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GUIA DE

BOAS PRÁTICAS
ANTIRRACISTAS

Iniciando uma jornada de letramento +


racial por meio do voluntariado
Guia de Boas Práticas Antirracistas

Expediente Índice
Saiba quem fez este material 1. Mensagem às pessoas voluntárias 03

Conteúdo técnico: Arlane Gonçalves Consultoria


2. Engajamento social como forma 04
Redação e revisão: Cleberson Santos
de transformação individual e coletiva

Edição: Alana Jorge, Beatriz Carvalho e Jéssika Elizandra

Projeto gráfico: Ana Clara Selhorst e Felipe Amoreira

3. Contextualização e dados 06

4. Aprendendo 08

5. Como ser antirracista no dia a dia 14

6. Como fazer um voluntariado antirracista 19

Fundador: Daniel Morais Assunção


7. Como ser uma empresa antirracista 21

Diretoria operacional: Alana Jorge

8. Referências para você se inspirar 24

Gerente comercial: Igor Alegoria

Gerente de projetos empresariais: Beatriz Carvalho


9. Notas bibliográficas 27
Gerente de Redes e Comunidades: Rosa Richter Diaz

Gerente de Comunicação: Jéssika Elizandra

Guia de Boas Práticas Antirracistas

1. Mensagem às O Atados nasceu em 2012 como um espaço


de conexão, troca e aprendizado contínuo.
conhecimento, estamos tendo uma
oportunidade única de ganhar consciência,
pessoas voluntárias Juntamos pessoas e empresas que queiram debater e lutar por políticas que combatam
ter uma atuação social positiva com a discriminação racial presente de forma
instituições que precisam desse apoio. estrutural na nossa sociedade.

Nosso objetivo é transformar a nossa sociedade


por meio de ações individuais e coletivas. 

Como propaga a famosa frase da ativista


pelos direitos da população negra Angela Davis:

Acreditamos que o engajamento social,


e principalmente o voluntariado, são Numa sociedade racista,

não basta apenas não

ferramentas de transformação. Que é por ser racista. É preciso

meio dele que nos conectamos aos diversos ser antirracista.


contextos e questões sociais que nos cercam,
que nos desenvolvemos enquanto cidadãos e Todo o conteúdo e dicas deste guia tem como
que aprendemos como atuar e gerar impacto objetivo nos fortalecer como aliados nesta luta,
positivo no mundo.

seja por meio do voluntariado ou por meio de


falas e atitudes no nosso dia a dia. Esperamos
Este Guia de Boas Práticas Antirracistas que este seja um primeiro passo para que você
também tem esse propósito em seu coração. se sinta parte dessa luta e que sua experiência
Graças ao acesso à informação e ao enquanto voluntário seja transformadora.

conhecimento,

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

2. Engajamento social

como forma de transformação

individual e coletiva

Nós temos muitos desafios sociais e ambientais como sociedade.

A realidade em que vivemos foi construída por diversas gerações.

Cabe a nós, portanto, entender nosso papel no presente e no futuro,

para nos mobilizar e tentar mudar o que acreditamos. 

Reconhecemos que o engajamento social é uma ferramenta

fundamental para promovermos cada vez mais essas transformações

individuais e coletivas. Há uma série de modelos e possibilidades

de atuação social para indivíduos e organizações que, juntos, geram

maior impacto positivo. E temos aliados que estão conosco nessa ideia!

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Engajamento social como forma de transformação individual e coletiva Guia de Boas Práticas Antirracistas

A Points of Light Foundation, organização Acreditamos que o voluntariado tem um


norte-americana parceira do Atados, desenvolveu potencial ainda maior quando é feito com
o Civic Circle (Círculo da Participação Social, em intencionalidade, com aprofundamento nos
português) para representar o poder das desafios sociais com os quais estamos
pessoas enquanto agente de mudanças e a trabalhando e com o sentimento de fazer
nossa capacidade de construção de uma parte da solução.
sociedade participativa.

O diagrama ao lado destaca as várias O que o voluntariado pode trazer?


dimensões do engajamento social. Usar sua voz
para divulgar uma causa em suas redes Para a pessoa: o voluntariado contribui
sociais, doar para alguma instituição, decidir para a autorrealização, fortalecimento da
comprar ou não algo por causa do impacto identidade pessoal, elevação da autoestima
social que aquela empresa ou produto tem no e desenvolvimento do pensamento crítico.

meio ambiente e na sociedade, entre outros.


