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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – INSTITUTO DE

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

Juan Souza Costa


Tayná Thaís Guimarães Oliveira

TRABALHO TEÓRICO I
Análise do capítulo “Escrever é diferente de falar”

Mariana- Minas Gerais


2019
Juan Souza Costa
Tayná Thaís Guimarães Oliveira
TRABALHO TEÓRICO I
Análise do capítulo “Escrever é diferente de falar”

Análise do capítulo apresentado pela


professora Kassandra Muniz para a disciplina
de Estudos Linguísticos I, apresentado a
Universidade Federal de Ouro Preto, como
parte das exigências do curso.

Mariana, 21 de Outubro 2019.

RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta a análise do capítulo “Escrever é diferente de falar”. Trata-se
do capítulo um do livro “Por uma vida melhor”, destinado aos estudantes da modalidade
EJA (Educação de Jovens e Adultos) na disciplina de língua portuguesa. A análise
contempla aspectos linguísticos como a concepção de linguagem utilizada pelo material
didático, os tipos de variações linguísticas nele presentes, bem como os tipos de
registros que podem ser observados no texto. A análise foi feita mediante critérios
previamente estabelecidos e voltados para uma observação direta do conteúdo do
texto, com o objetivo de identificar a presença ou ausência de elementos que os
estudantes realizadores da análise julgam imprescindíveis para um material didático de
qualidade dentro do contexto mencionado. Para a realização de tal análise, utilizou-se
como fundamentação teórica textos de autores como Marcos Bagno, João Wanderley
Geraldi e Luiz Carlos Villalta, previamente estudados durante o desenvolvimento da
disciplina de Estudos Linguísticos I.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Inicialmente, retomar-se-á a noção de que a linguagem está presente nos contextos de
comunicação e que ela pode se expressar por vários meios, como através de palavras
escritas, imagens, sons e símbolos. Em um contexto de ensino e aprendizagem, a
concepção de linguagem utilizada pode ser tanto um fator facilitador de ensino como
um complicador. O material didático sobre o qual esse artigo se trata é um instrumento
de alfabetização de adultos e para efetuar uma análise produtiva do capítulo em
questão, precisa-se, inicialmente, compreender-se a linguagem utilizada pelo material
didático e se a mesma é adequada ao contexto. Para isso, utilizou-se como parâmetro
três tipos de concepção de linguagem, nomeados por Geraldi, respectivamente, da
seguinte maneira: a linguagem como expressão do pensamento; a linguagem como
instrumento de comunicação e a linguagem como forma de interação. No conceito de
linguagem como expressão do pensamento contemplam-se os estudos tradicionais.
Trata-se de uma visão da linguagem que se liga ao pensamento. Através dessa
concepção pode-se concluir que aquele que não se expressa através da linguagem,
não pensa. Em contrapartida, o conceito de linguagem como instrumento de
comunicação vê a linguagem sob uma perspectiva de transmissão de mensagens,
sendo a linguagem um instrumento para a transmissão dessas de um interlocutor a um
receptor. Tal concepção de linguagem leva em consideração a presença de dois fatores
(interlocutor e receptor), mas, considera que a interação através da linguagem acontece
em uma única via. Em contrapartida, considerando a comunicação como um fenômeno
que ocorre através da linguagem utilizada em duas vias, tem-se a concepção de
linguagem como forma de interação. Em tal concepção, considera-se tanto que um
interlocutor utiliza da linguagem para interagir com um receptor, quanto o contrário.
Após a observação direcionada ao conceito de linguagem, observou-se os diferentes
tipos de variação linguística presentes no texto. Levando em consideração que em um
contexto escolar há uma grande heterogeneidade linguística e que, principalmente no
que se diz respeito a alfabetização de adultos, que já possuem uma prévia bagagem
cultural considerável, é muito importante que o material didático contemple, de alguma
forma, diferentes manifestações da língua. Sendo a língua um sistema dinâmico, cujos
elementos (sintaxe, vocabulário, morfologia e pronúncia) sofrem alterações de acordo
com as regiões geográficas onde são utilizadas, bem como de acordo com
características gerais de seus falantes como idade ou classe social e também diante do
grau de formalidade do contexto comunicativo, é muito comum presenciar-se a
manifestação de diferentes variedades da língua. Essas variedades são denominadas
variações linguísticas e podem ser regionais (vinculadas ao contexto geográfico em que
são utilizadas), étnicas (quando vinculadas à procedência genética de um determinado
povo), sociais (quando vinculadas à diferentes grupos ou classes sociais), dentre
outras. Por fim, foi feita uma observação relacionada ao registro (formal ou informal)
utilizado no texto.
OBJETIVO GERAL
Identificar aspectos linguísticos como concepção de linguagem, variação linguística e
registro presentes no capítulo “Escrever é diferente de falar” a fim de realizar uma
análise qualitativa de seu conteúdo.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para tal análise foi a elaboração de critérios qualitativos que
seriam parâmetros de análise de cada parte do texto. Esses critérios foram divididos em
cinco principais métodos para a análise do capítulo: “Escrever é diferente de falar”, que
encontra-se em um livro destinado a alunos da variante de ensino EJA. O primeiro
parâmetro consiste no uso de uma linguagem clara e objetiva, que é de suma
importância em um material didático. As ideias devem ser bem claras e objetivas
visando a facilidade de compreensão do aluno e perguntas propostas não devem deixar
de trazer consigo uma certa dificuldade. O segundo critério se resume à progressão de
ideias, o material deve apresentar seu conteúdo de forma a evitar circularidade nas
ideias, assim o aluno teria dificuldade para entender o que lhe é proposto, logo, o texto
necessita de cronologia e uma ligação bem-feita das informações que apresenta. O
terceiro método é a exemplificação, é preciso bons exemplos para que o aluno possa
compreender melhor e de forma mais clara o que é proposto a ele, por isso o material
deve utilizar vários métodos de exemplificação, como quadros informativos por
exemplo. O quarto critério é o incentivo à reflexão sobre o conteúdo abordado. É
indispensável que o texto faça o aluno refletir sobre o que foi apresentado, facilitando-
se a memorização por meio desta interação e incitação. O último parâmetro é o
conteúdo explorado de forma balanceada. Por tratar-se de um livro para a modalidade
EJA de ensino, o texto precisa fazer um misto entre ideias mais simples e um conteúdo
profundo. Afim de ter uma boa compreensão, entretanto, não deixar de trazer assuntos
mais complexos para o material.
ANÁLISE
A seguir, apresentar-se-á alguns elementos do texto e será feita uma demonstração
das análises feitas pela dupla que possui a autoria desse trabalho. Essas análises
foram baseadas nos critérios anteriormente mencionados. Inicialmente, sob o primeiro
critério, analisou-se o seguinte trecho:
“Há ainda mais um detalhe que vale a pena lembrar. A norma culta
existe tanto na linguagem escrita como na linguagem oral, ou seja,
quando escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais,
porém, quando escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos
ser formais, utilizando a norma culta. Algo semelhante ocorre quando
falamos: conversar com uma autoridade exige uma fala formal,
enquanto é natural conversarmos com as pessoas de nossa família de
maneira espontânea, informal. Assim, os aspectos que vamos estudar
sobre a norma culta podem ser postos em prática tanto oralmente
como por escrito” (p.12).

