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Esse tipo de agressão é percebido até com bastante facilidade, mas quase sempre
dificulta a defesa pelo fato de ser transmitido por uma pessoa que não é a autora da
crítica. Por exemplo: um conhecido que chega dizendo que está chateado com o que
tem ouvido a seu respeito e aproveita para acrescentar outras informações, como se
ainda fossem de terceiros, usando o tom de voz para carregar um pouco mais nas
cores... Como foram outros que criticaram, você não tem muito o que fazer, além de
se sentir magoado. A pior atitude nessa circunstância é a de revelar a contrariedade e
passar a se defender da agressão de um anônimo, que talvez nem exista, e que, se
existir, provavelmente não tem a fisionomia do demônio que acaba de ser pintado.
Antes de atirar para todos os lados, pergunte de maneira firme, mas calma, quem fez
o comentário e em que circunstância ele ocorreu. Ao obter a resposta, procure atenuar
o fato, ou pelo autor da crítica ou pela circunstância em que ela foi feita. Sobre o autor
da crítica, poderá dizer, por exemplo, que ele tem passado por momentos difíceis, pois
perdeu o emprego, não conseguiu a promoção que desejava, foi abandonado pela
esposa, ou qualquer outra informação que seja do conhecimento público. A respeito
da circunstância, seria possível argumentar que, em momentos como aquele, uma
pessoa acaba agindo de forma impensada, sem ter muita consciência do que está
dizendo.
Esse procedimento deixará desnorteada e sem ação a pessoa que o está agredindo
com o uso de palavras de terceiros, pois ela começará a perceber que seu objetivo
está fracassando.
Se, entretanto, a pessoa não souber dizer quem fez a crítica, ou por alegar que não o
conhece, ou porque ele na verdade não existe, e usa as palavras de terceiros apenas
com o objetivo de agredi-lo, a melhor reação é dizer, com a maior sinceridade que
puder demonstrar, que esse tipo de comentário não o incomoda e que, se alguém
perde tempo para fazer fofoca pelas costas, é porque deve estar atacado pela inveja
ou atormentado por uma crise de autoestima.
Diante dessa atitude, a pessoa verá o tiro sair pela culatra e será obrigada a receber
seu ataque sem reagir, pois você não a está censurando diretamente, mas sim
censurando aquele que ela disse ter feito a crítica. Touche!
Uma outra modalidade dessa agressão verbal indireta ocorre quando a pessoa se vale
de uma afirmação feita por outro, quase sempre por uma autoridade no assunto,
quando, na verdade, ela mesma é quem deseja fazer a crítica. Assim, se ela deseja
criticar a estante que você acabou de comprar para a sala de visitas, diz que o
renomado arquiteto Fernandinho Abelhudo comentou, na última palestra que fez sobre
a arte e o bom gosto na decoração de interiores, que as estantes deveriam ficar longe
das salas de visita. Ora, essa é uma opinião dele e provavelmente o arquiteto jamais
tenha tocado nesse tema. Apenas usa o nome da autoridade para dar peso a sua
opinião e esconder o fato de estar pessoalmente fazendo a crítica.
Se perceber que o jogo é esse, apenas desconverse, dizendo, por exemplo, que esses
profissionais não entram mesmo em acordo e que cada um possui opinião diferente
dos outros.
A pessoa fala com aquela vozinha meiga, doce e ingênua. Aos poucos, entretanto, vai
destilando o veneno que demora a ser sentido. Sem que possamos perceber, já
estamos contaminados e nos sentindo agredidos. Às vezes a agressão é tão sutil que
só conseguimos percebê-la depois de muito tempo, longe da pessoa que nos atacou.
O primeiro sintoma é o de um desconforto que vai se transformando em sentimentos
que nos deixam atormentados, como a ideia de fracasso, impotência e insegurança.
A pior reação ao perceber que estamos sendo agredidos seria a de revidar ao ataque
de maneira veemente, pois perderíamos o papel de vítimas e passaríamos a ser os
agressores. A pessoa que agride com fala mansa e voz suave, de forma geral não
altera seu comportamento e se delicia ao verificar que conseguiu irritar e tirar o
equilíbrio do outro.
Finja não ter percebido a agressão e converse normalmente, como se nada estranho
estivesse ocorrendo. Ao notar que não está conseguindo seu intento, a pessoa poderá
ficar desmotivada a continuar.
Quando um casal briga, os filhos e as outras pessoas da família tendem a apoiar o
cônjuge que se comportou de maneira mais suave e equilibrada e a condenar aquele
que gritou e agiu com atitude destemperada. Ocorre que aquele que falou mais alto e
esbravejou talvez estivesse apenas revidando aos ataques que recebeu a partir de
agressões que foram feitas com sutileza, de maneira suave e aparentemente gentil.
Assim, a vitima dos ataques acabou se transformando em agressora. Por isso perdeu
a razão e a solidariedade dos outros.
Reinaldo Polito
Revista Vencer nº 24
Esses e outros conceitos são desenvolvidos no curso de expressão verbal ministrado pelo
Professor Reinaldo Polito.
Reinaldo Polito é mestre em Ciências da Comunicação, palestrante, professor de Expressão Verbal e
autor de 20 livros.
'Terminantemente proibida a reprodução sem autorização expressa do autor