Três dessas dimensões se conectam Para o coletivo: o voluntariado alavanca
diretamente com o objetivo do Guia de Boas a promoção dos direitos humanos, coloca em
Práticas Antirracistas (e se complementam prática um propósito direcionado para outras
entre si): o estudo sobre uma causa, o trabalho pessoas e contribui para a satisfação das
voluntário e o poder de voz. necessidades da sociedade.

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

Pessoas negras (soma das Mulheres negras são

Contextualização
pessoas que se identificam como
pardas ou pretas) representam
28% da população,

porém apenas 2% delas


e dados 56% da população brasileira1 ocupam cargos de diretoria,
segundo pesquisa realizada
É muito importante que conheçamos pelo Insper 4
os índices socioeconômicos que A população negra possui, em média,
ilustram o cenário atual. Assim, 58% da renda das pessoas brancas2 Mesmo exercendo

podemos reconhecer com mais a mesma profissão,

clareza e assertividade o momento um homem branco

em que estamos, além de identificar De acordo com a Fundação Dom Cabral, chega a ganhar 159%

onde estão os nossos desafios. 90% das pessoas em cargos de CEO


a mais que uma

no Brasil são homens brancos3 mulher negra5

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Contextualização e dados Guia de Boas Práticas Antirracistas

Nota-se um grande desequilíbrio na ocupação


deste espaço, porém essas diferenças vão além
da realidade organizacional:

Segurança alimentar
Violência contra a mulher

Fome atinge mais as famílias de Mulheres negras representam


mulheres negras. Enquanto para 62% das vítimas de feminicídio
homens brancos a taxa é de 7,8%, no Brasil 9

para mulheres negras chega a 22%6

Acesso à educação

Assassinatos
Pessoas negras são 71,7%
A cada 23 minutos, um jovem negro da juventude que abandona
é assassinado no Brasil 7

a escola no Brasil. A maioria


afirma ter parado de estudar
Trabalho infantil
porque precisava trabalhar 10
Meninos negros são maioria
no trabalho infantil 8

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

4. Aprendendo
Para atuarmos de modo intencional em uma causa, é essencial que conheçamos seus conceitos e desafios.
Por isso, te convidamos a entender mais sobre como funcionam as relações raciais em nosso país. Vamos juntos?

Raça
O conceito de raça surgiu entre os séculos XVII A noção de raça se mantém relevante por conta
e XVIII. Intelectuais como Arthur de Gobineau11 das consequências sociais e históricas da
dividiram o mundo em raças e definiram uma limitação e exclusão da participação social das
hierarquia entre elas, designando a raça branca pessoas não brancas.

como superior. Este conceito é chamado hoje de


racismo científico. Para o entendimento da época, Com base na concepção de raça, as pessoas negras
justificava atrocidades como a escravidão, “pois e indígenas foram estigmatizadas como "selvagens"
pessoas negras eram inferiores em todos e "inferiores" devido às suas características
os aspectos e feitas naturalmente para a servidão”.

físicas (aparência, fenótipo) e culturais. 

O termo “raça” foi criado em um período


de nossa sociedade com o objetivo de diferenciar Você sabia?

as pessoas e seus “níveis de superioridade”.


Chamamos de letramento racial

Apesar do racismo científico ter caído por terra


o processo de consumir conteúdo

(ainda bem!), ainda vemos uma divisão racial,


e aprender sobre questões e desafios
com lugares visivelmente e desproporcionalmente relacionados à raça
ocupados pelos respectivos grupos sociais.

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Aprendendo Guia de Boas Práticas Antirracistas

Preconceito Injúria racial


Conjunto de ideias e avaliações negativas que temos sobre A injúria racial é a discriminação em atuação direta a uma pessoa
determinados grupos de indivíduos. Aqui entram, por exemplo, ou a pessoas determinadas. Desde 2023, a injúria racial é um crime
os vieses inconscientes - nossos padrões subconscientes de pensamento imprescritível12, ou seja, a qualquer tempo, independente de quando o fato
que podem afetar nosso julgamento ou percepção da realidade. aconteceu, o mesmo pode ser investigado e as pessoas responsáveis
processadas e recebendo penas conforme a legislação. O crime de injúria
racial está previsto no artigo 140, § 3o do Código Penal Brasileiro.13

O que é?

