÇÃO NO BRASIL DE HOJE E EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS

Concurso de fomento Publicação de autoria dos Concurso de fomento Ação desenvolvida pela Ação
à pesquisa promovido professores Kabengele Munanga à pesquisa promovido Educativa em parceria com as
por Ação Educativa, e Nilma Gomes, organizada por por Ação Educativa, entidades do movimento negro
Fundação Ford e Anped. Ação Educativa e Editora Global. Fundação Ford e Anped. Ceert e Ceafro e com o núcleo de
gênero e raça da Prefeitura de
Belo Horizonte nas cidades de São
Paulo, Belo Horizonte e Salvador.
Fundação Ford e Anped.

2008 2010
Contribuições para a ARTICULAÇÃO MISSÕES DA RELATORIA NACIONAL PARA O DIREITO HUMANO
IMPLEMENTAÇÃO DA LEI ESTRATÉGICA EM DEFESA À EDUCAÇÃO (PLATAFORMA DHESCA)
N. 10.639/2003 (Grupo DAS AÇÕES AFIRMATIVAS
Interministerial). NO ENSINO SUPERIOR Realização de missões referentes ao tema educação e racismo no Brasil,
desenvolvida pela ex-Relatora Nacional, Denise Carreira, coordenadora da
Articulação entre Ação Educativa, área de educação da Ação Educativa, e assessora da Relatoria, Suelaine
Geledés Instituto da Mulher Negra, Carneiro, coordenadora de educação do Instituto Geledés. A partir da
Relatoria Nacional para o Direito problemática do racismo, as missões abordaram a intolerância religiosa nas
Humano à Educação, UFSCAr e escolas públicas, a educação quilombola e o racismo no cotidiano escolar.
outras entidades e pesquisadores
em defesa das ações afirmativas
no ensino superior no ciclo de CICLO DE FORMAÇÃO DO PROGRAMA A COR DA CULTURA
audiências públicas do Supremo
Tribunal Federal, com o apoio da Nos anos de 2010, 2011 e 2013, a instituição integrou um grupo de educadores
Fundação Ford. Ação Educativa especializados em educação para as relações étnico-raciais, promovido
e Editora Global. pela Fundação Roberto Marinho, que propiciou a formação de profissionais
da educação dos estados do Amazonas, Mato Grosso, Pará, Maranhão e
Rio Grande do Sul sobre conteúdos vinculados à Lei 10.639/03 e seus
desdobramentos constantes nas Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação das Relações Étnico-raciais.

58 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 59


2011 2012
APRESENTAÇÃO AO CONGRESSO NACIONAL E À COMISSÃO ELABORAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE AMICUS CURIAE EM
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS DA OEA, DO DEFESA DA LAICIDADE NA EDUCAÇÃO PÚBLICA E CONTRA
INFORME BRASIL – GÊNERO E EDUCAÇÃO O ENSINO RELIGIOSO CONFESSIONAL E O ACORDO BRASIL-
SANTA SÉ (2009)
Apresentação elaborada pela Ação Educativa como parte do esforço de
pesquisa promovido pelo Cladem (Comitê Latino Americano pela Defesa Em parceria com Relatoria, Cladem (Comitê Latino-americano em Defesa
dos Direitos da Mulher) em todo continente latino-americano. O Informe dos Direitos das Mulheres), Ecos, Conectas e Geledés, a petição esteve
foi atualizado e relançado em novembro de 2013. Entre os destaques do vinculada à Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.439 e contou com apoio
Informe, constam as grandes desigualdades raciais entre mulheres que da Fundação Ford.
marcam a educação brasileira, a exclusão sistemática de meninos e jovens
negros da escolarização e o crescimento da influência de grupos religiosos
conservadores em escolas públicas.

2014 2015
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA GÊNERO E RAÇA NAS POLÍTICAS EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES RACIAIS: BALANÇOS E DESAFIOS
DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10639/2003

Integrando pesquisa nacional sobre a Educação de Jovens e Adultos no Brasil, A publicação tem como objetivo refletir os desafios da implementação da lei
com apoio de edital público Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas 10.639/2003 e as aprendizagens decorrentes de experiências consolidadas
Educacionais Anísio Teixeira). de atuação jurídica na defesa e no monitoramento da implementação da
educação para as relações étnico-raciais.
COLEÇÃO EDUCAÇÃO E RELAÇÕES RACIAIS: APOSTANDO NA
PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR
GUIA DE ATUAÇÃO MINISTERIAL: O MINISTÉRIO PÚBLICO E A
Elaboração, junto a escolas públicas de São Paulo, de uma coleção de materiais IGUALDADE ÉTNICO- RACIAL NA EDUCAÇÃO
que foi distribuída para escolas de todo o país no primeiro semestre de 2014, com
apoio do Unicef, Seppir e Secad/MEC e viabilizada graças ao edital público da linha Elaboração de contribuições para a implementação da LDB alterada pela
de microprojetos em direitos humanos no Brasil da Comissão Europeia. Lei 10.639/2003.