Esse trecho discorre sobre o uso da norma culta e popular da língua portuguesa. A
conclusão tirada na análise é que, como o trecho exemplifica, o texto expõe suas ideias
através de uma linguagem de fácil compreensão. Não utiliza termos técnicos
desnecessariamente e faz ligações de suas ideias com situações que facilitam o
entendimento. Além disso, não se percebe excesso de informações, o que também
poderia prejudicar o entendimento do texto. Pode-se, portanto, concluir que, conforme o
exemplo anterior, o texto obedece ao critério número um da análise qualitativa. Partindo
para o segundo critério, seguem trechos de exemplificação:

“Este poema — e outros trabalhos de Juó Bananére — foram


produzidos em um determinado contexto. Apesar de ser uma espécie
de personagem, Juó Bananére tinha uma identidade: era um barbeiro
que vivia na cidade de São Paulo no começo do século XX. Ele
trabalhava em um bairro da região central chamado Abaix’o Piques,
posteriormente chamado de Bixiga (como é conhecido hoje). Naquela
época a cidade era em grande parte formada por imigrantes italianos.
Esse é o aspecto central da linguagem de “Minha terra”. Ela reflete a
forma de falar de boa parte dessa população, que misturava a
pronúncia própria do idioma italiano com a do português. [...] E não é
só isso que se vê no poema no que diz respeito à linguagem. Para
representar a influência que já foi mencionada, o poeta chega a
escrever as palavras de maneira a lembrar a grafia do italiano. [...] No
poema é empregado um dialeto ítalo-português oral de sua época. [...]
Em resumo, tudo que pode parecer erro é uma forma intencional de
usar a língua escrita. E esse uso significa algo” (p.23 e p.24).