Discriminação Epistemicídio
Comportamentos e atitudes práticas que expressam preconceitos - Forma sistemática de apagamento e inferiorização do conhecimento
falas, modo de tratar outras pessoas, “brincadeiras” ofensivas. As ações vindo de uma cultura específica. Segundo Messias Basques,
podem acontecer com ou sem intenção, mas provocam a inferiorização o epistemicídio é um meio de dominação política e ideológica em que se
de uma pessoa ou de um grupo por conta de suas características, como desqualifica esse tipo de conhecimento, atacando os “princípios básicos
a raça. A discriminação pode acontecer de forma explícita ou sutil e dos sistemas de pensamento e conhecimento de certas populações,
pode ter consequências psicológicas profundas para as vítimas. que são vistas como primitivas, atrasadas, hereges e imorais” 14.
Esse tipo de atuação abala inclusive a autoestima dos detentores
originais - mudando sua forma de pensar.

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Aprendendo Guia de Boas Práticas Antirracistas

O que é racismo?

Esta é uma palavra que geralmente causa receio, porque muitas vezes O racismo é uma decorrência da
não entendemos adequadamente seu significado. O advogado, filósofo própria estrutura, ou seja, do modo
e professor Silvio Almeida15 define o racismo como uma forma sistemática “normal” com que se constituem as

de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta relações políticas, econômicas, jurídicas

e até familiares, não sendo uma


por meio de práticas normalizadas, conscientes ou inconscientes,
patologia social e nem um desarranjo
que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos,
institucional. O racismo é estrutural.

a depender do grupo racial ao qual pertençam. 

Comportamentos individuais e

É importante entendermos que este não é um conceito que se baseia processos institucionais são derivados

em moralizar as atitudes de pessoas específicas, não é discutido aqui que de uma sociedade cujo racismo

existem “pessoas boas ou ruins” por conta do racismo. É um sistema é a regra e não a exceção

que perpetua os privilégios e estrutura de poder em vários níveis,


Silvio Almeida
além de marcado por discriminações pela cor, etnia, traços, cabelo, etc.

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Aprendendo Guia de Boas Práticas Antirracistas

Racismo institucional: resultado do funcionamento Você sabia?

das instituições, regras e padrões sociais que geram,


ainda que indiretamente, desvantagens e privilégios RACISMO

com base na raça. TAMBÉM

Racismo interpessoal: reflexos de uma mentalidade É CRIME!


racista aprendida e compartilhada por todos nós. Está no artigo 20 da Lei 7.716/89 16 e
Ela aparece nos mínimos e grandes detalhes de se configura quando as ofensas não tenham
nossas relações - desde a inferiorização/humilhação uma pessoa ou pessoas determinadas, e sim
de uma pessoa negra por preconceito contra seu venham a menosprezar determinada raça,
cabelo, até a normalização da ausência de pessoas cor, etnia, religião ou origem, agredindo
negras em posições de liderança, por exemplo. um número indeterminado de pessoas.

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Aprendendo Guia de Boas Práticas Antirracistas

Racismo reverso existe?


Como vimos, o racismo é um fenômeno que acontece na estrutura da sociedade. Ou seja:
como consequência das ações intencionais e não intencionais, do passado e do presente, se perpetua uma
divisão racial na nossa sociedade que designa mais participação social e mais condições dignas de vida
às pessoas brancas em detrimento das pessoas negras e indígenas. E isto se dá a partir de suas
identidades raciais. Desta forma, o racismo se constitui como uma relação de poder, com pessoas brancas
no topo da pirâmide e pessoas negras e indígenas na base. Logo, racismo reverso não existe.

O que é “privilégio branco”?


Se pararmos para pensar, as pessoas negras do Brasil vêm de quatro ou cinco gerações de famílias libertas
da escravidão, dado que esta foi legalmente abolida do país há aproximadamente 135 anos. No período da
escravidão, enquanto as famílias negras não eram reconhecidas enquanto cidadãs e acumulavam apenas
exclusão de acesso a direitos e oportunidades, as pessoas brancas acumulavam o oposto. 