60 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 61


2016 2017 2018 2019
QUE SEGURANÇA IGUALDADE E DIFERENÇAS GUIA A ESCOLA NA MAPA DA REDE
PÚBLICA QUEREMOS? NAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS REDE DE PROTEÇÃO DOS ANTIRRACISTA
DIREITOS DE CRIANÇAS
Guia para realização de grupos Publicação de autoria da pesquisadora E ADOLESCENTES Desenvolvimento de um mapa
de diálogos sobre políticas e ativista Denise Carreira, organizada e colaborativo, ferramenta que
públicas de segurança, publicada pela Ação Educativa; A publicação dialoga com o apresenta marcos de resistência
utilizado na segunda fase trabalho realizado pela Ação históricos e contemporâneos do
do projeto Segura Essa Educativa no Projeto Redes de centro de São Paulo associados à
Ideia: Jovens Articuladores Proteção Local dos Direitos de ocupação e fluxos da população
pelo Direito à Segurança Crianças e Adolescentes, apoiado negra na cidade.
(Jadis), com apoio da Oxfam pelo Fundo Municipal da Criança
e Secretaria Nacional de e do Adolescente (Fumcad).
DESIGUALDADE E JOVENS
Políticas Sobre Drogas.
MULHERES NEGRAS

Publicação elaborada por Criola


e Oxfam Brasil em parceira com
Ação Educativa, FASE – Federação
de Órgãos para Assistência Social,
Ibase – Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas,
Inesc – Instituto de Estudos
Socioeconômicos e Instituto Pólis.

CONHEÇA MAIS AÇÕES


COMO ESSA:

62 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 63


05
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

64 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL


ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a Mestiçagem no
Editora Jandaíra, 2019. Brasil - Identidade Nacional Versus Identidade Negra: Para
uma crítica da ideologia da mestiçagem. Petrópolis: Vozes,
BRAH, Avtar. “Diferença, diversidade, diferenciação”. 1999.
Cadernos Pagu. Campinas, N. 26, p. 329-376, jan/jun _____. Teoria Social e Relações Raciais no Brasil
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66 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 67


EXPEDIENTE Revisão
Raquel Catalani

Realização Colaboração Editorial


Abong Danilo Feno

Parceria
Ação Educativa

Coordenação
Grupo de Referência de Enfrentamento e Prevenção ao
Racismo Institucional (GREPRI) da Ação Educativa DIRETORIA EXECUTIVA GESTÃO 2019/2022

Edição-final Athayde José da Motta Filho | IBASE – Instituto Brasileiro


Ana Paula Maia de Análises Sociais e Econômicas (RJ)
Juliane Cintra Débora Rodrigues da Silva | Associação Vida Brasil (BA)
Raquel Luanda Eleutéria Amora da Silva | CAMTRA - Casa da Mulher
Trabalhadora (RJ)
Textos Elisety Veiga Maia | Sociedade Paraense
Ana Paula Maia de Direitos Humanos (PA)
Bárbara Freire Caldeira Evanildo Barbosa da Silva | FASE Nacional (RJ)
Carmen Maria Raymundo Iara Pietricovsky de Oliveira | INESC - Instituto de Estudos
Juliane Cintra Socioeconômicos (DF)
Luiza Buzgaib Martins Mauri Cruz | IDhES - Instituto de Direitos Humanos,
Raquel Luanda Econômicos e Sociais (RS)

Sistematização e Entrevistas REPRESENTANTES ESTADUAIS


Bárbara Freire Caldeira
Carmen Maria Raymundo ACRE
Luiza Buzgaib Martins Maria Jocicleide Lima de Aguiar | RAMH – Rede
Acreana de Mulheres e Homens
Projeto gráfico
Lais Oliveira BAHIA E SERGIPE
Camila Veiga de Oliveira | ELO – Ligação e
Ilustrações Organização (BA)
Fábio Gonçalves de Matos Sousa Érika Francisca de Souza | ODARA – Instituto da
Mulher Negra (BA)
Alex Federle do Nascimento | CDJBC – Centro de
Assessoria e Serviço aos/às Trabalhadores/as da
Terra Dom José Brandão de Castro (SE)

68 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 69


CEARÁ SÃO PAULO
Rogério da Costa da Silva | CDVHS – Centro de Alexandre Isaac | CENPEC – Centro de Pesquisas em
Defesa da Vida Herbert de Souza Educação e Cultura e Ação Comunitária
Cristiane Faustino da Silva | Instituto Terramar Juliane Cintra De Oliveira | Ação Educativa
Luanda Mayra Chaves Teixeira | CEERT – Centro de
PARÁ Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades
Aldalice Moura da Cruz Otterloo | UNIPOP – Instituto
Universidade Popular TOCANTINS
Maria Lindalva Melo dos Santos | MMCC – Movimento Maria Vanir Ilídio | CDHP – Centro de Direitos
de Mulheres do Campo e da Cidade do Estado Humanos de Palmas
Carleiz Pereira de Souza | COMSAÚDE – Comunidade
PARANÁ de Saúde Desenvolvimento e Educação
Cristiane Katzer | ASSESOAR – Associação de
Estudos, Orientação e Assistência Rural EQUIPE ABONG

PERNAMBUCO Coordenação Institucional


Alexsandra Maria da Silva | SERTA – Serviço de Franklin Félix
Tecnologia Alternativa
Carlos Magno de Medeiros Morais | Centro de Gestão Administrativo-Financeira
Desenvolvimento Agroecológico Sabiá Adriana Torreão
Sandro Cipriano Pereira | SERTA – Serviço de Wanderson Borges
Tecnologia Alternativa (in memorian)
Formação
RIO DE JANEIRO Alessandra Almeida
Carla de Carvalho Almeida da Silva | CDDH – Centro
de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis – Comunicação
Grupo Ação, Justiça e Paz Danilo Feno
Diestéfano Sant’anna de Lima | Casa de Cultura Patrícia França
Baixada Fluminense
Projetos
RIO GRANDE DO SUL Pedro Bocca
Cibele Kuss | FLD – Fundação Luterana de Diaconia Raquel Catalani
Daniela Oliveira Tolfo | CAMP – Centro de Assessoria
Multiprofissional Articulação
Jorge Alfredo Gimenez Peralta | CEAP – Centro de Jhonatan Souto
Educação e Assessoramento Popular
Jurídico
Helena Duarte

70 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL 71


72 CARTILHA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL

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