O trecho destacado explica o porquê da utilização de determinadas palavras e grafias


em um poema de Juó Bananére. Para tal, o texto contextualiza o leitor e o faz entender
como a comunicação funcionava no período em que o poema se insere. Apresenta
diferentes termos do poema e os liga a exemplos e situações de exemplificação de
forma que, aos poucos, o leitor adquire outra ótica sobre o poema. Dessa forma,
conclui-se que o texto possui estratégia eficiente para apresentar suas ideias
cronologicamente, de forma que o leitor acompanhe o raciocínio e não se perca,
garantindo, assim, o entendimento. Dessa forma, o texto está de acordo com o segundo
critério mencionado anteriormente. Passando para o terceiro critério, destacar-se-á o
seguinte trecho:

“Na variedade popular, contudo, é comum a concordância funcionar


de outra forma. Há ocorrências como:
Nós pega o peixe.
nós à 1.ª pessoa, plural
pega à 3.ª pessoa, singular
Os menino pega o peixe.
menino à 3.ª pessoa, ideia de plural (por causa do “os”)
pega à 3.ª pessoa, singular
Nos dois exemplos, apesar de o verbo estar no singular, quem ouve a
frase sabe que há mais de uma pessoa envolvida na ação de pegar o
peixe. Mais uma vez, é importante que o falante de português domine
as duas variedades e escolha a que julgar adequada à sua situação
de fala” (p.16). O trecho mostra o trabalho com dois exemplos de
frases em seu registro informal, na norma popular. O texto trabalha os
exemplos apontando seus elementos e auxiliando o entendimento das
frases. Os exemplos escolhidos demonstram de forma eficiente a ideia
que o texto quer transmitir e são de fácil compreensão, de forma que
pode-se concluir que o texto possui bons exemplos de suas ideias, se
adequando, assim, ao terceiro critério escolhido. Para abordar o
quarto critério, destaca-se o seguinte trecho: “Troque ideias sobre o
texto com seus colegas e o professor baseando-se nas questões a
seguir.
1. O que primeiramente despertou sua atenção na leitura?
2. De forma geral, que opinião o eu lírico manifesta sobre sua terra?
3. De que aspectos naturais de sua terra o eu lírico fala?
4. O que é possível constatar sobre o modo como algumas palavras
são grafadas?
5. O que você descobriu de peculiar no que diz respeito à autoria do
poema?” (p.22). O trecho mostra algumas atividades proposta após a
apresentação da leitura do poema de Bananére. Como uma forma
alternativa de apresentação do conteúdo, o material poderia ter
apresentado conclusões importantes sobre o poema em forma de
texto e seguido com a apresentação das ideias que seriam propostas.
No entanto, a abordagem escolhida no texto incita no leitor uma maior
reflexão sobre o conteúdo lido e propõe discussões de forma a
melhorar a análise do leitor do conteúdo apresentado e,
principalmente, instiga-lo a tirar algumas conclusões de forma
independente. Assim, o texto se adequa ao quarto critério
apresentado, pois instiga o leitor a refletir sobre o conteúdo que lê.
Seguindo para o último critério, apresenta-se o trecho: “As várias
ideias que compõem um texto precisam ser apresentadas de maneira
que o leitor possa acompanhá-las. Por isso, é importante saber usar
um determinado sinal de pontuação: o ponto [.]. [...] Na língua, alguns
pronomes são usados para evitar repetições de palavras, ou seja, eles
substituem substantivos ou expressões mencionados antes. [...] A
concordância entre as palavras é uma importante característica da
linguagem escrita e oral. Ela é um dos princípios que ajudam na
elaboração de orações com significado, porque mostra a relação
existente entre as palavras. [...] Repare que, quando falamos uma
palavra, nossa pronúncia é marcada por impulsos sonoros. Preste
atenção em como pronunciamos as palavras. Observe: pa la vra.
Cada som que você pronunciou em uma só emissão de voz
representa uma sílaba. Assim, “palavra” tem três sílabas” (p.13, p.14 e
p.16).

Esse trecho destacado mostra a apresentação de algumas ideias sobre elementos de


um texto. A análise feita sobre o trecho objetivava a identificação da forma como esse
corpo de ideias era construído pelo texto e se ele possuía ou não todos os elementos.
Apesar de julgar o desenvolvimento das ideias como feito de forma clara, a dupla
identificou a ausência de um ponto importante na exposição do texto desses temas em
particular. O texto fala sobre o ponto final, pronomes, concordância e sílabas, mas não
fala do sinal vírgula. O fragmento de texto apresentado pelo material para iniciar a
discussão sobre os elementos que ele apresentou apresenta, além de exemplos de
mau-uso dos elementos apresentados pelo mesmo, exemplos de mau-uso da vírgula.
Ou seja, essa discussão deveria ter sido apresentada na progressão de ideias do texto
e isso não foi feito. Esse trecho é usado, portanto, para exemplificar que o conteúdo do
texto não é explorado de forma balanceada, visto que alguns aspectos que deveriam ter
sido abordados não o são. Sendo assim, o material não se adequa ao último critério.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RAMOS, Heloísa. (Org.) Por uma vida melhor: Educação de Jovens e Adultos: segundo
seguimento do ensino fundamental, vol. 2. São Paulo: Global: Ação Educativa, 2009.
(Coleção Viver e Aprender).

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