Cabe a nós observar o nosso passado e nos questionar criticamente: será que, de fato, pessoas negras e
brancas do século XXI começam suas vidas a partir do mesmo nível de acesso a direitos e oportunidades?
Apesar de aprendermos desde cedo que “somos todos iguais”, vemos que os indivíduos não são os únicos
responsáveis pela sua realidade. O que nossos antepassados viveram também dita o que somos ou não.
Mesmo que uma família não fosse “dona” de uma pessoa negra naquela época, poderia desfrutar da
liberdade, de oportunidades e da construção de um patrimônio que as negras não podiam.

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Aprendendo Guia de Boas Práticas Antirracistas

O que é equidade racial?


Como vimos, ainda hoje, a população negra pode ser considerada um grupo minorizado. Ou seja, uma população que, em decorrência de ações
e situações excludentes, não ocuparam e não ocupam todos os espaços da sociedade de forma ativa, decisiva e proporcional às suas existências.

A equidade racial é, então, a garantia de que esse grupo possa participar ativamente e sem limitações nem restrições das esferas de convívio
em sociedade, construindo e acessando direitos e oportunidades, construindo e ocupando espaços, e sendo parte dos processos de tomada
de decisão. Lutamos contra uma realidade construída historicamente e, para transformar isso, é importante que tenhamos intencionalidade em um
processo de três etapas:

Reconhecimento Responsabilização Reação


Dos desafios a serem endereçados Tomada de posse do papel
Implementação de ações equitativas:
para construirmos uma sociedade de responsáveis por endereçar
específicas proativas, focadas e intencionais,
racialmente igualitária e resolver tais desafios para voltadas para os respectivos desafios sociais
moldar o presente e o futuro atuais na jornada por uma sociedade
Quais as diferenças entre grupos raciais e como elas
racialmente igualitária
resultam, ao mesmo tempo, em exclusão de acesso
Como endereçar esses desafios
a direitos e oportunidades para grupos específicos,
que vêm do passado?
Quais são os próximos passos e ações que
e privilégio de acesso para outros grupos?
posso tomar na jornada por uma sociedade
racialmente igualitária?

Framework 3R da Transformação Cultural. Concebido e desenvolvido por Arlane Gonçalves Consultoria (AGC).

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

Como ser
1. Questione-se 3. Faça o “teste do pescoço”
antirracista
O autoquestionamento é o primeiro passo para evitar
reproduzir esse tipo de violência. O racismo está em nós
Ao entrar nos ambientes que frequenta - trabalho, shopping,
restaurantes, festas, consultório médico - comece a observar
no dia a dia e nas pessoas ao nosso redor, e é grave não reconhecer quem são e que posição ocupam as pessoas presentes.

e não combater a opressão.

Pergunte-se sempre: quem é cliente, quem comanda


2. Mantenha a mente aberta
o negócio, quem serve a mesa, quem limpa o chão? Num país
para aprender sempre e desconstruir de 56% de pessoas negras, o quão comum é ter 56% de
seus próprios preconceitos pessoas negras frequentando os lugares que você frequenta?

Ao final do Guia de Boas Práticas Antirracistas,


vamos compartilhar com você algumas sugestões
4 . Leve a conversa para

de filmes, podcasts e leituras que podem colaborar a mesa de jantar


com este processo. Além disso, fica o convite para que Raça e racismo são palavras que, por si só, provocam
este seja apenas o começo. O letramento racial é uma temor. Esse receio, somado às crenças de que somos todos
jornada para a vida, que demanda busca ativa, iguais e de que não há diferença por cor, impede que
mente aberta para questionar crenças enraizadas, avancemos na conversa. Agora, você tem o desafio de
e disposição para considerar novas perspectivas. enfrentar este desconforto. É muito importante normalizar,
Pesquise sobre questões raciais de maneira autônoma, fazer com que esta seja uma conversa de todas as pessoas.
sem perguntar a cada nova conversa com uma Só assim, poderemos provocar uma consciência coletiva
pessoa negra, se determinada ação é racista. que mobilize real transformação.

14
Como ser antirracista no dia a dia Guia de Boas Práticas Antirracistas

5 . Dê espaço de fala para pessoas negras

6. Permaneça alerta e interrompa conversas

ou falas racistas

7. Acolha pessoas vítimas do racismo e encaminhe


para setores e órgãos especializados

8. Use o seu privilégio para ajudar


grupos oprimidos

9. Exclua do seu vocabulário palavras

e expressões racistas
Há muitas falas e atitudes que aprendemos desde cedo que naturalizam
e até fazem “graça” da desigualdade racial, inferiorizando e zombando
das características físicas e intelectuais das pessoas negras. Saber como
a nossa comunicação pode reproduzir o racismo é fundamental para não
perpetuar estereótipos. Na próxima página, compartilharemos alguns
exemplos para reflexão.

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

Exclua do seu vocabulário


palavras e expressões racistas
A coisa tá preta
A fala associa a cor preta a uma situação desconfortável, desagradável,
difícil, perigosa. Pode ser substituída por: “a coisa está difícil”,
“a situação está complicada”.

Barriga suja
A expressão geralmente se refere a mulheres que geram crianças
negras, especialmente mulheres que dão à luz a bebês com pele mais
escura que a sua. A mensagem que esta expressão transmite é de que
a barriga que gera descendentes de cor escura é impura, indesejada.

Boçal
A palavra é geralmente utilizada para designar uma pessoa sem
educação, grosseira, rude. No entanto, há relatos de que a sua origem
está conectada ao período escravocrata, no qual o termo era empregado,
de maneira ofensiva, para designar pessoas escravizadas que não sabiam
falar português. Pode ser substituída por “pessoa grosseira”, “pessoa
desrespeitosa”, “pessoa ignorante”, entre outras.

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Exclua do seu vocabulário palavras e expressões racistas Guia de Boas Práticas Antirracistas

Cabelo ruim, cabelo duro, cabelo de bombril


Denegrir

São expressões utilizadas para inferiorizar e menosprezar as características Embora a origem da palavra “denegrir” seja latina e seu significado

do cabelo das pessoas negras, associando-o a coisas ruins ou de seja enegrecer, seu uso atual está associado à ideia negativa de macular,

qualidade inferior. Importante notar que os cabelos possuem diferentes manchar, sujar. Pode ser substituída por “difamar”, “caluniar”.

formas, constituições e tonalidades, e que não existem cabelos melhores

ou piores, apenas diferentes. Podem ser substituídas por expressões


Dia de branco
que descrevam as características do cabelo de fato, como “cabelo crespo”,

“cabelos cacheados”, e assim por diante. Expressão que transmite uma ideia que associa coisas positivas - com o trabalho,

o esforço - ao ser branco. Porém, esta associação é dupla e racista, pois é feita em

detrimento ao ser negro que, por sua vez, é associado à preguiça.


Cor do pecado

Utilizada com a intenção de elogiar, associada geralmente ao imaginário

da mulher negra como objeto sexual. Escrava, escravo

É importante notarmos que as pessoas negras foram escravizadas. Ser uma

pessoa escrava não estava na natureza delas, mas era sim um fenômeno imposto
Crioula, crioulo
a elas, feito com elas por outras. Assim, o uso dos termos “pessoa escravizada”,

“homem escravizado”, “mulher escravizada” torna-se mais adequado, pois


Palavras comumente utilizadas no período escravagista, referindo-se,
reconhece e enfatiza o fato de a escravidão ter sido um projeto idealizado
de maneira ofensiva e preconceituosa, a descendentes de pessoas
e imposto pelas pessoas brancas sobre as pessoas negras.
escravizadas que nasciam como pessoas livres.

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Exclua do seu vocabulário palavras e expressões racistas Guia de Boas Práticas Antirracistas

Inveja branca Negra/negro de alma branca


Inveja é um conceito entendido como ruim, e refere-se à cobiça A expressão reproduz a ideia de que, para a pessoa negra
pelos bens, habilidades, conquistas e outros atributos de uma pessoa. ser considerada uma boa pessoa, ou boa em algo, ela precisa passar
Entretanto, ao adicionar a palavra “branca”, o termo é associado a um por um processo de branqueamento. E, apesar de não poder se tornar
aspecto positivo, como se embranquecer a inveja resultasse numa fisicamente branca, ela pode “subir de nível” passando a ter então
“cobiça boa”, não ofensiva. Ao passo que “inveja negra” conecta o que é uma alma branca.

negro ao que é mau, trazendo uma conotação de intensificação daquilo


que já é ruim, de piora.

Samba do crioulo doido


Expressão que realmente associa algo bagunçado, malfeito, de pouca
Não sou tuas nega qualidade ao ser negro. Pode ser substituída por “este projeto não
atendeu as expectativas / está errado”, “esta casa está muito
Expressão utilizada para designar revolta ou incômodo com alguma bagunçada”, e assim por diante.
situação na qual a pessoa se sinta desrespeitada, desvalorizada.
Há várias hipóteses que associam o termo a como as mulheres negras
eram tratadas durante a escravidão. Isso se conecta diretamente a uma Serviço de preto
mensagem racista e misógina que a expressão reproduz, endereçando as
mulheres negras como passíveis de suportar qualquer tipo de situação ou Esta expressão pode trazer dois significados: em um refere-se
comportamento. ao respectivo serviço/trabalho como malfeito, inadequado, e em outro
refere-se ao trabalho braçal como designado às pessoas negras.
Nos dois casos, há uma associação racista, ora conectando o ser negro
a algo que é/está ruim, ora conectando a existência das pessoas negras
ao que é entendido como posições de servidão e inferioridade.

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

6. Como fazer

um voluntariado
antirracista Conheça mais sobre a causa. O antirracismo é algo que devemos
praticar no dia a dia, é importante que você tenha um conhecimento
base para saber como agir;
Participe e incentive que outras pessoas participem de iniciativas
que trabalhem a pauta. Pesquise, se engaje e doe para projetos
e organizações conectadas ao avanço da equidade racial. Você pode
encontrar iniciativas de âmbito nacional e também de âmbito regional,
focando na comunidade da qual você faz parte;

Esteja atento(a) e interrompa falas e conversas racistas;

Tenha empatia e entenda os diferentes contextos com os quais


estamos nos conectando. Esteja aberto(a) a aprender e desconstruir
seus próprios preconceitos;

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Como fazer um voluntariado antirracista Guia de Boas Práticas Antirracistas

Atenção com o discurso da meritocracia. O empenho individual é necessário

a todos, mas não podemos esquecer que as pessoas não partem do mesmo

local de construção social na maioria das vezes. A ideia de que “basta batalhar

e trabalhar para poder alcançar o que se almeja” não cabe em uma sociedade

em que, por processos históricos, a população negra, por exemplo, já começa

sua trajetória em um lugar de não privilégio. Ter consciência de quem se

é e dos locais que você mesmo alcançou não significará necessariamente

que outras pessoas terão as mesmas oportunidades;

Se você presenciar qualquer fala racista, comunique imediatamente

os responsáveis das atividades voluntárias;

Contribua para a discussão na empresa em que você trabalha:

a. Denuncie atos racistas nos canais da empresa;

b. Cobre da sua empresas políticas e ações antirracistas;

c. Participe de grupos de afinidade ou rodas de conversa

proporcionados pela empresa;

d. Compartilhe com pessoas do seu time conhecimentos sobre o assunto.

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

Como ser uma

empresa antirracista
Crie grupos de discussão
Uma boa prática que vem crescendo no Brasil é a criação de grupos de discussão
de equidade racial dentro das organizações. Neles, as pessoas se reúnem para
formar e fortalecer conexões, trocar ideias sobre o contexto da organização
e discutir as oportunidades que existem dentro dela para que seja racialmente
mais inclusiva. Esses grupos são geralmente conhecidos como “grupos de
afinidade” ou “comitês”. Ofereça recursos para que eles possam também propor
iniciativas para o resto da empresa.

Foque no impacto
Trata do reconhecimento dos impactos e resultados excludentes, quer sejam
intencionais ou não. Então, não é sobre intenção ou boa vontade. É sobre
a realidade em si e como as desigualdades se refletem nela.

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Como ser uma empresa antirracista Guia de Boas Práticas Antirracistas

Comece pelos dados


Sem dados não há gestão: isso vale para qualquer área da organização
e também para a pauta de equidade racial. É fundamental que seja realizado
um diagnóstico na organização para entender os percentuais dos grupos
sociais presentes nela, e como estão em cada nível hierárquico. Também
é importante avaliar como estão o clima e as percepções das pessoas sobre
a cultura da empresa, e depois analisar estes dados a partir das identidades
raciais. A partir desse processo, serão formados indicadores que servirão
para analisar a efetividade de futuros projetos e entender como são
contemplados os diferentes grupos raciais. Assim, o desenvolvimento destes
mecanismos equitativos pode ter resultados ainda mais efetivos.

Engaje a liderança
Deve ser constante a jornada de educação de líderes no tema, para que
a empresa seja cada vez mais equitativa e inclusiva nessas posições.
Então, promova palestras, sensibilizações e treinamentos específicos para
as lideranças em pequenos grupos, com espaço para escuta e troca
de experiências. É essencial também que sejam compartilhadas ferramentas
para que as pessoas em posição de liderança possam tomar decisões
conscientes e direcionadas.

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Como ser uma empresa antirracista Guia de Boas Práticas Antirracistas

Avance para as ações afirmativas


Uma vez analisados os indicadores, é o momento de selecionar as prioridades e definir metas e prazos.
É imprescindível também que sejam atribuídas também responsabilizações, especialmente para a liderança.

É válido ressaltar que ações afirmativas são programas e processos específicos, focados e direcionados para
solucionar os gaps de desigualdade. e não se restringem apenas a processos seletivos. Podemos incluir aqui
processos, como a formação do pipeline de sucessão, a seleção para programas de desenvolvimento, a decisão
de promoção, e assim por diante.

A adoção de políticas afirmativas é fundamental para garantir a realização frequente de treinamentos e formações
junto aos colaboradores, reconhecer as ações que podem surgir dos grupos de afinidade e também no apoio
às instituições que trabalham com a causa, seja como parceiras na prestação de serviços ou como organizações
sociais que receberão trabalho voluntário.

Incentive a contratação de profissionais negros(as)


Ter apenas uma pessoa negra na sua equipe não lhe fará inclusivo. Para além de representatividade é preciso ter
proporcionalidade. Se os negros correspondem a 56% da população brasileira, só haverá equidade corporativa
quando 56% dos empregos formais e cargos de liderança forem ocupados por profissionais negros(as).

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

Referências para
Movimentos e organizações
você se inspirar

Clique nos logotipos e saiba mais sobre cada uma das organizações

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Referências para você se inspirar Guia de Boas Práticas Antirracistas

Clube de Leitura Vídeos Músicas


Clube de Leitura Antirracista
Por que queremos olhos azuis?, por Lia Vainer.
AmarElo, de Emicida

No Instagram: @clubeleituraantirracista Disponível em https://youtu.be/EC-IywB3dEA

Mandume, de Emicida, Muzzike, Raphão


Podcasts As estatísticas que revelam a desigualdade racial
Alaafin, Drik Barbosa, Rico Dalasam e Amiri

no Brasil e nos EUA, por BBC Brasil.

Projeto de Assis: https://projetodeassis.com.br/ 


Disponível em https://youtu.be/d45Woc456DY 

Ladrão, de Djonga

Projeto Querino: https://projetoquerino.com.br/ 


 

Não é proibido, de Tássia Reis

História Preta: https://historiapreta.com.br/ 


Uma breve história sobre o racismo no Brasil,

por prof. Dirceu Lima.


Da Lama/Afrontamento, de Tássia Reis

Disponível em https://youtu.be/Pd_qvuIFMuY 

Séries e Filmes Ponta de Lança, de Rincon Sapiência

Insecure, disponível na Netflix


Qual o lugar do branco na luta antirracista?,
Não deito para nada 2.0,

AmarElo - É tudo para ontem, disponível na Netflix 

por Lia Vainer. Disponível em https://youtu.be/q6tSIHzpFTc 

Rico Dalasam e Dinho Souza

Black-ish, disponível na Prime Video 


Racismo estrutural e ações afirmativas, por Silvio Almeida.

Manhãs de Setembro, disponível na Prime Video 


Disponível em https://youtu.be/GauO6iT0UaA 

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Referências para você se inspirar Guia de Boas Práticas Antirracistas

Livros Pessoas influenciadoras


Pequeno Manual
Não basta não ser racista: Gabi Oliveira | @gabidepretas
Antirracista,
Sejamos antirracistas,
Instituto Luiz Gama | @institutoluizgama
de Djamila Ribeiro

de Robin Diangelo

Bianca Santana | @biancasantanadelua


Racismo Estrutural,
Tudo nela é de se amar,
João Pimenta | @joaoseupiment
de Silvio Almeida

de Luciene Nascimento

Família Quilombo | @familiaquilombo


Maternidade Sapatão | @maternidadesapatao
Pacto da Branquitude,
Quando me descobri negra,
Nátaly Neri | @natalyneri
de Cida Bento

de Bianca Santana
Maria Clara Araújo | @afrotranscendente
Entre o Encardido, o Branco Chavoso da USP | @chavosodausp.02
e o Branquíssimo,
Rene Silva | @renesilva
de Lia Vainer Nath Finanças | @nathfinancas
Yuri Marçal | @oyurimarcal
Amanda Dias | @granapretaoficial

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

Notas bibliográficas
1. FERRARI, H. População cresce com mais pessoas negras e pardas. Poder 360, 2022. 9. Mulheres negras representam 62% das vítimas de feminicídio no Brasil, aponta Anistia
Disponível em: https://www.poder360.com.br/brasil/populacao-cresce-com-mais-pessoas- Internacional. G1. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/bom-dia-brasil/
negras-e-pardas/

noticia/2023/03/28/mulheres-negras-representam-62percent-das-vitimas-de-feminicidio-
no-brasil-aponta-anistia-internacional.ghtml

2. PAPP, A. C.; LIMA, B.; GERBELLI, L. G. Na mesma profissão, homem branco chega a ganhar
mais que dobro que mulher negra, diz estudo. G1. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/ 10. PALHARES, I. Negros são 71,7% dos jovens que abandonam a escola no Brasil. Folha
economia/concursos-e-emprego/noticia/2020/09/15/na-mesma-profissao-homem-branco- de S. Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/06/negros-
chega-a-ganhar-mais-que-o-dobro-da-mulher-negra-diz-estudo.ghtml

sao-717-dos-jovens-que-abandonam-a-escola-no-brasil.shtml

3. HERÉDIA, T. Mais de 90% dos CEO's do Brasil são homens brancos, diz pesquisa. CNN Brasil. 11. Gobineau, Arthur (1915) [1853-55]. The inequality of human races (em inglês).
Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/mais-de-90-dos-ceos-do-brasil-sao- Londres: William Heinemann. 246 páginas.

homens-brancos-diz-pesquisa/

12. Senado Federal. Sancionada lei que tipifica como crime de racismo a injúria racial.
4. Diferença salarial em relações a negros e mulheres persiste por uma década. Insper. Senado Notícias. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/
Disponível em: https://www.insper.edu.br/conhecimento/conjuntura-economica/diferenca- materias/2023/01/12/sancionada-lei-que-tipifica-como-crime-de-racismo-a-injuria-racial

salarial-em-relacao-a-negros-e-mulheres-persiste-por-uma-decada/

13. Brasil. Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997. Dispõe sobre a criminalização do racismo.
5. SOUZA, F. Pretos e pardos ganham 58% da renda de brancos, segundo IBGE. Uol. 2021. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
Disponível em: https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/ l9459.htm#:~:text=%C2%A7%203%C2%BA%20Se%20a%20inj%C3%BAria,a%20tr%C3%A
redacao/2021/12/03/diferenca-renda-negros-brancos-ibge.htm

As%20anos%20e%20multa.%22

6. ALMEIDA, C. Fome atinge mais as famílias de mulher negra, mostra novo estudo. O Globo. 14. VICENZO, G. Prática cria monocultura do conhecimento e marginaliza outros saberes.
2023. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2023/06/fome-atinge-mais- UOL ECOA. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/05/03/
as-familias-de-mulheres-negras-mostra-novo-estudo.ghtml 

pratica-cria-monocultura-do-conhecimento-e-marginaliza-outros-saberes.htm

7. ESCÓSSIA, F. A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil, diz CPI. BBC 15. ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. 1ª edição. São Paulo: Editora Jandaíra, 10 julho
Brasil. 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-36461295 

2019.

8. OLIVEIRA, P. I. Meninos negros são maioria no trabalho infantil, afirma secretário. Agência 16. Brasil. Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Define os crimes resultantes de
Brasil. 2021. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/ preconceito de raça ou de cor. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
noticia/2021-06/meninos-negros-sao-maioria-no-trabalho-infantil-afirma-secretario
L7716.htm

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Guia de Boas Práticas Antirracistas

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